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NOTA DE AULA SOBRE AS ESCOLAS DA EXEGESE E DA DOGMÁTICA Gustavo Tavares Cavalcanti Liberato INTRODUÇÃO Cumpre destacar que o presente texto não pretende trazer qualquer exaurimento dos pontos sobre os quais se debruça, mas apenas introduzir, em um contexto mais suave e prático, parte do quanto existe na disciplina de Hermenêutica Jurídica, a partir da observação da existência de evidências do uso de algumas das principais Escolas e movimentos da Hermenêutica Jurídica registrados nos anais da jurisprudência brasileira, em que pese, sem a devida discussão. A Hermenêutica, deve-se dizer, é uma ciência fundamental para a formação do raciocínio jurídico, daí sua importância, mesmo não sendo ela uma disciplina que, como se pode dizer, se mostre sempre no proscênio (região do palco mais próxima ao público), mas atue determinantemente nos bastidores da construção argumentativa. Assim, após breve apontamento sobre a distinção entre Hermenêutica e Interpretação, passar-se-á à análise prometida. Para que se possa falar em processo de conhecimento (e a Hermenêutica Jurídica é uma espécie deste gênero) mostra-se indispensável a existência de três elementos, quais sejam: o Sujeito Cognoscente, a Atividade de Conhecimento e o Objeto Cognoscível. O sujeito depara-se com o objeto e, reconhecendo a sua existência como algo diferente de si, desenvolve uma atividade gnosiológica (em um ou mais atos deste gênero) para procurar obter dados e informações sobre o objeto. Convém lembrar que o tipo de objeto determina em parte o ato gnosiológico a ser desenvolvido. Assim, por exemplo, ao se objetivar o conhecimento de um texto escrito, a compreensão deste texto somente se faz possível pelo uso do ato gnosiológico da compreensão, e, dentre as diversas subespécies deste, do uso do subtipo interpretação (FALCÃO, 1997, p. 13-18). Mas qual sua relação com a Hermenêutica? Gustavo Tavares Cavalcanti Liberato, Advogado, Mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza – UNIFOR e Professor de Hermenêutica Jurídica, Direito Constitucional, e Biodireito nesta instituição. Professor de Hermenêutica Jurídica da Faculdade Ari de Sá. E-mail: gustavoliberato.adv@gmail.com.br. Dentre as muitas roupagens de que se pode revestir a Hermenêutica, talvez a que mais de perto interesse ao jurista seja a de conhecimento científico. Tanto assim, que um dos maiores hermeneutas brasileiros, CARLOS MAXIMILIANO (1998, p. 01), dizia ser a hermenêutica jurídica, “a teoria científica da arte de interpretar”. Mas essa definição, de atualidade ainda presente, traz muito a se considerar: desde a consideração acerca do que vem a ser uma “teoria científica”, até a distinção fundamental entre hermenêutica e interpretação. De logo esclareça-se que a Hermenêutica se caracteriza por ser a ciência que estuda as formas de uso da interpretação. Deste modo, ela não pode ser confundida com a interpretação, a qual é, apenas, um subtipo do ato gnosiológico da compreensão, a qual se dirige para a decodificação de expressões (linguagens) simbólicas, estabelecendo a relação significante-significado e atribuindo o sentido de tais expressões. Destarte, seja a linguagem escrita, falada, gestualizada etc., sempre se estará perante um objeto a ser conhecido pelo uso do subtipo de ato gnosiológico da compreensão chamado interpretação. Registre-se ainda, que a Hermenêutica aplicada respeita não apenas ao estudo das formas de uso da interpretação, mas, outrossim, à superação de lacunas. Com isso em vistas, inicie-se a exposição das evidências encontradas. I – ESCOLA DA EXEGESE François Laurent (1810-1887) “A lei não contém palavras inúteis” LAURENT foi um dos principais adeptos da Vertente Extremada da Escola da Exegese, indicando que a lei, criada a partir da Vontade Geral e pelo uso da Recta Ratio seria sempre perfeita, descabendo qualquer outra interpretação que não a literal. O intérprete, assim, para ele, seria “um escravo da lei” pelo fato de não poder opor sua vontade à do legislador. A literalidade, apresentaria a “fórmula do pensamento”, pelo que “dizer que esse pensamento será outro que não aquele expresso no texto claro e formal” seria acusar o “legislador” de uma leviandade descabida (FRANÇA, 1999, p. 14). A Escola da Exegese adveio do iluminismo à época reinante, o qual, acreditava que a razão humana era perfeita e capaz de resolver qualquer problema ou conflito. Bastaria ao intérprete dar ouvidos à Recta Ratio de que todo ser humano (exatamente por ser humano) seria titular e que conduziria sempre ao que há de bom, reto, justo e verdadeiro, isto é ao Direito Natural de matriz Racionalista, para a obtenção de decisões sempre justas. Mas essa justiça já estaria positivada, à medida que os legisladores se valeriam dessa Recta Ratio para elaborar a lei, assim, nada mais cabendo ao intérprete do que aplicá-la literalmente e acatar suas consequências. Exatamente por isso se usa apresentar, como alguns caracteres da Escola da Exegese e do Código Civil de 1804: I – A Teoria da Plenitude da Lei: Antecessora remota da característica da Completude do Ordenamento Jurídico (essa de viés científico), essa teoria estabelecia o Dogma da Completude da Lei (singularmente considerada). Sendo a razão humana perfeita e, por consequência lógica, o que ela produz perfeito, a Lei seria perfeita, não possuindo falhas, incompletudes e podendo resolver qualquer dificuldade. As “mazelas” de sua aplicação não seriam causadas por ela, mas pelo intérprete que não se teria valido adequadamente da Recta Ratio. II – A Atemporalidade da Lei: Sendo perfeita, a lei não padeceria de defasagem pelo decurso do tempo. O que foi perfeito ontem continuará perfeito hoje e será perfeito amanhã. A “Justiça como Perfeição” (estado perfeito de uma relação humana) seria eterna, invariável e imutável, como preconizava o Direito Natural de fundo Racionalista, que animou a criação dessa Escola. III – A Universalidade da Lei: Por ser perfeita e por haver em cada ser humano a presença da Recta Ratio a conta de sua própria natureza racional, cada indivíduo, uma vez confrontado com a perfeição em forma de Justiça seria capaz de reconhecê-la positivada na norma e de acolhê-la. Por isso as “Guerras de Expansão” napoleônicas, a despeito dos interesses político- econômico subjacentes, apresentavam como justificativa legitimadora a pretensão de “levar a liberdade aos povos que não a possuíam, mas se viam oprimidos por tiranias monárquicas”. Ora, não dizia, pretensiosamente, o art. 16 da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão (de 1789) que: “Art. 16. A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação de poderes não tem Constituição” (v. FERREIRA FILHO, 2000, p. 163)? IV – A Separação de Poderes: Aqui cabe uma análise um pouco mais detida, pois tem-se, na verdade, a adoção da “Separação Estanque (ou Absoluta) de Poderes”, o que dista consideravelmente da construção de MONTESQUIEU. Trata-se, aqui, do juiz imaginado por MONTESQUIEU, em 1747, o qual seria um ente nulo politicamente, um ente inanimado – sem anima, sem alma, sem vontade própria, um “autômato da lei” como dir-se-ia depois –, neutro, o qual simplesmente seria a boca que pronuncia as palavras da lei (1996, p. 169-170; 172 e 175). Com efeito, diz MONTESQUIEU (1996, p. 175): “Mas os juízes da nação são apenas, como já dissemos, a boca que pronuncia as palavras da lei; são seres inanimados que não podem moderar nem sua força, nem o seu rigor”. Essa mentalidade está na base da construção do Estado de Direito (Estado Liberal clássico), no sentido de tornar previsível e limitada toda a atuação estatal. De fato, levada aos extremos, essa mentalidade restou gravemente deturpadalogo após a Revolução Francesa, como registram HAMON, TROPER e BURDEAU (2005, p. 90-91): A essas críticas, é o importante acrescentar outras duas: em primeiro lugar, a separação dos poderes descrita pela doutrina tradicional é geralmente imputada a Montesquieu, por mais que alguns autores procurem as origens em outros como Locke ou Bolingbroke. Ora, como mostrou Charles Eisenmann, de maneira irrefutável, o sistema preconizado por Montesquieu é na verdade completamente diferente e até radicalmente oposto ao da separação de poderes (EISENMANN, 1933; TROPER, 1980). [...] Dois tipos de explicação podem, então, ser dados: de acordo com a primeira, os homens da Revolução Francesa teriam entendido mal o Espírito das Leis; enquanto Montesquieu entendia o princípio de uma forma maleável, os revolucionários teriam dado, por força do sistema, uma interpretação rígida. De acordo com a segunda explicação, vista do ângulo histórico, a separação dos poderes de que trata a Declaração dos Direitos do Homem de 1789 não tem nenhuma relação com a separação dos poderes da doutrina tradicional. Os termos são os mesmos, mas trata-se de uma doutrina diferente. A expressão simplesmente mudou de sentido, desde essa época (Grifou-se). MONTESQUIEU, dando coerente seguimento à sua máxima de que “quem tem o poder é levado a dele abusar”, devendo o poder conter o poder (1996, p. 166-167) desenhou um sistema interferências recíprocas entre os poderes – perfeitamente similar, em sua estruturação, ao sistema de freios e contrapesos que seria apresentado pelos federalistas americanos tempos mais tarde – no qual se encontram as interferências entre legislativo, executivo e judiciário, sendo este último, em razão de sua inércia, pouco lembrado pelo autor (1996, p. 173-178) como forma de viabilizar um controle recíproco tendente ao equilíbrio e harmonia entre poderes. Os revolucionários, por sua vez, distaram de MONTESQUIEU pelo fato de haverem encampado uma “Separação Estanque (ou Absoluta) de Poderes”, em que inexistia o sistema de freios e contrapesos (Checks and Balances System), de autoria comumente imputada aos americanos, mas devidamente pensada, com antecedência, por MONTESQUIEU (1996, p. 176), ao dizer da dinâmica dos poderes e sua necessária harmonia: “Estes três poderes deveriam formar um repouso ou uma inação. Mas, como, pelo movimento necessário das coisas, eles são obrigados a avançar, serão obrigados a avançar concertadamente” (Grifou-se). Tais caracteres e ideias culminam no chamado “Duplo Reducionismo”, o qual consagra a Teoria Monista de produção do Direito, apresentando o Estado como seu único criador. O reducionismo é um obstáculo epistemológico (isto é, ao conhecimento seguro, dir-se-ia hoje, “científico”) uma vez que promove uma simplificação exagerada do objeto, impedindo o seu adequado conhecimento. Na Escola da Exegese, isso se manifesta na ideologia de que: (A) – Todo Fenômeno Jurídico se reduz ao Direito Positivo; (B) – Todo o Direito Positivo se reduz à Lei posta pelo Estado. Há uma variação da assertiva epigrafada (“A lei não contém palavras inúteis”) para o universo contratual, a partir das lições de ROBERT JOSEPH POTHIER (1699-1772), o qual foi presidente da Corte de Orelans por 52 anos, relativamente ao estudo das Pandectas (Digesto), tendo elaborado várias regras interpretativas aplicáveis ao CC Francês de 1804 (e a este recolhidas), e, também, à codificação brasileira, sob certas condições. Tal regra é conhecida como PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO ou APROVEITAMENTO DOS CONTRATOS e consiste em estabelecer que o contrato deva ser sempre interpretado de modo a fazer com que as suas cláusulas tenham aplicabilidade, extraindo-se delas o máximo de utilidade, não sendo aceitável a ideia de que as partes possam celebrar um contrato do qual constem cláusulas que visem a produção de efeito algum. Sua formulação é: “Quando uma cláusula é suscetível de dois sentidos, deve-se interpretá-la de maneira que possa gerar algum efeito, e não de modo que não produza qualquer efeito”. Com efeito, diz POTHIER (2003, p.60): 92. Cuando una cláusula es susceptible de dos sentidos, se debe más bien entenderla conforme al que ha podido tener efecto, que no según aquel sentido que daría por resultado no ser posible estipulación alguna. Quoties in stipulationibus ambigua ratio est, commodissintum est id accipi quo res de qua agitur in tuto sil (L. 80, de verb. oblig.). (Grifos do original) Sobre o caso da lei, veja-se a Apelação nº 2005.70.01.001551-6/PR, julgada pelo TRF da 4ª Região, a qual versava sobre a aplicação de multa por erro na indicação do país de origem da importação de mercadorias, entendendo a autoridade aduaneira que deveria ser indicada “Taiwan” e não “China” como país de origem. Destarte aplicou-se a multa do art. 69, §2º, IV da Lei 10.833/03: Art. 69 - A multa prevista no art. 84 da Medida Provisória nº 2.158-35, de 24 de agosto de 2001, não poderá ser superior a 10% do valor total das mercadorias constantes da declaração de importação. [...] § 2º - As informações referidas no § 1º, sem prejuízo de outras que venham a ser estabelecidas em ato normativo da Secretaria da Receita Federal, compreendem a descrição detalhada da operação, incluindo: [...] IV - países de origem, procedência e de aquisição. Assim, insatisfeita, a recorrente, assevera que “Taiwan” não é um país, mas uma província pertencente á República Popular da China, a exemplo do Tibete: EMENTA: TRIBUTÁRIO E ADUANEIRO. MULTA POR INCORREÇÃO NO PREEENCHIMENTO DA DECLARAÇÃO DE IMPORTAÇÃO. PAIS DE ORIGEM DAS MERCADORIAS. LEI 10.833/03, § 2º, IV. 1. É princípio basilar de hermenêutica jurídica que a lei não contém palavras inúteis, ou seja, as palavras devem ser compreendidas como tendo alguma eficácia. 2. Taiwan é uma província da China e não tem reconhecimento como país, nem do Brasil, nem da ONU. 3. Apelação provida. Do Acórdão relatado pelo Des. Federal JOEL ILAN PACIORNIK, observa-se uma argumentação bastante interessante para ilustrar o trato com o domínio da Escola da Exegese e do uso da chamada “Teoria dos Fundamentos Óbvios”, velha conhecida da Semiótica – a qual se pode apresentar como a Ciência geral dos signos e da semiose que estuda todos os fenômenos culturais como se fossem sistemas sígnicos, isto é, sistemas de significação – pois, como recorda ALFREDO AUGUSTO BECKER (1998, p. 11): O Direito Tributário está em desgraça e a razão deve buscar-se – não na superestrutura – mas precisamente naqueles seus fundamentos que costumam ser aceitos como demasiados ‘óbvios’ para merecerem a análise crítica. Esclarecer é explicitar as premissas. O conflito entre as teorias jurídicas do Direito Tributário tem sua principal origem naquilo que se presume conhecido porque se supõe óbvio. De modo que de premissas iguais em sua aparência (a obviedade confere uma identidade falsa às premissas) deduzem-se conclusões diferentes porque cada contendor atribui um diferente conceito às premissas ‘óbvias’. Esta dualidade de conclusões deixa ambos os contendores surpresos e perplexos (pois partiram das ‘mesmas’ premissas ‘óbvias’), sem que um possa convencer o outro da veracidade de sua respectiva conclusão. (Grifou-se) A “Teoria dos Fundamentos Óbvios”, como visto, representa, por vezes, um recurso retórico para introduzir, de maneira indiscutível porque se faz aceita aprioristicamente como válida, uma Generalização Indevida. Expressões como “Todos sabem”, “É notório” e equivalentes, não raro denunciam a presença do artifício. Retomando o julgado, o Relator aponta com segura propriedade: [...] Como é cediço, é princípio basilar de hermenêutica jurídica que a lei não contém palavras inúteis (verba cum effectu sunt accipienda), ou seja, as palavras devem ser compreendidas como tendo alguma eficácia, por isso os vocábulos nela contidos tem uma razãode ser e não podem, jamais, ser desprezados na sua interpretação e na sua aplicação. (Grifou-se) Nesse sentido, não há como desconsiderar que a expressão países de origem não admite outro entendimento que não PAÍS de ORIGEM. Não pode a autoridade administrativa, na necessidade de melhor operar as suas funções fiscalizadoras ampliar o conceito hermenêutico da expressão para admitir que país possa significar, também, uma determinada província do mesmo, mesmo que essa região tenha grande reconhecimento da mídia. (Grifou-se). De tal sorte que, em a lei prevendo que deva ser declarado pelo importador o país de origem como procedência da mercadoria e em sendo a mesma fabricada em Taiwan, o país a ser informado na Declaração de Importação deveria ser o da China. De outra banda, mesmo reconhecendo que na tela do SISCOMEX, logo após o país República Popular da China, conste a opção http://pt.wikipedia.org/wiki/Signo http://pt.wikipedia.org/wiki/Semiose Formosa (Taiwan), é importante ressaltar que não transparece tenha havido intuito de má-fé do importador ao optar pela indicação daquele país. Como se vislumbra nos documentos contidos nos autos, desde há muito tempo, o Brasil vem assumindo, perante a comunidade mundial, a sua posição em favor do reconhecimento da soberania da China sobre a província de Taiwan. E a posição brasileira encontra conforto no Direito Internacional, pois para que Taiwan pudesse ser reconhecido como um país, necessita muito mais do que um povo e um território, necessita soberania internacional. [...] Resta indagar se o ilustre Magistrado não poderia ter adotado outra linha argumentativa, sem render-se a uma suposta “confiança cega no legislador” ou emprestar-lhe o benefício de estar sempre regido pela Recta Ratio, o que, em outros contextos, pode ser daninho para a argumentação, especialmente se adiante a norma vem a apresentar uma incoerência literal ou a falta de termos necessários para a sua devida compreensão, como se vê do art. 138 do CC, por exemplo, no qual a falta da palavra “não” traz enormes prejuízos à compreensão do instituto ali descrito em contraste com as definições de “erro escusável” e “erro inescusável”. Parece que talvez fosse possível outro rumo, sem os “efeitos colaterais” apontados, caso o Juiz houvesse dirigido sua argumentação no sentido do domínio lógico, realizando a exposição dos Princípios Fundamentais de Lógica Formal, especialmente os da Identidade (A=A) e da Não-Contradição (Se A=A; logo, A não será algo diferente de A). Deve-se atentar, ademais, para os riscos que o exegetismo oferece mesmo ao domínio do controle de constitucionalidade, comprometendo, inclusive, o uso da técnica da Interpretação Conforme a Constituição, à qual se faria submissa à literalidade da norma (em abordagem de certo modo discutível, como se verá adiante, por submeter a Constituição à vontade do legislador ordinário). Um exemplo dessa reverência à literalidade pode ser vista na Representação de Inconstitucionalidade nº 1417-DF, de 09 de dezembro de 1987 e relatada pelo Min. MOREIRA ALVES, tendo recebido a seguinte ementa: REPRESENTAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DO PARÁGRAFO 3 DO ARTIGO 65 DA LEI ORGÂNICA DA MAGISTRATURA NACIONAL, INTRODUZIDO PELA LEI COMPLEMENTAR N. 54/86. – O PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO (VERFASSUNGSKONFORME AUSLEGUNG) E PRINCÍPIO QUE SE SITUA NO ÂMBITO DO CONTROLE DA CONSTITUCIONALIDADE, E NÃO APENAS SIMPLES REGRA DE INTERPRETAÇÃO. A APLICAÇÃO DESSE PRINCÍPIO SOFRE, POREM, RESTRIÇÕES, UMA VEZ QUE, AO DECLARAR A INCONSTITUCIONALIDADE DE UMA LEI EM TESE, O S.T.F. - EM SUA FUNÇÃO DE CORTE CONSTITUCIONAL - ATUA COMO LEGISLADOR NEGATIVO, MAS NÃO TEM O PODER DE AGIR COMO LEGISLADOR POSITIVO, PARA CRIAR NORMA JURÍDICA DIVERSA DA INSTITUIDA PELO PODER LEGISLATIVO. POR ISSO, SE A ÚNICA INTERPRETAÇÃO POSSIVEL PARA COMPATIBILIZAR A NORMA COM A CONSTITUIÇÃO CONTRARIAR O SENTIDO INEQUIVOCO QUE O PODER LEGISLATIVO LHE PRETENDEU DAR, NÃO SE PODE APLICAR O PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO, QUE IMPLICARIA, EM VERDADE, CRIAÇÃO DE NORMA JURÍDICA, O QUE E PRIVATIVO DO LEGISLADOR POSITIVO. – EM FACE DA NATUREZA E DAS RESTRIÇÕES DA INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO, TEM-SE QUE, AINDA QUANDO ELA SEJA APLICAVEL, O E DENTRO DO ÂMBITO DA REPRESENTAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE, NÃO HAVENDO QUE CONVERTER-SE, PARA ISSO, ESSA REPRESENTAÇÃO EM REPRESENTAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO, POR SEREM INSTRUMENTOS QUE TEM FINALIDADE DIVERSA, PROCEDIMENTO DIFERENTE E EFICACIA DISTINTA. – NO CASO, NÃO SE PODE APLICAR A INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO POR NÃO SE COADUNAR ESSA COM A FINALIDADE INEQUIVOCAMENTE COLIMADA PELO LEGISLADOR, EXPRESSA LITERALMENTE NO DISPOSITIVO EM CAUSA, E QUE DELE RESSALTA PELOS ELEMENTOS DA INTERPRETAÇÃO LOGICA. – O PARAGRAFO 3 DO ARTIGO 65 DA LEI COMPLEMENTAR N. 35/79, ACRESCENTADO PELA LEI COMPLEMENTAR N. 54, DE 22.12.86, E INCONSTITUCIONAL, QUER NA ESFERA FEDERAL, QUER NA ESTADUAL. VIOLAÇÃO DOS ARTIGOS 57, II, 65 E 13, III E IV, BEM COMO SEU PARAGRAFO 1, DA CARTA MAGNA. REPRESENTAÇÃO QUE SE JULGA PROCEDENTE, PARA SE DECLARAR A INCONSTITUCIONALIDADE DO PARAGRAFO 3 DO ARTIGO 65 DA LEI COMPLEMENTAR N. 35/79, INTRODUZIDO PELA LEI COMPLEMENTAR N. 54, DE 22.12.86 Outra referência muito forte à Escola da Exegese pode ser vista a partir da ideia de que “a interpretação da lei não conduzirá ao absurdo”, como posto a seguir. “A Interpretação da Lei não conduzirá ao absurdo” Sobre essa diretriz da Escola da Exegese, resta bastante interessante a análise do Agravo de Instrumento nº 2008.00.2002.7654 que resultou no Acórdão de nº 318.839 do TJDF, relatado pelo Des. JESUÍNO RISSATO. A decisão segue ementada da seguinte forma: EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. ADMINISTRATIVO. PROFESSOR DA REDE PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL. REGIME DE 60 (SESSENTA) HORAS SEMANAIS. DIREITO Á GRATIFICAÇÃO POR TEMPO INTEGRAL E DEDICAÇÃO EXCLUSIVA AO MAGISTÉRIO – TIDEM. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA DEFERIDA. AGRAVO PROVIDO. 1. A interpretação da lei não pode conduzir ao absurdo. Se os professores que laboram em regime de 40 horas semanais recebem a gratificação por Tempo Integral e Dedicação Exclusiva ao Magistério – TIDEM, com muito mais razão devem recebê-la aqueles que ultrapassam tal limite, laborando em regime de 60 horas. (Grifou-se) 2. Agravo conhecido e provido. A consideração do elemento lógico, aqui registrada, se liga à lembrança da “Teoria da Plenitude da Lei”, uma vez que, por ser fruto da Recta Ratio, seria a lei perfeita, podendo resolver sem qualquer dificuldade todos os casos. Segundo a Vertente Moderada da Escola da Exegese, de tão perfeita, traria a lei, simultaneamente, um direito explícito e um direito implícito a denunciar que o resultado absurdo não se deveria à lei, mas à inaptidão do intérprete para descobrir, por meio do elemento lógico – e da analogia, que à época era vista apenas como um instrumento para fazê-lo – o direito perfeito aplicável ao caso (FRANÇA, 1999, p. 15). Uma segunda ocorrência desta premissa, ainda que indireta, digna de nota em sede constitucional, refere-se ao caso da extinção de mandato do então Senador João Alberto Rodrigues Capiberibe (PSB-AP), o qual havia sido condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral por “Compra de Votos” (v. art. 299, Lei nº 4.737/65 e art. 41-A, Lei 9.504/97), o que conduziria à extinção de seu mandato eletivo, conforme dispõe a Constituição Federal no art. 55, V e § 3º: Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador: I - que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior; II - cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar; III – que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada; IV - que perder ou tiver suspensos os direitospolíticos; V - QUANDO O DECRETAR A JUSTIÇA ELEITORAL, NOS CASOS PREVISTOS NESTA CONSTITUIÇÃO; (Grifou-se e destacou-se) VI – que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado. § 1º - É incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos definidos no regimento interno, o abuso das prerrogativas asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a percepção de vantagens indevidas. § 2º - Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa. § 3º - NOS CASOS PREVISTOS NOS INCISOS III A V, A PERDA SERÁ DECLARADA PELA MESA DA CASA RESPECTIVA, DE OFÍCIO OU MEDIANTE PROVOCAÇÃO DE QUALQUER DE SEUS MEMBROS, OU DE PARTIDO POLÍTICO REPRESENTADO NO CONGRESSO NACIONAL, ASSEGURADA AMPLA DEFESA (Grifou-se). § 4º A renúncia de parlamentar submetido a processo que vise ou possa levar à perda do mandato, nos termos deste artigo, terá seus efeitos suspensos até as deliberações finais de que tratam os §§ 2º e 3º. Aparentemente dando aplicação ao comando constitucional, o Presidente do Senado, Senador Renan Calheiros (PMDB-AL), declara extinta a investidura eletiva do Senador João Capiberibe, marcando data para a posse do candidato derrotado nas eleições senatoriais, Gilvam Pinheiro Borges (PMDB-AP), sem, contudo, observar o quanto preconiza a parte final do § 3º do art. 55 da CF, ao assinalar a exigência de “ampla defesa” para que se procedesse à extinção do mandato por ato da Mesa Diretora do Senado Federal e não ato exclusivo do Presidente do Senado, ainda que aludisse que agia ad referendum da Mesa Diretora. Assim, insurgiu-se o Senador João Capiberibe contra o ato do Presidente da Casa, vindo o mandado de segurança nº 25.623-DF, ser distribuído ao Min. MARCO AURÉLIO DE MELLO e julgado, em sede de liminar, em 27/10/2005 (sendo posteriormente extinto por perda do objeto em 13/03/2006). Na decisão interlocutória, assinalou o Ministro: DECISÃO MANDADO DE SEGURANÇA – DEVIDO PROCESSO LEGAL – TRANSGRESSÃO – RELEVÂNCIA – LIMINAR DEFERIDA. [...] POIS BEM, QUER SE TRATE DA PERDA DO MANDATO, PRESENTES OS INCISOS I, II E VI, QUER VERSE A SITUAÇÃO A EXTINÇÃO ANTE AS PREVISÕES DOS INCISOS III A V, TEM-SE COMO AUTORES DOS ATOS, RESPECTIVAMENTE, O PLENÁRIO DA CASA E A MESA, ASSEGURADA, EM AMBAS AS SITUAÇÕES, A AMPLA DEFESA. AS DISCUSSÕES TRAVADAS NO SENADO FEDERAL REVELAM O AFASTAMENTO DO IMPETRANTE SEM QUE OBSERVADOS OS DITAMES CONSTITUCIONAIS, SEM QUE OBSERVADA A LEI FUNDAMENTAL DA REPÚBLICA, QUE A TODOS, INDISTINTAMENTE, SUBMETE, CONSIDERADO O DEVIDO PROCESSO LEGAL. Frise-se, por oportuno, que à época da cassação do registro e diploma, o impetrante já estava no exercício do mandato de Senador, NÃO CABENDO CONFERIR À PARTE FINAL DO INCISO V DO ARTIGO 55 DA CARTA FEDERAL - "... NOS CASOS PREVISTOS NESTA CONSTITUIÇÃO" - INTERPRETAÇÃO GRAMATICAL, SIMPLESMENTE VERBAL, SOB PENA DE SE CHEGAR A VERDADEIRO PARADOXO. ESTANDO O PRONUNCIAMENTO JUDICIAL CALCADO NESTA ÚLTIMA, DE ENVERGADURA MAIOR, TER-SE-IA A INCIDÊNCIA DO PRECEITO DO § 3º DO CITADO ARTIGO, ENQUANTO A FUNDAMENTAÇÃO EM NORMA ESTRITAMENTE LEGAL DISPENSARIA O ATENDIMENTO ÀS FORMALIDADES ESTABELECIDAS. A ÓPTICA NÃO SE SUSTENTA (Grifou-se). 3. Concedo a liminar pleiteada para afastar os efeitos do ato atacado. Com isso, restabeleço a situação jurídica anterior, viabilizando ao impetrante, ainda na qualidade de Senador da República, o exercício do direito de defesa. Como se vê da decisão acima, observa-se uma ponderação crítica, já em sede constitucional, acerca da utilidade do elemento literal de interpretação, sem deixar, contudo, de se observar que a locução “[...] assegurada a ampla defesa”, constante do texto do art. 55, § 3º, CF não poderia ser privada de sentido, o que não deixa de refletir a parêmia de que “a lei [e no caso, a Constituição] não contém palavras inúteis”, emprestando, ademais, uma abordagem literal ao dispositivo em questão, sem submetê- lo, entretanto, à interpretação a partir da legislação eleitoral, mas, outrossim, interpretando a legislação eleitoral a partir da pré- compreensão constitucional. Exatamente por isso registra o Min. MARCO AURÉLIO, novamente por via indireta, a presença do brocardo “a interpretação da lei não conduzirá ao absurdo”, ao assinalar que se de outro modo fosse, tal óptica não se sustentaria. Com suas fragilidades e limitações a Escola da Exegese ainda assim mostrou-se um notável avanço em face do quadro do ancien regime marcado pela distinção de pessoas e regimes jurídicos que inviabilizavam a ideia de igualdade formal (perante a lei) e, por conseguinte, de liberdade de todos. Tais fragilidades e limitações motivaram inúmeras críticas, dentre as quais as movidas por FRIEDRICH CARL VON SAVIGNY, na sua transição da Escola da Dogmática para a fundação da Escola Histórico-Evolutiva, tal como se verá em seguida. II– ESCOLA DA DOGMÁTICA Friedrich Carl von Savigny (1779-1861) OCCASIO LEGIS Já em 1802, vê-se um jovem FRIEDRICH CARL VON SAVIGNY (1779-1861) estabelecer em bases avançadas a existência dos elementos LITERAL, LÓGICO, HISTÓRICO e SISTEMÁTICO de interpretação. Os dois primeiros decorrem da reprodução dos preceitos e diretrizes estabelecidos pelo pensamento iluminista que culminaria, na França, com a Escola da Exegese e o advento do Código de Napoleão; por sua vez, os dois últimos se denotam a partir da clássica colocação de SAVIGNY ao dizer: “A ciência da legislação é uma ciência a um só tempo HISTÓRICA e FILOSÓFICA” (2001, p. 5 – Destacou-se). Lançava-se, assim, SAVIGNY, à busca de uma interpretação/sentido que refletisse, nas linhas do quanto preconizado pela Escola da Dogmática, o momento de surgimento/criação da norma, um elemento histórico chamado de Occasio Legis, por representar o contexto que levou à criação da norma, ainda buscando-se identificar as necessidades de um “Legislador” infalível. Cumpre recordar que a Escola da Dogmática apresentava a mesma influência do Iluminismo quanto à crença cega nas potencialidades da razão humana, pondo especial apreço na identificação do que é “bom, reto, justo e verdadeiro” (Direito Natural) no uso da Recta Ratio. Do mesmo modo, partilhava a ideia do “Duplo Reducionismo”, conducente ao monismo das fontes do Direito, sendo visto o Estado como seu único criador. Mas uma peculiaridade se instala: Se na Exegese tal monismo era obtido a partir do duplo reducionismo puro e simples – “Todo Fenômeno Jurídico se reduz ao Direito Positivo; Todo o Direito Positivo se reduz à Lei posta pelo Estado” – a Dogmática apresentará uma variante aparentemente pequena, mas de profunda importância para a diferenciação das Escolas da Dogmática e da Exegese. Com efeito, o Duplo Reducionismo na Dogmática diferia apenas no final, mas com toda diferença possível: (A) – Todo Fenômeno Jurídico se reduz ao Direito Positivo; (B) – Todo o Direito Positivo se reduz à Lei posta pelo Estado que estabeleça os princípios e regras do Direito Romano. Ora, buscar a vontade psicológica do “Legislador” de um Código de 1804 (o Código Civil Francês) era factível para a Exegese, mas notadamente impossível para a Dogmática, a qual se deparava com uma legislação que reproduzia normas com um conteúdo, por vezes, de mais de mil anos, a exigir, assim, inexoravelmente, uma análise histórica mais profunda. Acresça-se que Prússia (e posteriormente Alemanha) só virá a ter um Código Civil em 1896, o que contribui para uma maior liberdade de investigação histórica do intérprete da Dogmática. No trato com o elemento histórico vê-se logo um apuro superior ao de seu mestre, GUSTAVO HUGO, uma vez que, para SAVIGNY (2001,p. 6-7), mais do que a análise da sucessão histórica dos fatos legislativos e das razões de sua produção, há que se cogitar acerca não apenas da história da legislação, mas por igual, da história do Estado que produziu tal legislação e da história do povo que constituiu este Estado que produziu tal legislação. De forma esquemática o pensamento de SAVIGNY deslocou-se, dentro da Escola da Dogmática no seguinte sentido, em busca de gradual aprofundamento: Convém registrar que tal nível de indagação viabilizará, posteriormente, a passagem de SAVIGNY para uma segunda fase de seu pensamento, na qual ele será um dos principais fundadores da Escola Histórico-Evolutiva. A Occasio Legis encontra uma manifestação de extrema relevância no plano jurisprudencial brasileiro no tocante à ADPF nº 153, Relatada pelo Min. EROS ROBERTO GRAU, na qual se discutiu a possibilidade de revisão da Lei de Anistia (Lei nº 6.683/79) à vista da nova ordem democrática. Com efeito, na argumentação despendida na construção do acórdão desponta a necessidade de se compreender tal lei como uma “Lei-Medida”, a qual, portanto, não estaria posta à interpretação histórico-evolutiva (elemento mesológico) como as demais, devendo ser compreendida no quadro histórico de sua promulgação (Occasio Legis) sem se alterar as condições daquele momento histórico ainda História da Legislação História do Estado História do Povo. que em face de substanciosas modificações de circunstâncias fático-jurídicas na atualidade. Diz a ementa: EMENTA: LEI N. 6.683/79, A CHAMADA "LEI DE ANISTIA". ARTIGO 5º, CAPUT, III E XXXIII DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL; PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO E PRINCÍPIO REPUBLICANO: NÃO VIOLAÇÃO. CIRCUNSTÂNCIAS HISTÓRICAS. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E TIRANIA DOS VALORES. INTERPRETAÇÃO DO DIREITO E DISTINÇÃO ENTRE TEXTO NORMATIVO E NORMA JURÍDICA. CRIMES CONEXOS DEFINIDOS PELA LEI N. 6.683/79. CARÁTER BILATERAL DA ANISTIA, AMPLA E GERAL. JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NA SUCESSÃO DAS FREQUENTES ANISTIAS CONCEDIDAS, NO BRASIL, DESDE A REPÚBLICA. INTERPRETAÇÃO DO DIREITO E LEIS-MEDIDA. CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU PENAS CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES E LEI N. 9.455, DE 7 DE ABRIL DE 1997, QUE DEFINE O CRIME DE TORTURA. ARTIGO 5º, XLIII DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. INTERPRETAÇÃO E REVISÃO DA LEI DA ANISTIA. EMENDA CONSTITUCIONAL N. 26, DE 27 DE NOVEMBRO DE 1985, PODER CONSTITUINTE E "AUTO-ANISTIA". INTEGRAÇÃO DA ANISTIA DA LEI DE 1979 NA NOVA ORDEM CONSTITUCIONAL. ACESSO A DOCUMENTOS HISTÓRICOS COMO FORMA DE EXERCÍCIO DO DIREITO FUNDAMENTAL À VERDADE. 1. Texto normativo e norma jurídica, dimensão textual e dimensão normativa do fenômeno jurídico. O intérprete produz a norma a partir dos textos e da realidade. A interpretação do direito tem caráter constitutivo e consiste na produção, pelo intérprete, a partir de textos normativos e da realidade, de normas jurídicas a serem aplicadas à solução de determinado caso, solução operada mediante a definição de uma norma de decisão. A interpretação/aplicação do direito opera a sua inserção na realidade; realiza a mediação entre o caráter geral do texto normativo e sua aplicação particular; em outros termos, ainda: opera a sua inserção no mundo da vida. 2. O argumento descolado da dignidade da pessoa humana para afirmar a invalidade da conexão criminal que aproveitaria aos agentes políticos que praticaram crimes comuns contra opositores políticos, presos ou não, durante o regime militar, não prospera. 3. Conceito e definição de "crime político" pela Lei n. 6.683/79. São crimes conexos aos crimes políticos "os crimes de qualquer natureza relacionados com os crimes políticos ou praticados por motivação política"; podem ser de "qualquer natureza", mas [i] hão de terem estado relacionados com os crimes políticos ou [ii] hão de terem sido praticados por motivação política; são crimes outros que não políticos; são crimes comuns, porém [i] relacionados com os crimes políticos ou [ii] praticados por motivação política. A expressão crimes conexos a crimes políticos conota sentido a ser sindicado no momento histórico da sanção da lei. A chamada Lei de anistia diz com uma conexão sui generis, própria ao momento histórico da transição para a democracia. Ignora, no contexto da Lei n. 6.683/79, o sentido ou os sentidos correntes, na doutrina, da chamada conexão criminal; refere o que "se procurou", segundo a inicial, vale dizer, estender a anistia criminal de natureza política aos agentes do Estado encarregados da repressão. 4. A lei estendeu a conexão aos crimes praticados pelos agentes do Estado contra os que lutavam contra o Estado de exceção; daí o caráter bilateral da anistia, ampla e geral, que somente não foi irrestrita porque não abrangia os já condenados --- e com sentença transitada em julgado, qual o Supremo assentou --- pela prática de crimes de terrorismo, assalto, seqüestro e atentado pessoal. 5. O significado válido dos textos é variável no tempo e no espaço, histórica e culturalmente. A interpretação do direito não é mera dedução dele, mas sim processo de contínua adaptação de seus textos normativos à realidade e seus conflitos. Mas essa afirmação aplica-se exclusivamente à interpretação das leis dotadas de generalidade e abstração, leis que constituem preceito primário, no sentido de que se impõem por força própria, autônoma. Não àquelas, designadas leis-medida (Massnahmegesetze), que disciplinam diretamente determinados interesses, mostrando-se imediatas e concretas, e consubstanciam, em si mesmas, um ato administrativo especial. NO CASO DAS LEIS-MEDIDA INTERPRETA-SE, EM CONJUNTO COM O SEU TEXTO, A REALIDADE NO E DO MOMENTO HISTÓRICO NO QUAL ELA FOI EDITADA, NÃO A REALIDADE ATUAL. É A REALIDADE HISTÓRICO-SOCIAL DA MIGRAÇÃO DA DITADURA PARA A DEMOCRACIA POLÍTICA, DA TRANSIÇÃO CONCILIADA DE 1979, QUE HÁ DE SER PONDERADA PARA QUE POSSAMOS DISCERNIR O SIGNIFICADO DA EXPRESSÃO CRIMES CONEXOS NA LEI N. 6.683. É DA ANISTIA DE ENTÃO QUE ESTAMOS A COGITAR, NÃO DA ANISTIA TAL E QUAL UNS E OUTROS HOJE A CONCEBEM, SENÃO QUAL FOI NA ÉPOCA CONQUISTADA. EXATAMENTE AQUELA NA QUAL, COMO AFIRMA INICIAL, "SE PROCUROU" [SIC] ESTENDER A ANISTIA CRIMINAL DE NATUREZA POLÍTICA AOS AGENTES DO ESTADO ENCARREGADOS DA REPRESSÃO. A CHAMADA LEI DA ANISTIA VEICULA UMA DECISÃO POLÍTICA ASSUMIDA NAQUELE MOMENTO --- O MOMENTO DA TRANSIÇÃO CONCILIADA DE 1979. A LEI N. 6.683 É UMA LEI-MEDIDA, NÃO UMA REGRA PARA O FUTURO, DOTADA DE ABSTRAÇÃO E GENERALIDADE. HÁ DE SER INTERPRETADA A PARTIR DA REALIDADE NO MOMENTO EM QUE FOI CONQUISTADA. (Grifou-se – Occasio Legis) 6. A Lei n. 6.683/79 precede a Convenção das Nações Unidas contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes --- adotada pela Assembléia Geral em 10 de dezembro de 1984, vigorando desde 26 de junho de 1987 --- e a Lei n. 9.455, de 7 de abril de 1997, que define o crime de tortura; e o preceito veiculado pelo artigo 5º, XLIII da Constituição --- que declara insuscetíveis de graça e anistia a prática da tortura, entre outros crimes --- não alcança, por impossibilidade lógica, anistias anteriormente a sua vigência consumadas. A Constituição não afeta leis-medida que a tenham precedido. 7. No Estado democrático de direito o Poder Judiciário não está autorizado a alterar, a dar outra redação, diversa da nele contemplada, a texto normativo. Pode, a partir dele, produzir distintas normas. Mas nem mesmo o Supremo Tribunal Federal está autorizado a rescrever leis de anistia. 8. Revisão de lei de anistia, se mudanças do tempo e da sociedade a impuserem, haverá --- ou não --- de ser feita pelo Poder Legislativo, não pelo Poder Judiciário. 9. A anistia da lei de 1979 foi reafirmada, no texto da EC 26/85, pelo Poder Constituinte da Constituição de 1988. Daí não ter sentido questionar-se se a anistia, tal comodefinida pela lei, foi ou não recebida pela Constituição de 1988; a nova Constituição a [re]instaurou em seu ato originário. A Emenda Constitucional n. 26/85 inaugura uma nova ordem constitucional, consubstanciando a ruptura da ordem constitucional que decaiu plenamente no advento da Constituição de 5 de outubro de 1988; consubstancia, nesse sentido, a revolução branca que a esta confere legitimidade. A reafirmação da anistia da lei de 1979 está integrada na nova ordem, compõe-se na origem da nova norma fundamental. De todo modo, se não tivermos o preceito da lei de 1979 como ab-rogado pela nova ordem constitucional, estará a coexistir com o § 1º do artigo 4º da EC 26/85, existirá a par dele [dicção do § 2º do artigo 2º da Lei de Introdução ao Código Civil]. O debate a esse respeito seria, todavia, despiciendo. A uma por que foi mera lei-medida, dotada de efeitos concretos, já exauridos; é lei apenas em sentido formal, não o sendo, contudo, em sentido material. A duas por que o texto de hierarquia constitucional prevalece sobre o infraconstitucional quando ambos coexistam. Afirmada a integração da anistia de 1979 na nova ordem constitucional, sua adequação à Constituição de 1988 resulta inquestionável. A nova ordem compreende não apenas o texto da Constituição nova, mas também a norma- origem. No bojo dessa totalidade --- totalidade que o novo sistema normativo é --- tem-se que "[é] concedida, igualmente, anistia aos autores de crimes políticos ou conexos" praticados no período compreendido entre 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979. Não se pode divisar antinomia de qualquer grandeza entre o preceito veiculado pelo § 1º do artigo 4º da EC 26/85 e a Constituição de 1988. 10. Impõe-se o desembaraço dos mecanismos que ainda dificultam o conhecimento do quanto ocorreu no Brasil durante as décadas sombrias da ditadura. (Grifou-se) Uma outra aplicação dos postulados da Escola da Dogmática (e uma breve visão do que proporia a Escola Histórico-Evolutiva) se encontra no Agravo de Instrumento nº 2009.04.00.007520-9/RS (julgado em 27/05/2009) pelo TRF da 4ª Região, relatado pelo Juiz MARCELO DE NARDI, do qual se vê: EMENTA: EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. ART. 739-A DO CPC. APLICABILIDADE. ARTS. 18, 19, 21, 24 E 32 DA L 6.830/1980. INTERPRETAÇÃO LÓGICA. ELEMENTOS HISTÓRICOS, RACIONAIS E SISTEMÁTICOS. OCCASIO LEGIS. (Grifou-se) 1. O Código de Processo Civil, de 1973, fez dos embargos do devedor um processo separado, ligado ao processo executivo por conexão recíproca. Quando de sua edição, o Código estabeleceu, como regra geral que, admitidos os embargos, o processo de execução ficava suspenso. 2. O legislador de 1973, considerado o contexto da época, optou por introduzir regra que mantivesse temporariamente preservado o patrimônio do devedor, ante a possível modificação da situação preexistente representada pelo desenvolvimento da execução. (Grifou-se – Occasio Legis) 3. A L 6.830, que regula a execução fiscal, entrou em vigor em 1980, estabelecendo regras próprias para satisfação dos créditos públicos, mas sob o influxo dos princípios e idéias vigorantes no processo civil de então, com expressa previsão, no art. 1°, da aplicação subsidiária do CPC. 4. Os textos dos arts. 18, 19 21, 24 e 32 da L 6.830/1980, nos termos em que formulados, são decorrência lógica do contexto existente quando da edição do referido diploma legal, de aplicabilidade das regras do CPC, que atribuía efeito suspensivo aos embargos de devedor, com a finalidade de preservar o patrimônio do devedor até o julgamento da ação incidental. 5. Em razão das reformas do Código de Processo Civil, o processo de execução e, por conseqüência, os embargos, sofreram modificações formais cujo escopo primordial é tornar mais efetivo o processo. A reforma visou reprimir a má utilização dos meios de defesa do devedor, evitando sua utilização com objetivo de postergar indefinidamente a satisfação do crédito. Daí a introdução de dispositivos no CPC como o art. 739-A, quebrando o paradigma que inspirou o legislador de 1973. (Grifou-se – Escola Histórico-Evolutiva, Vertente Moderada) 6. Tendo em vista que a lacuna no tocante aos efeitos dos embargos continua existindo, seria incongruente afastar a incidência do art. 739- A do CPC no âmbito da execução fiscal, diante do conjunto de reformas e medidas legislativas implementadas, inclusive no sentido de agilizar a cobrança da dívida ativa do Estado. 7. Além da lacuna, há também a compatibilidade de princípios informadores a autorizar a aplicação subsidiária do art. 739-A do CPC no procedimento de execução fiscal. 8. Discutida no processo de origem a responsabilização pessoal do agravante pela dívida da associação que presidiu e presentes os requisitos legais, impõe-se a concessão de efeito suspensivo aos embargos. O SAVIGNY da primeira fase não tratou a “ciência da legislação” como sendo apenas histórica, mas, outrossim, “filosófica”. Destarte, deve-se explorar qual a relação desta terminologia com o elemento sistemático de interpretação. ELEMENTO SISTEMÁTICO Já se viu a importância de SAVIGNY no aprimoramento do elemento Histórico de interpretação. Entretanto, como ele afirmara em 1802 que: “A ciência da legislação é uma ciência a um só tempo HISTÓRICA e FILOSÓFICA” (2001, p. 5 – Destacou-se), cumpre abordar o caráter “filosófico” por ele adotado. Ora, lembre-se que SAVIGNY fora formado a partir de textos clássicos, o que o colocava em contato direto, por exemplo, com os diálogos platônicos, notadamente com a “República”. E é neste diálogo, particularmente, que um jovem e curioso SAVIGNY deve ter se deparado com a ideia de “enfeixamento” (sistematização) do conhecimento como forma de se superar o conhecimento pelas aparências (dóxa) e se alcançar um conhecimento seguro (epistéme), formando-se assim sua associação entre conhecimento filosófico e conhecimento seguro, organizado, em uma palavra: sistemático (PLATÃO, 2000, p. 185-190). Sobre o uso do elemento SISTEMÁTICO de interpretação, veja-se o Habeas Corpus nº 84.219-SP, julgado pelo STF em 16/08/2005 e relatado pelo Min. MARCO AURÉLIO: EMENTA: MEDIDA DE SEGURANÇA - PROJEÇÃO NO TEMPO - LIMITE. A interpretação sistemática e teleológica dos artigos 75, 97 e 183, os dois primeiros do Código Penal e o último da Lei de Execuções Penais, deve fazer-se considerada a garantia constitucional abolidora das prisões perpétuas. A medida de segurança fica jungida ao período máximo de trinta anos. Código Penal – Decreto-Lei nº 2.848/40 Limite das penas Art. 75 - O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 30 (trinta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - Sobrevindo condenação por fato posterior ao início do cumprimento da pena, far-se-á nova unificação, desprezando-se, para esse fim, o período de pena já cumprido.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) [...] Imposição da medida de segurança para inimputável Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Prazo § 1º - A internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a cessação de periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1 (um) a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Perícia médica § 2º - A perícia médica realizar-se-á ao termo do prazo mínimo fixado edeverá ser repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo, se o determinar o juiz da execução. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Desinternação ou liberação condicional § 3º - A desinternação, ou a liberação, será sempre condicional devendo ser restabelecida a situação anterior se o agente, antes do decurso de 1 (um) ano, pratica fato indicativo de persistência de sua periculosidade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 4º - Em qualquer fase do tratamento ambulatorial, poderá o juiz determinar a internação do agente, se essa providência for necessária para fins curativos. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) [...] Lei de Execuções Penais – Lei nº 7.210/84 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art75 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art75 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art75 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art75 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art75 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art75 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art97 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art97 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art97 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art97 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art97 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art97 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art97 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art97 Art. 183. Quando, no curso da execução da pena privativa de liberdade, sobrevier doença mental ou perturbação da saúde mental, o Juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público, da Defensoria Pública ou da autoridade administrativa, poderá determinar a substituição da pena por medida de segurança. (Redação dada pela Lei nº 12.313, de 2010). Levando a Dogmática aos seus limites extremos, SAVIGNY perceberá, ao se indagar acerca não apenas da história da legislação, mas da história do Estado que produziu tal legislação e da história do povo que constituiu este Estado produtor da legislação em apreço, que antes mesmo de surgir uma organização estatal, o Direito já se mostrava de algum modo presente nas sociedades mais rudimentares, pelo que se constata uma ideia que representará o marco de sua ruptura com a Escola da Dogmática: “Não é a Lei que cria o Direito, mas o Direito que cria a Lei”. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12313.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12313.htm#art2 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BECKER, Alfredo Augusto. Teoria Geral do Direito Tributário. 3ª Edição. São Paulo: Lejus, 1998. BLEICHER, Josef. Hermenêutica Contemporânea. Trad.: Maria Georgina Segurado e Carlos Morujão. Lisboa: Edições 70, 1980. FALCÃO, Raimundo Bezerra. Hermenêutica. 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