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Disciplina: Estrutura e Legislação do Setor Público Aula 1: Organização do Estado brasileiro, separação de poderes e evolução da administração pública Apresentação Nesta aula, veremos que o Estado brasileiro é composto por uma estrutura ordenada de órgãos que se distribuem entre os Poderes da República. Na estrutura desses Poderes são organizadas as funções de cada um, sendo imprescindível, para nós, a função administrativa. Além disso, analisaremos o funcionamento da Administração Pública atual, verificando as reformas, desde o modelo de uma administração patrimonialista até uma administração gerencial. Objetivos Descrever brevemente a evolução do Estado, identificando a organização do Estado em seus poderes e órgãos especiais e a composição das três esferas: União, Estados e DF e municípios, bem como os respectivos representantes; Identificar as formas de administração do Estado saber: patrimonialista, burocrática e gerencial; Reconhecer os fatores que levaram às reformas da administração pública no Brasil, analisando os princípios da gestão pública empreendedora. Você sabe o que é Estado? O Estado é a representação da pluralidade de regras, pessoas e instituições que formam uma organização, dotada de estrutura própria, visando à satisfação de necessidades da sociedade, para proteger seus membros e dar-lhes segurança e liberdade para o exercício de suas atividades ou direitos, tais como o de propriedade e o de ir e vir. Dentre os modelos de Estado que antecederam o Estado moderno podemos destacar: O Estado medieval Baseava-se na forma monárquica de governo, em que o chefe de Estado se mantinha no poder vitaliciamente, não existindo uma norma constitucional. Havia confusão entre direito público e privado, sem que ocorresse unidade política na figura de uma autoridade central que dispusesse um modelo de leis uniforme. O modelo, contudo, era necessário para defesa de novas invasões. O Estado Medieval promoveu uma desorganização na autoridade do Estado em alguns pontos. Além disso, havia a submissão do Estado ao poder do clero. O Estado absolutista Também tinha uma vertente patrimonialista, não existindo a distinção entre o patrimônio público e o privado, pois os governantes consideravam o Estado como seu patrimônio. O poder e a autoridade concentravam-se na figura do rei, havendo identificação das normas em todo território. O rei era considerado o representante de Deus e só deviam obediência a Ele. Com o surgimento da administração pública moderna, em especial a partir da Revolução Francesa, princípios democráticos e republicanos obrigavam uma gestão pública profissionalizada, com procedimentos racionais que assegurassem a isonomia entre os cidadãos e governados. O Estado brasileiro O início da organização do Estado brasileiro começou com a chegada da Coroa portuguesa em 1808, ocasionando, inclusive, a criação do Banco do Brasil. Estruturou-se um aparato de Estado burocrático a partir da organização da metrópole portuguesa (Lisboa). Um dos enfoques do modelo português, paralelo a outras monarquias, era a existência de Poder Moderador desempenhado pelo Monarca. A República velha adotou um modelo republicado de separação de poderes sem alteração das relações econômicas e sociais, e mesmo a abolição da escravatura nada alterou a desigualdade existente. Prédio do primeiro Banco do Brasil. Fonte: https://goo.gl/rG97yG <http://www.rankbrasil.com.br/Recordes/Materias/067W/Primeiro_Banco_A_Funcionar_No_Brasil> . Início de uma estruturação do Estado administrador A partir da década de 1930, no Governo Vargas, surgiram estruturas de administração dotadas de excelência, no contexto de programas de reforma administrativa. Veja alguns destaques: 01 Criação da comissão permanente de padronização e da comissão permanente de compras, voltadas para o fornecimento de material para o Estado. 02 Criação da comissão mista de reforma econômico-financeira, em 1935, que deu origem à comissão Nabuco, com atribuição de estudar a possibilidade de um reajustamento dos quadros do serviço público civil. 03 Em 1936, a Lei nº 284, de 28 de outubro, denominada Lei do Reajustamento, estabeleceu nova classificação de cargos e a criação do Conselho Federal do Serviço Público Civil. Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP) O principal eixo de reforma deu-se com a criação do Departamento Administrativo de Serviço Público (DASP), criado pela Decreto-lei 579/1938, com o objetivo de implementar uma reforma administrativa destinada a organizar e adotar procedimentos racionais de funcionamento para o serviço público no país. Pretendia-se estabelecer maior integração entre os setores dos ministérios e da administração pública, através do aperfeiçoamento constante do pessoal administrativo, buscando um modelo de mérito. O DASP também assumiu funções de elaboração da proposta do orçamento federal e a fiscalização de sua execução. Getúlio Vargas. Fonte: https://goo.gl/YM9qpE <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/5/50/Getulio_Vargas_%281930%29.jpg/245px- Getulio_Vargas_%281930%29.jpg> Leitura Leia sobre Outras providências do Governo Vargas <galeria/aula1/docs/outras_providencias_governo_vargas.pdf> . Princípios fundamentais da Administração Pública federal No decorrer dos governos militares, em especial com a edição do Decreto-lei 200/67, organizou-se o funcionamento da Administração Pública federal em cinco princípios fundamentais: 1 Planejamento como princípio dominante. 2 Expansão das empresas estatais, bem como de entidades independentes e semi-independentes. 3 Necessidade de fortalecimento e expansão do sistema do mérito sobre o qual se estabeleciam diversas regras. 4 Diretrizes gerais para um novo plano de classificação de cargos. 5 Expansão das empresas estatais, bem como de entidades independentes e semi-independentes. Saiba mais O Decreto-Lei 200/67 se apoiava em uma doutrina consistente e definia preceitos claros de organização e funcionamento da máquina administrativa, sendo o início de um processo de busca da otimização da administração pública, por meio da delegação administrativa, estrutura hierárquica dotada de órgãos supervisores (ministérios) de entidades autônomas (administração indireta) e resultados por intermédio de controle, com possibilidade de descentralização para melhoria desses resultados. Destaca-se também, durante os governos militares, a criação do Programa Nacional de Desburocratização e a continuidade de um trabalho de desestatização de algumas atividades estatais. Modernização do Estado brasileiro Com a abertura política e a chamada Nova República, prosseguiu-se a modernização do Estado brasileiro, em 1985 e 86. Sarney. Fonte: https://goo.gl/D81eAD <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f4/Sarney_%28Gerv%C3%A1sio_Pal%C3%A1cio_do_planalto%2 Foi lançado o primeiro programa de reformas do governo Sarney com três objetivos principais: Racionalização das estruturas administrativas; Formulação de uma política de recursos humanos; Contenção de gastos públicos. O que de fato ocorreu no governo Sarney foi a ampliação do número de ministérios, em especial Ciência e Tecnologia, Cultura e Desenvolvimento Urbano, extinção do Banco Nacional de Habitação (BNH) e criação da Secretaria do Tesouro Nacional, este último como órgão central de gerenciamento de assuntos relacionados ao endividamento do Estado brasileiro e ao controle dos gastos públicos. Fernando Collor. Fonte: https://goo.gl/68BcnL <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/bf/Fernando_Collor_1992_B%26W.jpg/250px- Fernando_Collor_1992_B%26W.jpg> Após o longo período de governos militares e o governo de transição de 85/90, em 1990, o Brasil voltou a ser governado por um civil, Fernando Collor, eleito com uma plataforma de modernização. Ogoverno Collor tentou uma profunda reforma da máquina administrativa, extinguindo e fundindo ministérios, órgãos e demais entidades da administração indireta, demitindo servidores ou colocando-os em disponibilidade. Porém, os resultados, especialmente, os cortes de recursos humanos, não trouxeram economia: Se examinarmos a administração como um todo, os cortes de pessoal não trouxeram expressiva redução de custos. COSTIN, 2008, p. 861. Foi durante o governo Collor que os setores de produção estatal de bens foram privatizados, tais como siderurgia, petroquímica, fertilizantes, dentre outros de menor alcance econômico. Em decorrência da adoção do Plano Real de estabilização da economia, em 1994, e com a posse do presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1995, Bresser Pereira assumiu o novo Ministério da Administração Reforma do Estado, conduzindo um programa de Reforma gerencial do Estado. Fundamentos do Estado brasileiro: federalismo e república O Brasil tem um Estado republicano, democrático e representativo, organizado sob o sistema federativo e presidencialista, composto por três poderes independentes: Poder Executivo Poder Legislativo Poder Judiciário Veja o que dispõe a Constituição Federal sobre isso: Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. A Constituição Federal ainda permite a descentralização de parte do poder político às esferas regionais (Estados e Municípios), conforme repartição de competências legislativas e administrativas: Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. A organização política brasileira é estruturada em federação, formada pela união indissolúvel dos seus 26 estados- membros e do Distrito Federal, sendo o primeiro dividido em outras esferas locais de governo, que são os municípios. São, assim, três os níveis de governo: • União; • Estados/DF; e • Municípios. Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: • I - a soberania; • II - a cidadania; • III - a dignidade da pessoa humana; • IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; • V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. (Constituição Federal) Considerando-se a con�guração política de federação, os Estados-membros também possuem suas Constituições Estaduais, que devem respeitar os preceitos estabelecidos pela Constituição Federal, além das leis e dos decretos que as regulamentam. Atividade 1: O modelo federativo de organização brasileira significa que: a) A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, e os Estados, todos autônomos, nos termos desta Constituição, existindo municípios com dependência da União. b) A federação brasileira é formada pela união dos estados e o Distrito Federal, sendo o primeiro dividido em outras esferas locais de governo, que são os municípios. c) A República Federativa do Brasil é composta pela união dos Estados, dotados de autonomia governamental, sem que lhe fosse atribuídos tributos. d) A organização administrativa do Brasil compreende a União, e os Estados e Distrito Federal, todos autônomos, nos termos desta Constituição, inexistindo municípios como entes federados. e) A federação brasileira é um sistema que permite a constante atuação da União em matéria de competências dos Estados, DF e municípios. As eleições no Brasil As eleições no Brasil ocorrem a cada quatro anos para os agentes políticos: Presidente da República; Governador de Estado; Prefeito; Senadores; Deputados federais; Deputados estaduais ou distritais (para o Distrito Federal); e Vereadores. Veja as regras: Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante [....] (Constituição Federal) Urna eletrônica. Saiba mais Para eleição dos cargos citados acima, o Brasil prevê expressamente o pluripartidarismo, sendo livre a criação de partidos, em caráter nacional, que podem automaticamente definir sua estrutura interna, organização e funcionamento e estabelecer coligações. Segue o dispositivo aplicado: Art. 17 É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos: [...] (Constituição Federal) Organização do Poder Executivo e do Poder Legislativo na esfera federal No Brasil, as funções de chefe de Estado e de chefe de governo estão concentradas no presidente da República, que é eleito pelo voto direto e com mandato de quatro anos com possibilidade de uma reeleição, da seguinte forma: Art. 77. A eleição do Presidente e do Vice-Presidente da República realizar-se-á, simultaneamente, no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato presidencial vigente. (Constituição Federal) A Constituição Federal ainda, em seu art. 84, estabelece as atribuições do Presidente da República, que podem ser agrupadas da seguinte forma: • Nomear e exonerar os Ministros de Estado, que auxiliam o Presidente na direção superior da administração federal; • Iniciar o processo legislativo; • Enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento previstas nesta Constituição; • Sancionar ou vetar projetos de lei, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução; • Manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos; • Celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional; • Decretar o estado de defesa e o estado de sítio; • Decretar e executar a intervenção federal; • Exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá-los para os cargos que lhes são privativos; • Nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da República, o presidente e os diretores do Banco Central e outros servidores, quando determinado em lei; • Nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Constituição, e o Advogado-Geral da União; • Declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional. Leitura Leia mais sobre Organização do Poder Executivo e do Poder Legislativo na esfera federal <galeria\aula1\docs\composicao_poder_legislativo_federal.pdf> . A escolha ou sistema de voto para senador é a mesma do presidente, no caso, majoritário, em que será eleito aquele que tiver o maior número de votos. Para deputado federal, a eleição atende à regra da proporcionalidade do número de votos do candidato e da legenda (partido/coligação de partidos), conforme o número de cadeiras por Estados e DF. Organização dos governos dos Estados-membros, Distrito Federal e municípios Nos Estados federados, a organização dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário será exercida, respectivamente, pela Assembleia Legislativa,pelo governador do Estado e pelo Tribunal de Justiça. A configuração das assembleias legislativas está prevista art. 27, CF. Veja as funções do governador: 1 Sancionar projetos de lei ou vetá-los, desde que sejam matérias de sua competência; 2 Exercer a administração superior dos órgãos e entidades estaduais; 3 Exercer o comando das polícias civil e militar; 4 Arrecadar os tributos de sua competência; 5 Atuar em cooperação com os municípios nos assuntos de interesse comum. Leitura Leia sobre As eleições para estados e municípios <galeria\aula1\docs\eleicoes_estados_municipios.pdf> . Competências assumidas pelos municípios Dentre as competências assumidas pelos municípios, previstas na Constituição Federal, em seu art. 30, estão: Legislar sobre assuntos de interesse local e suplementar a legislação federal e a estadual no que couber. Instituir e arrecadar os tributos de sua competência. Organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo. Manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação infantil e ensino fundamental e para atendimento à saúde da população. Promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano. Formas de administração pública Segundo Cláudia Costin (2010, apud BRESSER-PEREIRA) há três formas de administração do Estado: Patrimonialista A administração patrimonialista retratava a forma comum de administrar das monarquias absolutas e, de acordo com a tradição, o poder concentrava-se na figura do governante. A autora afirma que: O Estado era considerado propriedade do rei. Portanto, o patrimônio do rei e do público eram iguais, um único patrimônio, ou seja, havia uma distorção entre bens públicos e privados. Isso teve influência religiosa, pois acreditava-se que a providência divina atribuía ao rei poderes legítimos para exercer o domínio entre as pessoas. No patrimonialismo, o aparelho do Estado funciona como uma extensão do poder do soberano, e os seus auxiliares servidores possuem status de nobreza real. Em consequência, a corrupção e o nepotismo são inerentes a esse tipo de administração (BRESSER-PEREIRA, 1995, p. 15). Burocrática Com o desenvolvimento do capitalismo industrial no século XIX, o modelo patrimonialista mostrou-se inviável, sendo necessária a adoção de uma nova maneira de administrar que separasse o patrimônio público do privado. Surge, então, a administração burocrática. Nesse modelo, há a separação de privado e público, na qual prevalece o interesse público e não o pessoal, como ocorria no patrimonialismo. Costin (2010, p. 32) descreve alguns princípios básicos que norteiam essa forma de administração: 1. atividades, estruturas e procedimentos estão codi�cados em regras exaustivas para evitar a imprevisibilidade e instituir maior segurança jurídica nas decisões administrativas; 2. interessa o cargo e a norma, e não a pessoa em sua subjetividade; por isto, carreiras bem estruturadas em que a evolução do funcionário possa ser prevista em bases objetivas são próprias desta forma de administração; 3. a burocracia contém uma cadeia de comando, em que as decisões obedecem a uma lógica de hierarquia administrativa, prescrita em regulamentos expressos, com reduzida autonomia do administrador; 4. para se evitar a imprevisibilidade e introduzir ações corretivas a tempo, um constante monitoramento dos meios, especialmente dos procedimentos adotados pelos membros da administração no cotidiano de suas atividades. Gerencial (denominada por alguns autores de pós-burocrática) Veremos este assunto no decorrer da aula. Leitura Leia mais sobre a Administração Burocrática <galeria\aula1\docs\administracao_burocratica.pdf> . Atividade 2: Sobre a formação do Estado brasileiro, é CORRETO afirmar que: a) A administração patrimonialista convive plenamente com as formas de administração burocrática e gerencial. b) A administração gerencial é um método pautado no racionalismo e na hierarquias entre órgãos públicos. c) A administração burocrática garante a impessoalidade e admite delegação de competências. d) Não se pode falar em delegação de competências sem um método de administração pública gerencial. e) A administração gerencial não admite qualquer influência do modelo de administração burocrática. Reformas do Estado no Brasil: Decreto-lei 200/67 [...] a reforma do Estado é vista frequentemente como um processo de redução do tamanho da máquina pública, que envolve a delimitação de sua abrangência institucional e a rede�nição de seu papel. Nascimento, 2010. As funções do Estado estão basicamente concentradas em três áreas de atuação, que envolvem as atividades exclusivas, a prestação de serviços sociais e científicos e a produção de bens e serviços para o mercado. O modelo burocrático com vertente gerencial pode ser considerado um marco na organização da administração pública, com a edição do Decreto-lei 200/67. De acordo com o este Decreto, as atividades da Administração Federal devem obedecer aos seguintes princípios de: 1 Planejamento, por meio de análise prévia, visando atender às reais necessidades dos cidadãos. 2 Coordenação entre os órgãos e entidades de uma mesma estrutura. 3 Controle, por meio de instituição de mecanismos de acompanhamento e mensuração de resultados. 4 Descentralização, mediante a transferência da atividade de produção de bens e serviços para as fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista. 5 Delegação de competência, proporcionando maior autoridade para os gestores, concedendo autonomia, baseada no pressuposto da confiança limitada. O Decreto-lei 200/67 era um instrumento de efetiva descentralização das atividades da Administração Federal, que foram recepcionadas pela Constituição Federal. Saiba mais São os chamados planos de descentralização: Art. 10. A execução das atividades da Administração Federal deverá ser amplamente descentralizada. § 1º A descentralização será posta em prática em três planos principais: a) dentro dos quadros da Administração Federal, distinguindo-se claramente o nível de direção do de execução; b) da Administração Federal para a das unidades federadas, quando estejam devidamente aparelhadas e mediante convênio; c) da Administração Federal para a órbita privada, mediante contratos ou concessões. (Decreto Lei 200/67) O Decreto-lei 200/67, portanto, foi uma tentativa de implantação de uma administração gerencial, mais �exível e estruturada na delegação de competência e no planejamento. As crises do Estado e da burocracia estatal As crises do Estado e da burocracia estatal estão intimamente relacionadas. 1973 Em 1973, houve a crise mundial do petróleo, que resultou na crise fiscal dos Estados, que tiveram que aumentar seus tributos para cobrir seus déficits. Além disso, com a crise fiscal, os governos não dispunham de recursos suficientes para honrar seus compromissos e houve redução de custos e de gastos com pessoal. Décadas de 1980 e 1990 As décadas de 1980 e 1990 presenciaram uma crise nas �nanças públicas. Diversos fatores, tais como mudanças globais, demográficas, déficit público, endividamento externo e alta dos juros internacionais tornavam cada vez mais necessária a alteração do modelo burocrático. 1980 No Brasil, em 1980, a crise do Estado se agravou, visto que, devido à crise fiscal, o Estado já não atendia às suas demandas e não conseguia mais atuar estimulando o desenvolvimento econômico. Constituição de 1988 Com a Constituição de 1988, vários autores acreditam que houve um retrocesso burocrático, porque, em alguns casos, optou-se em diminuir o grau de autonomia dos gestores públicos e consolidaros processos burocráticos. 1995 A reforma da gestão pública em nosso país ocorreu em 1995, quase 10 anos após a reforma da Grã-Bretanha ter sido implantada. O Brasil foi o primeiro país em desenvolvimento a iniciar uma reforma, com o governo de Fernando Henrique Cardoso e liderada pelo Ministro da Administração Federal e Reforma do Estado Bresser-Pereira. A reforma do Estado deve ser entendida dentro do contexto da rede�nição do papel do Estado, que deixa de ser o responsável direto pelo desenvolvimento econômico e social pela via da produção de bens e serviços, para fortalecer-se na função de promotor e regulador desse desenvolvimento. BRESSER-PEREIRA, 1995, p.12. Com a reforma, a administração gerencial substituiu o modelo burocrático, passando a ter uma atuação definida em objetivos, concedendo maior autonomia para os administradores e estabelecendo o controle e monitoramento de resultados. Nesse sentido, na proposta de reforma administrativa do governo, incluindo a administração por resultados, o planejamento estratégico, a descentralização e a autonomia dos gestores representariam os elementos centrais da nova Administração Pública, cuja ação estaria determinada pelas necessidades do cidadão-cliente, e não mais pelo princípio paralisante do controle rígido dos processos administrativos. NASCIMENTO, 2010, p. 269. Atividade 3. Sobre a organização da administração pública, pode-se dizer que: a) A organização da administração pública, com a edição do Decreto-lei 200/67, retornou ao modelo patrimonialista. b) Neste Decreto, as atividades da Administração Federal devem obedecer aos princípios de planejamento, coordenação e controle. c) Não há mecanismos de acompanhamento e mensuração de resultados implementado em decorrência deste Decreto. d) A descentralização, mediante a transferência da atividade e serviços, não era possível, devido ao modelo racionalista. e) O Decreto-lei 200/67 era um instrumento de efetiva centralização das atividades da administração federal, que foram recepcionados pela Constituição Federal. Reforma do Estado e os setores de atuação Esse modelo se alicerçou na reestruturação do Estado, a partir de quatro setores: Núcleo estratégico Corresponde aos órgãos de cúpula dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Na esfera do administração superior do aparato estatal, a coordenação compete ao Presidente da República, aos ministros e aos seus auxiliares e assessores diretos, responsáveis pelo planejamento e formulação das políticas públicas, que desempenham supervisão geral dos órgãos e entidades da administração pública. Atividades exclusivas Setor em que o Estado atua em áreas exclusivamente estatais, de sua presença impositiva, envolvendo o poder de regulamentar, fiscalizar, estimular o fomento etc. São exemplos dessa atuação: A arrecadação de tributos e fiscalização; As ações de polícia administrativa preventiva e repressiva e de segurança pública; A gestão da previdência social básica. Serviços não exclusivos Equivalem a setores em que o Estado atua simultaneamente com outras organizações públicas não estatais e privadas. São áreas em que o Estado assume o dever de prestação do serviço, mas não de forma exclusiva, como bem destaca Bresser Pereira (2006, p. 35). Trata-se de área sensível à defesa de direitos humanos, no qual o Estado não atua com seu poder, como nos serviços de acesso à educação e da assistência à saúde. Pode-se entender que são setores que não devem ficar sujeitos ao mercado. Produção de bens e serviços para o mercado Essa área de atuação remete às empresas públicas ou privadas, por se tratarem de atividades econômicas voltadas para o lucro, ainda que o capital destas permaneça no próprio Estado. Podem-se destacar os serviços públicos de infraestrutura, tais como energia, conservação de rodovias, ferrovias e hidrovias. Os objetivos do projeto de reforma do Estado, então adotados, pautaram-se: 01 Aumentar a capacidade administrativa dos órgãos do Estado com eficiência, buscando a melhoria do atendimento do cidadão. 02 Limitar a ação do Estado às funções que lhe são típicas, desempenhadas através do núcleo estratégico e dos órgãos de atividade exclusiva. 03 Dar aos serviços não exclusivos as feições de propriedade pública não estatal, enquanto a produção de bens e serviços seria aberta à atuação do agente privado econômico, ou seja, o mercado, ressaltando a possibilidade de regulação destes pelo núcleo estratégico. 04 Transferir para os Estados-membros e Municípios as ações de interesse local, visando ao melhor atendimento do cidadão, delegando para os Estados, ainda que parcialmente, os programas de caráter regional. Administração Pública Gerencial A Administração pública gerencial surge na segunda metade do século XX. Nesse modelo, as metas e os resultados a serem alcançados são negociados por meio de um contrato de gestão. Busca-se medir a eficiência e também a efetividade dos serviços oferecidos, porque a missão do governo é oferecer serviços de qualidade. Veja os pontos principais de uma gestão gerencial: 1 Descentralização das funções de competência comum Ocorre quando há transferência de desempenho de alguma atribuição ou função da administração pública para pessoas físicas, jurídicas ou sociedade civil. 2 Administração gerencial focada em resultados Estimula a flexibilização, inovação e criatividade. O controle dos resultados é feito com base em indicadores de desempenho e com a adoção do contrato de gestão, proporcionando maior autonomia e confiança ao gestor público. 3 Administração gerencial é direcionada para o cidadão Os serviços públicos devem estar voltados ao atendimento das necessidades prementes dos indivíduos. 4 Valorização do servidor Criando melhores condições de trabalho e mecanismos de reconhecimento e valorização de quem irá conduzir a reforma. Proporciona também maior autonomia gerencial, gerando flexibilidade e rapidez na prestação de serviços. 5 Criação de novas formas de organização para prestação de serviços não exclusivos do Estado Tais como as organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) e as Organizações Sociais (OS). Referências BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 31. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos. Reforma do estado e administração pública gerencial. 7. ed. Rio de janeiro: FGV, 2006. CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. COSTIN, Claudia. Administração Pública. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 30. ed. Rio de Janeiro: Forense.2017. MELLO, Celso Antônio Bandeira. Curso de Direito Administrativo. 21. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. NASCIMENTO, Edson Ronaldo. Gestão Pública. 2. ed.Rio de Janeiro: Saraiva, 2010. Próximos Passos • Organização da administração pública: órgãos e entidades; • Administração indireta: entidades ou pessoas jurídicas; • Principais aspectos de cada tipo de entidade. Explore mais Pesquise na internet sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Em caso de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem. Leia os textos: Atividade Legislativa <https://www.senado.leg.br/atividade/const/constituicao-federal.asp> ; Decreto-lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967 <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del0200.htm> ; Da administração pública. Burocrática à gerencial”, de Luiz Carlos Bresser Pereira <http://www.bresserpereira.org.br/papers/1996/95.AdmPublicaBurocraticaAGerencial.pdf> ; Princípio da separação de poderes <https://www.infoescola.com/�loso�a/principio-da-separacao-de-poderes/> .
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