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CAPITALISMO INDUSTRIAL E QUESTAO SOCIAL unid 1 DE FEVEREIRO 2019

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Prévia do material em texto

Capitalismo Industrial, 
Questão Social e 
Serviço Social
Questão Social Contemporânea e Serviço Social
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Profa. Ms. Sônia Maria Menezes Martinho 
Revisão Textual:
Profa. Esp. Márcia Ota
5
Como veremos a seguir, é no contexto das sociedades urbano-industriais do século XIX 
que se pode identificar o que conhecemos por questão social contemporânea e também o 
surgimento do Serviço Social como profissão.
Nós, assistentes sociais, não somos historiadores, sendo nossa profissão chamada a intervir 
de maneira mais imediata nos problemas do nosso tempo. Isso não significa dizer que 
podemos prescindir de conhecimentos diversos no campo das humanidades para enxergar e 
enfrentar os problemas com os quais lidamos além da imediaticidade nos ensinou o filósofo 
e sociólogo francês do início do século XX, Henry Lefebrve: “para atingir o verdadeiro, é 
preciso penetrar além do imediato”.
Por isso, não deixe de realizar uma leitura atenta do Conteúdo Teórico e também de buscar 
os links e referências bibliográficas sugeridas. Procure participar ativamente dos fóruns de 
discussão, das atividades e acione o (a) professor(a) tutor(a) sempre que for necessário!
Nesta unidade de conhecimento, pretendemos demonstrar a importância 
do conhecimento da História como fonte para a compreensão das 
relações sociais, dos problemas sociais (cujo conjunto definimos como 
questão social) e, assim, do Serviço Social, que é uma profissão que 
deve, de alguma maneira, responder a esses problemas. 
Questão Social Contemporânea e 
Serviço Social
 · Introdução
 · Sécs. XVIII e XIX - o capitalismo industrial na 
Europa e a questão social. 
 · As primeiras formas de manifestação e de 
organização operária no Capitalismo Industrial
 · A Questão Social contemporânea: 
Rerum Novarum , Questão Operária
6
Unidade: Questão Social Contemporânea e Serviço Social
Contextualização
Wikimedia Commons
A gravura acima, retirada do site Café História (http://cafehistoria.ning.com/photo/londres-
e-paris-no-seculo-xix?context=featured), mostra um bairro operário na cidade de Londres 
do Século XIX, destacando elementos importantes que constituem a nascente questão social 
urbano industrial como a precariedade das condições de habitação e a densidade populacional. 
Neste período, muito se escreveu e falou sobre a multidão que começava a se formar nas 
cidades. Eram os operários que participavam em condições desumanas nas fábricas, produzindo 
a riqueza, a qual não tinham acesso, tendo que compartilhar condições precárias de habitação 
que geravam sérios problemas de saúde.
Além das condições de vida, era marcante a insatisfação com as condições de trabalho. A 
gravura abaixo, retirada do site http://hypescience.com/fotos-chocantes-revelam-o-triste-cotidiano-
do-trabalho-infantil-nos-eua-no-seculo-xx/), mostra umas das questões mais graves do processo 
de industrialização que é o emprego do trabalho infantil nas minas de carvão. Salienta-se que a 
extração do carvão era fundamental para a garantia do funcionamento das máquinas a vapor.
Wikimedia Commons
http://cafehistoria.ning.com/photo/londres-e-paris-no-seculo-xix?context=featured
http://cafehistoria.ning.com/photo/londres-e-paris-no-seculo-xix?context=featured
http://hypescience.com/fotos-chocantes-revelam-o-triste-cotidiano-do-trabalho-infantil-nos-eua-no-seculo-xx/
http://hypescience.com/fotos-chocantes-revelam-o-triste-cotidiano-do-trabalho-infantil-nos-eua-no-seculo-xx/
7
Com essa contextualização, podemos compreender como é possível chamar a questão social 
que surge no processo de industrialização de “questão social contemporânea”. Ainda que muitas 
mudanças tenham acontecido, em um processo extremamente desigual de desenvolvimento, 
tanto a melhoria das condições de habitação de amplos segmentos sociais, quanto a erradicação 
do trabalho infantil ainda são questões com as quais hoje nos debatemos!
O desenvolvimento desigual, aliás, é um dos grandes constrangimentos e desafios do capitalismo 
globalizado. Vejamos o que as imagens de duas capitais do século XXI podem nos dizer sobre isso:
Wikimedia Commons
A imagem acima, retirada do site (http://www.tremaeroporto.com/como-ir-do-aeroporto-de-
stansted-para-o-centro-de-londres/), mostra um moderno equipamento de transporte público 
numa das cidades mais sofisticadas do mundo: Londres, a capital da Inglaterra.
Abaixo, a foto retirada do site http://portugueseindependentnews.com/blog/category/paises/africa/
s-tome-e-principe/, mostra a precariedade nas condições de transporte das famílias trabalhadoras 
em São Tomé, Capital de São Tomé e Príncipe, republica africana, situada no Golfo da Guiné.
Reprodução de portugueseindependentnews.com
Com tantos recursos tecnológicos que nos aproximam do conhecimento e de melhores 
condições de vida, ainda convivemos com tantas fragilidades na capacidade de provisão de 
bens sociais básicos como saúde, educação e moradia de qualidade para grande parte da 
população mundial.
As imagens acima nos mostram algumas expressões das falhas e contradições que caracterizam 
nossa civilização e desafiam a todos nós. Por isso, os assistentes sociais, nas mais diversas políticas 
sociais e instituições em que se inserem, são também chamados a participar do enfrentamento 
desse desafio.
http://www.tremaeroporto.com/como-ir-do-aeroporto-de-stansted-para-o-centro-de-londres/
http://www.tremaeroporto.com/como-ir-do-aeroporto-de-stansted-para-o-centro-de-londres/
8
Unidade: Questão Social Contemporânea e Serviço Social
Introdução
Para compreendermos o significado Serviço Social, precisamos localizar as razões de seu 
surgimento na história. Nesta unidade, apresentaremos o contexto histórico, econômico e político 
de formação do conjunto específico de problemas que levarão ao surgimento da profissão nas 
sociedades urbano industriais contemporâneas.
Antes de apresentarmos uma análise acerca da questão social contemporânea e do surgimento 
do Serviço Social, é importante lembrarmos que toda análise é sempre fundamentada por 
categorias em um método específico de leitura da realidade.
 Os métodos de leitura da realidade histórica e social têm sempre um componente ideológico 
o que não os faz mais ou menos científicos, mas exige que suas proposições sejam coerentes e 
suas intenções transparentes.
As diretrizes metodológicas para o ensino do Serviço Social, em vigor no Brasil, estão 
fundamentadas em uma leitura crítico-dialética da realidade social. Assim, as categorias 
fundamentais do método crítico dialético: totalidade, historicidade e contradição, vão aparecer 
a todo tempo, ao longo deste texto, mostrando uma forma de se compreender a questão social 
contemporânea e o significado social da profissão dos assistentes sociais.
Vale salientar que a expressão questão social é uma forma que utilizamos para nos referir 
ao conjunto de problemas postos em dados modos de produção ou contextos históricos mais 
específicos. Então, é importante compreender que os problemas sociais não são imutáveis ou 
advindos de forças que estão fora das relações sociais: são os homens que, ao fazer a sua história, 
ao se relacionar entre si e com os outros homens, que - mais ou menos conscientemente- criam 
seus problemas. 
Desta maneira é que se alterando os modos de se produzir e viver, os valores, os costumes, as 
relações entre as classes, altera-se também a questão social. O mesmo ocorre se considerarmos 
que a diversidade é uma característica da humanidade: os problemas sociais se apresentam de 
diferentes formas em diferentes lugares: países, cidades, bairros. Como compreendê-los, então? 
Investigando a história e as relações sociais que nela vão se estabelecendo, caracterizando os 
homens em seu tempo, em seu espaço.
 Serviço Social, por sua vez, é uma profissão viva, dinâmica que vai sendo criada pela sociedade 
e também criando sua forma de ser no tecido da história. Essa história não é uma linha constituída 
por etapas evolutivas: é complexae contraditória, marcada por avanços e por retrocessos.
Além disso, a história é realizada por sujeitos individuais e coletivos, classes sociais, corporações 
profissionais, indivíduos sociais e é nas suas relações que vamos compreender a origem dos 
problemas sociais (questão social) e das respostas que a eles são dadas (o Serviço Social está 
entre essas respostas). A profissão não é, portanto, constituída por um modo de ser fixo, que não 
se modifica com a história, no tempo.
9
Sécs. XVIII e XIX - o capitalismo industrial na Europa e a 
questão social
“A marca da cisão, da ruptura, da fragmentação própria do sistema 
capitalista vai presentificando-se de forma cada vez mais nítida, à medida 
que avança o processo de consolidação do capitalismo. Realizando-se 
através de suas leis imanentes e invioláveis, prescreve-se uma marcha 
inexorável, arrastando em sua esteira a pauperização de extensa camada 
da população” (MARTINELLI, 2001:39)
Wikimedia Commons
A Revolução Industrial (Séc. XVIII/XIX- Europa) tem como cenários essenciais a cidade e a 
fábrica. A produção agrícola passa a se dar em função das necessidades de lucro das fábricas 
(dinamização do mercado, das trocas capitalistas) e sua mecanização crescente vai contribuindo 
para o êxodo rural. 
Esse êxodo permitiu a formação de um exército industrial de reserva1, garantindo a concorrência 
entre os trabalhadores e dificultando as condições de reprodução da classe trabalhadora.
O Capitalismo Industrial é um estágio do desenvolvimento do capitalismo2 , no qual, a indústria 
se torna a atividade econômica principal. Nesse modelo de produção, são elementos fundamentais: 
a produção em larga escala com vistas ao lucro, a divisão técnica do trabalho, a apropriação 
dos meios de produção por grupos privados, a separação entre aqueles que detêm os meios de 
produção e os que detêm a capacidade produtiva. O espaço privilegiado da produção é a fábrica. 
A fábrica vai se erguendo e se colocando como locus privilegiado da produção da riqueza, 
da modernidade. A cidade, por sua vez, vai explicitando na sua dinâmica a proximidade em 
riqueza e pobreza, entre as maravilhas produzidas pelas máquinas e a restrição do acesso a elas. 
Nos arredores das fábricas, por outro lado, vão surgindo os bairros operários e o primeiro 
tipo de sub-habitação próprio dos grandes centros urbano industriais: o cortiço. 
1 Para Karl Marx, o trabalho assalariado passa a ser a única propriedade com a qual contam os trabalhadores na sociedade. Esse trabalho, ao 
ser vendido para aquele que detém os meios de produção (no período aqui estudado, o dono da fábrica) passa a ser uma mercadoria e seu 
valor depende das suas condições de oferta. O exército industrial de reserva é exatamente uma população trabalhadora “sobrante”, que fica 
temporariamente fora do mercado, garantindo que o preço da força de trabalho mantenha-se baixo e, assim, o lucro final com a produção da 
mercadoria, mantenha-se alto.
2 O estágio industrial do capitalismo é resultante da acumulação, da concentração de riqueza que foi garantida nos estágios anteriores: 
capitalismo mercantil e concorrencial.
10
Unidade: Questão Social Contemporânea e Serviço Social
No contexto do capitalismo industrial nascente, a realidade da fábrica era hostil: capatazes 
tratavam de garantir a máxima produtividade dos trabalhadores que, em condições precárias, 
cumpriam longas jornadas de trabalho. O emprego intensivo do trabalho infantil era também 
uma expressão da exploração do trabalho, gerando indignação e provocando o movimento 
operário na sua luta por condições dignas de trabalho.
 A disciplina da fábrica, dada pelas necessidade da produção em tempo adequado para 
a circulação da mercadoria em um mercado competitivo, começa também a tomar conta da 
vida na cidade, e é fácil se encontrar nos registros dos historiadores e escritores do período, 
referências a esse “novo modo de viver”, muito diferente daquele conhecido anteriormente. O 
tempo livre é reduzido e os operários caminham solitariamente em grandes grupos. A solidão 
é reiteradamente destacada, como realidade dos indivíduos, em meio à multidão. As relações 
comunais, comunitárias vão sendo substituídas e vai nascendo o modo de ser e de viver que 
hoje conhecemos: baseado na família nuclear, na noção de individualidade, no trabalho livre, 
assalariado, contratual, nas relações de consumo, na mercantilização da vida social.
Lewis Hine/Wikimedia Commons
Voltando ao processo de constituição da fábrica e, em torno dela, da cidade, destaca-se que as 
condições de moradia, por sua vez, também eram marcadas pela precariedade: os trabalhadores 
eram obrigados a viver em precárias habitações coletivas (cortiços), próximas às fábricas.
Assim, é possível se compreender que os problemas de saúde pública começam a aparecer 
na cidade como problemas sociais importantes... Afinal, agora não há mais um fosso separado 
os castelos dos locais das moradias humildes: ricos e pobres dividem a mesma cidade em bairros 
próximos e os problemas de saúde advindos da precariedade da infraestrutura urbana nascente, 
também atinge a cidade como um todo, o comércio, a fábrica, as casas de classe média e as 
habitações das famílias mais abastadas.
O mais importante, para que se conheça além da aparência dos problemas dos grandes 
centros urbanos, é se identificar as relações sociais que sustentam e garantem a reprodução do 
modo de produção capitalista no seu estágio industrial. Essas relações são aquelas estabelecidas 
essencialmente, entre as chamadas classes fundamentais do capitalismo industrial: proletariado 
urbano e burguesia industrial. Foi a relação de compra e venda que se estabeleceu entre estes 
dois segmentos sociais que garantiu a existência, o desenvolvimento e a permanência não 
apenas da economia capitalista industrial, mas também de todo um modo de ser, de uma 
cultura, de um projeto civilizatório. 
11
Havia pobres e ricos, possuidores e despossuídos em outros modos de produção? Sim, escravos e 
cidadãos da antiguidade, servos e senhores feudais, foram, respectivamente, as classes fundamentais, 
dos modos de produção antigo e medieval e as tensões estabelecidas entre esses segmentos geravam 
os problemas próprios daquelas formas de ser e de viver, daqueles modos de produção. 
Mas cada unidade de opostos, ou seja, cada par de classes fundamentais que sustentam cada 
modo de vida, é marcado por peculiaridades distintas. Assim, a forma de se relacionar que se 
estabelece entre aqueles que detêm a propriedade privada dos meios de produção e os que 
contam apenas com sua força de trabalho para a produção da riqueza social, dirá muito sobre 
as tensões próprias da nossa sociedade, ou seja, definirá a questão social contemporânea.
As primeiras formas de manifestação e de organização operária 
no Capitalismo Industrial
A Questão Social que conhecemos hoje começou a se constituir a partir dos problemas 
advindos das condições de trabalho e de vida daqueles que passaram a vender (trabalho livre, 
assalariado) a sua força de trabalho.
Além disso, a gradual constituição de uma consciência crítica e de formas de organização política 
e de reivindicação de direitos desses trabalhadores, passaram a se compor como uma ameaça 
cada vez mais evidente ao projeto de desenvolvimento da burguesia industrial consolidada.
A percepção da desvalorização da força de trabalho viva, se expressou no início, na identificação 
da máquina como símbolo da opressão. Assim, os representantes do Movimento Luddita (um de 
seus líderes foi William Ludd) partiram para a destruição das máquinas no interior das fábricas, 
demonstrando a sua insatisfação em relação às condições de trabalho e de vida.
O cooperativismo, a sindicalização são as expressões mais evidentes dessa reação do 
trabalhador na Europa do Séc. XIX. Abaixo, segue o registro dos fundadores (trabalhadores da 
indústria têxtil) da Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale (Manchester, Inglaterra- 1844, 
primeira cooperativade crédito da qual se tem conhecimento.
sicoobgoias.com.br
12
Unidade: Questão Social Contemporânea e Serviço Social
Desta maneira, a consciência de si enquanto classe necessária, produtora da riqueza social e 
portadora de direitos no capitalismo foi se desenvolvendo no Século XIX, em meio a crises e a 
expansão das relações capitalistas de produção.
Na Inglaterra, acabou-se por formar o Sindicato Geral Nacional Consolidado que tinha como 
principal objetivo a luta salarial, demonstrando a clara percepção da relação entre valor do 
trabalho e riqueza social. É quando os trabalhadores percebem que fazem parte de um conjunto 
que sofre pela exploração intensiva no interior da fábrica, que não é compensado (salário) pelo 
esforço dispendido na produção da riqueza e que, ainda, é obrigado a viver em condições 
precárias. Com isso, a consciência da exploração, como algo muito objetivo, começa a aflorar 
e tomar forma de organização autônoma com vistas à reivindicação em torno de direitos e ao 
questionamento de todo um modo de ser.
Desta forma, com a passagem do Século XIX para o Século XX, ocorreu uma expansão da 
classe trabalhadora urbana, o que significou também para a burguesia possibilidades de ampliar 
as possibilidades de expansão do capital e também de acionar mecanismos de concorrência 
entre os trabalhadores, incrementando o exército industrial de reserva.
histgeo.hypotheses.org
Assim, não apenas as condições de vida dos trabalhadores, mas a sua percepção das 
injustiças sociais é que foram provocando algum tipo de reação da burguesia industrial que, a 
partir desta preocupação começa a conceituar a Questão Social como uma contingência, um 
mal ser enfrentado, contido, controlado, amenizado, dentro de um modelo de desenvolvimento 
econômico que alterna inexoravelmente momentos de crise e de prosperidade.
Nesse contexto, temos, de um lado, o movimento trabalhador organizado que se adensa e 
encontra suportes intelectuais e operacionais, buscando uma transformação radical da realidade.
Na Inglaterra do Século XIX, várias organizações sindicais foram se agregando em torno de 
uma luta fundamental que expressa a consciência de si como classe necessária; a luta por salários 
justos. Essa união de sindicatos ficou conhecida como Sindicato Geral Nacional Consolidado.
Amplamente conhecida também será a construção do pensamento socialista, do qual Karl 
Marx e Friederic Engels serão os principais representantes. A aliança entre o movimento operário 
e esses intelectuais objetivava a superação do poder e das desigualdades instituídas pelo 
capitalismo industrial. Desse modo, a obra de Marx é reconhecida como um esforço de análise 
crítica, de problematização profunda do capitalismo não apenas como sistema econômico, mas 
como projeto civilizatório.
13
A Questão Social contemporânea: Rerum Novarum , Questão Operária
A Questão Social contemporânea é produto, de um lado, dos problemas relativos às más 
condições de trabalho e de vida do proletariado e, de outro, da capacidade por parte desses 
setores, em reconhecer sua importância no processo produtivo e em organizar-se, questionando 
sua condição.
Da destruição das máquinas, passando pela organização em cooperativas e sindicatos 
e chegando a processos revolucionários3, ao final do século XIX, é possível se identificar o 
reconhecimento de si do operariado enquanto classe necessária e o questionamento da alienação 
no processo de produção da vida.
Essa consciência e os movimentos que dela derivaram começam a colocar sérios impedimentos 
à produção industrial e à dominação política da burguesia nascente. É da necessidade de se 
articular respostas aos problemas da fábrica e da cidade e às manifestações de descontentamento 
das classes trabalhadoras que, gradualmente, Estado, Igreja e empresariado foram formando 
uma aliança com vistas à produção respostas, vão institucionalizando4 a questão social.
Henri Félix Emmanuel Philippoteaux (1815–1884)/Wikimedia Commons
Em 1891, o então Papa Leão XIII publica a Carta Encíclica Rerum Novarum5 (que significa, 
em latim, Das Coisas Novas) e pelo teor de suas reflexões e recomendações apresenta-se como 
uma proposta para a ação social e política no contexto do desenvolvimento e da consolidação 
das relações sociais capitalistas. 
A ideia central da encíclica Rerum Novarum era a de constituição de uma terceira via que 
fosse capaz de minimizar os impactos causados pelo progresso e pela ganância (dos patrões) 
e, ao mesmo tempo, de barrar as “ideologias exóticas” causadas pela cobiça da propriedade 
(dos trabalhadores). 
3 Na Europa, o movimento revolucionário que ficou mais conhecido é a Comuna de Paris, que se pode conhecer melhor acessando 
https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/c/comuna_paris.htm
4 Ao reconhecer as questões relacionadas à saúde, habitação, alimentação, entre outras, como questões a serem enfrentadas por meio 
de ações sistemáticas, gradualmente vai ocorrendo uma institucionalização da questão social.
5 Para acesso ao texto integral da Carta Encíclica Rerum Novarum: http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/marcos/edh_enciclica_
rerum_novarum.pdf
https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/c/comuna_paris.htm
http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/marcos/edh_enciclica_rerum_novarum.pdf
http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/marcos/edh_enciclica_rerum_novarum.pdf
14
Unidade: Questão Social Contemporânea e Serviço Social
No texto da carta papal, fica clara a intenção de se naturalizar a desigualdade de classes 
e também a de valorizar todo o tipo de ação voltada para a sua minimização. Claro está que 
a maior preocupação é a de enquadramentos da massa trabalhadora que, insatisfeita e na 
sua organização autônoma, demonstrava capacidade de questionar e contestar os destinos da 
riqueza que é fruto de seu suor.
A valorização do trabalho duro para os trabalhadores e da defesa da propriedade para 
os patrões (que é vista como resultado de uma superioridade natural), são elementos que 
demonstram a função ideológica que teve o pensamento social da Igreja no contexto da 
consolidação do capitalismo industrial. É também uma expressão clara da necessidade das 
classes dominantes em responder de alguma maneira aos problemas próprios das relações entre 
empregados e patrões no interior das fábricas e na cidade.
Vejamos alguns trechos da Rerum Novarum:
“Efectivamente, os progressos incessantes da indústria, os novos caminhos em 
que entraram as artes, a alteração das relações entre os operários e os patrões, 
a influência da riqueza nas mãos dum pequeno número ao lado da indigência 
da multidão, a opinião enfim mais avantajada que os operários formam de si 
mesmos e a sua união mais compacta, tudo isto, sem falar da corrupção dos 
costumes, deu em resultado final um temível conflito.”
No trecho acima, podemos verificar a preocupação com os rebatimentos do progresso, as 
relações patrões e empregados, a desigualdade e a “opinião mais avantajada que os operários 
fazem de si mesmo e a sua união mais compacta”. Fica claro que a maior preocupação é 
a de que a classe trabalhadora se organize e crie obstáculos verdadeiros ao desenvolvimento do 
capitalismo. Ao final do trecho, refere-se à corrupção dos costumes como a origem dos conflitos, 
deslocando-se da arena do trabalho para o campo da moral, a questão social.
“A usura voraz veio agravar ainda mais o mal. Condenada muitas vezes pelo 
julgamento da Igreja, não tem deixado de ser praticada sob outra forma por 
homens ávidos de ganância, e de insaciável ambição”
Se o primeiro trecho apresentado refere-se a equívocos da classe trabalhadora, no trecho 
acima a crítica recai sobre a “usura voraz” dos patrões que, gananciosos, são vistos também 
como responsáveis pelos conflitos sociais da modernidade.
Outra imagem importante que aparece na Encíclica é a que a sociedade é como um corpo: 
constituída de cabeça e membros e que precisa que todas as suas partes funcionem em 
harmonia, para que sejasaudável. A cabeça corresponderia ao segmentos social “naturalmente 
talhado” para planejar, pensar, liderar. Os membros corresponderiam aquele segmento cuja 
realização se dá enquanto suporte físico da sociedade: os trabalhadores, que com seus braços 
constroem as casas, colhem os alimentos. Sem a cabeça (lideres, elite) o corpo (trabalhadores) 
não funcionaria bem. A separação entre o pensar e o fazer, própria da divisão social do trabalho 
nas sociedades capitalistas é reproduzida na encíclica Rerum Novarum, com o objetivo de 
promover a conciliação entre as classes.
15
Identificando, assim, a questão social como resultante de exageros de ambos os lados e de 
problemas de ordem moral, a mensagem do Papa Leão XIII contribui para a mistificação de 
uma realidade econômica e política que é da dominação material (proprietários dos meios de 
produção e portadores da mercadoria força de trabalho) e ideológica6 .
A Questão Social, sendo resultante das relações entre as classes fundamentais do capitalismo 
para a produção da vida material, é gestada no âmbito das relações de trabalho e se expressa 
em todas as dimensões e aspectos da vida social. A separação entre aquele que produz (força 
de trabalho) e os meios necessários à produção (propriedade que é tornada individual, pela 
burguesia) é que constitui a alienação no capitalismo. A apropriação privada da natureza e sua 
utilização com vistas, principalmente, ao lucro particular é elemento constitutivo da alienação 
própria do capitalismo. 
A consciência de que a riqueza socialmente produzida não é aquela, a qual a maior parte 
daqueles que a produziram têm acesso; é um componente importante da consciência da 
alienação, da separação entre meios e fins, entre trabalho e produto do trabalho. 
Essas relações sociais que se tornam relações de compra e venda (da força de trabalho, 
que é localizada como meio de produção) faz com que essas relações entre pessoas apareçam 
como relações entre coisas, relações coisificadas, reificadas. É assim que as desigualdades 
entre iguais vão aparecendo como naturais e não como um produto de um processo histórico 
de dominação. 
A filósofa brasileira Marilena Chauí define assim esta mistificação pela via da 
naturalização de fatos que são socialmente explicáveis: A naturalização surge sob a forma 
de ideias que afirmam que as coisas são como são porque é natural que assim sejam. As 
relações sociais passam, portanto, a ser vistas como naturais, existentes em si e por si, e 
não como resultados da ação humana. A naturalização é a maneira pela qual as ideias 
produzem alienação social, isto é, a sociedade surge como uma força natural estranha e 
poderosa, que faz com que tudo seja necessariamente como é. Senhores por natureza, 
escravos por natureza, cidadãos por natureza, proprietários por natureza, assalariados por 
natureza, etc... (CHAUI, 2000: 216).
Sendo assim, é importante duvidarmos sempre da realidade7 que se coloca para nós na 
imediaticidade, na superficialidade do dia a dia. Afinal, o preconceito e a naturalização não 
nos permitem compreender os processos, a articulação entre os fatos que vão definindo uma 
dada realidade. Não nos é possível apurar os porquês que explicam dados comportamentos, 
situações, realidades. É só lutando para superar os preconceitos que estamos começando a 
caminhar nos trilhos da ultrapassagem real, e não apenas ideal, dos problemas sociais. É apenas 
compreendendo como a história pessoal e a história social se articulam, que estamos aptos para 
desvendar as relações sociais, humanas. 
6 Esta dominação no modo de ser e de enxergar a realidade faz com que numa sociedade dividida em classes sociais antagônicas, e 
que vivem na forma da luta de classes, uma imagem que permite a unificação e a identificação social – uma língua, uma religião, uma raça, 
uma nação, uma pátria, um Estado, uma humanidade, mesmos costumes (CHAUI, 200: 215)
7 Duvidar é fundamental para se teorizar (refletir, pensar, buscar as causas, os nexos entre um processo e outro) e teorizar, por sua ver, 
é importante para que se aproprie da realidade e se imprima mudanças nela. Se entendemos que nos cabe apenas repetir ações já concebidas, 
para que nos serve refletir, teorizar, duvidar?
16
Unidade: Questão Social Contemporânea e Serviço Social
Glossário
Questao Social: conjunto dos problemas colocados nas sociedades de classe que têm sua 
origem no processo de alienação que marca as relações fundamentais para a produção das 
necessidades básicas.
Na próxima unidade, abordaremos em especial uma entre outras tantas respostas que as 
classes dominantes (na sua aliança com o Estado e a Igreja) criaram para o enfrentamento 
das “Coisas Novas” ou da “Questão Operária” ou da “Questão Social”: O Serviço Social, a 
profissão dos assistentes sociais.
17
Material Complementar
BRESCIANI, M.S.M. Londres e Paria no Século XIX: espetáculo da pobreza. 8ª Ed. São 
Paulo, Brasiliense, 1994
CHAUI, M. Filosofia. Ed. Ática, São Paulo, ano 2000
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Unidade: Questão Social Contemporânea e Serviço Social
Referências
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MANRIQUE CASTRO, M. História do Serviço Social na América Latina. 6. ed. São 
Paulo: Cortez, 2003.
MARTINELLI, M. L. Serviço Social: Identidade e Alienação.12. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
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Anotações
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