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Resumo dos textos de políticas públicas

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Texto: A Recuperação do papel do Estado no Capitalismo Globalizado- Renato Boschi e Flavio Gáitan
· Perspectiva particular, centrada na ideia de capacidades estatais, isto é focalizar o Estado em termos de sua possibilidade de intervenção, considerando a atuação combinada das instituições políticas e dos agentes, entre os quais, decisores e burocracia pública. Neste contexto assumem relevância as coalizões de apoio, no que tange à sua habilidade de articular um projeto de nação num horizonte temporal determinado. 
· A recuperação do papel do Estado quanto a essas capacidades remete, portanto, à criação de burocracias eficientes em áreas específicas de formulação e implementação de políticas públicas	. 
· Projeto de desenvolvimento, resulta da crise sistêmica originada a partir do centro do capitalismo globalizado e de alterações na posição relativa de alguns países emergentes, com forte papel indutor da China. Entender a recomposição e o sucesso de determinados países em promover políticas de alçamento a patamares + elevados de desenvolvimento implica focalizar nas dimensões estratégicas das CAPACIDADES ESTATAIS:
I) Capacidades de cunho burocrático: Relativas à viabilização das estratégias postas em prática;
II) Capacidades específicas: Relativas ao reaparelhamento da matriz produtiva, por meio de políticas industriais, e à possibilidade de fazer o país avançar mediante uma visão sobre processos de inovação tecnológica, que requer também a consideração da sustentabilidade e recursos do meio ambiente como elementos centrais.
Parte 1 - Redefinição do conceito de Desenvolvimento.
· Desenvolvimento socioeconômico entendido como uma dinâmica de diversificação da estrutura produtiva, inovação e controle nacional sobre a economia e, ao mesmo tempo, geração de emprego, distribuição de renda e inclusão social, ou seja, um projeto de bem-estar ligado a direitos de cidadania.
· Nesse sentido, desenvolvimento se refere tanto aos aspectos qualitativos do processo de acumulação de capital e crescimento econômico quanto à proteção social, além da sustentabilidade, articulando metas de curto prazo a uma perspectiva de longo prazo por meio de uma preocupação com os recursos naturais e a proteção do meio ambiente. A política é um componente central nesta dinâmica, que não se esgota na consecução de crescimento econômico, tanto em termos de processos quanto em termos de instituições voltadas a estes objetivos. Assim entendido, desenvolvimento é um processo de ordem interno estreitamente ligado ao surgimento e à consolidação de Estados com capacidades de intervir na economia e na sociedade.
· Pressuposto de que vantagens institucionais estão fundamentalmente ligadas ao papel do Estado no sentido da geração de capacidades para formulação, implementação e, ao mesmo tempo, criação de coalizões de apoio para uma agenda de desenvolvimento.
· Países que políticas de DSE atingiram patamares mais elevados, supõe-se capacidade estatal, tanto de cunho burocrático quanto específicas.
· Outro eixo é a possibilidade de expansão para dentro, propiciada pela adoção de políticas de inclusão social com efeitos distributivos, que, por sua vez, altera o padrão de consumo.
· Coalizões de apoio: Projeto mais inclusivo, atendendo tanto aos setores de K quanto do L, seria fundamental para a formação de um PACTO SOCIAL. A definição de DSE como projeto de nação ganha legitimidade por meio de instituições democráticas. Novas arenas de negociação e participação constituiriam vantagens comparativas.
· Hall e Sockice(2011) apresentam dois tipos ideais de economias capitalistas: A)Economias coordenadas de mercado e B) Economias 	liberais de mercado. 
· Schmidt (2006) e Boschi(2011) introduzem a importância do Estado e suas instituições para a configuração de variedades de capitalismo ou modalidades de desenvolvimento.O ponto central desta literatura é precisamente que desempenhos diferenciados, competitividade e mesmo estratégias de “alcançamento” (catching up) são o resultado da combinação de distintas dimensões dos regimes produtivos e do ambiente institucional em que operam os atores econômicos e as firmas. Em outras palavras, processos endógenos têm impactos do ponto de vista da inserção externa dos países. Isto significa também que os arranjos produtivos internos são passíveis de mudanças que alteram a configuração das variedades de capitalismo, seja na direção de sistemas mais coordenados pelo mercado, seja na direção de sistemas de coordenação mais centralizada, com maior ou menor grau de atuação do Estado. 
· No caso dos países emergentes, o Estado constitui vetor decisivo na ruptura com padrões ineficientes, estruturas enrijecidas e ciclos viciosos de iniquidades, mediante efetiva instauração de um novo padrão de DSE.
· Análises comparativas das dinâmicas de expansão de mercados por meio de políticas proativas e a formação de coalizões de apoio no plano doméstico são dimensões centrais para o sucesso das estratégias mencionadas, principalmente em termos das articulações entre tais coalizões políticas e as arenas internacionais,com vistas a ocupar espaços competitivos no novo cenário.
· As INSTITUIÇÕES moldam as relações entre os atores , o modo de implementação de políticas e os resultados e o impacto destas. O fortalecimento da capacidade estatal se expressa tanto nas áreas estratégicas para uma agenda de desenvolvimento(políticas sociais, educação e formação técnica, investimento em ciência e tecnologia, capacidade de agenda internacional, política macroeconômica para o desenvolvimento) quanto na potencial habilidade para articular consensos em torno de uma agenda desenvolvimentista (articulação entre atores estratégicos, formação de coalizões de apoio, capacidade de lograr estabilidade de políticas).
· A associação entre capacidades estatais e reforço da democracia (Tilly, 2007) favorece, ademais, a produção de resultados negociados e mais consensuais, além de gerar credibilidade no sistema internacional, com impacto sobre o nível de investimentos estrangeiros no país. Instituições democráticas podem aumentar custos de transação, mas reduzem incertezas quanto a decisões erráticas. 
· O grau de atuação do Estado em áreas estratégicas e a sua capacidade de articular as demandas dos atores relevantes nos levam a chamar a atenção para a governabilidade democrática. O Banco Mundial define o conceito de governabilidade como um maior grau de cooperação e interação entre atores estatais e não estatais, nas redes de decisão público-privada, incluindo Estado, sociedade civil e mercado. Numa outra acepção, a governabilidade pode ser entendida como a criação de condições favoráveis para a ação do governo, constituindo parte de suas capacidades de gestão pública. Nesse sentido, a natureza das instituições políticas vai ter um forte impacto no desempenho econômico, na medida em que processos políticos transparentes e assegurados por regimes democráticos estáveis aumentam a credibilidade e a visão externa sobre os países. A governabilidade, em suma, relaciona-se com a solução de conflitos; expressa a necessidade de se implementarem políticas coerentes, eficientes e sustentáveis num ambiente democrático que requer a participação dos atores estratégicos na resolução dos problemas conjunturais e das estratégias de desenvolvimento.
Parte 2- Verificações de Pesquisa
· Celina Souza demonstrou que a qualidade da atuação das instituições estatais depende, em grande medida, da gestão de seus recursos – financeiros, humanos e tecnológicos – e da efetividade da sua ação, ou seja, dos benefícios para o público-alvo. A autora considera que, entre as instituições do Estado, a tarefa de formular e implementar políticas públicas, cabe principalmente aos governos, nos quais se articulam três instituições: o Executivo, a burocracia e a administração pública.
· Compara-se com Brasil e Argentina enfatizando que a construção de burocracias racionais foi a solução adotada por líderes políticos diante de situações de incerteza do ambiente político. A racionalidadepolítica que guiou os processos de burocratização dos dois países , apresentou resultados diferentes após seus respectivos processos de redemocratização.
· Para o caso específico do Brasil, a autora mostrou, utilizando um índice de qualidade da burocracia, que, mesmo sendo esta alta no seu conjunto, quando o índice é desagregado, algumas agências governamentais ainda apresentam deficiências, particularmente no sentido de assegurar a existência de uma burocracia profissional e estável. No caso da Argentina, com base em entrevistas, as respostas mostram que a redemocratização manteve um sistema burocrático que carece dos requisitos weberianos. Nesse sentido, os servidores argentinos são regidos por diversos regimes jurídicos, e a maioria é recrutada com base em laços pessoais ou partidários. A burocracia argentina também carece de regras e procedimentos capazes de diminuir incertezas, ficando mais submetida aos ciclos eleitorais.
· Eduardo Gomes investigou como a existência de instituições de representação extraparlamentares representariam uma expansão das capacidades estatais de interlocução entre o Estado e a sociedade civil, no sentido de possibilitar a formulação de novas políticas de desenvolvimento. Assim, o autor destaca que o contexto de uma discussão mais ampla sobre a reforma do Estado de bem-estar e de uma pressão por maior competitividade econômica foi acompanhado por um enfraquecimento das práticas de negociação corporativistas por uma série de razões, entre as quais, principalmente, a rigidez deste arcabouço no sentido de fazer face às novas demandas derivadas do surgimento de uma nova matriz social. 
Dimensões da agenda de desenvolvimento
I) Inovação 
· A posição relativa de um país ou região no sistema internacional está cada vez mais relacionada com a capacidade de gerar e ampliar o uso de tecnologia, entendida como um fator-chave para se alcançarem ganhos de competitividade, os quais, por sua vez, assegurariam uma maior presença nos mercados mundiais.
· Processos de DSE se basearam na massificação da difusão tecnológica como garantia de irreversibilidade do progresso social, isto é sugerido pelos modelos clássicos do século XIX (EUA,Inglaterra) quanto dos países asiáticos de industrialização recente. Diferentemente da América Latina que se baseou em exportação de matérias primas e industrias de matrizes estrangeiras, estes países investiram grandes somas em P&D, sistemas universitários	, renovação tecnológica e matrizes de aparato produtivo.
· Ana Célia Castro conclui que a existência de um consenso estruturado sobre que setores devem ser incentivados e promovidos pelo Estado empreendedor e sobre onde se situa a fronteira tecnológica nestes setores depende : i) da existência de uma retaguarda de instituições capazes de realizar estudos prospectivos (e retrospectivos) que efetivamente possam ser considerados no processo de tomada de decisões; ii) do exercício contínuo de prospectiva tecnológica, sujeito a processos periódicos de revisão; iii) da capacidade de ter em conta os conflitos de interesses, mas igualmente da capacidade de neutralizá-los quando da construção do consenso estruturado; iv) da possibilidade de contar com um sistema financeiro de inovação enraizado, mas efetivo.
· Duas condições parecem essenciais para a coordenação do processo de modernização dos países: visões de futuro estruturadas e capacidades estatais para implementá-las. Segundo a autora, não se trata de um contínuo de habilidades ou competências, mas de uma variedade de processos de tomada de decisão sobre estratégias de longo prazo e de coordenação na elaboração e na implementação de políticas tecnológicas. 
II) Políticas industriais
· DSE implica necessariamente em uma mudança na estrutura produtiva. lento. A diversificação da matriz produtiva requer a formulação e a implementação de políticas setoriais para as quais importa tanto o financiamento como uma estratégia claramente delimitada em relação ao setor rural, à indústria e ao setor de serviços. O neoliberalismo impôs a ideia de que não seriam necessárias políticas setoriais, vistas antes como nocivas, por se constituírem num foco de corrupção e rent-seeking. Para uma estratégia desenvolvimentista, ao contrário, estas políticas são imprescindíveis no sentido de se gerar competitividade.
· Para Ignácio Delgado a capacidade de inovar é ainda mais crucial para a sustentação do crescimento nos países que complementaram a transição rural-urbana, que acompanha o processo de industrialização. Segundo o autor, as transições concluídas sem a geração em seu curso de capacidade endógena de inovação podem acarretar perda de competitividade, no que tem sido denominada a armadilha da renda média. 
· O autor analisa também a importância da política macroeconômica, salientando que, no Brasil mais que na China e na Índia, é necessária a definição de políticas favoráveis ao investimento produtivo, capazes de contornar as armadilhas dos juros altos e do câmbio apreciado. Além disto, tal como na China e na Índia, o dilema fundamental seria desenvolver políticas que acentuem a capacidade de inovação dos agentes econômicos.
· Além do enfrentamento do dilema cambial e dos juros, seria preciso lidar com legados da trajetória desenvolvimentista que tendem a afetar de forma mais intensa que no passado a efetividade da política industrial, entre os quais a estrutura tributária brasileira, o forte peso das multinacionais na estrutura industrial que afeta o impacto das políticas de inovação, e, por certo, as deficiências na infraestrutura brasileira que constituem outro legado do velho desenvolvimentismo. Entretanto, este legou ao Brasil além de uma estrutura industrial diversificada e de um expressivo mercado interno, instituições que sobreviveram às reformas econômicas e que são relevantes ao DSE, como o BNDES e a Petrobras.
· Do ponto de vista institucional, o autor ressalta a necessidade de escolhas nos marcos de um projeto nacional envolvendo a criação de arenas permanentes de interação entre o setor privado e o público, de maneira tal a construir um consenso sobre políticas e as iniciativas a serem implementadas. Segundo o autor, este requisito não esteve presente no antigo período desenvolvimentista, o que impediu a criação de mecanismos para se gerarem compromissos e confianças mútuas. Uma implicação adicional da existência de mecanismos institucionais de coordenação é que estes favorecem a continuidade de políticas industriais dotadas de accountabillity e relativamente imunes a flutuações de ciclos políticos.
III) Infraestrutura
· Infraestrutura define-se como o conjunto de estruturas de engenharia e instalações, geralmente de vida úteis mais longas, que constituem a base sobre a qual se produz a prestação de serviços considerados necessários ao DSE de fins produtivos, políticos, sociais e pessoais. Ex:Eletricidade, telecomunicações, transportes, etc.
· Carlos Henrique Santana focaliza as políticas energéticas. Justifica-se devido ao papel que esses os preços desses insumos podem desempenhar para moderar as oscilações inflacionárias e os impactos das contas públicas. Essa indústria passou por um processo de desverticalização, ou seja, uma descentralização dos mecanismos decisórios da cadeia de produção, caracterizado pela privatização em um ou mais elos de geração, transmissão e distribuição.
· Autor ressalta a perda de capacidade estatal nas políticas energéticas a partir da década de 90. A escala e a intensidade desta redução de capacidade estariam relacionadas a limitações físicas de recursos, à dependência de trajetória das políticas que antecederam as reformas orientadas para o mercado, e à relação entre atores e instituições na conjuntura crítica da crise que desencadeou as reformas propriamente ditas em cada um dos países.
· A análise empreendida por Santana revela como estes dois países, Índia e China, atravessaram um ciclo de mais de trinta anos de planejamento centralmente organizado, tendo a infraestrutura energética se constituído num dos eixos cruciaisdeste processo. Índia e China são países que dependem de importação de insumos para a sua indústria de energia. Uma segunda característica abordada pelo autor remete à articulação institucional entre níveis de governo nesses países. Dessa forma, a descentralização, na China, teve como objetivo estimular as lideranças locais a desenvolverem uma política de investimento próprio na construção de usinas geradoras por meio de crédito oferecido pelos bancos públicos. 
· Por último, outra dimensão analisada pelo autor se refere aos modelos de financiamento. Enquanto no Brasil prevaleceria um modelo misto com predomínio dos bancos públicos e aportes fiscais, na Rússia prevaleceria também um modelo misto, mas com predomínio das empresas do setor. Por sua vez, na Índia, bem como na China, tenderia a prevalecer um modelo com predomínio dos bancos estatais canalizando a poupança doméstica.
IV) Proteção Social 
· Fundamental relevância para as atuais estratégias de desenvolvimento resgatar o tema da centralidade da política social, bem como da garantia de direitos do trabalho.
· Arnaldo Lanzara compara os sistemas de proteção social da Argentina, África do Sul e Brasil. O autor aponta como a recente retomada das estratégias de DSE social em ambiente democrático vem proporcionando a estes países uma nova conjuntura crítica, que apontaria para tendências de conversão do conflito distributivo em favor do eixo trabalho e proteção.
· O estudo de Lanzara demonstra, em particular, a importância da regulação pública do trabalho assalariado e da previdência social na estruturação de mercados de trabalho fortemente heterogêneos, que convivem com altos índices de informalidade. Apesar das limitações derivadas dos dilemas associados à abertura e ao incremento da competitividade, a análise demonstra que existiria uma considerável margem para o Estado replicar formas de proteção semelhantes àquelas que vigiam durante o chamado ciclo fordista de regulação do capitalismo, como ocorreu em países como Argentina e Brasil. Quanto à questão da redução da desigualdade, o estudo demonstra ser muito difícil haver uma saída para a pobreza sem que haja um compromisso mais explícito por parte do Estado quanto à criação de empregos estáveis e de qualidade.	
· A inclusão social pela via apenas do consumo se torna, como demonstrado pelo autor, extremamente frágil sem os suportes do trabalho estável e da proteção social.
· Renata Bichir afirma que um dos grandes desafios colocados no contexto atual aos países em DSE, refere-se à construção de capacidades de coordenação entre as instituições responsáveis pela área de desenvolvimento social e aquelas a cargo de outras políticas sociais, como educação, saúde, e geração de emprego e renda. A perspectiva de articulação intersetorial de programas e políticas envolve não somente o reconhecimento da multidimensionalidade da pobreza mas também a construção de capacidades – institucionais e políticas – para efetivar a intersetorialidade.
O Brasil coloca-se como um interessante caso para se pensar em possibilidades de articulação intersetorial e de integração da transferência de renda com outros circuitos, seja no mundo da inclusão produtiva – via mercado de trabalho, empreendedorismo e microcrédito –, seja no acesso qualificado a outras políticas sociais.
V) Inserção Internacional
· A internacionalização da matriz produtiva e todos os processos que acompanham a projeção internacional do país são também fundamentais na nova dinâmica de desenvolvimento.
· Não importa apenas a dinâmica no plano regional mas também, e principalmente, o impacto da atuação da China, seja como importadora de matérias-primas, seja como mercado produtor de manufaturados, sustentado pelo reduzido custo da mão de obra e baixas taxas cambiais. A relação com a China pode produzir, como sugerido nas análises recentes de Bresser-Pereira(2014), a chamada doença holandesa. Em última instância, esta significaria o risco de aprofundar a desindustrialização pela especialização da matriz produtiva em produtos primários. 
· Anna Jaguaribe defende que o processo de reformas e, em particular, a condução da política tecnológica e sua associação com a política industrial que teriam levado à criação de um paradigma de política técnico-industrial particular na China, produto das peculiaridades histórico-estruturais daquele país, da evolução política do seu processo de reformas e de um contexto internacional propício à internacionalização da economia. Na perspectiva da autora, o arcabouço institucional foi a chave para se consolidarem janelas de oportunidade. Assim, o sistema nacional de inovação que se constituiu a partir de 1985 teria alcançado uma coerência entre objetivos, interesses, metas, regras e constante revisão de instrumentos de política, de maneira tal a representar um modus operandi particular na relação entre Estado e mercado.
· Na experiência chinesa, o papel do Estado na política tecnológica teria assumido uma orientação estratégica voltada ao conhecimento, distinguindo-se das modalidades de políticas de fomento à inovação que se dão simplesmente por falhas de mercado. A política técnico-industrial na China se distinguiria também de outras experiências de catching up asiáticas pelo uso do investimento direto estrangeiro na reforma de setores industriais; pela particularidade do sistema financeiro, que privilegia as empresas de Estado; e pelo próprio processo de criação do mercado, o qual teria a singularidade de ser impulsionado pelo Estado.
· Do ponto de vista de lições para o caso brasileiro, poderíamos afirmar que o aspecto central destacado na análise de Jaguaribe teria a ver não apenas com a necessidade do estabelecimento de metas na política de inovação tecnológica mas também com a geração de uma matriz tecnológica própria, capaz de tornar o país competitivo no cenário internacional.
· Maria Antonieta Leopoldi mostra, de maneira particular, como a agenda brasileira das últimas décadas teve como objetivo a inserção do país na economia internacional mediante uma ação efetiva do Estado. Para tanto, o trabalho examina as iniciativas para a expansão do comércio exterior, a atração de empresas multinacionais estrangeiras para o país,bem como as políticas de suporte ao fortalecimento e à internacionalização de empresas multinacionais brasileiras, identificando as agências governamentais ligadas a este projeto de inserção internacional ativa e as arenas criadas para a integração entre burocracia, empresariado, trabalhadores, políticos, acadêmicos e consultores. O argumento da autora é que todos estes setores se vinculariam ao processo de inserção internacional do país, seja com a formação de coalizões de apoio que poderiam envolver diferentes arenas do Estado (como fóruns, câmaras empresariais e conselhos), seja por meio da própria articulação no âmbito do mercado. Uma das contribuições do texto é destacar que, na fase atual do capitalismo globalizado, o crescimento econômico depende da construção de uma agenda doméstica que se integre à agenda internacional. Para isso, seria fundamental entender que o desenvolvimento dependeria do fortalecimento das capacidades do Estado de atuar simultaneamente nos planos doméstico e internacional. 
· Num mundo caracterizado pela conformação e competição entre grandes blocos econômicos canalizando investimentos e comércio, a associação regional poderia ser um fator capaz de potencializar o desenvolvimento. 
· Fátima Anastasia e Luciana Las Casas examinam as capacidades estatais relacionadas à cooperação internacional bilateral entre Brasil e China e entre Brasil e África do Sul, nas áreas de comércio exterior e direitos humanos, partindo do pressuposto teórico de que as instituições políticas afetam o comportamento dos atores, a dinâmica de interação entre eles e os resultados do jogo. Utilizando a distinção apresentada por Acemoglu e Robinson (2012) entre instituições inclusivas e extrativas, as autoras formulam a hipótese de que, sob instituições inclusivas, esperar-se-ia encontrar capacidadesestatais associadas concomitantemente à contenção e à expansão do Estado, em consonância com a construção de um Estado comprometido com a promoção da liberdade e da prosperidade. A análise desenvolvida com base nestes conceitos aponta os diferentes tipos de capacidades estatais presentes nos três países. Na China, observa-se um contraste entre, de um lado, a alta capacidade administrativa e de implementação; e de outro, os deficit em suas capacidades legal, relacional e política. Na África do Sul e no Brasil, junto com a maior complexidade das redes de atores e agências construídas com vistas à concepção e à operacionalização da cooperação internacional nos dois temas, poder-se-ia constatar também maior desenvolvimento das capacidades legal, relacional e política.
· Um aspecto importante da análise é a constatação de que a presença de capacidades semelhantes(em tipo e em grau), no nível doméstico, contribui para o desenvolvimento da cooperação entre os Estados, no nível internacional.
Conclusão
· A discussão sobre as diferentes dimensões das capacidades estatais revela que o conceito de desenvolvimento no contexto atual é bastante complexo, sendo necessária uma articulação entre as capacidades do Estado nos planos doméstico e externo. Dessa forma, seria necessário ultrapassar uma longa tradição de industrialização voltada para o mercado interno, típica de economias fechadas, na qual o interesse no comércio exportador, para além da captação das divisas necessárias ao processo industrial, tinha menor peso. Afirmar que o processo de retomada do desenvolvimento com internacionalização da economia neste século se torna mais complexo não significa, contudo, desconsiderar a existência de janelas de oportunidade.
· Boschi e Gaitán admitem que a possibilidade de consolidar uma plataforma de desenvolvimentista apresenta relação direta com a formação de coalizões de apoio a um projeto desenvolvimentista nacional , capazes não apenas de formular e implementar uma agenda desenvolvimentista mas, também, de bloquear potenciais oposições de atores estratégicos com propostas alternativas.
· A eventual formulação de um projeto nacional de desenvolvimento, cada vez mais fundamental no capitalismo mundial em redefinição, depende estreitamente de coalizões de apoio domésticas que internalizem novas metas e visões comuns em favor de um projeto que agregue crescimento sustentado à distribuição de renda, ou seja, revertendo o ciclo vicioso do período neoliberal, em que o Estado tinha menor centralidade. 
· A importância das coalizões se expressa em 2 modalidades produtivas, de um lado, um caminho que privilegia o mercado interno por meio da incorporação das massas ao consumo, no qual as políticas salarial e social cumprem um papel central (Brasil, Argentina e Uruguai); e de outro, economias cuja opção pelo desenvolvimento baseia-se no mercado externo e, em consequência,os salários e o consumo interno têm um papel menor (México, Chile e Colômbia).
· Por seu turno, a centralidade das elites em perspectiva regional poderia se dar em termos da formação de coalizões de apoio que escapem da armadilha da adoção de medidas protecionistas, capazes de colocar em conflito algumas das mais importantes economias na região da América do Sul.
Texto: Capitalismo, Socialismo e Democracia- Joseph Schumpeter
Cáp 7: O processo de destruição criadora 
· Realidade Capitalista é desfavorável ao rendimento máximo de produção .
· Schumpeter adota uma noção ampla de inovação (que impulsiona a máquina capitalista), que abrange, entre outros, a criação de: (i) novos produtos; (ii) novos métodos de produção; (iii) novos métodos de transporte; (iv) novos mercados; (v) novas formas de organização industrial. Classifica as inovações entre estrutural (quando ocorre em um setor, mas possui transbordamento para outros) e incremental (pontual).
· Para Schumpeter, o centro da análise do capitalismo deveria estar no processo de “destruição criativa”, normalmente se vê o problema de como o capitalismo administra as estruturas, enquanto o problema é saber como ele as cria e destrói.
· As inovações são mutações industriais que revolucionam incessantemente a estrutura econômica a partir de dentro, destruindo o antigo e criando elementos novos. De forma mais simplificada, a destruição criadora significa que ainda que a inovação resulte na extinção de um setor inteiro da economia, ela criará outros em seu lugar (exemplo: charrete e carros). O processo de destruição criadora é o faz o capitalismo evoluir constantemente, obrigando as empresas a se adaptarem e renovarem com frequência. Os resultados da destruição criadora precisam ser analisados ao longo de um período de tempo.
· Todos os exemplos de estratégia econômica adquirem a sua verdadeira significação apenas em relação a esse processo e dentro da situação por ele criada. Necessitam ser observados no papel que desempenham na destruição criadora. 
· Para Schumpeter a questão da concorrência é CENTRAL. Em oposição as teorias clássica e neoclássica e continuando a visão de Marx, a concorrência schumpeteriana se insere em uma visão do sistema capitalista como dinâmico. 
· A evolução do sistema capitalista se dá a partir das inovações (sua introdução e difusão) constantes – a concorrência neste caso é via inovações, principalmente, não apenas via preços. O espaço econômico no qual as empresas operam tanto influencia a concorrência quanto é modificado por ela. 
· A inovação decorre de uma estratégia deliberada, ou seja, a concorrência não é passiva, condicionada pelo mercado ou pela estrutura, mas sim ativa, afetada e condicionada pelas estratégias das empresas individuais; a interação entre as estratégias das empresas (estratégias competitivas) e as estruturas de mercado preexistentes se afetam mutuamente. A inovação resulta da busca do empresário pelo lucro extraordinário (o lucro normal é o lucro zero), obtido a partir da diferenciação do produto.
· As inovações dos empresários são a força motriz do crescimento econômico sustentado a longo prazo, apesar de que poderia destruir empresas bem estabelecidas, reduzindo desta forma o monopólio do poder.
· Assim, a noção de concorrência de Schumpeter não é oposta à existência de monopólios: se a inovação é bem sucedida, ela resulta em uma situação de monopólio, que perdura enquanto aquela inovação não for difundida entre os demais produtores, podendo ser temporária ou não. É justamente a possibilidade de lucro extraordinário que impulsiona a busca do empresário por inovações constantes. Neste sentido, a existência de patentes e outros mecanismos que protejam (ao menos temporariamente) a empresa criadora da inovação da cópia (que leva à situação de lucro zero) é vital para manutenção dos incentivos aos empresários. 
· A concorrência implica o surgimento permanente e endógeno de diversidade no sistema econômico capitalista. Estes fatores contrapõem a teoria de Schumpeter à clássica e à neoclássica. A concorrência de Schumpeter tem aspecto ativo (busca pela criação de novas oportunidades lucrativas) e passivo (momento da cópia, da difusão da inovação, que é o momento da eliminação das diferenças). Além disso, há concorrência efetiva e a concorrência potencial, ambas impulsionam a busca por inovações
· Schumpeter quer demonstrar que a concorrência perfeita não é necessariamente o melhor sistema, ao contrário do que as teorias clássica e neoclássica afirmam. A firma do mercado competitivo acaba sendo inferior em termos de eficiência interna, já que não há estímulo à inovação que leva a mudanças na estrutura produtiva e de custo. A grande empresa é fundamental no progresso da economia, tendo papel principal na busca por inovações.
Capítulo 10: Menores oportunidades para o investimento
· Teorias das menores oportunidades para o Investimento suscita 3 problemas: 1°) Questão de sobrevivência do capitalismo. Uma vez que nada no mundo social pode ser aere perennius e desde que a ordem capitalista constitui essencialmente o quadro onde se desenrola um processo não apenaseconômico, mas de transformação social, não pode haver margem para muitas divergências sobre essa possibilidade; 2°) saber se as forças e mecanismos que explicam a teoria da desaparição das oportunidades de investimento são exatamente as que devem ser destacadas; 3°)Mesmo se as forças e mecanismos salientados na teoria dos investimentos minguantes forem, em si mesmos,suficientes para confirmar a presença, no processo capitalista, de uma tendência a longo prazo para o impasse final, não se segue necessariamente que as vicissitudes da última década sejam devidas a elas e — o que é importante para o nosso objetivo — que vicissitudes semelhantes devam consequentemente ser esperadas nos próximos 40 anos.
· Os fatores considerados capazes de justificar a previsão pessimista a respeito do rendimento do capitalismo em futuro próximo e apresentar sob luz negativa o êxito passado podem ser divididos em três grupos: 
i) Fatores ambientais: o sistema capitalista produz uma distribuição do poder político e uma atitude sócio-psicológica — expressada em política correspondente — que são hostis ao processo e que podem evoluir a ponto de finalmente impedir o funcionamento do motor capitalista.
ii) Próprio motor capitalista: o grande empreendimento moderno representa uma forma petrificada do capitalismo, na qual as práticas restritivas, a rigidez dos preços, a atenção exclusiva à conservação dos valores de capital existentes, e assim por diante, lhe são naturalmente inerentes. 
iii) Material que alimenta o motor capitalista: isto é, as oportunidades abertas aos novos empreendimentos e investimentos.
· As principais razões para justificar o ponto de vista de que as oportunidades para o investimento privado e empreendimentos estão minguando são as seguintes: saturação, população, novas terras, possibilidades tecnológicas e a circunstância de que grande parte das oportunidades de investimento existente se abre na esfera da inversão pública e não da privada. Schumpeter não concorda com isso.
· E, finalmente, é inegável também que a única coisa que podemos afirmar sem temor de erro é que o desaparecimento de oportunidades de investimento, consequência da evolução dos novos países — se é que na verdade estão desaparecendo — não cria necessariamente um vácuo que afetaria de maneira inevitável o ritmo de crescimento da produção total. Não temos, nada obstante, bases para afirmar que tais oportunidades serão substituídas por outras. Podemos apenas observar que dessas oportunidades outras surgirão naturalmente, seja nesses mesmos países seja em outros. Podemos ter certa confiança na habilidade do sistema capitalista em descobrir ou criar novas oportunidades, uma vez que está condicionado para obter justamente esse resultado. Tais considerações, no entanto, não invalidam a nossa opinião negativa a respeito das perspectivas do capitalismo. E, recordando as razões que nos levaram a tratar do assunto, o que dissemos acima deve ser suficiente.
· Argumentação semelhante aplica-se à opinião generalizada de que já foram alcançados os maiores progressos no desenvolvimento tecnológico e que resta fazer apenas descobertas de menor importância. Esta opinião, além de refletir a impressão formada durante e depois da crise mundial — quando uma aparente falta de grandes invenções constituía uma das características da grande depressão — exemplifica ainda melhor do que a noção do fechamento da fronteira um erro de interpretação tão comum aos economistas.
· A posse de um amplo conjunto de bens de capital que, através de sucessivas renovações, atinge à imortalidade econômica, deverá facilitar ainda mais o aumento da produção total.
· A outra variante é: os grandes surtos de atividade econômica que costumavam propagar os sintomas de prosperidade por todo o organismo econômico foram sempre vinculados à expansão das despesas dos produtores, as quais, por outro lado, dependiam da construção de novas fábricas e compra de equipamento. 
Cáp 11- A civilização do capitalismo
· Natureza coletiva e afetiva. Pela primeira, entende-se , o fato de que, em pequenos e indiferenciados, ou, pelo menos, não muito diferenciados grupos sociais, as ideias se impõem de maneira muito mais rigorosa sobre a mente individual do que nos agrupamentos grandes e complexos, e que as conclusões e decisões são tomadas por métodos que, para nosso objetivo, podem ser caracterizados como critério negativo. Teríamos aqui a indiferença pelo que chamamos de lógica e, sobretudo, pela regra que exclui as contradições. Pela segunda, referimos-nos ao uso de um conjunto de convicções que não está totalmente divorciado da experiência — nenhum expediente mágico pode sobreviver a uma sequência invariável de fracassos — mas que se insere, na sequência de fenômenos observados, de entidades e influências baseadas em fontes não empíricas.
· O pensamento, o comportamento racional e a civilização racionalista apresentam um lento, mas incessante movimento de expansão de um setor da vida social, no qual indivíduos ou grupos tentam enfrentar determinadas situações, procurando, em primeiro lugar, tirar delas o máximo proveito, mais ou menos — nunca inteiramente — de acordo com seus próprios conhecimentos; em segundo, de fazê-lo de acordo com as regras de coerência que chamamos de lógica, e terceiro, de agir de acordo com presunções que satisfaçam duas condições: que sejam mínimas em número e que cada uma delas possa ser expressada em termos de experiência potencial.
· O hábito de análise e comportamento racional nos fatos da vida diária torna-se tradicional, vira-se o processo contra a massa de ideias coletivas, criticando-as e, até certo ponto, racionalizando-as.
· A atitude racional presumivelmente impregnou-se na mente humana devido primariamente à necessidade econômica. É à vida econômica diária que nós, como raça, devemos o treinamento elementar no pensamento e comportamento racional. A lógica é derivada do tipo de decisão econômica ou, para usar uma incisiva frase própria, que o tipo econômico é a matriz da lógica.
· O capitalismo cria o racionalismo e acrescenta um novo gume, que se manifesta de duas maneiras interligadas: 
i) Exalta a unidade monetária que não foi em si mesma, criação capitalista transformando-a em unidade contábil, isto é, converte a unidade do dinheiro em instrumento de cálculos racionais de custo e de lucro, do qual o grande monumento é o sistema contábil de partidas dobradas. 
 Sendo primariamente um produto da evolução da racionalidade econômica, o cálculo do custo-lucro por sua vez reage sobre o racionalismo e, ao cristalizá-lo e defini-lo numericamente, dá um impulso poderoso à lógica do regime de livre iniciativa. E assim definido e quantificado para o setor econômico, esse ripo de lógica, atitude ou método inicia sua marcha vitoriosa, subjugando e racionalizando as filosofias e instrumentos do homem, suas práticas médicas, suas ideias sobre o universo, visão da vida, tudo, enfim, incluindo seus conceitos de beleza, justiça e aspirações espirituais.
· O novo capitalismo produziu não apenas a atitude mental da ciência moderna, que consiste em fazer certas perguntas e procurar respondê-las de certa maneira, mas também os homens e os meios. Ao subverter o meio feudal e perturbar a paz intelectual da casa senhorial e da aldeia (embora, evidentemente, sempre houvesse fartado motivos para discussões e desacordo entre os muros dos conventos), mas, especialmente, ao criar espaço social para uma nova classe que se fundamentava no êxito pessoal no campo econômico, :atraiu, por outro lado, para esse campo, as vontades fortes e as mentes de boa tempera. 
Somente depois de ter a empresa capitalista — de caráter comercial e financeiro a princípio, e passando, então, aos campos da mineração e indústria — expandido suas possibilidades, foi que a habilidade fora do comum e a ambição começaram a escolher o mundo dos negócios como um terceiro campo de atividade. 
· Segundo Schumpeter, o capitalismo foi a força propulsora da racionalização do comportamento humano.Não apenas a moderna fábrica mecanizada e o volume de sua produção, não apenas a moderna organização tecnológica e econômica, mas todos os aspectos e êxitos da civilização moderna são, direta ou indiretamente produto do processo capitalista.
· Não se pode alegar que o tempo pré capitalista eram diferentes, porque foi precisamente o capitalismo que produziu essa diferença
A transformação institucional em benefício das massas, não foi simplesmente um fardo imposto à sociedade capitalista, devido à necessidade inelutável de minorar a miséria crescente dos pobres, mas, sim, que, além de elevar o padrão de vida das massas, em virtude dos seus efeitos automáticos, o processo capitalista forneceu a essa legislação não só os meios, mas, principalmente, a vontade. O processo capitalista racionaliza o comportamento e as ideias e, ao fazê-lo, expulsa da nossa mente, juntamente com as crenças metafísicas, as ideias românticas e místicas. Dessa maneira, reformula não apenas os métodos empregados para a consecução de fins, mas os próprios fins. O pensamento livre, no sentido do materialismo monista, o laicismo e a aceitação pragmática do mundo, do lado de cá da sepultura, derivam-se do capitalismo, não realmente por necessidade lógica, mas como coisa natural. O racionalismo retira dos direitos de classe sua “aureola de prestígio”. Isto, por conseguinte, juntamente com o entusiasmo tipicamente capitalista pela eficiência e pelo serviço tão diferente do conjunto de ideias gera a vontade dentro da própria burguesia. O pacifismo e a moralidade internacional moderna são, não obstante, produtos do capitalismo.
Exemplos de combatividade capitalista não são, como afirma o marxismo, explicados exclusiva ou primariamente em termos de interesses ou situações de classes que, sistematicamente, engendram as guerras capitalistas de conquista. Segundo, que existe uma diferença entre fazer o que se considera comércio normal na vida, para qual o homem se prepara incessantemente, e em termos do qual define o êxito ou o fracasso, e fazer aquilo que não se encontra em seu campo, para o qual nem seu trabalho nem sua mentalidade estão preparados e cujo êxito importaria em aumentar o prestígio da menos burguesa de todas as profissões. Em terceiro, que essa diferença manifesta-se, seja no campo internacional, seja nos assuntos internos, contra o uso da força militar e a favor das soluções pacíficas, mesmo nos casos em que o saldo da vantagem pecuniária encontra-se claramente no lado militar, o que, nas circunstâncias modernas, nem sempre é provável. Na verdade, quanto mais basicamente capitalistas forem a estrutura e a atitude de uma nação, mais pacifista e mais inclinada a pensar no custo da guerra ela será.A teoria marxista de que o imperialismo é a última fase da evolução capitalista, por conseguinte, cai por terra inevitavelmente, mesmo quando se abstraem as objeções puramente econômicas.
Texto: O mercado auto -regulável e as mercadorias fictícias: Trabalho, Terra e Dinheiro – Karl Polanyi
· Inicialmente os mercados eram apenas acessórios da vida econômica. Com regra, o sistema econômico era absorvido pelo sistema social e, qualquer que fosse o princípio de comportamento predominante na economia, a presença do padrão de mercado sempre era compatível com ele. O mercado auto -regulável era desconhecido e a emergência da ideia de auto- regulação se constituiu em uma inversão completa da ideia de desenvolvimento.
· Uma economia de mercado é um sistema econômico controlado, regulado e dirigido apenas por mercados; a ordem na produção e distribuição dos bens é confiada a esse mecanismo auto- regulável. Uma economia desse tipo se origina da expectativa de que os seres humanos se comportem de maneira tal a atingir o máximo de ganhos monetários. Ela pressupõe mercados nos quais o fornecimento dos bens disponíveis (incluindo serviços) a um preço definido igualarão a demanda a esse mesmo preço. Pressupõe também a presença do dinheiro que funciona como poder de compra nas mãos de seus possuidores. A produção será, então controlada pelos preço, pois os lucros daqueles que dirigem a produção dependerão dos preços, pois estes formam rendimentos, e é com a ajuda desses rendimentos que os bens produzidos são distribuídos entre os membros da sociedade. Partindo desses pressupostos, a ordem na produção e na distribuição de bens é assegurada apenas pelos preços. 
· A auto- regulação significa que toda a produção é para a venda no mercado, e que todos os rendimentos derivam de tais vendas. Por conseguinte, há mercados para todos os componentes da indústria, não apenas para os bens (sempre incluído serviços), mas para trabalho, a terra e o dinheiro, sendo seus preços chamados, respectivamente, preços de mercadorias, salários, aluguel e juros. Os próprios termos indicam que os preços formam rendas: juros é o preço para o uso do dinheiro e constitui a renda daqueles que estão em posição de fornecê-lo. Aluguel é o preço para o uso da terra e constitui a renda daqueles que a fornecem. Salários são os preços para o uso da força de trabalho, que constitui a renda daqueles que a vendem. Finalmente, os preços das mercadorias contribuem para a renda daqueles que vendem seus serviços empresariais, sendo a renda chamada de lucro, na verdade, a diferença entre dois conjuntos de preços, o preço dos bens produzidos e seus custos, e o preço dos bens necessários para produzi-los. Se essas condições são preenchidas, todas as rendas derivarão das vendas no mercado, e as rendas serão apenas suficientes para comprar todos os bens produzidos.
· A formação de preços não será inibida por nada, e os rendimentos não poderão ser formados de outra maneira a não ser através das vendas. Não deve existir ainda,qualquer interferência no ajustamento dos preços às mudanças das condições do mercado, quer sejam preços de bens, trabalho, terra ou dinheiro. Assim, é preciso que existam não apenas mercados	para todos os elementos da indústria, como também não deve ser adotada qualquer medida ou política que possa influenciar a ação desses mercados. Nem o preço, nem a oferta, nem a demanda devem ser fixados ou regulados; só terão validades as políticas e as medidas que ajudem a assegurar a auto- regulação do mercado, criando condição para fazer do mercado o único organizador da esfera econômica. 
· No feudalismo, a terra e o trabalho formavam parte da própria organização social. No mercantilismo pensava o mercado de maneira exatamente contrária à economia de mercado, o que fica bem demonstrado pela amplitude da intervenção estatal na indústria.
· Um mercado auto- regulável exige no mínimo, a separação institucional da sociedade em esferas econômica e política.
· Uma economia de mercado deve compreender todos os componentes da indústria, incluindo trabalho, terra e dinheiro. (Numa economia de mercado, este último é também um elemento essencial da vida industrial, e a sua inclusão no mecanismo de mercado acarretou, como veremos adiante, consequências institucionais de grande alcance.) Acontece, porém, que o trabalho e a terra nada mais são do que os próprios seres humanos nos quais consistem todas as sociedades, e o ambiente natural no qual elas existem. Incluí-los no mecanismo de mercado significa subordinar a substância da própria sociedade às leis do mercado.
· Mercadorias podem ser entendidas como os objetos produzidos para a venda no mercado; por outro lado, os mercados são definidos empiricamente como contatos reais entre compradores e vendedores. Assim, cada componente da indústria aparece como algo produzido para a venda, pois só então pode estar sujeito ao mecanismo da oferta e procura, com a intermediação do preço. Isto significa que deve haver mercado para cada um dos elementos da indústria, que nesses mercados cada um desses elementos é organizado num grupo de oferta e procura. Esses mercados são numerosos e interligados constituem um Grande Mercado.
· Trabalho, terra e dinheiro são elementos essenciais da indústria. Eles também têm que ser organizados emmercados e, de fato, esses mercados formam uma parte absolutamente vital do sistema econômico. Todavia, o trabalho, a terra e o dinheiro obviamente não são mercadorias. O postulado de que tudo o que é comprado e vendido tem que ser produzido para venda é enfaticamente irreal no que diz respeito a eles.
· Polanyi afirma que trabalho terra e dinheiro não podem ser considerados mercadorias porque trabalho é apenas um outro nome para atividade humana que acompanha a própria vida que, por sua vez, não é produzida para venda mas por razões inteiramente diversas, e essa atividade não pode ser destacada do resto da vida, não pode ser armazenada ou mobilizada. Terra é apenas outro nome para a natureza, que não é produzida pelo homem. Finalmente, o dinheiro é apenas um símbolo do poder de compra e, como regra, ele não é produzido mas adquire vida através do mecanismo dos bancos e das finanças estatais. Nenhum deles é produzido para a venda.A descrição do trabalho, da terra e do dinheiro como mercadorias é inteiramente fictícia.
· Entretanto, é com a ajuda dessa ficção que são organizados os mercados reais de trabalho, terra e dinheiro. Esses elementos são, na verdade, comprados e vendidos no mercado; sua oferta e procura são magnitudes reais, e quaisquer medidas ou políticas que possam inibir a formação de tais mercados poriam em perigo, ipso facto, a auto-regulação do sistema. 
· A ficção da mercadoria, portanto, oferece um princípio de organização vital em relação à sociedade como um todo, afetando praticamente todas as suas instituições, nas formas mais variadas. Isto significa o princípio de acordo com o qual não se pode permitir qualquer entendimento ou comportamento que venha a impedir o funcionamento real do mecanismo de mercado nas linhas de ficção da mercadoria.
· Polanyi afirma que permitir que o mecanismo de mercado seja o único dirigente do destino dos seres humanos, resultaria no desmoronamento da sociedade. A “mercadoria” força de trabalho não pode ser impelida, usada indiscriminadamente ou até mesmo não utilizada, sem afetar também o indivíduo humano que é o único portador dessa mercadoria peculiar. Ao dispor da força de trabalho de um homem, o sistema disporia também, incidentalmente, da entidade física, psicológica e moral do "homem" ligado a essa etiqueta. Despojados da cobertura protetora das instituições culturais, os seres humanos sucumbiriam sob os efeitos do abandono social; morreriam vítimas de um agudo transtorno social, através do vício, da perversão, do crime e da fome.
· Os mercados de trabalho, terra e dinheiro são, sem dúvida, essenciais para uma economia de mercado. Entretanto, nenhuma sociedade suportaria os efeitos de um tal sistema de grosseiras ficções, mesmo por um período de tempo muito curto, a menos que a sua substância humana natural, assim como a sua organização de negócios, fosse protegida contra os assaltos desse moinho.
· Não foi o aparecimento da máquina em si mas a invenção de maquinarias e fábricas complicadas e, portanto, especializadas que mudou completamente a relação do mercador com a produção. Embora a nova organização produtiva tenha sido introduzida pelo mercador fato esse que determinou todo o curso da transformação , a utilização de maquinarias e fábricas especializadas implicou o desenvolvimento do sistema fabril e, com ele, ocorreu uma alteração decisiva na importância relativa do comércio e da indústria, em favor dessa última. 
· A produção industrial deixou de ser um acessório do comércio organizado pelo mercador como proposição de compra e venda; ela envolvia agora investimentos a longo prazo, com os riscos correspondentes, e a menos que a continuidade da produção fosse garantida, com certa margem de segurança, um tal risco não seria suportável. Quanto mais complicada se tornou a produção industrial, mais numerosos passaram a ser os elementos da indústria que exigiam garantia de fornecimento. Três deles eram de importância fundamental: o trabalho, a terra e o dinheiro. Numa sociedade comercial esse fornecimento só podia ser organizado de uma forma: tornando-os disponíveis à compra. Agora eles tinham que ser organizados para a venda no mercado , em outras palavras, como mercadorias.
· Em um sistema de mercado, os lucros só podem ser assegurados caso garanta-se a auto- regulação através de mercados competitivos interdependentes.
· Como o desenvolvimento do sistema fabril se organizara como parte de um processo de compra e venda, o trabalho, a terra e o dinheiro também tiveram que se transformar em mercadorias para manter a produção em andamento. É verdade que eles não puderam ser transformados em mercadorias reais, pois não eram produzidos para venda no mercado. Entretanto, a ficção de serem assim produzidos tonou-se o princípio organizador da sociedade. Dos três elementos, um se destaca mais: trabalho (mão-de-obra) é o termo técnico usado para os seres humanos na medida em que não são empregadores, mas empregados. Segue-se daí que a organização do trabalho mudaria simultaneamente com a organização do sistema de mercado. Entretanto, como a organização do trabalho é apenas outro termo para as formas de vida do povo comum, isto significa que o desenvolvimento do sistema de mercado seria acompanhado de uma mudança na organização da própria sociedade. 
· A história social do século XIX foi, assim, o resultado de um duplo movimento; a ampliação da organização do mercado em relação às mercadorias genuínas foi acompanhada pela sua restrição em relação às mercadorias fictícias. Enquanto, de um lado, os mercados se difundiam sobre toda a face do globo e a quantidade de bens envolvidos assumiu proporções inacreditáveis, de outro uma rede de medidas e políticas se integravam em poderosas instituições destinadas a cercear a ação do mercado relativa ao trabalho, à terra e ao dinheiro.
Texto: Construção do Estado Desenvolvimentista do século XXI: possibilidades e armadilhas- Peter Evans
· Os formuladores de política pública não podem ignorar o papel fundamental das instituições estatais na criação bem-sucedida do desenvolvimento. A ideia de Estado desenvolvimentista posiciona instituições públicas sólidas e competentes no centro da matriz desenvolvimentista.
· Uma abordagem “massificada” para a construção de Estados desenvolvimentistas do séc XXI,ou seja, supor um “modelo padronizado” para o problema, redundará em fracasso da mesma forma que fracassaram as receitas neoliberais padronizadas e massificadas para a construção de mercados eficientes. Somente terá êxito um processo criativo flexível de exploração e experimentação, que preste a devida atenção aos pontos de partida institucionais locais. 
· Três vertentes muito diferentes da teoria do desenvolvimento “de ponta” oferecem um substrato teórico para a concepção do Estado Desenvolvimentista. Os adeptos da “nova teoria do crescimento” usam evidências econométricas para sustentar o postulado de que o crescimento depende principalmente do capital humano e de ideias, além de instituições que incentivem a correta utilização desses recursos. Economistas “institucionalistas” estudam o desenvolvimento de longo prazo e empregam evidências históricas para basear argumentos sobre os efeitos deletérios da espoliação gerada por “instituições espoliativas”. Por último, tem-se a teoria da expansão de capacidades por Amartya Sen (1999) aprofundando o fundamento analítico e correlacionando efeitos globais ao bem-estar individual.
· O estado desenvolvimentista do século XXI precisa ser um estado “aprimorador da capacidade”. A expansão das capacidades da cidadania não é apenas um objetivo de “bem-estar”. Trata-se, sim, do fundamento inarredável para crescimento sustentável do PIB geral. A expansão da capacidade depende de um fornecimento eficiente de bens coletivos (sendo saúde e educação os mais essenciais). Sem um conhecimento preciso dos tipos de bens coletivos de que necessita e deseja a cidadania, os estados podem investir vastas quantidades de recursos sem, no entanto, conseguiremaprimorar a capacidade. Estruturas democráticas ativas é o substrato necessário para uma ação econômica eficaz.
Parte 1: Desenvolvimento e espoliação 
· Arrighi et al (2008) argumentam contra o estabelecido consenso existente entre marxistas e economistas tradicionais de que a espoliação dos trabalhadores e a transferência de bens resultantes para as mãos das elites capitalistas resulta em efetiva acumulação. Segundo Arrighi , tal espoliação tornou-se ao contrário , a fonte das grandes dificuldades de DSE em pelo menos alguns e possivelmente muitos países do hemisfério sul. Segundo esses autores a raiz do fracasso desenvolvimentista na África do Sul reside no processo histórico de espoliação que deixou a população africana sem terras suficientes para suportar a produção de subsistência em pequena escala.
· Seu argumento apresenta duas linhas especialmente importantes. Primeiro, eles sustentam que a espoliação dos africanos negros reduziu os recursos dos trabalhadores comuns, roubando-lhes a possibilidade de usar estratégias familiares híbridas urbano-rurais e complementarem suas rendas por meio da agricultura de subsistência. Em segundo lugar, e algo mais pertinente, eles se filiam a Hirsch (2005) dando ênfase aos efeitos nocivos que a “deterioração do acesso aos serviços públicos como educação, saúde e seguridade social para os africanos sob o regime do apartheid” (2005:182) e as dificuldades enfrentadas pelo regime do Congresso Nacional Africano para a retomada da prestação desses serviços coletivos.
· Comparando com a China, os autores seguem Hart(2002) no qual se sustenta a tese que as estratégias de DSE bem- sucedidas na China quanto em Taiwan, basearam-se na eliminação da espoliação. As reformas redistributivas que definiram as transformações agrárias foram marcadas por uma rápida e descentralizada acumulação industrial sem espoliação da terra. Para Arrighi et al., a vantagem desenvolvimentista da China “deve resultar de diferenças verificadas nos recursos, políticas e investimentos em transportes públicos, educacionais, de saúde e seguridade social”.
· Portanto, o argumento de que pesados investimentos no bem estar da população podem ser uma aposta desenvolvimentista mais segura do que as concessões ao capital.
· Para Arrighi, as barreiras que impedem a busca por tais possibilidades são mais de ordem política do que econômica. Eles destacam os sinais de "uma incipiente reversão histórica das condições de negociação comercial entre a produção industrial e aquela baseada em recursos naturais". O arrendamento de recursos poderia ser usado “para promover e gerar atividades capazes de reinventar o estado de bem-estar sobre bases que podem ser universalidades para a grande maioria da população”. E é assim que, a partir deste ponto de vista, os setores dependentes do conhecimento e não da manufatura podem até mesmo ser os mais promissores. 
· A materialização dessas promissoras econômicas, porém, depende de se evitar que tais recursos sejam desviados para finalidades menos produtivas do ponto de vista do desenvolvimento. Arrighi et al. têm plena consciência de que tais resultados podem ser simplesmente "apropriados pelo capital estrangeiro" ou "dilapidados na expansão de atividades de pouco valor econômico-social", ou ainda "usados para consolidar o estado de bem-estar exclusivo herdado do apartheid, em benefício de uma minoria multirracial".
· Du Toit principia rejeitando a ideia de que a África do Sul pode esperar alcançar o "bem estar de todos" simplesmente como um "subproduto do crescimento". Ao contrário, a autora sugere que a chave-mestra do crescimento é a ampliação das capacidades dos cidadãos comuns, o que se dá permitindo que façam contribuições produtivas e não sendo excluídos pelo desemprego. Sua análise daquilo que impede esse objetivo é quase idêntica àquela de Arrighi et al.: “acesso inadequado à saúde, educação, transporte, habitação, água, esgoto e eletricidade” (Du Toit 2008). Para a autora, “o desafio mais importante para os governos é fazer uma reengenharia e redirecionar as prioridades de execução orçamentária para longe das despesas operacionais e na direção dos investimentos em capital humano e no desenvolvimento sócio-econômico, o que resultará na melhoria dos níveis de produtividade, no aumento da capacidade de absorção de mão de obra da economia e no aumento do potencial de crescimento para assegurar um maior crescimento sustentável da produção e a divisão da renda”. Ressalta-se que nenhuma dessas análises extrai seus argumentos da teoria do crescimento endógeno, da abordagem institucionalista da teoria do crescimento ou da abordagem das capacidades de Sen.
Parte 2: As três vertentes da moderna teoria do desenvolvimento.
· Três correntes da atual teoria do DSE são particularmente importantes para a visão que inspira a construção de um Estado Desenvolvimentista para o séc XXI: i) A nova teoria do crescimento postulada por Lucas (1988) e Romer (1994); ii) abordagens institucionais ao DSE elaboradas por economistas como Acemoglu e Robinson (2006), Hoff e Stiglitz (2001) e Rodrik (1999);iii) a abordagem da capacidade para o DSE cujo precursor foi Amartya Sen (1981).
· A nova teoria do crescimento - Desde o trabalho seminal de Solow (1956), ficou claro que a combinação do capital físico e de uma maior participação de mão de obra não poderia responder pelos aumentos de produção. A nova teoria, pois, deslocou seu foco e passou a reconhecer o papel das ideias e do capital humano como chaves do crescimento. A ênfase nas ideias enquadra-se confortavelmente na abordagem das capacidades, visto que o cérebro humanos é o repositório do atual acervo de ideias, a principal interface entre as ideias e sua implementação e fonte de novas ideias.
· Além disso, a nova teoria do crescimento oferece uma perspectiva útil sobre a evolução contemporânea da estrutura do emprego. No final do século XX, o crescimento do mercado de trabalho deslocou-se para o setor de serviços. Em todo o mundo, tanto no hemisfério norte como no sul, o total de empregos industriais encolheu.A indústria, tradicionalmente considerada o melhor ambiente para se criar novos bons empregos, já não era capaz de representar esse papel, fosse nos hemisférios norte ou sul. Para a nova teoria do crescimento, isso faz todo sentido. O setor de serviços produz ideias e, de forma ainda mais clara, capacidades humanas. O maior bem estar depende do setor de serviços tornar-se não apenas uma fonte de novos empregos, mas além disso uma fonte de empregos bem remunerados que refletem a real produtividade dos trabalhadores desse setor. A centralidade dos serviços cria um novo conjunto de desafios para o estado desenvolvimentista, forçando-o a se concentrar nas pessoas e em suas habilidades, em vez de máquinas e seus donos.
· A “virada institucional” da teoria do desenvolvimento complementa a nova teoria do crescimento. Essa virada institucional enfatiza o papel crítico de expectativas normativas persistentes e compartilhadas, as “regras do jogo”, para se criar condições para a tomada de ações econômicas antecipativas. O conjunto de instituições sociais que favorece (ou deixa de favorecer) o investimento e a inovação “valem mais” do que tanto as dotações de recursos e o acúmulo de capital quando se trata de explicar as diferenças nacionais no crescimento da renda.
· Os resultados da busca por formas institucionais eficazes no quesito desenvolvimento alinha-se perfeitamente aos argumentos de Arrighi et al. (2008) e de Du Toit (2008). Os teóricos institucionalistas concordam que a espoliação, historicamente, tem sido prejudicial ao crescimento. “Instituições espoliadoras” que espoliam populações locais para delas cobrar alugueis em recursos de colônias, primeiramente para as metrópoles coloniais e depois para as elites locais, podem produzir benefícios inesperados a curto prazo, mas não geram crescimento de longo prazo. Acemoglu et al. (2002) sugere que o que é necessário, ao invés, é “um grupo de instituições que garantam a segurançados direitos de propriedade de uma ampla parcela representativa da sociedade”. A análise de Robinson da América Central, empreendida em associação com Jefrrey Nugent oferece uma boa ilustração histórica de como a garantia dos direitos de propriedade “de uma ampla parcela representativa da sociedade” favorece o crescimento.
· Quando as elites extrativistas monopolizam a terra e forçam o restante da população a assumir a condição de trabalhadores sem-terra, nem proprietários nem trabalhadores têm incentivos para investir no capital humano. O resultado é exatamente aquilo que seria previsto pela nova teoria do crescimento, a saber: menor dinamismo econômico e menores taxas gerais de crescimento econômico. 
· Mahoney (2002) destaca que a imposição da espoliação exige repressão, o que leva facilmente à hipertrofia dos membros repressores do aparato estatal.
· A origem da abordagem das capacidades reside na teoria da escolha social e na intersecção entre filosofia e economia, mais do que na análise história do tipo usado pelos institucionalistas, ou modelos do tipo sobre o qual repousa a nova teoria do crescimento. Essa abordagem é mais conhecida como uma declaração analiticamente poderosa do postulado de que o crescimento do PIB per capita não é um fim em si mesmo, senão um agente para a melhoria do bem-estar humano.Esta característica central é absolutamente crucial para a contribuição geral dessa abordagem para a teoria do desenvolvimento. Embora os teóricos do desenvolvimento convencional concordem em princípio que a renda é mediadora do bem-estar humano e não um fim em si mesma, não obstante quando a discussão assume foros normativos o crescimento da renda é tratado como meta, e a questão de saber se estratégias específicas para o crescimento da renda estão ou não ligadas à melhoria do bem estar fica de fora do debate. A abordagem das capacidades deixa claro que evitar a questão do bem-estar e sair da teoria do desenvolvimento é analiticamente insustentável.
· Primeiro, uma afinidade política com os institucionalistas decorre da insistência de Sen (1999) em que, se o desenvolvimento tem a ver com bem-estar e capacidades, então as estratégias de desenvolvimento e normativas não podem ser formuladas por tecnocratas, devendo surgir da deliberação pública democraticamente organizada. Os institucionalistas também enfatizam a importância dos processos decisórios democráticos. Rodrik, um dos mais proeminentes institucionalistas, argumenta (1999) que a democracia é vista como uma “meta-instituição” que promove “instituições de alta qualidade”, o que por sua vez promove o crescimento. Para Rodrik, é “útil pensar nas instituições político-participatórias como meta-instituições que invocam e agregam conhecimento local e portanto ajudam a construir instituições melhores".
· A abordagem das capacidades adere a esse pensamento, mas vai além dos institucionalistas. A democracia não é apenas um meio chave de se promover instituições economicamente eficazes. Ela também é o único meio, analiticamente justificável, de definir metas de desenvolvimento. A abordagem das capacidades identifica a “deliberação pública” como o único meio analiticamente justificável de se ordenar essas capacidades, colocando as instituições políticas e a sociedade civil no centro do processo de definição de metas desenvolvimentistas.
· Amartya Sen insiste que a expansão das capacidades humanas não é apenas o objetivo evidente do desenvolvimento, mas também a forma mais essencial de desenvolvimento. Nem todas as capacidades são pertinentes para o crescimento econômico, porém sem expansão das que são, crescimento rápido e sustentável é impossível. Enfatizar a expansão das capacidades como o principal motor do crescimento econômico encaixa-se tanto na ênfase que os novos teóricos do crescimento dispensam ao conhecimento e às habilidades materializados nas capacidades dos indivíduos (e nas redes que interligam esses indivíduos) como os principais insumos do crescimento, e a ênfase dos institucionalistas no papel principal de acertos institucionais que favorecem o investimento no capital humano. A abordagem das capacidades, no entanto, é mais insistente do que os novos teóricos na centralidade da provisão pública dos serviços amplificadores dessas capacidades. Sen argumenta que “apoiar a assistência pública no fornecimento de educação básica, instalações de saúde e outros bens públicos (ou semi-públicos)” faz sentido tanto em termos de eficiência como em termos de equidade.
· A convergência dessas três vertentes da teoria do desenvolvimento cria uma pauta clara para o estado desenvolvimentista do século XXI. Acelerar o crescimento econômico no século XXI reclama que haja uma expansão do acesso ao atual acervo de ideias, aumentando a efetiva utilização desse acervo e a geração de novas ideias adequadas para as circunstâncias particulares de cada país. Tudo isso depende da expansão das capacidades humanas.
· Para ser desenvolvimentista, um estado precisa desempenhar ao menos dois papéis gerais. Deverá incentivar a distribuição de direitos básicos que deem às pessoas incentivos para investir em suas próprias capacidades. E ao mesmo tempo, o Estado deve segundo Sen, oferecer “um programa de apoio social qualificado nos serviços de saúde, educação e em outras disposições sociais relevantes”. Além de ser instrumentos para consecução de metas sociais, o estado desenvolvimentista deve ser veículos para a assunção de escolhas sociais e para a definição de metas de desenvolvimento. É esta função que coloca efetiva participação no debate democrático no primeiro lugar da lista de capacidades que o estado desenvolvimentista deve incentivar.
Parte 3- Que lições tirar dos Estados Desenvolvimentistas do séc XX?
· Tigres asiáticos: Não apenas esses países aproveitaram aumentos de renda, eles também transformaram suas economias em sofisticadas combinações de agricultura e indústria altamente produtivas e, mais recentemente, serviços de alto valor agregado. Eles expandiram capacidades, elevando-se dramaticamente em termos do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do PNUD. Analistas concordam em sua maioria que uma das pedras angulares institucionais para essa transformação foi o estado.
· Evans destaca as duas capacidades do Estado desenvolvimentistas no séc XX: capacidade burocrática e “capacidade de formar parcerias”.
· As burocracias públicas do leste asiático aproximam-se muito do tipo ideal de burocracia weberiana. O recrutamento meritocrático para o serviço público e as carreiras públicas que oferecem recompensas de longo prazo proporcionais às do setor privado foram os fundamentos institucionais do milagre econômico verificado no leste asiático. Esse recrutamento foi importante não apenas para promover a competência, mas também para conferir ao funcionalismo estatal um senso de espírito de corpo e a crença no valor de sua profissão. As recompensas profissionais de longo prazo fundadas no desempenho evitaram a deserção de pessoas competentes do serviço público.
· Burocracias capazes e coesas são uma das chaves para conferir ao estado o nível de autonomia que este necessita na busca por um projeto nacional coerente, porém o sucesso do estado desenvolvimentista do século XX também deve ser definido pelo seu contexto sócio-político.
· Reformas agrárias marcantemente profundas, combinadas a um eficiente suporte estatal para a agricultura de base tanto na Coreia como em Taiwan, não apenas criaram uma positiva difusão dos direitos de propriedade sublinhados por Arrighi (2007), Hart (2002) e Nugent e Robinson (2001), como também pouparam o estado da função de lidar com o tipo de classe agrária economicamente poderosa e politicamente reacionária que arruinava os esforços em boa parte do hemisfério sul, deixando o estado livre para concentrar sua atenção nas elites industriais locais.A ausência de uma poderosa elite agrária deixou o capital industrial local sem qualquer aliado promissor, exceto o estado.
· A desnecessidade de confrontar uma poderosa classede senhores agrários e a posição de força inicial em relação aos capitalistas locais deram ao aparato estatal condições de orquestrar um projeto nacional de desenvolvimento concreto, fincado em um denso conjunto de vínculos interpessoais concretos que possibilitou a determinadas agências e empreendimentos construírem projetos conjuntos no nível setorial. Essa “participação” foi um elemento central do sucesso do estado desenvolvimentista do século XX como capacidade burocrática.
· Os agentes públicos, portanto, previram que teriam de evitar o sequestro político por parte de seus parceiros privados para manter o capital local orientado na direção de projetos nacionais de acumulação e não em seu consumo individual. Evitar esse sequestro e a capacidade de disciplinar as elites empresariais é um fator marcante da “autonomia parceira” dos estados desenvolvimentistas do leste asiático, o qual distingue-os de outros estados menos aptos da Ásia e da África. 
· Como enfatizado por Sen, o estado chinês também efetuou gigantescos investimentos gerais na expansão das capacidades de saúde e na educação, deitando os fundamentos para sua subsequente capacidade de explorar oportunidades industriais.A China ainda chegou ao final do séc XX com baixos níveis de espoliação. 
· A história ajudou essas vertentes a evitar a rota da espoliação e a guardar coerência com os mandamentos dos institucionalistas (e de Arrighi), apesar de sua política autoritária e pendor pela repressão. Essas teorias também foram as precursoras da expansão das capacidades. Os estados desenvolvimentistas do século XX também atentaram para as advertências da nova teoria do crescimento com muito mais cuidado do que sugere a narrativa aceita. A literatura sobre esses estados tende a destacar seu papel na promoção de investimentos nas unidades e equipamentos industriais necessários para expandir e aprimorar a produção manufatureira. No entanto, tais estados estavam não menos preocupados com a aceleração da produção local de ideias e com a expansão do acesso local ao acervo de ideias mundiais de então. A “política industrial” tanto da Coreia como de Taiwan nunca ficou restrita à outorga de subsídios para investimentos em fábricas e equipamentos. Ela sempre se preocupou em aumentar o acesso das firmas locais a ideias produtivas e criar redes e incentivos para incentivar os empreendedores a colocarem maior ênfase na produção de conhecimento novo. Além de descobrir maneiras de transplantar e explorar o acervo de conhecimento indiscutivelmente pertencente às companhias americanas e europeias, os tigres do leste asiático resistiram à campanha dessas mesmas companhias no sentido de fazer valer seu controle monopolista sobre os ativos intangíveis, o que levou a reclamos de “pirataria” por parte dessas empresas e à expansão do acesso de cidadãos do leste asiático às ideias produtivas.
· Estruturas de classe incomuns deram a tais estados maior autonomia e permitiram que suas competentes burocracias públicas construíssem formas de parceria coerentes com um projeto de transformação. Para serem bem sucedidos, os estados desenvolvimentistas do século XXI precisarão conceber planos de construção que se enquadrem em circunstâncias bem distintas.
Parte 4- Construindo o estado desenvolvimentista do séc XXI
· Se considerarmos a efetiva prestação de serviços destinados à expansão de capacidades como a pedra de toque para o desenvolvimento no século XXI, então os vínculos e as estruturas associados com essa prestação são um bom ponto de partida. Sem burocracias públicas coerentes e qualificadas, os serviços públicos destinados à expansão das capacidades não serão fornecidos. A construção de capacidades organizacionais comparáveis às vistas nos estados desenvolvimentistas do século XX é, portanto, crucial para o sucesso desses estados em sua versão seguinte. O estado desenvolvimentista do século XXI exige, ainda, novos tipos de capacidades. De maneira mais crucial, eles exigem a habilidade de promover uma forma mais abrangente de parceria. Para os estados desenvolvimentistas do século XX, as parcerias foram importantes, tanto como fontes de informação e por que a implementação de projetos dependia de atores privados.
· Para o estado desenvolvimentista preocupado na expansão de capacidades, a necessidade de informações e comprometimento de parceiros sociais é ainda maior, porém os interlocutores e o caráter das redes é algo ainda mais complicado. Sem a existência de múltiplos canais para obtenção de informações (quanto seus resultados correspondem à preferência coletiva), o estado desenvolvimentista terminará investindo de forma ineficiente e desperdiçando preciosos recursos públicos. No século XXI, o “desenvolvimento deliberativo” é a fundação de uma estratégia econômica eficiente e também de políticas públicas eficazes.
· O comprometimento dos atores sociais com a implementação é tão crucial para as estratégias de expansão de capacidades como recrutar as empresas o é para as estratégias industriais. Como bem enfatiza Ostrom (1996), os serviços que desenvolvem capacidades são sempre co-produzidos por seus “destinatários”. A educação é produzida em conjunto pelos estudantes (e por suas famílias). A saúde é produzida em conjunto pelos pacientes, suas famílias e por suas comunidades. O estado precisa de sua efetiva participação com vistas à prestação desses outros serviços, a fim de assegurar que os investimentos produzirão os efeitos desejados. As competências e capacidades organizacionais necessárias para se estimular esse tipo de comprometimento são mais complexas e de difícil gestação pelo fato de serem mais políticas do que tecnocráticas.
· Para criar vínculos efetivos entre estado e sociedade, o primeiro deve facilitar a organização de contrapartes na sociedade civil. Em suma, o maior desafio para a construção de uma parceria ainda mais abrangente é permitir às comunidades construir metas comuns uniformes, cuja implementação concreta pode ser “co-realizada” pelos órgãos públicos e pelas próprias comunidades. A importância central desse aspecto da parceria é o que faz do diálogo democrático uma condição tão crucial para o estado desenvolvimentista do século XXI. O argumento de Sen (1999) de que o debate democrático é a única forma de se definir adequadamente os fins econômicos desejados é deveras forte.
· O crescente poder do capital global e integração do capital local às redes de capitais transnacionais tornou a associação mais estreita com o capital mais arriscada e mais difícil para o estado desenvolvimentista. Nesse contexto, o sequestro do estado pelo capital é mais provável e mais difícil sustentar o equilíbrio essencial entre autonomia e parceria. Paralelamente, existe menor coincidência entre a pauta dos estados do século XXI com os projetos do capital voltados para a maximização dos lucros. A lógica do lucro privado é mais difícil de se aproveitar nos projetos de expansão de capacidades do que naqueles projetos em que a maior produção de bens tangíveis é o objetivo. Visto que os retornos sociais provenientes da expansão das capacidades humanas são significativamente maiores do que os retornos privados, os mercados privados investem coerente e permanentemente menos nessas capacidades. Ao contrário, os mercados canalizam investimentos para outras áreas em que o retorno total é menor mas onde o retorno privado parece ser mais alto. Isso é particularmente verdade no caso da mais fundamental das capacidades – a expansão dos serviços.
· No projeto desenvolvimentista voltado à produção do século XX, a simbiose entre lucratividade privada e um projeto comum nacional foi mais fácil de executar. Os projetos comuns em torno da industrialização dependiam da equalização da aversão privada ao risco e impulsão das perspectivas privadas na direção de um horizonte mais elástico, porém a eventual capacidade produtiva se enquadrou perfeitamente em uma lógica de mercado orientada pela lucratividade. A expansão das capacidades se enquadra com menos facilidade em um projeto comum

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