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Semântica e pragmática

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SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA
Claudio Cezar Henriques
Marina C. Legroski
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De todas as ferramentas aprendidas após tantas aulas, as duas que fazem 
parte deste livro se sobressairão: a ferramenta estilística (que se refere à prag-
mática) e a ferramenta semântica. Elas sintetizam, ou melhor, elas sublimam 
tudo que se estudou nas muitas disciplinas dos estudos linguísticos, desde as 
primeiras letras até estas Letras superiores.
A ciência da expressividade e a ciência das significações. Ambas percorrem 
este volume, chamando de volta aquelas aulas, pesquisas e conteúdos grava-
dos nas nossas lembranças – e agora mais repisados, amadurecidos, disponí-
veis para uso e para uma mudança de posição no ato de aprender e ensinar.
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6337-6
9 7 8 8 5 3 8 7 6 3 3 7 6
Claudio Cezar Henriques
Marina C. Legroski
Semântica e 
Pragmática
IESDE BRASIL S/A
Curitiba
2017
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
H449s Henriques, Claudio Cezar
Semântica e pragmática / Claudio Cezar Henriques, Marina C. 
Legroski. - 1. ed. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2017
260 p. : il. ; 21 cm.
ISBN 978-85-387-6337-6
1. Semântica. 2. Língua portuguesa. I. Legroski, Marina C. II. 
Título
17-43722 CDD: 401.43 
 CDU: 81’37
Direitos desta edição reservados à Fael.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
© 2009 – 2017 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer 
processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Produção
FAEL
Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo
Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Revisão IESDE
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Capa Vitor Bernardo Backes Lopes
Imagem Capa Shutterstock.com/xiaorui/Hong Vo/ 
Sona Salamzadeh/Tashatuvango.
Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim
Sumário
 Carta ao aluno | 5
1. Estilística, a ciência da expressividade | 7
2. Estilística fônica | 25
3. Estilística léxica | 43
4. Estilística sintática – I | 63
5. Estilística sintática – II | 81
6. Estilística da enunciação | 97
7. Semântica, a ciência das significações | 117
8. Relações semânticas – I | 135
9. Relações semânticas – II | 151
10. Relações semânticas – III | 171
11. Elementos centrais dos estudos da pragmática | 189
12. Estudos atuais em pragmática | 209
 Gabarito | 229
 Referências | 245
Carta ao aluno
Nos estudos de Língua Portuguesa dedicamos uma boa parte 
do tempo aos conteúdos tradicionais da gramática, em especial a 
sintaxe, a morfologia e a fonologia. Além disso, temos sempre de 
nos atualizar quanto às questões da ortografia, fazer muitas leituras 
e redações. É, em suma, um grande aprendizado.
Quando juntamos todas essas informações e refletimos 
seriamente sobre nossa vida escolar, podemos fazer um balanço dos 
proveitos que tanto estudo nos trouxe. As aulas e as orientações 
devem ter deixado em cada um de nós a certeza de que estamos mais 
conscientes de nosso papel na sociedade e de nosso compromisso 
com a língua portuguesa.
De todas as ferramentas aprendidas após tantas aulas, as duas 
que fazem parte deste livro se sobressaem: a ferramenta estilística 
que se refere à pragmática e a ferramenta semântica. Elas sinteti-
zam, ou melhor, elas sublimam tudo que se estudou nas muitas 
disciplinas dos estudos linguísticos, desde as primeiras letras até 
estas Letras superiores.
– 6 –
Semântica e Pragmática
A ciência das significações e das intenções. Ambas percorrem este 
volume, chamando de volta aquelas aulas, pesquisas e conteúdos gravados 
nas nossas lembranças – e agora mais repisados, amadurecidos, disponíveis 
para uso e para uma mudança de posição no ato de aprender e ensinar.
A Semântica e a Pragmática – o leitor confirmará – são disciplinas da 
vida acadêmica e da vida real, levando-nos em busca de um lugar expressivo 
e significativo, compelindo-nos ao entendimento e à explicação, à indagação, 
cogitação, novas sendas filológicas, pragmáticas, discursivas.
Na estrutura deste livro, optamos por trabalhar separadamente a orga-
nização dos capítulos, imbricando-se nos dois últimos as características das 
intenções, das implicaturas e dos pressupostos, matéria incisiva para a aplica-
ção dos estudos da pragmática. 
Estilística, a ciência 
da expressividade
O objetivo deste capítulo é conceituar os termos estilo e 
estilística e destacar a importância dos estudos estilísticos para a 
compreensão do funcionamento da língua portuguesa.
1.1 A palavra “estilo”
O termo estilo (registrado pela primeira vez em nossa língua 
no século XIV) provém do latim stilus: “qualquer objeto em forma 
de haste pontiaguda, ponteiro de ferro para escrever sobre tabui-
nhas enceradas”, definição que reúne as informações de duas obras 
homônimas, o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de J. P. 
Machado (1977), e o de A. Nascentes (1955).
De instrumento empregado para escrever, passou a signi-
ficar, por um processo metonímico, a própria escrita e, depois, a 
linguagem considerada em relação ao que ela tem de característico. 
Por fim, expandindo seu campo de significação, estilo passou tam-
bém a representar qualquer conjunto de tendências e características 
1
Claudio Cezar Henriques
Semântica e Pragmática
– 8 –
formais, estéticas, que identificam ou distinguem uma obra, artista, escritor, 
ou determinado período ou movimento, ou até mesmo um objeto.
Daí, é possível encontrarmos essa palavra acompanhada de muitas e varia-
das referências (poema em estilo parnasiano; móvel em estilo colonial; atriz 
com um estilo afetado; filme no estilo europeu) e, genericamente, como sinô-
nimo de “maneira” e “elegância” (esse é o meu estilo de vida; ela não tem estilo).
Figura 1 – Estilo.
Estilo: qualquer objeto 
em forma de haste 
pontiaguda, ponteiro de 
ferro para escrever sobre 
tabuinhas enceradas.
Fonte: IESDE BRASIL S/A.
Dessa palavra deriva, por exemplo, o substantivo estilete: utensílio com 
lâmina móvel e bastante afiada, protegido por invólucro de plástico, usado 
para cortar papelão, couro, borracha etc. Deriva também o substantivo esti-
lística, tema que se aplica a variados campos de estudo, inclusive aos estudos 
linguísticos e literários.
Nos estudos de língua, pode-se definir estilo como o modo pelo qual 
um indivíduo usa os recursos fonológicos, morfológicos, sintáticos, lexicais, 
semânticos, discursivos da língua para expressar, oralmente ou por escrito, 
pensamentos, sentimentos, opiniões, etc.
Ou seja: nos estudos de língua portuguesa... estilo é escolha linguística. 
Essa escolha depende da capacidade e sensibilidade de cada usuário de res-
ponder a estas perguntas:
– O que tem a dizer?
– 9 –
Estilística, a ciência da expressividade
– Para quem vai dizer?
– Como vai dizer?
– Quando vai dizer?
Por isso, não é exagero afirmar que:
 2 Quem não tem o que escolher não tem estilo... Tem cacoete.
 2 Quem tem o que escolher, mas escolhe mal, também não tem 
estilo... Tem mau gosto.
1.2 As origens da Estilística
As definições de Estilística variam conforme o recorte teórico a que per-
tence o analista, mas não se pode negar que sua existência tem uma conexão 
histórica e semântica com a Poética (enquanto “teoria geral das obras literá-
rias”) e a Retórica (enquanto “teoria do discurso”).
As definições que seguem foram extraídas do Dicionário Houaiss:
 2 Poética – parte dos estudos literários que se propõe a investigar os 
processos que dizem respeito às normas versificatórias dos textos, os 
componentes teóricos de que se revestem, bem como os compên-
dios de poética que, desde Aristóteles até os nossos dias, abordaram 
o assunto (HOUAISS,2004).
 2 Retórica – a arte da eloquência, a arte de bem argumentar; a arte da 
palavra; conjunto de regras que constituem a arte do bem dizer, a 
arte da eloquência; oratória (HOUAISS, 2004).
A Estilística se baseia sobretudo em duas das três funções primordiais da 
linguagem depreendidas pelo alemão Karl Bühler (1879-1963): representação, 
expressão e apelo (BÜHLER, 1934). A elas correspondem, respectivamente, as 
faculdades de inteligência, sensibilidade e desejo ou vontade, centrando-se a 
Estilística na expressão e no apelo.
Semântica e Pragmática
– 10 –
Quadro 1 – As funções da linguagem segundo Karl Bühler.
 2 representação linguagem referencial denotativa eixo sintagmático(= posição no texto)
 2 expressão
exteriorização 
psíquica de nossos 
anseios e sentimentos
denotativa /
conotativa
eixo paradigmático
(= posição no sistema)
 2 apelo
exercício de 
influência sobre 
os interlocutores
denotativa /
conotativa
eixo paradigmático
(= posição no sistema)
Fonte: Elaborado pelo autor.
Exemplos:
1. “Jornalista é a pessoa que trabalha como redator, repórter, colu-
nista ou diretor em órgão da imprensa, ou programa jornalístico no 
rádio ou na televisão.” (HOUAISS, 2004)
2. “Jornalista é um homem que sabe explicar aos outros o que ele 
próprio não entende.” (CARPEAUX, 1967)
3. “Jornalista, você tem uma missão importante na sociedade.” 
(Chamada publicitária)
Na prática, essas três funções se integram, tanto no texto informativo 
quanto no literário, embora possa ocorrer o predomínio de uma ou de outra, 
dependendo do gênero textual ou do tipo de discurso. Nas três frases dadas, 
cada uma exemplifica uma das funções do quadro, na ordem.
Seguindo o esquema das funções da linguagem de Karl Bühler, a 
Estilística é – como dissemos – a disciplina que estuda a língua nas suas 
funções expressiva e apelativa. Seu criador, Charles Bally (1865-1947), “pre-
tendeu chamar a atenção para o lado afetivo do discurso”, como explica Melo 
(1976, p. 16). Outros teóricos, sobretudo Karl Vossler (1872-1949) e Leo 
Spitzer (1887-1960), apontaram para uma linha diversa da Estilística.
Enquanto Bally, discípulo de Ferdinand de Saussure (1857-1913), bus-
cava estudar a língua como expressão do pensamento que reflete determinada 
afetividade nos atos da fala, Vossler e Spitzer optaram por estudar as relações 
– 11 –
Estilística, a ciência da expressividade
entre expressão e indivíduo. Podemos dizer que são duas concepções exclu-
dentes: uma centrada na langue (a de Bally), outra na parole.
Dessas duas origens depreendem-se obviamente dois perfis de comen-
tários estilísticos: um que se aproxima, comparativa e contrastivamente, da 
gramática descritiva; outro que dela se afasta para se aproximar dos estudos 
específicos de literatura, e que chegou a ser chamado de Estilística genética. 
Com o passar do tempo, cada perfil foi recebendo adesões e adaptações, 
variantes de abordagem que percorreram vertentes estatísticas, estruturais, 
semióticas, psicanalíticas, sociológicas.
1.3 Principais correntes da Estilística
As duas grandes vertentes da Estilística são chamadas de “descritiva” e 
“idealista” e têm como principal diferença o enfoque dado ao objeto de seu 
estudo, ou seja, o texto.
1.3.1 A Estilística descritiva (Estilística linguística)
A Estilística descritiva volta-se para os aspectos afetivos da língua, os 
quais estão a serviço do homem de forma viva, espontânea, porém sujeitos a 
um sistema expressivo que pode ser descrito e interpretado.
Para exemplificar, vejamos uma frase citada por José de Alencar (1829-
1877) no “Posfácio” de Iracema como expressão bem popular de sua terra:
4. “A mãe diz do filho que acalentou ao colo: Está dormindi-
nho.”(ALENCAR, s.d., p. 273)
O vocábulo “dormindinho” não é o diminutivo de “dormindo”, mas 
uma forma nominal do verbo acrescida da ideia de afetividade e carinho 
expressada pelo sufixo -inho, assim interpretada estilisticamente pelo escri-
tor cearense: “Que riqueza de expressão nesta frase tão simples e concisa! O 
mimo e ternura do afeto materno, a delicadeza da criança e sutileza do seu 
sono de passarinho, até o receio de acordá-la com uma palavra menos doce; 
tudo aí está nesse diminutivo verbal.” (ALENCAR, s/d, p. 273).
Semântica e Pragmática
– 12 –
Nos estudos de língua portuguesa, podemos citar algumas obras que 
seguem essa corrente, entre as quais merecem menção:
 2 Manuel Rodrigues Lapa – Estilística da Língua Portuguesa (1.a ed. 1945);
 2 J. Mattoso Câmara Jr. – Contribuição à Estilística Portuguesa (1.a 
ed. 1952);
 2 Gladstone Chaves de Melo – Ensaio de Estilística da Língua 
Portuguesa (1.a ed. 1976);
 2 José Brasileiro Vilanova – Aspectos Estilísticos da Língua Portuguesa 
(1.a ed. 1977).
O que a Estilística descritiva tem como alvo é a sistematização dos meios 
que a língua nos oferece para exteriorizarmos nossas necessidades afetivas, isto 
é, os elementos emocionais que acompanham o enunciado.
Comparemos a expressividade dos versos de uma canção de Chico 
Buarque com a objetividade de uma variante referencial:
5. Dorme, minha pequena / Não vale a pena despertar / Eu vou sair / 
Por aí afora /Atrás da aurora / Mais serena (“Acalanto para Helena”)
6. Dorme, minha filha, não precisa acordar. Eu vou sair para o trabalho.
Comentário estilístico: embora o conteúdo informativo seja idêntico, 
apenas o exemplo (5) mostra o sentimento e a densidade da cena, compar-
tilhando com o leitor a escolha revelada do sintagma “minha pequena” e a 
longa representação de sua “saída para o trabalho” (= eu vou sair por aí afora 
atrás da aurora mais serena).
Como se vê, ao se ocupar da descrição dos recursos expressivos da língua 
como um todo, independentemente de sua ocorrência em obras literárias, 
a Estilística descritiva não está voltada exclusivamente para a literatura e se 
desdobra em outras vertentes, sobretudo a chamada estilística funcional, que 
tem Roman Jakobson (1896-1982) como seu principal representante.
– 13 –
Estilística, a ciência da expressividade
Jakobson examina, a partir do processo de comunicação, a partici-
pação do emissor, do contexto, da mensagem, do contato, do código e do 
destinatário. E cada um desses componentes, conforme o caso, justifica a 
existência de funções predominantes ou concorrentes, a saber: emotiva ou 
expressiva (centrada no emissor), referencial ou informativa (no contexto), 
poética (na mensagem), fática (no contato), metalinguística (no código) ou 
conativa (no destinatário).
O processo básico da comunicação verbal envolve uma situação fun-
damental de construção, que pode ser exemplificada na seguinte simulação:
José pretende avisar a João que vai viajar.
Em tal situação, temos seis fatores envolvidos na comunicação verbal. 
Partindo da frase do exemplo, identificamos:
Quadro 2 – Comunicação verbal
A – José diz que vai viajar. Ele é o... ... emissor
B – A ideia que vai ser proferida por José é algo abstrato e só vai 
ser concretizada quando for dita por ele. Essa ideia abstrata é o... ... contexto
C – Ao concretizar o contexto, isto é, ao 
dizer: “Vou viajar”, José se vale da... ... mensagem
D - Esta mensagem, para ser entendida por João, precisa ser 
dita de uma forma que ele conheça, isto é, com elementos que 
sejam comuns a ambos, no caso, as palavras, que são o...
... código
E – José fala e João escuta. Isto representa o... ... contato
F – João é o objeto/alvo/indivíduo a ser alcançado 
por José na conversação; João é, portanto, o... ... destinatário
Fonte: Elaborado pelo autor.
Semântica e Pragmática
– 14 –
A esquematização desses seis fatores pode ser estabelecida da seguinte 
maneira:
Figura 2 – Fatores da comunicação verbal.
EMISSOR DESTINATÁRIO
CONTEXTO 
MENSAGEM
CONTATO 
CÓDIGO
FUNÇÃO EMOTIVA FUNÇÃO CONATIVA
FUNÇÃO REFERENCIAL
FUNÇÃO POÉTICA
FUNÇÃO FÁTICA
FUNÇÃO METALINGUÍSTICA
Fonte: Elaborado pelo autor.
Em suma, a Estilística linguística pretende organizar e interpretar os 
dados expressivos “que se integram nos traços da língua e fazemda linguagem 
esse conjunto complexo e amplo” (CÂMARA JR., 1979, p. 15).
1.3.2 A Estilística idealista (Estilística literária)
A Estilística idealista parte da reflexão, de cunho psicológico, a respeito 
dos desvios da linguagem em relação ao uso comum e considera que qualquer 
afastamento do uso linguístico normal decorre de alguma alteração do estado 
psíquico normal do escritor. Nesse sentido, a maneira pessoal de alguém se 
expressar é seu estilo, que reflete o mundo interior e a experiência de vida de 
quem escreve.
Voltada especificamente para a produção literária, a Estilística idealista con-
sidera que toda obra encerra um mistério cuja compreensão depende basicamente 
da intuição de quem se investe do desejo de desvendar “os mistérios de criação 
de uma obra e dos efeitos dessa obra sobre os leitores” (MARTINS, 1989, p. 9).
Essa dimensão serviu como argumento para que alguns estudiosos 
defendessem a complementaridade entre as duas correntes principais. Amado 
– 15 –
Estilística, a ciência da expressividade
Alonso (1896-1952), por exemplo, chega a afirmar que a Estilística literária 
tem como base a Estilística linguística justamente porque é esta quem cuida 
do lado afetivo, imaginativo das formas da língua, encontráveis tanto na fala 
como na escrita, pois são esses indícios que se sobrepõem aos signos. A partir 
de tais elementos, a Estilística literária examinará como é constituída a obra 
literária e considerará o prazer estético que ela provoca no leitor. Como tudo 
se engloba no valor estético da obra, ela está impregnada do próprio prazer do 
autor ao criá-la e isso vai suscitar no leitor um prazer correspondente.
Entre as obras disponíveis em língua portuguesa que seguem a corrente 
idealista, merecem citação:
 2 Vítor Manuel de Aguiar e Silva – Teoria da Literatura (1.a ed. 1967);
 2 Eduardo Portella – Teoria da Comunicação Literária (1.a ed. 1970);
 2 Affonso Romano de Sant’Anna – Análise Estrutural de Romances 
Brasileiros (1.a ed. 1973);
 2 Luiz Costa Lima – Dispersa Demanda (1.a ed. 1981).
Eis alguns exemplos de comentários estilísticos sob o viés idealista:
Até o momento presente, os mais importantes estudos sobre o lirismo 
drummondiano só trataram de aspectos parciais (temáticos ou formais) 
de sua obra, enquanto que a maior parte das visões de conjunto perma-
nece excessivamente sintética. (MERQUIOR, 1975, p. 3)
No caso de Guimarães Rosa, embora sua obra seja das mais estuda-
das entre nós, o problema do magismo e de suas implicações com a 
apreensão estética da realidade parece completamente inexplorado. 
Isso propicia mal-entendidos, que mais se agravam se a ausência 
desta análise se combina a observações que, sendo válidas, sejam, no 
entanto, também tratadas parcialmente. (LIMA, 1991, p. 510)
A leitura do conjunto das obras de Rubem Fonseca nos leva a des-
tacar a existência de dois grandes núcleos temáticos: a violência e a 
busca da verdade. Poderíamos mesmo dizer que a íntima relação esta-
belecida entre esses núcleos é fonte geradora de força da ficção do 
autor, na medida em que determina o tipo de tratamento que será 
dado aos temas e a consequente busca de soluções formais adequadas. 
(FIGUEIREDO, 1994, p. 73)
Roger Fowler (1993, p. 237) nos dá uma boa definição do que se 
deve entender por Estilística literária, dizendo que ela é “uma subdivisão 
Semântica e Pragmática
– 16 –
historicamente isolada da crítica com seus próprios princípios e métodos”, 
sendo “menos difusa, mais coerente, mais mecânica do que a crítica em geral”.
Em suma, a Estilística literária desvencilha-se às vezes da linguística e 
assume um aspecto quase genético, propondo-se a recuperar a gênese, a cria-
ção poética, convivendo desafiadoramente com as relações entre forma e con-
teúdo, materiais e estrutura.
1.4 Aplicações da Estilística 
aos estudos do Português
“A Estilística vem complementar a gramática,” diz Mattoso Câmara 
Jr. (1979, p. 14). Por isso, para examinar que aplicações tem a Estilística 
nos estudos de uma língua, é preciso deixar claros seus vínculos com a gra-
mática, ou seja, com o léxico, com a sintaxe, a morfologia, a fonética e a 
fonologia. Daí falarmos em estilística fônica (fonoestilística), em estilística 
da palavra (morfoestilística), em estilística sintática e até em estilística da 
enunciação. Afinal,
[...] ler ou escrever um texto é muito mais do que apenas compreen-
der ou organizar palavras em frases e parágrafos. É algo que envolve 
um amplo mecanismo a partir do qual o pensamento e as pretensões 
comunicativas do autor se apresentam para reflexão e avaliação do 
leitor. Como se constroem esses textos? Com palavras, sintagmas, ter-
mos e orações – elementos que mantêm entre si um relacionamento 
interno de concordância, de regência, de atribuição. (HENRIQUES, 
2008a, p. 15)
A Estilística é parceira de todos os componentes do texto, desde os 
fonemas que constroem morfemas e palavras até os períodos e parágrafos 
que constroem a totalidade do texto. E a adequação gramatical de uma obra 
precisa estar “compatível com as pretensões e intuitos de seu autor, que – se 
assim julgar pertinente – procurará atingir o nível de exigência da lingua-
gem padrão praticada por escrito pela comunidade culta em que se insere” 
(HENRIQUES, 2008a, p. 16).
As relações dentro de um texto são micro ou macro, conforme o ponto de 
vista de quem examina o objeto de estudo. Nessa tarefa, caberá notar que tipo 
de expressividade se percebe, se descreve e se explica nas passagens escolhidas 
– 17 –
Estilística, a ciência da expressividade
de um texto concreto, real – produto que se tem em mãos e aos olhos para 
com ele se estabelecer uma “negociação de entendimento”.
Para ilustrar essas considerações, vejamos dois trechos da canção intitu-
lada “Cigarra”, escrita por Ronaldo Bastos e Milton Nascimento e interpre-
tada por Simone. 
7. Porque você pediu uma canção para can-
tar / Como a cigarra arrebenta de tanta luz 
/ E enche de som o ar / [...] Porque ainda 
é inverno em nosso coração / Essa canção é 
para cantar / Como a cigarra acende o verão / 
E ilumina o ar / Si, si, si, si, si, si, si, si...
Os versos mostram uma expressiva identi-
ficação que começa na coincidência sonora que 
existe entre a primeira sílaba da palavra “cigarra” 
e do nome da cantora “Simone”. Seria coincidên-
cia, se não notássemos que a letra da música fala 
de alguém que “pediu uma canção para cantar”, 
sendo lícito supor que a onomatopeia que encerra a canção tanto poderia 
estar grafada com “c” como com “s” (si,si,si e ci,ci,ci).
SIMONE → CIGARRA → SI, SI, SI... CI, CI, CI...
Importa também observar que o verso inicial dos dois blocos tem uma 
estrutura sintática idêntica, com uma oração adverbial que faz uma espécie de 
eco à composição, talvez como esboço de um estribilho, reforçado na repeti-
ção do sintagma “para cantar” e do substantivo “canção”, reiterado morfoló-
gica e semanticamente com o verbo “cantar”.
Quadro 4 – Repetições e escolhas morfológicas.
Porque você pediu uma canção para cantar
Porque ainda é inverno em nosso coração Essa canção é para cantar
Fonte: Elaborado pelo autor.
Fonte: Vanessa Lima.
Figura 3 – Simone.
Semântica e Pragmática
– 18 –
Esses pequenos comentários comprovam como são determinantes para a 
compreensão do conteúdo da canção os elementos fônicos (si/ci), os aspectos 
sintáticos (porque...), a escolha morfológica e lexical (canção + cantar), ape-
nas para ficarmos nos que aqui focalizamos.
Podemos, então, concluir, concordando com Mattoso Câmara Jr. (1981, 
p. 110), que a Estilística é uma “disciplina linguística que estuda a expressão 
em seu sentido estrito de expressividade da linguagem, isto é, a sua capaci-
dade de emocionar e sugestionar.”
Em resumo:
Quadro 4 – Estilística x gramática.
Estilística → considera e analisa a linguagem afetiva.
Gramática → considera e analisa a linguagem intelectiva.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Ampliando seus conhecimentos
As tarefas da Estilística 
(GUIRAUD, 1978, p.149-151)
A tarefa mais urgente da Estilística é a de definir seu objeto, 
sua natureza, seus fins e seus métodos, começando pela pró-
pria noção de estilo.
Reduzidas ao seu denominador comum, as diversas concep-
ções de estilo limitam-se à seguinte definição: O estilo é o 
aspecto do enunciado que resulta da escolha dos meios de 
expressão determinada pela natureza e intenções do indivíduo 
que fala ou escreve.
– 19 –
Estilística, a ciência da expressividade
Definição muito ampla, que engloba a expressão, seu aspecto, 
o sujeito falante, sua natureza e suas intenções.
1. Os limites da expressão – As definições do estilo dife-
rem, conforme se tome a expressão no sentido mais 
amplo da palavra ou numa acepção limitada:
a. A arte do escritor, que é o sentido tradicional, o 
emprego consciente de meios de expressão com fins 
estéticos ou literários.
b. A natureza do escritor, a escolha espontânea, mais 
ou menos inconsciente, através da qual se exprimem 
o temperamento e a experiência do homem.
c. A totalidade da obra, que transcende a simples forma 
verbal e compreende a atitude do homem na totali-
dade da sua situação.
2. Os limites dos meios de expressão – O estilo é o 
emprego dos “meios de expressão”, termo este que 
pode ser tomado num sentido mais ou menos restrito:
a. As estruturas gramaticais – sons, formas, pala-
vras, construções.
b. Os processos de composição – forma dos versos, 
gêneros, descrição, narração.
c. O pensamento em sua totalidade – temas, visões do 
mundo, atitudes filosóficas.
3. A natureza da expressão – A comunicação linguística 
comporta diferentes valores que se superpõem e tradu-
zem, seja a atitude espontânea do sujeito, seja o efeito 
que este quer produzir sobre seu interlocutor:
a. Valores nocionais – o estilo pode ser claro, 
lógico, correto.
b. Valores expressivos – o estilo pode ser impulsivo, 
infantil, provincial.
Semântica e Pragmática
– 20 –
c. Valores impressivos – o estilo pode ser imperioso, 
irônico, cômico.
4. As fontes da expressão – Numa perspectiva vizinha da 
precedente e que a confirma, poderemos distinguir:
a. Uma psicofisiologia da expressão – estilos 
segundo o temperamento, o sexo, a idade; estilo 
bilioso (mal-humorado) ou melancólico.
b. Uma sociologia da expressão – estilo das diversas 
classes e profissões, estilos provincianos.
c. Uma função da expressão – estilo literário, admi-
nistrativo, legal, oratório.
5. O aspecto da expressão – Da natureza e das fontes 
da expressão surge nova série de definições puramente 
descritivas e baseadas sobre:
a. A forma da expressão – estilo elíptico, metafó-
rico, etc.
b. A substância da expressão, o pensamento – estilo 
terno, triste, enérgico, etc.
c. O sujeito que fala e sua situação – estilo arcaico, 
poético, etc.
Atividades
1. Os três comentários transcritos a seguir se referem à poesia de João 
Cabral de Melo Neto. Reconheça se eles se enquadram na vertente 
descritivista (linguística) ou na vertente idealista (literária) da Estilís-
tica. Justifique sua resposta.
a. Os instrumentos e meios de trabalho do projetista [João Cabral] 
revelam uma lúcida atividade mental que se vale da geometria 
– 21 –
Estilística, a ciência da expressividade
como modelo de pensamento ativo, como metáfora de uma lin-
guagem precisa que, projetando formas ideativamente puras, cria 
mundos paralelos às realidades concretamente dadas.
b. João Cabral de Melo Neto elegeu a pedra como símbolo maior do 
atrito, traço ao mesmo tempo formal e temático que perpassa ob-
sessivamente sua poesia. O atrito é adivinhado metonimicamente 
em seres, espaços e objetos de acidentada anatomia (esqueletos, 
corpos ossudos, paisagens escalavradas), evocado potencialmente 
em certos instrumentos (bisturi, espada, faca, forja), ou encaixado 
no discurso como nós ou arestas do texto (cacofonias, transgres-
sões morfológicas, anomalias sintáticas).
c. Em relação às questões propostas pelas obras anteriores, a novida-
de [em O Engenheiro] está na articulação que passa a existir entre 
a construção da imagem poética e a problematização da poesia. 
Ou seja, o tratamento da imagem poética passa a ser a estratégia 
pela qual o poeta problematiza o poema enquanto elemento de 
mediação entre ele e a realidade.
2. Leia atentamente o poema de João Cabral “Catar Feijão” (MELO 
NETO, 1994, p. 346-347) e assinale as alternativas que contêm comen-
tários estilísticos coerentes a respeito do texto. Justifique suas respostas.
Catar feijão se limita com escrever:
jogam-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo;
pois catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
05.
10.
Semântica e Pragmática
– 22 –
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com o risco.
a. No verso 2, o pronome se tem função apassivadora e, por isso, 
obriga o verbo a estar na 3.a pessoa do plural, para concordar com 
o sujeito “os grãos”.
b. O poema busca, na inter-relação de seus elementos fônicos, se-
mânticos e sintáticos, a projeção significativa das ações de catar 
feijão e catar palavras.
c. A pedra do feijão e a pedra do papel são iguais porque são pedras 
e porque são, ambas, indigestas e imastigáveis.
d. A sequência de palavras com o fonema /g/ em “jogam-se os grãos 
na água do alguidar” marca o ritmo de leitura desse verso.
e. Os dois últimos versos empregam três verbos transitivos diretos 
dispostos em ordem lógica, direta.
f. Os três últimos verbos do texto contêm uma gradação importante 
para a compreensão do poema, colocando o verbo “iscar” como cul-
minante da ideia de “colher”, “captar” o sentido “mais vivo” da frase.
3. Considerando a vertente funcional dos estudos estilísticos e os com-
ponentes envolvidos no processo de comunicação citados por Roman 
Jakobson, complete as lacunas analisando corretamente a função da 
linguagem do trecho destacado.
a. No mercado de cerveja, o Brasil só perde, em volume, para a Chi-
na (35 bilhões de litros/ano), Estados Unidos (23,6 bilhões de 
litros/ano), Alemanha (10,7 bilhões de litros/ano). O consumo 
da bebida, em 2007, apresentou crescimento em relação ao ano 
anterior, totalizando 10,34 bilhões de litros.
 Função __________________: na totalidade do parágrafo.
15.
– 23 –
Estilística, a ciência da expressividade
b. Beba com moderação! Se for dirigir, não beba!
 Função __________________: no uso dos verbos no imperativo.
c. Eu bebo, sim, e vou vivendo. Tem gente que não bebe e está mor-
rendo [...]
 Função __________________: no uso da primeira pessoa.
d. Inventaram um verbo popular que é o mais lindo exemplo de 
criatividade sob o efeito do álcool: bebemorar.
 Função __________________: na explicação do neologismo.
e. Alô, garçom! Você está aí?! Alguém aí pode me trazer uma cer-
veja gelada?
 Função __________________: na tentativa de confirmação de 
que há um interlocutor.
f. Cerveja... rios e mares de cerveja... O rádio toca canções de amor, 
mas o telefone segue mudo e as paredes continuam no lugar. Cer-
veja... essa é a única coisa que há.
 Função __________________: na escolha e organização das pa-
lavras de modo original.
Estilística fônica
O objetivo deste capítulo é observar a expressividade dos 
aspectos fônicos no estudo estilístico da língua portuguesa.
2.1 Distinção entre letra e fonema
O estudo da Estilística fônica (ou fonoestilística, como alguns 
preferem) envolve necessariamente o conhecimento e domínio de 
um dos assuntos abordados nos estudos gramaticais, isto é, o fonema.
Por esse motivo, é preciso lembrar o tema da arbitrariedade 
do signo linguístico e também as vinculações entre a articulação das 
palavras e frases no portuguêse a convenção gráfica praticada.
2
Claudio Cezar Henriques
Semântica e Pragmática
– 26 –
Em resumo:
 2 Fonema é 
[...] considerado como o conjunto de articulações dos órgãos fona-
dores, seu efeito acústico estrutura as formas linguísticas e constitui o 
mínimo segmento distinto numa enunciação, o que também significa 
que o fonema é uma subdivisão da sílaba.(HENRIQUES, 2008b)
A imagem do aparelho fonador identifica partes do corpo humano que 
atuam na produção dos chamados “sons da fala”, oriundos da corrente expi-
ratória proveniente de nossos pulmões.
Figura 1 – Aparelho fonador.
fossas nasais
lábios
lábios
cordas 
vocais
laringe
língua
faringe
epiglote
cavidade bucal
véu palatino dentes
dentes
Fonte: IESDE BRASIL S/A.
 2 Letra – “É um sinal gráfico com o qual se 
constroem na língua escrita os vocábulos. Ao 
conjunto de letras de uma língua chama-se 
alfabeto.”(grifo do autor) (HENRIQUES, 
2008b) – a foto ilustrativa mostra a capa da 
edição de 2009 do Vocabulário Ortográfico 
da Língua Portuguesa (Volp), publicado pela 
Academia Brasileira de Letras, obra reedi-
tada com as novas normas ortográficas apro-
vadas em 29 de setembro de 2008 e com 
efeito desde 1.o de janeiro de 2009.
Fonte: Divulgação ABL.
Figura 2 – Volp.
– 27 –
Estilística fônica
Portanto, fonemas são sons da fala usados para estruturar as formas lin-
guísticas, mas que isolados não têm significação. Um som da fala só é fonema 
quando tem pertinência, ou seja, valor linguístico, como prova a comutação 
praticada na série de palavras seguinte:
1. [ ‘b r ã k a ] x [ ‘t r ã k a ]
 Comentário: a troca de [b] e [t] nos dá duas palavras (branca e 
tranca) e confirma que /b/ e /t/ são fonemas do português.
2. [ ‘ã d a ] x [ ‘õ d a ]
 Comentário: a troca de [ã] e [õ] nos dá duas palavras (anda e onda) 
e confirma que /ã/ e /õ/ são fonemas do português.
3. [‘d i v a ] x [ ‘dƷ i v a ]
 Comentário: a troca de [d] e [dƷ] não nos dá duas palavras, mas 
duas possíveis pronúncias para uma única palavra (diva) e não con-
firma a pertinência de ambos como fonemas do português, mas de 
apenas um deles – neste caso, o /d/, que tem o [dƷ] como seu alo-
fone (registra uma pronúncia típica de algumas regiões brasileiras).
Alofone = variante de fonema.
4. [ ‘k u s t a ] x [ ‘k u ʃ t a ]
 Comentário: a troca de [s] e [ʃ] não nos dá duas palavras, mas duas 
possíveis pronúncias para uma única palavra (custa) e não repete 
a pertinência de ambos como fonemas do português (encontrável 
por exemplo no par “taça / taxa”) – nesse ambiente fonético de final 
de sílaba, os dois fonemas sempre se neutralizam e caracterizam o 
que se chama arquifonema.
Arquifonema = neutralização permanente da oposição de fonemas.
5. [ ‘p l ã t a ] x [ ‘p r ã t a ]
Semântica e Pragmática
– 28 –
 Comentário: a troca de [l] e [r] não nos dá duas palavras, mas duas 
possíveis pronúncias para uma única palavra (planta) e não repete 
a pertinência de ambos como fonemas do português (encontrável 
por exemplo no par “mola / mora”) – os dois fonemas se neutrali-
zam, neste exemplo, sem risco de confusão, mas caracterizam um 
caso de debordamento (e não de arquifonema), porque se o par 
fosse “planto / pranto” a neutralização se mostraria ambígua.
Debordamento = neutralização eventual da oposição de fonemas.
O sistema ortográfico da língua, em sua versão oficial, reproduz as palavras 
de acordo com a convenção em vigor. Observar como acontecem as relações 
entre a ortografia e a sonoridade é a tarefa do estudioso da expressividade, ou 
seja, da Estilística.
2.2 Expressividade das vogais e das consoantes
Não obstante sejam portadores de um ou mais significados, os vocábu-
los (e seus componentes) se constituem de sons e ruídos e assim atuam no 
mundo físico, estando “sujeitos às mesmas análises acústicas das notas musi-
cais e dos produtos erráticos de vibrações irregulares” (MELO, 1976, p. 57).
Os valores estilísticos podem ter uma natureza sonora e se expressam 
tanto no âmbito das palavras como dos enunciados. Assim, além de sua con-
cretização fonética, também atuam o ritmo, a intensidade e a entonação.
 2 Ritmo: é a distribuição de sons num enunciado, considerando de 
que modo eles se organizam ou se repetem a intervalos regulares, 
ou a espaços sensíveis quanto à duração e à acentuação.
 2 Intensidade: é o maior grau de força expiratória com que o som da 
fala é proferido, força que se manifesta acusticamente na maior ou 
menor amplitude de vibrações.
 Atenção! O acento característico da língua portuguesa é a inten-
sidade, sendo chamada de tônica a vogal ou sílaba sobre a qual 
recai a intensidade e de átona a vogal ou sílaba inacentuada. Além 
da intensidade, também atuam na articulação dos sons da fala o 
– 29 –
Estilística fônica
timbre (efeito acústico resultante dos diversos graus de abertura da 
cavidade bucal), a altura (sensação auditiva relacionada à intensi-
dade do som) e a quantidade (duração da emissão de um som).
 2 Entonação: é a variação de tom (fenômeno caracterizado por varia-
ções de altura no corpo do vocábulo, resultantes da velocidade e 
vibração das cordas vocais) que tem como domínio a sentença (ora-
ção, período ou frase).
Tomemos como exemplo dessas referências à camada sonora o trecho 
abaixo, inédito:
Lá vai a bola, solitária e devagar, na direção da última linha do campo. 
Incerteza... A alegria subterrânea se mistura com a raiva recôndita. 
O orgulho, com o medo. A dor pode ser uma felicidade passageira, 
eterna. Suspense. Angústia. Prazer.
Por um breve momento, um único monossílabo pode conter todas 
as emoções: a palavra GOL. Ela tem três letras, mas pode ter qua-
tro, dez… Dependendo do seu fôlego e da sua alegria, ela pode ter o 
tamanho do papel, pode até nem acabar:
GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOLLLLLLL…
Figura 3 – Gol.
Fonte: IESDE BRASIL S/A.
Imaginando vários modos de se narrar um gol num jogo de futebol, 
percebe-se que a intensidade da vogal “o”, sua duração e até sua musica-
lidade têm força expressiva potencial, ainda mais se comungarmos com a 
Semântica e Pragmática
– 30 –
emoção do locutor. Porém, mesmo que o gol não seja a nosso favor, por ser 
o gol de uma derrota indesejada, a sonoridade dessa palavra nos marcará, 
 impregnando-nos de tristeza tanto quanto impregnará de alegria os corações 
dos torcedores favorecidos pela simples passagem da bola por sobre a linha 
que fica debaixo da baliza.
O comentário acima explica uma das possibilidades de a sonoridade da 
língua se manifestar. Mas há outras situações em que a massa sonora tem 
papel importante.
 2 Na rima de um poema ou de uma letra de música:
6. De repente do riso fez-se o pranto 
Silencioso e branco como a bruma 
E das bocas unidas fez-se a espuma 
E das mãos espalmadas fez-se o espanto. (MORAES, 1998)
7. Que jamais seja um sofrimento 
viciosamente cultivado 
para transformar-se em momento 
de verso, espúrio intento da arte. 
Mas a arte que, a cumprir seu fado, 
por força de sonho ou tormento 
se volva num momento dado 
coisa divina, imensa e à parte... (MEIRELES, 1993)
 Comentário: em (6) “pranto” e “branco”; “bruma” e “espuma” 
rimam simetricamente no esquema ABBA e causam um efeito de 
ritmo e musicalidade; já em (7) a rima não é simétrica (o esquema 
é ABACBABC), mas também há ritmo e musicalidade.
 2 Numa mensagem publicitária:
8. “Plá, plé, pli, pló, plus vita! Plus Vita! Na nossa mesa tem Plus Vita 
todo dia!”
 Comentário: a progressão vocálica em série cria um ambiente des-
contraído e apropriado para veicular o produto e causar uma reação 
favorável no destinatário.
 2 Na repetição de palavras ou de sílabas:
– 31 –
Estilística fônica
9. Eu quero a estrela da manhã 
Onde está a estrela da manhã? 
Meus amigos meus inimigos 
Procurem a estrela da manhã. (BANDEIRA, 1958)
 Comentário: a ênfase ocorre pela reiteração do sintagma “estrela da 
manhã”, demonstrando a posição do “eu lírico” diante de sua (in)certeza.
 Na escolha estratégica de palavras com consoantes ou vogais 
iguais ou semelhantes:10. “Acalanto e acalento. Calo e canto por encanto. Enquanto encon-
tro o esquecimento, conto a calma escuridão.” (Canção de Cezar de 
Souza e N. Bulhões)
 Comentário: a sucessão de palavras paroxítonas com as vogais 
nasais e a consoante /k/ traz um efeito especial que se encerra na 
palavra oxítona final.
 2 Na invenção de palavras imitativas ou carinhosas:
11. “É na boca do trabuco, é no té-retê-retém... E sozinhozinho não 
estou.” (ROSA, 1986)
12. “E a fonte a cantar, chuá, chuá; e a água a correr, chuê, chuê.” 
(Canção de Pedro Sá Pereira e Ary Pavão)
 Comentário: a observação dos sons da realidade serve como 
suporte para sua reprodução ou para a afetividade de um trecho.
2.3 Relações expressivas entre a fala e a escrita
Uma sequência sonora realizada na emissão de uma frase se decompõe 
em grupos onde prevalece uma única pauta acentual (com uma sílaba tônica, 
uma ou mais sílabas átonas pré-tônicas ou pós-tônicas e, eventualmente, 
alguma sílaba subtônica).
Cada um desses grupos se chama “palavra fonológica”, e esta se forma 
em função da relação sintagmática de seus membros.
Semântica e Pragmática
– 32 –
Na frase “Aquele quadro fez sucesso”, observam-se com nitidez duas pala-
vras fonológicas e quatro palavras ortográficas. As duas palavras fonológicas são:
13. [ a k e l i ’k w a d r u ] – a sílaba tônica é [kwa], as demais são átonas.
 Essa palavra fonológica se formou a partir de duas palavras ortográficas.
14. [ f e ʃ s u ’s ɛ s u ] – a sílaba tônica é [sɛ], a subtônica é [feʃ], as 
demais são átonas.
 Essa palavra fonológica também se formou a partir de duas pala-
vras ortográficas.
Como se vê, a palavra fonológica é delineada por um contorno prosó-
dico que parte de seu acento primário (no caso, das palavras quadro e sucesso). 
Ela representa, na hierarquia da prosódia, o primeiro nível de interação entre 
a fonologia e a morfologia, e ultrapassa os limites da palavra lexical.
Prosódia = o estudo da variação na altura, intensidade, 
tom, duração e ritmo da fala, vinculando-se pois à 
ortoepia, que estuda a pronúncia correta das palavras.
“A expressividade dos fonemas poderia passar despercebida, se os poetas 
não os repetissem a fim de chamar a atenção para a sua correspondência com 
o que exprimem” , diz Nilce Sant’Anna Martins (1989, p. 38), e podemos 
estender a afirmação aos publicitários, aos compositores, aos jornalistas e a 
qualquer um dos usuários da língua, quando agimos no processo de comuni-
cação com o intuito de criar harmonia no que falamos.
2.4 Figuras de linguagem
Os sons, como vimos, podem sugerir dentro da frase um valor expres-
sivo para o que dizemos. Quando isso acontece, temos figuras de linguagem. 
Diferentemente, a utilização inexpressiva ou caótica da massa sonora caracte-
rizará desvios a que chamamos vícios de linguagem. No campo da fonoestilís-
tica, esses recursos podem ter as seguintes denominações:
– 33 –
Estilística fônica
 2 Aliteração – é a repetição continuada dos mesmos sons consonan-
tais, independente da posição que ocupam nas palavras, distribuí-
das em sequência ou com proximidade.
15. “Escuta-me, não te demoro. É coisa pouca como a chuvinha que 
vem vindo devagar.” (ANDRADE, 2000).
 Comentário: o poeta utiliza intencionalmente em quatro palavras 
seguidas a consoante /v/, visando a criar um efeito expressivo, afetivo.
 Atenção! O vício de linguagem correspondente é a colisão: repe-
tição desagradável de consoantes iguais – que pode até ter como 
finalidade o humor ou a estranheza do interlocutor.
16. Pela primeira pesquisa, percebeu-se por que as pessoas procuram 
o perigo.
17. Três trabalhadores tentaram trocar o turno do trabalho.
 Comentário: observa-se a gratuidade da repetição, sem nenhuma 
pretensão estilística.
 2 Assonância – é a repetição vocálica em sílabas tônicas.
18. “Sou um mulato nato no sentido lato mulato democrático do lito-
ral.” (Canção de Caetano Veloso)
	 Comentário: o compositor utiliza intencionalmente uma série de pala-
vras cuja vogal tônica é /a/, visando a criar um efeito sonoro e musical.
 Atenção! O vício de linguagem correspondente é o hiato: sucessão 
desagradável de vogais – que pode até ter como finalidade o humor 
ou a estranheza do interlocutor.
19. Ou há o aumento, ou há a autogestão.
 Comentário: observa-se a gratuidade e o desconforto da repetição, 
sem nenhuma pretensão estilística.
 2 Harmonia imitativa – ocorre quando a aliteração, combinada ou 
não com assonância, se associa à ideia que expressa.
Semântica e Pragmática
– 34 –
20. Trovões trombeteavam pelas trevas, 
Trastes turvos tonitruantes 
De um turbilhão tortuoso 
Como a turba triste da morte. (SOUZA, 2005)
21. O vento varria as folhas, 
O vento varria os frutos, 
O vento varria as flores... 
E a minha vida ficava 
Cada vez mais cheia 
De frutos, de flores, de folhas. (BANDEIRA, 1958)
 Comentário: a sonoridade das consoantes /t/ e /r/, em (20), e /v/, 
/f/ e /s/, em (21), tem relação coerente com a ideia da forte tem-
pestade, acentuada pelas variadas possibilidades articulatórias da 
consoante vibrante – em (20), e da ação do vento – em (21).
 2 Homeoteleuto – é a coincidência de terminação, sobretudo em 
pontos sensíveis da cadeia sonora.
22. “Ainda canto o ido o tido o dito o dado o consumido o consumado 
/ Ato do amor morto motor da saudade... Diluído na grandici-
dade... / Idade de pedra [...]” (VELOSO; DUPRAT, 1969).
 Comentário: a escolha de palavras com sonoridade interligada 
(série 1: ido/ado + t/d; série 2: ...mido/...mado; série 3: mor + t) 
cria um efeito de sentido, mas tem força sonora identitária.
 Atenção! Um dos vícios de linguagem correspondentes é o eco: 
repetição desagradável de terminações iguais.
23. Na frente da gente, há somente um ambiente diferente.
24. O cadeado estragado foi consertado ao lado do mercado.
 Comentário: observa-se a gratuidade e o desconforto das sequên-
cias -ente e -ado, sem nenhuma pretensão estilística.
 2 Onomatopeia – é a imitação acústica de um som ou ruído ou da 
voz de um animal, e pode ser criada segundo três possibilidades:
25. tique-taque; zás-trás; bum; ploft; miau; cocoricó – onomatopeias puras.
– 35 –
Estilística fônica
26. tilintar; pifar; o cacarejo; grunhido – palavras onomatopaicas.
27. bem-te-vi; quero-quero; estou-fraco – onomatopeias interpretativas.
 Comentário: no primeiro grupo (25), as palavras são criadas a par-
tir da utilização de fonemas que reproduzam o som; no segundo 
(26), há marcas morfológicas na construção de verbos, substantivos 
e adjetivos; no terceiro (27), palavras preexistentes são agrupadas 
sem razão semântica para tentar reproduzir o som.
Figura 4 – Onomatopeias.
BANG
!
zzzz
z
POU!
PLOFT!
Fonte: IESDE BRASIL S/A.
Percebe-se então que o objetivo de causar algum impacto expressivo pela 
escolha da camada sonora está carregado de subjetivismo e sensibilidade. Isso 
significa que o êxito na construção de uma determinada combinação de sons 
não é algo automático e garantido, pois sempre se corre o risco de produzir 
um efeito malsucedido, ou seja, um vício de linguagem, cabendo ainda citar os 
casos de:
 2 Cacoépia – é o erro de pronúncia (que vira cacografia na escrita).
28. *piscicologia, em vez de psicologia, ou *mortandela, em vez de 
mortadela.
 2 Cacófato – é o descuido no encadeamento de palavras, gerando um 
som obsceno ou vulgar.
29. *Entregue-me já o relatório porque essa resposta ele já havia dado.
Semântica e Pragmática
– 36 –
 2 Cacofonia e parequema – é o descuido no encadeamento de pala-
vras, gerando um som de significado concorrente ou desagradável.
30. *Já que tinha, na vez passada se interessado, apresentei-lhe uma 
prima minha.
31. *Deixa a chapa esquentar; *Comprei uma vaca cara; “Você fez a 
torta tarde”.
 Atenção! Como sempre, os vícios de linguagem podem ter como 
finalidade produzir um efeito de humor ou de estranheza/admira-
ção no interlocutor.
 Na canção “Cálice”, de Chico Buarque e Milton Nascimento, 
observa-se a interessante estratégia de escreveruma palavra, o subs-
tantivo “cálice”, e sugerir o entendimento da exclamação “Cale-se!”, 
em versos que têm essa palavra fonológica como palavra-eco, como:
32. Quero perder de vez tua cabeça. [‘kalisi]
 Minha cabeça perder teu juízo. [‘kalisi]
 Quero cheirar fumaça de óleo diesel. [‘kalisi]
 Me embriagar até que alguém me esqueça. [‘kalisi]
 Comentário: no lugar onde transcrevemos a pronúncia, qual signi-
ficação caberia melhor, a da taça de vinho ou a da ordem de silên-
cio? Ou ambas? Os autores, certamente, trabalharam com a pala-
vra fonológica única, contrastando-a com a duplicidade da palavra 
ortográfica (cale-se e cálice). O efeito é expressivo, sem dúvida.
Além das figuras de linguagem que aqui apresentamos, a exploração 
da massa sonora das palavras ainda pode produzir expressividade de mui-
tas outras maneiras. Para nossos objetivos, basta mencionar por exemplo as 
questões inerentes à linguagem falada, em suas múltiplas variedades sociais 
e regionais, ou os temas específicos da arte poética ou musical, em que se 
pode trabalhar os conteúdos de versificação e de harmonia melódica. Enfim, 
as relações entre som e estilo são um caminho aberto à imaginação e arte, 
– 37 –
Estilística fônica
sempre a serviço da pretensão criativa, comunicativa, literária, jornalística de 
quem emprega a língua portuguesa na vida concreta.
Ampliando seus conhecimentos
O vocábulo como massa sonora
(MELO, 1976, p. 79-80)
Começaremos por insistir numa distinção conhecida mas tantas 
vezes esquecida: a que se deve fazer entre vocábulo e palavra. 
No primeiro, consideramos só a estrutura fônica. É uma sílaba, 
ou duas, ou mais, subordinadas ao mesmo acento intensivo
Na cadeia da frase os vocábulos frequentemente se unem, 
fundindo-se a terminação de um no começo de outro, decor-
rendo daí fenômenos diversos, que recebem nomes adequa-
dos, mas aqui dispensáveis. Assim, “ainda agora” ou “com 
uma semana de espera”, por exemplo, soam como aindagora, 
cuma semana dispera. Há mesmo certos vocábulos que já 
perderam, ou ocasionalmente perdem a tonicidade, e, então, 
apoiam-se no acento do vocábulo anterior ou no do seguinte. 
Chamam-se clíticos, distinguindo-se em enclíticos, num caso, 
proclíticos noutro: chamou-me; o livro.
O mesmo vocábulo pode ser suporte de várias palavras, 
como se vê em rio, “curso d’água”, e forma do verbo rir; 
manga, “parte do casaco” e fruto. Para quem não conheça 
o significado de oscofórias ou de liço, estas duas formas são 
meros vocábulos.
Nos casos de polissemia, isto é, multiplicidade de significados 
por força de um natural desdobramento, não se pode falar, 
creio, em multiplicidade de palavras, porque um liame, mais 
ou menos estreito, une esses significados.
Semântica e Pragmática
– 38 –
Normalmente, pois, a cada vocábulo corresponde um con-
ceito ou um feixe de conceitos vizinhos. Tal correspondência é 
de si arbitrária e gratuita, segundo o princípio maior, definidor 
da língua. Nenhuma relação natural existe entre o quadrúpede 
amigo do homem e a palavra cão, cachorro ou dog.
No entanto, estilisticamente se pode falar em adequação ou 
inadequação entre a massa sonora do vocábulo e o conteúdo 
significativo. Assim, grito é mais expressivo que brado. Entre “por 
muito pouco ele não morreu” e “por um tris ele não morreu”, é 
preferível a segunda solução, dado que estejamos preocupados 
com uma forma adequada. É que a massa sonora de tris sugere 
melhor a mínima dependência em que ficou a vida do Fulano. 
Se dissermos que alguém entrou solenemente no recinto, passo 
cadenciado e lento, sob os olhares reverentes e admirativos da 
multidão, teremos escolhido um vocábulo cuja massa sonora qua-
dra bem ao efeito: pentassílabo paroxítono (ou grave), com tônica 
média e nasal e uma combinação de /l/ e /n/ muito apropriada.
Um vocábulo como abreviadamente é, com certeza, ina-
dequado, maior, por assim dizer, do que o seu conteúdo. 
Arredondamento fica bem para o sentido que tem; é vocábulo 
adequado. Nesta sequência – grande, enorme, gigantesco – os 
três vocábulos traduzem a gradação do tamanho: cada sílaba 
a mais acrescenta, sensivelmente, uns quilates de intensidade.
Os poetas são muito sensíveis à adequação da massa sonora 
ao significado, e é natural que assim seja, porque a poesia é 
essencialmente palavra, é o esplendor da palavra. Muitas das 
correções que, sobretudo os parnasianos, inserem nas suas 
retomadas têm por base o ajuste da massa sonora. A propó-
sito, é muito instrutiva a alteração feita por Raimundo Correia 
no último terceto de seu poema “Banzo”. Era assim a primeira 
versão, de 1885:
– 39 –
Estilística fônica
Dos monolitos cresce a sombra infame... 
Tal em minh’alma vai crescente o vulto 
Desta tristeza aos poucos, lentamente
A terceira (versão), que modifica levemente a segunda, de 
1891, ficou assim:
Vai co’a sombra crescendo um vulto enorme 
Do baobá... E cresce n’alma o vulto 
De uma tristeza imensa, imensamente...
Além de ganhar em musicalidade e em cor local, com a subs-
tituição de “monolitos” por “baobá”, o fecho ainda se benefi-
ciou muito com a dupla “imensa, imensamente”.
A massa sonora é adequada e há uma espécie de ilusão de 
ótica, digamos assim, que faz parecerem coordenadas as 
duas palavras, que na realidade não o são. Imensa é adjunto 
adnominal de “tristeza”, e imensamente é adjunto adverbial 
de “cresce”: a inteligência da frase deixa isso muito claro. No 
entanto, a sequência faz com que se tenha a impressão do 
crescimento, do alongamento, de profundidade maior, de dor 
mais pungente.
Temos, portanto, um duplo efeito, um intelectual, outro sensí-
vel, produzido pela boa utilização da massa sonora. A síntese 
final seria esta: “cresce cada vez mais uma tristeza cada vez 
maior”, com sólido apoio no material fônico.
Atividades
1. Os três comentários transcritos a seguir se referem a trechos de poe-
mas brasileiros. Reconheça se o recurso estilístico indicado está ade-
quadamente interpretado. Justifique sua resposta.
Semântica e Pragmática
– 40 –
a) Quando lemos os versos de Guilherme de Almeida “O sol é uma 
bola de enxofre fervendo, pondo empolhas redondas como gemas 
de ovos entre as folhas das laranjeiras”, observamos a expressividade 
da assonância, construída a partir da sucessão de palavras com a 
vogal tônica O.
b) O compositor Paulo Ricardo começa uma de suas canções dizendo: 
“Virada do século, alvorada voraz, nos aguardam exércitos que nos 
guardam da paz (que paz?).” O aposto “alvorada voraz” utiliza as 
consoantes /v/ e /r/ que também estão presentes na primeira pala-
vra da música. A repetição intencional dessas consoantes caracteriza 
uma figura de linguagem chamada onomatopeia.
c) Em “Pedro pedreiro, pedreiro esperando o trem que já vem, que 
já vem, que já vem, que já vem...”, Chico Buarque utiliza a massa 
sonora da expressão “que já vem” repetidas vezes para enfatizar o 
cansaço de quem está à espera do trem na estação, o que constitui 
um exemplo de harmonia imitativa.
2. Leia atentamente o poema de Solano Trindade “Tem Gente com 
Fome” (s.d., p. 7-8) e assinale as alternativas que contêm comentários 
fonoestilísticos coerentes a respeito do texto. Justifique suas respostas. 
 Trem sujo da Leopoldina, 
 correndo, correndo, 
 parece dizer: 
 tem gente com fome, 
 tem gente com fome, 
 tem gente com fome... 
 Piiiii!
 Estação de Caxias, 
 de novo a correr, 
 de novo a dizer: 
 tem gente com fome, 
 tem gente com fome, 
 tem gente com fome...
 Tantas caras tristes, 
 querendo chegar Fonte: IESDE BRASIL S/A.
Figura 5 – Fome.
05.
10.
15.
– 41 –
Estilística fônica
 em algum destino, 
 em algum lugar...
 Só nas estações 
 quando vai parando, 
 lentamente 
 começa a dizer: 
 se tem gente com fome, 
 dá de comer... 
 se tem gente com fome, 
 dá de comer... 
 se tem gente com fome, 
 dá de comer... 
 se tem gente com fome, 
 dá de comer... 
 Mas o freio de ar, 
 todo autoritário, 
 manda o trem calar: 
 Psiuuuuuuuuu......
a. A repetição do trecho “tem gente com fome” criaum ambiente de 
monotonia e tédio, incompatível com o movimento de um trem 
ao partir da estação.
b. A onomatopeia “Piiiii!” (v. 07) e a interjeição “Psiuuuuuuuuu......” 
(v. 33) estão conjugadas pela intensificação da vogal, o que permi-
te entender a palavra que termina o poema como uma condensa-
ção entre a interjeição e a onomatopeia.
c. A maioria dos versos se constrói com duplas de palavras fonológi-
cas (trensujo + daleopoldina // correndo + correndo // tengente + 
cunfome // estação + dicaxias // dinovo + acorrer // dinovo + adi-
zer // sitengente + cunfome // dá + dicomer), mantendo um ritmo 
coeso que produz a harmonia imitativa predominante no poema.
d. Na estrofe final, a referência ao trem é substituída pela participação 
do freio de ar, o que justifica o uso da conjunção “mas”, adversativa.
e. Como a temática do poema é humana e social, é correto inter-
pretar que as onomatopeias usadas como estribilho nas estrofes 
20.
25.
30.
Semântica e Pragmática
– 42 –
1, 2 e 4 se valem de palavras preexistentes agrupadas sem razão 
semântica para tentar reproduzir o som do trem.
f. O advérbio “lentamente”, isolado no verso 20, tem uma massa so-
nora e um valor semântico que destoam expressivamente do res-
tante do poema.
3. Assinale as alternativas que contêm recursos expressivos da Estilística 
fônica e identifique as respectivas figuras de linguagem.
a. “A gente almoça e se coça e se roça e só se vicia.” (Chico Buarque)
b. “Ouço o tique-taque do relógio: apresso-me então.” (Clarice 
Lispector)
c. “Minha vida é uma colcha de retalhos, todos da mesma cor.” 
(Mário Quintana)
d. “Não serei o poeta de um mundo caduco.” (Carlos Drummond 
de Andrade)
e. Dentro dos meus braços, os abraços hão de ser milhões de abra-
ços.” (Vinícius de Moraes)
f. “Sou caipira, Pirapora, Nossa Senhora de Aparecida,” (Rena-
to Teixeira).
Estilística léxica
O objetivo deste capítulo é observar a expressividade dos 
aspectos lexicais no estudo estilístico da língua portuguesa.
3.1 Conceituação de léxico
O estudo da Estilística lexical (ou morfoestilística, como 
alguns preferem) envolve necessariamente o conhecimento e domí-
nio de alguns dos assuntos abordados nos estudos de morfologia, 
isto é, as classes gramaticais e os morfemas.
A palavra léxico é sinônima de “vocabulário”, e indica portanto 
o repertório total de palavras existentes numa determinada língua, 
mas pode também ter uma significação mais restrita, referindo-se, por 
3
Claudio Cezar Henriques
Semântica e Pragmática
– 44 –
exemplo, a uma relação de palavras usadas por um autor ou por um grupo 
social ou profissional. As obras que se dedicam ao estudo do léxico constituem 
dois campos de pesquisa bastante importantes para a sociedade: a lexicogra-
fia, ou seja, a técnica e o trabalho de elaboração de dicionários, vocabulários, 
glossários e afins; e a lexicologia, ou seja, o estudo do vocábulo quanto ao seu 
significado, estrutura morfológica e possibilidades flexionais, sua classificação 
em relação a outros vocábulos da mesma língua ou de outra, em perspectiva 
sincrônica ou diacrônica.
Lexicografia e Lexicologia: estudo das palavras, a partir da 
observação de suas relações com a gramática e com a vida.
Como se pode depreender dessas explicações, a ferramenta fundamental 
com que trabalham os lexicógrafos e os lexicólogos é o dicionário, palavra que 
está assim definida no Dicionário Houaiss:
Dicionário – compilação completa ou parcial das unidades léxicas 
de uma língua (palavras, locuções, afixos, etc.) ou de certas categorias 
específicas suas, organizadas numa ordem convencionada, geralmente 
alfabética, e que fornece, além das definições, informações sobre sinô-
nimos, antônimos, ortografia, pronúncia, classe gramatical, etimolo-
gia, etc. ou, pelo menos, alguns destes elementos. A tipologia dos 
dicionários é bastante variada; os mais correntes são aqueles em que 
os sentidos das palavras de uma língua ou dialeto são dados em outra 
língua (ou em mais de uma) e aqueles em que as palavras de uma 
língua são definidas por meio da mesma língua. (HOUAISS, 2004)
Figura 1 – Dicionário Houaiss.
Fonte: Divulgação Editora Objetiva.
– 45 –
Estilística léxica
Como diz Correia (1995), 
[...] a propriedade geral da linguagem humana que melhor se aplica 
ao léxico de uma língua é a arbitrariedade, ou seja, o fato de os signos 
que constituem as línguas não serem icônicos, isto é, a relação que 
se estabelece entre eles e as entidades da realidade que denotam ser 
meramente arbitrária ou convencional.
Por isso não se deve entender o léxico apenas como uma lista de palavras 
que está contida num dicionário. Afinal, uma observação mais atenta dos 
verbetes dessas obras de referência mostrará que os lexicógrafos, quando redi-
gem as definições de cada componente da nominata, fazem uso das regulari-
dades do léxico, adotando uma estrutura redacional quase sempre simétrica 
e coerente.
Nominata: relação de entradas de uma enciclopédia, dicionário, voca-
bulário, glossário etc.; relação de nomes ou palavras; nomenclatura.
Outro ponto a considerar começará a delinear as relações mais estreitas 
que o léxico mantém com o estilo, pois sabemos que a língua oferece recursos 
para que qualquer pessoa, escolarizada ou não, fale sobre qualquer aspecto da 
realidade. A despeito disso, as palavras usadas para expressar a realidade vivida 
ou imaginada são arbitrárias e variam não apenas de língua para língua, mas 
de modalidade para modalidade e de uso para uso.
Portanto, o conhecimento lexical resulta não apenas da memorização de 
palavras, mas também de um princípio de economia na gestão desse acervo, 
pois cada falante se apropria de um vocabulário compatível com o seu grau 
de estudo e leitura, utilizando-o, em termos numéricos variados, conforme o 
empregue na oralidade ou na produção escrita.
No conjunto do léxico de uma língua existem certamente mecanismos 
que permitem alcançar a expressividade da comunicação, e devemos consi-
derar que o princípio de economia linguística não é unicamente o princípio 
de contabilizar palavras, mas de reconhecer a forma mais adequada para se 
estabelecer o entendimento mais eficiente entre as pessoas.
Semântica e Pragmática
– 46 –
3.2 Palavras lexicais e palavras gramaticais
O léxico, como vimos, é o conjunto de palavras de uma língua, mas é 
preciso distinguir nesse conjunto os elementos lexicais “plenos” e os elemen-
tos lexicais de natureza gramatical.
Tomemos duas pequenas listas de palavras do português:
1. certo, hoje, torre, ver.
2. com, os, quando, se.
Saberíamos explicar o que cada uma das palavras da série (1) significa? 
Ainda que pudesse haver algumas divergências na definição de palavras de 
significação mais ampla ou vaga, a resposta certamente seria “sim”. E quanto 
às palavras da série (2)? Provavelmente, as explicações ficariam restritas aos 
conhecimentos gramaticais de cada um, cabendo até retrucar: de que “os” ou 
de que “se” você está falando? 
A série (1) contém as chamadas “palavras lexicais”; a série (2) contém as 
chamadas “palavras gramaticais”. Na primeira, temos um adjetivo, um advér-
bio, um substantivo e um verbo; na segunda, temos uma preposição, um 
artigo, uma conjunção e um pronome. Na lista (1) poderíamos acrescentar 
quantos adjetivos, advérbios, substantivos e verbos? O número é aberto, pois 
a todo momento novas palavras lexicais podem ser formadas (talibanizar? / 
argentinização? / palestra incomodacional? / chororosamente?).
O Globo: 29/10/2008
Palestra “incomodacional” é a novidade da
vez de René Simões.
Técnico tricolor tem priorizado a conversa com os jogadores antes
dos treinamentos.
Já na lista (2) o conjunto é finito, sua dimensão é relativamente redu-
zida, enumerável em extensão e praticamente restrito – embora os processos de 
gramaticalização permitam que as palavras se “movimentem” entre os grupos. 
Assim, a conjunção “porque” pode se substantivar e virar “motivo” (Não entendi 
o porquê de sua dúvida); o substantivo“tipo” pode vir a se gramaticalizar como 
– 47 –
Estilística léxica
conjunção (Vocal feminino possante tipo Ivete Sangalo procura banda = como) 
ou como preposição (Passo na sua casa tipo meio-dia = perto de).
Figura 2 – Ivete Sangalo.
Fonte: Divulgação MK.
“As palavras gramaticais são pouco numerosas, mas de altíssima frequência 
nos enunciados, desempenhando funções de grande importância”, frisa Nilce 
Sant’Anna Martins (1989, p. 72). Essas funções são elementos-chave na cons-
trução de um texto e, paradoxalmente, embora sejam desempenhadas por um 
contingente pouco numeroso, carregam a responsabilidade de dar à mensagem 
que se quer transmitir o exato valor pretendido pelo emissor – a quem compete, 
em última análise, dominar plenamente o uso das palavras gramaticais.
Em síntese, elas servem para:
 2 relacionar o enunciado com a situação de enunciação, indicando os 
participantes da comunicação, o espaço e o tempo em que ela se dá 
Semântica e Pragmática
– 48 –
(são os dêiticos: eu, tu, e suas variantes, aqui, aí, agora, possessivos 
e demonstrativos referentes à primeira e à segunda pessoas etc.);
 2 substituir ou referir algum elemento presente no enunciado (são os 
anafóricos ou representantes: ele, demonstrativos não relacionados 
à primeira e à segunda pessoas etc.);
 2 atualizar os nomes, transformando-os de elementos do paradigma 
ou palavras de dicionário em termos da frase (são os determinantes: 
artigos definidos e indefinidos);
 2 relacionar palavras no sintagma (preposições) e orações na frase 
(conjunções e pronomes relativos);
 2 estabelecer coesão textual, seja dentro de uma frase, seja entre frases 
diversas (anafóricos, conjunções, operadores argumentativos etc.).
Palavras lexicais: referem-se a processos ou objetos 
existentes no mundo real = verbos, nomes e advérbios. 
Palavras gramaticais: restringem-se ao âmbito 
interno da língua e de seus enunciados = artigos, 
preposições, conectivos e palavras dêiticas.
3.3 Neologismos lexicais e semânticos
A criação expressiva de palavras é uma prática bastante comum na lín-
gua portuguesa. Todos os dias observamos o emprego de palavras novas, deri-
vadas ou formadas de outras já existentes, e a atribuição de novos sentidos a 
palavras já existentes: “melancia” e “laranja” deixam de ser apenas os nomes 
de duas frutas e passam a funcionar como qualificador feminino ou testa 
de ferro, respectivamente; o torcedor que vai para a geral dos estádios vira 
“geraldino”, a passarela do samba é o “sambódromo”... E assim a lista vai se 
expandindo dia a dia, propiciando que as situações da vida sejam retratadas 
pelo léxico. Se os neologismos serão duradouros ou efêmeros, nunca se sabe, 
pois tudo depende do uso que deles se fará.
Trataremos aqui de dois tipos de neologismos: os lexicais e os semânticos.
– 49 –
Estilística léxica
3.3.1 Neologismos lexicais
No livro Morfologia: estudos lexicais em perspectiva sincrônica, assim defi-
nimos os neologismos lexicais (ou formais): 
Palavras novas, isto é, não dicionarizadas ou recém-dicionarizadas, que 
podem ser objetivamente caracterizadas tomando-se como referência, 
no caso do Português do Brasil, o léxico oficial consignado no VOLP, 
embora os dicionários Aurélio, Houaiss e Michaëlis também possam ser 
fonte de consulta para esse fim. (HENRIQUES, 2008c, p. 138, grifos 
do autor)
Formados a partir de critérios muito variados, os neologismos lexicais 
podem constituir-se, num extremo, como a própria invenção de uma palavra, 
sem nenhuma lógica linguística aparente, a não ser a simples junção de sons 
ou de letras. É o caso que Ieda Maria Alves (1990) denomina “neologismos 
fonológicos” (pela criação de um item lexical cujo significante é criado sem 
tomar como base nenhuma palavra preexistente).
No samba “Idioma Esquisito”, Nélson Sargento (1996) nos mostra 
com muita engenhosidade uma série de palavras proparoxítonas cuja pre-
tensão poderia ser resumida na discussão do seguinte slogan: “se beber, 
não componha”: 
Fui fazer meu samba na mesa de um botequim, 
Depois de umas e outras, o samba ficou assim: 
Estrambonático, palipopético, cibalenítico, estapafúrdico, 
Protopológico, antropofágico, presolopépico, atroverático, 
Batunitétrico, pratofinândolo, calotolético, carambolâmbolo, 
Posolométrico, pratofilônico, protopolágico, canecalônico.
Os adjetivos que descrevem o samba feito “depois de umas e outras” se 
associam ao estado de embriaguez do eu poético. Alguns ainda conservam 
um vestígio de “lucidez vernacular”: antropofágico, cibalenítico (< cibalena, 
um comprimido para dor de cabeça), atroverático (< atroverã, remédio para 
enjoo). Outros parecem pedaços cambaleantes de palavras: estrambonático (< 
estrambólico? + lunático?), prosolométrico (< ? + métrico), protopolágico (< 
proto? + ??), palipopético e presolopépico (< ???).
Neologismos que não deixam pistas morfológicas nem fonológicas nem 
semânticas são palavras perdidas, como os “gratifonísticos e os pseudoferilídicos 
Semântica e Pragmática
– 50 –
que se tengam com frédios de antimalefania”, que agora inventamos. É com-
preensível então que o eu poético do samba de Nélson Sargento, ao final 
daquela estrofe, confesse: “É isso aí, é isso aí / Ninguém entendeu nada / Eu 
também não entendi / (Eu então vou repetir)[...]”(SARGENTO, 1996).
Podemos entretanto afirmar que os neologismos lexicais, na maior parte 
das vezes, são palavras que têm nítida inspiração em outra(s): bebemorar 
(para fazer par com comemorar) associa as ideias de beber e comer, embora a 
segunda não faça parte da estrutura do verbo (co+memorar); paitrocínio se 
baseia na aproximação fonética com a primeira sílaba da palavra patrocínio. 
Caracteriza-se assim o que Ieda Alves (1990, 11-80) chama de “neologis-
mos sintáticos” (criados a partir da combinação de elementos já existentes no 
idioma). Por essa denominação, só haverá neologismos sintáticos nos casos 
que envolverem o uso de afixos ou de combinação de radicais, ou seja, a 
derivação e a composição. Por esse motivo, a autora considera outro tipo de 
neologismo, de um lado, a conversão (ou derivação imprópria) e, de outro, 
os “processos menos produtivos” (a abreviação, a reduplicação e a regressão).
Um neologismo lexical pode, em alguns casos, gerar outros neologismos 
lexicais, pelos mesmos princípios. É o que ocorre em palavras geradas a partir 
da mencionada paitrocínio, como se vê nos exemplos (3) e (4):
3. E essa simplicidade é colocada pelo elenco como um dos méritos 
do sucesso. “Começou como de brincadeira, sem dinheiro. Conseguimos na 
época R$ 1 mil de ‘tiotrocínio’ (empréstimo da família)”, conta a atriz Thaís 
Lopes da peça “Surto” (FM DIÁRIO, 2006).
4. Caro Diogo, não querendo acabar com a tua esperança, deixo-te a 
seguinte mensagem que um piloto de automóveis me disse num desses fóruns 
de internet. Ele disse-me o seguinte: Em Portugal há três tipos de patrocínios: 
o paitrocínio ou tiotrocínio e o autotrocínio, a troca de favores (exemplo: eu 
patrocino-te porque a empresa do teu pai compra milhares de euros de mate-
rial à minha!!!!). Por isso é melhor começares a contactar o teu familiotrocínio 
para poderes correr nesse troféu [...] (MOTONLINE, 2005) 
São situações criativas que podem testemunhar o início da gramaticali-
zação de um radical “-trocínio” = “financiador”, embora caiba lembrar que o 
substantivo patrocínio contenha na sua etimologia a referência a “pai”, pois é 
formado pelo radical culto “patrocin-”, cuja raiz é “pater-”. Isso mostra como 
– 51 –
Estilística léxica
muitas vezes o usuário contemporâneo já não tem consciência da informação 
diacrônica acerca de um vocábulo ou expressão. 
Mas um neologismo lexical pode igualmente produzir uma segunda 
nova formação com vínculos mais fonológicos do que semânticos. Um exem-
plo muito utilizado pela mídia nos anos 2005 e 2006 ocorreu com a palavra 
valerioduto, popularizada pela imprensa para se referir a um dos muitos e 
grandes escândalos da política brasileira. Seu segundo componente(-duto) 
serviu de base fonológica para a formação de valerioindulto, onde o novo radi-
cal adicionado dá mostras de que, apesar de o “condutor” ser réu confesso, os 
“conduzidos” nem sempre são condenados.
3.3.2 Neologismos semânticos
No livro Morfologia: estudos lexicais em perspectiva sincrônica, assim 
definimos os neologismos semânticos (ou conceituais): 
Incorporar significados novos a vocábulos já existentes é o que caracte-
riza a criação de neologismos semânticos, tomando-se como referência, 
no caso do Português do Brasil, obras como os dicionários Aurélio, 
Houaiss e Michaëlis, pois o VOLP é uma fonte que não tem o objetivo 
de registrar as acepções das palavras. (HENRIQUES, 2008c, p. 146, 
grifos do autor)
É bom frisar, porém, que os limites de identificação de valores semân-
ticos novos como neológicos podem esbarrar com os do reconhecimento de 
valores metafóricos também novos. Por exemplo, o neologismo semântico 
rato praticado em Portugal não foi adotado no Brasil, que preferiu incorporar 
o estrangeirismo mouse. É nítido aqui que a palavra “rato” (ainda que por 
uma relação metafórica) representa um novo significado, uma peça usada 
em computadores. A notícia de jornal que lamenta a existência de inúme-
ros ratos na política nacional serve também como exemplo de neologismo 
semântico? A datação desse significado não é nova, mas não é isso apenas 
que exclui a resposta afirmativa. Certamente, a metáfora dos “dinossauros”, 
que é muito mais recente (está registrada no Dicionário Houaiss, e não no 
Dicionário Aurélio) nos servirá como dado representativo dessa fronteira nem 
sempre muito demarcada entre neologismo semântico e metáfora conceitual.
Semântica e Pragmática
– 52 –
3.4 Figuras de linguagem
Tudo o que diz respeito à construção, ao uso e à escolha das palavras, 
como vimos, pode sugerir dentro da frase um valor expressivo para o que 
pretendemos comunicar. Quando isso acontece, temos figuras de linguagem. 
No campo da morfoestilística, esses recursos podem ser sintetizados a partir 
do estudo de duas figuras, a metáfora e a metonímia:
Metáfora – estilisticamente, é a figura de pensamento que corresponde 
a uma comparação de igualdade subentendida, atuando com as relações de 
similaridade, onde a base comparativa é o elemento implícito que admite a 
variedade interpretativa.
5. Teus olhos castanhos são estrelas fulgentes.
→ A base de comparação entre teus olhos castanhos e estrelas fulgentes 
está em aberto: ambos cintilam (são fulgentes), brilham, ou são tocantes, raros, 
lindos, ou são inspiradores de algum sentimento.
Figura 3 – Olhos fulgentes.
Fonte: IESDE BRASIL S/A.
Didaticamente, é um procedimento bastante proveitoso explorar a 
riqueza metafórica da língua viva (presente em palavras lexicais) e exercitar as 
– 53 –
Estilística léxica
distinções entre metáforas já incorporadas à linguagem do dia a dia e aquelas 
que poderiam ser chamadas de “inventivas”.
Igualmente interessante é chamar a atenção para as metáforas con-
ceituais, que se baseiam numa visão cognitivista segundo a qual conceitos 
abstratos que subjazem ao pensamento humano norteiam a linguagem e a 
maneira como nos referimos aos objetos que nos cercam (revelando, enfim, 
de que maneira vemos o mundo). As metáforas conceituais nada mais são do 
que uma espécie de denominador comum das muitas metáforas cotidianas 
sobre um mesmo tema.
Podemos, outrossim, tirar partido de outras figuras de linguagem como 
a prosopopeia, o eufemismo e a catacrese, que também têm base metafórica.
6. Para mim, és um anjo, uma flor, um doce ursinho. 
→ Metáforas “cotidianas” (?).
7. Nossos governantes são diafragmas. 
→ Metáfora “inventiva” (?).
8. Economize seu tempo! Invista seu tempo em coisas úteis! 
→ Metáforas conceituais (tempo = dinheiro).
9. O primo tem um alto astral, mas ele vive na fossa. 
→ Metáforas conceituais (alegria = “para cima” e tristeza = “para baixo”).
10. O vizinho entregou a alma ao Criador. 
→ Eufemismo (é um tipo de metáfora que tem o objetivo de suavizar 
uma ideia mais forte ou agressiva).
11. Nem seu travesseiro entenderia aquela proposta amarga.
→ Duas prosopopeias (é um tipo de metáfora que consiste em dar 
vida, ação, movimento ou voz a seres inanimados).
12. Se embarcar nesse trem, finalmente verei o leito do Rio Amazonas? 
→ Duas catacreses (é um tipo de metáfora que supre, por semelhança, 
a ausência de uma palavra própria para representar um significado).
Semântica e Pragmática
– 54 –
Metonímia (abrangendo a sinédoque) – atua com as relações de conti-
guidade, em que prevalece o entendimento de um vocábulo por outro porque 
ambos são postos no mesmo campo semântico denotativo. 
13. Presenciei o encontro entre um sem-terra e um sem-teto.
→ Tomou-se terra e teto (terra = propriedade rural; teto = moradia) mais 
amplamente do que em seu sentido literal.
14. O menino era a alegria da família.
→ Tomou-se alegria como substituto de “causa, responsável pela alegria”.
15. Bebemos várias garrafas de refrigerante.
→ Tomou-se garrafas como substituto de “líquido contido nas garrafas”.
Os exemplos mostram como as construções metonímicas se incorporam 
à linguagem do dia a dia, até distanciando o componente literal da mente 
do usuário ou do leitor. É o que se observa, por exemplo, com os nomes das 
equipes esportivas que representam um país, um estado, um bairro.
16. O Brasil ganhou da Alemanha na final da Copa de 2002.
→ Tomou-se Brasil e Alemanha como substitutos de “país representado 
por um time de futebol” ou “seleção de jogadores brasileiros” e “seleção de 
jogadores alemães”.
Assim, em resumo, devemos considerar como base interpretativa para o 
reconhecimento dessas duas figuras as seguintes relações:
Metáfora – relação de similaridade semântica.
Metonímia – relação de contiguidade semântica.
Além dessas figuras, a exploração da carga expressiva das palavras tam-
bém pode envolver temas ligados à flexão de gênero e número, à formação de 
palavras compostas ou derivadas e à própria desconstrução vocabular.
17. “Barato é o marido da barata.”
18. “Andando por esses Brasis é que entendemos o povo.”
– 55 –
Estilística léxica
→ Flexões expressivas com intuito afetivo.
19. “Saiu agorinha mesmo.”
20. “Tens todíssima razão.”
21. “É uma data que não pode nenhumamente passar em branco.”
22. “Carnaval off-Sambódromo vai ser mais quente.”
→ Derivações expressivas com intuito enfático, em (19/20/21), e pre-
tensioso, em (22).
23. “A rainha da bateria era a toda-toda Juliana Paes”.
24. “Depois dos pitboys, pitgirls, pitpais etc, veja o que dizia ontem o 
craque do Flamengo, comentando a ameaça do zagueiro do Vasco, de ‘que-
brá-lo’ no segundo jogo da decisão no Rio: – É... já tem até pitzagueiro.”
→ Composições expressivas com intuito enfático (23) e irônico (24).
25. “Mó num patropi, abençoá por Dê.”
26. “Tomei um chafé com um brasiguaio que não sabe falar portunhol.”
→ Desconstrução (25) ou reconstrução (26) vocabular expressiva, 
com intuito artístico (25) ou irônico (26).
Tudo a serviço da pretensão criativa, comunicativa, literária, jornalística 
de quem emprega a língua portuguesa na vida concreta.
Ampliando seus conhecimentos
Relações morfológicas entre palavras
(CORREIA, 1995)
As regularidades possíveis dentro do léxico são mais facil-
mente apreensíveis no domínio das palavras construídas, e 
em particular das palavras derivadas.
Semântica e Pragmática
– 56 –
Neste contexto, é frequente fazer referência à produtividade e 
à recursividade das regras derivacionais, capazes de dar origem 
a longas séries de palavras, de várias categorias gramaticais, de 
significado relacionado e facilmente analisável porque regular. 
Exemplos:
nação 
(SUBST.)
→ nacional 
(ADJ.)
→ internacional 
(ADJ.)
→ internacionalizar 
(V.)
→ internacionalização 
(SUBST.)
nação 
(SUBST.)
→ nacional 
(ADJ.)
→ nacionalizar 
(V.)
→ nacionalização 
(SUBST.)
→ desnacionalização 
(SUBST.)
nação 
(SUBST.)
→ nacional 
(ADJ.)
→ nacionalizar 
(V.)

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