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ADMINISTRAÇÃO DOS SERVIÇOS DE ENFERMAGEM I 1 ADMINISTRAÇÃO DE SERVIÇOS DE ENFERMAGEM Graduação ADMINISTRAÇÃO DE SERVIÇOS DE ENFERMAGEM 13 U N ID A D E 1 TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO E A ENFERMAGEM As práticas profissionais podem ser explicadas sobre a ótica dos sociólogos, economistas, psicólogos. As TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO tentam explicar os fatores que interferem e os resultados destes comportamentos. Na enfermagem, associa-se o saber de várias ciências e profissões, deste modo parece ser estratégico estudar as práticas da enfermagem sobre a ótica das TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO. OBJETIVOS DA UNIDADE: • Estudar as diferentes teorias da administração, observando as variáveis básicas de: Tarefas; Pessoas, Estruturas, Ambiente e Tecnologia, sem separar o momento histórico e o pensamento administrativo executado da época. • Possibil itar uma reflexão crítica acerca das teorias da administração e sua influência na enfermagem. PLANO DA UNIDADE: • A Administração como ciência. • As teorias da administração e a enfermagem. • 1- A Teoria Científica. • Resumo das características da administração cientifica. • Aspectos positivos. • Aspectos negativos. • Crítica à Teoria Científica. • A Teoria Científica e a enfermagem. • 2- A Teoria Clássica. • A causa para o aparecimento das teorias de gestão fora. • Críticas à Teoria Clássica. • A Teoria Clássica e a enfermagem. UNIDADE 1 - TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO E A ENFERMAGEM 14 • 3- A Teoria das Relações Humanas. • Críticas à Teoria das Relações Humanas. • A Teoria das Relações Humanas e a enfermagem. • 4- A Teoria Burocrática. • Crítica á teoria burocrática. • A Teoria Burocrática e a enfermagem. • 5- A Teoria de Sistemas. • Os principais objetivos da Teoria de Sistemas. • Críticas à Teoria dos Sistemas. • A Teoria de Sistemas e a enfermagem. • 6- A Teoria Contingencial. • Crítica à Teoria Contingencial. • A Teoria Contingencial e a enfermagem. • Conclusão. Bons estudos! ADMINISTRAÇÃO DOS SERVIÇOS DE ENFERMAGEM I 15 A ADMINISTRAÇÃO COMO CIÊNCIA O desenvolvimento da indústria e a crescente separação entre propriedade e administração levaram ao aparecimento do administrador. Este administrador profissional passou a discutir as suas funções, a verbalizar e a teorizar sobre a sua responsabilidade, começando a elaborar um pensamento administrativo. Porém, antes do surgimento do administrador-pensador, encontramos, nos economistas clássicos, do início do séc. XIX, as origens do Pensamento Administrativo. Podemos partir de Adam Smith, criador da Escola Clássica da economia, que, em 1776, mencionava o princípio da especialização dos operários numa manufatura de agulhas para salientar a necessidade de racionalização da produção. Adam Smith sugeria também alguns conceitos de controle e de remuneração. Ele considerava que o bom administrador devia cultivar a “ordem, a economia e a atenção”. Depois de Smith, John Stuart Mill acrescentou mais duas qualidades importantes: a fidelidade e o zelo. Alfred Marshal sugeriu autoconfiança e prontidão. Um economista clássico, Samuel P. Newman, escreveu, em 1835, que um bom empreendedor (undertaker) devia ter uma combinação de qualidades raramente encontradas num indivíduo: Ele deve possuir uma incomum quantidade de previsão e cálculo, para que seus planos sejam bem fundados. Ele deve mostrar perseverança e constância de propósitos ao levar seus planos para a execução. Freqüentemente ele será chamado a superintender e dirigir esforços dos outros e, para bem exercer este ofício, necessitará de discrição e decisão de caráter. Para conduzir alguns ramos da produção com sucesso ele ainda deverá Ter muito conhecimento, tanto do estado do mundo em geral como dos detalhes de empregos e empreendimentos particulares. (Samuel P. Newman, 1975, p. 23). Examinando agora as funções da organização e não do papel do administrador muitos economistas clássicos tiveram algo a dizer. Turgot concebia como funções da administração a direção e o controle. Say falou sobre planejamento, Bowker mencionou organização e direção, Newman mencionou que as funções da administração consistem em “planejamento, arranjo e condução dos diferentes processos de produção”. Para a maioria desses economistas clássicos, o planejamento foi considerado a função mais importante. O treinamento também recebeu boa acolhida. A função foi concebida em temos muito amplos. O princípio da unidade de comando recebeu mais atenção de dois economistas Bower e Bowker, já em 1870. O conceito de controle estava no início confundido com o de controle de furtos. Mais tarde, os economistas passaram a pensar mais em termos de controle de desperdícios. UNIDADE 1 - TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO E A ENFERMAGEM 16 A contribuição dos economistas clássicos para o pensamento administrativo não foi certamente muita técnica, especifica e duradoura, tendo em vista o que viria a ser descoberto durante o séc. XIX. Mas eles certamente contribuíram para valorizar a administração, seja porque a mencionaram dando-lhe o status de um novo campo de conhecimentos, seja porque estimularam os pensadores e autores que vieram logo depois. AS TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO E A ENFERMAGEM As práticas profissionais podem ser explicadas segundo diferentes enfoques. Na enfermagem, como em outras profissões, o enfermeiro incorpora em sua formação, em sua prática, saberes de várias ciências. E dentro delas a ciência da administração, principalmente na administração de pessoal de enfermagem. O conteúdo de todas as teorias versa sobre 05 (cinco) variáveis básicas: tarefa, pessoas, estrutura, ambiente e tecnologia. A ênfase em uma ou mais variáveis permeia os marcos conceituais dessas teorias, dando-lhe caráter específico. Entretanto, fatores sociais, políticos e principalmente econômicos influenciaram, em diferentes momentos históricos, o pensamento administrativo. 1- A Teoria Científica O maior expoente da teoria científica foi Frederick Taylor (1856-19150). Ele está ainda hoje, apesar do tempo e das inovações, entre as figuras que mais se destacaram na História do Pensamento Administrativo, devido à sua contribuição para o movimento da Administração Científica. Taylor começou reconhecendo as deficiências das fábricas e declarou: a) A administração não tinha uma noção clara da divisão de suas responsabilidades com o trabalhador. b) Não eram aplicadas normas eficazes no trabalho. c) Não havia incentivos para o melhor desempenho do tra balhador. d) As decisões administrativas baseavam-se na intuição e palpite. e) Não eram feitos estudos globais visando à integração en tre os departamentos da empresa. f) Os trabalhadores eram colocados em tarefas para as quais não tinham aptidão. g) Os gerentes ignoravam que a excelência no desempenho significaria recompensas tanto para eles próprios quanto para mão-de-obra”. (MAXIMIANO, 1995: 135). ADMINISTRAÇÃO DOS SERVIÇOS DE ENFERMAGEM I 17 Ainda segundo MAXIMIANO (1995: 136), Taylor, para atacar esses problemas, desenvolveu um sistema coordenado de administração em 5 estágios: 1. começou com o estudo sistemático dos tempos necessários para a execução das tarefas, decidindo que o estudo cronométrico de vários desempenhos era o caminho para fixar padrões, em termos de homem-hora ou máquina-hora; 2. em seguida, trabalhou no desenvolvimento de uma rotina que possibilitasse o atingimento dos padrões identificados. Para isso, elaborou técnicas, tais como, cartões de instrução, normas de serviço, organizando a tal ponto a operação da oficina e estabelecendo o funcionamento padronizado; 3. em terceiro lugar, Taylor reconheceu que era importante definirqual pessoa era mais adequada para qual serviço; 4. o estágio seguinte foi o reconhecimento da importância de uma boa supervisão; 5. e, finalmente, reconheceu a necessidade de incentivos salariais que substituíssem a estimulação pelo grito. Resumo das características da Administração Cientifica: • As tarefas. • A estrutura organizacional. • As relações humanas. • A tecnologia. • O ambiente. • Enfoque Mecanicista. • Administração como ciência. • Divisão e superespecializaçao do operário. • Conceito do “Homo Economicus”. • Abordagem fechada. • Ênfase na eficiência. • Principio da execução. Portanto, Taylor sistematizou e disseminou um conjunto de princípios que vinham ao encontro de uma necessidade. Os estudos de tempo e movimento, descrições de cargo, organização e métodos, engenharia da eficiência e racionalização do trabalho foram algumas idéias que a ação de Taylor colocou na ordem do dia e até hoje estão na prática. Taylor declarou que o principal objetivo da Administração Científica consistia em assegurar a máxima prosperidade para o empregador junto com a máxima prosperidade para o empregado. Máxima prosperidade significava, para o empregador, lucros a curto e longo prazo e, para o empregado, remuneração gradualmente maior e pleno desenvolvimento de suas capacidades. Essa prosperidade mútua só poderia pressupor ausência de conflitos entre a administração e o funcionalismo. Tinha como proposta básica o aumento da produção pela eficiência do nível operacional. Para tanto, preconizava a divisão do trabalho, a UNIDADE 1 - TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO E A ENFERMAGEM 18 especialização do operário e a padronização das atividades e tarefas por eles definidas. Assim, o operário passava a saber cada vez menos do todo que constituía o seu trabalho, para passar a saber cada vez mais a parte que lhe cabia. Portanto, era fundamental, no pensamento de Taylor, o conceito de especialização e de eliminação de todos os elementos estranhos a fim de que a atenção esteja concentrada na tarefa essencial. A tarefa de supervisão, por exemplo, deveria ser submetida entre diversos supervisores especializados, responsáveis pelo controle de diferentes aspectos do trabalho. O trabalhador passou a se reportar a diferentes elementos supervisores segundo as diferentes tarefas que executava. Esse conceito de “supervisão funcional”, segundo Taylor, viria obter melhor concentração e bons resultados. Ainda visando ao aumento da produção, foram realizados estudos de “tempo e movimento” que juntamente com a padronização determinavam o como fazer a tarefa e o tempo necessário para a sua execução. Outro aspecto, também valorizado pela Administração Científica, foi o incentivo salarial e o prêmio compatível com a produção. Para Taylor, uma boa teoria de administração deve supor que o trabalhador age de acordo com o interesse pelo ganho material, o qual o leva a produzir individualmente o máximo possível (logo, quanto maior a remuneração, maior a produção). Esse conceito de homo economicus não tem em conta outros fatores de motivação e simplifica estranhamente a personalidade humana. Com todas as suas estranhas suposições, falsas premissas e exageradas simplificações, a obra de Taylor deixou uma influência profunda principalmente nos seus seguidores. Daí, nasceu o Estudo de Tempos e Movimentos, a Engenharia Industrial, a Organização e Métodos e, boa parte, a Administração de pessoal. Os princípios de Taylor, apesar de criticados, ainda hoje servem como “critérios” gerais para o treinamento da supervisão. Nas décadas seguintes, a Escola das Relações Humanas iria produzir uma revisão completa da maneira como encarar o trabalho na fábrica. Aspectos positivos • Incentivos/salários elevados (homo economicus). • Tarefas de acordo com as aptidões. • Objectivos/interesses comuns aos funcionários e gerentes. • Rapidez de produção/execução. • Eficiência de produção. Aspectos negativos • Visão mecanicista da pessoa. • Desconsideração do reconhecimento do trabalho, incentivos morais e da auto–realização. • Organização vista de forma fechada, desvinculada do mercado. • Tarefas repetitivas e monótonas. • Diminuição progressiva do ritmo de trabalho e aumento do stress. ADMINISTRAÇÃO DOS SERVIÇOS DE ENFERMAGEM I 19 • “Lei da fadiga” demasiado simplista. • Divisão social e técnica do processo produtivo. Crítica à teoria científica • Aspecto mecanicista: caracterização do homem como uma peça de en- grenagem e não como ser humano. • Ênfase na especialização do operário como fator de produção. • A não-consideração das influências do grupo no desempenho indivi- dual e a não-consideração da estrutura informal ou dimensão expres- siva no comportamento dos grupos. • proposta de regra e diretrizes que padronizavam e determinavam o comportamento do trabalhador na organização foi considerada bloqueadora da iniciativa e da criatividade e, portanto, considerada como uma teoria essencialmente prescritiva e normativa. A teoria científica e a enfermagem Na gerência de enfermagem, encontramos freqüentemente propostas e ações típicas dessa fase da administração. Assim: • a preocupação com o “como fazer” tem sido a preocupação da enfer- magem enquanto prática profissional; • a divisão do trabalho, aliada à padronização das tarefas, tem norteado essa prática; • a elaboração ou simples adoção de manuais de técnicas e de procedi- mentos tem sido uma das maiores preocupações dos enfermeiros que assumem a responsabilidade dos serviços de enfermagem; • as escalas diárias de divisão de atividades estabelecem um método do trabalho funcionalista que é típico da fase mecanicista da adminis- tração; • a assistência de enfermagem é fragmentada em atividades e, para cada elemento executor, é determinada uma tarefa ou mais tarefas; • dessa forma o elemento executor se distancia do todo, que é a assis- tência de enfermagem integral ao paciente, que é aquela que permite ao executor participar do planejamento, execução e avaliação de to- das as atividades que integram a assistência; ocorre somente na as- sistência ao paciente grave. 2 - A Teoria Clássica Henri Fayol (1841-1925) criou, com suas propostas, a Teoria Clássica da Administração. Essa teoria visava à eficiência da organização pela adoção de uma estrutura adequada e de um funcionamento compatível com essa estrutura. Pela ênfase que dava à estrutura e ao funcionamento, os seguidores desta teoria foram chamados de “anatomistas” e “fisiologistas” da organização. Fayol passou quase toda a sua vida numa indústria de mineração (carvão e aço), primeiro como engenheiro e depois como diretor. UNIDADE 1 - TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO E A ENFERMAGEM 20 Como engenheiro, Fayol acostumou-se a trabalhar baseado em princípios e técnicas. Ele levou esse hábito de trabalho para o seu cargo de gerente e depois de diretor, formulando um conjunto de “princípios de administração geral” que ele considerava úteis para toda situação administrativa, qualquer que fosse o tipo ou ramo da empresa. Fayol dirigiu sua atenção para a empresa como um todo e sua administração e não para as operações industriais ou a eficiência no uso dos recursos, que foi o que Taylor fez. Para Fayol, em toda empresa, coexistem seis funções: técnica, comercial, financeira, de segurança, contábil e administrativa. Definiu as funções de administração nos seguintes termos: “prever ou planejar, organizar, comandar (dirigir), coordenar e controlar”. Planejar era definido como: examinar o futuro e desenhar um plano de ação. Organizar significava: construir a estrutura, material e humana, do empreendimento. Comandar significa: dirigir o pessoal. Coordenar: reunir, unificar, harmonizar as atividades e esforços. Controlar: assegurar-se deque tudo ocorra em conformidade com a regra estabelecida e a ordem expressa. Fayol elaborou “princípios gerais da administração”, levando em conta a variável “pessoas”. Assim surgiram os princípios da divisão do trabalho; da autoridade e responsabilidade; da disciplina; da unidade de comando; da unidade de direção; da subordinação do interesse particular ao interesse geral; da remuneração do pessoal; da centralização; da hierarquia e da eqüidade. Relativo à variável recursos materiais, foi definido o princípio da Ordem (um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar). Alguns princípios se contrastam com os de Taylor. Por exemplo: Taylor, advogou a supervisão funcional, indicando que um operário deveria ser controlado por diversos supervisores, cada um especializado num aspecto da tarefa do operário. Contrariamente, Fayol defendeu o princípio da unidade de comando, segundo o qual uma pessoa deve ter apenas um chefe responsável pelo trabalho. O caráter prescritivo desses princípios é evidente. Eles são propostos como receitas para a vida diária do administrador. A causa para o aparecimento das teorias de gestão fora: • Revolução Industrial. • Aparecimento de unidades industriais de grande dimensão. • Rápido desenvolvimento dos níveis de produção. • Aparecimento das primeiras empresas com linhas de montagem. • Maior divisão do trabalho nas empresas. A Teoria Clássica, influenciada pelas estruturas organizacionais militares e eclesiásticas, concebeu a organização como uma estrutura rigidamente ADMINISTRAÇÃO DOS SERVIÇOS DE ENFERMAGEM I 21 hierarquizada, estática e limitada. A preocupação não era com a divisão do trabalho ao nível individual, mas sim com a divisão ao nível dos órgãos integrantes da organização. Assim surgiu a divisão horizontal do trabalho, ou seja, o agrupamento de atividades afins que Gulick denominou de departamentalização. A divisão vertical do trabalho estabelecia hierarquia de autoridade, determinando a chamada autoridade de linha, que se concretiza pela subordinação integral de um indivíduo ao seu chefe imediato. Para os clássicos da administração, a importância do estabelecimento de princípios residia no fato de servirem de regras ou normas a serem seguidas pelos administradores. Como processo administrativo, complementam-se as duas abordagens mais importantes (científica e a clássica) para a compreensão das responsabilidades dos dirigentes: enquanto Taylor cuidava da empresa de baixo para cima, a partir do chão-de-fábrica, Fayol cuidou da empresa de cima para baixo, a partir do nível executivo. Os preceitos de Fayol são dedicados, em grande parte, aos superiores. O “fayolismo” assumiu o aspecto de uma escola de chefes. Para os clássicos da administração, a importância do estabelecimento de princípios residia no fato de servirem de regras ou normas a serem seguidas pelos administradores. Nos últimos anos de vida, Fayol dedicou-se, como Taylor, a difundir suas idéias. Foi criada uma Escola de Administração e muitos cursos intensivos para levar adiante a mensagem desse pensador aos diversos níveis da indústria e da administração pública. O “fayolismo” foi difundido através da Escola Superior de Guerra, influenciando na organização dos exércitos franceses, atingindo até as colônias. Países como o Brasil, que sofreram uma forte influência da cultura francesa no início do século, também receberam favoravelmente o fayolismo”. Críticas à Teoria Clássica • É de caráter prescritivo e normativo com regras e normas para o admi- nistrador. • Esta teoria só se preocupou com a estrutura formal da organização e não admitiu a existência da estrutura informal, que é constituída pelas pessoas e suas relações. A Teoria Clássica e a enfermagem • Nas instituições de saúde, a estruturação rigidamente hierarquizada estabelece a subordinação integral de um indivíduo a outro e de um serviço a outro. A enfermagem, como um desses serviços, reproduz na sua estruturação o modelo maior. UNIDADE 1 - TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO E A ENFERMAGEM 22 • Assim, os organogramas comumente encontrados nos serviços de enfermagem mostram linhas de subordinação integral, definidas e com- patíveis com o poder atribuído pela organização. • As pessoas e as relações interpessoais não são devidamente consi- deradas. • As propostas de trabalho resultam em atividades rotineiras com avali- ações exclusivamente quantitativas. Assim, a preocupação com a quan- tidade de trabalho desenvolvido é maior do que com a qualidade. 3- A Teoria das Relações Humanas. Na década de 20, a insatisfação do trabalhador aumentou. A revolução industrial havia resultado em grande número de trabalhadores relativamente sem qualificação, trabalhando em grandes fábricas, em tarefas especializadas. Assim, cientistas de administração e teóricos organizacionais começaram a analisar o papel da satisfação do trabalhador na produção. Administradores e pesquisadores trouxeram o fator humano para o centro do palco. Chegara a vez do enfoque comportamental, cuja ênfase está no efeito do comportamento sobre o desempenho. Essa época de relações humanas desenvolveu os conceitos de administração humanística e participativa, dando maior importância às pessoas que às máquinas. Mary Parker Follet foi uma das primeiras a sugerir princípios básicos do que hoje seria chamado de “tomada de decisão participativa” ou “administração participativa”. Em seu ensaio “The giveing of orders”, Follet expunha sua opinião de que os administradores devem ter autoridade com e não sobre os funcionários. Follet afirmou que, para fazê-lo, havia necessidade de uma tomada de decisão coletiva. A era das relações humanas tentou também corrigir o que era percebido como maior deficiência do sistema burocrático - a não-inclusão do “elemento humano”. O principal componente e “pedra fundamental” do enfoque comportamental é a escola de relações humanas no trabalho, que nasceu de um experimento famoso, realizado nos anos de 1927 a 1933, ainda na esteira do movimento da administração científica. Estudos realizados por Elton Mayo e seus colegas de Havard iniciaram- se como tentativa de observar a relação entre a iluminação da fábrica e da produtividade. Mayo e seus colegas descobriram que, quando a gerência dava a atenção especial aos trabalhadores, a produtividade tendia a crescer, não importando as condições do ambiente de trabalho. Este efeito “Hawthorne”1 indicava que as pessoas respondem ao fato de que estão sendo estudadas, tentando melhorar qualquer comportamento que elas sintam irá continuar a garantir a atenção sobre elas. Mayo descobriu também que grupos informais do trabalho e um ambiente de trabalho socialmente informal eram fatores ADMINISTRAÇÃO DOS SERVIÇOS DE ENFERMAGEM I 23 que afetavam a produtividade e recomendou maior participação do funcionário nas tomadas de decisão. Essa teoria passou a enfatizar a variável “pessoa” em lugar da variável “estrutura”, a preocupar-se com o homem no trabalho (aspectos psicológicos) e com os grupos (aspectos sociológicos) em lugar de preocupar-se com os métodos de trabalho e as regras e normas a serem seguidas pelos executantes. Os pressupostos da Teoria Clássica da Administração que consideravam a recompensa econômica como único incentivo e a divisão do trabalho e a especialização como fatores de eficiência foram refutados pela Teoria das Relações Humanas, que considerou as recompensas sociais como fatores determinantes do desempenho dos indivíduos. Mayo passou a salientar a importância da organização informal em contraposição à Teoria Clássica, que concebia apenas a organização formal. Passou a chamar a atenção para a importância da cooperação entre os trabalhadores nos resultadosda produção, para o fato de o trabalho ser uma atividade tipicamente grupal, para a incompatibilidade existente entre os objetivos da organização e os do indivíduo que nela trabalha e para os conflitos resultantes dessa incompatibilidade. Com a teoria das Relações Humanas, a administração passou a tratar, entre outros, de temas relativos à motivação, à liderança, à comunicação e à dinâmica de grupo. Os conceitos clássicos de autoridade, hierarquia, racionalização do trabalho, etc. passaram a ser contestados. O “homem econômico” da Teoria Científica passou a ser denominado “homem social”. Se o movimento foi trazendo novas descobertas e enriquecendo o conhecimento da organização através do estudo do comportamento humano, por outro lado a popularização das idéias de relações humanas trouxe vários abusos e desvios. A Teoria das Relações humanas passou a ser uma técnica de manipulação humana através de táticas sutis de comunicação e dinâmica de grupo. “Relações Humanas” transformou-se num assistencialismo paternalista, em que o cientista social tem o papel de procurar a harmonia, afogar os conflitos e reduzir o confronto direto entre os empregados e a administração. Também com as “Relações Humanas”, a ciência social enveredou por um caminho operacional, longe da grande conceituação fundamental. O cientista social passou a ser um solucionador de problemas, não um crítico independente das relações sociais. Para um contemporâneo como Amitai Etizioni, a Escola de Relações Humanas pôs em dúvida as afirmações dos clássicos segundo os quais havia uma relação simples e direta entre as condições físicas de trabalho e a taxa de produção, argumentando que as recompensas e sanções não-econômicas influem muito no comportamento dos empregados. Etizioni mostrou também que a Teoria das Relações Humanas não permitiu uma visão completa da organização na medida em que se recusou incorporar a teoria formal e se ateve a aspectos informais e subjetivos do comportamento. As relações humanas, segundo ele, certamente melhoram as condições de trabalho, porém não as tornam satisfatórias. UNIDADE 1 - TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO E A ENFERMAGEM 24 Foi também ilusório, para aqueles que acreditam nas relações humanas, esperar que elas dariam o controle da situação para o operário. As conferências, a participação, as sessões de reclamação, as caixas de sugestões, a liderança “democrática”, a boa comunicação em duas vias, todas essas técnicas deram a impressão de uma comunicação para cima, quando na realidade eram formas de controle e dominação. O empregado foi mais bem dominado, porque passou a ser colonizado mentalmente. Críticas à Teoria das Relações Humanas • Os abusos que fizeram com esta teoria, a transformaram numa forma paternalista de administração, em que, na busca da harmonia, os con- flitos eram abafados e os confrontos entre empregados e a adminis- tração, ignorados. Por este fato alguns autores a consideram como uma “ideologia manipuladora da empresa capitalista num determina- do momento histórico de seu desenvolvimento”. A Teoria das Relações Humanas e a enfermagem • Na administração do pessoal de enfermagem, a liderança surge como uma estratégia de condução de grupo. Até os dias de hoje, é um assunto tratado nos cursos de graduação em enfermagem ou em pro- gramas de cursos de atualização para enfermeiros. • A comunicação adequada entre o enfermeiro (líder) e os demais mem- bros do grupo de enfermagem multiprofissional foi sendo considerada relevante para a continuidade e otimização da assistência de enfer- magem. • Quanto à motivação do pessoal, encontramos interesses isolados, ou seja, enfermeiras preocupadas em proporcionar condições que esti- mulem e incentivem o pessoal, mas não encontramos filosofia e políti- cas institucionais que consideram esse tipo na Administração do pes- soal de enfermagem. 4- A Teoria Burocrática Marx Weber (1864 - 1920), sociólogo alemão que se notabilizou pela teoria das estruturas de autoridades, formou-se em Direito e passou quase toda a sua vida como professor de universidade. Weber criou uma “escola” cultural orientada para a Sociologia da Burocracia2. Weber, boa parte de sua vida, sofreu de distúrbios nervosos, depressões severas, entrecortadas de fases maníacas de intenso trabalho intelectual e de viagens. Nos períodos saudáveis, viajou por toda a Europa. Em 1904, sua produtividade estava no melhor nível e foi quando começou a escrever “A Ética protestante”. Para Etizioni3, essa ética constituía-se no “trabalho ADMINISTRAÇÃO DOS SERVIÇOS DE ENFERMAGEM I 25 duro e árduo como dádiva de deus e na poupança como forma de evitar a vaidade e ostentação”. Em 1904, visitou os Estados Unidos, que o impressionaram profundamente “pela vibração do rush urbano, pelos arranha-céus, pela violência e falta de lei de Chicago, pela enlouquecedora mistura de povos e pelas proporções do desperdício, especialmente de vida humana”. Os Estados Unidos provavelmente foram para ele o modelo de uma sociedade nova, onde a máquina burocrática política era indispensável para garantir uma democracia de massas. Weber distinguia 3 tipos de sociedade e de autoridade. Na sociedade tradicional (tribo, clã, família, sociedade medieval), predominam características patriarcais e patrimonialistas; a autoridade que a preside é histórica, advinda muitas vezes do direito divino, transmissível por herança ou dinastia. Na sociedade carismática (partidos políticos, grupos revolucionários, nações em evolução), predominam características místicas, arbitrárias e personalísticas; a autoridade que a preside é exercida por um homem. Na sociedade burocrática (os Estados modernos, as empresas, os exércitos), predominam normas impessoais e uma racionalidade na seleção entre meios e fins; os tipos de autoridade exercidos são técnico, meritocrático e administrado. A Teoria Burocrática desenvolveu-se, na administração, ao redor dos anos 40, atendendo às novas dimensões e complexidades das organizações então existentes. Surge como conseqüência, a necessidade de serem estabelecidos novos sistemas de controle de pessoal. O comportamento do homem no trabalho passa a ser preestabelecido, e o treinamento minucioso desse comportamento é feito nas próprias organizações. Nessa nova proposta, as emoções não fazem parte do comportamento estabelecido. A burocracia, segundo Weber, traz consigo diversas vantagens. A precisão com que cada cargo é definido permite esclarecer a quem cabe cada responsabilidade. A rapidez é obtida através de uma transmissão de ordens e papéis seguindo canais estabelecidos. A univocidade é outra vantagem que permite interpretação única através de regulamentos específicos e de uma hierarquia formalizada. A substituição imediata de todo administrador que se afasta e os critérios de seleção por competência técnica garantem continuidade. A informação é discreta, pois só é dada a quem deveria recebê- la. Os procedimentos definidos por escrito permitem uniformidade, redução de erros e custos. A proposta burocrática visa à eficiência organizacional como objetivo básico e, para tanto, detalha pormenorizadamente como as coisas deverão ser feitas, ou seja, prevê em detalhes o funcionamento organizacional. Desse modo, mantém um caráter racional e uma sistemática divisão de trabalho. Caracteriza-se ainda pela impessoalidade nas relações humanas, considerando os indivíduos apenas em função dos cargos e funções que exercem na organização. A determinação de procedimentos e rotinas é evidente e os participantes são considerados profissionais, caracterizando- UNIDADE 1 - TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO E A ENFERMAGEM 26 se pela especialização técnica, pela remuneração condizente com o cargo, pela nomeação pelo chefeimediato, pelas possibilidades de ascensão na estrutura organizacional e pelo fato de não participarem do capital da organização. Crítica à Teoria Burocrática As críticas a esta teoria são denominadas disfunções: o exagerado apego às regras, normas e regulamentos, transformando-os de “meios” em “fins”. • Valorização maior nas normas e regras do que para o contingente humano. • Impessoalidade no relacionamento humano. • Necessidade de exigir símbolos que evidenciem o poder dos partici- pantes. A Teoria Burocrática e a enfermagem • Nas instituições de saúde, encontramos freqüentemente formas organizacionais burocráticas. • Os serviços de enfermagem seguem o modelo da instituição, permitin- do a visualização nas estruturas e dinâmicas desses serviços, de pro- posta burocrática. • O pessoal de enfermagem passa a ter características profissionais de técnicos especializados com comportamentos e posições estrategica- mente definidos pelo grupo que detém poder na organização. • A valorização das normas e regras parece ser, entretanto, o enfoque da Teoria da Burocracia que mais tem influenciado a prática da enfer- magem, influência essa que, na verdade, constitui um dos fatores que têm contribuindo para uma prática administrativa estanque, baseada em regras e normas obsoletas com poucas perspectivas de mudan- ças. Percebe-se que a administração na enfermagem sofre o mal de uma disfunção da Teoria Burocrática. 5- A Teoria de Sistemas Segundo o sociólogo alemão, Ludwing Von Bertalany (1985, p.11), fundador da Teoria de Sistemas, “é uma nova visão da realidade que transcende os problemas tecnológicos, exige uma reorientação das ciências, atinge uma ampla gama de ciências desde a física até as ciências sociais e é operativa com vários graus de sucesso”. Ao invés de lidar separadamente com os vários segmentos de uma organização, a abordagem sistêmica vê a organização como um sistema unificado e propositado, composto de partes inter-relacionadas. Desenvolvida em 1960, a teoria elabora princípios gerais, sejam físicos, biológicos ou sociológicos e modelos gerais para qualquer das ciências envolvidas. O aparecimento dessa teoria interdisciplinar é a prova do isomorfismo (similaridades estruturais) nas várias ciências. Ela também veio a preencher o vazio entre elas, pois há sistemas que não podem ser entendidos pela investigação separada e disciplinar de cada uma de suas ADMINISTRAÇÃO DOS SERVIÇOS DE ENFERMAGEM I 27 partes. Só o todo possibilita uma explicação. Por isso também, diz-se que a Teoria de Sistemas é uma ciência da “totalidade”. Essa abordagem permite que os administradores vejam a organização como um todo e como parte de um sistema maior - o ambiente externo. Com isso, a Teoria de Sistemas nos diz que a atividade de qualquer segmento de uma organização afeta em graus variados a atividade de todos os outros segmentos. Os principais objetivos da Teoria de Sistemas são assim resumidos: a) Há uma tendência geral para uma integração nas várias ciências natu- rais e sociais. b) Uma integração parece estar centrada na teoria geral dos sistemas. c) Essa teoria pode ser um meio importante para obter uma teoria exata nos campos não-físicos da ciência. d) Ao desenvolver princípios unificadores para o universo de cada ciên- cia, essa teoria nos leva mais perto da meta da unidade da ciência. e) Isto poderá levar à necessária integração da educação científica. Quanto à natureza, os sistemas podem ser abertos ou fechados. Os fechados não intercambiam com o meio ambiente; portanto, não interferem nesse meio ambiente e não recebem dele nenhuma interferência. Os sistemas abertos intercambiam matéria e energia com o meio ambiente, restaurando assim suas perdas de energia. Os parâmetros que caracterizam o sistema aberto são a “entrada ou insumo”, o “processamento ou transformação” e o “ambiente”. Temos, então, a sinergia - situação em que o todo é maior que a soma de suas partes. Em termos organizacionais, sinergia significa que os departamentos que interagem cooperativamente são mais produtivos do que se operassem isolados. Katz (1980, p. 41) nos diz que: (...) as teorias tradicionais da organização têm propendido a ver a organização humana como um sistema fechado. Essa tendência nos levou a desconsiderar os diferentes ambientes organizacionais e a natureza da dependência da organização para com o ambiente. Ela também nos levou a uma superconcentração nos princípios de funcionamento interno, com a conseqüente falha em desenvolver e compreender os processos de realimentação (feedback) que são essenciais à sobrevivência. Bertalanffly observa que a Teoria de Sistemas tem influído sobre o conceito do homem. A psicologia tem estado em crise durante muitos anos por não ter encontrado uma solução holística ou globalizante que a teoria da Gestalt lhe trouxe mais recentemente. A concepção tradicional que o psicólogo tem do homem é o de um conjunto de sensações, tendências, impulsos, reações e outros elementos tomados em separado e sem integração. O novo “modelo do homem” dá uma visão de totalidade, põe ênfase no lado criativo e o considera um organismo ativo. Em contraste com o modelo de organismo reativo, expresso no esquema “estímulo-resposta” dos behavioristas, o organismo psicofísico é visto pela nova teoria como um sistema ativo e UNIDADE 1 - TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO E A ENFERMAGEM 28 integrado, que mantém a unidade do todo, importa energia e realimenta seus programas por um sistema de informação adequado. O ser humano não pode ser visto apenas “respondendo a estímulos” ou “satisfazendo suas necessidades biológicas”. A Teoria dos Sistemas baseia-se no conceito de “homem funcional”, em contraste com o conceito de “homem econômico” da Teoria Clássica e do “homem social” da teoria das Relações Humanas. O “homem funcional” se caracteriza pelo relacionamento interpessoal com outras pessoas como um sistema aberto. Ainda segundo esta teoria, as organizações são consideradas um sistema de papéis, e os indivíduos constituem os atores que desempenham esses papéis. Quanto às críticas, a Teoria de Sistemas ainda não foi alvo delas e, segundo alguns autores, isto ocorre por ser uma teoria recente e coerente com a estrutura econômica de hoje. A Teoria de Sistemas chama a atenção para a natureza dinâmica e inter- relacionada das organizações e da tarefa administrar com uma perspectiva sistêmica: os gerentes gerais podem manter mais facilmente um equilíbrio entre as necessidades das várias partes da empresa e as necessidades e metas da firma com um todo. A perspectiva sistêmica trouxe uma nova maneira de ver as coisas. Não somente em termos de abrangência, mas principalmente quanto ao enfoque. O enfoque do todo e das partes, do centro e do fora, do total e da especialização, da integração interna e da adaptação externa, da eficácia e da eficiência. Críticas à Teoria dos Sistemas Quanto às críticas, esta teoria ainda não foi alvo delas e, segundo Motta, isto ocorre por ser uma teoria recente. A Teoria de Sistemas e a enfermagem • Nas organizações de saúde e nos serviços de enfermagem encontra- mos, nos últimos anos, como propostas organizacionais inovadoras, estruturas com características da Teoria de Sistemas. • Dessa forma, as organizações são aceitas como subsistemas do siste- ma maior, o qual, no caso, é o sistema de saúde, e com ele intercambiam matéria e energia. • Entretanto, nessas organizações, coabitam, com relativa freqüência, propostas compatíveis com outras teorias aqui descritas. ADMINISTRAÇÃO DOS SERVIÇOS DE ENFERMAGEM I 29 6- A Teoria Contingencial A palavra contingência significa algo incerto ou eventual que pode suceder ou não. Refere-se a uma proposição cuja verdadeou falsidade somente pode ser reconhecida pela experiência e pela evidência e não pela razão. A teoria da Contingência surgiu de estudos que investigaram como uma empresa funcionava de diferentes formas em diferentes condições. Esses estudos possibilitaram concluir que as condições que uma organização opera são ditadas de fora para dentro da empresa, ou seja, o ambiente externo à organização influencia na sua estruturação e nos processos organizacionais. Quando métodos altamente eficazes numa situação deixavam de funcionar em outras, buscaram-se explicações. Os defensores da contingencial defendiam: “Os resultados são diferentes porque as situações são diferentes.” Portanto, a abordagem contingencial procura compreender as relações dentro dos subsistemas e entre eles, bem como entre a organização e o ambiente e definir os padrões de relações ou configurações das variáveis. Ela enfatiza a natureza multivariada das organizações e tenta compreender como as organizações operam sob condições variadas em circunstâncias específicas. A visão contingencial é, no final das contas, orientada para sugerir delineamentos organizacionais e ações gerenciais mais apropriadas para situações específicas. A abordagem contingencial salienta que não se atinge a eficácia organizacional seguindo um único e exclusivo modelo organizacional, ou seja, não existe uma forma única que seja melhor para organizar, no sentido de se alcançar os objetivos altamente variados das organizações dentro de um ambiente variável. Na verdade várias pesquisas - uma delas desenvolvida por Lawrence & lorsch -, sobre o binômio organização/ambiente, marcaram o início da Teoria Contingencial. Esses autores: 1- são unânimes na rejeição dos princípios universais da Administração, não existe uma melhor maneira de administrar ou de organizar. O que os administradores fazem depende das circunstâncias ou do ambiente. Neste enfoque, a prática administrativa é eminentemente situacional e circunstancial. Em outros termos, é contingente. Em outras palavras, a teoria enfatiza que não há nada de absoluto nas organizações, tudo é relativo. Tudo depende; 2- como a prática administrativa é situacional, segue-se que o administrador deve desenvolver suas habilidades de diagnóstico para que tenha a idéia certa no momento certo. A abordagem contingencial supre a administração de conceitos, instrumentos, diagnósticos, métodos e técnicas apropriadas para a análise e resolução de problemas situacionais. A tarefa do administrador é identificar que técnica poderá, numa situação específica, sob circunstâncias específicas, numa situação específica e num momento específico, contribuir melhor para a obtenção dos objetivos da administração. UNIDADE 1 - TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO E A ENFERMAGEM 30 3- a abordagem contingencial é aplicável a um sem-números de habilidades administrativas, principalmente aquelas que envolvem componentes comportamentais. Um dos aspectos curiosos da abordagem contingencial é o fato de que quase todos os conceitos utilizados são colocados não em termos absolutos, mas em termos relativos, como em um continuum. Assim, a Teoria X e a teoria Y proposta por Mcgregor não são duas teorias, mas sim dois extremos de um continuum de estilos administrativos. O modelo mecanístico e o modelo orgânico não são dois modelos antagônicos, mas dois extremos de um continuum de variedades de desenhos organizacionais. A tarefa pode ser, num extremo, rotineira, e no outro, não-rotineira; o ambiente da tarefa pode ser num extremo, estável e, no outro, dinâmico, e assim por diante. Somente com a teoria da contingência é que ocorre o deslocamento da visualização de dentro para fora da organização: a ênfase é colocada no ambiente e nas demandas ambientais sobre a dinâmica organizacional. A abordagem contingencial salienta que são as características ambientais que condicionam as características organizacionais. Os sistemas culturais, políticos, econômicos etc. afetam intensamente as organizações, ao mesmo tempo em que intimamente relacionados em dinâmica interação com cada organização. Em uma apreciação crítica, verifica-se que a Teoria da Contingência é eminentemente eclética e interativa, mas ao mesmo tempo relativa e situacional. Em alguns aspectos, parece que a Teoria da Contingência é muito mais uma maneira relativa de encarar o mundo do que propriamente uma teoria administrativa. Crítica à Teoria Contingencial Ainda é considerada uma teoria muito nova para se perceber ou apontar aspectos negativos. Quanto aos aspectos positivos, ela exerce um papel integrador por abarcar conceitos de várias teorias sendo que nenhum deles são conceitos absolutos, permitindo, assim, reflexão sobre o tema proposto. A teoria contingencial dá mais ênfase à estrutura da empresa e menos na pessoa. A Teoria Contingencial e a enfermagem. Nas instituições de saúde, esta teoria pode ser percebida como referencial de propostas administrativas de um ou mais administradores, mas não embasando políticas e diretrizes institucionais. CONCLUSÃO Nesta unidade, a prática da enfermagem foi analisada segundo as diferentes teorias da administração, teve como influência diversos pensadores como Rousseau, Engels e Marx, como também da Igreja Católica, das organizações militares, das revoluções industriais e dos economistas das respectivas épocas. ADMINISTRAÇÃO DOS SERVIÇOS DE ENFERMAGEM I 31 DICA LEITURA COMPLEMENTAR Esperamos que a visão crítica do profissional de enfermagem, no quadro comparativo de sua época, e seu ambiente de trabalho possam ser observados segundo os princípios de cada teoria da administração. A teoria da administração é um assunto ainda desenvolvido no curso de Administração com uma maior profundidade e com mais tempo, conteúdo este que poderá ser visto e estudado de forma mais abrangente pelo graduando de enfermagem como forma de completar o seu conhecimento em administração hospitalar. Aprofunde seus conhecimentos, lendo um estudo sobre a conduta gerencial da enfermeira: um estudo fundamentado nas teorias gerais da administração, escrito por Marcia Simoni Fernandes, publicado na Revista Latino-Americana de Enfermagem no ano de 2003, disponível em: http:// w w w . s c i e l o . b r / s c i e l o . p h p ? s c r i p t = s c i _ a r t t e x t & p i d = S 0 1 0 4 - 11692003000200004&tlng=en&lng=en&nrm=iso Esta pesquisa mostra como a base das teorias da administração exercem fortes influências nas práticas de enfermagem, servindo de apoio para as ações gerenciais e de gestão seja em nível hospitalar ou comunitário. KURCGANT, P. Administração em Enfermagem. São Paulo, EPU, 1991. CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 6. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2004. FOLLETT, M. P. O conflito construtivo. In: GRAHAM, Pauline (Org.) Mary Parker Follett: profeta do gerenciamento. Rio de Janeiro: Qualitymark Ed., 1997. ETIZIONI, A. Organizações Modernas. São Paulo, Pioneiras, 1976. ESCORSIM S., KOVALESKI J.L., REIS D.R. Evolução conceitual da administração da produção disponível em http://www.pg.cefetpr.br/ppgep/Ebook/e- book2006/Artigos/78.pdf Acesso em 31 dez 07 FAYOL, H. Administração industrial e geral. São Paulo, Atlas, 1950. ETIZIONI, A. Organizações Modernas. São Paulo, pioneiras, 1976. TREVIZAN, M. A. Enfermagem Hospitalar: administração e burocracia. Brasília, UNB. 1988 BERTALANFFY, L. V. Teoria geral dos sistemas. Petrópolis: Vozes, 1975 KATZ, R.; KHAN, L. Psicologia social das organizações. 2a.ed., São Paulo: Atlas, 1976. UNIDADE 1 - TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO E A ENFERMAGEM 32 É HORA DE SE AVALIAR! Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício!Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco ! NOTA 1 Bairro da cidade de Cícero, no estado de Illinois (EUA), onde situava a empresa Western Electric que, em parceria com a General Electric, desenvolveu estudos que procuravam determinar se a iluminação do ambiente de trabalho tinha algum efeito sobre a produtividade. 2 Aqui a palavra Burocracia é definida como um sistema social organizado por normas escritas visando a uma racionalidade e igualmente no tratamento de seus públicos, clientes ou participantes. 3 ETIZIONI, A. Organizações Modernas. São Paulo: Pioneiras, 1976.
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