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Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br Módulo 16: Serviço Social e Empresa Prezado(a) aluno(a), Olá! Neste capítulo iremos estudar o exercício profissional do Serviço Social nas empresas e as transformações ocasionadas principalmente pela globalização, reestruturação produtiva, as inovações tecnológicas e os impactos na vida dos trabalhadores. Nesta nova realidade, onde há a redução da oferta de empregos e as exigências por maior qualificação, flexibilidade, engajamento, empregabilidade, dentre outras, o serviço social deverá intervir e estar engajado nas novas formas de gestão. Bons estudos!! Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br Serviço Social e Empresa 1. O Processo de Reestruturação Produtiva 2. A Saúde do Trabalhador 3. Trajetória do Serviço Social em Grandes Empresas 4. Origem e Condições de Trabalho do Serviço Social nas Empresas e Instituições a Assistência e a Orientação Individual e Suas Mutações 5. O Serviço Social com Grupos nas Organizações 6. O Trabalho Institucional, Societário e Comunitário nas Empresas 7. Alterações no Mundo do Trabalho e Repercussões no Mercado Profissional do Serviço Social 8. Demandas de Serviço Social no Setor Empresarial 9. Inserção do Serviço Social no Setor Empresarial 10. Reestruturação Produtiva 11. Reestruturação Empresarial 12. Atuais Demandas do Serviço Social no Setor Empresarial 13. Considerações Finais 1. O Processo de Reestruturação Produtiva Segundo Freire, as alterações desenvolvidas no espaço de trabalho, em fase do processo que tem sido denominado reestruturação produtiva, têm provocado a desestruturação social, fazendo com que os assistentes sociais, trabalhadores, sofram esse impacto em suas condições e espaços de trabalho. O processo de reestruturação produtiva consolidou-se no Brasil a partir do governo Collor, em 1989, sob o despotismo da competitividade provocada pelo mercado globalizado, no atual estágio de acumulação flexível do capital, como forma de superar a crise do capital. O novo estágio é constituído da intensificação de estratégias de distribuição geográfica do capital, da produção e seu controle. Essa tendência prevista por Marx é facilitada pela tecnologia informacional, sendo hoje denominada de Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br mundialização ou globalização da economia. Desse modo foi sendo ditadas uma nova cultura e ações políticas de inspiração neoliberal no mundo do trabalho, que buscam flexibilizar ao máximo não somente as estratégias de produção e racionalização, através de novas tecnologias políticas, processos de trabalho, estoques, tempo de giro de capital, produtos, padrões de consumo, como também as condições de trabalho, os direitos e os compromissos do Estado para com a população, conquistados no período anterior. Neste movimento, que globaliza, inclusive, as desigualdades e diversas manifestações da questão social, há um desafio para a descoberta por todos, incluindo a classe trabalhadora e os movimentos sócios, das dimensões globais dos seus modos de ser, agir, pensar, sentir, imaginar. Estas questões vêm provocando o reconhecimento de problemas, direitos e deveres similares, estabelecendo as bases para uma percepção da sociedade global em formação, da cidadania em escala mundial. Todas essas transformações afetam diretamente a vida do trabalhador, submetido à velocidade das mudanças que ocorrem a cada dia, à permanência num mercado global extremamente competitivo, às tecnologias em rápida transformação, um conjunto de variáveis que gera um novo desafio e a indagação de como agir num ambiente que exige tanto e que se transforma tão rapidamente. A esse respeito, Jean Lojkine (1995) analisa o que denomina “revolução informacional” como uma potencialidade contraditória, em face de tendência à ultrapassagem de diversas divisões polares da revolução industrial, a despeito das pressões dominantes para conservá-las. Entretanto, o autor reconhece as duras contradições da implementação dessa Revolução Industrial, que suscitou historicamente tendências opostas às do capital. As contradições ampliadas revelam-se na reestruturação produtiva, que se insere na reestruturação política, social e econômica do novo estágio de acumulação. As novas estratégias caracterizam o atual regime político de trabalho dominante, denominado hegemônico-despótico por Burawoy (1985 e 1990). Os regimes políticos são conceituados por esse autor como formas reguladoras dos conflitos no trabalho, que reproduzem as relações sociais de produção, sendo relacionadas às conjunturas políticas e econômicas da sociedade e consequente grau de dependência dos trabalhadores. O atual regime refere-se às políticas de produção do momento contemporâneos, no qual foi afetada a relativa autonomia do trabalhador em relação à empresa, conquistada no estágio anterior (denominado hegemônico), em função do desemprego crescente e da crise do Estado de Bem-Estar. Para Ricardo Antunes esta questão é tratada, levando-se em conta as mesmas considerações de Ianni, “a totalidade do trabalho, a capacidade de trabalho socialmente combinada, o trabalho coletivo como expressão de múltiplas atividades combinadas”. Com base na distinção marxista entre trabalho concreto e trabalho abstrato. Uma das teses apresentadas por Antunes atribui as possibilidades de mudanças ainda centralmente na luta da classe-que-vive-do-seu-trabalho - sem Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br excluir as outras formas de contestação - apesar do seu caráter. Por outro lado, no movimento histórico, as contradições, materializadas nas sucessivas crises objetivas, “têm um papel chave no rompimento do forte vinculo entre as estruturas subjetivas e as estruturas objetivas”. Conforme a análise de Gramsci, as possibilidades da mudança estão relacionadas à formação social particular, sendo, portanto, um fenômeno historicamente mutável. Gramsci aprofunda essa questão, quando apresenta o movimento da subjetividade, inserida na socialização da política, na construção da própria objetividade. Alguns resultados produzidos nesse processo de conquistas de espaço e de limites à exploração capitalista, de aparência consensual e consentindo com as regras maiores, exigem aprofundamento sobre os sentidos antagônicos subjacentes, como no caso da saúde do trabalhador. Sobre a aparente oposição binária “estrutura objetiva” versus “sujeito voluntários”, conforme a critica de Knights (1990) a Burawoy, comum a algumas abstrações estruturalistas e voluntaristas, Iamamoto (1992) localiza no próprio Marx sua superação, no embate por ele travado. Os estudos críticos utilizados permitem concluir que a globalização do capital não prescinde do trabalho, mantendo-se a centralidade das relações sociais de produção para o entendimento da vida social, em escala ampliada e diversificada, visível nas seguintes expressões do modo capitalista globalizado de produção: criação e reprodução da desigualdade e classes antagônicas; ampliação e diversificação da subclasse, da miséria e das tensões sociais em escala planetária; novas formas de resistência e luta, associadas à nova dimensão de defesa do planeta e da humanidade. Hoje, com as novas exigências do mercado e a situação atual no mundo do trabalho, a tendência no desenvolvimento das habilidades do profissional de serviço social é pró-ativa, ou seja, o profissional não espera mais da empresa o investimento no seu desenvolvimento. Independente das organizações, o profissional atual cada vez mais planeja e investe nele mesmo, na busca deum nível de empregabilidade suficiente, mudando totalmente o perfil da mão de obra. Segundo Machado (1998), a questão da empregabilidade e da competência deve ser vista e analisada por todos, empregadores, assalariados e trabalhadores por conta própria, que devem reavaliar suas capacidades e vantagens competitivas e o que é ser hoje, no âmbito do capitalismo mundializado, alguém competente e integrável ao mercado. O que se espera do profissional deste mundo globalizado é que ele seja cada vez mais comprometido, envolvido, participante, multifuncional, flexível, criativo, analítico, cooperativo para desempenhar as novas necessidades do mercado e, principalmente, estar preparado para mudanças em sua carreira. Mas a prática é bem diferente do que se espera deste profissional, que vive num país marcado por desigualdades sociais tão acentuadas e que, portanto, nem sempre tem a chance Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br de conseguir se qualificar e preencher todos os requisitos citados. Em relação às consequências dessas mudanças no mundo do trabalho para as organizações, podemos observar o aumento da exigência em um mercado caracterizado pela oferta. Ficam ainda evidentes as mudanças nos contratos de trabalho, marcados pela desregulamentação, fragilizando direitos sociais conquistados ao longo das últimas décadas. Segundo Mota, a dinâmica da reestruturação produtiva, assume um duplo desafio: o primeiro deles é o de situar a reestruturação no contexto da crise capitalista contemporânea, qualificando-a como um processo de restauração econômica do capital e ambiente de intervenção política das classes e do Estado nas condições de reprodução social; o segundo consiste em identificar as mediações que conectam a experiência do Serviço Social às mudanças em curso. As profissões se criam a partir de necessidades sociais e se desenvolvem na medida de sua utilidade social, vindo a institucionalizar práticas profissionais reconhecidas socialmente. Como qualquer profissão inscrita na divisão social e técnica do trabalho, a de Serviço Social, para reproduzir-se, também depende da sua utilidade social, isto é, de que seja capaz de responder às necessidades sociais que são a fonte de sua demanda (Iamamoto). Nestes termos, a problematização das demandas é uma condição para apreender as mediações que vinculam as “reais necessidades” do processo de reestruturação produtiva com as exigências do mercado de trabalho profissional. Ao mesmo tempo, constitui-se no passo inicial para a construção dos objetos e objetivos estratégicos da profissão. Como disserta Netto, “os profissionais que defendem uma direção social estratégicas para o Serviço Social não podem conectá-la à análise das tendências societárias macroscópicas e aos objetivos e valores do projeto social que privilegiam” (Netto). Compondo o cenário das novas necessidades do processo de acumulação capitalista, emerge no horizonte do trabalho uma fragmentação objetiva do trabalhador coletivo, expressa na constituição de dois grandes grupos de trabalhadores: os empregados estáveis do grande capital e os trabalhadores excluídos do emprego formal, estes últimos, sujeitos ao trabalho desprotegido. Verifica-se que enquanto a grande indústria fordista necessitava do keynesianismo, a indústria de produção flexível necessita da liberdade do mercado e da abolição de parte dos controles do Estado sobre as condições de uso da força de trabalho. Esta nova concepção, que já se materializa pela supressão de alguns mecanismos de proteção social, é corroborada pela ofensiva de mudança na legislação do trabalho. De fato, o discurso da humanização do trabalho e do direito do cidadão, que permeou a cultura política nos anos 80, vem sendo substituído por novas palavras chave: o compromisso do trabalhador com o cliente/consumidor, a qualidade total dos produtos e a produtividade e competitividade das empresas. Trata-se de uma cultura que indiferencia os interesses dos trabalhadores e dos capitalistas e Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br inflexiona os comportamentos políticos dos primeiros. Assim, o momento atual é o da passivização da ordem: a expansão do capital requer e exibe a recusa à plena cidadania, ainda que formal. Trata-se da quebra dos direitos sociais como base da acumulação e da velha/nova cidadania burguesa. O “novo” como Matriz de reconstrução e permanência do “velho”. Segundo Costa, a expansão dos serviços sociais voltados para o atendimento das necessidades de reprodução do trabalhador e da sua família – na atual fase de desenvolvimento do capitalismo - expressa a complexa e contraditória tensão entre a sua existência como um serviço que um valor de uso social e coletivo e a possibilidade de serem transformados em um serviço cuja utilidade social passa a depender da geração de lucros, isto é da sua mercantilização. 2. A Saúde do Trabalhador Segundo Freire, em sua pesquisa a dimensão política do processo saúde/doença/ trabalho está articulada à dimensão econômica. Esta dimensão também é de grande importância para o país, neste momento de transição, com significativo potencial de conflitos, conforme ocorre atualmente com as questões sociais básicas – trabalho, terra, alimentação – diante do espaço conquistado pelo movimento organizado de trabalhadores. Para a autora experiências acumuladas desde 1973, sobre o Serviço Social no mundo do trabalho têm reforçado a percepção sobre a saúde do trabalhador como expressão socioeconômica e política concreta, privilegiada, das relações de trabalho, cujas evidências gritantes facilitam o desenvolvimento da realidade oculta, por trás do discurso dominante, predominantemente mistificador, possibilitando, ao mesmo tempo, a constituição de sujeitos políticos. Esses dois eixos temáticos – Serviço Social e saúde do trabalhador – possuem alguns traços comuns. Entre esses, destaca-se o da sua amplitude e penetração em todas as esferas das necessidades humanas: material, biopsíquica, psicossocial, sociopolítica, educacional, cultural. No trabalho a saúde do trabalhador corresponde às demandas empresariais e Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br sindicais. No ano de 1960 ocorreu no Brasil a incorporação das ciências sociais pela medicina, criando o Movimento Brasileiro da Reforma Sanitária, integrando-se aos movimentos sociais dos anos 1970 e 1980, resultando na concepção de Saúde Coletiva. O conceito de saúde do trabalhador é, assim, concebido como um processo dialético saúde/doença, mediado pelos diversos aspectos da organização, divisão, processo e relações sociais no trabalho. O desgaste é entendido como perda da capacidade potencial e/ou efetiva corporal e psíquica. Não se referindo a algum processo particular isolado, e sim, processos biopsíquicos. Na totalidade complexa de que fazem esses elementos, há um vinculo da noção de desgaste com as de cargas e risco, conforme Jussara Brito (1991). Esta autora ressalta que a carga de trabalho, não deve ter a conotação necessariamente de peso e dificuldade, mas como demandas do processo de trabalho; com este significado, a noção de carga é articulada à de desgaste, referindo-se ao movimento dinâmico dos elementos do processo trabalho. A noção de carga desses autores inclui, de um lado, as do tipo físico, químicos, biológicos e mecânicos, e de outro, as dos tipos fisiológicos e psíquicos. Ela é construída e reproduzida no próprio processo de trabalho, expressando-se em fatos como desigualdade, autoritarismo, privação de poder de enfrentamento direto, coerção, chantagem e outras decorrentes da posição social na divisão, processo e organização do trabalho, incluindo-sea questão de gênero, idade e etnia. Laurell e Noriega propõem a superação do monocausalismo de fatores externos, apontando a correlação entre os vários tipos de cagas, que se potencializam “como produto de uma combinação de cargas determinadas pela lógica global do processo de trabalho”. Os autores consideram este processo não ativo como a ”Impossibilidade de desenvolver uma potencialidade psíquica ou biológica”. Este desgaste é caracterizado principalmente no impedimento da realização do enfrentamento das injunções, pelo trabalhador, fragilizando-o individual e coletivamente e, ao mesmo tempo, desenvolvendo comportamentos do tipo “humor anti-institucional”. Portanto o conceito de saúde do trabalhador expressa as relações sociais de produção e de reprodução da força de trabalho de uma determinada sociedade, resultando nas múltiplas determinações e mediações desta totalidade. Tal conceito supera as visões e práticas anteriores dos modelos de Medicina do Trabalho e de Saúde ocupacional. Sendo o primeiro de origem reprodutiva e mercantilista do Ministério do Trabalho (1930), sendo limitado ao controle e prevenção restrita da doença. Já o segundo é baseado na concepção elaborada pelo Comitê Misto da Organização Internacional do Trabalho - Organização Mundial Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br de Saúde. Com o movimento pelas principais conquistas sociais dos anos 1970 e 1980, culminando com a Constituição Federal de 1988, no Estado do Rio de Janeiro, os Programas de Saúde do Trabalhador (PST) implantados nas Secretarias Estatuais (SES) e Municipais de Saúde (SMS), tendo como destaque o PST/SES-RJ. Entre os dados obtidos, destaca-se, em primeiro lugar, o fato de que a abertura da economia sem restrições ao capital globalizado. Desse modo, a partir de 1990, as empresas investigadas obtiveram grandes lucros e realizaram enormes investimentos em tecnologia e na sua expansão monopolista, com exceção da estatal, que sofreu um processo inverso, através da privatização de suas subsidiarias, porém, em 1996, ela alcançou a primeira posição entre as maiores e melhores empresas no Brasil, referente a sua produtividade no ano de 1995, conforme o quadro a seguir: Empresas - Posição Total de Ativos Vendas Líquidas Patrimônio Líquido Lucro Líquido Estatal - 1ª 296.655.593 139.448.730 196.997.870 570.349 Privatizada - 4ª 706.112.900 197.876.500 546.041.100 121.085 Privada - 16ª 781.352 442.810 453.290 33.095 Fonte: Jornal do Comércio, 12/12/1996. Dados de 1995, em R$ 1.000 Entre as estratégias para garantir tal desenvolvimento, destaca-se: as tecnologias de produção e de informatização (redutoras de força de trabalho); nova organização (reengenharia), combinando fusões de setores em grandes áreas de negócios. O processo expressa a passagem do regime hegemônico de trabalho para o regime hegemônico/despótico, tendo em vista que os principais fatores motivacional são as ameaças da perda do emprego e da insolvência da empresa diante do mercado recessivo e da competitividade globalizada. O poder destrutivo da reestruturação produtiva é manifestado numa série de perdas para o trabalhador, evidenciando-se, em primeiro lugar, na expulsão massificada do emprego. Tais perdas apresentam diferenciação segundo a natureza jurídica das empresas, confirmando a maior preservação da preocupação social na estatal. A primeira evidência dessa diferença é constatada no quantitativo das demissões, que acompanham os processos de reestruturação. Na estatal, elas são cerca da metade das outras duas, que demitem aproximadamente 50% de trabalhadores em sete anos, sendo excluídos dessas empresas um total de 32.096 trabalhadores, conforme o quadro a seguir: Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br Quadro Comparativo de Pessoal, com Desligamentos, em Função da Reestruturação Produtiva, de 1989 a 1996 Estatal Privatizada Privada Total de Trabalhadore s Desligamento s Cumulativos Total de Trabalhadore s Desligamento s Cumulativos Total de Trabalhadore s Desligamento s Cumulativos 198 9 60.028 (100%) 0 (0%) 22.134 (100%) 0 (0%) 11.188(100%) 0 (0%) 199 0 55.569 (92,5%) 4.459 (7,5%) 18.222 (82%) 3.912 (18%) 9.582 (86%) 1.606 (14%) 199 1 53.857 (90%) 6.171 (10%) 16.125 (73%) 6.009 (27%) 8.478 (76%) 2.710 (24%) 199 2 51.638 (86%) 8.390 (14%) 15.147 (68%) 6.987 (32%) 7.051 (63%) 4.137 (37%) 199 3 51.228 (85%) 8.800 (15%) 15.082 (68%) 7.052 (32%) 6.703 (60%) 4.485 (40%) 199 4 50.295 (84%) 9.733 (16%) 14.773 (67%) 7.361 (33%) 6.667 (60%) 4.521 (40%) 199 5 46.226 (77%) 13.802 (23%) 13.707 (62%) 8.427 (38%) 6.068 (54%) 5.120 (46%) 199 6 43.468 (72%) 16.560 (28%) 11.717 (53%) 10.417 (47%) 6.069 (54%) 5.119 (46%) As diferenças também são qualitativas, constatadas nos critérios das demissões e nos procedimentos de aproveitamento através de transferências e recapacitação, predominando o caráter social na estatal. Esse quadro se insere no desastre social do receituário neoliberal em todo o mundo. Segundo os dados de 1999 do Banco Mundial, de 1987 a 1998, em “apenas 11 anos mais de 100 milhões foram lançados à condição de pobreza absoluta e 95% desse contingente concentra-se nos países em desenvolvimento e mais pobres”. No processo de trabalho, de um lado, há uma potencialização da força de trabalho em relação à posição secundária diante da máquina-ferramenta da Revolução Industrial, aproximando especialistas e gerentes do operário e deste em relação ao processo como um todo, na sua área de trabalho. De outro lado, há uma fragmentação do operário enquanto classe, pela divisão em posições centrais e periféricas, estas últimas posições ampliam a força de trabalho descartável, flutuante e subcontratada, através das terceirizações e similares, provocando a expansão dos baixos salários e a superexploração. Tal tendência é verificada nas empresas pesquisadas, principalmente nas condições dos trabalhadores dos serviços terceirizados, que se multiplicam, convivendo com os primeiros. Ele também se aproxima da ideologia nazista, quando divide os trabalhadores em superiores e inferiores, em função da meritocracia atrelada às metas do capital e comportamentos a ele alinhados. Os primeiros identificados como centrais e estratégicos – são relativamente valorizados, recebendo incentivos em qualificação permanente e prêmio financeiro individual ou por equipe, enquanto cumprirem com as metas. Os segundos – identificados como periféricos – tendem a ser excluídos do mercado formal de trabalho e subcontratados, muitos em rodízios permanentes, com precarização das condições salariais, de trabalho e de direitos, Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br que os condena a interiorização permanente. Os trabalhadores assumem novas responsabilidades e uma grande carga de sofrimento psíquico. Esse processo resulta na ampliação do desgaste físico e mental do trabalhador, crescendo o exército de mutilação e de mortos prematuramente. Os resultados negativos também se verificam na precariedade das condições de vida da classe que vive do seu trabalho, na progressiva redução de direitos previdenciários, de recursos e de investimentos e apoio às políticas públicas de saúde ao trabalhador, nas condições de trabalho dos profissionais e serviços voltados para o atendimento desses problemas. Ao mesmo tempo, os trabalhadores sofrem o que identifico como mutilação social, não somente em relação aos direitos sociais conquistados, mas também através do processo que denomino atrofia sociopolítica. A política e programas sociais também são impactados, assim como as concepções e práticas dos profissionais neles atuantes, entre os quais o assistentesocial, que também passam a autocensurar-se e a restringir as direções mais avançadas dos seus trabalhos. De acordo com o ensaio “O Serviço Social e a Saúde do trabalhador diante da reestruturação produtiva nas empresas”, aponta os maiores agravos, assim distribuídos: nas doenças diretamente relacionadas com as novas tecnologias, como a LER (lesão por esforço repetitivo); nas doenças psíquicas e outras provocadas por estresse; na ampliação das doenças graves e degenerativas preexistentes aos novos processos, que exigem maiores investimentos, como no caso da leucopenia provocada pelo benzenismo na ex-estatal privatizada. No processo de gestão nas empresas, ocorre a incorporação de algumas antigas demandas do trabalhador, como a participação na discussão das suas necessidades e dos processos de trabalho. De outro modo, porém, ela se dá de modo fetichizado e despolitizado, sendo transmutada em mecanismo de participação gerencialista, voltada para os interesses da produção e a consensualidade, conforme Salermo (1987). Nos grupos de trabalhos, o aparente “autocontrole” do trabalhador é dirigido, através de tarefas coletivas, segundo as metas de produtividade, permanentemente ampliadas conforme os interesses da empresa. As novas determinações do espaço de trabalho produzem um movimento dialético, contraditório e conflitante, de controle – consentimento – resistência dos trabalhadores, sem caracterizar uma polaridade uniforme controle – resistência. O seu complemento mais corrosivo consiste no nexo muito próximo deste determinante com o autoestreitamento da relativa autonomia do profissional na direção social do seu trabalho; por outro lado, a resistência do movimento sindical, representa, não coincidentemente as três principais tendências presentes no atual momento histórico brasileiro: Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br 1) Na empresa estatal, o sindicato filiado à CUT, apesar de ter sofrido uma das maiores sanções impostas a uma greve, continua buscando outras estratégias e campos de lutas, nos seguintes espaços: internas organizações nos locais de trabalho (OLT), comissão interna de prevenção de acidentes (CIPA); este espaço é agora disputado com a empresa, que passa a usar essa Comissão como “braço da Gerência de Segurança; os espaços externos, públicos e privados, tais como os fóruns de Saúde do Trabalhador, entre os quais se destaca o Conselho Estadual de Saúde do Trabalhador do Rio de Janeiro (Consert-RJ) e o movimento da sociedade organizada. 2) Na ex-estatal privatizada, o forte movimento sindical anterior foi esfacelado, caracterizando a primeira grande quebra da espinha dorsal da organização sindical no Brasil, ainda no processo preparatório à privatização, sendo substituída pela direção sindical que filiou o sindicato local à Força Sindical. Este ocupou lugar do grupo anterior, legitimando os processos de privatização e reestruturação e adotando a falsa parceria nas relações capital/trabalho. 3) Ainda nas empresas privatizadas, é constatada mudança relativa em um dos sindicatos de uma das categorias de trabalhadores, que assumira uma posição de terceira via, sem afiliação a qualquer central sindical, numa suposta independência. Neste movimento, é confirmado o papel das crises objetivas sobre as estruturas subjetivas construídas. Todos esses mecanismos e contradições da reestruturação produtiva, ao mesmo tempo, evidenciam que a globalização do capital não prescinde do trabalho, que passa a receber maior atenção, paralelamente às formas sofisticadas de seu gerenciamento, controle e fragilização. Tal processo é desenvolvido, sobretudo no Conselho e Comissão de Saúde do Trabalhador no Rio de Janeiro, que evidenciam a superação de práticas tradicionais e despolitizadas e o potencial de repolitização. As evidências encontram-se nas estratégias de efetivação dos direitos sociais conquistados, assim como na discussão e enfrentamento dos novos fetiches: competitividade, flexibilização, qualidade total, terceirização. Segundo Freire, sua pesquisa evidencia que a reestruturação produtiva tem provocado algumas inflexões nas demandas em relação à atuação dos profissionais de recursos humanos e de saúde no campo do trabalho, entre eles os assistentes sociais, caracterizando um risco de retrocesso. Igualmente, algumas alterações são provocadas nos processos e diretrizes do trabalho desses profissionais, sobretudo nas empresas, que aderem ao novo funcionalismo, retrocedendo de um estágio anterior mais crítico. Contudo, alguns dos mais qualificados também melhor selecionados, remunerados e valorizados, contribuem na constituição dos novos sujeitos políticos da classe trabalhadora, assessorando-o no entendimento da nova realidade e nas formas de resistência e lutas pelo atendimento de suas necessidades. Assim de um lado, o atual momento revela a desestruturação social causada pela reestruturação produtiva no Brasil, no desemprego e na precarização das condições da força de trabalho, nos direitos sociais, na saúde dos trabalhadores e em sua Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br capacidade de luta. De outro lado porém, os novos desafios desencadeiam novos projetos, reincorporando e rearticulando as questões, teórica e politicamente, na direção da proteção ambiental exterior ao local de trabalho e a ecologia humana, em caminho oposta à fragmentação atual do movimento político do trabalhador. O novo direcionamento tem se caracterizado na aliança do movimento sindical com os movimentos sociais, igrejas, universidades, partidos políticos e Organizações Não Governamentais (Ongs). No âmbito continental, são ressaltadas as organizações internacionais, com destacada participação da CUT, abrindo “uma nova perspectiva de avanço na globalização da defesa dos direitos dos trabalhadores”. Evidentemente, há polêmicas internas sobre questões objetivas, sobretudo em relação aos espaços contraditórios, no seu significado como capitulação ou resistência diante do capitalismo. Porém, é importante constatar que as realizações e propostas apresentadas demonstram o avanço da construção do novo direcionamento da CUT, como dos mais importantes sujeitos políticos coletivos, para estender a presença dessas forças no mundo globalizado, que possibilite a luta diante da política hegemônica atual. 3. Trajetória do Serviço Social em Grandes Empresas A partir dos anos 60, o investimento em programas referentes à reprodução material e social da força de trabalho nas empresas, ampliou-se significativamente, repercutindo no mercado de trabalho do Serviço Social, que atingiu sua maior expansão em 1989-1990. Ele se verifica desde a implantação das grandes indústrias no país, diretamente ou através de serviços vinculados ao patronato, determinando programas de caráter assistencial e comportamental. Segundo Freire, em sua pesquisa, os dados captados através de entrevistas, Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br reuniões e documentos das instituições, tendo sido também utilizada fonte documental do Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais (CBCISS). A exposição inicia-se com os processos de trabalho que marcam a evolução dos Serviços Sociais nas empresas e sua trajetória, junto com a de seus profissionais, e respectivas posições, objetivas e subjetivas. Esse conjunto articula-se com as demandas dos diferentes momentos históricos a político, econômico e cultural brasileira, expressos, sobretudo nas conjunturas societárias e institucionais e nos marcos acadêmicos que penetram transversalmente o Serviço Social nessas instituições. Todavia, não é estabelecida uma periodização quanto a determinadaestratégia e dimensão da ação profissional, sendo bastante singularizadas as situações. Sobretudo com referência às abordagens marcantes de Serviço Social – individual, grupal, institucional, comunitária e societária – que se desenvolveram nos diversos momentos, não significa que elas tenham uma relação mecânica com a evolução da profissão, não sendo considerado aqui, por exemplo, o atendimento individual como impróprio à concentração da ruptura. Preliminarmente, é necessário elucidar algumas referências sobre os processos de trabalho que tem sido utilizado pelo Serviço Social nas empresas. Iamamoto (1998) contribui para elucidar essa questão segundo os estudos clássicos da tradição marxista, ressaltando a indissociabilidade entre trabalho concreto – produzindo valores de uso, nos quais se acentuam os aspectos qualitativos – e o seu valor de troca, medido pelo tempo, inserindo na “sociedade da mercantilização” universal, segundo Marx, como unidade contraditória. A objetividade do Serviço Social, de natureza social e não diretamente material em relação a objetos materiais necessários à sobrevivência dos setores majoritários da população como a criação de consensos, base para a construção de uma “hegemonia na vida social” (Iamamoto, 1998:68). Esses consensos, situados em espaços contraditórios, tanto podem servir ás metas do capital como aos interesses da coletividade, através da construção de uma “contra hegemonia no cenário da vida social”. Nas empresas, o assistente social, embora não participando diretamente da produção de valor e mais-valia, como parte do trabalhador coletivo, “cria as condições necessárias para fazer crescer o capital investido”. Já no âmbito dos serviços públicos e nas Organizações Não Governamentais, os serviços produzidos são submetidos à razão sociopolítica, passando pela distribuição de parte da mais-valia social. A centralidade dos meios de trabalho e suas condições, que vão adquirindo complexidade crescente, assim como a importância do como fazer, sendo os meios de trabalho não só mediadores do grau de desenvolvimento da força de trabalho humana, mais também indicadores das condições, embora não se encontrem Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br diretamente nos meios materiais de trabalho, são imprescindíveis para sua realização eficiente. Esta e uma das características relacionadas ao objetivo do trabalho social. Outra característica é a do trabalhador coletivo, implicando a transformação do trabalhador, que não se reconhece no produto resultante do trabalho coletivo, transformando-se em um “órgão do trabalhador coletivo, executando qualquer uma de suas subfunções” (Marx 1984). Segundo esse raciocínio, o Serviço Social, como o demais atividades-meio que produzem melhores condições para o consumo da força de trabalho no processo produtivo-fim, situar-se-ia como subfunção paralela a este processo. O assistente social é chamado a desempenhar sua profissão em um processo de trabalho coletivo, organizado dentro de condições sociais dadas, cujo produto, em suas dimensões materiais e sociais, é fruto do trabalho combinado ou cooperativo, que se forja com o contributo especifico das diversas especializações do trabalho (Iamamoto, 1998). Embora esse não seja o caso do Serviço Social e demais atividades de saúde em uma empresa, caracterizadas como meio (indireto), contudo, o seu profissional ali também se extenua ao contribuir para o enriquecimento do empresário, enquanto produz condições para a realização eficiente do trabalho. Ao mesmo tempo, essas atividades têm cada vez mais se estruturado em empresas capitalistas que vendem serviços na forma de exemplo de Marx – meio direto de valorização do capital – ou sob outras formas (que incluem o serviço social). Almeida (1995:21) destaca os três elementos da reflexão bravermaniana relativa ao processo de trabalho no setor de serviços: o da sua ampliação, consequente à expansão do valor excedente do capital, dentre os quais os serviços sociais (á qual acrescento sua correspondência a uma forma compensatória à expansão da expropriação, ao mesmo tempo vantajosa como instrumento ideológico do capital); a sua incorporação à esfera de controle do capital, reduzindo os fatores fora do seu alcance; a aproximação da estruturação do trabalho improdutivo daquela do trabalho produtivo. Entre as múltiplas determinações relacionadas às mudanças, inseridas nas diversas dimensões da realidade, que integram os processos de mediação, pode se apresentar: a posição econômica e social das instituições; o Estado brasileiro e suas diretrizes econômicas e sociopolíticas hegemônicas; os movimentos sindical e da sociedade civil; as conquistas e retrocessos legais; as concepções de gestão da força de trabalho e as concepções e diretrizes da formação profissional, todas elas mutantes e informadas por perspectivas teórico-metodológicas e ideológicas; a organização sociopolítica dos assistentes sociais e seu principal produto, o projeto eticopolítico, traduzido no Código de Ética, historicamente construído. A demanda central comum, mantida em todos os períodos, confirma a finalidade do trabalho desse profissional, historicamente constituída, que tem sido a reprodução física e espiritual (psicológica, social, cultural e política) do trabalhador, através da assistência material e da orientação de um modo de ser, sentir, pensar e agir, Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br em relação ao trabalhado, à sociedade e à vida. Por outro lado, a realidade de necessidade humana não atendida impõe alguns impasses para o capital, decorrente de suas contradições. Um deles é a revolta biopsíquica do próprio corpo, autodestrutiva para a saúde, porém determinando os índices de improdutividade que ele quer reduzir. O outro está relacionado ao fato de ser o trabalho coletivo o único capaz de produzir riqueza. Os objetivos específicos, a partir da finalidade, são relacionados principalmente ao interesse do empresário, enquanto aliviam as situações de desgastes do trabalhador, que também contribui para construir esses objetivos, caracterizando o espaço contraditório, que tende a favorecer predominantemente a empresa. Alguns dos objetivos são passíveis de resultados concretamente aferidos, em função da sua justificativa utilitária visível (como valor de uso), que tem sido: reduzir o absenteísmo e o tempo de afastamento por licença de saúde, minimizar problemas familiares com interferência nas relações funcionais e na produtividade, como também problemas sociais determinantes das doenças mentais e emocionais autodestrutivas e prejudiciais ao desempenho, mudar o comportamento para os mais favoráveis a condições de trabalhador produtivo, adaptado às condições e organizações do trabalho. As necessidades ultrapassam aqueles materiais (econômicas e biológicas), compreendendo também as dimensões psicológicas relacionais, de desenvolvimento do saber técnico e também político sobre as relações sociais internas e externais, de crescimento funcional e sociopolítico. Muito embora seja restrito o espaço para desenvolvimento de todas essas condições, há, de um lado, a oportunidade do exercício reflexivo sobre agir politicamente dentro de limites, ao mesmo tempo descobrindo meios e estratégias coletivas fora da empresa. Na constituição e ocupação desses espaços e desenvolvimento dos processos de trabalho, há uma interação entre seus elementos determinantes – societários, institucionais, dos usuários e profissional. O trabalho é exercido com relativa autonomia, em face desses elementos e decorrente em parte do saber teórico, técnico e político do assistente social e de sua maturidade nessas três instâncias, associada às experiências acumuladas. As particularidades dasempresas na ocupação, desocupação e novas formas de ocupação desses espaços pelos assistentes sociais e outros profissionais elucidam, ainda, a história da cultura institucional e desses profissionais que participam de sua construção, sendo, ao mesmo tempo, nela construídos. Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br 4. Origem e Condições de Trabalho do Serviço Social nas Empresas e Instituições a Assistência e a Orientação Individual e Suas Mutações O Serviço Social ligado ao campo do trabalho no Brasil é concomitante a consolidação do processo de industrialização, no final do “Estado Novo”, com a implantação das primeiras grandes indústrias estatais. Segundo o quadro apresentado por Raul de Carvalho, tendo como fonte o documento do Instituto Social de 1947, são originários dessa década os Serviços Sociais; Seguro Social (SS), em 1944, e Instituição Patronal (IP), em 1947, que apresenta serviços de saúde ao trabalhador. A primeira desempenha um papel significativo quanto à efetivação dos direitos dos trabalhadores vítimas das agressões do trabalho a sua saúde. A segunda desenvolve um papel complementar ao do Estado, atendendo atualmente muitos dos trabalhadores excluídos da Previdência oficial: de pequenas empresas, prestadoras de serviço e produtoras de equipamentos e peças as grandes empresas, de forma terceirizada. O período de implantação do serviço social nas duas então estatais coaduna-se com os estudos de Mota (1985), que aponta a consolidação desse campo de trabalho profissional no Brasil próximo ao inicio dos anos 50. Esta época é marcada pelo grande impulso industrial brasileiro, em que a metalúrgica e a petroquímica (ramos das empresas pesquisadas) eram consideradas de maior importância econômica e estratégica, com lutas desde o inicio dos anos 30. Segundo Mota as inclusões do Serviço Social na empresa, devido às conjunturas especificas, é notória a partir de 1960, embora apresentadas experiências esparsas, no sul e no Nordeste do Brasil, a partir dos anos 40. É de 1941, segundo Carvalho (in: Iamamoto e Carvalho, 1982) o relato da primeira experiência em Serviço Social de empresas”, em 1960, quando se instala o Serviço Social nas empresas como um campo especifico, surge o Gessot, inicialmente no Rio de Janeiro e implantado em São Paulo a partir dos contatos da assistente social Thelma Matinho, em outubro de 1969, por designação do Departamento Nacional de Segurança e Higiene do Trabalho, do Ministério do Trabalho. Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br No caso da empresa privada, a implantação tardia do Serviço Social coincide com o momento da concepção da assistência nas empresas como salário indireto, como fator diferencial de atração e fixação da força de trabalho, num mercado ainda em expansão, com vantagens acrescidas pelos incentivos fiscais do Estado. Portanto, é confirmada a relação entre a questão social, com a entrada em cena desses movimentos, e a necessidade da reprodução física e espiritual da força de trabalho. Na primeira empresa pesquisada, onde o serviço social foi implantado, hoje privatizado, tal necessidade prolonga-se na cidade, que constituiu e cresceu em função da companhia e em torno dela, onde residiam os trabalhadores, que frequentavam suas escolas, hospitais e clubes. Hoje é comum encontrar até três gerações de uma mesma família, assim como o casal, com vinculo de trabalho com esta empresa. Há um provável nexo entre esta valorização e a cultura assistencial do Estado, compensatória dos agravos sociais, juntamente com o maior distanciamento da lógica da mais-valia, apresentando maior liberdade na distribuição da riqueza produzida e espaço para os que produzem. No maior espaço social relativo da que se mantém estatal, são selecionados, por concurso publico, os profissionais melhor qualificados e remunerados, que podem utilizar essa cultura a favor do trabalhador. Nessas empresas é constatado o aumento do quantitativo de trabalhadores até 1989, quando se instala efetivamente a reestruturação neoliberal, com Collor de Melo. Número de Assistentes Sociais (AS) e Relação com o Número de Trabalhadores por Empresas Estatal Privatizada Privada Total de Trabalhadores Nº de AS (Relação) Total de Trabalhadores Nº de AS (Relação) Total de Trabalhadores Nº de AS (Relação) 1989 - 1990 60.028 Não Informado 22.134 14 (1/1.581) 11.188 10 (1/1.119) 1992 51.638 Não Informado 15.147 10 (1/1.515) 7.051 10 (1/705) 1994 50.295 Não Informado 14.773 10 (1/1.477) 6.667 7 (1/952) 1996 43.000 70 (1/614) 12.018 7 (1/1.717) 6.069 3 (1/2.023) Fontes: Órgãos de Recursos Humanos Ao considerar a relação do quantitativo de assistentes sociais com os trabalhadores, verifica-se que o ápice desses profissionais coincide com o do total de trabalhadores no final de 1989 e 1990, a partir do qual foram iniciadas as reestruturações e reduções. Verifica-se também que os assistentes sociais ainda permaneceram algum tempo após a primeira redução, sendo que, na estatal, houve um concurso com admissão de 9 profissionais, em 1994; o outro período de admissão não só dos assistentes Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br sociais, porém de quase todos os demais profissionais entrevistados nessa empresa, da área de recursos humanos. Outro traço comum entre as empresas consiste no início da atividade de Serviço Social na área industrial, vindo a implantar nas administrações centrais somente após, algum tempo (na estatal em 1958, e na empresa privada em 1988). Na ex-estatal privatizada, houve condições especiais, pela proximidade das áreas em um mesmo local, além da demanda da comunidade fabril instalada ao seu redor. A diferença entre as empresas é mantida no desenvolvimento das políticas sociais, assim como entre estas e as instituições que prestam serviço de saúde ao trabalhador, sobretudo nas públicas mais avançadas, inseridas nos pontos comuns que caracterizam a profissão. A seguir será apresentado o diferente estágio, quanto ao espaço e forma de assistência, denominados benefícios, e orientação individual, como atividades associadas ao trabalho do assistente social: O estágio da falsa concepção de benesse compensatória das carências, originalmente concebidas como política pública-incorporadas, ampliados na empresa como liberdade e gerenciando por elas, progressivamente. Por trás deste discurso da ajuda, os benefícios têm sido usados principalmente em favor da empresa, tanto pedagógicas como financeiramente, através de compensações fiscais ou inclusão das suas despesas nos custos operacionais. Este período inicial também se relaciona com o primeiro estágio assistencial de tendência paternalista do Serviço Social, associado ao paternalismo empresarial. Ele é determinado pelas diretrizes mistificadas, características da origem conservadora e religiosa da profissão, favorecedora do obscurecimento das relações concretas de exploração no trabalho. A despeito das diversas metamorfoses sofridas, estas demandas e respostas são mantidas, sendo predominante e quase exclusivas nas empresas e instituições onde o espaço do Serviço Social é mais limitado e sua atuação mais conservadora. Na estatal, como nas demais empresas e instituições tradicionais, o trabalho se expressa, inicialmente, na assistência individual ao trabalho e com suas famílias. Contudo em função da relativa autonomia e qualidade do profissional que participou do período de implantação da atividade na sede da companhia, desde o inicio e progressivamente, ocorre uma racionalização referente a este trabalho, buscando ele suprir algumas lacunas coletivas identificadas com relação a própria organizaçãoempresarial, entre elas a comunicação de direitos. Também é perceptível a falta de interação entre os assistentes sociais da sede e os lotados nas áreas operacionais, que realizam outras formas de atendimento, como se cada um improvisasse um tipo de prática, sem qualquer preocupação de análise coletiva sobre as demandas e suas sistematizações. Segundo este profissional, a Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br falta de informação em relação aos processos de afastamento pelo INSS costuma provocar perda de prazos e direitos, chegando algumas vezes até a demissão da empresa por justa causa. Na ex-estatal privatizada, o momento inicial se apresentou de modo diferente, de uma empresa que surge como estatal de grande porte, concentrada em um único local afastado do centro urbano, onde se instala praticamente uma cidade, que vai crescendo em função dela; assim, nesta empresa, marco da política industrial estatal, buscou-se a construção de um tipo de trabalhador no padrão mistificado da família metalúrgica, isto foi feito através da mobilização de benefícios que supriam todas as necessidades, ao lado do disciplinamento do trabalhador, de origem rural, que sofreu um processo civilizatório. Esse assistente social relatou uma particularidade importante, na estatal, no período da ditadura militar – com seus representantes na presidência da empresa – de 1974 a 1984. Ela consistia na posição empresarial de cerceamento às posições do serviço social, que pode indicar uma posição relativamente independente de seus profissionais e, ainda, uma percepção do poder potencial de quem administra a ajuda e mantém um colóquio protegido como o trabalhador. Conforme resumo Histórico do Serviço Social dessa empresa a “superintendência englobava o Departamento Social que tinha a Divisão de Casos” (1987). Somente esta divisão compreendia o Serviço Social, cujo principal objetivo era o atendimento que seu titulo indicava. Essas ampliações correspondem ao primeiro plano de expansão da empresa, em quantitativo de pessoal e tecnologia, construindo os futuros trabalhadores. Em 1959 foram extintos os setores médicos e escolares. E junto com esta informação outros detalhes revelaram outros processos: 1) termo adaptações ao trabalho, articulado às doenças e desajustes, permitindo captar a linha tradicional de reforço a submissão do trabalhador. 2) rodízio dos assistentes sociais, reforçado por uma delegação de trabalho de atendimento de casos a irmãs de ordem religiosa, permite vislumbrar o pouco aprofundamento das questões e a pouca distinção entre trabalho profissional e o voluntário religioso. Na empresa privada, apesar de o Serviço Social ter sido implantado apenas em 1985, ele também surge impregnado do caráter assistencialista e clientelista conservador, sobretudo na Administração central. O trabalho passa pelas diversas concepções quase ao mesmo tempo. O Serviço Social aí também tem se conservado como atividade operacional subalternizada como os trabalhadores a quem atende, incorporada a cultura paternalista. O trabalho dos assistentes sociais era assistemático, semelhante ao da fábrica. Foi destacado aí o papel de fiscal de condições dos recursos assistenciais, tal como a Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br verificação da limpeza de lençóis em hospitais, que adquiriria importância maior quando relacionado a pessoa recomendadas pelos dirigentes da empresa. Em seguida, no período desenvolvimentalista dos anos 1970, de maior expansão do emprego, sobretudo através da multiplicação das estatais, a assistência é utilizada como salário indireto, como diferencial compensatório, no contexto do denominado “milagre econômico”, com o objetivo de atrair, fixar e motivar a mão de obra, conforme mencionado entrevistado da estatal. O conjunto das atividades nas duas áreas correspondia ao atendimento convencional das demandas, diretas e indiretamente relacionadas à saúde: atendimento individual, com controle dos dados socioeconômicos por ocasião dos exames médicos preventivos, não utilizados para diagnósticos globais, estudos ou projetos. Todas essas atividades há muito relacionadas ao serviço social no campo do trabalho, tem condições de ser respondidas à luz dos parâmetros postos para a operacionalização da ruptura, na década de 1970 e 1980 (Freire, 1983). O interesse nas relações sociais, embora já trouxesse alguma influência da perspectiva da reconceituação, evidenciada na denominação transformação institucional, (apresenta como principal característica à abordagem sistemática de Lucena Dantas 9 1978). Assim, na denominada área de Relações Sociais, revela de modo totalmente funcionalista, a preocupação com o comportamento do trabalhador para com a organização e quanto às relações interpessoais harmônicas, buscando minimizar os sinais da desarmonia, considerados disfunções, descolados das relações sociais de produção. Neste período de modernização conservadora, na estatal, ocorre, nos anos 1970, a sistematização dos benefícios, administrada pelo Serviço Social a partir deste ano, segundo parâmetro predominantemente sociais, conforme o entrevistado, na linha modernizadora e na perspectiva de salário indireto assinalados. Nesta época, sob influência do citado Documento de Bertioga, houve um movimento no sentido de dividir a atuação do Serviço Social nesta empresa em duas áreas: Assistência e Relação Social. Não chegou a haver uma decisão sobre a divisão das áreas, exceto em São Paulo, ficando a organização a critério dos profissionais, uma vez que não havia uma orientação nacional. No Rio de Janeiro, a tendência era trabalhar com a problemática no seu sentido global, havendo divisão de responsabilidades por programas. Em relação à questão da saúde, a implantação do plano de assistência médica foi uma das mais importantes realizações (sob administração do Serviço Social, desse período até 1993). Ele é um produto de excelência do momento desenvolvimentista, inserido no denominado Estado de Bem-Estar Ocupacional. O primeiro – Serviço de Orientação Psicossocial – realizava atendimentos individuais Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br aos trabalhadores e seus familiares, com alguma inserção na questão do trabalho explicitada adiante. O segundo – Serviço de Orientação e Assessoria às Entidades – foi implantado para trabalhar, para que se tornassem independentes da empresa, podendo manter-se com os seus próprios recursos, no projeto denominado de despaternilização. O avanço consistia em relacionar os problemas singulares do trabalhador ao ambiente de trabalho e seus personagens, porém numa direção adaptativa e sem considerar o processo de produção capitalista. A preocupação com a saúde relacionada ao trabalho, no documento, é identificada com relativo avanço: orientação, análise e acompanhamento de Acidentes do Trabalho, participação em levantamento e pesquisas médico-sociais. Na empresa privada, a tendência modernizada, ainda remanescente no período em que o Serviço Social foi nela criado, convivia com a linha paternalista, sobretudo no trabalho da administração central. No ano de 1980, cresceu a ocupação dos espaços sociais pelo movimento sindical, relacionado ao aumento do emprego, passando os benefícios a inserir- se nos acordos coletivos de trabalho, no sentido da ultrapassagem da natureza de liberdade. Esta tendência contraditoriamente, fragilizou a luta pelos direitos e políticas sociais públicas, conforme os estudos de I. C. Cardoso (1996) e de Mota (1989), pois as conquistas dos trabalhadores passaram a reger-se pelas normas privadas, inscritas nos acordos, que são de caráter temporários e restritos à categoriaprofissional. Na ex-estatal privatizada, em 1982, é perceptível a maior racionalização e atenção à questão, através de uma nova diretoria, a qual o Departamento de Assistência Social passou a reportar-se, no lugar da Diretoria Administrativa, posteriormente denominada Diretoria de Serviço Social. Na empresa privada, esta tendência coincidiu com as pressões do movimento sindical, que determinaram, em parte, a própria criação do Serviço Social. Nos anos de 1990, acrescentou-se ao espaço assistencial uma nova dimensão, consequente a sua aproximação do caráter de remuneração, conjugada às tendências de recompensa por desempenho, segundo as diretrizes da reestruturação produtiva. Entre estas, sobressai a diretriz de todas as demandas deveriam ter uma relação mais direta com a produção e sua identificação e atendimento constar da competência gerencial. Esta inflexão ocorreu concomitantemente à fragilização do movimento sindical, à redução de quadros e à fusão de setores, não por acaso. Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br De fato, ela representou um retrocesso social e de políticas assistenciais, ao submeter o critério de necessidade social e de política distributiva ao critério meritocrático, em função do comportamento produtivo e colaboracionista do trabalhador com a empresa. Esta política amplia-se, contraditoriamente, a partir de sua conquista como direito, quando perde, nas empresas, a dimensão pública. De modo, a meritocracia também passou a revelar a valorização segundo a posição hierárquica do trabalhador no processo produtivo, alimentando e ampliando a desigualdade, quando os de maior remuneração direta recebem maiores valores em benefícios e melhor padrão de atendimento. Estes serviços representam uma competição com a previdência privada, já existente sob a forma de Medicina de Grupo, como empresas ou cooperativas, a exemplo da Unimed, inicialmente mais voltada para os grandes contingentes de trabalhadores das empresas de grande porte. O volume de serviços com credenciamento direto foi crescendo progressivamente, devido à qualidade e individualização dos atendimentos, realizados em consultórios particulares, na maioria, com a vantagem do controle direto dos custos e qualidade pelas empresas inclusive através dos trabalhadores usuários. Na estatal, a meritocracia não é tão nítida como na empresa privada, devido à tradição social mais incorporada e à atuação forte do movimento sindical, porém tende à mesma direção, diante da perspectiva do comando da aplicação de todos os programas nos homens de negócios/gerentes, sendo todas as áreas envolvidas nessa concepção. Tal realidade é nítida nas palavras de um dos assistentes sociais da unidade produtiva investigada, que incorporou no seu trabalho essa lógica, na qual a necessidade passa a ser secundaria, frente ao mérito como trabalhador. O espaço conquistado pelo assistente social nessa empresa ainda se mantém, manifestando-se nos seguintes sinais: 1) no deslocamento de um assistente social do serviço social da administração central (mantido temporariamente), para assumir a chefia dos benefícios nesse local; 2) na participação desses profissionais no planejamento e normalização de suas políticas, direções e critérios, no órgão central de recursos humanos; 3) no assessoramento aos gerentes das unidades de negócios nessa questão; 4) no atendimento às situações especiais, através de estudos dos casos. Como o caráter contraditório é mantido e até mais evidente, ele pode ser utilizado na análise das situações, segundo a capacidade teórica, técnica e política do assistente social nele envolvido. Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br Segundo Freire, ainda no sentido favorável, tal oportunidade possibilita o desenvolvimento de processos de cogestão, através da organização de comissões, por exemplo, partindo da demanda aos serviços e benefícios. Entretanto, esta possibilidade de interação dos serviços e benefícios com os programas abrangentes é pouco visível nos espaços tradicionais da assistência, sobretudo nas décadas de 70 e 80. Esta tendência carrega também mais uma forma de apropriação do saber coletivo do assistente social sobre esta atividade, tornando-os mais facilmente substituíveis e os utilizando segundo critérios individualizados. Neste processo, ao se fazerem presentes na elaboração do plano denominado Saúde/Bem-Estar Integral da Unidade Operacional, os assistentes sociais colocaram os seus produtos, integrados aos demais da área. Sinalizando-os inclusive no título do plano, de acordo com todos os critérios do Prêmio Nacional de Qualidade (PNQ), que regem, na empresa, o programa TQC (Total Quality Control/Controle de Qualidade Total). Eles recuperam, assim, o seu espaço, através da importância dos seus produtos – de características valorizadas nas diretrizes do TQC – e da competência técnica do supervisor da área que, com a equipe, soube vendê-los no mercado interno, nessa primeira instância do planejamento. A lacuna mais gritante nesse plano consiste na ausência de assistentes sociais na Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), mesmo nos levantamentos de riscos e nos programas de vigilância das condições de trabalho, por não ser prioritária a inclusão de assessoramento a CIPA. Esta descrição evidencia, de um lado, que a informatização reduziu a necessidade de pessoal administrativo e de Serviço Social, no que refere às tarefas burocráticas. De outro lado, porém, libertou o profissional para trabalhos mais nobres, organizou o atendimento por horário, evitando espera do usuário, garantiu o registro objetivo e organizou a memória (classificando dados em geral), assegurando uma base estruturada para análise e pesquisa. Na ex-estatal privatizada, a diferença maior localiza-se na redução da dimensão do próprio espaço profissional, visível principalmente a partir dos anos 1990, com ameaça iminente de extinção, na pesquisa (janeiro de 1997), superada posteriormente. Na empresa privada, no inicio de 1990, há uma expansão do serviço social em face da sua própria expansão e dos incentivos fiscais ampliados no governo Sarney, que estimularam a implantação de outros auxílios. Não possuindo o serviço social uma área própria nesta empresa, a ampliação provoca uma diversificação, inclusive na qualidade dos profissionais, assim como competição, com sua alocação em duas áreas: Benefícios e Saúde Ocupacional. Num momento posterior de reengenharia, em maio de 1995, a lotação dos assistentes sociais foi unificada na área de Saúde Ocupacional. Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br O grupo não chegou, porém a desenvolver-se, uma vez que uma segunda reestruturação, em outubro de 1995, provocou a demissão desses profissionais transferidos de área, que apresentavam uma dimensão de desempenho mais ampla. Assim, nessa empresa privada, mesmo com os vários incentivos fiscais, ampliados nos anos 90, com o aumento dos benefícios e do quadro de assistentes sociais, estes profissionais permaneceram numa posição subalternizada. Reforçado por três momentos mais favoráveis de expansão do Serviço Social, faltou segurança ao profissional que se relacionava mais de perto com o poder para defender o plano encaminhado. Esta hipótese envolve a mesma lógica que a apontada na estatal. Ela revela o confronto entre a política objetiva da instituição sobre o trabalho coletivo e a qualidade subjetiva do profissional vinculado ao poder, que foi escolhido em detrimento de outros, assim como o perfil do chefe que o escolheu, também selecionado por uma hierarquia. Há indícios, portanto, de que essas posições são determinadas pela imbricação de perfissubjetivos e sua seleção pela empresa, segundo políticas objetivas predefinidas. 5. O Serviço Social com Grupos nas Organizações O trabalho com grupos nas empresas surge como alternativa ao atendimento individual, em função do caráter comum de algumas problemáticas, assim como do desenvolvimento das terapias grupais multidisciplinares. O processo grupal também é mantido nas formas coletivas institucionais e societárias, como comissões, conselhos e similares. A distinção é posta em função dos objetos diferenciados, especialmente quanto ao caráter não representativo da coletividade maior, pelos grupos homogêneos. Surgem dois programas que se destacaram e disseminaram pela maioria das empresas de grande porte que são os de alcoolismo (AA) e os de preparo para a aposentadoria (PPA). Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br Eles estão diretamente vinculados ao interesse empresarial. O primeiro surge diante de uma verdadeira avalanche de casos que se sucedem, relacionados à conjuntura externa e interna da relação do trabalhador com o trabalho e a própria vida, juntamente com a disseminação das drogas, numa proporção crescente. O segundo programa relaciona-se à demanda do enfrentamento do problema do envelhecimento da força de trabalho associado à questão do desenvolvimento de novas tecnologias poupadoras de mão de obra. A interdisciplinaridade desses programas nas empresas, sobretudo do primeiro, em função de sua relação com a parte orgânica, influencia o tratamento asséptico dado, tendendo o problema a ser considerado exclusivamente como doença, num sentido que exclui ou dilui fortemente a sua relação com o processo de trabalho e mais ainda com a própria situação societária determinante de restrições das opções de realização humana no sentido dado por Bourdieu (1979), sobre violência simbólica, já explicado. Na estatal, o programa de Dependência Química apresentou bons resultados, mensuráveis na redução do absenteísmo em 30%, tendo sido realizadas duas jornadas de dependência química na empresa, entre 1986 e 1989, conforme pesquisa de Freire. Quanto a PPA, “é um instrumento de escuta sobre os sentimentos dos funcionários sobre a empresa” e, ao mesmo tempo, traz um retorno com relação à sua imagem, tanto externa como interna, para os trabalhadores que permanecem. Se os argumentos são procedentes quanto ao espaço terapêutico fora da empresa, é discutível o fato de o acompanhamento posterior ser feito individualmente, não sendo perceptível uma racionalidade para isso, exceto no sentido de evitar o potencial político da discussão coletiva. Na unidade produtiva da estatal, o trabalho com grupos continua a ser realizado, porém somente no que se refere à peculiaridade do ambiente de trabalho confinado da extração da matéria-prima. Um assistente social coordena este programa, aplicando técnicas de dinâmica de grupo, no sentido de discutir as necessidades especificas da relação família – trabalhador – processo especial de trabalho. Na ex-estatal privatizada, o espaço de trabalho com grupo surgiu, pioneiramente, em 1977, a partir da intensificação da atuação do Serviço Social voltado para as relações sociais no trabalho. O programa compreende levantamento periódico de necessidades (dos empregados e familiares) através de questionários aplicados por amostragem, sendo analisados trimestralmente os conteúdos obtidos. Em encontros quinzenais, são realizadas reflexões sobre esses conteúdos, seguindo-se visita aos locais de trabalho. Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br Em 1993, após a privatização e reestruturação, quando do afastamento dos assistentes sociais de determinadas fábricas, este trabalho foi suspenso. Sob outra feição, de certo modo, ele foi refeito, através das reuniões diárias realizadas pelos supervisores e suas equipes de trabalho, como parte das novas estratégias de gestão. Outro espaço de trabalho com grupos foi constituído a partir de 1984, no hospital das empresas. Ele assumiu aí as características terapêuticas e se diluiu, em função da clientela diversificada, constituída de trabalhadores, familiares e população da cidade. O seu objetivo era o de trabalhar “a problemática médico social”, atingindo os setores de Unidade de terapia intensiva, pediatria, nefrologia, sendo os grupos, na maioria, orientados multidisciplinarmente por um assistente social e um psicólogo. É visível o retrocesso no conteúdo do trabalho com esses grupos, voltados predominantemente, para questões de interesse da empresa e de um hospital geral sem contemplar as relações de trabalho. Um fato que merece sérias reflexões são o da não inclusão das situações de acidentes e doenças profissionais no trabalho em grupo. Com a nova reestruturação, em 1997, na empresa, determinando a extinção do serviço social, que ficaria representado apenas por um assistente social no hospital, os atendimentos em grupo seriam suspensos ou terceirizados, segundo o critério de sua implicação nos custos da empresa, como no caso da dependência química e prevenção/tratamento do diabetes. Na empresa privada não existiriam trabalhos na abordagem grupal, até porque a ampliação do quadro dos assistentes sociais já se deu na segunda metade dos anos 80, ou seja, no momento próximo as atuais estratégias da reestruturação produtiva. Os dados indicam, pois, que o espaço grupal nas duas empresas em que ocorreu é diferenciado, inclusive na temporalidade. Isto, de certo modo é reforçado pelo fato de não ter existido na empresa privada. A sua perda está relacionada, de um lado, a política dos profissionais, que não lutaram por esse espaço, mesmo quando acoplado ao treinamento, até pela ausência de um direcionamento mais político, quando realizado. De outro lado, há relação com o critério objetivo de custo/benefício para a empresa, o que demonstra mais uma vez, a direção econômica eliminando espaços sociais, paralelamente à pouca atenção dos assistentes sociais para incluir este fator nos seus projetos, de modo geral. 6. O Trabalho Institucional, Societário e Comunitário nas Empresas Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br A principal diferença deste trabalho em relação ao realizado com grupos consiste no seu caráter não voltado para problemática dos sujeitos, mas para a análise da instituição, no sentido de promover mudanças em relação às condições de trabalho. Esta diferença exige processos internos de democracia direta e controle social, abrangentes a totalidade dos sujeitos inseridos no segmento sob análise - que pode ser um único setor ou toda a instituição - ou referentes a um objeto relevante para a instituição e seus integrantes, como saúde, os acidentes, a alimentação, as relações sociais, a organização e o processo de trabalho. Na empresa, ao mesmo tempo em que tal espaço expressa uma inflexão do objetivo de mudança do comportamento do trabalhador para o de mudança de condições da instituição, ele também se associa ao objetivo empresarial sobre modos de ser do trabalhador, enquanto são discutidas as suas necessidades e as possibilidades de mudança das condições. Portanto, esse trabalho, como principal determinante econômico, e do movimento sindical, como um processo realizável por assistentes sociais. Por outro lado, no contexto mundial e sob influência crítica, essas respostas também foram determinadas pela ação sindical, que cresce então com grande força, sobretudo na Itália, fortalecida pela aliança com intelectuais, com os quais foi desenvolvido o denominado Modelo Operário Italiano, desde o final dos anos 60. Embora no Brasil o movimento sindical estivesse subjugado, os técnicos nas empresas brasileiras desconheciamo movimento sindical internacional e nesse modelo alternativo, no contexto mundial existia uma relação entre as respostas na forma das novas estratégias funcionalistas do período e aquele movimento dos trabalhadores e intelectuais a eles vinculados. Nesse mesmo período, apesar da dominância dos modelos funcionais, desenvolve-se no serviço social latino-americano o movimento de reconceituação, que no Brasil se expressa através da proposta da Escola de Serviço Social da Universidade Católica de Minas Gerais para o trabalho com comunidades, denominado Método de Belo Horizonte ou BH. Só mais recente, no limiar dos anos 1990, há o rebatimento nas empresas da massa crítica mais consistente, gestada a partir da produção de Iamamoto de 1982. Este atraso relativo deve-se ao segundo momento da intenção de ruptura, caracterizado pelo denominado “marxismo acadêmico”, segundo Netto (ibid:269). Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br Esta tendência, vinculada ao politicismo do primeiro momento, abandona as práticas institucionais e rejeita, sobretudo o campo empresarial. A reestruturação produtiva nos anos 90 imprimiu características diferenciadas a esse espaço, que se insere no campo das atuais tecnologias de qualidade gerencial, de importância estratégica central, referente às relações sociais na produção. No Serviço Social, os anos 90 também trazem estudos críticos sobre essas estratégias, como o de Borges Amaral (1996). A qualidade total reatualiza, também, conforme a pesquisa de Amaral, os processos de despolitização, buscando homogeneizar os interesses, mas, contraditoriamente, acirrando o individualismo (estimulando através da competição e de prêmios meritocráticos). Nessa alteração que interfere no espaço profissional, cabe ressaltar ainda dois pontos principais. O primeiro é a articulação entre elas e o mercado externo de trabalho, afetado pela redução dos postos, gerando no comportamento de muitos profissionais uma outra referência maior que é a empregabilidade, termo recorrente em muitas das entrevistas. O segundo ponto consiste no ressurgimento, em caráter doutrinador, de concepções e práticas funcionalistas mistificadoras, de inspiração neoliberal, representando um retrocesso na evolução teórico-crítica alcançada pela profissão, na denominada “requalificação”. A sociologia apresenta influência de Parsons, que conceitua a organização como unidade social voltada para a consecução de metas específicas, e de Weber, nas características burocráticas, conforme Etzioni (1974:11), que os incorpora no seu estudo das organizações complexas. Lapassede considera que, de alguma maneira, Marx viu como a burocracia moderna pode nascer na fábrica, na empresa industrial. Em consequência segundo Freire, as instituições implicam relações de força e regime de imposição, ao mesmo tempo em que seu obscurecimento, em função da obtenção da legitimidade. Nesse sentido, ele propõe “a análise das contradições no quadro das organizações institucionais”, na qual devem ser caracterizados os agentes segundo as suas posições estratégicas, diante dos objetos da instituição, constituídos na ação institucional. Quanto à empresa capitalista ao mesmo tempo em que é uma determinada organização produtiva e uma determinada instituição econômica, sendo o objeto – transformado em produto – realizado através das relações sociais de mais-valia. Portanto, a dimensão de trabalho social mais abrangente dentro da empresa tem sido a da análise das suas condições como organização produtiva particular. Nesse sentido, o espaço institucional é considerado como uma dimensão da intervenção do Serviço Social, tendo em vista compreender e agir sobre problemáticas e estratégias que afetam as relações sociais e a qualidade de trabalho e de vida de todos os sujeitos trabalhadores e usuários da instituição, focos da ação profissional por excelência. Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br Um outro espaço, o de trabalho com comunidades, articulado ao institucional, surge principalmente em dois períodos: 1) o inicial do processo industrial no Brasil, com a expansão industrial e processo de urbanização; 2) mais recentemente, este espaço volta a constituir-se sob a forma intitulada de responsabilidade social, devido à atual tendência de articulação das empresas com os vizinhos, em função da imagem e dos parâmetros da “qualidade total”, bem como diante do crescimento do movimento ecológico, e também do movimento sindical junto aos fóruns locais de exercício da cidadania. O trabalho de maior ressonância surge, com o programa de Desenvolvimento Social, a partir de 1985, de iniciativa de um dos assistentes sociais da segunda geração. Esse trabalho apresenta direção e procedimento similares à proposta organizacional de Freire (1983), sendo ambos de iniciativa do assistente social e não da empresa. O trabalho de desenvolvimento Social era integrado por representantes das equipes das áreas onde era aplicado, que investigava, num processo de pesquisa/ação, as necessidades do trabalho e dos trabalhadores, apresentando propostas de melhoramento e acompanhando de suas medidas. O programa foi aperfeiçoado e aplicado em outras áreas até 1989. O trabalho seguinte foi feito com os denominados representantes de andar, encarregados da segurança dos diversos prédios da companhia. Seus objetivos eram analisar questões relativas ao ambiente físico e capacitá-los como representantes e intermediários entre o Serviço Social e os problemas pertinentes, para todas as áreas. Segundo Freire cada área passou a ter um interlocutor que repassava para o assistente social todas as informações de interesse dos trabalhadores. A partir daí, houve uma politização da CIPA, com chapas de representantes dos trabalhadores articuladas com o sindicato, existindo somente nesse espaço uma aliança entre este e o assistente social, a despeito deste representar formalmente o empregador. Essa aliança também evidencia a validade do potencial sociopolítico do espaço institucional, de exercício de cidadania e de análise crítica, percebido e estimulado por determinados assistentes sociais da Administração Central da estatal, situados na tendência de ruptura ou transição. A aliança tem sido desenvolvida, assim, em diferentes períodos, pelos profissionais de varias gerações. Desde que a CIPA foi criada em determinada empresa, há uma política no sentido de ter um assistente social ou um médico como representante do empregador. Nos anos 1990, na estatal, os programas institucionais representaram a institucionalização e redirecionamento, no padrão internacional dominante, das Capítulo 16: Serviço Social e Empresa . Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia www.cicloceap.com.br estratégias já desenvolvidas pelos assistentes sociais. Os assistentes sociais dessa empresa, ao se anteciparem na adoção desse tipo de trabalho, demonstraram seu potencial e habilidade técnica, passando a coordenar muitos dos novos programas. Em complemento às transformações culturais, surgiram diversos programas nas empresas com participação dos seus assistentes sociais. Um deles coordenou um plano de revisão da função recursos humanos, como parte do processo de reestruturação produtiva da empresa. Nesse plano, foi revista a missão (termo mistificado, incorporado por assistentes sociais dessa estatal, para finalidade, razão de ser, utilizado nos trabalhos de viés neofuncionalista da época), assim como a política e diretrizes dessa função. As contradições diante dos polos necessidades do capital x necessidades do trabalho, na atual conjuntura, expressam ainda todo o desafio dos profissionais de Recursos Humanos, grupos e organizações de trabalhadores diante desse tipo de atividade,
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