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HJ - Nota de Aula - Escolas da Exegese e da Dogmática

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NOTA DE AULA SOBRE AS ESCOLAS DA 
EXEGESE E DA DOGMÁTICA 
 
 
Gustavo Tavares Cavalcanti Liberato 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Cumpre destacar que o presente texto não pretende trazer qualquer 
exaurimento dos pontos sobre os quais se debruça, mas apenas introduzir, em 
um contexto mais suave e prático, parte do quanto existe na disciplina de 
Hermenêutica Jurídica, a partir da observação da existência de evidências do 
uso de algumas das principais Escolas e movimentos da Hermenêutica Jurídica 
registrados nos anais da jurisprudência brasileira, em que pese, sem a devida 
discussão. 
 
A Hermenêutica, deve-se dizer, é uma ciência fundamental para a 
formação do raciocínio jurídico, daí sua importância, mesmo não sendo ela 
uma disciplina que, como se pode dizer, se mostre sempre no proscênio 
(região do palco mais próxima ao público), mas atue determinantemente nos 
bastidores da construção argumentativa. 
 
Assim, após breve apontamento sobre a distinção entre Hermenêutica e 
Interpretação, passar-se-á à análise prometida. 
 
Para que se possa falar em processo de conhecimento (e a Hermenêutica 
Jurídica é uma espécie deste gênero) mostra-se indispensável a existência de 
três elementos, quais sejam: o Sujeito Cognoscente, a Atividade de 
Conhecimento e o Objeto Cognoscível. O sujeito depara-se com o objeto e, 
reconhecendo a sua existência como algo diferente de si, desenvolve uma 
atividade gnosiológica (em um ou mais atos deste gênero) para procurar obter 
dados e informações sobre o objeto. Convém lembrar que o tipo de objeto 
determina em parte o ato gnosiológico a ser desenvolvido. Assim, por exemplo, 
ao se objetivar o conhecimento de um texto escrito, a compreensão deste texto 
somente se faz possível pelo uso do ato gnosiológico da compreensão, e, 
dentre as diversas subespécies deste, do uso do subtipo interpretação 
(FALCÃO, 1997, p. 13-18). Mas qual sua relação com a Hermenêutica? 
 
 Gustavo Tavares Cavalcanti Liberato, Advogado, Mestre em Direito Constitucional pela 
Universidade de Fortaleza – UNIFOR e Professor de Hermenêutica Jurídica, Direito 
Constitucional, e Biodireito nesta instituição. Professor de Hermenêutica Jurídica da Faculdade 
Ari de Sá. E-mail: gustavoliberato.adv@gmail.com.br. 
 
 
 
Dentre as muitas roupagens de que se pode revestir a Hermenêutica, 
talvez a que mais de perto interesse ao jurista seja a de conhecimento 
científico. Tanto assim, que um dos maiores hermeneutas brasileiros, CARLOS 
MAXIMILIANO (1998, p. 01), dizia ser a hermenêutica jurídica, “a teoria científica 
da arte de interpretar”. Mas essa definição, de atualidade ainda presente, traz 
muito a se considerar: desde a consideração acerca do que vem a ser uma 
“teoria científica”, até a distinção fundamental entre hermenêutica e 
interpretação. 
 
De logo esclareça-se que a Hermenêutica se caracteriza por ser a 
ciência que estuda as formas de uso da interpretação. Deste modo, ela não 
pode ser confundida com a interpretação, a qual é, apenas, um subtipo do 
ato gnosiológico da compreensão, a qual se dirige para a decodificação 
de expressões (linguagens) simbólicas, estabelecendo a relação 
significante-significado e atribuindo o sentido de tais expressões. 
 
Destarte, seja a linguagem escrita, falada, gestualizada etc., sempre se 
estará perante um objeto a ser conhecido pelo uso do subtipo de ato 
gnosiológico da compreensão chamado interpretação. 
 
Registre-se ainda, que a Hermenêutica aplicada respeita não apenas 
ao estudo das formas de uso da interpretação, mas, outrossim, à 
superação de lacunas. 
 
Com isso em vistas, inicie-se a exposição das evidências encontradas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
I – ESCOLA DA EXEGESE 
 
 
 
François Laurent (1810-1887) 
 
 
“A lei não contém palavras inúteis” 
 
LAURENT foi um dos principais adeptos da Vertente Extremada da Escola 
da Exegese, indicando que a lei, criada a partir da Vontade Geral e pelo uso da 
Recta Ratio seria sempre perfeita, descabendo qualquer outra interpretação 
que não a literal. O intérprete, assim, para ele, seria “um escravo da lei” pelo 
fato de não poder opor sua vontade à do legislador. A literalidade, apresentaria 
a “fórmula do pensamento”, pelo que “dizer que esse pensamento será outro 
que não aquele expresso no texto claro e formal” seria acusar o “legislador” de 
uma leviandade descabida (FRANÇA, 1999, p. 14). 
 
A Escola da Exegese adveio do iluminismo à época reinante, o qual, 
acreditava que a razão humana era perfeita e capaz de resolver qualquer 
problema ou conflito. Bastaria ao intérprete dar ouvidos à Recta Ratio de que 
todo ser humano (exatamente por ser humano) seria titular e que conduziria 
sempre ao que há de bom, reto, justo e verdadeiro, isto é ao Direito Natural de 
matriz Racionalista, para a obtenção de decisões sempre justas. Mas essa 
justiça já estaria positivada, à medida que os legisladores se valeriam dessa 
Recta Ratio para elaborar a lei, assim, nada mais cabendo ao intérprete do que 
aplicá-la literalmente e acatar suas consequências. 
 
Exatamente por isso se usa apresentar, como alguns caracteres da 
Escola da Exegese e do Código Civil de 1804: 
 
 
 
I – A Teoria da Plenitude da Lei: Antecessora remota da característica 
da Completude do Ordenamento Jurídico (essa de viés científico), essa teoria 
estabelecia o Dogma da Completude da Lei (singularmente considerada). 
Sendo a razão humana perfeita e, por consequência lógica, o que ela produz 
perfeito, a Lei seria perfeita, não possuindo falhas, incompletudes e podendo 
resolver qualquer dificuldade. As “mazelas” de sua aplicação não seriam 
causadas por ela, mas pelo intérprete que não se teria valido adequadamente 
da Recta Ratio. 
 
II – A Atemporalidade da Lei: Sendo perfeita, a lei não padeceria de 
defasagem pelo decurso do tempo. O que foi perfeito ontem continuará perfeito 
hoje e será perfeito amanhã. A “Justiça como Perfeição” (estado perfeito de 
uma relação humana) seria eterna, invariável e imutável, como preconizava o 
Direito Natural de fundo Racionalista, que animou a criação dessa Escola. 
 
III – A Universalidade da Lei: Por ser perfeita e por haver em cada ser 
humano a presença da Recta Ratio a conta de sua própria natureza racional, 
cada indivíduo, uma vez confrontado com a perfeição em forma de Justiça 
seria capaz de reconhecê-la positivada na norma e de acolhê-la. Por isso as 
“Guerras de Expansão” napoleônicas, a despeito dos interesses político-
econômico subjacentes, apresentavam como justificativa legitimadora a 
pretensão de “levar a liberdade aos povos que não a possuíam, mas se viam 
oprimidos por tiranias monárquicas”. Ora, não dizia, pretensiosamente, o art. 16 
da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão (de 1789) que: 
“Art. 16. A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos 
nem estabelecida a separação de poderes não tem Constituição” (v. 
FERREIRA FILHO, 2000, p. 163)? 
 
IV – A Separação de Poderes: Aqui cabe uma análise um pouco mais 
detida, pois tem-se, na verdade, a adoção da “Separação Estanque (ou 
Absoluta) de Poderes”, o que dista consideravelmente da construção de 
MONTESQUIEU. 
 
Trata-se, aqui, do juiz imaginado por MONTESQUIEU, em 1747, o qual seria 
um ente nulo politicamente, um ente inanimado – sem anima, sem alma, sem 
vontade própria, um “autômato da lei” como dir-se-ia depois –, neutro, o qual 
simplesmente seria a boca que pronuncia as palavras da lei (1996, p. 169-170; 
172 e 175). Com efeito, diz MONTESQUIEU (1996, p. 175): “Mas os juízes da 
nação são apenas, como já dissemos, a boca que pronuncia as palavras da lei; 
são seres inanimados que não podem moderar nem sua força, nem o seu 
rigor”. Essa mentalidade está na base da construção do Estado de Direito 
(Estado Liberal clássico), no sentido de tornar previsível e limitada toda a 
atuação estatal. De fato, levada aos extremos, essa mentalidade restou 
gravemente deturpadalogo após a Revolução Francesa, como registram 
HAMON, TROPER e BURDEAU (2005, p. 90-91): 
 
A essas críticas, é o importante acrescentar outras duas: em primeiro 
lugar, a separação dos poderes descrita pela doutrina tradicional é 
geralmente imputada a Montesquieu, por mais que alguns autores 
 
 
procurem as origens em outros como Locke ou Bolingbroke. Ora, 
como mostrou Charles Eisenmann, de maneira irrefutável, o sistema 
preconizado por Montesquieu é na verdade completamente diferente 
e até radicalmente oposto ao da separação de poderes (EISENMANN, 
1933; TROPER, 1980). [...] Dois tipos de explicação podem, então, 
ser dados: de acordo com a primeira, os homens da Revolução 
Francesa teriam entendido mal o Espírito das Leis; enquanto 
Montesquieu entendia o princípio de uma forma maleável, os 
revolucionários teriam dado, por força do sistema, uma 
interpretação rígida. De acordo com a segunda explicação, vista do 
ângulo histórico, a separação dos poderes de que trata a Declaração 
dos Direitos do Homem de 1789 não tem nenhuma relação com a 
separação dos poderes da doutrina tradicional. Os termos são os 
mesmos, mas trata-se de uma doutrina diferente. A expressão 
simplesmente mudou de sentido, desde essa época (Grifou-se). 
 
MONTESQUIEU, dando coerente seguimento à sua máxima de que “quem 
tem o poder é levado a dele abusar”, devendo o poder conter o poder (1996, p. 
166-167) desenhou um sistema interferências recíprocas entre os poderes 
– perfeitamente similar, em sua estruturação, ao sistema de freios e 
contrapesos que seria apresentado pelos federalistas americanos tempos 
mais tarde – no qual se encontram as interferências entre legislativo, executivo 
e judiciário, sendo este último, em razão de sua inércia, pouco lembrado pelo 
autor (1996, p. 173-178) como forma de viabilizar um controle recíproco 
tendente ao equilíbrio e harmonia entre poderes. 
 
Os revolucionários, por sua vez, distaram de MONTESQUIEU pelo fato de 
haverem encampado uma “Separação Estanque (ou Absoluta) de Poderes”, 
em que inexistia o sistema de freios e contrapesos (Checks and Balances 
System), de autoria comumente imputada aos americanos, mas devidamente 
pensada, com antecedência, por MONTESQUIEU (1996, p. 176), ao dizer da 
dinâmica dos poderes e sua necessária harmonia: “Estes três poderes 
deveriam formar um repouso ou uma inação. Mas, como, pelo movimento 
necessário das coisas, eles são obrigados a avançar, serão obrigados a 
avançar concertadamente” (Grifou-se). 
 
Tais caracteres e ideias culminam no chamado “Duplo Reducionismo”, o 
qual consagra a Teoria Monista de produção do Direito, apresentando o Estado 
como seu único criador. O reducionismo é um obstáculo epistemológico (isto é, 
ao conhecimento seguro, dir-se-ia hoje, “científico”) uma vez que promove uma 
simplificação exagerada do objeto, impedindo o seu adequado conhecimento. 
Na Escola da Exegese, isso se manifesta na ideologia de que: 
 
(A) – Todo Fenômeno Jurídico se reduz ao Direito Positivo; 
(B) – Todo o Direito Positivo se reduz à Lei posta pelo Estado. 
 
Há uma variação da assertiva epigrafada (“A lei não contém palavras inúteis”) 
para o universo contratual, a partir das lições de ROBERT JOSEPH POTHIER 
(1699-1772), o qual foi presidente da Corte de Orelans por 52 anos, 
relativamente ao estudo das Pandectas (Digesto), tendo elaborado várias 
regras interpretativas aplicáveis ao CC Francês de 1804 (e a este recolhidas), 
e, também, à codificação brasileira, sob certas condições. 
 
 
 
Tal regra é conhecida como PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO ou 
APROVEITAMENTO DOS CONTRATOS e consiste em estabelecer que o contrato 
deva ser sempre interpretado de modo a fazer com que as suas cláusulas 
tenham aplicabilidade, extraindo-se delas o máximo de utilidade, não sendo 
aceitável a ideia de que as partes possam celebrar um contrato do qual 
constem cláusulas que visem a produção de efeito algum. Sua formulação é: 
“Quando uma cláusula é suscetível de dois sentidos, deve-se interpretá-la de 
maneira que possa gerar algum efeito, e não de modo que não produza 
qualquer efeito”. 
 
Com efeito, diz POTHIER (2003, p.60): 
 
92. Cuando una cláusula es susceptible de dos sentidos, se debe 
más bien entenderla conforme al que ha podido tener efecto, que no 
según aquel sentido que daría por resultado no ser posible 
estipulación alguna. Quoties in stipulationibus ambigua ratio est, 
commodissintum est id accipi quo res de qua agitur in tuto sil (L. 80, 
de verb. oblig.). (Grifos do original) 
 
Sobre o caso da lei, veja-se a Apelação nº 2005.70.01.001551-6/PR, 
julgada pelo TRF da 4ª Região, a qual versava sobre a aplicação de multa por 
erro na indicação do país de origem da importação de mercadorias, 
entendendo a autoridade aduaneira que deveria ser indicada “Taiwan” e não 
“China” como país de origem. Destarte aplicou-se a multa do art. 69, §2º, IV da 
Lei 10.833/03: 
 
Art. 69 - A multa prevista no art. 84 da Medida Provisória nº 2.158-35, 
de 24 de agosto de 2001, não poderá ser superior a 10% do valor 
total das mercadorias constantes da declaração de importação. 
[...] 
§ 2º - As informações referidas no § 1º, sem prejuízo de outras que 
venham a ser estabelecidas em ato normativo da Secretaria da 
Receita Federal, compreendem a descrição detalhada da operação, 
incluindo: 
[...] 
IV - países de origem, procedência e de aquisição. 
 
Assim, insatisfeita, a recorrente, assevera que “Taiwan” não é um país, 
mas uma província pertencente á República Popular da China, a exemplo do 
Tibete: 
 
EMENTA: 
TRIBUTÁRIO E ADUANEIRO. MULTA POR INCORREÇÃO NO 
PREEENCHIMENTO DA DECLARAÇÃO DE IMPORTAÇÃO. PAIS 
DE ORIGEM DAS MERCADORIAS. LEI 10.833/03, § 2º, IV. 
 
1. É princípio basilar de hermenêutica jurídica que a lei não 
contém palavras inúteis, ou seja, as palavras devem ser 
compreendidas como tendo alguma eficácia. 
 
2. Taiwan é uma província da China e não tem reconhecimento como 
país, nem do Brasil, nem da ONU. 
 
 
 
3. Apelação provida. 
 
Do Acórdão relatado pelo Des. Federal JOEL ILAN PACIORNIK, observa-se 
uma argumentação bastante interessante para ilustrar o trato com o 
domínio da Escola da Exegese e do uso da chamada “Teoria dos 
Fundamentos Óbvios”, velha conhecida da Semiótica – a qual se pode 
apresentar como a Ciência geral dos signos e da semiose que estuda todos os 
fenômenos culturais como se fossem sistemas sígnicos, isto é, sistemas de 
significação – pois, como recorda ALFREDO AUGUSTO BECKER (1998, p. 11): 
 
O Direito Tributário está em desgraça e a razão deve buscar-se – não 
na superestrutura – mas precisamente naqueles seus 
fundamentos que costumam ser aceitos como demasiados 
‘óbvios’ para merecerem a análise crítica. Esclarecer é explicitar 
as premissas. O conflito entre as teorias jurídicas do Direito 
Tributário tem sua principal origem naquilo que se presume 
conhecido porque se supõe óbvio. De modo que de premissas 
iguais em sua aparência (a obviedade confere uma identidade 
falsa às premissas) deduzem-se conclusões diferentes porque 
cada contendor atribui um diferente conceito às premissas 
‘óbvias’. Esta dualidade de conclusões deixa ambos os contendores 
surpresos e perplexos (pois partiram das ‘mesmas’ premissas 
‘óbvias’), sem que um possa convencer o outro da veracidade de sua 
respectiva conclusão. (Grifou-se) 
 
A “Teoria dos Fundamentos Óbvios”, como visto, representa, por vezes, 
um recurso retórico para introduzir, de maneira indiscutível porque se faz aceita 
aprioristicamente como válida, uma Generalização Indevida. Expressões como 
“Todos sabem”, “É notório” e equivalentes, não raro denunciam a presença do 
artifício. 
 
Retomando o julgado, o Relator aponta com segura propriedade: 
 
[...] 
Como é cediço, é princípio basilar de hermenêutica jurídica que a lei 
não contém palavras inúteis (verba cum effectu sunt accipienda), 
ou seja, as palavras devem ser compreendidas como tendo 
alguma eficácia, por isso os vocábulos nela contidos tem uma 
razãode ser e não podem, jamais, ser desprezados na sua 
interpretação e na sua aplicação. (Grifou-se) 
 
Nesse sentido, não há como desconsiderar que a expressão 
países de origem não admite outro entendimento que não PAÍS 
de ORIGEM. Não pode a autoridade administrativa, na necessidade 
de melhor operar as suas funções fiscalizadoras ampliar o conceito 
hermenêutico da expressão para admitir que país possa significar, 
também, uma determinada província do mesmo, mesmo que essa 
região tenha grande reconhecimento da mídia. (Grifou-se). 
 
De tal sorte que, em a lei prevendo que deva ser declarado pelo 
importador o país de origem como procedência da mercadoria e em 
sendo a mesma fabricada em Taiwan, o país a ser informado na 
Declaração de Importação deveria ser o da China. 
 
De outra banda, mesmo reconhecendo que na tela do SISCOMEX, 
logo após o país República Popular da China, conste a opção 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Signo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Semiose
 
 
Formosa (Taiwan), é importante ressaltar que não transparece tenha 
havido intuito de má-fé do importador ao optar pela indicação daquele 
país. 
 
Como se vislumbra nos documentos contidos nos autos, desde há 
muito tempo, o Brasil vem assumindo, perante a comunidade 
mundial, a sua posição em favor do reconhecimento da soberania da 
China sobre a província de Taiwan. E a posição brasileira encontra 
conforto no Direito Internacional, pois para que Taiwan pudesse ser 
reconhecido como um país, necessita muito mais do que um povo e 
um território, necessita soberania internacional. [...] 
 
Resta indagar se o ilustre Magistrado não poderia ter adotado outra linha 
argumentativa, sem render-se a uma suposta “confiança cega no legislador” ou 
emprestar-lhe o benefício de estar sempre regido pela Recta Ratio, o que, em 
outros contextos, pode ser daninho para a argumentação, especialmente se 
adiante a norma vem a apresentar uma incoerência literal ou a falta de termos 
necessários para a sua devida compreensão, como se vê do art. 138 do CC, 
por exemplo, no qual a falta da palavra “não” traz enormes prejuízos à 
compreensão do instituto ali descrito em contraste com as definições de “erro 
escusável” e “erro inescusável”. 
 
Parece que talvez fosse possível outro rumo, sem os “efeitos colaterais” 
apontados, caso o Juiz houvesse dirigido sua argumentação no sentido do 
domínio lógico, realizando a exposição dos Princípios Fundamentais de Lógica 
Formal, especialmente os da Identidade (A=A) e da Não-Contradição (Se A=A; 
logo, A não será algo diferente de A). 
 
Deve-se atentar, ademais, para os riscos que o exegetismo oferece 
mesmo ao domínio do controle de constitucionalidade, comprometendo, 
inclusive, o uso da técnica da Interpretação Conforme a Constituição, à qual se 
faria submissa à literalidade da norma (em abordagem de certo modo 
discutível, como se verá adiante, por submeter a Constituição à vontade do 
legislador ordinário). Um exemplo dessa reverência à literalidade pode ser vista 
na Representação de Inconstitucionalidade nº 1417-DF, de 09 de dezembro de 
1987 e relatada pelo Min. MOREIRA ALVES, tendo recebido a seguinte ementa: 
 
REPRESENTAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DO 
PARÁGRAFO 3 DO ARTIGO 65 DA LEI ORGÂNICA DA 
MAGISTRATURA NACIONAL, INTRODUZIDO PELA LEI 
COMPLEMENTAR N. 54/86. 
 
– O PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO CONFORME A 
CONSTITUIÇÃO (VERFASSUNGSKONFORME AUSLEGUNG) E 
PRINCÍPIO QUE SE SITUA NO ÂMBITO DO CONTROLE DA 
CONSTITUCIONALIDADE, E NÃO APENAS SIMPLES REGRA DE 
INTERPRETAÇÃO. A APLICAÇÃO DESSE PRINCÍPIO SOFRE, 
POREM, RESTRIÇÕES, UMA VEZ QUE, AO DECLARAR A 
INCONSTITUCIONALIDADE DE UMA LEI EM TESE, O S.T.F. - EM 
SUA FUNÇÃO DE CORTE CONSTITUCIONAL - ATUA COMO 
LEGISLADOR NEGATIVO, MAS NÃO TEM O PODER DE AGIR 
COMO LEGISLADOR POSITIVO, PARA CRIAR NORMA JURÍDICA 
DIVERSA DA INSTITUIDA PELO PODER LEGISLATIVO. POR 
ISSO, SE A ÚNICA INTERPRETAÇÃO POSSIVEL PARA 
 
 
COMPATIBILIZAR A NORMA COM A CONSTITUIÇÃO 
CONTRARIAR O SENTIDO INEQUIVOCO QUE O PODER 
LEGISLATIVO LHE PRETENDEU DAR, NÃO SE PODE APLICAR O 
PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO, 
QUE IMPLICARIA, EM VERDADE, CRIAÇÃO DE NORMA 
JURÍDICA, O QUE E PRIVATIVO DO LEGISLADOR POSITIVO. 
 
– EM FACE DA NATUREZA E DAS RESTRIÇÕES DA 
INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO, TEM-SE QUE, 
AINDA QUANDO ELA SEJA APLICAVEL, O E DENTRO DO 
ÂMBITO DA REPRESENTAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE, 
NÃO HAVENDO QUE CONVERTER-SE, PARA ISSO, ESSA 
REPRESENTAÇÃO EM REPRESENTAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO, 
POR SEREM INSTRUMENTOS QUE TEM FINALIDADE DIVERSA, 
PROCEDIMENTO DIFERENTE E EFICACIA DISTINTA. 
 
– NO CASO, NÃO SE PODE APLICAR A INTERPRETAÇÃO 
CONFORME A CONSTITUIÇÃO POR NÃO SE COADUNAR ESSA 
COM A FINALIDADE INEQUIVOCAMENTE COLIMADA PELO 
LEGISLADOR, EXPRESSA LITERALMENTE NO DISPOSITIVO EM 
CAUSA, E QUE DELE RESSALTA PELOS ELEMENTOS DA 
INTERPRETAÇÃO LOGICA. 
 
– O PARAGRAFO 3 DO ARTIGO 65 DA LEI COMPLEMENTAR N. 
35/79, ACRESCENTADO PELA LEI COMPLEMENTAR N. 54, DE 
22.12.86, E INCONSTITUCIONAL, QUER NA ESFERA FEDERAL, 
QUER NA ESTADUAL. VIOLAÇÃO DOS ARTIGOS 57, II, 65 E 13, III 
E IV, BEM COMO SEU PARAGRAFO 1, DA CARTA MAGNA. 
REPRESENTAÇÃO QUE SE JULGA PROCEDENTE, PARA SE 
DECLARAR A INCONSTITUCIONALIDADE DO PARAGRAFO 3 DO 
ARTIGO 65 DA LEI COMPLEMENTAR N. 35/79, INTRODUZIDO 
PELA LEI COMPLEMENTAR N. 54, DE 22.12.86 
 
Outra referência muito forte à Escola da Exegese pode ser vista a partir 
da ideia de que “a interpretação da lei não conduzirá ao absurdo”, como posto 
a seguir. 
 
“A Interpretação da Lei não conduzirá ao absurdo” 
 
Sobre essa diretriz da Escola da Exegese, resta bastante interessante a 
análise do Agravo de Instrumento nº 2008.00.2002.7654 que resultou no 
Acórdão de nº 318.839 do TJDF, relatado pelo Des. JESUÍNO RISSATO. A 
decisão segue ementada da seguinte forma: 
 
EMENTA: 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. ADMINISTRATIVO. PROFESSOR DA 
REDE PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL. REGIME DE 60 
(SESSENTA) HORAS SEMANAIS. DIREITO Á GRATIFICAÇÃO POR 
TEMPO INTEGRAL E DEDICAÇÃO EXCLUSIVA AO MAGISTÉRIO – 
TIDEM. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA DEFERIDA. AGRAVO 
PROVIDO. 
 
1. A interpretação da lei não pode conduzir ao absurdo. Se os 
professores que laboram em regime de 40 horas semanais 
recebem a gratificação por Tempo Integral e Dedicação Exclusiva 
ao Magistério – TIDEM, com muito mais razão devem recebê-la 
 
 
aqueles que ultrapassam tal limite, laborando em regime de 60 
horas. (Grifou-se) 
 
2. Agravo conhecido e provido. 
 
A consideração do elemento lógico, aqui registrada, se liga à lembrança 
da “Teoria da Plenitude da Lei”, uma vez que, por ser fruto da Recta Ratio, 
seria a lei perfeita, podendo resolver sem qualquer dificuldade todos os casos. 
 
Segundo a Vertente Moderada da Escola da Exegese, de tão perfeita, 
traria a lei, simultaneamente, um direito explícito e um direito implícito a 
denunciar que o resultado absurdo não se deveria à lei, mas à inaptidão 
do intérprete para descobrir, por meio do elemento lógico – e da analogia, 
que à época era vista apenas como um instrumento para fazê-lo – o direito 
perfeito aplicável ao caso (FRANÇA, 1999, p. 15). 
 
Uma segunda ocorrência desta premissa, ainda que indireta, digna de 
nota em sede constitucional, refere-se ao caso da extinção de mandato do 
então Senador João Alberto Rodrigues Capiberibe (PSB-AP), o qual havia sido 
condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral por “Compra de Votos” (v. art. 299, 
Lei nº 4.737/65 e art. 41-A, Lei 9.504/97), o que conduziria à extinção de seu 
mandato eletivo, conforme dispõe a Constituição Federal no art. 55, V e § 3º: 
 
Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador: 
I - que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo 
anterior; 
II - cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro 
parlamentar; 
III – que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça 
parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença 
ou missão por esta autorizada; 
IV - que perder ou tiver suspensos os direitospolíticos; 
V - QUANDO O DECRETAR A JUSTIÇA ELEITORAL, NOS CASOS PREVISTOS 
NESTA CONSTITUIÇÃO; (Grifou-se e destacou-se) 
VI – que sofrer condenação criminal em sentença transitada em 
julgado. 
§ 1º - É incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos 
definidos no regimento interno, o abuso das prerrogativas 
asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a percepção de 
vantagens indevidas. 
§ 2º - Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será 
decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por 
maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de 
partido político representado no Congresso Nacional, assegurada 
ampla defesa. 
§ 3º - NOS CASOS PREVISTOS NOS INCISOS III A V, A PERDA SERÁ 
DECLARADA PELA MESA DA CASA RESPECTIVA, DE OFÍCIO OU MEDIANTE 
PROVOCAÇÃO DE QUALQUER DE SEUS MEMBROS, OU DE PARTIDO POLÍTICO 
REPRESENTADO NO CONGRESSO NACIONAL, ASSEGURADA AMPLA DEFESA 
(Grifou-se). 
§ 4º A renúncia de parlamentar submetido a processo que vise ou 
possa levar à perda do mandato, nos termos deste artigo, terá seus 
efeitos suspensos até as deliberações finais de que tratam os §§ 2º e 
3º. 
 
 
 
Aparentemente dando aplicação ao comando constitucional, o Presidente 
do Senado, Senador Renan Calheiros (PMDB-AL), declara extinta a investidura 
eletiva do Senador João Capiberibe, marcando data para a posse do candidato 
derrotado nas eleições senatoriais, Gilvam Pinheiro Borges (PMDB-AP), sem, 
contudo, observar o quanto preconiza a parte final do § 3º do art. 55 da CF, ao 
assinalar a exigência de “ampla defesa” para que se procedesse à extinção do 
mandato por ato da Mesa Diretora do Senado Federal e não ato exclusivo do 
Presidente do Senado, ainda que aludisse que agia ad referendum da Mesa 
Diretora. 
 
Assim, insurgiu-se o Senador João Capiberibe contra o ato do Presidente 
da Casa, vindo o mandado de segurança nº 25.623-DF, ser distribuído ao Min. 
MARCO AURÉLIO DE MELLO e julgado, em sede de liminar, em 27/10/2005 (sendo 
posteriormente extinto por perda do objeto em 13/03/2006). Na decisão 
interlocutória, assinalou o Ministro: 
 
DECISÃO 
MANDADO DE SEGURANÇA – DEVIDO PROCESSO LEGAL – 
TRANSGRESSÃO – RELEVÂNCIA – LIMINAR DEFERIDA. 
 
[...] 
 
POIS BEM, QUER SE TRATE DA PERDA DO MANDATO, PRESENTES OS 
INCISOS I, II E VI, QUER VERSE A SITUAÇÃO A EXTINÇÃO ANTE AS 
PREVISÕES DOS INCISOS III A V, TEM-SE COMO AUTORES DOS ATOS, 
RESPECTIVAMENTE, O PLENÁRIO DA CASA E A MESA, ASSEGURADA, EM 
AMBAS AS SITUAÇÕES, A AMPLA DEFESA. AS DISCUSSÕES TRAVADAS NO 
SENADO FEDERAL REVELAM O AFASTAMENTO DO IMPETRANTE SEM QUE 
OBSERVADOS OS DITAMES CONSTITUCIONAIS, SEM QUE OBSERVADA A LEI 
FUNDAMENTAL DA REPÚBLICA, QUE A TODOS, INDISTINTAMENTE, 
SUBMETE, CONSIDERADO O DEVIDO PROCESSO LEGAL. Frise-se, por 
oportuno, que à época da cassação do registro e diploma, o 
impetrante já estava no exercício do mandato de Senador, NÃO 
CABENDO CONFERIR À PARTE FINAL DO INCISO V DO ARTIGO 55 DA CARTA 
FEDERAL - "... NOS CASOS PREVISTOS NESTA CONSTITUIÇÃO" - 
INTERPRETAÇÃO GRAMATICAL, SIMPLESMENTE VERBAL, SOB PENA DE SE 
CHEGAR A VERDADEIRO PARADOXO. ESTANDO O PRONUNCIAMENTO 
JUDICIAL CALCADO NESTA ÚLTIMA, DE ENVERGADURA MAIOR, TER-SE-IA A 
INCIDÊNCIA DO PRECEITO DO § 3º DO CITADO ARTIGO, ENQUANTO A 
FUNDAMENTAÇÃO EM NORMA ESTRITAMENTE LEGAL DISPENSARIA O 
ATENDIMENTO ÀS FORMALIDADES ESTABELECIDAS. A ÓPTICA NÃO SE 
SUSTENTA (Grifou-se). 
 
3. Concedo a liminar pleiteada para afastar os efeitos do ato atacado. 
Com isso, restabeleço a situação jurídica anterior, viabilizando ao 
impetrante, ainda na qualidade de Senador da República, o exercício 
do direito de defesa. 
 
Como se vê da decisão acima, observa-se uma ponderação crítica, já em 
sede constitucional, acerca da utilidade do elemento literal de interpretação, 
sem deixar, contudo, de se observar que a locução “[...] assegurada a 
ampla defesa”, constante do texto do art. 55, § 3º, CF não poderia ser 
privada de sentido, o que não deixa de refletir a parêmia de que “a lei [e 
no caso, a Constituição] não contém palavras inúteis”, emprestando, 
ademais, uma abordagem literal ao dispositivo em questão, sem submetê-
 
 
lo, entretanto, à interpretação a partir da legislação eleitoral, mas, 
outrossim, interpretando a legislação eleitoral a partir da pré-
compreensão constitucional. Exatamente por isso registra o Min. MARCO 
AURÉLIO, novamente por via indireta, a presença do brocardo “a 
interpretação da lei não conduzirá ao absurdo”, ao assinalar que se de 
outro modo fosse, tal óptica não se sustentaria. 
 
Com suas fragilidades e limitações a Escola da Exegese ainda assim 
mostrou-se um notável avanço em face do quadro do ancien regime marcado 
pela distinção de pessoas e regimes jurídicos que inviabilizavam a ideia de 
igualdade formal (perante a lei) e, por conseguinte, de liberdade de todos. 
 
Tais fragilidades e limitações motivaram inúmeras críticas, dentre as quais 
as movidas por FRIEDRICH CARL VON SAVIGNY, na sua transição da Escola da 
Dogmática para a fundação da Escola Histórico-Evolutiva, tal como se verá em 
seguida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
II– ESCOLA DA DOGMÁTICA 
 
 
 
Friedrich Carl von Savigny (1779-1861) 
 
OCCASIO LEGIS 
 
Já em 1802, vê-se um jovem FRIEDRICH CARL VON SAVIGNY (1779-1861) 
estabelecer em bases avançadas a existência dos elementos LITERAL, LÓGICO, 
HISTÓRICO e SISTEMÁTICO de interpretação. Os dois primeiros decorrem da 
reprodução dos preceitos e diretrizes estabelecidos pelo pensamento iluminista 
que culminaria, na França, com a Escola da Exegese e o advento do Código de 
Napoleão; por sua vez, os dois últimos se denotam a partir da clássica 
colocação de SAVIGNY ao dizer: “A ciência da legislação é uma ciência a um só 
tempo HISTÓRICA e FILOSÓFICA” (2001, p. 5 – Destacou-se). 
 
Lançava-se, assim, SAVIGNY, à busca de uma interpretação/sentido que 
refletisse, nas linhas do quanto preconizado pela Escola da Dogmática, o 
momento de surgimento/criação da norma, um elemento histórico chamado 
de Occasio Legis, por representar o contexto que levou à criação da 
norma, ainda buscando-se identificar as necessidades de um 
“Legislador” infalível. 
 
Cumpre recordar que a Escola da Dogmática apresentava a mesma 
influência do Iluminismo quanto à crença cega nas potencialidades da razão 
humana, pondo especial apreço na identificação do que é “bom, reto, justo e 
verdadeiro” (Direito Natural) no uso da Recta Ratio. 
 
 
 
Do mesmo modo, partilhava a ideia do “Duplo Reducionismo”, conducente 
ao monismo das fontes do Direito, sendo visto o Estado como seu único 
criador. Mas uma peculiaridade se instala: Se na Exegese tal monismo era 
obtido a partir do duplo reducionismo puro e simples – “Todo Fenômeno 
Jurídico se reduz ao Direito Positivo; Todo o Direito Positivo se reduz à Lei 
posta pelo Estado” – a Dogmática apresentará uma variante aparentemente 
pequena, mas de profunda importância para a diferenciação das Escolas da 
Dogmática e da Exegese. Com efeito, o Duplo Reducionismo na Dogmática 
diferia apenas no final, mas com toda diferença possível: 
 
(A) – Todo Fenômeno Jurídico se reduz ao Direito Positivo; 
(B) – Todo o Direito Positivo se reduz à Lei posta pelo Estado que 
estabeleça os princípios e regras do Direito Romano. 
 
Ora, buscar a vontade psicológica do “Legislador” de um Código de 1804 
(o Código Civil Francês) era factível para a Exegese, mas notadamente 
impossível para a Dogmática, a qual se deparava com uma legislação que 
reproduzia normas com um conteúdo, por vezes, de mais de mil anos, a exigir, 
assim, inexoravelmente, uma análise histórica mais profunda. Acresça-se que 
Prússia (e posteriormente Alemanha) só virá a ter um Código Civil em 1896, o 
que contribui para uma maior liberdade de investigação histórica do intérprete 
da Dogmática. 
 
No trato com o elemento histórico vê-se logo um apuro superior ao de seu 
mestre, GUSTAVO HUGO, uma vez que, para SAVIGNY (2001,p. 6-7), mais do 
que a análise da sucessão histórica dos fatos legislativos e das razões de sua 
produção, há que se cogitar acerca não apenas da história da legislação, 
mas por igual, da história do Estado que produziu tal legislação e da 
história do povo que constituiu este Estado que produziu tal legislação. 
De forma esquemática o pensamento de SAVIGNY deslocou-se, dentro da 
Escola da Dogmática no seguinte sentido, em busca de gradual 
aprofundamento: 
 
 
 
 
Convém registrar que tal nível de indagação viabilizará, posteriormente, a 
passagem de SAVIGNY para uma segunda fase de seu pensamento, na qual ele 
será um dos principais fundadores da Escola Histórico-Evolutiva. 
 
A Occasio Legis encontra uma manifestação de extrema relevância no 
plano jurisprudencial brasileiro no tocante à ADPF nº 153, Relatada pelo Min. 
EROS ROBERTO GRAU, na qual se discutiu a possibilidade de revisão da Lei de 
Anistia (Lei nº 6.683/79) à vista da nova ordem democrática. Com efeito, na 
argumentação despendida na construção do acórdão desponta a necessidade 
de se compreender tal lei como uma “Lei-Medida”, a qual, portanto, não estaria 
posta à interpretação histórico-evolutiva (elemento mesológico) como as 
demais, devendo ser compreendida no quadro histórico de sua promulgação 
(Occasio Legis) sem se alterar as condições daquele momento histórico ainda 
 
História da Legislação  História do Estado  História do Povo. 
 
 
que em face de substanciosas modificações de circunstâncias fático-jurídicas 
na atualidade. Diz a ementa: 
 
EMENTA: 
LEI N. 6.683/79, A CHAMADA "LEI DE ANISTIA". ARTIGO 5º, 
CAPUT, III E XXXIII DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL; PRINCÍPIO 
DEMOCRÁTICO E PRINCÍPIO REPUBLICANO: NÃO VIOLAÇÃO. 
CIRCUNSTÂNCIAS HISTÓRICAS. DIGNIDADE DA PESSOA 
HUMANA E TIRANIA DOS VALORES. INTERPRETAÇÃO DO 
DIREITO E DISTINÇÃO ENTRE TEXTO NORMATIVO E NORMA 
JURÍDICA. CRIMES CONEXOS DEFINIDOS PELA LEI N. 6.683/79. 
CARÁTER BILATERAL DA ANISTIA, AMPLA E GERAL. 
JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NA 
SUCESSÃO DAS FREQUENTES ANISTIAS CONCEDIDAS, NO 
BRASIL, DESDE A REPÚBLICA. INTERPRETAÇÃO DO DIREITO E 
LEIS-MEDIDA. CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS CONTRA A 
TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU PENAS CRUÉIS, 
DESUMANOS OU DEGRADANTES E LEI N. 9.455, DE 7 DE ABRIL 
DE 1997, QUE DEFINE O CRIME DE TORTURA. ARTIGO 5º, XLIII 
DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. INTERPRETAÇÃO E REVISÃO 
DA LEI DA ANISTIA. EMENDA CONSTITUCIONAL N. 26, DE 27 DE 
NOVEMBRO DE 1985, PODER CONSTITUINTE E "AUTO-ANISTIA". 
INTEGRAÇÃO DA ANISTIA DA LEI DE 1979 NA NOVA ORDEM 
CONSTITUCIONAL. ACESSO A DOCUMENTOS HISTÓRICOS 
COMO FORMA DE EXERCÍCIO DO DIREITO FUNDAMENTAL À 
VERDADE. 
 
1. Texto normativo e norma jurídica, dimensão textual e dimensão 
normativa do fenômeno jurídico. O intérprete produz a norma a partir 
dos textos e da realidade. A interpretação do direito tem caráter 
constitutivo e consiste na produção, pelo intérprete, a partir de textos 
normativos e da realidade, de normas jurídicas a serem aplicadas à 
solução de determinado caso, solução operada mediante a definição 
de uma norma de decisão. A interpretação/aplicação do direito opera 
a sua inserção na realidade; realiza a mediação entre o caráter geral 
do texto normativo e sua aplicação particular; em outros termos, 
ainda: opera a sua inserção no mundo da vida. 
 
2. O argumento descolado da dignidade da pessoa humana para 
afirmar a invalidade da conexão criminal que aproveitaria aos agentes 
políticos que praticaram crimes comuns contra opositores políticos, 
presos ou não, durante o regime militar, não prospera. 
 
3. Conceito e definição de "crime político" pela Lei n. 6.683/79. São 
crimes conexos aos crimes políticos "os crimes de qualquer natureza 
relacionados com os crimes políticos ou praticados por motivação 
política"; podem ser de "qualquer natureza", mas [i] hão de terem 
estado relacionados com os crimes políticos ou [ii] hão de terem sido 
praticados por motivação política; são crimes outros que não 
políticos; são crimes comuns, porém [i] relacionados com os crimes 
políticos ou [ii] praticados por motivação política. A expressão crimes 
conexos a crimes políticos conota sentido a ser sindicado no 
momento histórico da sanção da lei. A chamada Lei de anistia diz 
com uma conexão sui generis, própria ao momento histórico da 
transição para a democracia. Ignora, no contexto da Lei n. 6.683/79, o 
sentido ou os sentidos correntes, na doutrina, da chamada conexão 
criminal; refere o que "se procurou", segundo a inicial, vale dizer, 
estender a anistia criminal de natureza política aos agentes do Estado 
encarregados da repressão. 
 
 
 
4. A lei estendeu a conexão aos crimes praticados pelos agentes do 
Estado contra os que lutavam contra o Estado de exceção; daí o 
caráter bilateral da anistia, ampla e geral, que somente não foi 
irrestrita porque não abrangia os já condenados --- e com sentença 
transitada em julgado, qual o Supremo assentou --- pela prática de 
crimes de terrorismo, assalto, seqüestro e atentado pessoal. 
 
5. O significado válido dos textos é variável no tempo e no 
espaço, histórica e culturalmente. A interpretação do direito não 
é mera dedução dele, mas sim processo de contínua adaptação 
de seus textos normativos à realidade e seus conflitos. Mas essa 
afirmação aplica-se exclusivamente à interpretação das leis 
dotadas de generalidade e abstração, leis que constituem 
preceito primário, no sentido de que se impõem por força 
própria, autônoma. Não àquelas, designadas leis-medida 
(Massnahmegesetze), que disciplinam diretamente determinados 
interesses, mostrando-se imediatas e concretas, e 
consubstanciam, em si mesmas, um ato administrativo especial. 
NO CASO DAS LEIS-MEDIDA INTERPRETA-SE, EM CONJUNTO COM O SEU 
TEXTO, A REALIDADE NO E DO MOMENTO HISTÓRICO NO QUAL ELA FOI 
EDITADA, NÃO A REALIDADE ATUAL. É A REALIDADE HISTÓRICO-SOCIAL DA 
MIGRAÇÃO DA DITADURA PARA A DEMOCRACIA POLÍTICA, DA TRANSIÇÃO 
CONCILIADA DE 1979, QUE HÁ DE SER PONDERADA PARA QUE POSSAMOS 
DISCERNIR O SIGNIFICADO DA EXPRESSÃO CRIMES CONEXOS NA LEI N. 
6.683. É DA ANISTIA DE ENTÃO QUE ESTAMOS A COGITAR, NÃO DA ANISTIA 
TAL E QUAL UNS E OUTROS HOJE A CONCEBEM, SENÃO QUAL FOI NA ÉPOCA 
CONQUISTADA. EXATAMENTE AQUELA NA QUAL, COMO AFIRMA INICIAL, "SE 
PROCUROU" [SIC] ESTENDER A ANISTIA CRIMINAL DE NATUREZA POLÍTICA 
AOS AGENTES DO ESTADO ENCARREGADOS DA REPRESSÃO. A CHAMADA 
LEI DA ANISTIA VEICULA UMA DECISÃO POLÍTICA ASSUMIDA NAQUELE 
MOMENTO --- O MOMENTO DA TRANSIÇÃO CONCILIADA DE 1979. A LEI N. 
6.683 É UMA LEI-MEDIDA, NÃO UMA REGRA PARA O FUTURO, DOTADA DE 
ABSTRAÇÃO E GENERALIDADE. HÁ DE SER INTERPRETADA A PARTIR DA 
REALIDADE NO MOMENTO EM QUE FOI CONQUISTADA. (Grifou-se – 
Occasio Legis) 
 
6. A Lei n. 6.683/79 precede a Convenção das Nações Unidas 
contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, 
Desumanos ou Degradantes --- adotada pela Assembléia Geral 
em 10 de dezembro de 1984, vigorando desde 26 de junho de 
1987 --- e a Lei n. 9.455, de 7 de abril de 1997, que define o crime 
de tortura; e o preceito veiculado pelo artigo 5º, XLIII da 
Constituição --- que declara insuscetíveis de graça e anistia a 
prática da tortura, entre outros crimes --- não alcança, por 
impossibilidade lógica, anistias anteriormente a sua vigência 
consumadas. A Constituição não afeta leis-medida que a tenham 
precedido. 
 
7. No Estado democrático de direito o Poder Judiciário não está 
autorizado a alterar, a dar outra redação, diversa da nele 
contemplada, a texto normativo. Pode, a partir dele, produzir distintas 
normas. Mas nem mesmo o Supremo Tribunal Federal está 
autorizado a rescrever leis de anistia. 
 
8. Revisão de lei de anistia, se mudanças do tempo e da sociedade a 
impuserem, haverá --- ou não --- de ser feita pelo Poder Legislativo, 
não pelo Poder Judiciário. 
 
 
 
9. A anistia da lei de 1979 foi reafirmada, no texto da EC 26/85, 
pelo Poder Constituinte da Constituição de 1988. Daí não ter 
sentido questionar-se se a anistia, tal comodefinida pela lei, foi 
ou não recebida pela Constituição de 1988; a nova Constituição a 
[re]instaurou em seu ato originário. A Emenda Constitucional n. 
26/85 inaugura uma nova ordem constitucional, 
consubstanciando a ruptura da ordem constitucional que decaiu 
plenamente no advento da Constituição de 5 de outubro de 1988; 
consubstancia, nesse sentido, a revolução branca que a esta 
confere legitimidade. A reafirmação da anistia da lei de 1979 está 
integrada na nova ordem, compõe-se na origem da nova norma 
fundamental. De todo modo, se não tivermos o preceito da lei de 
1979 como ab-rogado pela nova ordem constitucional, estará a 
coexistir com o § 1º do artigo 4º da EC 26/85, existirá a par dele 
[dicção do § 2º do artigo 2º da Lei de Introdução ao Código Civil]. 
O debate a esse respeito seria, todavia, despiciendo. A uma por 
que foi mera lei-medida, dotada de efeitos concretos, já 
exauridos; é lei apenas em sentido formal, não o sendo, contudo, 
em sentido material. A duas por que o texto de hierarquia 
constitucional prevalece sobre o infraconstitucional quando 
ambos coexistam. Afirmada a integração da anistia de 1979 na 
nova ordem constitucional, sua adequação à Constituição de 
1988 resulta inquestionável. A nova ordem compreende não 
apenas o texto da Constituição nova, mas também a norma-
origem. No bojo dessa totalidade --- totalidade que o novo 
sistema normativo é --- tem-se que "[é] concedida, igualmente, 
anistia aos autores de crimes políticos ou conexos" praticados 
no período compreendido entre 02 de setembro de 1961 e 15 de 
agosto de 1979. Não se pode divisar antinomia de qualquer 
grandeza entre o preceito veiculado pelo § 1º do artigo 4º da EC 
26/85 e a Constituição de 1988. 10. Impõe-se o desembaraço dos 
mecanismos que ainda dificultam o conhecimento do quanto 
ocorreu no Brasil durante as décadas sombrias da ditadura. 
(Grifou-se) 
 
Uma outra aplicação dos postulados da Escola da Dogmática (e uma 
breve visão do que proporia a Escola Histórico-Evolutiva) se encontra no 
Agravo de Instrumento nº 2009.04.00.007520-9/RS (julgado em 27/05/2009) 
pelo TRF da 4ª Região, relatado pelo Juiz MARCELO DE NARDI, do qual se vê: 
 
EMENTA: 
EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. ART. 739-A DO CPC. 
APLICABILIDADE. ARTS. 18, 19, 21, 24 E 32 DA L 6.830/1980. 
INTERPRETAÇÃO LÓGICA. ELEMENTOS HISTÓRICOS, 
RACIONAIS E SISTEMÁTICOS. OCCASIO LEGIS. (Grifou-se) 
 
1. O Código de Processo Civil, de 1973, fez dos embargos do 
devedor um processo separado, ligado ao processo executivo por 
conexão recíproca. Quando de sua edição, o Código estabeleceu, 
como regra geral que, admitidos os embargos, o processo de 
execução ficava suspenso. 
 
2. O legislador de 1973, considerado o contexto da época, optou 
por introduzir regra que mantivesse temporariamente preservado 
o patrimônio do devedor, ante a possível modificação da 
situação preexistente representada pelo desenvolvimento da 
execução. (Grifou-se – Occasio Legis) 
 
 
 
3. A L 6.830, que regula a execução fiscal, entrou em vigor em 1980, 
estabelecendo regras próprias para satisfação dos créditos públicos, 
mas sob o influxo dos princípios e idéias vigorantes no processo civil 
de então, com expressa previsão, no art. 1°, da aplicação subsidiária 
do CPC. 
 
4. Os textos dos arts. 18, 19 21, 24 e 32 da L 6.830/1980, nos 
termos em que formulados, são decorrência lógica do contexto 
existente quando da edição do referido diploma legal, de 
aplicabilidade das regras do CPC, que atribuía efeito suspensivo 
aos embargos de devedor, com a finalidade de preservar o 
patrimônio do devedor até o julgamento da ação incidental. 
 
5. Em razão das reformas do Código de Processo Civil, o 
processo de execução e, por conseqüência, os embargos, 
sofreram modificações formais cujo escopo primordial é tornar 
mais efetivo o processo. A reforma visou reprimir a má utilização 
dos meios de defesa do devedor, evitando sua utilização com 
objetivo de postergar indefinidamente a satisfação do crédito. 
Daí a introdução de dispositivos no CPC como o art. 739-A, 
quebrando o paradigma que inspirou o legislador de 1973. 
(Grifou-se – Escola Histórico-Evolutiva, Vertente Moderada) 
 
6. Tendo em vista que a lacuna no tocante aos efeitos dos embargos 
continua existindo, seria incongruente afastar a incidência do art. 739-
A do CPC no âmbito da execução fiscal, diante do conjunto de 
reformas e medidas legislativas implementadas, inclusive no sentido 
de agilizar a cobrança da dívida ativa do Estado. 
 
7. Além da lacuna, há também a compatibilidade de princípios 
informadores a autorizar a aplicação subsidiária do art. 739-A do CPC 
no procedimento de execução fiscal. 
 
8. Discutida no processo de origem a responsabilização pessoal do 
agravante pela dívida da associação que presidiu e presentes os 
requisitos legais, impõe-se a concessão de efeito suspensivo aos 
embargos. 
 
O SAVIGNY da primeira fase não tratou a “ciência da legislação” como 
sendo apenas histórica, mas, outrossim, “filosófica”. Destarte, deve-se explorar 
qual a relação desta terminologia com o elemento sistemático de interpretação. 
 
ELEMENTO SISTEMÁTICO 
 
Já se viu a importância de SAVIGNY no aprimoramento do elemento 
Histórico de interpretação. Entretanto, como ele afirmara em 1802 que: “A 
ciência da legislação é uma ciência a um só tempo HISTÓRICA e FILOSÓFICA” 
(2001, p. 5 – Destacou-se), cumpre abordar o caráter “filosófico” por ele 
adotado. 
 
Ora, lembre-se que SAVIGNY fora formado a partir de textos clássicos, o 
que o colocava em contato direto, por exemplo, com os diálogos platônicos, 
notadamente com a “República”. E é neste diálogo, particularmente, que um 
jovem e curioso SAVIGNY deve ter se deparado com a ideia de “enfeixamento” 
(sistematização) do conhecimento como forma de se superar o conhecimento 
pelas aparências (dóxa) e se alcançar um conhecimento seguro (epistéme), 
 
 
formando-se assim sua associação entre conhecimento filosófico e 
conhecimento seguro, organizado, em uma palavra: sistemático (PLATÃO, 
2000, p. 185-190). 
 
Sobre o uso do elemento SISTEMÁTICO de interpretação, veja-se o Habeas 
Corpus nº 84.219-SP, julgado pelo STF em 16/08/2005 e relatado pelo Min. 
MARCO AURÉLIO: 
 
EMENTA: 
MEDIDA DE SEGURANÇA - PROJEÇÃO NO TEMPO - LIMITE. A 
interpretação sistemática e teleológica dos artigos 75, 97 e 183, 
os dois primeiros do Código Penal e o último da Lei de 
Execuções Penais, deve fazer-se considerada a garantia 
constitucional abolidora das prisões perpétuas. A medida de 
segurança fica jungida ao período máximo de trinta anos. 
 
Código Penal – Decreto-Lei nº 2.848/40 
Limite das penas 
 Art. 75 - O tempo de cumprimento das penas privativas de 
liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos. (Redação dada 
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 § 1º - Quando o agente for condenado a penas privativas de 
liberdade cuja soma seja superior a 30 (trinta) anos, devem elas ser 
unificadas para atender ao limite máximo deste artigo. (Redação dada 
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 § 2º - Sobrevindo condenação por fato posterior ao início do 
cumprimento da pena, far-se-á nova unificação, desprezando-se, 
para esse fim, o período de pena já cumprido.(Redação dada pela Lei 
nº 7.209, de 11.7.1984) 
[...] 
Imposição da medida de segurança para inimputável 
 Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua 
internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for 
punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento 
ambulatorial. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 Prazo 
 § 1º - A internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo 
indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, mediante 
perícia médica, a cessação de periculosidade. O prazo mínimo 
deverá ser de 1 (um) a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 
7.209, de 11.7.1984) 
 Perícia médica 
 § 2º - A perícia médica realizar-se-á ao termo do prazo mínimo 
fixado edeverá ser repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo, se 
o determinar o juiz da execução. (Redação dada pela Lei nº 7.209, 
de 11.7.1984) 
 Desinternação ou liberação condicional 
 § 3º - A desinternação, ou a liberação, será sempre condicional 
devendo ser restabelecida a situação anterior se o agente, antes do 
decurso de 1 (um) ano, pratica fato indicativo de persistência de sua 
periculosidade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 § 4º - Em qualquer fase do tratamento ambulatorial, poderá o juiz 
determinar a internação do agente, se essa providência for 
necessária para fins curativos. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
[...] 
Lei de Execuções Penais – Lei nº 7.210/84 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art75
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art97
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art97
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art97
 
 
Art. 183. Quando, no curso da execução da pena privativa de 
liberdade, sobrevier doença mental ou perturbação da saúde mental, 
o Juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público, da Defensoria 
Pública ou da autoridade administrativa, poderá determinar a 
substituição da pena por medida de segurança. (Redação dada pela 
Lei nº 12.313, de 2010). 
 
Levando a Dogmática aos seus limites extremos, SAVIGNY perceberá, ao 
se indagar acerca não apenas da história da legislação, mas da história do 
Estado que produziu tal legislação e da história do povo que constituiu este 
Estado produtor da legislação em apreço, que antes mesmo de surgir uma 
organização estatal, o Direito já se mostrava de algum modo presente nas 
sociedades mais rudimentares, pelo que se constata uma ideia que 
representará o marco de sua ruptura com a Escola da Dogmática: “Não é a Lei 
que cria o Direito, mas o Direito que cria a Lei”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12313.htm#art2
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