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DESEMPENHO DE ARGAMASSAS FABRICADAS COM INCORPORAÇÃO DE MATERIAIS FINOS PROVENIENTES DA TRITURAÇÃO DE PNEUS DIOGO ANDRÉ GOMES PEDRO DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CONSTRUÇÃO JÚRI: Presidente: Prof. Doutor Augusto Martins Gomes Orientador: Prof. Doutor Jorge Manuel Caliço Lopes de Brito Co-orientadora: Doutora Maria do Rosário da Silva Veiga Vogal: Doutora Paulina Rodrigues Setembro 2011 i Resumo Actualmente, o sector da construção consciente da importância da questão ambiental tem procurado encontrar soluções que consigam aliar ao crescimento económico a preservação do património natural. Os resíduos, nomeadamente os pneus, que constituem uma fonte de poluição são exemplo de uma das áreas em que este sector tem dado um contributo. Desta forma, tem-se vindo a utilizar nas obras de engenharia civil agregados de borracha reciclada, nomeadamente em pavimentos de diversos tipos. Neste contexto, a presente dissertação também procurou encontrar um destino final adequado para os pneus usados, estudando o desempenho de argamassas fabricadas com incorporação de materiais finos provenientes da trituração de pneus. Para tal, foi realizada uma vasta campanha experimental, em que uma argamassa de referência foi comparada com outras que continham agregados de borracha de pneus usados substituindo agregados naturais. Em todos os casos, o tamanho das partículas foi menor do que 2 mm, tendo sido consideradas três taxas diferentes de substituição (5, 10 e 15% do volume total de agregados) de agregados naturais por agregados de borracha de pneus usados. Esta campanha foi estruturada em três fases. Na primeira, foram realizados ensaios com objectivo de se analisar as propriedades dos constituintes das argamassas, mais concretamente dos agregados naturais e dos agregados de borracha de pneus usados. A segunda, consistiu em ensaios de carácter eliminatório, os quais avaliaram as características essenciais das argamassas, tendo por objectivo identificar para que percentagem de substituição é obtida a argamassa com melhores propriedades. Finalmente, a última fase, consistiu em escolher a argamassa que apresentou melhores resultados nos ensaios anteriores e efectuar nessa argamassa mais uma série de testes de modo a se obter uma caracterização mais pormenorizada. Os resultados obtidos mostram que, apesar de as argamassas com incorporação de agregados de borracha apresentarem piores desempenhos relativamente às argamassas convencionais, em certas propriedades como a resistência à compressão e à flexão por tracção, noutras trazem benefícios, como a descida significativa do módulo de elasticidade e a alteração das características de resistência ao choque. Palavras-chave: Reciclagem; Pneus usados; Borracha; Agregados reciclados; Argamassas de revestimento; Desempenho. ii Abstract In the last few years, men have a lot of attention to environment concern. Nowadays society already begins to be aware that resources are limited and that the coming generation will also need them to ensure their survival. The waste, in particular the tires, which constitute a source of environmental pollution are the example of one of the areas in which this sector has sought to make a contribution. This way, have been used in engineering works aggregates of recycled rubber, in particular in pavements of various types. Therefore, this dissertation was also such a mission, to find a final destination suitable for used tires. So, this study focused on the analyses of the manufactured mortars performance with incorporations of fine materials from trituration of tires. In all case, the size of the particulates was lower than 2 mm, having been considered three different rates of replacement (5, 10 and 15% of the total volume of aggregates) of natural aggregates by used rubber tires. This campaign was structured in three phases. In the first one, tests were conducted with the aim to analyze the properties of the constituents of mortars, more specifically of natural aggregates and aggregates of used rubber tires. The second, consisted in the eliminating tests to estimating the essential characteristics of mortars, having as its objective to identify the percentage of replacement is obtained the mortar with the best properties. Finally, the last phase was to choose the mortar that showed the best results in previous tests and to realize in mortar over a series of tests in order to get a more detailed description. The results obtained show that, in spite of the mortars with incorporation of rubber aggregates make worse permance than convencional mortars, in certain proprieties such as compressive and flexural strength, other bring benefits, as a result of the significant fall in the modulus of elasticity and the modification of characteristics of impact resistance. Key words: Recycling; Used tires; Rubber; Recycled aggregates; Coating mortars; Performance. iii Agradecimentos Com a realização da presente dissertação, encerro um ciclo da minha vida no Instituto Superior Técnico. Durante este período, foram fundamentais algumas pessoas, às quais, desejo aqui agradecer o apoio e conhecimentos transmitidos. Ao Professor Jorge de Brito, pelo empenho, disponibilidade e entrega que demonstra com todos os seus orientandos. Foi um Professor que admirei desde a minha entrada no IST, tendo ficado extremamente feliz por ele ter vindo a ser o meu orientador. À Eng.ª Maria do Rosário Veiga, minha co-orientadora, pela disponibilização das instalações do Laboratório de Ensaio de Revestimentos de Paredes (LNEC/LERevPa) do Laboratório Nacional de Engenharia Civil. Também pela ajuda e disponibilidade demonstradas no esclarecimento de dúvidas que surgiram na realização da campanha experimental e interpretação dos resultados. À Sra. Ana, ao Sr. Bento e ao Sr. Luís pela sua amizade e pela ajuda que me deram ao longo da campanha experimental. Aos Engenheiros Ana Fragata, Giovanni, Sílvia, Sandro, Sofia Malanho e Rita. À RECIPNEU, na pessoa da Eng.ª Maria Leonilde Custódio, pela inteira disponibilidade demonstrada no fornecimento do granulado de borracha de tecnologia de trituração criogénica, utilizado na parte experimental da dissertação. À BIOSAFE, na pessoa da Gestora Comercial Ângela Rodrigues, pela inteira disponibilidade demonstrada no fornecimento do granulado de borracha de tecnologia de trituração mecânica, utilizado na parte experimental da dissertação. Ao meu colega de laboratório e de mestrado João Arromba. Aos meus amigos e colegas do IST: António Duarte, Cláudio Ribeiro Faustino, Diogo Tojo, Diogo Victória, Francisco Eusébio de Freitas, João Martins, Manuel Serra Andrade, Pedro Sequeira, Pedro Teixeira e Rui Vasco Silva. Ao meu amigo Tiago Almeida Santos, pela ajuda que me deu no início da minha Licenciatura. Aos meus amigos: David, Diana, Hudson, Inês, Ricardo, Fátima e Rafael. Aos meus irmãos, Tiago e Renato. Aos meus pais. À minha restante família. iv Índice geral Resumo ................................................................................................................................i Abstract .............................................................................................................................. ii Agradecimentos ................................................................................................................. iii Índice ................................................................................................................................. iv Índice de figuras .................................................................................................................vi Índice de quadros ............................................................................................................... ix Capítulo 1 - Introdução ........................................................................................................ 1 1.1 Considerações iniciais ............................................................................................................. 1 1.2 Objectivos da dissertação ....................................................................................................... 3 1.3 Estrutura e organização do trabalho ....................................................................................... 3 Capítulo 2 - Estado da arte ................................................................................................... 5 2.1 Introdução ............................................................................................................................... 5 2.2 Problema dos pneus usados.................................................................................................... 5 2.2.1 Definição e caracterização de um pneu ........................................................................... 5 2.2.2 Análise do ciclo de vida de um pneu ................................................................................ 7 2.2.3 Impactes no ambiente e na saúde pública..................................................................... 10 2.2.4 Enquadramento legal da gestão de pneus usados......................................................... 12 2.2.5 Tipo de valorização para os pneus usados ..................................................................... 16 2.3 Elastómeros ........................................................................................................................... 21 2.3.1 Introdução ...................................................................................................................... 21 2.3.2 Propriedades .................................................................................................................. 22 2.3.3 Granulado de borracha .................................................................................................. 24 2.4 Argamassas de revestimento ................................................................................................ 24 2.4.1 Síntese histórica das argamassas ................................................................................... 24 2.4.2 Definição e conceitos ..................................................................................................... 25 2.4.3 Regulamentação ............................................................................................................. 27 2.4.4 Exigências funcionais ...................................................................................................... 29 2.4.5 Caracterização dos constituintes das argamassas ......................................................... 34 2.4.5.1 Agregados .................................................................................................................. 34 2.4.5.2 Ligantes ...................................................................................................................... 35 2.4.5.3 Adjuvantes ................................................................................................................. 36 2.4.5.4 Adições ...................................................................................................................... 37 2.4.5.5 Água de amassadura ................................................................................................. 38 2.5 Propriedades das argamassas com borracha ........................................................................ 38 2.5.1 Descrição das campanhas experimentais ...................................................................... 38 2.5.2 Resistência à compressão .............................................................................................. 41 2.5.3 Resistência à tracção ...................................................................................................... 41 2.5.4 Resistência à tracção por flexão ..................................................................................... 42 2.5.5 Módulo de elasticidade .................................................................................................. 42 2.5.6 Retracção ........................................................................................................................ 42 2.5.7 Consistência ................................................................................................................... 43 2.5.8 Capacidade para absorver deformações ........................................................................ 43 2.5.9 Aderência na zona de transição ..................................................................................... 44 2.5.10 Teor de ar ..................................................................................................................... 45 2.5.11 Massa volúmica ............................................................................................................ 45 2.6 Conclusão .............................................................................................................................. 45 v Capítulo 3 - Campanha experimental.................................................................................. 47 3.1 Introdução ............................................................................................................................. 47 3.2. Planeamento da campanha experimental ........................................................................... 47 3.3 Preparação dos provetes....................................................................................................... 50 3.4 Descrição dos ensaios ........................................................................................................... 52 3.4.1 Análise granulométrica (com base na EN 1015-1 (1998)) .............................................. 53 3.4.2Massa volúmica aparente (segundo o Cahier 2669-4 (1993)) ........................................ 54 3.4.3 Consistência por espalhamento (segundo a EN 1015-3 (1999)) .................................... 55 3.4.4 Massa volúmica da argamassa em pasta (segundo a EN 1015-6 (1998)) ...................... 57 3.4.5 Massa volúmica da argamassa no estado endurecido (segundo a EN 1015-10 (1999 .. 59 3.4.6 Resistência à flexão e à compressão (segundo a EN 1015-11 (1999)) ........................... 61 3.4.7 Absorção de água por capilaridade (segundo a EN 1015-18 (2002)) ............................. 63 3.4.8 Susceptibilidade à fendilhação ....................................................................................... 66 3.4.9 Variação dimensional (segundo a prEN 1015-13 (1993)) .............................................. 67 3.4.10 Aderência ao suporte (segundo a EN 1015-12 (1999)) ................................................ 68 3.4.11 Módulo de elasticidade (com base na NF B10-511F (1975)) ....................................... 70 3.4.12 Determinação da permeabilidade ao vapor de água (segundo a EN 1015-19 ............ 71 3.4.13 Resistência ao choque através da queda de uma massa conhecida ........................... 73 3.4.14 Susceptibilidade à fendilhação por retracção restringida (segundo a ficha de ensaio do LNEC FE Pa 37) .................................................................................................................... 75 3.4.15 Ensaio de envelhecimento acelerado (com base na EN 1015-21 (2002)).................... 78 3.4.15.1 Permeabilidade à água líquida ................................................................................ 79 3.4.15.2 Aderência ao suporte ..............................................................................................81 Capítulo 4 - Apresentação e análise de resultados .............................................................. 83 4.1 Primeira fase ......................................................................................................................... 83 4.1.1 Análise granulométrica .................................................................................................. 83 4.1.2 Massa volúmica aparente .............................................................................................. 85 4.2 Segunda fase ......................................................................................................................... 85 4.2.1 Consistência por espalhamento ..................................................................................... 85 4.2.2 Massa volúmica (argamassa no estado fresco) .............................................................. 86 4.2.3 Massa volúmica (argamassa no estado endurecido) ..................................................... 88 4.2.4 Resistência à flexão e à compressão .............................................................................. 90 4.2.5 Absorção de água por capilaridade ................................................................................ 95 4.2.6 Susceptibilidade à fendilhação ....................................................................................... 98 4.3 Terceira fase .......................................................................................................................... 98 4.3.1 Variação dimensional ..................................................................................................... 99 4.3.2 Aderência ao suporte ................................................................................................... 100 4.3.3 Módulo de elasticidade ................................................................................................ 101 4.3.4 Permeabilidade ao vapor de água................................................................................ 104 4.3.5 Resistência ao choque através da queda de uma massa conhecida ........................... 105 4.3.6 Susceptibilidade à fendilhação por retracção restringida ............................................ 109 4.3.7 Ensaio de envelhecimento acelerado .......................................................................... 111 4.3.7.1 Permeabilidade à água líquida ................................................................................ 111 4.3.7.2 Aderência ao suporte .............................................................................................. 112 Capítulo 5 - Conclusões e desenvolvimentos futuros ......................................................... 115 5.1 Considerações finais ............................................................................................................ 115 5.2 Conclusões gerais ................................................................................................................ 116 5.3 Propostas de desenvolvimentos futuros ............................................................................. 120 Referências bibliográficas ................................................................................................ 123 ANEXOS - Resultados individuais da campanha experimental ........................................... A-1 Ana Realce Ana Realce Ana Realce Ana Realce vi Índice de figuras Figura 1.1 – Depósito de pneus ao ar livre .................................................................................... 1 Figura 1.2 – Primeira obra com betume modificado com borracha utilizando a via seca. ........... 2 Figura 2.1 – Constituição de um pneu .......................................................................................... 7 Figura 2.2 – Ciclo de vida de um pneu. ......................................................................................... 8 Figura 2.3 – Impacte global dos inputs durante o ciclo de vida. ................................................... 9 Figura 2.4 – Impacte global dos outputs durante o ciclo de vida. ................................................ 9 Figura 2.5 – Depósito de pneus em leitos de água. .................................................................... 10 Figura 2.6 – Incêndio num aterro de pneus. Ilha do Faial, Outubro de 2007 ............................. 11 Figura 2.7 – O depósito de pneus em terrenos baldios .............................................................. 12 Figura 2.8 – Tratamento das existências (toneladas).................................................................. 15 Figura 2.9 – Tratamento dos pneus usados gerados. ................................................................. 16 Figura 2.10 – Estrutura utilizada no recife artificial .................................................................... 17 Figura 2.11– Doca de barcos em Lerici, Itália .............................................................................. 17 Figura 2.12 – Pneus usados utilizados como protecção de barcos. ............................................ 17 Figura 2.13 – Sistema séptico de drenagem .............................................................................. 19 Figura 2.14 – Pavimento rodoviário ............................................................................................ 20 Figura 2.15 – Granulado incorporado em relva sintética e em recintos de equitação. .............. 20 Figura 2.16 – Pavimento anti-choque ........................................................................................ 21 Figura 2.17 - Borracha não vulcanizada (à esquerda) e borracha vulcanizada (à direita) .......... 23 Figura 2.18 – Perda de aderência de um reboco devido a movimentos diferenciais. ................ 30 Figura 2.19 – Humedecimento e secagem de um reboco poroso .............................................. 31 Figura 3.1 – Misturadora com a respectiva cuba ........................................................................ 51 Fgura 3.2 – Compactação da argamassa com um pilão .............................................................. 52 Figura 3.3 – Modo de proceder para rasar a superfície do recipiente ....................................... 52 Figura 3.4 – Máquina de vibração (à esquerda) e peneiros de malha quadrada (à direita) ....... 53 Figura 3.5 – Esquema de ensaio da baridade.............................................................................. 55 Figura 3.6 – Procedimento para retirar o excesso de argamassa e molde cónico truncado ..... 56 Figura 3.7 – Aspecto da argamassa após o levantamento do molde.......................................... 57 Figura 3.8 – Modo de proceder para o enchimento do recipiente cilíndrico ............................. 58 Figura 3.9 – Modo de proceder de modo a compactar a argamassa ......................................... 58 Figura 3.10 – Modo de proceder para rasar a superfície do recipiente cilíndrico ...................... 58 Figura 3.11 – Pesagem do conjunto recipiente + argamassa ...................................................... 59 Figura 3.12 – Provetes prismáticos ............................................................................................. 60 Figura 3.13 – Máquina de ensaios especificada na norma ......................................................... 61 Figura 3.14 – Rotura do semi-prisma à flexão ............................................................................ 62 Figura 3.15 – Rotura do semi-prisma à compressão ................................................................... 62 Figura 3.16 – Estufa ventilada ..................................................................................................... 64 Figura 3.17 – Aquecimento da cera (à direita) e barramento de cera (à esquerda) .................. 64 Figura 3.18 – Provetes numa tina comágua ............................................................................... 65 Figura 3.19 - Balança com precisão de 0,1 g ............................................................................... 65 Figura 3.20 – Tijolo com tábuas de madeira e grampos de ferro ............................................... 66 Figura 3.21 – Humedecimento do tijolo ..................................................................................... 67 Figura 3.22 – Tijolo com argamassa aplicada .............................................................................. 67 vii Figura 3.23 – Medição da variação dimensional ......................................................................... 68 Figura 3.24 – Pesagem da massa do provete .............................................................................. 68 Figura 3.25 – Aplicação da força ................................................................................................. 69 Figura 3.26 - Acessório de arrancamento ................................................................................... 69 Figura 3.27 – Resultado do arrancamento das carotes .............................................................. 70 Figuras 3.28 - Aparelho de medição de frequência de ressonância longitudinal ....................... 71 Figura 3.29 – Taças-teste com 600 ml de água ........................................................................... 72 Figura 3.30 – Selagem das juntas com cera ................................................................................ 72 Figura 3.31 – Câmara climática ................................................................................................... 73 Figura 3.32 – Ajustamento da posição do provete a ensaiar ...................................................... 74 Figura 3.33 – Queda da massa de 1 kg após se ter regulado a altura pretendida ...................... 74 Figura 3.34 – Queda da massa sobre o provete e seus efeitos ................................................... 75 Figura 3.35 – Estruturas de suporte dos transdutores de deslocamento ................................... 76 Figura 3.36 - Aparelhos de medição de retracção na posição vertical ....................................... 76 Figura 3.37 - Provete do ensaio de susceptibilidade à fendilhação por retracção restringida ... 77 Figura 3.38 – Aparelho de medição de retracção restringida ..................................................... 77 Figura 3.39 – Câmara de envelhecimento e arca frigorífica ....................................................... 79 Figura 3.40 – Colocação da massa de fixação nos bordos dos tubos de vidro ........................... 80 Figura 3.41 – Fixação dos tubos de vidro ao revestimento ........................................................ 80 Figura 3.42 – Provete posicionado na posição vertical ............................................................... 81 Figura 4.1 – Curva granulométrica da areia de rio ...................................................................... 84 Figura 4.2 – Curva granulométrica corrigida da areia de rio ....................................................... 84 Figura 4.3 – Baridade do ligante e dos agregados ...................................................................... 85 Figura 4.4 – Massa volúmica no estado fresco dos diferentes tipos de argamassa ................... 87 Figura 4.5 – Massa volúmica no estado fresco ........................................................................... 87 Figura 4.6 – Massa volúmica. Comparação com os resultados de BRAVO (2009) ...................... 88 Figura 4.7 – Massa volúmica no estado endurecido aos 28 e aos 90 dias .................................. 89 Figura 4.8 – Massa volúmica no estado endurecido aos 28 dias. ............................................... 89 Figura 4.9 – Massa volúmica das argamassas de agregados de borracha ................................ 90 Figura 4.10 – Tensão de rotura à tracção por flexão aos 28 e 90 dias ........................................ 91 Figura 4.11 – Tensão de rotura à compressão aos 28 e 90 dias ................................................. 91 Figura 4.12 – Flexão aos 28 e aos 90 dias das argamassas de agregados de borracha ............. 92 Figura 4.13 – Comparação dos resultados obtidos à flexão aos 28 dias ..................................... 93 Figura 4.14 – Ensaio de compressão das argamassas de agregados de borracha ..................... 94 Figura 4.15 – Comparação dos resultados obtidos à compressão com os de BRAVO (2009) .... 94 Figura 4.16 – Comparação dos resultados obtidos à compressão aos 28 dias ........................... 95 Figura 4.17 – Coeficiente de absorção de água por capilaridade para as várias argamassas .... 96 Figura 4.18 – Absorção de água por capilaridade para diferentes taxas de substituição .......... 96 Figura 4.19 – Absorção de água por capilaridade em g/mm, em betão (BRAVO, 2009) ............ 97 Figura 4.20 – Absorção de água por capilaridade, em mm, em betão (BRAVO, 2009) .............. 97 Figura 4.21 – Relação entre a variação dimensional e o tempo decorrido ................................ 99 Figura 4.22 – Comparação dos resultados obtidos aos 90 dias com os de BRAVO (2009) ....... 100 Figura 4.23 – Resultados do ensaio de aderência ao suporte .................................................. 101 Figura 4.24 – Resultados do ensaio do módulo de elasticidade aos 28 e 90 dias .................... 102 Figura 4.25 – Resultados interpolados do módulo de elasticidade relativo aos 28 dias .......... 102 file:///C:/Users/Diogo%20Pedro/Desktop/Tese/Minha%20tese/Tese/dpedos%20de%20vista%20pelo%20brito/Tese%20para%20modificar.docx%23_Toc303013074 viii Figura 4.26 – Resultados interpolados do módulo de elasticidade relativo aos 90 dias .......... 103 Figura 4.27 – Comparação dos resultados do módulo de elasticidade relativo aos 28 dias ... 103 Figura 4.28 – Resultados obtidos para o módulo de elasticidade aos 28 e 90 dias ................. 104 Figura 4.29 – Variação da massa durante o ensaio de permeabilidade ao vapor de água ....... 105 Figura 4.30 – Fissuras ocorridas na argamassa de referência ................................................... 105 Figura 4.31 – Fissuras ocorridas na argamassa de 5% .............................................................. 106 Figura 4.32 – Fissuras ocorridas na argamassa de 10% ............................................................ 106 Figura 4.33 – Resultados obtidos na argamassa de 15% .......................................................... 107 Figura 4.34 – Força aplicada nos diversos tipos de argamassas em função do tempo ............ 110 Figura 4.35 – Volume de água absorvida durante uma hora .................................................... 111 Figura 4.36 – Resultados de aderência ao suporte após envelhecimento acelerado............... 112 Figura 4.37 – Resultados de aderência ao suporte antes e após envelhecimento acelerado .. 112 ix Índice de quadros Quadro 2.1 – Resultados da actividade. Tratamento dos pneus usados gerados ...................... 14 Quadro 2.2 – Resultados da actividade. Tratamento das existências. ....................................... 15 Quadro 2.3 – Resultados da actividade. Tratamento das existências ........................................ 15 Quadro 2.4 – Resultados globais da actividade. ......................................................................... 15 Quadro 2.5 – Propriedades da borracha natural ........................................................................ 23 Quadro 2.6 – Requisitos das argamassas no estado endurecido e norma de ensaio ................. 28 Quadro 2.7 – Classes de compressão para argamassas pré-doseadas de reboco. EN 998-1 ..... 28 Quadro 2.8 – Classes de absorção de água por capilaridade para argamassas. EN 998-1......... 28 Quadro 2.9 – Classes de condutividade térmica para argamassas de reboco. EN 998-1 ........... 29 Quadro 2.10 – Dosagens da argamassa de referência (TURATSINZE et al., 2005) ..................... 38 Quadro 2.11 – Composição das argamassa com e sem borracha (TOPÇU et al., 2009) ............. 40 Quadro 3.1 – Ensaios a efectuar na primeira fase ...................................................................... 48 Quadro 3.2 – Ensaios a efectuar na segunda fase ...................................................................... 48 Quadro 3.3 – Argamassas utilizadas na segunda fase ................................................................ 48 Quadro 3.4 – Ensaios a efectuar na terceira fase ....................................................................... 49 Quadro 3.5 – Argamassas utilizadas na terceira fase ................................................................. 49 Quadro 3.6 – Indicação dos tipos de cura para os diferentes ensaios ........................................ 50 Quadro 3.7 – Classificação quanto à susceptibilidade à fendilhação de argamassas ................. 78 Quadro 3.8 – Ciclos climáticos utilizados no ensaio de envelhecimento acelerado .................. 79 Quadro 4.1 – Gama de granulometrias utilizada para a substituição de agregados .................. 83 Quadro 4.2 – Análise granulométrica da areia de rio ................................................................. 84 Quadro 4.3 – Baridade do ligante dos agregados ....................................................................... 85 Quadro 4.4 – Água de amassadura e respectivo espalhamento para as várias argamassas ...... 86 Quadro 4.5 – Massa volúmica no estado fresco dos diferentes tipos de argamassa ................. 86 Quadro 4.6 – Massa volúmica no estado endurecido aos 28 dias para as várias argamassas .. 88 Quadro 4.7 – Massa volúmica no estado endurecido aos 90 dias para as várias argamassas ... 89 Quadro 4.8 – Resultados do ensaio de tracção por flexão ......................................................... 90 Quadro 4.9 – Resultados do ensaio de compressão ................................................................... 91 Quadro 4.10 – Coeficiente de absorção de água por capilaridade para diferentes argamassas 95 Quadro 4.11 – Resultados do ensaio de variação dimensional .................................................. 99 Quadro 4.12 – Resultados do ensaio de aderência ao suporte ................................................ 100 Quadro 4.13 – Resultados do ensaio do módulo de elasticidade aos 28 dias .......................... 101 Quadro 4.14 – Resultados do ensaio do módulo de elasticidade aos 90 dias .......................... 102 Quadro 4.15 – Resultados do ensaio de permeabilidade ao vapor de água ............................ 104 Quadro 4.16 – Resultados do ensaio resistência ao choque para as argamassas de 0 e 5% ... 108 Quadro 4.17 – Resultados do ensaio resistência ao choque para as argamassas de 10 e 15% 109 Quadro 4. 18 – Resultados do ensaio de retracção restringida e respectiva classificação ....... 109 Quadro 4.19 – Resultados de permeabilidade à água líquida com o tubo de Karsten ............. 111 Quadro 4.20 – Resultados do ensaio aderência ao suporte após envelhecimento acelerado . 112 Quadro 5.1 – Resultados dos ensaios realizados na campanha experimental ......................... 118 x Desempenho de argamassas fabricadas com incorporação de materiais finos provenientes da trituração de pneus 1 Capítulo 1 – Introdução 1.1 Considerações iniciais Durante as últimas décadas nos países desenvolvidos e também, mais recentemente, nos países em desenvolvimento, tem-se registado uma melhoria significativa na vida das populações. Este fenómeno tem levado a uma alteração do estilo de vida do Homem, fazendo aumentar o nível de exigência e provocado um aumento do tipo e quantidade de resíduos. Os resíduos que constituem uma fonte de poluição ambiental são considerados actualmente como um dos principais problemas com que o mundo se debate. Um dos tipos mais importantes de resíduos são os pneus, cuja quantidade a nível mundial tem vindo também a aumentar, devido ao crescimento da indústria automóvel. A utilização dos pneus trouxe consigo a questão de protecção ambiental pois a maior parte dos pneus usados era abandonada em locais inadequados, constituindo um risco para o ambiente e para a saúde pública. De modo a combater esta situação, vários países têm vindo a elaborar legislação com o intuito de submeter os pneus usados a uma gestão cuidada, procurando encontrar ambientes destinados a uma correcta deposição deste resíduo. Figura 1.1 – Depósito de pneus ao ar livre. Fonte: PIMENTA No que respeita a Portugal, através do Decreto-Lei n.º 111/2001, de 6 Abril, foi estabelecida uma hierarquia na gestão dos pneus usados, tendo sido definida como prioritária a prevenção Capítulo 2 – Estado da arte 2 da sua produção, aliada do aumento da vida útil dos pneus, a promoção da recauchutagem e a implementação e desenvolvimento de sistemas de reciclagem e de outras formas de valorização dos pneus usados. Em função das exigências da sociedade também o sector da construção civil tem procurado encontrar um destino adequado para este tipo de resíduos. Segundo a VALORPNEU, 28.5% do granulado de borracha produzido pelos recicladores nacionais foi utilizado em pavimentos, sendo a maior fatia (60.4%) aplicada em relvados sintéticos. Figura 1.2 – Primeira obra (EN 370) com betume modificado com borracha utilizando a via seca. Fonte: RECIPNEU No entanto, existem outras tentativas por parte da indústria da construção para dar uma utilização adequada aos pneus usados, sendo esta dissertação um exemplo disso mesmo, na qual se pretende estudar o desempenho de argamassas fabricadas com incorporação de materiais finos provenientes da trituração de pneus. Deste modo, neste caso de estudo, pretende-se encontrar um material compósito que tire partido da resistência mecânica conferida pelos materiais cimentícios e das características de ductilidade apresentadas pelas borrachas. Apesar de este tema já ter vindo a ser estudado nos últimos anos por investigadores internacionais, ainda não foram abordadas muitas das propriedades necessárias a um bom desempenho da argamassa em obra, nomeadamente como revestimento de parede. Nos estudos já realizados, nomeadamente por TOPÇU et al. (2009), verifica-se que a incorporação de agregados de borracha é prejudicial à resistência à compressão e à flexão por tracção. Por outro lado, induz uma diminuição significativa do módulo de elasticidade. Desempenho de argamassas fabricadas com incorporação de materiais finos provenientes da trituração de pneus 3 1.2 Objectivos e metodologia da dissertação Nesta dissertação, vai-se analisar uma solução alternativa a dar aos pneus usados sem agredir o meio ambiente e contribuindo desta forma para a protecção ambiental. Mais concretamente, estudar-se-á a sua aplicação em argamassas não-estruturais, nomeadamente a usar como revestimentos de paredes. Nos últimos tempos, outros investigadores já propuseram o uso de pneus usados em betão e argamassas pelo que esta dissertação pretende adicionar mais informação à existente, estudando o desempenho expectável, quer mecânico quer em termos de durabilidade, de argamassas fabricadas com incorporação de materiais finos provenientes da trituração de pneus. Assim, para avaliar a influência da adição deste resíduo, ensaiaram-se argamassas com agregados de borracha de pneus usados a substituírem a areia, com uma curva granulométrica idêntica a esta última, de modo a reduzir a influência da granulometria nos resultados obtidos. Para tal, foram fixadas diferentes taxas de substituição(5, 10 e 15% do volume total de agregados) de agregados naturais por agregados de borracha de pneus usados. Em todos os ensaios, foram utilizadas partículas menores do que 2 mm. Os resultados obtidos foram comparados com uma argamassa de referência (sem partículas de borracha de pneus usados). Este estudo, além de um óbvio interesse ambiental, tem como objectivo principal encontrar soluções que, além de aproveitarem a resistência mecânica conferida pelos materiais cimentícios, consigam também incrementar nas argamassas características de ductilidade. 1.3 Estrutura e organização do trabalho Nesta investigação, estruturou-se o trabalho em 5 etapas: 1ª) pesquisa bibliográfica; 2ª) preparação do plano de ensaios; 3ª) campanha experimental; 4ª) análise e discussão dos resultados; 5ª) compilação da informação e escrita da dissertação. A primeira etapa consistiu numa pesquisa bibliográfica, tendo como objectivo o de recolher informação existente sobre o tema em estudo. Estudaram-se dissertações existentes e artigos de revistas e de congressos de especialidade. Desta forma, foi possível adquirir-se numa primeira fase um conhecimento generalizado sobre o assunto a ser tratado. Terminada esta etapa seguiu-se a preparação do plano de ensaios. Através dos conhecimentos adquiridos e do material pesquisado, procedeu-se à definição dos ensaios a realizar (que foram baseados na normalização existente), à definição dos parâmetros a variar e, finalmente, à Capítulo 2 – Estado da arte 4 preparação dos ensaios a realizar no Laboratório de Ensaio de Revestimentos de Paredes (LNEC/LERevPa) do Laboratório Nacional de Engenharia Civil. Além do referido, nesta fase elaborou-se também um mapa de quantidades, de modo a ser possível saber-se a quantidade de cada material a ser usado no trabalho experimental. Assim, foi possível proceder-se à encomenda e aquisição do respectivo material. Num processo de encadeamento lógico, seguiu-se a campanha experimental. Esta terceira etapa teve como objectivo avaliar as características de argamassas de cimento com a incorporação de partículas finas de borracha, tendo sido estruturada em 3 fases. Na primeira, foram realizados ensaios com intuito de se analisarem as propriedades dos constituintes das argamassas, mais concretamente dos agregados naturais e dos agregados de borracha de pneus usados. A segunda fase experimental consistiu em ensaios de carácter eliminatório, os quais avaliaram as características essenciais das argamassas. Por fim, a terceira fase consistiu em escolher a argamassa que apresentou melhores resultados nos ensaios realizados anteriormente. Escolhida a argamassa, efectuou-se mais uma série de testes, de modo a obter- se uma caracterização mais pormenorizada. Feito isto, passou-se para a etapa de análise e discussão dos resultados, que se iniciou com o início da campanha experimental. Nesta etapa, efectuou-se a avaliação crítica do trabalho experimental através da análise dos resultados obtidos. Procurou-se justificar e concluir sobre estes através da sua comparação com valores de outros trabalhos já executados sobre o tema. Finalmente, seguiu-se a última etapa que consistiu na compilação da informação e escrita da dissertação. No que respeita à escrita da dissertação, de forma a que esta resultasse num texto conciso e claro, foram definidos cinco capítulos: capítulo 1: neste capítulo, efectua-se um enquadramento geral da dissertação, apresentando as motivações que lhe deram origem e explicando os objectivos que pretende alcançar; além disto, apresenta-se a metodologia utilizada na sua elaboração bem como a sua organização por capítulos; capítulo 2: no âmbito deste capítulo, é feita uma compilação da informação pesquisada sobre o assunto a tratar; neste sentido, foi efectuado um levantamento do estado da arte existente e que se encontrava relacionado com o tema da dissertação; capítulo 3: neste capítulo, procede-se a uma descrição da campanha experimental; deste modo, apresenta-se o planeamento elaborado para a sua execução, efectuando- se uma descrição dos equipamentos, modos de procedimento e normas nas quais os ensaios se basearam; capítulo 4: no presente capítulo, apresenta-se e procura-se concluir sobre os resultados obtidos na campanha experimental; nos ensaios em que isso é possível, comparam-se os valores com os de outros trabalhos já realizados. capítulo 5: no último capítulo da dissertação, apresentam-se as conclusões que resultaram da sua realização; procura-se evidenciar as diferenças existentes entre as argamassas com incorporação de agregados de borracha e as argamassas constituídas apenas por agregados naturais (areia). Por fim, a dissertação termina com as referências bibliográficas e anexos referenciados ao longo do texto. Desempenho de argamassas fabricadas com incorporação de materiais finos provenientes da trituração de pneus 5 Capítulo 2 – Estado da arte 2.1 Introdução Este capítulo aborda três temáticas distintas que resultaram da pesquisa bibliográfica efectuada para a elaboração da dissertação. Numa primeira fase, efectua-se uma exposição sobre o tema pneu, analisando diversos vectores como o seu ciclo de vida, impactes no ambiente e na saúde pública, enquadramento legal e tipos de valorização para os pneus usados. Esta fase inicial encerra com uma caracterização dos elastómeros (borrachas), principais constituintes dos pneus. O segundo tema abordado diz respeito às argamassas de revestimento. Nesta parte, começa- se por referir definições e conceitos necessários à compreensão do tema bem como regulamentação a que as argamassas de revestimento estão sujeitas. Posteriormente, abordam-se as exigências funcionais que um revestimento exterior de paredes necessita de cumprir para poder desempenhar adequadamente as suas funções. Finalmente, no último tema, procede-se a uma descrição de estudos já realizados sobre argamassas com borrachas, expondo-se os resultados e conclusões postuladas pelos seus autores. 2.2 Problema dos pneus usados 2.2.1 Definição e caracterização de um pneu De acordo com o Decreto-Lei n.º 111/2001, de 6 de Abril, que estabelece os princípios e as normas aplicáveis à gestão de pneus e pneus usados apresentam-se as seguintes definições: a) Pneus: Os pneus utilizados em veículos motorizados, aeronaves, reboques, velocípedes e outros equipamentos, motorizados ou não motorizados, que os contenham; b) Pneus usados: Quaisquer pneus de que o respectivo detentor se desfaça ou tenha a intenção ou a obrigação de se desfazer e que constituam resíduos na acepção da alínea a) do artigo 3.o do Decreto-Lei n.o 239/97, de 9 de Setembro, ainda que destinados a reutilização (recauchutagem); Capítulo 2 – Estado da arte 6 c) Pneu recauchutado: O pneu usado que é objecto de processo industrial de acordo com as especificações técnicas aplicáveis, com vista à sua reutilização, sendo de novo colocado no mercado. No que respeita à sua constituição (Figura 2.1), os pneus apresentam os seguintes componentes (FAPEMIG, 2002): a) Carcaça: é a estrutura interna do pneu, tendo como finalidade suportar o peso do veículo e reter o ar sob pressão. É constituída por lonas de nylon, poliéster ou aço, que no caso dos pneus convencionais (ou diagonais) são dispostas no sentido diagonal enquanto que, nos pneus radiais, o são no sentido radial. Neste caso, existe uma série adicional de lonas, denominada cintura, que cobre a tela tendo como objectivo a sua estabilização. Estas lonas são constituídas por aço (FAPEMIG, 2002); b) Talão: apresenta a forma de um anel e permite que o pneu fique solidário com a jante, sendo construído por diversos arames de aço de alta resistência, que são unidos e envolvidos por borracha (FAPEMIG,2002); c) Paredes: são as partes laterais do pneu e têm como função proteger a carcaça. São constituídos por borracha com alto grau de elasticidade (BRASIL TIRES, 2009); d) Banda de rodagem: é a parte que fica em contacto directo com o solo, constituída por compostos de borracha com alta resistência ao desgaste. É a zona por onde o esforço do motor se transmite ao solo permitindo que o veículo se mova, curve e trave. A sua superfície é formada por partes cheias e outras vazias (sulcos) com o intuito de maximizar a aderência dos veículos aos diversos tipos de pavimento (VALORPNEU, 2009A); e) Cintas: constituídas por um tecido de aço revestido a borracha colocada nos pneus radiais com função de estabilizar a carcaça (FAPEMIG, 2002); f) Capa: camada que permite a impermeabilidade ao ar e substitui as câmaras-de-ar; g) Cunhas: reforçam o talão. São perfis de borracha muito dura; h) Tiras: reforços que podem ser construídos só com misturas de borracha ou com tecidos revestidos a borracha. Têm como objectivo ajudar a dar forma ao pneu e a rematar pormenores de construção. A sua utilização é muito variável de fabricante para fabricante. Podem ser colocadas a formar ombros, a sujeitar os extremos das cintas, a proteger a zona de encaixe na jante ou a rematar os extremos da carcaça. Desempenho de argamassas fabricadas com incorporação de materiais finos provenientes da trituração de pneus 7 Figura 2.1 – Constituição de um pneu 2.2.2 Análise do ciclo de vida de um pneu A análise do ciclo de vida é uma técnica que permite avaliar os aspectos ecológicos resultantes da interacção de um produto com o Ambiente. Neste subcapítulo, são apresentados dados sobre o fluxo material e energético e sobre as emissões e resíduos que se podem originar durante o ciclo de vida de um pneu. Estes dados constam de um estudo elaborado por KRÖMER et al. (1999) para a Continental. Segundo KRÖMER et al. (1999), o ciclo de vida de um pneu (Figura 2.2) é composto por cinco estágios: a) Extracção de minerais e matérias-primas fósseis, como o petróleo bruto, o carvão, o gás natural e o ferro; b) Fabrico das matérias-primas do pneu, como a borracha, o negro de carbono e produtos químicos; c) Produção do pneu; d) Consumo do pneu (uso do pneu na estrada); e) Utilização dos pneus usados como matéria-prima ou fornecedor de energia. Capítulo 2 – Estado da arte 8 Figura 2.2 – Ciclo de vida de um pneu. Fonte: Michelin Estes investigadores fizeram uma análise ao ciclo de vida estudando os inputs e os outputs do sistema. Os inputs estudados foram: a) Recursos consumidos; b) Necessidades de água; c) Necessidades de ar. Através da Figura 2.3, é possível observar que o fabrico e o transporte são as fases do ciclo de vida de um pneu com menor impacte global nos inputs estudados. A fase de transporte apresenta valores de consumo dos diferentes inputs de apenas de 0.2% e a fase de fabrico consumos que variam entre 1.1 e 4.8% consoante o input em causa. A utilização do pneu representa a fase com maior impacte global no que respeita aos inputs recursos consumidos e necessidades de ar com valores aproximadamente de 88 e 96%, respectivamente. Estes valores são justificados pelo facto de nesta fase ser necessário obter grandes quantidades de energia. Relativamente à aquisição de matérias-primas, verifica-se que é nesta fase que é usada a maioria do input necessidades de água, cerca de 90%. As necessidades deste input estão directamente relacionadas com o fabrico de borracha sintética (SBR) e também com a obtenção de rayon (fibra). No que respeita aos outputs, foram analisados os seguintes: a) Emissões atmosféricas; b) Emissões para a água; c) Resíduos. Desempenho de argamassas fabricadas com incorporação de materiais finos provenientes da trituração de pneus 9 Figura 2.3 – Impacte global dos inputs durante o ciclo de vida. Adaptado de KRÖMER et al. (1999) Figura 2.4 – Impacte global dos outputs durante o ciclo de vida. Adaptado de KRÖMER et al. (1999) Através da Figura 2.4, verifica-se que o output emissões atmosféricas ocorre essencialmente na fase de utilização do pneu representando cerca de 95.4% do total. As emissões são devidas sobretudo à saída de dióxido de carbono. O output emissões para a água tem principalmente lugar na fase de aquisição de matérias- primas, representando esta fase aproximadamente 94.4% do total de emissões. Os outros estágios do ciclo de vida de um pneu têm uma expressão bastante menor. O transporte representa 2.8%, a utilização do pneu 2.8% e a produção 0.008%. O output resíduos está intimamente ligado à extracção de matérias-primas e à produção de pneus. Estes representam, cerca de 69.4 e 26.0% do volume total, respectivamente. A fase de 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Aquisição da matéria-prima Fabrico Transporte Utilização Im p ac te g lo b al ( % ) Fases do ciclo de vida Recursos consumidos Necessidades de ar Necessidades de água 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Im p ac te g lo b al ( % ) Fases do ciclo de vida Emissões atmosféricas Emissões para a água Resíduos Capítulo 2 – Estado da arte 10 utilização de um pneu corresponde a cerca de 4,6% do volume total de resíduo e o transporte a menos de 0.1%. 2.2.3 Impactes no ambiente e na saúde pública Os pneus usados gerados, embora relacionados com a frota de veículos de cada país, constituem um problema mundial pois é difícil encontrar uma solução para o seu destino final. Isto acontece porque, apesar de o valor intrínseco dos constituintes deste resíduo ser elevado, a sua reciclagem comporta custos elevados relacionados com dificuldades logísticas e tecnológicas. Os pneus são constituídos essencialmente por borrachas (natural e sintéticas) vulcanizadas e é por causa do processo de vulcanização que se torna difícil reaproveitar os constituintes originais do pneu devido à dificuldade de reverter este processo e de separar os restantes componentes da matriz molecular criada. Os dados mostram que a quantidade de pneus usados nas últimas décadas a nível mundial tem vindo a aumentar devido ao crescimento da indústria automóvel. Nos países industrializados, é descartado, de um modo geral, o correspondente a um pneu de automóvel ligeiro por habitante por ano, ou seja, 9 kg/habitante/ano (RESCHNER, 2008). Devido à inexistência de interesse comercial na reciclagem de pneus usados, estes deram origem a depósitos ao ar livre de grandes dimensões, sendo estes um risco para o ambiente e para a saúde pública. Os problemas ambientais que ocorrem devido ao depósito de pneus usados estão relacionados com os seguintes factores: Depósito de pneus em leitos de água Esta situação pode provocar o assoreamento de rios e lagos (BLUMENTHAL, 1993). Figura 2.5 – Depósito de pneus em leitos de água. Fonte: RECICLANIP Desempenho de argamassas fabricadas com incorporação de materiais finos provenientes da trituração de pneus 11 Deposição em aterros sanitários A deposição em aterros sanitários também se mostrou desadequada, sendo proibida na Europa pela Directiva do Conselho 1999/31/CE, de 26 de Abril. Uma das razões é que os pneus, por apresentarem baixa compressibilidade, quando compactados inteiros tendem a voltar à sua forma de origem, reduzindo assim a vida útil dos aterros e comprometendo a sua estabilidade (COLLINS et al., 1994). Uma outra razão é o tempo de decomposição de um pneu ser de centenas de anos. Assim, os Governos dos países mais desenvolvidos têm criado, por via legislativa, ambientes propícios a uma correcta deposição final deste resíduo. Nos Estados Unidos da América,o caminho seguido tem sido o de procurar influenciar o mercado. Na Europa, a opção preferida tem sido a de responsabilizar o fabricante do bem pelo seu destino final adequado. Tende a considerar-se, na Europa, que o poluidor é quem produz o bem e não quem o utiliza. Portugal não foge a esta regra e a opção foi a de obrigar os produtores a constituir uma Entidade Gestora do Sistema de Gestão de Pneus Usados. Instalação de grandes depósitos A instalação de grandes depósitos, ocupando uma extensa área, constitui um perigo para o ambiente pois os pneus ficam sujeitos à queima acidental ou provocada (Figura 2.6). Se incendiados, sendo os pneus maioritariamente compostos de carbono orgânico com enxofre e com presença de cloro ou bromo, a sua combustão não controlada a baixas temperaturas leva à formação de compostos extremamente tóxicos e à libertação de óleos. Estes óleos apresentam um elevado potencial poluente, constituindo uma ameaça para a zona envolvente devido ao perigo de contaminação do solo e do lençol freático (RECYCLING TIRES, 2005). Figura 2.6 – Incêndio num aterro de pneus. Ilha do Faial, Outubro de 2007. Fonte: Agência Lusa No que respeita à saúde pública, os problemas que ocorrem devido ao depósito de pneus usados estão essencialmente relacionados com o depósito de pneus em terrenos baldios. Capítulo 2 – Estado da arte 12 A deposição de pneus em terrenos baldios tende a atrair e a reter a água da chuva, bem como a absorver a luz do sol (Figura 2.7). Assim, a água estagnada, aliada às condições de calor geradas, criam um ambiente propício à procriação e multiplicação de mosquitos (Nehdi, 2001). Esta situação tem especial relevância nos países tropicais onde os mosquitos são importantes vectores de propagação de doenças como a malária, o dengue (Figura 2.7) ou a febre-amarela. Além disto, os pneus usados encontram-se desta forma sujeitos à queima acidental ou provocada. Figura 2.7 – O depósito de pneus em terrenos baldios pode levar a problemas de saúde pública 2.2.4 Enquadramento legal da gestão de pneus usados Como referido, o abandono em terrenos não apropriados, a queima a céu aberto e a deposição de pneus usados originam graves problemas ambientais. Assim sendo, para que estes não constituam um risco para a saúde pública, é necessário existir uma atenção suplementar na sua gestão. Esta problemática começou a estar na agenda dos países membros da Comunidade Europeia em 1990, de modo a que fossem encontradas soluções que assegurassem o controlo e a eliminação dos pneus usados dos aterros. Contudo, não foi criado nenhum regulamento europeu que tratasse especificamente dos pneus, apesar de terem sido realizadas tentativas em 1993 e 1994 para aprovar duas directivas que tratavam somente de pneus, tendo estes projectos sido suspensos. As regulamentações variam consoante o país mas todas elas contemplam mecanismos de recolha e tratamento de pneus. No entanto, a Directiva europeia 1999/31/CE veio proibir o depósito de pneus inteiros e triturados nos aterros, cabendo a cada estado membro determinar o seu próprio sistema de gestão no final da vida útil dos pneus. Esta Directiva foi transposta para o direito interno português pelo DL n.º 152/2002, de 23 de Maio. Na Europa, existem três tipos de sistemas de gestão: 1.Sistema de responsabilidade do produtor; 2.Sistema de taxas; 3.Sistema de mercado livre. Desempenho de argamassas fabricadas com incorporação de materiais finos provenientes da trituração de pneus 13 Em Portugal, é usado o sistema de responsabilidade do produtor. Este sistema encontra-se regulamentado através do Decreto-Lei n.º 111/2001, de 6 de Abril, que posteriormente foi alterado pelo DL n.º 43/2004, de 2 de Março, que estabelece os princípios e as normas aplicáveis à gestão de pneus e pneus usados. Este DL confere prioridade à prevenção da produção de pneus usados, à qual, segundo este, se deve aliar um acréscimo da vida útil dos pneus, a promoção da recauchutagem e a implementação e desenvolvimento de sistemas de reciclagem bem como outras formas de valorização. No sistema de responsabilidade do produtor, o produtor de pneus novos é o responsável pela recolha, transporte e destino final adequado dos pneus usados, sendo que, em Portugal, de acordo com a legislação referida, a gestão destes deve ser submetida a um sistema integrado e a responsabilidade deve ser transferida para uma entidade gestora do sistema integrado, desde que devidamente licenciada para exercer essa actividade. A responsabilidade do produtor pelo destino adequado dos pneus usados termina com a entrega destes, por parte da entidade gestora, a uma entidade devidamente autorizada e/ou licenciada para a sua recauchutagem, reciclagem ou outras formas de valorização. No entanto, as entidades que apenas utilizam pneus usados em trabalhos de construção civil e obras públicas, como protecção de embarcações, molhes marítimos ou fluviais e no revestimento dos suportes dos separadores de vias de circulação automóvel, estão dispensadas de autorização ao abrigo da legislação aplicável à gestão de resíduos. A entidade gestora deve ser uma entidade sem fins lucrativos, constituída pelos produtores, pelos distribuidores, pelos recauchutadores, pelos recicladores e por outros valorizadores. A entidade gestora do sistema integrado tem como função: a) Organizar a rede de recolha e transporte dos pneus usados, efectuando os necessários contratos com distribuidores, sistemas municipais e multimunicipais de gestão de resíduos sólidos urbanos ou seus concessionários ou outros operadores, a quem deverá prestar as correspondentes contrapartidas financeiras; b) Decidir sobre o destino a dar a cada lote de pneus usados, respeitando a hierarquia dos princípios de gestão e tendo em conta os objectivos fixados no Decreto-Lei; c) Estabelecer contratos com os recauchutadores, recicladores e outros valorizadores para regular as receitas ou encargos determinados pelos respectivos destinos dados aos pneus. A transferência de responsabilidade de cada produtor para a entidade gestora é objecto de contrato escrito, com a duração mínima de cinco anos. Em Portugal, os produtores de pneus organizaram-se, conjuntamente com os industriais de recauchutagem de pneus e de borracha e formaram a VALORPNEU – Sociedade de Gestão de Pneus, L.da., que se constituiu como a entidade gestora do Sistema Integrado de Gestão de Pneus Usados (SGPU). Esta foi licenciada em 7 de Outubro de 2002, por um prazo de 5 anos, pelos Ministérios das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente e da Economia, tendo Capítulo 2 – Estado da arte 14 sido a licença entretanto renovada até 31 de Dezembro de 2013 segundo o despacho n.º 19692 de 2009. A VALORPNEU é uma sociedade por quotas, com o capital repartido pela ACAP (Associação do Comércio Automóvel de Portugal), ANIRP (Associação Nacional dos Industriais de Recauchutagem de Pneus) e APIB (Associação Portuguesa dos Industriais de Borracha). A VALORPNEU gere todos os pneus usados gerados, sendo financiada através de um ecovalor cobrado por cada pneu colocado no mercado. O destino dos pneus usados depende do tipo de pneu em questão, da qualidade e estado de conservação da carcaça e do valor comercial que estas possam ter para reutilização (recauchutagem). Atendendo a estas diferenças, os pneus foram classificados em treze categorias homogéneas, com base na tipologia utilizada pelos produtores. Na licença de exploração atribuída à VALORPNEU, está estipulada a cessação da deposição de pneus usados em aterros, nos termos do Decreto-Lei n.º 152/2002, de 23 de Maio, relativo à deposição de resíduos em aterros. No entanto, segundo o artigo 6º, alínea d) do mesmo Decreto-Lei, é permitida a deposição em aterro dos pneus utilizadoscomo elementos de protecção num aterro, dos pneus de bicicleta e dos que possuam um diâmetro exterior superior a 1400 mm. Assim sendo, os destinos possíveis para os pneus usados são a recauchutagem, a reciclagem, a valorização energética e, para algumas categorias de pneus, o aterro. Segundo a VALORPNEU, passaram no Sistema Integrado de Gestão de Pneus Usados (SGPU) cerca de 94 mil toneladas de pneus (Quadro 2.3), tendo sido recicladas 48 mil toneladas de pneus usados e aproveitadas energeticamente 26 mil toneladas. Os restantes pneus foram reutilizados ou recauchutados (Quadros 2.1 e 2.2). No Quadro 2.4, verifica-se que as metas propostas foram alcançadas. Quadro 2.1 – Resultados da actividade. Tratamento dos pneus usados gerados. Fonte: VALORPNEU Tratamento dos pneus usados gerados 2009 (t) 2008(t) Variação 08/09 (t) Variação 08/09 (%) Média anual 1ª licença 03/08 Enviados para recauchutagem 18.638 22.317 -3.678 -16.48 21.636 Enviados para reutilização 1.019 2.057 -1.037 -50.44 1.110 Enviados para reciclagem 48.039 48.332 -293 -0.61 39.529 Enviados para valorização energética 21.878 23.504 -1.626 -6.92 18.367 Enviados para aterro 0 0 - - 1.140 No âmbito de SGPU 89.575 96.210 -6.635 6.90 81.782 Desempenho de argamassas fabricadas com incorporação de materiais finos provenientes da trituração de pneus 15 Quadro 2.2 – Resultados da actividade. Tratamento das existências. Fonte: VALORPNEU Quadro 2.3 – Resultados da actividade. Tratamento das existências. Fonte: VALORPNEU Quadro 2.4 – Resultados globais da actividade. Fonte: VALORPNEU A tendência de descida quer dos pneus colocados no mercado, quer dos pneus usados gerados, devido à forte recessão económica, levou a que em 2009 a quantidade de pneus usados processados pelo SGPU diminuísse em relação ao ano anterior, registando-se um valor semelhante ao verificado em 2006 (Figura 2.8). No entanto, a Valorpneu recolheu mais pneus usados do que os gerados no âmbito do SGPU. Figura 2.8 – Tratamento das existências (toneladas). Fonte: VALORPNEU . Em relação aos diferentes destinos de valorização, é de realçar a forte queda da recauchutagem (Figura 2.9), que é fruto da conjuntura económica já referida. O mercado 0 20000 40000 60000 80000 100000 120000 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Existências processadas Pneus recolhidos Tratamento das existências 2009 (t) 2008(t) Variação 08/09 (t) Variação 08/09 (%) Média anual 1ª licença 03/08 Enviados p/ valorização energética 4.190 4.895 -704 -14.39 6.159 Enviados para reutilização 1 0 +1 - 9 Enviados para aterro 0 0 - - 210 No âmbito de SGPU 4.191 4.895 -703 -14.37 6.378 Total de pneus tratados 2009 (t) 2008(t) Variação 08/09 (t) Variação 08/09 (%) Média anual 1ª licença 03/08 Usados gerados + existências 93.766 101.104 -7.338 -7.26 88.160 Resultados 2009 Metas 09/013 Em relação à meta Taxa de Recolha no âmbito do SGPU 103.0 % 96% + 7.0 Taxa de preparação para reutilização e recauchutagem 22.6% 27% -4.4 Taxa de Reciclagem 75.3% 69% + 6.3 Capítulo 2 – Estado da arte 16 condiciona fortemente a produção, nomeadamente de pneus recauchutados, e a sua comercialização. Apesar deste facto, através da Figura 2.9, verifica-se que a reciclagem se manteve ao nível do ano anterior. Figura 2.9 – Tratamento dos pneus usados gerados. Fonte: VALORPNEU 2.2.5 Tipo de valorização para os pneus usados Como referido, a valorização dos pneus usados passa por uma das seguintes formas: a) Reutilização; b) Recauchutagem; c) Reciclagem; d) Valorização energética. Reutilização Segundo a VALORPNEU, a reutilização consiste no "aproveitamento do pneu, que ainda se encontra em condições, sendo de novo colocado no mercado para continuar a ser utilizado para o mesmo fim (reutilização meio-piso), ou aproveitamento do pneu, sem necessidade de qualquer pré-processamento, para utilização em fim diverso do qual foi concebido (reutilização para outros fins) ". Os pneus usados podem ser reutilizados em diversas aplicações como, por exemplo: 0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000 80000 90000 100000 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Valorização Energética Reciclagem Recauchutagem Desempenho de argamassas fabricadas com incorporação de materiais finos provenientes da trituração de pneus 17 1. Em redes artificiais de forma a criar um ambiente adequado para a reprodução de animais marinhos através de estruturas alongadas constituídas por pneus amarrados (SPECHT, 2004); Figura 2.10 – Estrutura utilizada no recife artificial. Fonte: NATIONAL GEOGRAPHIC 2. Em elementos de protecção de molhes marítimos e de barcos (SIMM, 2005); Figura 2.11 – Doca de barcos em Lerici, Itália. Fonte: BENEDICTO PEROTTI Figura 2.12 – Pneus usados utilizados como protecção de barcos. Fonte: LUSA / SOL Capítulo 2 – Estado da arte 18 3. Na protecção contra a erosão costeira (SIMM, 2005); 4. Na construção de túneis, para evitar o contacto directo entre as rochas desprendidas dos maciços e a laje superior do túnel; 5. Em pisos permeáveis para estradas, assim como em camadas drenantes na construção de plataformas ou armazéns (VALORPNEU, 2009d); 6. Na construção de edificações: segundo SPECHT (2004), os pneus inteiros quando preenchidos com material granular, apresentam bons resultados no que diz respeito ao isolamento térmico, acústico e apresentam uma flexibilidade capaz de absorver possíveis assentamentos nas fundações. Recauchutagem Segundo o Decreto-Lei n.o 111/2001, de 6 de Abril, a recauchutagem é a "operação pela qual um pneu já utilizado, após cumprir o ciclo de vida para o qual foi projectado e concebido, é reconstruído de modo a permitir a sua utilização para o mesmo fim para que foi concebido;". Reciclagem De acordo com o Decreto-Lei referido, a reciclagem consiste no "processamento de pneus usados para qualquer fim, que não o inicial, nomeadamente como matéria-prima, excluindo a valorização energética;". Dois dos processos mais conhecidos de reciclagem de pneus usados são o processo mecânico e o processo criogénico. O processo mecânico consiste na fragmentação dos pneus numa série de trituradoras e moinhos até a borracha atingir a dimensão de grânulos. No processo criogénico, o pneu sofre uma primeira trituração mecânica sendo em seguida os seus fragmentos transportados para o túnel criogénico. Após a passagem pelo túnel criogénico e pelos martelos pneumáticos, obtém-se granulado de borracha fino, aço e têxtil. De acordo com a OCDE (JOHNSTONE et al., 2005), uma das grandes dificuldades no desenvolvimento dos mercados de reciclagem consiste no estabelecimento de padrões. Estes padrões são importantes para agilizar a comunicação e os custos da negociação. Neste sentido, a ETRA (European Tyre Recycling Association) desenvolveu uma classificação para os vários níveis de reciclados: a) Aglomerados (bales): empacotamento de pneus inteiros prensados e atados juntos; b) Cortes (cuts): pneus fragmentados mecanicamente de forma irregular em grandes bocados > 300 mm; c) Pedaços (shreds): cortes de menores dimensões, entre 50 e 300 mm; Desempenho de argamassas fabricadas com incorporação de materiais finos provenientes da trituração de pneus 19 d) Chips: pedaços de menores dimensões, entre 10 e 50 mm; e) Grosagem (buffings) ou raspagem: borracha vulcanizada resultante da raspagem do pneu para remover restos de piso antes da recauchutagem; f) Granulados: borracha triturada em grãos entre 1 e 10 mm. Podem ser obtidos por moagem criogénica ou à temperatura ambiente; g) Pó: fracções médias da moagem, inferior a 1 mm, facilmente obtidos por moagem criogénica; h) Pó refinado: fracções maisfinas da moagem, inferior a 0,5 mm, essencialmente proveniente da moagem criogénica; pode incluir também pós com superfícies modificadas para fins específicos; i) Regenerado (reclaimed): borracha submetida a tratamento para reverter a vulcanização e retomar algumas propriedades originais, em especial a capacidade de vulcanizar novamente, a processabilidade e a adesividade; j) Materiais melhorados (upgraded): borrachas processadas para realçar propriedades específicas; k) Aço: fibras de aço recuperadas dos pneus; l) Fluff: o cotão resultante da separação dos têxteis presentes nos pneus; m) Outros: outros artigos. Os pneus usados reciclados podem ser usados: 1. Em engenharia de aterro sanitário, onde os pneus inteiros, cortados em pedaços ou triturados podem ser utilizados como material de enchimento (KAMIMURA, 2002); Figura 2.13 – Sistema séptico de drenagem (KAMIMURA, 2002) Capítulo 2 – Estado da arte 20 2. Em sistemas de drenagem (KAMIMURA, 2002); 3. Segundo a empresa Recipneu, em pavimentos rodoviários através do uso de Betume Modificado com Borracha (BMB). Esta técnica apresenta como vantagens o aumento da aderência entre o pneu e a estrada (atrito) conduzindo assim a um aumento de segurança e uma redução do ruído de circulação. Estas características encontram-se certificadas; Figura 2.14 – Pavimento rodoviário. Fonte: RECIPNEU 4. Segundo a mesma empresa, como enchimento para campos de relva sintética e para pisos de picadeiros, arenas, pistas e outros recintos para a prática da equitação. Relativamente à sua utilização em campos de relva sintética, estes apresentam excelentes características relativamente à drenagem, restituição de energia e resistência à compactação e fricção, sendo o odor a borracha imperceptível. Em relação ao seu uso em desportos hípicos, obtêm-se excelentes resultados quer a nível da elasticidade quer dos efeitos amortecedores e anticompactantes do piso, aumentando o conforto e diminuindo o risco de lesão dos cavalos. Existe também uma diminuição significativa nas frequências das regas; Figura 2.15 – Granulado de borracha incorporado em relva sintética e em recintos de equitação. Fonte: RECIPNEU 5. Em pavimentos anti-choque, existindo esta solução no mercado. Destinam-se a amortecer o impacto em situações de queda e visam a segurança dos seus utilizadores. Podem ser aplicados em parques infantis, piscinas, campos de golfe e áreas recreativas. Têm como principais características: capacidade de absorção do choque, propriedades anti-derrapantes, flexibilidade, durabilidade, permeabilidade à água (secagem rápida após chuva e lavagem) e rapidez na aplicação e eventual reparação. Desempenho de argamassas fabricadas com incorporação de materiais finos provenientes da trituração de pneus 21 Figura 2.16 – Pavimento anti-choque Valorização energética Segundo a Valorpneu, a valorização energética consiste no "processamento de pneus usados por combustão, para recuperação energética". Os pneus usados, inteiros ou fragmentados, constituem-se como alternativa com substancial poder calorífico (cerca de 5700 kcal/kg, sendo que no carvão é de 6800 kcal/kg) em relação ao combustível tradicional. Os pneus são utilizados como combustível nas cimenteiras, proporcionando ainda o enriquecimento do cimento através do aproveitamento da componente do aço que compõe os pneus. A utilização de pneus usados como combustível alternativo permite ainda a redução de emissões por combustão da biomassa, face à utilização de combustíveis fósseis, devido à componente de borracha natural existente nos pneus. 2.3 Elastómeros 2.3.1 Introdução Os elastómeros (borrachas) são uma classe de materiais tal como os metais, as fibras, a madeira ou vidro. Segundo a MALAYSIAN RUBBER PRODUCER'S ASSOCIATION (1984), a borracha natural é quimicamente um cis-1,4-poliisopreno, apresentando uma longa cadeia polimérica linear com unidades isoprénicas (C5 H8) repetitivas e com densidade aproximadamente igual a 0,93 a 20 °C. A sua estrutura faz com que apresente algumas características como fraca resistência ao calor (torna-se pegajosa) e fraca flexibilidade a baixas temperaturas (torna-se dura e quebradiça). Capítulo 2 – Estado da arte 22 Devido a esta situação, apesar de a história da borracha começar nos finais do século XV, quando em 1493 a tripulação de Cristóvão Colombo descreve que os nativos do actual Haiti brincavam com bolas que “ao tocarem o solo subiam a grande altura”, só a partir de 1839, quando, simultaneamente, Charles Goodyear, nos Estados Unidos, e Thomas Hancock, no Reino Unido, descobriram o processo de vulcanização da borracha é que o seu uso se massificou. Desde então, a borracha foi sendo testada e desenvolvida de acordo com as necessidades do momento e passou a ser utilizada como matéria-prima para várias indústrias. O primeiro a aplicar a borracha em rodas de veículos foi o irlandês John Boyd Dunlop, em 1888. O primeiro pneu fabricado nos Estados Unidos data de 1891. Até meados da segunda metade do século XX, a indústria da borracha tinha apenas disponível a borracha natural. O aparecimento das borrachas sintéticas possibilitou uma maior capacidade de adaptação das formulações às especificações dos produtos devido à existência de uma maior variedade de polímeros e aditivos disponíveis. Nomeadamente, a borracha de Estireno-Butadieno (SBR) desenvolvida durante a II Guerra Mundial, quando importantes fornecimentos de borracha natural foram cortados, supera todas as outras borrachas sintéticas no consumo, sendo utilizada em grandes quantidades em pneus de automóveis e de camiões. É o copolímero mais importante da borracha sintética representando cerca de metade da produção mundial total. Estatísticas do International Rubber Study Group, mostram que o consumo de borracha (sintética e natural) pelos países em 2009 foi de cerca de vinte e um milhões de toneladas. A borracha natural representa 44% do consumo global e a borracha sintética 56%. Através dos dados disponíveis, quase ¾ da produção mundial de borracha (natural e sintética) destina-se à utilização em pneus. A restante é utilizada numa grande variedade de produtos industriais e de consumo. 2.3.2 Propriedades Como referido, foi devido à descoberta da vulcanização que o uso da borracha se massificou. Esta operação permite que sejam criadas ligações entre as macromoléculas de um elastómero (reticulação), convertendo um emaranhamento viscoso de moléculas com longa cadeia (Figura 2.17, à esquerda) numa rede elástica tridimensional (Figura 2.17, à direita). Desta forma, o elastómero, que à partida se apresenta como uma massa fraca, muito plástica e sem propriedades mecânicas de interesse, é transformado num produto forte, resistente e com boas características elásticas. No entanto, apresenta algumas desvantagens, uma vez que as suas propriedades são dependentes da temperatura e do tempo e podem degradar em determinados ambientes. http://www.rubberstudy.com/ Desempenho de argamassas fabricadas com incorporação de materiais finos provenientes da trituração de pneus 23 Figura 2.17 - Borracha não vulcanizada (à esquerda) e borracha vulcanizada (à direita) A propriedade principal de um elastómero é a sua capacidade de recuperação após ter sido deformado devido à aplicação de uma tensão. No Quadro 2.5, resumem-se as propriedades da borracha natural através de uma escala qualitativa. Quadro 2.5 – Propriedades da borracha natural. Adaptado de MANTELL (1958) Relativamente à borracha sintética (SBR), verifica-se que, para muitas das aplicações, substitui directamente a borracha natural fazendo depender a escolha unicamente da economia. Tal como a borracha natural, a SBR
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