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Copyright © 2016 por Leonardo Mendonça Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida por qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação ou outros métodos eletrônicos ou mecânicos, sem a prévia autorização por escrito do autor, exceto no caso de breves citações incluídas em revisões críticas e alguns outros usos não- comerciais permitidos pela lei de direitos autorais. Revisão de língua portuguesa e tipográfica: Kaline Sampaio de Araújo Capa, projeto gráfico e diagramação: Mauricio Oliveira Jr. Aos meus pais, sempre. Não repreendas o escarnecedor, para que não te odeie; repreende o sábio, e ele te amará. Dá instrução ao sábio, e ele se fará mais sábio; ensina o justo e ele aumentará em entendimento. O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo a prudência. Provérbios 9:8-10 O concurso público é como uma fila. Ao começar a estudar, você entra na fila. Mantenha-se estudando, persevere, e um dia chegará sua vez de ser aprovado. Mas e se for possível entrar na frente dessa fila? SUMÁRIO APRESENTAÇÃO O PODER DO ESTRATEGISTA ESTUDAR PARA PASSAR OU ATÉ PASSAR? INTRODUÇÃO AO MÉTODO O DIFERENCIAL A BREVIDADE DOS RESULTADOS CONTROLE DO TEMPO A PREPARAÇÃO OBSERVE A FILA SAIBA ESCOLHER O CARGO O CARGO EM SI AS FASES DO CONCURSO AS DISCIPLINAS COBRADAS O LOCAL O TRABALHO EM SI A REMUNERAÇÃO O NÚMERO DE VAGAS UM EXEMPLO COMPLEXO REGRAS BÁSICAS DE EFICIÊNCIA LEITURA DINÂMICA ESTUDE TUDO OBJETIVOS A CURTO PRAZO MÉTODO PIZZA E MÉTODO CEBOLA (OU ROCAMBOLE) NÃO DECORE SIGA UMA MESMA LINHA DE CONCURSO EVITE QUEBRAR SEU ESTUDO O EXPEDIENTE DE ESTUDO NÃO SE PERMITA BLOQUEAR O ESTUDO EFICIENTE ENTENDA A ESTRATÉGIA MATERIAIS LIVROS DE DOUTRINA CURSINHOS, AULAS PRESENCIAIS, TELEPRESENCIAIS OU VIDEOAULAS CÓPIA MANUAL E ELABORAÇÃO DE RESUMOS ESTUDO EM GRUPO DECOREBA RESUMOS E CURSOS EM PDF LEGISLAÇÃO JURISPRUDÊNCIA RESOLUÇÃO DE QUESTÕES QUESTÕES COMENTADAS ÁUDIOS E VÍDEOS NO DESCANSO ATIVO AS TRÊS ETAPAS MONTE O SEU COCKPIT E COMECE A ESTUDAR A PROVA MINHA BREVE JORNADA DE CONCURSEIRO O SEGREDO DO SUCESSO REDES SOCIAIS E CONTATOS APRESENTAÇÃO “Como furar a fila em concursos públicos” pode parecer um título bastante pretencioso. Não só pretencioso, mas talvez um pouco pedante e até ofensivo. “Furar uma fila” é uma conduta condenável e antiética, algo distante das intenções deste livro. Talvez o título mais apropriado fosse “Como passar no seu próximo concurso”, pois trataremos, em verdade, de estratégias objetivas focadas na aprovação direcionada a um concurso próximo, em curto prazo. É fato que isso implicará na sua aprovação na frente de pessoas que começaram a estudar antes de você, que entraram na fila dos concursos na sua frente (daí o “furar a fila”), mas fazer essa referência no título pode indicar uma inversão de propósito, valorizando demais o prejuízo dos concorrentes que ficaram para trás, quando na verdade o objetivo está unicamente em providenciar o seu sucesso pessoal. Apesar disso, optei por ele pelas razões que descrevo a seguir. *** Eu estava beirando a depressão. Pensava que nunca seria nada na vida. Pensava que jamais conseguiria passar num bom concurso público. Que estava além de minha capacidade. Era um advogado infeliz que detestava o que fazia. Tentava estudar, já havia tentado vários concursos, sem chegar nem perto de um resultado positivo. Com a carteira da OAB na mão, me obriguei a continuar advogando, embora detestasse aquilo. Continuei tentando concursos. Estudava mal, sem foco, sem rumo, sem planejamento, sem vontade. O resultado era zero. Não conseguia avançar. A frustração começou a me consumir por inteiro. Nem estudava nem trabalhava satisfatoriamente. Após um momento de total desespero, tive uma epifania. Resolvi largar tudo e me dedicar exclusivamente a estudar, embora duvidasse das minhas aptidões. Mas não me restava mais nada, era a única e última opção além da depressão. Eu não sou nenhum gênio, mas sempre fui um estrategista. Sempre elaborei minhas próprias estratégias de estudo para passar por média na escola e na faculdade sem muito esforço. Mas nunca pensei que poderia usá-las para passar em concursos públicos. Pensei que as melhores estratégias já haviam sido descobertas pelas maiores autoridades no assunto, e o que eu tinha que fazer era seguir a multidão. Entrar na fila. Mas estava errado. Quem passa em concursos públicos? Como eles estudam? O “caminho das pedras” dado pelas grandes autoridades em concursos públicos é longo demais. Perceba que esses especialistas são sempre pessoas superinteligentes, gênios, intelectuais, nerds, estudantes compulsivos, ou qualquer coisa do tipo. São excepcionais. Somente excepcionais conseguem trilhar esse mesmo caminho de maneira eficiente. Eu não sou igual a eles, então não posso fazer igual a eles, ou nunca atingirei o meu objetivo. Dediquei os primeiros dias a elaborar a melhor estratégia de estudos. Estudei e pesquisei sobre as provas, editais, conteúdo, professores, métodos, tentei elaborar um método otimizado, com máximo aproveitamento, para superar as minhas limitações. Como vencer pessoas mais experientes, mais estudiosas, mais inteligentes e mais bem preparadas do que eu? Eu precisava pensar em algo a mais. Se eu era incapaz, me tornaria capaz por minha própria força. Pelo meu próprio braço. Comecei meu planejamento olhando para os lados. Precisava achar uma maneira de ser melhor que meus concorrentes. Percebi que todos faziam a mesma coisa, seguiam uma mesma linha, estudavam da mesma forma, e que não era uma forma eficiente. Projetei, então, uma maneira de fazer melhor. De passar à frente. Pensei e ponderei sobre material, cursinho, videoaula, livro, apostila, legislação, jurisprudência, como, quando, onde, por onde, por quanto tempo deveria estudar. Desenvolvi estratégias para identificar os melhores certames, prever as questões, estudar e absorver o máximo de conteúdo útil para a prova no menor tempo possível. Não queria mais passar anos e anos de estudo, frustração e reprovação. O que se seguiu foi fantástico. Eu não esperava que fosse dar tão certo. Mas deu. Com apenas duas semanas desse estudo otimizado, o cara que pensava que jamais conseguiria passar num concurso público razoável conseguiu ficar na 19ª colocação no concurso do TRF 5ª Região, seção RN, para o cargo de Analista Judiciário Execução de Mandados (Oficial de Justiça Federal). Julguei tratar-se de pura sorte, afinal, é impossível conceber um resultado desses tão rápido. Era um concurso excelente, mas não havia vagas, apenas cadastro reserva. Significava dizer que não havia outra saída senão continuar estudando e torcer para um dia ser chamado. Pouco tempo depois, dentro de mais dois meses, me saí relativamente bem nos concursos para Delegado do RJ e de AL. Acenderam-se minhas esperanças e saltei de alegria. O concurso para delegado era fenomenal e incrivelmente difícil, e eu já estava quase na disputa. Não passei para a segunda fase, mas lembre-se: dois meses antes eu estava desesperado e beirando a depressão pois “sabia” que jamais seria capaz de passar em um bom concurso. E agora estava quase disputando uma vaga para Delegado de Polícia Civil. Vibrei como nunca, pois era a constatação de que estava no caminho certo. Me enchi de ânimo e esperanças. Passei a acreditar que minha aprovação seria apenas uma questão de tempo. Foi então que, ao final de três meses, fui aprovado na primeira fase do concurso para Delegado de Polícia Civil do Maranhão. Não preciso dizer que fiquei extasiado. Consegui pontuação para ocupar a vigésima sexta colocação, empatado com outros colegas. Cheguei ao ápice daminha animação e saúde mental. Transformei-me numa pessoa otimista e de elevada autoestima. Formou-se um grupo dos aprovados no Facebook e eu logo percebi minha diferença de ânimo para os demais. Ninguém mais transbordava alegria como eu. Na verdade, exalavam desânimo e pessimismo. É compreensível. A estrada pela qual alguns vinham caminhando estava sendo demasiadamente longa, exaustiva e infrutífera. Não era a primeira vez que passavam na primeira fase de um concurso. Para mim, tudo aquilo era novidade. Nesse período, meus pais me incentivaram a me inscrever para o concurso para Juiz de Direito Substituto do Tribunal de Justiça do RN, minha terra natal. Ora, me saí bem, graças a Deus, nos concursos para Delegado, mas Juiz é outra história. Cairiam disciplinas que eu nunca havia estudado na vida. Estava feliz com o andamento do concurso para Delegado do MA, e não estava disposto a encarar um concurso para magistratura. Me inscrevi, mas não dei atenção nem estudei. Segui minha vida com foco no Maranhão. Aconteceu que o concurso para Delegado do MA foi travado, correndo o risco de ser cancelado, e eu me desesperei novamente. Buscando outras alternativas, vi que faltavam dois meses para a aplicação das provas objetivas do concurso de Juiz do TJRN. Não tinha chances de passar, mas seria um ótimo primeiro passo para, depois, me dedicar a um concurso seguinte. Retomei os estudos e segui minha estratégia da maneira que deu. Um pouco atropelado, é claro, era preciso estudar muita matéria em pouquíssimo tempo. Disciplinas inteiras que nunca tinha estudado na vida. A missão era enfiar tudo na minha cabeça em apenas dois meses. Na véspera da prova, um amigo concurseiro profissional, cuja disciplina nos estudos eu sempre admirei, hoje aprovado para Promotor de Justiça do Amapá e de Pernambuco, falou que minha meta deveria ser atingir os 60 pontos. Conseguir mais que 60 seria uma pontuação excelente, com chances de ir para a segunda fase. Firmei esta meta na cabeça. Seria possível acertar 60% de uma prova para magistratura nas minhas condições? Realizada a prova, conferi o gabarito extraoficial lançado no correioweb[1] no dia seguinte, sem grandes expectativas. Para minha surpresa, havia feito 64 pontos! Pontuação equivalente à de alguns amigos que já estudavam havia muitos anos. Não preciso falar o quanto saltei com esse resultado. Talvez não fosse suficiente para ir para a segunda fase, mas só o fato de estar na disputa pela vaga já era um resultado muito acima do esperado. Imagina? Estar ali na briga em tão pouco tempo! Eu que pensei que jamais teria capacidade sequer de pensar em disputar um concurso desses! Foi um momento de extrema emoção. Concorde comigo, havia pouco tempo eu estava em desespero por achar que era um fracassado. E, de repente, recebo o impacto da notícia de que eu não sou um fracassado. Pelo contrário, eu sou capaz! Eu sou bom nisso, minhas estratégias deram certo! Deram MUITO certo! Meu sucesso é uma questão de tempo! EU NÃO SABIA DISSO! Nesse momento, meu entusiasmo e minha autoestima se elevaram ao ponto de serem confundidos com soberba. Cometi o erro de festejar demais o sucesso das minhas estratégias. Eufórico, publiquei imprudentemente numa rede social que estava “furando a fila” dos concursos públicos, o que infelizmente terminou ofendendo algumas pessoas. Entre os ofendidos estava um “amigo” com muito mais tempo de estudo que eu, e que obteve um resultado equivalente ao meu. Em retaliação, criou memes de zombaria a meu respeito, publicando-os em grupos de Whatsapp voltados para concursos, com sua própria interpretação distorcida e aviltante dos fatos. Surgiu assim o personagem “Furador de Filas”. Apesar de ser alguém com condutas e características próprias, ele possuía mesmo nome e rosto que eu, o que me causou alguns inconvenientes e mal-entendidos. Me entristeceu o fato de alguém que eu considerava amigo fazer isso, mas não o suficiente para me desanimar. Deus sabe o que faz, o Furador de Filas ganhou publicidade gratuita, abrindo as portas para a divulgação destas estratégias. Essa é a razão do título. O universo dos concurseiros é um ambiente tenso, as pessoas estão no limite da paciência, do cansaço, da sanidade. Qualquer distúrbio pode perturbar a harmonia, pode desestabilizar os ânimos. De fato, é muito penosa a vida de um concurseiro. Não é fácil dedicar anos da sua vida aos estudos, sem remuneração, focado, abrindo mão de tantas coisas, e sofrer derrota atrás de derrota. É compreensível que, nessas condições, alguém que batalhe tanto para colher os mínimos resultados em concursos revolte-se ao observar outra pessoa passar inexplicavelmente à sua frente na fila, e o veja anunciar a plenos pulmões que sim, está furando a fila. Realmente pode dar a entender que está fazendo pouco de quem ficou para trás. Essas pessoas, que eu tanto admirava, interpretaram mal o meu entusiasmo e se ofenderam com as minhas palavras. No entanto, não foi minha intenção inferiorizar ninguém. A intenção era simplesmente proclamar o sucesso dessas estratégias e compartilhar a minha felicidade com meus amigos de verdade, aqueles que torciam por mim, e que, de fato, se alegraram comigo. Não cheguei a fazer a segunda fase. Rasurei a folha de respostas e fui eliminado. Sequer sei se estaria entre os aprovados após as 15 questões anuladas, pois teria que ter aproveitado quase a totalidade delas para prosseguir. Mas o que é certo é que, independentemente desse contratempo, o meu rendimento foi elevadíssimo. Muito maior do que seria de se esperar de alguém com tão pouco tempo de estudo. Muito acima do que eu mesmo podia esperar. Ainda que já contasse com a não aprovação, e mesmo ela se dando por razões externas, o desempenho foi incrivelmente animador. Pouco depois, fui nomeado Delegado de Polícia Civil do Estado do Maranhão, onde exerci o cargo com muito orgulho. Contudo, alguns fatores me fizeram repensar se era aquilo mesmo que queria para minha vida. Decidi voltar a estudar. Dessa vez com uma mentalidade diferente. Dessa vez eu sabia que se eu me dedicasse e seguisse o meu método estratégico, eu passaria no concurso que eu quisesse, sendo tudo uma mera questão de tempo. A dificuldade foi descobrir qual concurso eu queria. Comecei a estudar desfocado, sem saber ao certo para que cargo estava estudando. Um erro que você não deve cometer. Passava boa parte do tempo lendo editais, buscando um cargo em que pudesse me concentrar. Passei a vista algumas vezes pelo cargo inédito de Julgador Administrativo Tributário de Pernambuco. Não me atraiu. Detestava e pouco sabia sobre Direito Tributário, e grande parte do conteúdo da prova tratava-se de legislação estadual. É o tipo de estudo que não serve para mais nada, apenas para aquele concurso. Não sendo aprovado, todo o tempo investido transformar-se-ia em tempo perdido. Todavia, no último dia da prorrogação das inscrições, restando apenas duas horas para esvaziamento do prazo, ocupei meu pensamento nesse cargo e me dispus a analisar o edital com mais calma. Não me deterei aqui nessa explanação, pois no decorrer da obra analisaremos todos os fatores que me levaram a optar por ele, e que irão lhe ajudar a escolher aquele ao qual se dedicará, mas em síntese percebi que era um cargo para o qual ninguém vinha estudando, e o aprovado seria aquele que conseguisse aprender todo aquele conteúdo mais rapidamente. Seria exatamente onde eu teria vantagem. Eu tinha a estratégia formada. O PODER DO ESTRATEGISTA Estava no meu primeiro ano do curso de Direito. O professor de Sociologia Jurídica dividiu a turma em alguns grupos de seis ou sete pessoas, e atribuiua cada grupo um livro diferente, com o dever de estudá-lo para a posterior aplicação de uma prova oral. Ao meu grupo foi designado “O suicídio”, de Émile Durkheim. O meu grupo não era composto dos alunos mais aplicados da turma. Nenhum de nós teve disposição para ler o livro inteiro. Eu juro que tentei, mas fui vencido após o primeiro terço da obra. Não era, em absoluto, o meu tipo predileto de leitura. Duvido que qualquer membro do meu grupo tenha ido tão longe. Sei de alguns que sequer chegaram a tocar no livro. Foram designadas três ou quatro datas para as provas orais, avaliando- se um certo número de grupos em cada data. Aqueles que desejassem poderiam presenciar as provas dos demais grupos. Como eram livros diferentes, não havia o que esconder. A sorte reservou ao nosso grupo a terceira data. Nós presenciamos as provas orais da primeira data. Foi um verdadeiro massacre. O professor humilhava, individualmente, cada membro do grupo que respondesse uma pergunta incorretamente, não respondesse, gaguejasse ou de qualquer forma aparentasse insegurança. E ele pisava desumanamente naqueles que pareciam não ter lido o livro. As lágrimas que começavam a escorrer no rosto das meninas não eram suficientes para fazê-lo parar. Nos entreolhamos e engolimos seco. Estávamos muito menos preparados que qualquer um daqueles grupos. Seríamos aniquilados. Sozinho, acompanhei a segunda data de aplicações das provas. Os grupos pareciam mais preparados. Após a carnificina do primeiro dia, empenharam-se para serem avaliados com alguma dignidade. Não adiantou muito. Mesmo quem havia lido o livro, se não demonstrasse segurança, ou não soubesse responder à pergunta, ou gaguejasse, era barbaramente trucidado. Mas eu percebi um padrão. Reuni meu grupo e repassei a estratégia. Percebi que o professor, ao fazer uma pergunta, ouvia tudo que o grupo tinha a dizer em resposta. Se fossem respostas curtas, ele os metralhava com muitas outras perguntas, forçando cada membro do grupo a falar o máximo possível, um por um. Nem todos estavam preparados para tantas perguntas e tanta pressão. Após a segunda ou terceira, começavam a ficar nervosos, gaguejar, errar, chorar. Mas se fossem respostas seguras, longas, abrangendo o máximo de pontos possíveis do livro, ainda que se fugisse da pergunta, ele presumia que aquele membro estava bem preparado, havia lido e analisado o livro, e dava-se por satisfeito. A estratégia era a seguinte: não podíamos deixar o professor fazer perguntas. Nós é que o metralharíamos com respostas. Em casa, na internet, procurei um resumo do livro, com seus comentários e apontamentos. Cabia tudo numa folha de papel A4. Imprimi um para cada membro do grupo. A missão era estudar aquele papel inteiro, e vir com ele na ponta da língua para a avaliação. Na hora que a prova começasse, despejaríamos no professor tudo que estava escrito no papel, para que não sobrasse qualquer assunto sobre o qual pudesse perguntar. Todos tinham que falar. Se ele percebesse qualquer membro calado, seria o fim. Estávamos dispostos a qualquer coisa para fugir da vergonha de sermos humilhados naquela prova (exceto ler o livro inteiro). Na data marcada, estávamos confiantes. O professor aparentava desapontamento e exaustão por ter presenciado tantos grupos se apresentarem insistentemente sem um mínimo de preparo. Sentou-se à nossa frente sem expectativas, como se estivesse diante de mais um grupo de ignorantes. Feita a primeira pergunta, direcionada a um dos membros, começamos a expor tudo o que sabíamos. Enquanto o primeiro ainda falava, um segundo membro conectou informações sobre outro ponto relevante do livro. Um terceiro ajudou acrescentando mais informações. Um quarto achou interessante incrementar com outro aspecto importante da obra. O professor somente ouvia. Não podíamos dar espaço para que ele fizesse perguntas, pois poderíamos não saber a resposta. Quando acontecia, tínhamos que dar um jeito de desenrolar e retomar o controle, fazendo o assunto retornar ao conteúdo do nosso papel. Aos poucos, seu aspecto decepcionado foi dando lugar a um ar de satisfação, orgulho, dever cumprido. Nosso grupo destrinchou eloquentemente a obra do sociólogo francês em suas questões mais relevantes. Mas tudo o que fizemos foi repetir o que havíamos estudado naquele pequeno pedaço de papel. Sem precisar ler o livro inteiro. Ao final, fomos parabenizados. Confidenciou-nos o professor que poucos grupos, em todas as turmas que lecionava, vieram para a avaliação tão bem preparados como nós. Somente dois grupos da nossa turma alcançaram a nota 10. O nosso e o das meninas CDF que sentavam na frente (toda sala tem um grupo de meninas CDF que sentam na frente, já perceberam?). Bem preparados? Lembro de um colega que nem se deu ao trabalho de estudar o papel inteiro. Ele decorou uma única frase, e a enfiou no meio da apresentação, onde achou que se encaixaria bem. Após, tudo o que fez foi repetir uma ou outra coisa que algum colega havia dito (com bastante segurança, como quem sabe do que está falando). Sim, estávamos muito bem preparados. Mas não inchados de uma multidão de informações pouco relevantes para a prova, como todo mundo fez. Estávamos estrategicamente e objetivamente bem preparados para aquelas condições de avaliação. Em concursos públicos é possível fazer a mesma coisa. É possível satisfazer o examinador sem precisar “ler o livro inteiro”. Há um padrão. E há como se beneficiar disso. É a estratégia que lhe diz como aproveitá-lo com máxima eficiência, e alcançar os resultados que mesmo aqueles que estão se matando para “ler o livro inteiro” não estão conseguindo alcançar. Mostrar-lhe como fazer isso é o objetivo deste livro. ESTUDAR PARA PASSAR OU ATÉ PASSAR? Há um mantra comum aos concurseiros atuais que diz que concurso não se faz para passar, mas até passar. Embora seja corroborado pelas maiores autoridades em concursos públicos do país, venho pedir vênia para levantar algumas notas a respeito. Tal preceito se presta a impedir que aquele que sonha em ingressar no serviço público fraqueje diante das primeiras derrotas, desestimulando-se a ponto de desistir. O objetivo está em encorajar o estudante a manter acesa a chama de sua esperança apesar de seus repetidos resultados negativos. Mas essa interpretação pode tornar-se prejudicial a alguns candidatos. Há quem tenha totais condições de, indefinidamente, manter-se estudando às custas dos pais ou qualquer outro meio, e tenha todo o tempo do mundo para manter seus estudos regulares, sem pressa, sem pressão, sem desespero, até que um dia, finalmente, passe no concurso de seu querer. Mas essa é a condição de poucos, e pode permitir que seus adeptos se acomodem, estudando regularmente de maneira pouco proveitosa, esperando passivamente chegar sua vez de passar. Tão acomodado está, e tão pouco aproveitamento tem em seus estudos, que poderá demorar demais para atingir qualquer resultado. À maioria dos sonhadores não foi concedida a dádiva de dispor de tempo suficiente para permitir manter-se estudando indefinidamente até passar. A esses a vida permitiu um número limitado de tentativas, uma magra faixa de tempo, um parco período de sua existência que pudesse dedicar à busca dos seus sonhos. A eles não foi dado o luxo de poder manter-se estudando até passar. Se não for possível estudar objetivamente para passar, naquele pouco tempo que têm, pouca esperança lhes resta. Percebam, estudar até passar implica numa rotina de estudos extensa, completa, repetitiva, em ciclos, serena, devagar e sempre. O indivíduo começa a estudare vai inchando-se de informações, adquirindo vagarosamente uma volumosa, densa e profunda bagagem de conhecimentos. Se assim perseverar, chegará um momento em que terá reunido tanto conhecimento que, diante de um concurso, qualquer coisa que se pergunte na prova, saberá a resposta. Mas as questões que se levantam são: quanto tempo levará para que isso aconteça? E você tem condições e está disposto a esperar tanto tempo? Para superdotados, gênios, nerds, intelectuais, estudantes compulsivos, isso não será problema. Em pouquíssimo tempo nessa empreitada, terão reunido uma vastidão de conhecimentos tão extraordinária que logo estarão galgando suas aprovações. Esse é o perfil dos mestres em concursos. Para essas pessoas é fácil ensinar seus discípulos a estudar até passar. Suas respectivas genialidades permitiram que as jornadas de estudo infrutífero e não remunerado durassem um tempo totalmente suportável até começar a apresentar resultados positivos, findando em reiteradas aprovações, não ordinárias, mas nas primeiras colocações. Essa também é a condição de poucos. E quanto às pessoas normais como eu, sem nenhuma genialidade nata? O caminho, segundo eles, seria o mesmo. Com a diferença de que eu levaria MUITO mais tempo. É muito fácil para um cara de QI[2] 180, que em pouco tempo conseguiu a façanha de tornar-se uma verdadeira biblioteca humana, e passou em primeiro lugar em oitocentos concursos, vir me dizer que basta eu perseverar estudando igual a ele, que um dia eu passarei num concurso, assim como ele. Um dia quando? Em mil anos? Em cem? Em dez? Não, eu não aceito essa condição. Para mim e para outras pessoas normais, a orientação de simplesmente estudar até passar não é suficiente. Não é aceitável em relação ao tempo. Não tenho o superpoder de me transformar numa biblioteca humana, não tenho todo o tempo do mundo para tentar e nem tenho tanta paciência. O que eu tenho é estratégia. É possível sim, estudar para passar. Mas ao contrário da forma anterior, seu fundamento não está no simples acúmulo exorbitante de conhecimento, mas no planejamento estratégico. Ao invés de simplesmente sentar à mesa de estudos e começar a rechear indiscriminadamente seu cérebro do mais completo, detalhado e extraordinariamente imenso conteúdo das disciplinas, sentaremos antes para identificar objetivamente os pontos a serem levados em consideração para alcançar uma aprovação num tempo razoável. Observação do comportamento da concorrência, técnicas para identificar editais e cargos favoráveis e formas de estudo objetivo, direto, focado em aprender somente aquilo que será efetivamente perguntado na prova. É louvável quem estuda de maneira densa, profunda e volumosa, pois será uma verdadeira autoridade nos assuntos estudados, se tornará uma pessoa mais culta, inteligente, sábia, poderá lecionar, doutrinar, escrever livros e teses. Mas se o objetivo é apenas passar num concurso, esse estudo completo é desnecessário. É perda de tempo. Quem assim o faz, definitivamente, não estuda para passar. Estuda para aprender. Passar é apenas uma consequência de tanto aprendizado. De maneira contrária, quando se estuda para passar, o objetivo não é aprender, o objetivo é tão somente passar. Passar é a meta, não a consequência. O aprendizado torna-se apenas um meio para atingir aquela meta. É evidente que o aprendizado é algo muito mais excelente que uma mera aprovação em concurso, mas o tempo é inestimável enquanto nos fatigamos estudando sem remuneração em busca dessa aprovação. Por essa razão, nos daremos a liberdade de postergar o aprendizado mais significativo para outro momento, já no cargo, tranquilos quanto ao nosso futuro. Mas é claro que mesmo seguindo estrategicamente uma forma de estudar objetivamente para passar não se pode fraquejar ou desistir no primeiro fracasso. Tenha foco no alvo. Enfim, creio que seja possível atualizar a estrutura do mandamento para maximizar sua eficiência da seguinte forma: “estudar para passar, até passar. ” INTRODUÇÃO AO MÉTODO Como o próprio nome diz, o concurso público é uma competição. E ao contrário do que dizem por aí, você não está competindo consigo mesmo. Você está competindo com outras pessoas. Você está concorrendo a uma vaga contra centenas ou milhares de outros candidatos. Somente no exame da OAB você compete consigo mesmo. Não importa a nota que as outras pessoas alcancem, desde que você atinja aquela meta mínima. Independentemente de seus concorrentes a atingirem ou não, você estará aprovado. Nos concursos públicos não é assim. Não é suficiente atingir uma nota mínima. É necessário que sua nota supere a dos seus concorrentes. Então não basta que você dê o melhor de si. Você precisa garantir que o seu melhor seja melhor que o melhor dos outros. Significa dizer que estudar não é o bastante. É preciso olhar para os lados. É preciso ser estratégico. É preciso analisar o comportamento do seu concorrente e determinar uma forma de vencê-lo. De fazer melhor que ele. E fazer melhor não significa apenas fazer com mais intensidade. Significa fazer com inteligência, com planejamento, com eficiência. Não se contente em ser mais um na fila de candidatos que estudam à espera de chegar sua vez de entrar. Olhe para quem está à sua frente e pense num meio de superá-los. De passar na frente deles. Não se satisfaça com seu lugar na fila. Quero esclarecer que nosso objetivo é lhe orientar nos caminhos a serem tomados para alcançar a aprovação em concurso público com a maior brevidade, sem perda de tempo. Estamos querendo unicamente gerar resultados em concursos públicos antes do que seria de se esperar. Encurtar o caminho. Significa dizer que as estratégias e técnicas aqui presentes não se prestam a quem tem intenção de condensar conhecimentos com outros objetivos. Você não estará apto a escrever doutrinas, teses científicas, nem será nenhuma grande autoridade em qualquer disciplina. Você estará apto tão somente a responder corretamente uma quantidade de questões suficientes para te colocar na lista de aprovados de um concurso público, ao lado de pessoas com potencial muito maior, conhecimentos muito mais profundos, muito mais experiência e tempo de estudo. Como você observará, os nossos fundamentos estão firmados na previsão de concorrência, economia de tempo e objetividade. Assim, da mesma forma se estruturará este livro. Presume-se que aquele que está lendo não tem tempo a perder, então não desperdiçaremos seu tempo numa leitura demasiadamente extensa e procrastinatória. Mas como você também verá adiante, a fase preparatória, que se estrutura antes de iniciar os estudos propriamente ditos, é de vital importância, e o investimento de tempo nessa fase não é desperdício. Invista tempo nesse livro e absorva suas técnicas. Leia mais de uma vez, e o tenha sempre ao seu lado para futuras consultas. O tempo aqui investido terá retorno. Você perceberá que todos os seus concorrentes estão perdendo tempo estudando de maneira pouco eficaz, retardando inutilmente sua aprovação. Abstenha-se das práticas pouco proveitosas a que todos estão acostumados, siga essas dicas, e eu asseguro que obterá sua aprovação muito antes do que se esperaria. Neste trabalho, abordaremos em primeiro lugar a preparação. As melhores estratégias para escolha do cargo, considerando a previsão e eliminação de concorrência. Como prever o pensamento e a escolha dos seus concorrentes, para saber o que farão e onde estarão, e então escolher o melhor cargo possível que atraia o menor número de interessados, eliminando concorrência, encolhendo a fila à suafrente, facilitando sua entrada. Após, trataremos das regras básicas do estudo otimizado. Em seguida, nos deteremos ao ponto central deste livro, as estratégias de estudo propriamente dito. De que maneira elaborar uma metodologia de estudos otimizado, com máximo aproveitamento, eliminando perdas de tempo e abreviando resultados. Será explicado em que se baseia esse método e analisaremos as possibilidades de fontes de estudo e material, que resultará de fato na sua aprovação na frente dos seus concorrentes, furando a fila do seu concurso, qualquer que seja ele. Ao final, veremos a aplicação prática dessas estratégias, narrando a breve jornada deste autor como concurseiro, como se deu a evolução do raciocínio para a elaboração das melhores técnicas de estudo possível conforme surgiam as necessidades e dificuldades. O DIFERENCIAL É fato que tem se tornado cada vez mais difícil ser aprovado num concurso público. A concorrência aumenta todos os dias e o nível dos candidatos tem se aprimorado. Se você não é nenhum gênio, intelectual, nem tem uma memória eidética para facilmente decorar tudo o que lê, ou é do tipo que simplesmente não gosta de estudar, as perspectivas não são boas. É previsível o fracasso de quem entra para o universo dos concursos públicos sem um diferencial, sem algo que o faça destacar, que o posicione acima da média dos concorrentes. A fila parecerá tão imensa e andará tão devagar que o candidato ordinário invariavelmente desistirá antes mesmo de percorrer qualquer parcela significativa do caminho. É preciso estar acima da média para alcançar algum resultado satisfatório em relação ao tempo. Mas se você não nasceu com esse destaque, essa genialidade nata de alguns para naturalmente estar no topo, você precisa dar um jeito de se posicionar acima da média por sua própria conta. Você precisa fabricar o seu próprio diferencial para que consiga algum resultado num tempo razoável. Embora pareça uma missão impossível, tenho aqui o objetivo de não apenas provar que é possível, mas de apontar o caminho para desbancar os candidatos mais experientes, inteligentes e capacitados. Não se engane. A inteligência pode ser vencida pela esperteza. O conhecimento pode ser vencido pela perspicácia. A batalha dos concursos públicos é essencialmente estratégica, mas poucos se utilizam dessa arma. O bom estrategista superará o mais forte concorrente, ainda que não detenha metade do seu conhecimento. A BREVIDADE DOS RESULTADOS Minha meta quando decidi me dedicar a estudar era passar num concurso o mais rápido possível, pois nunca gostei muito de estudar e não estava disposto a passar anos da minha vida nessa rotina infeliz. Portanto, as técnicas deste livro são direcionadas para quem não tem todo o tempo do mundo à sua disposição. São para quem não pode dedicar-se indefinidamente a uma atividade não remunerada, estudando até passar. São para quem precisa de máximo aproveitamento de seus estudos em relação ao tempo. São para quem tem medo da demora. São para quem quer tão somente passar no concurso, não são para quem quer acumular uma variedade de conhecimentos. É evidente que você concentrará bastante conhecimento, mas não irá aglomerar conhecimentos vastos, densos, volumosos e profundos das disciplinas. Você apenas irá adquirir o conhecimento suficiente para ser aprovado no seu concurso específico. E provavelmente não passará em primeiro lugar. Mas passará. E passará na frente de gente que sabe muito mais do que você. Passará na frente de quem tem doutrinas inteiras gravadas na mente. Passará na frente de quem estuda há muito mais tempo que você. Essa velocidade de apresentação dos seus resultados dependerá de três de fatores. (1) Do cargo a ser escolhido, conforme quantidade e qualidade dos concorrentes, que sofrerá influência da fama e desejabilidade do cargo em si, das fases do concurso, do local de trabalho e do trabalho em si, da remuneração e do número de vagas apresentadas no edital; (2) de quanto tempo por dia ou por semana você será capaz de dedicar aos estudos (famosas horas bunda-cadeira); e (3) principalmente, dependerá da quantidade de conteúdo útil para a prova que você conseguirá apreender por unidade de tempo. Vou definir conteúdo útil como aquele conhecimento que tem maior probabilidade de cair na sua prova. Quanto menos tempo você perder estudando o que não vai cair, com atividades inúteis ou pouco proveitosas, e investir seu tempo em ações eficazes, estudando aquilo que realmente vai cair, arrecadando o máximo de conteúdo útil sem perdas de tempo, mais rápido seus resultados aparecerão. Trabalharemos focados nos fatores 1 e 3, a respeito dos quais abordaremos as mais variadas táticas de aproveitamento de tempo, onde reside a chave para lhe assegurar o ingresso no serviço público com a maior brevidade. Quanto ao fator de número 2, trata-se tão somente de sua própria logística e agenda, na qual não me intrometerei, senão para lhe estimular a dedicar-se, e para comunicar como eu mesmo estruturei a minha rotina diária e semanal de estudos. CONTROLE DO TEMPO O tempo será um dos principais personagens deste livro, presente em cada ponto, em cada capítulo. A chave do seu sucesso em furar a fila estará na sua capacidade de controlar o tempo. Se você não tem o hábito de coordenar seus atos em função do tempo, é fundamental que aprenda. Saiba que o tempo não para, então use-o a seu favor. Boa parte dos seus concorrentes tem o tempo como um inimigo, uma dificuldade, um obstáculo. Quem luta contra o tempo, certamente será vencido. O tempo é invencível, impossível de ser subjugado. Ora, se não pode ir contra ele, tenha-o como aliado e ele trabalhará a seu favor. Ele mesmo tratará de eliminar seus adversários. Talvez minhas palavras não estejam fazendo sentido neste momento, mas no decorrer da sua leitura você assimilará o que eu quero dizer. A meta é passar num concurso no menor tempo possível, então toda estratégia que será aqui apresentada é baseada no melhor aproveitamento do tempo disponível. Falo de economia de tempo e otimização de resultados com a eliminação de todo tipo identificável de desperdício. A PREPARAÇÃO Você notará que passarei o livro inteiro condenando certas práticas comuns entre os estudantes concurseiros, afirmando categoricamente que são pura perda de tempo. Você se surpreenderá com a quantidade de condutas que declararei inúteis, e poderá discordar de boa parte delas, pelo menos inicialmente. Mas é minha função apontar-lhe a inutilidade de cada ato, explicar a razão de tratar-se de um desvio na rota, e indicar-lhe o caminho mais curto. Todavia, venho agora afirmar, excepcionalmente, que você deve investir tempo num certo conjunto de atos com os quais os seus concorrentes não gostam de perder muito tempo. Trata-se dos atos preparatórios. O planejamento. A elaboração da sua estratégia. No início, meu ímpeto me fazia querer começar logo a estudar sem perder tempo, sem planejar, sem pensar. Cometi esse erro todas as vezes que tentei começar a estudar, antes de elaborar essas estratégias que aqui venho compartilhar. Obviamente, quebrei a cara em todas essas vezes, e concluí que eu jamais seria capaz de passar num bom concurso. É um erro que quase todos cometem – inclusive, provavelmente, você mesmo, caro leitor. O planejamento é fundamental para coordenar seus atos, impedindo-o de estudar de maneira dispersa, sem foco, sem aproveitamento. Jogar aleatoriamente o conteúdo das disciplinas para dentro da sua cabeça sem planejamento prévio é o maior erro quevocê pode cometer no início dos seus estudos. Já estará começando errado e desperdiçando todo o tempo que pensa estar ganhando. Se já começou dessa forma, pare, leia este livro e recomece tudo do zero. Estudar sem planejar é pura perda de tempo. O planejamento é a principal etapa da sua trajetória. O marco inicial da jornada. É quando se inicia a contagem regressiva da sua aprovação. Invista tempo na preparação. Seus concorrentes gastam muito tempo com condutas pouco úteis ou até completamente inúteis, e muitas vezes tratam como perda de tempo esse estágio crucial do caminho. É aí que você terá vantagem. É assim que furará a fila. É possível que você esteja nesse momento ansioso, curioso e impaciente para aprender logo como seria esse planejamento. Respire e vença sua impaciência. A elaboração da estratégia exige tempo, calma, paciência e concentração. Para planejar, é preciso primeiro observar. OBSERVE A FILA Perceba que no universo dos concursos públicos estão todos caminhando numa mesma direção, seguindo um mesmo fluxo, uma mesma corrente. Por essa razão faz-se a comparação a uma fila. Isso ocorre em razão do conhecido efeito manada, ou comportamento de manada, que descreve situações em que indivíduos em grupo reagem todos da mesma forma, embora não exista direção planejada. Um novo indivíduo, ainda que nada conheça a respeito do que o grupo esteja fazendo, tende a fazer o mesmo sem questionar, presumindo que aquele seja o comportamento mais acertado. O termo se refere originalmente ao comportamento animal, mas também se aplica ao comportamento humano. Antes de começar a estudar, ainda de fora da fila, antes de entrar nela, observe-a. Destaque-se da manada e analise racionalmente seu comportamento. Assim se formará o seu diferencial. Com observação e planejamento. Com estratégia, esperteza, planejamento racional. De fora da fila você observará que ela não segue um caminho reto e prático. É repleta de imperfeições e voltas desnecessárias. Ela segue, inexplicavelmente, um caminho bem mais longo que o necessário. Observe-a e pense em maneiras de furá-la. Observe falhas, buracos, curvas, caminhos desnecessários. Analise, de fora, com visão ampla, qual o caminho que todos estão tomando, e, então, pegue um atalho. Essas falhas são identificáveis nos mais variados aspectos, que analisaremos no decorrer deste trabalho. Se você pretende entrar na frente dessa fila, destacando-se, é preciso observar cada ponto, cada momento em que a fila faz uma volta, toma um rumo despropositadamente mais comprido ou faz um "arrodeio", como dizemos no Nordeste. Identifique esses pontos um por um, desenvolva um modo de pegar um atalho, um caminho mais curto, um caminho em linha reta. Assim, siga de atalho em atalho, até atingir sua aprovação muito antes de quem estuda há muito mais tempo que você. Na frente de quem entrou na fila muito antes de você. Na frente de quem pegou o caminho mais longo da manada. Será de enorme valor que você aprenda a fazer esse levantamento estratégico por sua própria conta, a identificar sozinho os pontos em que todo mundo toma o caminho mais longo e a descobrir um caminho mais curto. É óbvio que facilitarei o seu trabalho, mostrando os atalhos que eu descobri e tomei, e ajudando a desenvolver o raciocínio necessário para potencializar sua própria habilidade. Assim, de posse das informações que eu vou lhe passar, enriquecido com suas próprias conclusões, você será capaz de obter resultados ainda mais acelerados. SAIBA ESCOLHER O CARGO O primeiro aspecto que você deve analisar, antes de tudo, é o cargo que almeja. Cada concurso tem uma fila diferente, e é preciso observar cada uma e ver quais são as mais curtas, as mais longas, as mais fáceis ou difíceis de furar. Tudo isso levando em consideração quais seriam os seus objetivos, quais as suas perspectivas de futuro, trabalho, remuneração. É um dos aspectos mais relevantes e determinantes da brevidade do seu sucesso, embora a maioria das pessoas simplesmente desconsidere, escolhendo um cargo sem antes ponderar absolutamente nada a respeito. Há quem nem sequer escolha um cargo, despontando a estudar aleatoriamente para qualquer coisa que aparecer. Essas pessoas estão entrando no final das maiores filas existentes. Não é o seu caso, você não tem tempo a perder. A técnica fundamental para furar a fila considerando a escolha do cargo pretendido baseia-se na previsão, redução e eliminação da concorrência. Por concorrência eu não me refiro à relação número de candidatos por vaga. Refiro- me tão somente à quantidade absoluta de interessados que o concurso potencialmente atrairá, sem associar ao número de vagas, que deve ser analisado de maneira independente pelas razões que levantarei no tempo oportuno. Para prever, reduzir e eliminar a concorrência, é essencial a observação das filas, do comportamento da manada. Veja o que todos estão fazendo, por onde todos estão indo, e pegue um caminho mais curto. Onde a maioria das pessoas estiver, a concorrência será maior. Aprenda como todos estão pensando, e faça diferente. Nunca pense apenas por si. Pense também pelos outros. Não pense somente em como fica melhor ou pior individualmente para você, pois se todos também chegarem à mesma conclusão, você estará na maior fila possível, estará no meio da manada. Saiba como seus concorrentes pensam. Preveja o que querem, preveja onde estarão, faça o que eles não fazem, vá onde eles não vão. Pegue a fila menor. Não precisa ser um grande gênio para saber que quanto maior for o número de interessados, maior será a fila, e maior será o tempo necessário para passar no concurso, ainda que se pegue os atalhos apontados neste livro. Diversos serão os fatores considerados para prever a concorrência/tamanho da fila. O cargo em si, a remuneração, o número de vagas, as fases do concurso, o local de trabalho, o ambiente de trabalho, o risco do trabalho etc. Não vou apontar quais cargos você deve escolher, nem determinar os melhores ou piores. Também não estou dizendo que deve procurar um concurso em que todos os elementos a seguir sejam favoráveis. O que faremos será tão somente o levantamento dos aspectos você deve levar em consideração na sua escolha, para que você mesmo julgue quais dificuldades valerá a pena enfrentar e quais facilidades merecem ser aproveitadas, tendo como base as suas próprias perspectivas de futuro, trabalho, remuneração etc. Para escolher o cargo para o qual pretende concorrer e para o qual irá dedicar seus estudos, pondere a respeito dos aspectos seguintes. O CARGO EM SI Este ponto pretende chamar sua atenção basicamente para o nome do cargo. Quanto mais famoso, quanto mais conhecido, mais será almejado, e maior será a concorrência. É o peso da fama. Perceba que a maioria daqueles que se põem a sonhar com um cargo público da área jurídica, antes mesmo de iniciar a jornada, dizem em uníssono: "quero ser Juiz". Existem cargos tão excelentes quanto a magistratura, com remuneração equivalente, garantias e prerrogativas tão aprazíveis quanto, mas somente a magistratura te dará o nome de "Juiz". Para alguns, isso chega a ser mais atrativo que a própria remuneração. Trata-se do nome, da fama, da autoridade, do poder, do ego de cada um. Trago outros exemplos de cargos famosos, que todo mundo quer. São o sonho de muita gente, consequentemente, serão os mais difíceis de passar, pois terão as maiores filas pelo enorme número de interessados. Quantos não sonham em ser Promotor, Procurador, Delegado, Auditor, Policial Federal? Se você puder livrar-se da tendência de sonhar tão somente com o nome do cargo, abrira sua mente e observar o horizonte de possibilidades, estará livre para pesquisar a respeito dos mais variados concursos, tão bons quanto o que você sonhava, ou até melhores, mas com uma concorrência muito menor, uma fila muito menor. Assim, certamente você chegará à aprovação muito antes do que quem permanece batendo o pé e insistindo no cargo mais famoso sem nem sequer avaliar se vale a pena prorrogar sua vitória somente em razão do nome. O último concurso que passei é um grande exemplo disso. Não só disso, mas de todos os próximos fatores que tratarei mais adiante, um por um. Tratava- se do cargo de Julgador Administrativo Tributário no Estado de Pernambuco. Possivelmente você nunca tenha ouvido falar nele. Trocando em miúdos, é um juiz de um tribunal administrativo, que julga processos administrativos tributários. Ora, por ser um concurso desconhecido, poucos se aventuraram sequer a examinar o edital, apesar de a remuneração ser fantástica e contar com diversos outros atrativos. O concurso atraiu um número relativamente baixo de interessados, reduzindo o tamanho da fila a ser furada, encurtando o caminho da aprovação. Existem ainda outras espécies de cargos que atraem uma enormidade de interessados, dificultando e atrasando sua aprovação, embora, em geral, não sejam exatamente o sonho de tanta gente. Cargos de analistas e técnicos de tribunais e Ministério Público (MP), por exemplo, são muito famosos, e, consequentemente, concorridos, por outras razões. São utilizados como escada ou experiência para quem almeja ser Juiz, Promotor e outros cargos jurídicos mais desejados. Isso eleva demais tanto a quantidade quanto a qualidade dos seus concorrentes. Você enfrentará pessoas que estudam para Magistratura. Pessoas de enorme bagagem de estudo, inteligentes e muito bem preparadas. Além disso, as próprias disciplinas desses concursos são atrativas. São as mesmas que se estuda na faculdade de Direito e são ainda as disciplinas padrão para a imensa maioria dos concursos jurídicos, com as quais você e todos os seus concorrentes estão familizarizados. Isso, como veremos adiante, também é bastante atrativo de concorrência. Inove. Abra sua mente. Busque novas possibilidades. Não fique bitolado ao cargo mais famoso, que todo mundo quer ou que todo mundo conhece. Os concursos desconhecidos atrairão uma quantidade muito menor de interessados, embora sejam tão aprazíveis quanto, ou até mais que os cargos conhecidos, aumentando suas chances de aprovação. Invista tempo lendo editais, procure oportunidades. Vasculhe ao menos semanalmente sites de notícias de concursos próximos e os que apresentam todos os concursos com inscrições atualmente abertas. Não se limite a pesquisar pelos cargos famosos, ou a mina de ouro escapará por entre os seus dedos. Não coloque na pesquisa de palavras do seu navegador “juiz”, “promotor”, “delegado”, “auditor”, “procurador”, “polícia” etc. Veja um por um. O seu cargo está escondido no meio de tantos editais, e poucos são os que se aventuram em desbravar essas oportunidades. As pessoas são acomodadas, preferem a praticidade de permanecer em seu lugar na fila, seguindo o fluxo, seguindo a manada, aguardando sua vez, indo atrás do que todos estão fazendo e querendo, onde a concorrência é maior. Elas fazem os concursos que todos estão fazendo. Faça o que ninguém faz. Cargos fantásticos, desconhecidos, pouco concorridos estão à espera de quem não se contenta com seu lugar da fila. É apenas nosso primeiro atalho para furar a fila. Contudo, é possível que nenhum outro cargo lhe interesse senão aquele com o qual você sonha. Não se preocupe, teremos a seguir muitos outros elementos a serem verificados para que você alcance seu sonho o quanto antes, sem que seja necessário abrir mão dele. Vamos em frente. AS FASES DO CONCURSO Não é somente o nome do cargo que pode influenciar a variação de concorrência. Neste ponto, dois fatores merecem ser considerados. (1) A maior quantidade de fases do concurso pode desestimular seus concorrentes, que podem optar por prestar um outro concurso menos trabalhoso, por comodidade. (2) Da mesma forma, a natureza dessas fases também é fator desestimulante. Quanto mais dificultoso o trajeto, mais concorrentes ficarão pelo caminho. Portanto, analisar os tipos de provas a serem exploradas em cada fase pode gerar um resultado ainda melhor. Quanto ao primeiro item, vejamos o que quero dizer. Entre dois concursos equivalentes previstos para a mesma data, um deles possui cinco fases, e o outro três. A maioria dos interessados preferirá dedicar-se ao menos trabalhoso. Significa dizer que será mais vantajoso para você voltar-se para o mais custoso. É mera aplicação da observação externa. Veja o que todos estão fazendo, observe para onde todos estão indo, e pegue um atalho. Não é a mais eficaz das técnicas, não eliminará porção considerável da concorrência, e nem sempre poderá ser aplicada, mas cada atalho que puder pegar terá seu valor. O que acontece é que o concurseiro é normalmente uma criatura tão cansada, fadigada e tão cheia de frustrações que nem sempre estará disposta a encarar um caminho mais trabalhoso quando há outra possibilidade menos dispendiosa. Não é comodismo, é cansaço mental. A sua mente cansada sempre se inclinará para o caminho mais cômodo. Por outro lado, substancial será o efeito ao se analisar o segundo item, os tipos de fases. Nem todos estão preparados, por exemplo, para provas de aptidão física, ou provas orais, de digitação, de direção etc. Sem a intenção de rotular ninguém, mas objetivando tão somente a otimização dos seus resultados pela observação pragmática, perceba que uma parcela considerável dos concorrentes mais estudiosos e bem preparados para as provas de conhecimento não têm o hábito de exercitar-se fisicamente. Optar por um concurso que tenha como fase uma prova de aptidão física eliminará uma grande parcela dos seus mais fortes concorrentes. Posso afirmar, grosseiramente, com base numa estatística com pouco fundamento científico, obtida numa rápida pesquisa na internet, que a porcentagem de eliminação em provas de aptidão física gira em torno de 40%. É muita coisa! É um fator a ser seriamente considerado por quem pretende passar na frente dos mais competentes candidatos. É um grande atalho na fila. Basta tão somente que o candidato esteja fisicamente bem preparado e que o cargo disputado lhe seja aprazível. Independentemente do seu concurso envolver ou não exames físicos, será sempre aconselhável exercitar-se para manter uma vida saudável, cujos benefícios se refletirão, inclusive, em seu desempenho nos estudos com a melhor oxigenação do cérebro e a própria resistência física em manter uma rotina diária e pesada de estudos. Enfim, também será possível eliminar uma certa fração de concorrentes ao disputar um concurso que tenha uma prova oral entre as fases. É bem verdade que a taxa média de candidatos que se poderá ultrapassar nessa fase será bem menor que num TAF[3], mas tenha em mente que existe um número de concorrentes que se tornam ineficientes diante de uma prova oral, seja por timidez, nervosismo, inexperiência etc. O mesmo ocorrerá com outros tipos de provas práticas, como digitação, direção etc. É óbvio que a utilidade desta dica somente será válida para quem estiver apto à prova da fase em questão. Se você estiver entre os candidatos prejudicados nessas fases, treine sua deficiência ou pule para o próximo quesito. AS DISCIPLINAS COBRADAS As regras prescritas acima também se aplicam neste ponto. Quanto mais excruciante o caminho, mais seusconcorrentes se desestimularão. E um fator de grande relevância na repelência de concorrentes são as disciplinas cujos conhecimentos serão exigidos no decorrer das fases do certame. Todos têm algum preconceito contra algumas disciplinas, o que os faz procurar certos tipos de concurso ou rejeitá-los. O atalho deste tópico consiste tão somente em abrir sua mente para as disciplinas dotadas de maior capacidade de afugentar ou eliminar concorrentes. Um exemplo simples. Um número significativo de pessoas que optaram por cursar uma faculdade de Direito o fizeram, dentre outros motivos, porque odeiam matemática. Logo, um concurso da área jurídica que exija conhecimentos de matemática e raciocínio lógico repelirá boa fatia de concorrentes que nem sequer se inscreverá. Outra parcela será eliminada ou terá seu desempenho reduzido por não atingir pontos suficientes nessas disciplinas. Até porque muitas vezes nem chegam a estudar a matéria antes de fazer a prova (um erro grave do qual falaremos noutro momento). Novamente, deixo claro que não tenho o interesse de impor qualquer rótulo. Baseia-se tão somente na observação estatística. Eu mesmo, graças a Deus, não me encaixo nessa qualificação, pois sempre tive um bom relacionamento com a matemática. Até cursei um ano de Engenharia, antes de me dedicar ao Direito. Mas concorde comigo que isso não é comum entre os colegas estudantes de Direito. Abra a sua mente e dê atenção especial nos seus estudos às disciplinas que ninguém gosta. É mais um diferencial. Se possível, procure concursos cujos principais conhecimentos exigidos são justamente essas disciplinas malquistas. Em princípio pode parecer algo demasiadamente torturante, mas acredite, é puro preconceito. É normal do ser humano rejeitar aquilo que não entende. Vença isso. Quando você superar essa barreira e se dispuser a estudar o que pensa que não gosta, aquilo passará, a cada dia, a lhe parecer mais interessante, conforme você for aprendendo seus fundamentos. Pode até chegar ao ponto de amar aquilo. Eu detestava Direito Tributário, barreira essa que foi vencida quando me dispus a aprender. Lembre-se do que falei anteriormente sobre os cargos de analista de tribunais e MP. São 100% de disciplinas comuns e atrativas, que todo mundo estuda todos os dias, inclusive na própria faculdade. O candidato tem a ilusão de que, se estuda aquilo todo dia, está mais bem preparado, e terá mais chances. O problema é que todos pensam da mesma forma, a quantidade e qualidade de interessados se eleva ao infinito, dificultando em muito a sua aprovação. O concurso para o último cargo que passei apresentava um edital de efeito bastante repulsivo de concorrência nesse ponto. Além de cair bastante Direito Tributário, caía ainda a legislação tributária estadual pernambucana e processo administrativo tributário pernambucano. Pouquíssimas pessoas se dispuseram a enfrentar essas disciplinas, principalmente porque quase nenhum outro concurso aproveitaria esse estudo, senão para auditor fiscal de PE ou algo semelhante. Até Contabilidade foi cobrado. Para muitos, seriam preciosos meses de estudo atirados ao lixo, em caso de não aprovação. Somente se inscreveu para esse concurso quem estava disposto a arriscar esse tudo ou nada. Poucos têm essa coragem. O concurseiro tende a ser um bicho medroso e supersticioso. Onde todos viam uma desvantagem, eu enxerguei uma grande vantagem. Se todos estavam rejeitando esse concurso em razão das disciplinas cobradas, menor seria o número de concorrentes. Menos concorrentes significa, obviamente, uma fila menor. Nunca se esqueça desta dica: saiba o que seu concorrente pensa. Saiba o que ele quer e o que ele faz, e tome proveito da informação. Veja para onde todos estão indo, e pegue o caminho contrário. Pegue o atalho. Fure a fila. O LOCAL O local ou unidade geográfica onde se prestará o concurso ou se exercerá o cargo é um assunto bastante complexo de se examinar. Para determinados concursos, será irrelevante. Para outros, poderá ter significativa diferença na quantidade e, por que não dizer, qualidade dos interessados. São diversos aspectos a se verificar. Uma coisa é certa. Já abordamos antes que quanto mais penoso o percurso, mais concorrentes ficarão pelo caminho. O oposto é igualmente verdadeiro. Quanto mais acessível a rota, maior será o aglomerado de candidatos a serem vencidos. Podemos, partindo dessa lógica, inferir, por exemplo, que nos concursos federais em que há aplicação de provas em todas as capitais, o número de interessados será imenso, enquanto que em concursos de aplicação num único local, o número de interessados será menor, pelo simples desinteresse de pessoas de outros lugares em se deslocar. Quanto a concursos estaduais e municipais, outro fator redutor de concorrência é quando a própria inscrição deve, por exigência do edital, ser realizada presencialmente, em especial quando for vedada até mesmo a inscrição via procurador. Na atualidade, eu diria que 90% das inscrições em concurso são realizadas pela internet. É certo que nesses 10% de concursos que requerem inscrição presencial haverá uma parcela de potenciais concorrentes que se desinteressará, por comodidade ou impossibilidade de deslocamento. Não é um fator de redução de concorrência de grande significância, mas, como já dito, cada atalho que puder pegar terá sua relevância. Jamais deixe de se inscrever num concurso em razão dessa exigência, pois boa parte de seus concorrentes deixará, abrindo caminho para você e diminuindo o tamanho da fila à sua frente. Ainda a respeito de concursos regionais e locais, não há como negar que há ainda preferências em relação a determinadas regiões brasileiras, mais ou menos desenvolvidas. É uma regra antiga que todos conhecem e, apesar de haver perdido forças nos últimos anos, em razão da tendência de se nivelar os índices de concorrência no Brasil, permanece válida e digna de ser considerada na sua escolha. Concursos nas regiões mais isoladas do país, geográfica e economicamente, costumavam atrair um menor número de interessados. Contudo, é um ponto em que se deve ter muito cuidado. Há quem confie demais nessa regra. Quero aqui enfatizar que esse desequilíbrio perdeu a força que tinha, de maneira que hoje, a depender do cargo, a lógica pode se inverter e um concurso numa região desfavorecida pode atrair muito mais interessados que um nas regiões mais afortunadas para a mesma ocupação se os demais fatores forem favoráveis. O TRABALHO EM SI O ambiente e o risco do trabalho são elementos de grande influência no interesse por determinado cargo. Os candidatos mais fortes nem sempre toleram ambientes menos agradáveis. Preferem bonitas e cheirosas salas com ar condicionado. Alguns cargos exigem que o profissional apresente certos níveis de "sangue no olho", o que é incompatível com a aceitabilidade de boa parte das pessoas. Nessa área, os concursos para polícia são boas opções. Observe que são boas opções em relação a este fator, mas outros fatores podem não ser tão favoráveis. Por exemplo, já falamos a respeito do nome e da fama do cargo. Muita gente quer ser policial, muita gente já sonha especificamente em ser Delegado, em ser Policial Federal etc. Quero dizer que é preciso que você faça uma análise global da situação. O cargo de Agente Penitenciário, por exemplo, é semelhante ao do policial em alguns aspectos, mas não tem a mesma fama. Não atrai tantos concorrentes, e as atribuições são comparáveis, em especial nos locais em que é a Polícia, Civil ou Militar, que exerce as atribuições penitenciárias,em desvio de função, como foi meu caso no interior do Maranhão. Deixei de ser Agente Penitenciário para ser Delegado, mas continuei "cuidando de preso" da mesma maneira. Antes de eu começar a estudar para concursos, e antes mesmo de me formar, eu concorri e passei no concurso para Agente Penitenciário Estadual do RN, cargo que exerci com muita honra e orgulho, e do qual trago boas experiências e amizades. Mas o que quero dizer é que o fato de estar concluindo o curso de graduação em Direito e iniciando uma pós-graduação na área penal me tornou apto a galgar a aprovação sem a necessidade de dedicar um estudo específico, vez que se trata de um concurso de nível médio que exige do candidato conhecimento de Direito, além de um bom condicionamento físico para o TAF, e o sangue no olho para encarar o trabalho "caveira" que poucos se animam a enfrentar. Um bom concurso do qual a maior concorrência irá fugir, dando-lhe espaço entrar. Nessa linha há ainda os concursos para guardas municipais e ainda o fantástico cargo de agente penitenciário federal, que nada fica a dever para os cargos mais famosos de polícia. Obviamente que essa dica só servirá para quem esse tipo de cargo parecer aprazível. Se não for seu caso, não tema. Como já assegurei, existe uma infinidade de técnicas que iremos abordar que poderão compensar as que não se encaixarem ao seu perfil. A REMUNERAÇÃO A remuneração apresentada no edital, em tese, é um bom parâmetro para se prever a concorrência de um certame. Não há mistério, quanto maior o valor, maior a concorrência. Simples assim. Todos sabem disso, mas nem todos sabem tirar proveito da informação. Mais uma vez, esse será seu diferencial. Um número considerável de candidatos atentará tão somente ao valor da remuneração informado no edital. Um concurso cujo edital informar a hipotética remuneração de dez mil reais seguramente atrairá muito maior quantidade e qualidade de concorrentes que outro cujo edital informe cinco mil reais de remuneração. Mas nem sempre essa informação é totalmente confiável. Se você verificar o portal da transparência, poderá acontecer de observar que embora o salário básico seja de apenas cinco mil reais, estarão presentes certos adicionais e verbas indenizatórias que foram omitidos no edital. É possível que, verificada a transparência referente a ambos os cargos, os dois apresentem remunerações finais totais equivalentes, sendo que um deles, o que apresentou o edital com maior remuneração, terá um índice de interessados muito maior, aumentando-lhe a concorrência, e dificultando a sua aprovação. O furador de filas escolherá aquele com menor remuneração noticiada no edital, mas cuja remuneração real seja equivalente, ou até maior que as demais possibilidades. Pegará um atalho para a aprovação e alcançará maiores resultados num menor tempo. Dou um exemplo. Falei no capítulo inaugural que não me interessei inicialmente pelo cargo de Julgador Tributário. Uma das razões foi porque considerei a remuneração informada no edital inferior à que eu almejava. Agradeço a Deus que, no dia de encerramento das inscrições, faltando apenas duas horas para o término do prazo, chequei o portal da transparência pernambucano. A remuneração final chegava a um nível bem maior, alcançando minhas expectativas remuneratórias. Quantos concorrentes a mais o concurso teria se todos os que conheceram o edital soubessem da remuneração real? Observe ainda que não só a quantidade de candidatos aumentaria, mas também a qualidade geral. Os mais bem preparados concorrentes nem sempre estão dispostos a prestar um concurso cuja remuneração não lhes agrade. Os mais aptos procuram os concursos mais bem pagos. Se o edital não apontou uma remuneração agradável, você eliminou um número significativo dos mais fortes concorrentes, não de concorrentes medianos. Nem sempre é uma técnica aplicável, pois nem sempre os editais são omissos quanto à real remuneração final do cargo. Contudo, quando aplicável, é uma ferramenta de extrema eficácia para sua estratégia de redução e eliminação de concorrência. O bom senso manda, portanto, estar sempre checando os portais da transparência quanto aos cargos que visualizar possibilidade de candidatar-se, quando, em princípio, se insatisfaça com a remuneração anunciada. O NÚMERO DE VAGAS Trataremos agora do maior mito que circunda o universo dos concurseiros. É bem provável que você mesmo acredite no mito, assim como 99% dos seus concorrentes. É possível que você duvide das minhas palavras, e sinta dificuldades de aplicar o meu conselho, pois é arriscado e contraria a lógica. Mas se você me der esse voto de confiança e seguir a minha dica, asseguro que tomará mais um atalho rumo à dianteira da fila. A lógica diz que, quanto maior o número de vagas, menor será a concorrência. Isso porque, em tese, o número de candidatos se dissolveria diante da grande oferta de vagas. Mas a realidade é um pouco diferente. O perfil padrão do concurseiro atual caracteriza-se por ser um verdadeiro caça-vagas. Onde quer que surja um concurso com grande oferta de vagas, lá estará ele. Mesmo os mais experientes e bem preparados costumam seguir essa lógica. Entre dois concursos para o mesmo cargo, é comum optar por aquele com maior previsão de vagas, julgando que é ali onde se terá maiores chances de passar. Doce engano. A verdade, acredite ou não, é que a lógica se inverte nesse ponto. É fato que, mantendo fixo o número de candidatos, realmente a concorrência diminui conforme se aumentam as vagas. Se temos 1000 candidatos para 10 vagas, a concorrência será de 100 candidatos por vaga (100 c/v). Aumentando-se o número de vagas para 100, mantendo o número de candidatos, passaremos a uma concorrência de 10 c/v. De fato, a concorrência diminuiu bastante. Mas na prática isso jamais acontecerá. O número de candidatos não permanece fixo. Se temos 10 vagas, é possível que o número de interessados inscritos seja 1000. Mas aumentando-se o número de vagas para 100, JAMAIS teremos apenas 1000 inscritos, pois, como eu disse, o perfil padrão do concurseiro atual é de um caçador de vagas. Os concurseiros do Brasil inteiro sentirão o cheiro dessas cem vagas, e teremos, seguramente, muito mais que dez mil inscritos. E não se engane, ainda que não apareçam esses dez mil candidatos do exemplo acima, ainda que a relação de candidatos por vaga pareça mais favorável, a quantidade absoluta de candidatos com reais chances de concorrer às vagas terá aumentado exponencialmente, pois somente os mais bem preparados se disporão a sair de suas cidades para concorrer ao cargo num local estranho, reduzindo drasticamente as suas chances de triunfar. Quero dizer que o número de candidatos não crescerá somente em quantidade, mas muito mais em qualidade. O nível médio de preparo dos candidatos subirá. O candidato despreparado somente se aventura em concursos próximos de sua residência. Os candidatos que cruzarão o Brasil em busca das cem vagas do exemplo acima não são aventureiros inexperientes. São concurseiros profissionais. Experientes. Preparados. Ainda que a relação candidato por vaga fique abaixo dos 100 c/v, não se iluda. O concurso ficou muito mais difícil, pois o número absoluto de candidatos com potencial de aprovação aumentou para muito além das cem vagas. Um alto número de vagas disponibilizadas no edital é uma ilusão. É uma armadilha. Nossa estratégia de eliminação de concorrência funda-se na preferência pelos concursos com menor oferta de vagas. Esteja certo que a esmagadora maioriados seus concorrentes priorizará aqueles que oferecerem o maior número de vagas possível, tornando-os muito mais concorridos. Seu caminho será mais curto se você seguir pelo caminho que seus concorrentes não tomarem. Outra razão para eu afirmar e enfatizar a grande eficácia dessa estratégia reside no fato de que o próprio número de vagas apresentado no edital também pode ser enganoso. Você não pode confiar nele, embora todo mundo confie. A maior probabilidade é que o número real de vagas seja maior. Que mais pessoas sejam chamadas. Funciona da mesma forma que o item anterior, com a diferença que não temos um "portal da transparência" para saber com segurança quantos realmente serão chamados, conforme fazemos para saber a real remuneração. Se o edital apresenta muitas vagas, é provável que o número de candidatos convocados seja somente aquele. Mas se apresenta poucas, ou nenhuma, é quase certo que o número de convocados será maior. Muitos órgãos se utilizam desse artifício para se blindarem juridicamente. Por exemplo, o órgão tem a necessidade e a intenção de nomear 20 servidores. Por razões político- financeiras, teme não ter condições de nomear os 20. Assim, dispõe de apenas 05 vagas no edital, para que os outros 15 não se firmem na esperança de recorrer ao judiciário para forçar sua nomeação à revelia das possibilidades do órgão. No entanto, se tudo der certo, todos os 20 serão chamados, independentemente de o edital anunciar apenas 05. Esta é a razão por que eu disse que quando falo em concorrência não me refiro à relação número de candidatos por vaga. Refiro-me tão somente à quantidade absoluta de interessados que o concurso potencialmente atrairá, sem associar ao número de vagas, que deve ser analisado de maneira independente em razão de o número apresentado no edital não ser digno de confiança. Não podemos considerar a concorrência como a relação candidato/vaga para os fins desse livro porque não há, de fato, como saber quantas vagas realmente existem, a menos que você tenha algum "peixe" dentro do órgão público solicitante que possa lhe passar essa informação de maneira informal e fidedigna (até porque boatos do tipo surgem aos montes). O fato é que o número de vagas apresentado no edital não é confiável. Ele servirá apenas (e com incrível eficiência) para prever a quantidade de inscritos em cada certame, porque o concurseiro comum é, como já disse, e repito, um caça-vagas. Esteja certo que quanto maior for o número de vagas, muito maior será o número de candidatos com chances de aprovação. Muito maior será a fila à sua frente, e muito mais distante estará o seu sucesso. E o nosso diferencial é que nós sabemos que, de maneira inversa, um pequeno número de vagas é um verdadeiro repelente de candidatos. Poucos se prestam a concorrer a um cargo com um número ínfimo, ou inexistente de vagas. E sabemos também que, quanto menor o número de vagas, maior é a probabilidade de que o real número de convocados seja superior ao informado. Se o edital apresenta uma quantidade elevada de vagas, é possível que o número real seja somente aquele mesmo. Mas se apresenta uma baixa quantidade, é mais provável que o número de convocados seja maior. Não é uma regra exata, nem sempre será obedecida. Trata-se de especulação, observação e um pouco de fé. Mas que quanto maior for o número de vagas muito maior será o número de candidatos e mais concorrido será o concurso, é fato. Se não te convenci, te darei alguns exemplos da minha própria experiência. Em 2009, sem qualquer ritmo de estudos, enquanto ainda estava por me formar, me candidatei, por mera experiência, ao cargo de Advogado do Conselho Regional de Contabilidade do RN. Observe que é um bom cargo, nível superior, exigência de habilitação ao exercício da advocacia (carteira da OAB). Mas o edital era muito pouco atrativo. Apenas uma vaga, para trabalhar 40 horas semanais por uma remuneração ínfima de um mil reais (é uma verdadeira ofensa pagar esse valor a um advogado). Bem, tão pouco atrativo foi que apenas 21 pessoas se inscreveram, 19 compareceram à realização da prova, e somente 17 foram considerados habilitados no resultado final. Concorrer com tão poucas pessoas te deixa já com um pé dentro do órgão. Era apenas uma vaga, mas até o momento em que escrevo estas páginas, 13 candidatos já foram chamados, a carga horária diminuiu para 20 horas semanais e a remuneração já supera os três mil reais. Observe: a remuneração triplicou em relação ao edital, a carga horária reduziu-se à metade, e 80% dos habilitados foram chamados! Mais um exemplo. No ano de 2012 fiz o concurso do TRF 5ª região, seção RN para Analista Judiciário Execução de Mandados (Oficial de Justiça e Avaliador Federal), logo quando comecei a estudar de maneira eficiente usando essas estratégias. Não havia vagas no edital, apenas cadastro reserva. Quem se candidata a um concurso sem nenhuma vaga? Onde todos veem uma desvantagem, nós vemos uma vantagem. Todos rejeitam esse tipo de concurso por medo de que ninguém seja chamado. Nós procuramos esse tipo de concurso pois sabemos que a concorrência será mínima, e é muito improvável que ninguém seja chamado. Para comprovar o fato, até a presente data, 13 aprovados já foram chamados. Posso não ter te convencido, afinal, é um pensamento que desafia a lógica de muitos. Mas é exatamente nisso que o furador de filas se destaca. Prevendo o que ninguém prevê. Pegando um atalho onde todos pensam que há caminho mais longo. Confie em mim, e você chegará ao seu objetivo muito antes do que imaginava. Se não, siga a rota dos caçadores de vaga, abrindo caminho aos verdadeiros furadores de fila. UM EXEMPLO COMPLEXO Agora vamos partir para um exemplo mais complexo, que envolve mais de um dos itens abordados neste capítulo. Em 2009 realizou-se por meio da Funrio um concurso da Polícia Rodoviária Federal para o preenchimento de um total de 750 vagas. Ocorre que essas vagas seriam divididas por estado, de acordo com as necessidades de pessoal em cada ente, e o candidato deveria, no ato da inscrição, informar para qual estado da Federação pretendia concorrer. O próprio edital disponibilizava o seguinte quantitativo de vagas, que, para facilitar nossa compreensão, colocarei aqui em ordem decrescente por unidade federativa: Os demais estados não contavam com qualquer número de vagas. Observe que a quantidade de vagas disponibilizadas para o Paraná era muito superior às demais. Nessa época eu estava cursando o último ano de Direito, e ainda não havia começado a estudar para concursos. Mesmo assim, resolvi inscrever-me por experiência. Como eu não vinha de uma rotina de estudos, e sempre fui estrategista, embora ainda não tivesse os conhecimentos que hoje venho passar por meio deste livro, sabia que precisava de algum diferencial para compensar minha inexperiência. Resolvi analisar esse quadro de vagas para prever qual seria o estado com a melhor relação candidatos/vaga possível, onde eu teria maiores chances de aprovação. Debruçado sobre o quadro acima, cheguei às seguintes conclusões: A) Embora o estado do Paraná ofereça a maior quantidade de vagas, certamente o Brasil inteiro resolveria concorrer a uma das incontáveis 190 vagas paranaenses. Confirmei esse pensamento entrevistando todos os colegas que se submeteriam ao mesmo concurso, vez que a maioria estava optando pelo Paraná, apesar de não conhecerem, nunca terem tido qualquer relação com o estado sulista e residirem no extremo oposto do país. Presumi que a concorrência seria enorme. O Paraná estava descartado da minha lista
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