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Cap_16 - Serviço Social e Empresa

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Capítulo 16: Serviço Social e Empresa 
 
 
. 
 Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia 
www.cicloceap.com.br 
Módulo 16: Serviço Social e Empresa 
 
Prezado(a) aluno(a), 
Olá! Neste capítulo iremos estudar o exercício profissional do Serviço Social 
nas empresas e as transformações ocasionadas principalmente pela 
globalização, reestruturação produtiva, as inovações tecnológicas e os 
impactos na vida dos trabalhadores. 
Nesta nova realidade, onde há a redução da oferta de empregos e as 
exigências por maior qualificação, flexibilidade, engajamento, 
empregabilidade, dentre outras, o serviço social deverá intervir e estar 
engajado nas novas formas de gestão. 
Bons estudos!! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo 16: Serviço Social e Empresa 
 
 
. 
 Ciclo CEAP – Centro de Estudos Avançados de Psicologia 
www.cicloceap.com.br 
Serviço Social e Empresa 
 
 
 
1. O Processo de Reestruturação Produtiva 
2. A Saúde do Trabalhador 
3. Trajetória do Serviço Social em Grandes Empresas 
4. Origem e Condições de Trabalho do Serviço Social nas Empresas e 
Instituições a Assistência e a Orientação Individual e Suas Mutações 
5. O Serviço Social com Grupos nas Organizações 
6. O Trabalho Institucional, Societário e Comunitário nas Empresas 
7. Alterações no Mundo do Trabalho e Repercussões no Mercado Profissional 
do Serviço Social 
8. Demandas de Serviço Social no Setor Empresarial 
9. Inserção do Serviço Social no Setor Empresarial 
10. Reestruturação Produtiva 
11. Reestruturação Empresarial 
12. Atuais Demandas do Serviço Social no Setor Empresarial 
13. Considerações Finais 
 
1. O Processo de Reestruturação Produtiva 
 
Segundo Freire, as alterações desenvolvidas no espaço de trabalho, em fase do 
processo que tem sido denominado reestruturação produtiva, têm provocado a 
desestruturação social, fazendo com que os assistentes sociais, trabalhadores, 
sofram esse impacto em suas condições e espaços de trabalho. 
 
O processo de reestruturação produtiva consolidou-se no Brasil a partir do governo 
Collor, em 1989, sob o despotismo da competitividade provocada pelo mercado 
globalizado, no atual estágio de acumulação flexível do capital, como forma de 
superar a crise do capital. 
 
O novo estágio é constituído da intensificação de estratégias de distribuição 
geográfica do capital, da produção e seu controle. Essa tendência prevista por Marx 
é facilitada pela tecnologia informacional, sendo hoje denominada de 
Capítulo 16: Serviço Social e Empresa 
 
 
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mundialização ou globalização da economia. 
 
Desse modo foi sendo ditadas uma nova cultura e ações políticas de inspiração 
neoliberal no mundo do trabalho, que buscam flexibilizar ao máximo não somente 
as estratégias de produção e racionalização, através de novas tecnologias políticas, 
processos de trabalho, estoques, tempo de giro de capital, produtos, padrões de 
consumo, como também as condições de trabalho, os direitos e os compromissos do 
Estado para com a população, conquistados no período anterior. 
 
Neste movimento, que globaliza, inclusive, as desigualdades e diversas 
manifestações da questão social, há um desafio para a descoberta por todos, 
incluindo a classe trabalhadora e os movimentos sócios, das dimensões globais dos 
seus modos de ser, agir, pensar, sentir, imaginar. Estas questões vêm provocando o 
reconhecimento de problemas, direitos e deveres similares, estabelecendo as bases 
para uma percepção da sociedade global em formação, da cidadania em escala 
mundial. 
 
Todas essas transformações afetam diretamente a vida do trabalhador, submetido 
à velocidade das mudanças que ocorrem a cada dia, à permanência num mercado 
global extremamente competitivo, às tecnologias em rápida transformação, um 
conjunto de variáveis que gera um novo desafio e a indagação de como agir num 
ambiente que exige tanto e que se transforma tão rapidamente. 
 
A esse respeito, Jean Lojkine (1995) analisa o que denomina “revolução 
informacional” como uma potencialidade contraditória, em face de tendência à 
ultrapassagem de diversas divisões polares da revolução industrial, a despeito das 
pressões dominantes para conservá-las. Entretanto, o autor reconhece as duras 
contradições da implementação dessa Revolução Industrial, que suscitou 
historicamente tendências opostas às do capital. 
 
As contradições ampliadas revelam-se na reestruturação produtiva, que se insere 
na reestruturação política, social e econômica do novo estágio de acumulação. 
 
As novas estratégias caracterizam o atual regime político de trabalho dominante, 
denominado hegemônico-despótico por Burawoy (1985 e 1990). Os regimes políticos 
são conceituados por esse autor como formas reguladoras dos conflitos no trabalho, 
que reproduzem as relações sociais de produção, sendo relacionadas às conjunturas 
políticas e econômicas da sociedade e consequente grau de dependência dos 
trabalhadores. O atual regime refere-se às políticas de produção do momento 
contemporâneos, no qual foi afetada a relativa autonomia do trabalhador em 
relação à empresa, conquistada no estágio anterior (denominado hegemônico), em 
função do desemprego crescente e da crise do Estado de Bem-Estar. 
 
Para Ricardo Antunes esta questão é tratada, levando-se em conta as mesmas 
considerações de Ianni, “a totalidade do trabalho, a capacidade de trabalho 
socialmente combinada, o trabalho coletivo como expressão de múltiplas 
atividades combinadas”. Com base na distinção marxista entre trabalho concreto e 
trabalho abstrato. Uma das teses apresentadas por Antunes atribui as possibilidades 
de mudanças ainda centralmente na luta da classe-que-vive-do-seu-trabalho - sem 
Capítulo 16: Serviço Social e Empresa 
 
 
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excluir as outras formas de contestação - apesar do seu caráter. 
 
Por outro lado, no movimento histórico, as contradições, materializadas nas 
sucessivas crises objetivas, “têm um papel chave no rompimento do forte vinculo 
entre as estruturas subjetivas e as estruturas objetivas”. 
 
Conforme a análise de Gramsci, as possibilidades da mudança estão relacionadas à 
formação social particular, sendo, portanto, um fenômeno historicamente mutável. 
Gramsci aprofunda essa questão, quando apresenta o movimento da subjetividade, 
inserida na socialização da política, na construção da própria objetividade. 
 
Alguns resultados produzidos nesse processo de conquistas de espaço e de limites à 
exploração capitalista, de aparência consensual e consentindo com as regras 
maiores, exigem aprofundamento sobre os sentidos antagônicos subjacentes, como 
no caso da saúde do trabalhador. 
 
Sobre a aparente oposição binária “estrutura objetiva” versus “sujeito 
voluntários”, conforme a critica de Knights (1990) a Burawoy, comum a algumas 
abstrações estruturalistas e voluntaristas, Iamamoto (1992) localiza no próprio Marx 
sua superação, no embate por ele travado. 
 
Os estudos críticos utilizados permitem concluir que a globalização do capital não 
prescinde do trabalho, mantendo-se a centralidade das relações sociais de 
produção para o entendimento da vida social, em escala ampliada e diversificada, 
visível nas seguintes expressões do modo capitalista globalizado de produção: 
criação e reprodução da desigualdade e classes antagônicas; ampliação e 
diversificação da subclasse, da miséria e das tensões sociais em escala planetária; 
novas formas de resistência e luta, associadas à nova dimensão de defesa do 
planeta e da humanidade. 
 
Hoje, com as novas exigências do mercado e a situação atual no mundo do 
trabalho, a tendência no desenvolvimento das habilidades do profissional de 
serviço social é pró-ativa, ou seja, o profissional não espera mais da empresa o 
investimento no seu desenvolvimento. Independente das organizações, o 
profissional atual cada vez mais planeja e investe nele mesmo, na busca deum 
nível de empregabilidade suficiente, mudando totalmente o perfil da mão de obra. 
 
Segundo Machado (1998), a questão da empregabilidade e da competência deve ser 
vista e analisada por todos, empregadores, assalariados e trabalhadores por conta 
própria, que devem reavaliar suas capacidades e vantagens competitivas e o que é 
ser hoje, no âmbito do capitalismo mundializado, alguém competente e integrável 
ao mercado. 
 
O que se espera do profissional deste mundo globalizado é que ele seja cada vez 
mais comprometido, envolvido, participante, multifuncional, flexível, criativo, 
analítico, cooperativo para desempenhar as novas necessidades do mercado e, 
principalmente, estar preparado para mudanças em sua carreira. Mas a prática é 
bem diferente do que se espera deste profissional, que vive num país marcado por 
desigualdades sociais tão acentuadas e que, portanto, nem sempre tem a chance 
Capítulo 16: Serviço Social e Empresa 
 
 
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de conseguir se qualificar e preencher todos os requisitos citados. 
 
Em relação às consequências dessas mudanças no mundo do trabalho para as 
organizações, podemos observar o aumento da exigência em um mercado 
caracterizado pela oferta. Ficam ainda evidentes as mudanças nos contratos de 
trabalho, marcados pela desregulamentação, fragilizando direitos sociais 
conquistados ao longo das últimas décadas. 
 
Segundo Mota, a dinâmica da reestruturação produtiva, assume um duplo desafio: o 
primeiro deles é o de situar a reestruturação no contexto da crise capitalista 
contemporânea, qualificando-a como um processo de restauração econômica do 
capital e ambiente de intervenção política das classes e do Estado nas condições de 
reprodução social; o segundo consiste em identificar as mediações que conectam a 
experiência do Serviço Social às mudanças em curso. 
 
As profissões se criam a partir de necessidades sociais e se desenvolvem na medida 
de sua utilidade social, vindo a institucionalizar práticas profissionais reconhecidas 
socialmente. Como qualquer profissão inscrita na divisão social e técnica do 
trabalho, a de Serviço Social, para reproduzir-se, também depende da sua utilidade 
social, isto é, de que seja capaz de responder às necessidades sociais que são a 
fonte de sua demanda (Iamamoto). 
 
Nestes termos, a problematização das demandas é uma condição para apreender as 
mediações que vinculam as “reais necessidades” do processo de reestruturação 
produtiva com as exigências do mercado de trabalho profissional. Ao mesmo 
tempo, constitui-se no passo inicial para a construção dos objetos e objetivos 
estratégicos da profissão. Como disserta Netto, “os profissionais que defendem 
uma direção social estratégicas para o Serviço Social não podem conectá-la à 
análise das tendências societárias macroscópicas e aos objetivos e valores do 
projeto social que privilegiam” (Netto). 
 
Compondo o cenário das novas necessidades do processo de acumulação 
capitalista, emerge no horizonte do trabalho uma fragmentação objetiva do 
trabalhador coletivo, expressa na constituição de dois grandes grupos de 
trabalhadores: os empregados estáveis do grande capital e os trabalhadores 
excluídos do emprego formal, estes últimos, sujeitos ao trabalho desprotegido. 
 
Verifica-se que enquanto a grande indústria fordista necessitava do keynesianismo, 
a indústria de produção flexível necessita da liberdade do mercado e da abolição 
de parte dos controles do Estado sobre as condições de uso da força de trabalho. 
Esta nova concepção, que já se materializa pela supressão de alguns mecanismos 
de proteção social, é corroborada pela ofensiva de mudança na legislação do 
trabalho. 
 
De fato, o discurso da humanização do trabalho e do direito do cidadão, que 
permeou a cultura política nos anos 80, vem sendo substituído por novas palavras 
chave: o compromisso do trabalhador com o cliente/consumidor, a qualidade total 
dos produtos e a produtividade e competitividade das empresas. Trata-se de uma 
cultura que indiferencia os interesses dos trabalhadores e dos capitalistas e 
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inflexiona os comportamentos políticos dos primeiros. Assim, o momento atual é o 
da passivização da ordem: a expansão do capital requer e exibe a recusa à plena 
cidadania, ainda que formal. Trata-se da quebra dos direitos sociais como base da 
acumulação e da velha/nova cidadania burguesa. O “novo” como Matriz de 
reconstrução e permanência do “velho”. 
 
Segundo Costa, a expansão dos serviços sociais voltados para o atendimento das 
necessidades de reprodução do trabalhador e da sua família – na atual fase de 
desenvolvimento do capitalismo - expressa a complexa e contraditória tensão entre 
a sua existência como um serviço que um valor de uso social e coletivo e a 
possibilidade de serem transformados em um serviço cuja utilidade social passa a 
depender da geração de lucros, isto é da sua mercantilização. 
 
2. A Saúde do Trabalhador 
 
 
 
Segundo Freire, em sua pesquisa a dimensão política do processo saúde/doença/ 
trabalho está articulada à dimensão econômica. Esta dimensão também é de 
grande importância para o país, neste momento de transição, com significativo 
potencial de conflitos, conforme ocorre atualmente com as questões sociais básicas 
– trabalho, terra, alimentação – diante do espaço conquistado pelo movimento 
organizado de trabalhadores. 
 
Para a autora experiências acumuladas desde 1973, sobre o Serviço Social no 
mundo do trabalho têm reforçado a percepção sobre a saúde do trabalhador como 
expressão socioeconômica e política concreta, privilegiada, das relações de 
trabalho, cujas evidências gritantes facilitam o desenvolvimento da realidade 
oculta, por trás do discurso dominante, predominantemente mistificador, 
possibilitando, ao mesmo tempo, a constituição de sujeitos políticos. 
 
Esses dois eixos temáticos – Serviço Social e saúde do trabalhador – possuem alguns 
traços comuns. Entre esses, destaca-se o da sua amplitude e penetração em todas 
as esferas das necessidades humanas: material, biopsíquica, psicossocial, 
sociopolítica, educacional, cultural. 
 
No trabalho a saúde do trabalhador corresponde às demandas empresariais e 
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sindicais. 
 
No ano de 1960 ocorreu no Brasil a incorporação das ciências sociais pela medicina, 
criando o Movimento Brasileiro da Reforma Sanitária, integrando-se aos 
movimentos sociais dos anos 1970 e 1980, resultando na concepção de Saúde 
Coletiva. 
 
O conceito de saúde do trabalhador é, assim, concebido como um processo 
dialético saúde/doença, mediado pelos diversos aspectos da organização, divisão, 
processo e relações sociais no trabalho. 
 
O desgaste é entendido como perda da capacidade potencial e/ou efetiva corporal 
e psíquica. Não se referindo a algum processo particular isolado, e sim, processos 
biopsíquicos. 
 
Na totalidade complexa de que fazem esses elementos, há um vinculo da noção de 
desgaste com as de cargas e risco, conforme Jussara Brito (1991). Esta autora 
ressalta que a carga de trabalho, não deve ter a conotação necessariamente de 
peso e dificuldade, mas como demandas do processo de trabalho; com este 
significado, a noção de carga é articulada à de desgaste, referindo-se ao 
movimento dinâmico dos elementos do processo trabalho. 
 
A noção de carga desses autores inclui, de um lado, as do tipo físico, químicos, 
biológicos e mecânicos, e de outro, as dos tipos fisiológicos e psíquicos. Ela é 
construída e reproduzida no próprio processo de trabalho, expressando-se em fatos 
como desigualdade, autoritarismo, privação de poder de enfrentamento direto, 
coerção, chantagem e outras decorrentes da posição social na divisão, processo e 
organização do trabalho, incluindo-sea questão de gênero, idade e etnia. 
 
Laurell e Noriega propõem a superação do monocausalismo de fatores externos, 
apontando a correlação entre os vários tipos de cagas, que se potencializam “como 
produto de uma combinação de cargas determinadas pela lógica global do processo 
de trabalho”. 
 
Os autores consideram este processo não ativo como a ”Impossibilidade de 
desenvolver uma potencialidade psíquica ou biológica”. Este desgaste é 
caracterizado principalmente no impedimento da realização do enfrentamento das 
injunções, pelo trabalhador, fragilizando-o individual e coletivamente e, ao mesmo 
tempo, desenvolvendo comportamentos do tipo “humor anti-institucional”. 
 
Portanto o conceito de saúde do trabalhador expressa as relações sociais de 
produção e de reprodução da força de trabalho de uma determinada sociedade, 
resultando nas múltiplas determinações e mediações desta totalidade. 
 
Tal conceito supera as visões e práticas anteriores dos modelos de Medicina do 
Trabalho e de Saúde ocupacional. Sendo o primeiro de origem reprodutiva e 
mercantilista do Ministério do Trabalho (1930), sendo limitado ao controle e 
prevenção restrita da doença. Já o segundo é baseado na concepção elaborada 
pelo Comitê Misto da Organização Internacional do Trabalho - Organização Mundial 
Capítulo 16: Serviço Social e Empresa 
 
 
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de Saúde. 
 
Com o movimento pelas principais conquistas sociais dos anos 1970 e 1980, 
culminando com a Constituição Federal de 1988, no Estado do Rio de Janeiro, os 
Programas de Saúde do Trabalhador (PST) implantados nas Secretarias Estatuais 
(SES) e Municipais de Saúde (SMS), tendo como destaque o PST/SES-RJ. 
 
Entre os dados obtidos, destaca-se, em primeiro lugar, o fato de que a abertura da 
economia sem restrições ao capital globalizado. Desse modo, a partir de 1990, as 
empresas investigadas obtiveram grandes lucros e realizaram enormes 
investimentos em tecnologia e na sua expansão monopolista, com exceção da 
estatal, que sofreu um processo inverso, através da privatização de suas 
subsidiarias, porém, em 1996, ela alcançou a primeira posição entre as maiores e 
melhores empresas no Brasil, referente a sua produtividade no ano de 1995, 
conforme o quadro a seguir: 
 
Empresas - 
Posição 
Total de Ativos Vendas Líquidas 
Patrimônio 
Líquido 
Lucro Líquido 
Estatal - 1ª 296.655.593 139.448.730 196.997.870 570.349 
Privatizada - 4ª 706.112.900 197.876.500 546.041.100 121.085 
Privada - 16ª 781.352 442.810 453.290 33.095 
Fonte: Jornal do Comércio, 12/12/1996. Dados de 1995, em R$ 1.000 
 
 
Entre as estratégias para garantir tal desenvolvimento, destaca-se: as tecnologias 
de produção e de informatização (redutoras de força de trabalho); nova 
organização (reengenharia), combinando fusões de setores em grandes áreas de 
negócios. 
 
O processo expressa a passagem do regime hegemônico de trabalho para o regime 
hegemônico/despótico, tendo em vista que os principais fatores motivacional são 
as ameaças da perda do emprego e da insolvência da empresa diante do mercado 
recessivo e da competitividade globalizada. 
O poder destrutivo da reestruturação produtiva é manifestado numa série de 
perdas para o trabalhador, evidenciando-se, em primeiro lugar, na expulsão 
massificada do emprego. Tais perdas apresentam diferenciação segundo a 
natureza jurídica das empresas, confirmando a maior preservação da 
preocupação social na estatal. 
 
A primeira evidência dessa diferença é constatada no quantitativo das demissões, 
que acompanham os processos de reestruturação. Na estatal, elas são cerca da 
metade das outras duas, que demitem aproximadamente 50% de trabalhadores em 
sete anos, sendo excluídos dessas empresas um total de 32.096 trabalhadores, 
conforme o quadro a seguir: 
Capítulo 16: Serviço Social e Empresa 
 
 
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Quadro Comparativo de Pessoal, com Desligamentos, em Função da Reestruturação 
Produtiva, de 1989 a 1996 
 
Estatal Privatizada Privada 
Total de 
Trabalhadore
s 
Desligamento
s Cumulativos 
Total de 
Trabalhadore
s 
Desligamento
s Cumulativos 
Total de 
Trabalhadore
s 
Desligamento
s Cumulativos 
198
9 60.028 (100%) 0 (0%) 22.134 (100%) 0 (0%) 11.188(100%) 0 (0%) 
199
0 
55.569 
(92,5%) 4.459 (7,5%) 18.222 (82%) 3.912 (18%) 9.582 (86%) 1.606 (14%) 
199
1 53.857 (90%) 6.171 (10%) 16.125 (73%) 6.009 (27%) 8.478 (76%) 2.710 (24%) 
199
2 51.638 (86%) 8.390 (14%) 15.147 (68%) 6.987 (32%) 7.051 (63%) 4.137 (37%) 
199
3 
51.228 (85%) 8.800 (15%) 15.082 (68%) 7.052 (32%) 6.703 (60%) 4.485 (40%) 
199
4 50.295 (84%) 9.733 (16%) 14.773 (67%) 7.361 (33%) 6.667 (60%) 4.521 (40%) 
199
5 46.226 (77%) 13.802 (23%) 13.707 (62%) 8.427 (38%) 6.068 (54%) 5.120 (46%) 
199
6 43.468 (72%) 16.560 (28%) 11.717 (53%) 10.417 (47%) 6.069 (54%) 5.119 (46%) 
 
As diferenças também são qualitativas, constatadas nos critérios das demissões e 
nos procedimentos de aproveitamento através de transferências e recapacitação, 
predominando o caráter social na estatal. 
 
Esse quadro se insere no desastre social do receituário neoliberal em todo o 
mundo. Segundo os dados de 1999 do Banco Mundial, de 1987 a 1998, em “apenas 
11 anos mais de 100 milhões foram lançados à condição de pobreza absoluta e 95% 
desse contingente concentra-se nos países em desenvolvimento e mais pobres”. 
 
No processo de trabalho, de um lado, há uma potencialização da força de trabalho 
em relação à posição secundária diante da máquina-ferramenta da Revolução 
Industrial, aproximando especialistas e gerentes do operário e deste em relação ao 
processo como um todo, na sua área de trabalho. De outro lado, há uma 
fragmentação do operário enquanto classe, pela divisão em posições centrais e 
periféricas, estas últimas posições ampliam a força de trabalho descartável, 
flutuante e subcontratada, através das terceirizações e similares, provocando a 
expansão dos baixos salários e a superexploração. Tal tendência é verificada nas 
empresas pesquisadas, principalmente nas condições dos trabalhadores dos serviços 
terceirizados, que se multiplicam, convivendo com os primeiros. Ele também se 
aproxima da ideologia nazista, quando divide os trabalhadores em superiores e 
inferiores, em função da meritocracia atrelada às metas do capital e 
comportamentos a ele alinhados. Os primeiros identificados como centrais e 
estratégicos – são relativamente valorizados, recebendo incentivos em qualificação 
permanente e prêmio financeiro individual ou por equipe, enquanto cumprirem 
com as metas. Os segundos – identificados como periféricos – tendem a ser 
excluídos do mercado formal de trabalho e subcontratados, muitos em rodízios 
permanentes, com precarização das condições salariais, de trabalho e de direitos, 
Capítulo 16: Serviço Social e Empresa 
 
 
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que os condena a interiorização permanente. 
 
Os trabalhadores assumem novas responsabilidades e uma grande carga de 
sofrimento psíquico. Esse processo resulta na ampliação do desgaste físico e mental 
do trabalhador, crescendo o exército de mutilação e de mortos prematuramente. 
Os resultados negativos também se verificam na precariedade das condições de 
vida da classe que vive do seu trabalho, na progressiva redução de direitos 
previdenciários, de recursos e de investimentos e apoio às políticas públicas de 
saúde ao trabalhador, nas condições de trabalho dos profissionais e serviços 
voltados para o atendimento desses problemas. 
 
Ao mesmo tempo, os trabalhadores sofrem o que identifico como mutilação social, 
não somente em relação aos direitos sociais conquistados, mas também através do 
processo que denomino atrofia sociopolítica. 
 
A política e programas sociais também são impactados, assim como as concepções 
e práticas dos profissionais neles atuantes, entre os quais o assistentesocial, que 
também passam a autocensurar-se e a restringir as direções mais avançadas dos 
seus trabalhos. 
 
De acordo com o ensaio “O Serviço Social e a Saúde do trabalhador diante da 
reestruturação produtiva nas empresas”, aponta os maiores agravos, assim 
distribuídos: nas doenças diretamente relacionadas com as novas tecnologias, como 
a LER (lesão por esforço repetitivo); nas doenças psíquicas e outras provocadas por 
estresse; na ampliação das doenças graves e degenerativas preexistentes aos novos 
processos, que exigem maiores investimentos, como no caso da leucopenia 
provocada pelo benzenismo na ex-estatal privatizada. 
 
No processo de gestão nas empresas, ocorre a incorporação de algumas antigas 
demandas do trabalhador, como a participação na discussão das suas necessidades 
e dos processos de trabalho. De outro modo, porém, ela se dá de modo fetichizado 
e despolitizado, sendo transmutada em mecanismo de participação gerencialista, 
voltada para os interesses da produção e a consensualidade, conforme Salermo 
(1987). 
 
Nos grupos de trabalhos, o aparente “autocontrole” do trabalhador é dirigido, 
através de tarefas coletivas, segundo as metas de produtividade, 
permanentemente ampliadas conforme os interesses da empresa. 
 
As novas determinações do espaço de trabalho produzem um movimento dialético, 
contraditório e conflitante, de controle – consentimento – resistência dos 
trabalhadores, sem caracterizar uma polaridade uniforme controle – resistência. 
 
O seu complemento mais corrosivo consiste no nexo muito próximo deste 
determinante com o autoestreitamento da relativa autonomia do profissional na 
direção social do seu trabalho; por outro lado, a resistência do movimento sindical, 
representa, não coincidentemente as três principais tendências presentes no atual 
momento histórico brasileiro: 
Capítulo 16: Serviço Social e Empresa 
 
 
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1) Na empresa estatal, o sindicato filiado à CUT, apesar de ter sofrido uma das 
maiores sanções impostas a uma greve, continua buscando outras estratégias e 
campos de lutas, nos seguintes espaços: internas organizações nos locais de 
trabalho (OLT), comissão interna de prevenção de acidentes (CIPA); este espaço é 
agora disputado com a empresa, que passa a usar essa Comissão como “braço da 
Gerência de Segurança; os espaços externos, públicos e privados, tais como os 
fóruns de Saúde do Trabalhador, entre os quais se destaca o Conselho Estadual de 
Saúde do Trabalhador do Rio de Janeiro (Consert-RJ) e o movimento da sociedade 
organizada. 
 
2) Na ex-estatal privatizada, o forte movimento sindical anterior foi esfacelado, 
caracterizando a primeira grande quebra da espinha dorsal da organização sindical 
no Brasil, ainda no processo preparatório à privatização, sendo substituída pela 
direção sindical que filiou o sindicato local à Força Sindical. Este ocupou lugar do 
grupo anterior, legitimando os processos de privatização e reestruturação e 
adotando a falsa parceria nas relações capital/trabalho. 
 
3) Ainda nas empresas privatizadas, é constatada mudança relativa em um dos 
sindicatos de uma das categorias de trabalhadores, que assumira uma posição de 
terceira via, sem afiliação a qualquer central sindical, numa suposta 
independência. Neste movimento, é confirmado o papel das crises objetivas sobre 
as estruturas subjetivas construídas. 
 
Todos esses mecanismos e contradições da reestruturação produtiva, ao mesmo 
tempo, evidenciam que a globalização do capital não prescinde do trabalho, que 
passa a receber maior atenção, paralelamente às formas sofisticadas de seu 
gerenciamento, controle e fragilização. Tal processo é desenvolvido, sobretudo no 
Conselho e Comissão de Saúde do Trabalhador no Rio de Janeiro, que evidenciam a 
superação de práticas tradicionais e despolitizadas e o potencial de repolitização. 
 
As evidências encontram-se nas estratégias de efetivação dos direitos sociais 
conquistados, assim como na discussão e enfrentamento dos novos fetiches: 
competitividade, flexibilização, qualidade total, terceirização. 
 
Segundo Freire, sua pesquisa evidencia que a reestruturação produtiva tem 
provocado algumas inflexões nas demandas em relação à atuação dos profissionais 
de recursos humanos e de saúde no campo do trabalho, entre eles os assistentes 
sociais, caracterizando um risco de retrocesso. Igualmente, algumas alterações são 
provocadas nos processos e diretrizes do trabalho desses profissionais, sobretudo 
nas empresas, que aderem ao novo funcionalismo, retrocedendo de um estágio 
anterior mais crítico. Contudo, alguns dos mais qualificados também melhor 
selecionados, remunerados e valorizados, contribuem na constituição dos novos 
sujeitos políticos da classe trabalhadora, assessorando-o no entendimento da nova 
realidade e nas formas de resistência e lutas pelo atendimento de suas 
necessidades. 
 
Assim de um lado, o atual momento revela a desestruturação social causada pela 
reestruturação produtiva no Brasil, no desemprego e na precarização das condições 
da força de trabalho, nos direitos sociais, na saúde dos trabalhadores e em sua 
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capacidade de luta. De outro lado porém, os novos desafios desencadeiam novos 
projetos, reincorporando e rearticulando as questões, teórica e politicamente, na 
direção da proteção ambiental exterior ao local de trabalho e a ecologia humana, 
em caminho oposta à fragmentação atual do movimento político do trabalhador. 
 
O novo direcionamento tem se caracterizado na aliança do movimento sindical com 
os movimentos sociais, igrejas, universidades, partidos políticos e Organizações Não 
Governamentais (Ongs). 
 
No âmbito continental, são ressaltadas as organizações internacionais, com 
destacada participação da CUT, abrindo “uma nova perspectiva de avanço na 
globalização da defesa dos direitos dos trabalhadores”. 
 
Evidentemente, há polêmicas internas sobre questões objetivas, sobretudo em 
relação aos espaços contraditórios, no seu significado como capitulação ou 
resistência diante do capitalismo. 
 
Porém, é importante constatar que as realizações e propostas apresentadas 
demonstram o avanço da construção do novo direcionamento da CUT, como dos 
mais importantes sujeitos políticos coletivos, para estender a presença dessas 
forças no mundo globalizado, que possibilite a luta diante da política hegemônica 
atual. 
 
3. Trajetória do Serviço Social em Grandes Empresas 
 
 
 
A partir dos anos 60, o investimento em programas referentes à reprodução 
material e social da força de trabalho nas empresas, ampliou-se 
significativamente, repercutindo no mercado de trabalho do Serviço Social, que 
atingiu sua maior expansão em 1989-1990. 
 
Ele se verifica desde a implantação das grandes indústrias no país, diretamente ou 
através de serviços vinculados ao patronato, determinando programas de caráter 
assistencial e comportamental. 
 
Segundo Freire, em sua pesquisa, os dados captados através de entrevistas, 
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reuniões e documentos das instituições, tendo sido também utilizada fonte 
documental do Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais 
(CBCISS). 
 
A exposição inicia-se com os processos de trabalho que marcam a evolução dos 
Serviços Sociais nas empresas e sua trajetória, junto com a de seus profissionais, e 
respectivas posições, objetivas e subjetivas. Esse conjunto articula-se com as 
demandas dos diferentes momentos históricos a político, econômico e cultural 
brasileira, expressos, sobretudo nas conjunturas societárias e institucionais e nos 
marcos acadêmicos que penetram transversalmente o Serviço Social nessas 
instituições. 
 
Todavia, não é estabelecida uma periodização quanto a determinadaestratégia e 
dimensão da ação profissional, sendo bastante singularizadas as situações. 
Sobretudo com referência às abordagens marcantes de Serviço Social – individual, 
grupal, institucional, comunitária e societária – que se desenvolveram nos diversos 
momentos, não significa que elas tenham uma relação mecânica com a evolução da 
profissão, não sendo considerado aqui, por exemplo, o atendimento individual 
como impróprio à concentração da ruptura. 
 
Preliminarmente, é necessário elucidar algumas referências sobre os processos de 
trabalho que tem sido utilizado pelo Serviço Social nas empresas. 
 
Iamamoto (1998) contribui para elucidar essa questão segundo os estudos clássicos 
da tradição marxista, ressaltando a indissociabilidade entre trabalho concreto – 
produzindo valores de uso, nos quais se acentuam os aspectos qualitativos – e o seu 
valor de troca, medido pelo tempo, inserindo na “sociedade da mercantilização” 
universal, segundo Marx, como unidade contraditória. 
 
A objetividade do Serviço Social, de natureza social e não diretamente material em 
relação a objetos materiais necessários à sobrevivência dos setores majoritários da 
população como a criação de consensos, base para a construção de uma 
“hegemonia na vida social” (Iamamoto, 1998:68). Esses consensos, situados em 
espaços contraditórios, tanto podem servir ás metas do capital como aos interesses 
da coletividade, através da construção de uma “contra hegemonia no cenário da 
vida social”. 
 
Nas empresas, o assistente social, embora não participando diretamente da 
produção de valor e mais-valia, como parte do trabalhador coletivo, “cria as 
condições necessárias para fazer crescer o capital investido”. 
 
Já no âmbito dos serviços públicos e nas Organizações Não Governamentais, os 
serviços produzidos são submetidos à razão sociopolítica, passando pela 
distribuição de parte da mais-valia social. 
 
A centralidade dos meios de trabalho e suas condições, que vão adquirindo 
complexidade crescente, assim como a importância do como fazer, sendo os meios 
de trabalho não só mediadores do grau de desenvolvimento da força de trabalho 
humana, mais também indicadores das condições, embora não se encontrem 
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diretamente nos meios materiais de trabalho, são imprescindíveis para sua 
realização eficiente. Esta e uma das características relacionadas ao objetivo do 
trabalho social. 
 
Outra característica é a do trabalhador coletivo, implicando a transformação do 
trabalhador, que não se reconhece no produto resultante do trabalho coletivo, 
transformando-se em um “órgão do trabalhador coletivo, executando qualquer uma 
de suas subfunções” (Marx 1984). Segundo esse raciocínio, o Serviço Social, como o 
demais atividades-meio que produzem melhores condições para o consumo da força 
de trabalho no processo produtivo-fim, situar-se-ia como subfunção paralela a este 
processo. 
 
O assistente social é chamado a desempenhar sua profissão em um processo de 
trabalho coletivo, organizado dentro de condições sociais dadas, cujo produto, em 
suas dimensões materiais e sociais, é fruto do trabalho combinado ou cooperativo, 
que se forja com o contributo especifico das diversas especializações do trabalho 
(Iamamoto, 1998). 
 
Embora esse não seja o caso do Serviço Social e demais atividades de saúde em 
uma empresa, caracterizadas como meio (indireto), contudo, o seu profissional ali 
também se extenua ao contribuir para o enriquecimento do empresário, enquanto 
produz condições para a realização eficiente do trabalho. Ao mesmo tempo, essas 
atividades têm cada vez mais se estruturado em empresas capitalistas que vendem 
serviços na forma de exemplo de Marx – meio direto de valorização do capital – ou 
sob outras formas (que incluem o serviço social). 
 
Almeida (1995:21) destaca os três elementos da reflexão bravermaniana relativa ao 
processo de trabalho no setor de serviços: o da sua ampliação, consequente à 
expansão do valor excedente do capital, dentre os quais os serviços sociais (á qual 
acrescento sua correspondência a uma forma compensatória à expansão da 
expropriação, ao mesmo tempo vantajosa como instrumento ideológico do capital); 
a sua incorporação à esfera de controle do capital, reduzindo os fatores fora do seu 
alcance; a aproximação da estruturação do trabalho improdutivo daquela do 
trabalho produtivo. 
 
Entre as múltiplas determinações relacionadas às mudanças, inseridas nas diversas 
dimensões da realidade, que integram os processos de mediação, pode se 
apresentar: a posição econômica e social das instituições; o Estado brasileiro e suas 
diretrizes econômicas e sociopolíticas hegemônicas; os movimentos sindical e da 
sociedade civil; as conquistas e retrocessos legais; as concepções de gestão da 
força de trabalho e as concepções e diretrizes da formação profissional, todas elas 
mutantes e informadas por perspectivas teórico-metodológicas e ideológicas; a 
organização sociopolítica dos assistentes sociais e seu principal produto, o projeto 
eticopolítico, traduzido no Código de Ética, historicamente construído. 
 
A demanda central comum, mantida em todos os períodos, confirma a finalidade do 
trabalho desse profissional, historicamente constituída, que tem sido a reprodução 
física e espiritual (psicológica, social, cultural e política) do trabalhador, através 
da assistência material e da orientação de um modo de ser, sentir, pensar e agir, 
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em relação ao trabalhado, à sociedade e à vida. 
 
Por outro lado, a realidade de necessidade humana não atendida impõe alguns 
impasses para o capital, decorrente de suas contradições. Um deles é a revolta 
biopsíquica do próprio corpo, autodestrutiva para a saúde, porém determinando os 
índices de improdutividade que ele quer reduzir. O outro está relacionado ao fato 
de ser o trabalho coletivo o único capaz de produzir riqueza. 
Os objetivos específicos, a partir da finalidade, são relacionados principalmente 
ao interesse do empresário, enquanto aliviam as situações de desgastes do 
trabalhador, que também contribui para construir esses objetivos, 
caracterizando o espaço contraditório, que tende a favorecer 
predominantemente a empresa. 
 
Alguns dos objetivos são passíveis de resultados concretamente aferidos, em função 
da sua justificativa utilitária visível (como valor de uso), que tem sido: reduzir o 
absenteísmo e o tempo de afastamento por licença de saúde, minimizar problemas 
familiares com interferência nas relações funcionais e na produtividade, como 
também problemas sociais determinantes das doenças mentais e emocionais 
autodestrutivas e prejudiciais ao desempenho, mudar o comportamento para os 
mais favoráveis a condições de trabalhador produtivo, adaptado às condições e 
organizações do trabalho. As necessidades ultrapassam aqueles materiais 
(econômicas e biológicas), compreendendo também as dimensões psicológicas 
relacionais, de desenvolvimento do saber técnico e também político sobre as 
relações sociais internas e externais, de crescimento funcional e sociopolítico. 
 
Muito embora seja restrito o espaço para desenvolvimento de todas essas 
condições, há, de um lado, a oportunidade do exercício reflexivo sobre agir 
politicamente dentro de limites, ao mesmo tempo descobrindo meios e estratégias 
coletivas fora da empresa. 
 
Na constituição e ocupação desses espaços e desenvolvimento dos processos de 
trabalho, há uma interação entre seus elementos determinantes – societários, 
institucionais, dos usuários e profissional. 
O trabalho é exercido com relativa autonomia, em face desses elementos e 
decorrente em parte do saber teórico, técnico e político do assistente social e 
de sua maturidade nessas três instâncias, associada às experiências acumuladas. 
 
As particularidades dasempresas na ocupação, desocupação e novas formas de 
ocupação desses espaços pelos assistentes sociais e outros profissionais elucidam, 
ainda, a história da cultura institucional e desses profissionais que participam de 
sua construção, sendo, ao mesmo tempo, nela construídos. 
 
Capítulo 16: Serviço Social e Empresa 
 
 
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4. Origem e Condições de Trabalho do Serviço Social 
nas Empresas e Instituições a Assistência e a 
Orientação Individual e Suas Mutações 
 
 
 
O Serviço Social ligado ao campo do trabalho no Brasil é concomitante a 
consolidação do processo de industrialização, no final do “Estado Novo”, com a 
implantação das primeiras grandes indústrias estatais. 
 
Segundo o quadro apresentado por Raul de Carvalho, tendo como fonte o 
documento do Instituto Social de 1947, são originários dessa década os Serviços 
Sociais; Seguro Social (SS), em 1944, e Instituição Patronal (IP), em 1947, que 
apresenta serviços de saúde ao trabalhador. A primeira desempenha um papel 
significativo quanto à efetivação dos direitos dos trabalhadores vítimas das 
agressões do trabalho a sua saúde. 
 
A segunda desenvolve um papel complementar ao do Estado, atendendo 
atualmente muitos dos trabalhadores excluídos da Previdência oficial: de pequenas 
empresas, prestadoras de serviço e produtoras de equipamentos e peças as grandes 
empresas, de forma terceirizada. 
 
O período de implantação do serviço social nas duas então estatais coaduna-se com 
os estudos de Mota (1985), que aponta a consolidação desse campo de trabalho 
profissional no Brasil próximo ao inicio dos anos 50. Esta época é marcada pelo 
grande impulso industrial brasileiro, em que a metalúrgica e a petroquímica (ramos 
das empresas pesquisadas) eram consideradas de maior importância econômica e 
estratégica, com lutas desde o inicio dos anos 30. 
 
Segundo Mota as inclusões do Serviço Social na empresa, devido às conjunturas 
especificas, é notória a partir de 1960, embora apresentadas experiências esparsas, 
no sul e no Nordeste do Brasil, a partir dos anos 40. É de 1941, segundo Carvalho 
(in: Iamamoto e Carvalho, 1982) o relato da primeira experiência em Serviço Social 
de empresas”, em 1960, quando se instala o Serviço Social nas empresas como um 
campo especifico, surge o Gessot, inicialmente no Rio de Janeiro e implantado em 
São Paulo a partir dos contatos da assistente social Thelma Matinho, em outubro de 
1969, por designação do Departamento Nacional de Segurança e Higiene do 
Trabalho, do Ministério do Trabalho. 
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No caso da empresa privada, a implantação tardia do Serviço Social coincide com o 
momento da concepção da assistência nas empresas como salário indireto, como 
fator diferencial de atração e fixação da força de trabalho, num mercado ainda em 
expansão, com vantagens acrescidas pelos incentivos fiscais do Estado. 
 
Portanto, é confirmada a relação entre a questão social, com a entrada em cena 
desses movimentos, e a necessidade da reprodução física e espiritual da força de 
trabalho. Na primeira empresa pesquisada, onde o serviço social foi implantado, 
hoje privatizado, tal necessidade prolonga-se na cidade, que constituiu e cresceu 
em função da companhia e em torno dela, onde residiam os trabalhadores, que 
frequentavam suas escolas, hospitais e clubes. Hoje é comum encontrar até três 
gerações de uma mesma família, assim como o casal, com vinculo de trabalho com 
esta empresa. 
 
Há um provável nexo entre esta valorização e a cultura assistencial do Estado, 
compensatória dos agravos sociais, juntamente com o maior distanciamento da 
lógica da mais-valia, apresentando maior liberdade na distribuição da riqueza 
produzida e espaço para os que produzem. No maior espaço social relativo da que 
se mantém estatal, são selecionados, por concurso publico, os profissionais melhor 
qualificados e remunerados, que podem utilizar essa cultura a favor do 
trabalhador. 
 
Nessas empresas é constatado o aumento do quantitativo de trabalhadores até 
1989, quando se instala efetivamente a reestruturação neoliberal, com Collor de 
Melo. 
Número de Assistentes Sociais (AS) e Relação com o Número de Trabalhadores por Empresas 
 
Estatal Privatizada Privada 
Total de 
Trabalhadores 
Nº de AS 
(Relação) 
Total de 
Trabalhadores 
Nº de AS 
(Relação) 
Total de 
Trabalhadores 
Nº de AS 
(Relação) 
1989 - 
1990 60.028 
Não 
Informado 22.134 14 (1/1.581) 11.188 10 (1/1.119) 
1992 51.638 Não Informado 15.147 10 (1/1.515) 7.051 10 (1/705) 
1994 50.295 
Não 
Informado 14.773 10 (1/1.477) 6.667 7 (1/952) 
1996 43.000 70 (1/614) 12.018 7 (1/1.717) 6.069 3 (1/2.023) 
Fontes: Órgãos de Recursos Humanos 
 
 
Ao considerar a relação do quantitativo de assistentes sociais com os 
trabalhadores, verifica-se que o ápice desses profissionais coincide com o do total 
de trabalhadores no final de 1989 e 1990, a partir do qual foram iniciadas as 
reestruturações e reduções. 
 
Verifica-se também que os assistentes sociais ainda permaneceram algum tempo 
após a primeira redução, sendo que, na estatal, houve um concurso com admissão 
de 9 profissionais, em 1994; o outro período de admissão não só dos assistentes 
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sociais, porém de quase todos os demais profissionais entrevistados nessa empresa, 
da área de recursos humanos. 
 
Outro traço comum entre as empresas consiste no início da atividade de Serviço 
Social na área industrial, vindo a implantar nas administrações centrais somente 
após, algum tempo (na estatal em 1958, e na empresa privada em 1988). 
 
Na ex-estatal privatizada, houve condições especiais, pela proximidade das áreas 
em um mesmo local, além da demanda da comunidade fabril instalada ao seu 
redor. 
 
A diferença entre as empresas é mantida no desenvolvimento das políticas sociais, 
assim como entre estas e as instituições que prestam serviço de saúde ao 
trabalhador, sobretudo nas públicas mais avançadas, inseridas nos pontos comuns 
que caracterizam a profissão. 
 
A seguir será apresentado o diferente estágio, quanto ao espaço e forma de 
assistência, denominados benefícios, e orientação individual, como atividades 
associadas ao trabalho do assistente social: 
 
O estágio da falsa concepção de benesse compensatória das carências, 
originalmente concebidas como política pública-incorporadas, ampliados na 
empresa como liberdade e gerenciando por elas, progressivamente. Por trás deste 
discurso da ajuda, os benefícios têm sido usados principalmente em favor da 
empresa, tanto pedagógicas como financeiramente, através de compensações 
fiscais ou inclusão das suas despesas nos custos operacionais. 
 
Este período inicial também se relaciona com o primeiro estágio assistencial de 
tendência paternalista do Serviço Social, associado ao paternalismo empresarial. 
Ele é determinado pelas diretrizes mistificadas, características da origem 
conservadora e religiosa da profissão, favorecedora do obscurecimento das relações 
concretas de exploração no trabalho. 
 
A despeito das diversas metamorfoses sofridas, estas demandas e respostas são 
mantidas, sendo predominante e quase exclusivas nas empresas e instituições onde 
o espaço do Serviço Social é mais limitado e sua atuação mais conservadora. 
 
Na estatal, como nas demais empresas e instituições tradicionais, o trabalho se 
expressa, inicialmente, na assistência individual ao trabalho e com suas famílias. 
Contudo em função da relativa autonomia e qualidade do profissional que 
participou do período de implantação da atividade na sede da companhia, desde o 
inicio e progressivamente, ocorre uma racionalização referente a este trabalho, 
buscando ele suprir algumas lacunas coletivas identificadas com relação a própria 
organizaçãoempresarial, entre elas a comunicação de direitos. 
 
Também é perceptível a falta de interação entre os assistentes sociais da sede e os 
lotados nas áreas operacionais, que realizam outras formas de atendimento, como 
se cada um improvisasse um tipo de prática, sem qualquer preocupação de análise 
coletiva sobre as demandas e suas sistematizações. Segundo este profissional, a 
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falta de informação em relação aos processos de afastamento pelo INSS costuma 
provocar perda de prazos e direitos, chegando algumas vezes até a demissão da 
empresa por justa causa. 
 
Na ex-estatal privatizada, o momento inicial se apresentou de modo diferente, de 
uma empresa que surge como estatal de grande porte, concentrada em um único 
local afastado do centro urbano, onde se instala praticamente uma cidade, que vai 
crescendo em função dela; assim, nesta empresa, marco da política industrial 
estatal, buscou-se a construção de um tipo de trabalhador no padrão mistificado da 
família metalúrgica, isto foi feito através da mobilização de benefícios que supriam 
todas as necessidades, ao lado do disciplinamento do trabalhador, de origem rural, 
que sofreu um processo civilizatório. 
 
Esse assistente social relatou uma particularidade importante, na estatal, no 
período da ditadura militar – com seus representantes na presidência da empresa – 
de 1974 a 1984. Ela consistia na posição empresarial de cerceamento às posições do 
serviço social, que pode indicar uma posição relativamente independente de seus 
profissionais e, ainda, uma percepção do poder potencial de quem administra a 
ajuda e mantém um colóquio protegido como o trabalhador. 
 
Conforme resumo Histórico do Serviço Social dessa empresa a “superintendência 
englobava o Departamento Social que tinha a Divisão de Casos” (1987). Somente 
esta divisão compreendia o Serviço Social, cujo principal objetivo era o 
atendimento que seu titulo indicava. 
 
Essas ampliações correspondem ao primeiro plano de expansão da empresa, em 
quantitativo de pessoal e tecnologia, construindo os futuros trabalhadores. 
Em 1959 foram extintos os setores médicos e escolares. E junto com esta 
informação outros detalhes revelaram outros processos: 
1) termo adaptações ao trabalho, articulado às doenças e desajustes, permitindo 
captar a linha tradicional de reforço a submissão do trabalhador. 
 
2) rodízio dos assistentes sociais, reforçado por uma delegação de trabalho de 
atendimento de casos a irmãs de ordem religiosa, permite vislumbrar o pouco 
aprofundamento das questões e a pouca distinção entre trabalho profissional e o 
voluntário religioso. 
 
Na empresa privada, apesar de o Serviço Social ter sido implantado apenas em 
1985, ele também surge impregnado do caráter assistencialista e clientelista 
conservador, sobretudo na Administração central. O trabalho passa pelas diversas 
concepções quase ao mesmo tempo. 
 
O Serviço Social aí também tem se conservado como atividade operacional 
subalternizada como os trabalhadores a quem atende, incorporada a cultura 
paternalista. 
 
O trabalho dos assistentes sociais era assistemático, semelhante ao da fábrica. Foi 
destacado aí o papel de fiscal de condições dos recursos assistenciais, tal como a 
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verificação da limpeza de lençóis em hospitais, que adquiriria importância maior 
quando relacionado a pessoa recomendadas pelos dirigentes da empresa. 
 
Em seguida, no período desenvolvimentalista dos anos 1970, de maior expansão do 
emprego, sobretudo através da multiplicação das estatais, a assistência é utilizada 
como salário indireto, como diferencial compensatório, no contexto do denominado 
“milagre econômico”, com o objetivo de atrair, fixar e motivar a mão de obra, 
conforme mencionado entrevistado da estatal. 
 
O conjunto das atividades nas duas áreas correspondia ao atendimento 
convencional das demandas, diretas e indiretamente relacionadas à saúde: 
atendimento individual, com controle dos dados socioeconômicos por ocasião dos 
exames médicos preventivos, não utilizados para diagnósticos globais, estudos ou 
projetos. 
 
Todas essas atividades há muito relacionadas ao serviço social no campo do 
trabalho, tem condições de ser respondidas à luz dos parâmetros postos para a 
operacionalização da ruptura, na década de 1970 e 1980 (Freire, 1983). 
 
O interesse nas relações sociais, embora já trouxesse alguma influência da 
perspectiva da reconceituação, evidenciada na denominação transformação 
institucional, (apresenta como principal característica à abordagem sistemática de 
Lucena Dantas 9 1978). Assim, na denominada área de Relações Sociais, revela de 
modo totalmente funcionalista, a preocupação com o comportamento do 
trabalhador para com a organização e quanto às relações interpessoais harmônicas, 
buscando minimizar os sinais da desarmonia, considerados disfunções, descolados 
das relações sociais de produção. 
 
Neste período de modernização conservadora, na estatal, ocorre, nos anos 1970, a 
sistematização dos benefícios, administrada pelo Serviço Social a partir deste ano, 
segundo parâmetro predominantemente sociais, conforme o entrevistado, na linha 
modernizadora e na perspectiva de salário indireto assinalados. 
 
Nesta época, sob influência do citado Documento de Bertioga, houve um 
movimento no sentido de dividir a atuação do Serviço Social nesta empresa em 
duas áreas: Assistência e Relação Social. 
 
Não chegou a haver uma decisão sobre a divisão das áreas, exceto em São Paulo, 
ficando a organização a critério dos profissionais, uma vez que não havia uma 
orientação nacional. No Rio de Janeiro, a tendência era trabalhar com a 
problemática no seu sentido global, havendo divisão de responsabilidades por 
programas. 
 
Em relação à questão da saúde, a implantação do plano de assistência médica foi 
uma das mais importantes realizações (sob administração do Serviço Social, desse 
período até 1993). Ele é um produto de excelência do momento 
desenvolvimentista, inserido no denominado Estado de Bem-Estar Ocupacional. 
 
O primeiro – Serviço de Orientação Psicossocial – realizava atendimentos individuais 
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aos trabalhadores e seus familiares, com alguma inserção na questão do trabalho 
explicitada adiante. 
 
O segundo – Serviço de Orientação e Assessoria às Entidades – foi implantado para 
trabalhar, para que se tornassem independentes da empresa, podendo manter-se 
com os seus próprios recursos, no projeto denominado de despaternilização. 
 
O avanço consistia em relacionar os problemas singulares do trabalhador ao 
ambiente de trabalho e seus personagens, porém numa direção adaptativa e sem 
considerar o processo de produção capitalista. A preocupação com a saúde 
relacionada ao trabalho, no documento, é identificada com relativo avanço: 
orientação, análise e acompanhamento de Acidentes do Trabalho, participação em 
levantamento e pesquisas médico-sociais. 
 
Na empresa privada, a tendência modernizada, ainda remanescente no período em 
que o Serviço Social foi nela criado, convivia com a linha paternalista, sobretudo no 
trabalho da administração central. 
No ano de 1980, cresceu a ocupação dos espaços sociais pelo movimento 
sindical, relacionado ao aumento do emprego, passando os benefícios a inserir-
se nos acordos coletivos de trabalho, no sentido da ultrapassagem da natureza 
de liberdade. 
 
Esta tendência contraditoriamente, fragilizou a luta pelos direitos e políticas 
sociais públicas, conforme os estudos de I. C. Cardoso (1996) e de Mota (1989), pois 
as conquistas dos trabalhadores passaram a reger-se pelas normas privadas, 
inscritas nos acordos, que são de caráter temporários e restritos à categoriaprofissional. 
 
Na ex-estatal privatizada, em 1982, é perceptível a maior racionalização e atenção 
à questão, através de uma nova diretoria, a qual o Departamento de Assistência 
Social passou a reportar-se, no lugar da Diretoria Administrativa, posteriormente 
denominada Diretoria de Serviço Social. 
 
Na empresa privada, esta tendência coincidiu com as pressões do movimento 
sindical, que determinaram, em parte, a própria criação do Serviço Social. 
 
Nos anos de 1990, acrescentou-se ao espaço assistencial uma nova dimensão, 
consequente a sua aproximação do caráter de remuneração, conjugada às 
tendências de recompensa por desempenho, segundo as diretrizes da 
reestruturação produtiva. Entre estas, sobressai a diretriz de todas as demandas 
deveriam ter uma relação mais direta com a produção e sua identificação e 
atendimento constar da competência gerencial. 
 
Esta inflexão ocorreu concomitantemente à fragilização do movimento sindical, à 
redução de quadros e à fusão de setores, não por acaso. 
 
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De fato, ela representou um retrocesso social e de políticas assistenciais, ao 
submeter o critério de necessidade social e de política distributiva ao critério 
meritocrático, em função do comportamento produtivo e colaboracionista do 
trabalhador com a empresa. Esta política amplia-se, contraditoriamente, a partir 
de sua conquista como direito, quando perde, nas empresas, a dimensão pública. 
 
De modo, a meritocracia também passou a revelar a valorização segundo a posição 
hierárquica do trabalhador no processo produtivo, alimentando e ampliando a 
desigualdade, quando os de maior remuneração direta recebem maiores valores em 
benefícios e melhor padrão de atendimento. 
 
Estes serviços representam uma competição com a previdência privada, já 
existente sob a forma de Medicina de Grupo, como empresas ou cooperativas, a 
exemplo da Unimed, inicialmente mais voltada para os grandes contingentes de 
trabalhadores das empresas de grande porte. 
 
O volume de serviços com credenciamento direto foi crescendo progressivamente, 
devido à qualidade e individualização dos atendimentos, realizados em consultórios 
particulares, na maioria, com a vantagem do controle direto dos custos e qualidade 
pelas empresas inclusive através dos trabalhadores usuários. 
 
Na estatal, a meritocracia não é tão nítida como na empresa privada, devido à 
tradição social mais incorporada e à atuação forte do movimento sindical, porém 
tende à mesma direção, diante da perspectiva do comando da aplicação de todos 
os programas nos homens de negócios/gerentes, sendo todas as áreas envolvidas 
nessa concepção. 
 
Tal realidade é nítida nas palavras de um dos assistentes sociais da unidade 
produtiva investigada, que incorporou no seu trabalho essa lógica, na qual a 
necessidade passa a ser secundaria, frente ao mérito como trabalhador. 
 
O espaço conquistado pelo assistente social nessa empresa ainda se mantém, 
manifestando-se nos seguintes sinais: 
1) no deslocamento de um assistente social do serviço social da administração 
central (mantido temporariamente), para assumir a chefia dos benefícios nesse 
local; 
 
2) na participação desses profissionais no planejamento e normalização de suas 
políticas, direções e critérios, no órgão central de recursos humanos; 
 
3) no assessoramento aos gerentes das unidades de negócios nessa questão; 
 
4) no atendimento às situações especiais, através de estudos dos casos. 
 
Como o caráter contraditório é mantido e até mais evidente, ele pode ser utilizado 
na análise das situações, segundo a capacidade teórica, técnica e política do 
assistente social nele envolvido. 
 
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Segundo Freire, ainda no sentido favorável, tal oportunidade possibilita o 
desenvolvimento de processos de cogestão, através da organização de comissões, 
por exemplo, partindo da demanda aos serviços e benefícios. 
 
Entretanto, esta possibilidade de interação dos serviços e benefícios com os 
programas abrangentes é pouco visível nos espaços tradicionais da assistência, 
sobretudo nas décadas de 70 e 80. 
 
Esta tendência carrega também mais uma forma de apropriação do saber coletivo 
do assistente social sobre esta atividade, tornando-os mais facilmente substituíveis 
e os utilizando segundo critérios individualizados. 
 
Neste processo, ao se fazerem presentes na elaboração do plano denominado 
Saúde/Bem-Estar Integral da Unidade Operacional, os assistentes sociais colocaram 
os seus produtos, integrados aos demais da área. Sinalizando-os inclusive no título 
do plano, de acordo com todos os critérios do Prêmio Nacional de Qualidade (PNQ), 
que regem, na empresa, o programa TQC (Total Quality Control/Controle de 
Qualidade Total). 
 
Eles recuperam, assim, o seu espaço, através da importância dos seus produtos – de 
características valorizadas nas diretrizes do TQC – e da competência técnica do 
supervisor da área que, com a equipe, soube vendê-los no mercado interno, nessa 
primeira instância do planejamento. 
 
A lacuna mais gritante nesse plano consiste na ausência de assistentes sociais na 
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), mesmo nos levantamentos de 
riscos e nos programas de vigilância das condições de trabalho, por não ser 
prioritária a inclusão de assessoramento a CIPA. 
 
Esta descrição evidencia, de um lado, que a informatização reduziu a necessidade 
de pessoal administrativo e de Serviço Social, no que refere às tarefas 
burocráticas. De outro lado, porém, libertou o profissional para trabalhos mais 
nobres, organizou o atendimento por horário, evitando espera do usuário, garantiu 
o registro objetivo e organizou a memória (classificando dados em geral), 
assegurando uma base estruturada para análise e pesquisa. 
 
Na ex-estatal privatizada, a diferença maior localiza-se na redução da dimensão do 
próprio espaço profissional, visível principalmente a partir dos anos 1990, com 
ameaça iminente de extinção, na pesquisa (janeiro de 1997), superada 
posteriormente. 
 
Na empresa privada, no inicio de 1990, há uma expansão do serviço social em face 
da sua própria expansão e dos incentivos fiscais ampliados no governo Sarney, que 
estimularam a implantação de outros auxílios. Não possuindo o serviço social uma 
área própria nesta empresa, a ampliação provoca uma diversificação, inclusive na 
qualidade dos profissionais, assim como competição, com sua alocação em duas 
áreas: Benefícios e Saúde Ocupacional. Num momento posterior de reengenharia, 
em maio de 1995, a lotação dos assistentes sociais foi unificada na área de Saúde 
Ocupacional. 
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O grupo não chegou, porém a desenvolver-se, uma vez que uma segunda 
reestruturação, em outubro de 1995, provocou a demissão desses profissionais 
transferidos de área, que apresentavam uma dimensão de desempenho mais ampla. 
Assim, nessa empresa privada, mesmo com os vários incentivos fiscais, ampliados 
nos anos 90, com o aumento dos benefícios e do quadro de assistentes sociais, 
estes profissionais permaneceram numa posição subalternizada. 
 
Reforçado por três momentos mais favoráveis de expansão do Serviço Social, faltou 
segurança ao profissional que se relacionava mais de perto com o poder para 
defender o plano encaminhado. Esta hipótese envolve a mesma lógica que a 
apontada na estatal. Ela revela o confronto entre a política objetiva da instituição 
sobre o trabalho coletivo e a qualidade subjetiva do profissional vinculado ao 
poder, que foi escolhido em detrimento de outros, assim como o perfil do chefe 
que o escolheu, também selecionado por uma hierarquia. 
 
Há indícios, portanto, de que essas posições são determinadas pela imbricação de 
perfissubjetivos e sua seleção pela empresa, segundo políticas objetivas 
predefinidas. 
 
5. O Serviço Social com Grupos nas Organizações 
 
 
 
O trabalho com grupos nas empresas surge como alternativa ao atendimento 
individual, em função do caráter comum de algumas problemáticas, assim como do 
desenvolvimento das terapias grupais multidisciplinares. 
 
O processo grupal também é mantido nas formas coletivas institucionais e 
societárias, como comissões, conselhos e similares. A distinção é posta em função 
dos objetos diferenciados, especialmente quanto ao caráter não representativo da 
coletividade maior, pelos grupos homogêneos. 
Surgem dois programas que se destacaram e disseminaram pela maioria das 
empresas de grande porte que são os de alcoolismo (AA) e os de preparo para a 
aposentadoria (PPA). 
 
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Eles estão diretamente vinculados ao interesse empresarial. O primeiro surge 
diante de uma verdadeira avalanche de casos que se sucedem, relacionados à 
conjuntura externa e interna da relação do trabalhador com o trabalho e a própria 
vida, juntamente com a disseminação das drogas, numa proporção crescente. 
 
O segundo programa relaciona-se à demanda do enfrentamento do problema do 
envelhecimento da força de trabalho associado à questão do desenvolvimento de 
novas tecnologias poupadoras de mão de obra. 
 
A interdisciplinaridade desses programas nas empresas, sobretudo do primeiro, em 
função de sua relação com a parte orgânica, influencia o tratamento asséptico 
dado, tendendo o problema a ser considerado exclusivamente como doença, num 
sentido que exclui ou dilui fortemente a sua relação com o processo de trabalho e 
mais ainda com a própria situação societária determinante de restrições das opções 
de realização humana no sentido dado por Bourdieu (1979), sobre violência 
simbólica, já explicado. 
 
Na estatal, o programa de Dependência Química apresentou bons resultados, 
mensuráveis na redução do absenteísmo em 30%, tendo sido realizadas duas 
jornadas de dependência química na empresa, entre 1986 e 1989, conforme 
pesquisa de Freire. 
Quanto a PPA, “é um instrumento de escuta sobre os sentimentos dos 
funcionários sobre a empresa” e, ao mesmo tempo, traz um retorno com 
relação à sua imagem, tanto externa como interna, para os trabalhadores que 
permanecem. 
 
Se os argumentos são procedentes quanto ao espaço terapêutico fora da empresa, 
é discutível o fato de o acompanhamento posterior ser feito individualmente, não 
sendo perceptível uma racionalidade para isso, exceto no sentido de evitar o 
potencial político da discussão coletiva. 
 
Na unidade produtiva da estatal, o trabalho com grupos continua a ser realizado, 
porém somente no que se refere à peculiaridade do ambiente de trabalho 
confinado da extração da matéria-prima. Um assistente social coordena este 
programa, aplicando técnicas de dinâmica de grupo, no sentido de discutir as 
necessidades especificas da relação família – trabalhador – processo especial de 
trabalho. 
 
Na ex-estatal privatizada, o espaço de trabalho com grupo surgiu, pioneiramente, 
em 1977, a partir da intensificação da atuação do Serviço Social voltado para as 
relações sociais no trabalho. 
 
O programa compreende levantamento periódico de necessidades (dos empregados 
e familiares) através de questionários aplicados por amostragem, sendo analisados 
trimestralmente os conteúdos obtidos. Em encontros quinzenais, são realizadas 
reflexões sobre esses conteúdos, seguindo-se visita aos locais de trabalho. 
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Em 1993, após a privatização e reestruturação, quando do afastamento dos 
assistentes sociais de determinadas fábricas, este trabalho foi suspenso. Sob outra 
feição, de certo modo, ele foi refeito, através das reuniões diárias realizadas pelos 
supervisores e suas equipes de trabalho, como parte das novas estratégias de 
gestão. 
 
Outro espaço de trabalho com grupos foi constituído a partir de 1984, no hospital 
das empresas. Ele assumiu aí as características terapêuticas e se diluiu, em função 
da clientela diversificada, constituída de trabalhadores, familiares e população da 
cidade. O seu objetivo era o de trabalhar “a problemática médico social”, 
atingindo os setores de Unidade de terapia intensiva, pediatria, nefrologia, sendo 
os grupos, na maioria, orientados multidisciplinarmente por um assistente social e 
um psicólogo. 
 
É visível o retrocesso no conteúdo do trabalho com esses grupos, voltados 
predominantemente, para questões de interesse da empresa e de um hospital geral 
sem contemplar as relações de trabalho. Um fato que merece sérias reflexões são o 
da não inclusão das situações de acidentes e doenças profissionais no trabalho em 
grupo. 
 
Com a nova reestruturação, em 1997, na empresa, determinando a extinção do 
serviço social, que ficaria representado apenas por um assistente social no hospital, 
os atendimentos em grupo seriam suspensos ou terceirizados, segundo o critério de 
sua implicação nos custos da empresa, como no caso da dependência química e 
prevenção/tratamento do diabetes. 
 
Na empresa privada não existiriam trabalhos na abordagem grupal, até porque a 
ampliação do quadro dos assistentes sociais já se deu na segunda metade dos anos 
80, ou seja, no momento próximo as atuais estratégias da reestruturação 
produtiva. 
 
Os dados indicam, pois, que o espaço grupal nas duas empresas em que ocorreu é 
diferenciado, inclusive na temporalidade. Isto, de certo modo é reforçado pelo fato 
de não ter existido na empresa privada. A sua perda está relacionada, de um lado, 
a política dos profissionais, que não lutaram por esse espaço, mesmo quando 
acoplado ao treinamento, até pela ausência de um direcionamento mais político, 
quando realizado. 
 
De outro lado, há relação com o critério objetivo de custo/benefício para a 
empresa, o que demonstra mais uma vez, a direção econômica eliminando espaços 
sociais, paralelamente à pouca atenção dos assistentes sociais para incluir este 
fator nos seus projetos, de modo geral. 
 
6. O Trabalho Institucional, Societário e Comunitário 
nas Empresas 
 
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A principal diferença deste trabalho em relação ao realizado com grupos consiste 
no seu caráter não voltado para problemática dos sujeitos, mas para a análise da 
instituição, no sentido de promover mudanças em relação às condições de 
trabalho. Esta diferença exige processos internos de democracia direta e controle 
social, abrangentes a totalidade dos sujeitos inseridos no segmento sob análise - 
que pode ser um único setor ou toda a instituição - ou referentes a um objeto 
relevante para a instituição e seus integrantes, como saúde, os acidentes, a 
alimentação, as relações sociais, a organização e o processo de trabalho. 
 
Na empresa, ao mesmo tempo em que tal espaço expressa uma inflexão do 
objetivo de mudança do comportamento do trabalhador para o de mudança de 
condições da instituição, ele também se associa ao objetivo empresarial sobre 
modos de ser do trabalhador, enquanto são discutidas as suas necessidades e as 
possibilidades de mudança das condições. Portanto, esse trabalho, como principal 
determinante econômico, e do movimento sindical, como um processo realizável 
por assistentes sociais. 
 
Por outro lado, no contexto mundial e sob influência crítica, essas respostas 
também foram determinadas pela ação sindical, que cresce então com grande 
força, sobretudo na Itália, fortalecida pela aliança com intelectuais, com os quais 
foi desenvolvido o denominado Modelo Operário Italiano, desde o final dos anos 60. 
 
Embora no Brasil o movimento sindical estivesse subjugado, os técnicos nas 
empresas brasileiras desconheciamo movimento sindical internacional e nesse 
modelo alternativo, no contexto mundial existia uma relação entre as respostas na 
forma das novas estratégias funcionalistas do período e aquele movimento dos 
trabalhadores e intelectuais a eles vinculados. 
 
Nesse mesmo período, apesar da dominância dos modelos funcionais, desenvolve-se 
no serviço social latino-americano o movimento de reconceituação, que no Brasil se 
expressa através da proposta da Escola de Serviço Social da Universidade Católica 
de Minas Gerais para o trabalho com comunidades, denominado Método de Belo 
Horizonte ou BH. 
 
Só mais recente, no limiar dos anos 1990, há o rebatimento nas empresas da massa 
crítica mais consistente, gestada a partir da produção de Iamamoto de 1982. Este 
atraso relativo deve-se ao segundo momento da intenção de ruptura, caracterizado 
pelo denominado “marxismo acadêmico”, segundo Netto (ibid:269). 
 
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Esta tendência, vinculada ao politicismo do primeiro momento, abandona as 
práticas institucionais e rejeita, sobretudo o campo empresarial. 
 
A reestruturação produtiva nos anos 90 imprimiu características diferenciadas a 
esse espaço, que se insere no campo das atuais tecnologias de qualidade gerencial, 
de importância estratégica central, referente às relações sociais na produção. 
 
No Serviço Social, os anos 90 também trazem estudos críticos sobre essas 
estratégias, como o de Borges Amaral (1996). A qualidade total reatualiza, 
também, conforme a pesquisa de Amaral, os processos de despolitização, buscando 
homogeneizar os interesses, mas, contraditoriamente, acirrando o individualismo 
(estimulando através da competição e de prêmios meritocráticos). 
 
Nessa alteração que interfere no espaço profissional, cabe ressaltar ainda dois 
pontos principais. O primeiro é a articulação entre elas e o mercado externo de 
trabalho, afetado pela redução dos postos, gerando no comportamento de muitos 
profissionais uma outra referência maior que é a empregabilidade, termo 
recorrente em muitas das entrevistas. O segundo ponto consiste no ressurgimento, 
em caráter doutrinador, de concepções e práticas funcionalistas mistificadoras, de 
inspiração neoliberal, representando um retrocesso na evolução teórico-crítica 
alcançada pela profissão, na denominada “requalificação”. 
 
A sociologia apresenta influência de Parsons, que conceitua a organização como 
unidade social voltada para a consecução de metas específicas, e de Weber, nas 
características burocráticas, conforme Etzioni (1974:11), que os incorpora no seu 
estudo das organizações complexas. Lapassede considera que, de alguma maneira, 
Marx viu como a burocracia moderna pode nascer na fábrica, na empresa 
industrial. 
 
Em consequência segundo Freire, as instituições implicam relações de força e 
regime de imposição, ao mesmo tempo em que seu obscurecimento, em função da 
obtenção da legitimidade. Nesse sentido, ele propõe “a análise das contradições no 
quadro das organizações institucionais”, na qual devem ser caracterizados os 
agentes segundo as suas posições estratégicas, diante dos objetos da instituição, 
constituídos na ação institucional. 
 
Quanto à empresa capitalista ao mesmo tempo em que é uma determinada 
organização produtiva e uma determinada instituição econômica, sendo o objeto – 
transformado em produto – realizado através das relações sociais de mais-valia. 
Portanto, a dimensão de trabalho social mais abrangente dentro da empresa tem 
sido a da análise das suas condições como organização produtiva particular. 
Nesse sentido, o espaço institucional é considerado como uma dimensão da 
intervenção do Serviço Social, tendo em vista compreender e agir sobre 
problemáticas e estratégias que afetam as relações sociais e a qualidade de 
trabalho e de vida de todos os sujeitos trabalhadores e usuários da instituição, 
focos da ação profissional por excelência. 
 
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Um outro espaço, o de trabalho com comunidades, articulado ao institucional, 
surge principalmente em dois períodos: 
1) o inicial do processo industrial no Brasil, com a expansão industrial e processo de 
urbanização; 
 
2) mais recentemente, este espaço volta a constituir-se sob a forma intitulada de 
responsabilidade social, devido à atual tendência de articulação das empresas com 
os vizinhos, em função da imagem e dos parâmetros da “qualidade total”, bem 
como diante do crescimento do movimento ecológico, e também do movimento 
sindical junto aos fóruns locais de exercício da cidadania. 
 
O trabalho de maior ressonância surge, com o programa de Desenvolvimento Social, 
a partir de 1985, de iniciativa de um dos assistentes sociais da segunda geração. 
 
Esse trabalho apresenta direção e procedimento similares à proposta organizacional 
de Freire (1983), sendo ambos de iniciativa do assistente social e não da empresa. 
O trabalho de desenvolvimento Social era integrado por representantes das equipes 
das áreas onde era aplicado, que investigava, num processo de pesquisa/ação, as 
necessidades do trabalho e dos trabalhadores, apresentando propostas de 
melhoramento e acompanhando de suas medidas. O programa foi aperfeiçoado e 
aplicado em outras áreas até 1989. 
 
O trabalho seguinte foi feito com os denominados representantes de andar, 
encarregados da segurança dos diversos prédios da companhia. Seus objetivos eram 
analisar questões relativas ao ambiente físico e capacitá-los como representantes e 
intermediários entre o Serviço Social e os problemas pertinentes, para todas as 
áreas. 
 
Segundo Freire cada área passou a ter um interlocutor que repassava para o 
assistente social todas as informações de interesse dos trabalhadores. 
 
A partir daí, houve uma politização da CIPA, com chapas de representantes dos 
trabalhadores articuladas com o sindicato, existindo somente nesse espaço uma 
aliança entre este e o assistente social, a despeito deste representar formalmente 
o empregador. 
 
Essa aliança também evidencia a validade do potencial sociopolítico do espaço 
institucional, de exercício de cidadania e de análise crítica, percebido e estimulado 
por determinados assistentes sociais da Administração Central da estatal, situados 
na tendência de ruptura ou transição. 
 
A aliança tem sido desenvolvida, assim, em diferentes períodos, pelos profissionais 
de varias gerações. Desde que a CIPA foi criada em determinada empresa, há uma 
política no sentido de ter um assistente social ou um médico como representante 
do empregador. 
 
Nos anos 1990, na estatal, os programas institucionais representaram a 
institucionalização e redirecionamento, no padrão internacional dominante, das 
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estratégias já desenvolvidas pelos assistentes sociais. Os assistentes sociais dessa 
empresa, ao se anteciparem na adoção desse tipo de trabalho, demonstraram seu 
potencial e habilidade técnica, passando a coordenar muitos dos novos programas. 
 
Em complemento às transformações culturais, surgiram diversos programas nas 
empresas com participação dos seus assistentes sociais. Um deles coordenou um 
plano de revisão da função recursos humanos, como parte do processo de 
reestruturação produtiva da empresa. 
 
Nesse plano, foi revista a missão (termo mistificado, incorporado por assistentes 
sociais dessa estatal, para finalidade, razão de ser, utilizado nos trabalhos de viés 
neofuncionalista da época), assim como a política e diretrizes dessa função. 
 
As contradições diante dos polos necessidades do capital x necessidades do 
trabalho, na atual conjuntura, expressam ainda todo o desafio dos profissionais de 
Recursos Humanos, grupos e organizações de trabalhadores diante desse tipo de 
atividade,

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