Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SUMÁRIO 1 O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO ....................................................... 3 2 TEORIA DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DE JEAN PIAGET ........ 7 2.1 Princípios gerais da Teoria do Desenvolvimento de Piaget ................. 9 3 ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO DE PIAGET ................................. 11 3.1 O Estágio Sensório-Motor .................................................................. 11 3.2 O Estágio Pré-Operatório ................................................................... 13 3.3 O Estágio Operatório Concreto .......................................................... 15 3.4 Estágio Operatório Formal ................................................................. 18 4 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DO ADOLESCENTE ....................... 20 4.1 Características da Cognição Formal .................................................. 21 5 DESENVOLVIMENTO FÍSICO E COGNITIVO DO ADOLESCENTE ....... 22 5.1 Desenvolvimento Físico ..................................................................... 22 5.2 Desenvolvimento cognitivo e aprendizagem adolescente .................. 23 6 DESENVOLVIMENTO: MATURAÇÃO E APRENDIZAGEM .................... 25 6.1 Diferença entre crescimento e desenvolvimento ................................ 26 7 PRINCÍPIOS GERAIS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO ................... 26 7.1 O desenvolvimento se processa por etapas ....................................... 26 7.2 O desenvolvimento, embora contínuo e sequencial, é marcado por profundas transformações ..................................................................................... 27 7.3 Os fatores que influenciam o desenvolvimento humano (Bock, 2008, p. 99) ........................................................................................................... 28 8 FASES DO DESENVOLVIMENTO HUMANO .......................................... 29 8.1 Desenvolvimento Infantil .................................................................... 29 8.2 Estudos sobre o Desenvolvimento Infantil .......................................... 30 9 DESENVOLVIMENTO DO ADOLESCENTE ............................................ 32 9.1 Concepções históricas ....................................................................... 32 10 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DO ADOLESCENTE .................... 35 11 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO NA PERSPECTIVA INTERACIONISTA DE PIAGET E IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS ........................ 38 11.1 Relação pensamento linguagem na perspectiva de Piaget ............ 39 12 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO NA PERSPECTIVA INTERACIONISTA DE VYGOTSKY E IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS ................. 44 12.1 Relação pensamento linguagem na perspectiva de Vygotsky ........ 45 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 47 1 O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO1 Aprendizagem é toda mudança de comportamento em resposta a experiências anteriores porque envolve o sujeito como um todo, considerando todos os seus aspectos, sendo eles psicológicos, biológicos e sociais. Se algum desses aspectos estiver em desequilíbrio haverá a dificuldade de aprendizagem. Fonte: www.blogelian.com.br Segundo Piaget (1973), a aprendizagem só se dá com a desordem e ordem daquilo que já existe dentro de cada sujeito. É necessário obter contato com o difícil, com o incomodo para desestruturar o já existente e em seguida estruturá-lo novamente, com a pesquisa e também motivações tanto intrínseca como extrínseca para obter a aprendizagem, ressaltando que a motivação intrínseca é mais importante porque o sujeito tem que estar interessado em aprender, sendo que a junção dos dois (intrínseca e extrínseca) formam importantes aliados para a melhor aprendizagem do sujeito. O processo do conhecimento se dá na interação entre sujeito e objeto, esta interação Piaget (1973) chama de assimilação e acomodação. 1 Texto extraído do link: http://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/educacao/o-desenvolvimento- cognitivo.htm Assimilação para Piaget (1973) é “(...) uma integração a estruturas prévias, que podem permanecer invariáveis ou são mais ou menos modificadas por esta própria integração, mas sem descontinuidade com o estado precedente, isto é, sem serem destruídas, mas simplesmente acomodando-se à nova situação”. Simplificando, o processo de assimilação é a articulação das ideias já existentes com as que estão sendo aprendidas de forma que adapta o novo conhecimento com as estruturas cognitivas existentes. Acomodação é toda mudança de comportamento, alteração do sujeito, este só acontece quando o sujeito se transforma, amplia ou muda os seus esquemas. Esquema é a estrutura da ação, ou seja, nós vamos integrando uma determinada coisa com outra coisa que já entramos em contato anteriormente, assim vamos articulando o já conhecido com o que está sendo apresentado, mudando ou ampliando o esquema já existente. Não há assimilação sem acomodação e vice-versa, mas pode acontecer o predomínio de uma ou de outra, para ocorrer este processo é preciso que o sujeito tenha situações problemas que desafiem sua inteligência. Para Pain (1985), o processo de aprendizagem se inscreve na dinâmica da transmissão da cultura, que constitui a definição mais ampla da palavra educação, atribuindo quatro funções interdependentes: a) Função mantenedora da educação: garante a continuidade da espécie humana por meio da aprendizagem de normas que regem a ação. b) Função socializadora da educação: através da linguagem, do habitat transforma o indivíduo em sujeito social. c) Função repressora da educação: um instrumento de controle que tem por objetivo conservar. d) Função transformadora da educação: transforma o sujeito, de formas peculiares de expressão revolucionária a partir de mobilizações primariamente emotivas advindas das contradições do sistema. Na tentativa de uma definição da patologia da aprendizagem, ela a define como um sintoma, no sentido de que o não - aprender não configura um quadro permanente, mas ingressa em uma constelação peculiar de comportamentos, assim, o seu diagnóstico está constituído pelo seu significado. A aprendizagem possui dois tipos de condições: as externas, na qual é comum a criança com problema de aprendizagem apresentar algum déficit real do meio devido a confusão dos estímulos, a falta de ritmo ou a velocidade com que são brindados ou a pobreza ou carência dos mesmos e, em seu tratamento, se vê rapidamente favorecida mediante um material discriminado com clareza, fácil de manipular, diretamente associado à instrução de trabalho e de acordo com um ritmo apropriado para cada aquisição e as internas que estão ligadas a três aspectos: o corpo como organismo que favorece ou atrasa os processos cognitivos, sendo mediador da ação; a cognição, ou seja, à presença de estruturas capazes de organizar os estímulos do conhecimento; condições internas que estão ligadas à dinâmica de comportamento. Fonte: www.comerparacrescer.com A aprendizagem será cada vez mais rápida quando o sujeito sentir a necessidade e urgência na compreensão daquilo que está sendo apresentado. Segundo Fernández (2001), é importante levar em consideração as estruturas cognitivas e a estrutura desejante do sujeito, porque um depende do outro, é necessário que o sujeito tenha desejo, pois este impulsiona o sujeito a querer aprender e este querer faz com que o sujeito tenha uma relação com o objeto de conhecimento. Para ter essa relação o sujeito precisa ter uma organização lógica, que depende dos fatores cognitivos. No lado do objeto de conhecimento ocorre a significação simbólica que depende dos fatores emocionais. Todo sujeito tem a sua modalidade de aprendizagem e os seus meios de construir o próprio conhecimento, e isto depende de cadaum para construir o seu saber. O sujeito constrói esse saber a partir do momento que ele tem uma relação com o conhecimento, com quem oferece e com a sua história. Para que o conhecimento seja assimilado, é preciso que o sujeito seja ativo, transforme e incorpore o seu saber, esquecendo de conhecimentos prévios que já não servem mais, é importante também que o ensinante dê significado para este novo conhecimento, despertando o desejo de querer saber do aprendente. O modo como uma pessoa relaciona-se com o conhecimento se repete e muda ao longo de sua vida nas diferentes áreas. O conhecimento acontece quando alguns esquemas operaram e utilizam diferentes situações de aprendizagem, é um molde relacional e móvel que se transforma com o uso, é a organização do conjunto de aspectos (conscientes, inconscientes e pré-conscientes) da ordem da significação, da lógica, da simbólica, da corporeidade e da estética, tal organização ocorre espontaneamente, isto se chama modalidade de aprendizagem, segundo Fernández, sendo que o problema de aprendizagem ocorre quando essa modalidade se enrijece, congela. Cada pessoa tem uma modalidade singular de aprendizagem, que se organiza a partir dos ensinante (família e escola), considerando a criança como um ser aprendente e que tem capacidade para pensar; do espaço saudável, ou seja, onde seja possível fazer perguntas; das experiências vividas com satisfação em relação ao aprender; do reconhecimento de si mesmo como autor; dos espaços objetivos e subjetivos, onde o jogar seja aceito; de uma possível relação com sujeitos da mesma idade; do modo de circulação do conhecimento nos grupos de pertencimento: família, escola, contexto comunitário É importante ressaltar que o sujeito é sempre ativo, é autor do seu conhecimento, ele constrói sua modalidade de aprendizagem e a sua inteligência que marcará uma forma particular de relacionar-se, buscar e construir conhecimentos, um posicionamento de sujeito diante de si mesmo como autor de seu pensamento. O aprender significa também “perder” algo velho, mas utilizando-o para construir o novo, é o reconhecimento da passagem do tempo, do processo construtivo, o qual remete necessariamente, à autoria. Aprender é historiar-se, pois, sem esse sujeito ativo e autor que significa o mundo, aprendizagem será apenas uma tentativa de cópia. Fonte: acreaovivo.com.br Para aprender precisamos entender e analisar a relação entre futuro e passado, assim entenderemos todo o processo de aprendizagem, ou seja, o sujeito tem que ser biógrafo de sua história. Concluímos que a aprendizagem é uma mudança de comportamento, assimilações e informações nas quais o sentido de aprender não é impor barreiras e limites para a criatividade e disponibilidade de cada ser. O desenvolvimento de uma boa aprendizagem é a integração de aspectos: afetivo, físico, emocional, social e intelectual do aprendiz, ocasionando uma motivação interna e construindo o conhecimento a todo o momento. 2 TEORIA DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DE JEAN PIAGET2 Seria difícil superestimar a importância do psicólogo suíço Jean Piaget (1896 – 1980) para a pesquisa do desenvolvimento. A teoria do desenvolvimento cognitivo geralmente considerada como a mais compreensiva é a dele. Embora certos aspectos da teoria de Piaget tenham sido questionados e, em alguns casos, refutados, sua influência é imensa. Na verdade, a contribuição de sua teoria, como a de outros, é 2 Texto extraído do link: http://www.helioteixeira.org/ciencias-da-aprendizagem/teoria-do- desenvolvimento-cognitivo-de-jean-piaget/ mostrada mais pela sua influência em teorias e em pesquisas posteriores do que por sua exatidão máxima. Fonte: radardaprimeirainfancia.org.br Piaget ingressou, pela primeira vez, no campo do desenvolvimento cognitivo quando, enquanto trabalhava como estudante já graduado no laboratório psicométrico de Alfred Binet, ficou intrigado com as respostas erradas das crianças aos itens do teste de inteligência. Para entender a inteligência, raciocinava Piaget, a investigação deve ser dupla: (1) observar o desempenho de uma pessoa e (2) considerar também por que esta pessoa assim desempenhava, incluindo os tipos de pensamento subjacentes às ações da mesma. O raciocínio de Piaget seguia o de seu mentor Binet na primeira cláusula, mas não na segunda. Particularmente, Piaget raciocinava que os pesquisadores podiam aprender tanto sobre o desenvolvimento intelectual das crianças, a partir do exame de suas respostas incorretas aos itens dos testes, quanto sobre o exame de suas respostas corretas. Pelas suas reiteradas observações de crianças, inclusive de seus próprios filhos, e especialmente mediante investigação de seus erros de raciocínio, ele concluiu que sistemas lógicos coerentes fundamentam o pensamento das crianças. Tais sistemas, acreditava ele, diferem em espécie dos sistemas lógicos que os adultos usam. Se vamos entender o desenvolvimento, devemos identificar esses sistemas e suas características diferenciais. Nas seções a seguir, primeiro consideramos alguns dos princípios gerais de Piaget sobre o desenvolvimento e, depois, observamos os estágios de desenvolvimento que ele propôs. 2.1 Princípios gerais da Teoria do Desenvolvimento de Piaget Piaget acreditava que a função da inteligência é auxiliar a adaptação ao ambiente. Em sua concepção, os meios de adaptação formam um continuum que varia de meios relativamente inteligentes, tais como hábitos e reflexos, a meios relativamente inteligentes, tais como os que exigem insight, representação mental complexa e a manipulação mental de símbolos. De acordo com seu foco na adaptação, acreditava que o desenvolvimento cognitivo acompanhava-se de respostas cada vez mais complexas ao ambiente. A seguir, Piaget propôs que, com a crescente aprendizagem e maturação, tanto a inteligência quanto suas manifestações tornam-se diferenciadas – mais altamente especializadas em vários domínios. Embora Piaget usasse a técnica de pesquisa da observação, grande parte de sua pesquisa era também uma exploração lógica e filosófica de como o conhecimento se desenvolve, desde formas primitivas até sofisticadas, acreditava que o desenvolvimento ocorre em estágios que evoluem pela equilibração, na qual as crianças procuram um balanço (equilíbrio) entre o que encontram em seus ambientes e as estruturas e os processos cognitivos que levam a esse encontro, bem como entre as próprias capacidades cognitivas. A equilibração envolve três processos. Em algumas situações, o modo de pensamento e os esquemas (estruturas mentais) existentes na criança são adequados para enfrentar e adaptar-se aos desafios do ambiente; ela está, assim, em um estado de equilíbrio. Por exemplo, suponhamos que Arthur, de 2 anos de idade, usa a palavra au-au para abarcar todos os animais peludos quadrúpedes que se assemelham ao seu próprio cachorro; enquanto todos os animais quadrúpedes que ele vê forem como os cachorros que já viu, Arthur permanece em um estado de equilíbrio. Fonte: vivomaissaudavel.com.br Em outras ocasiões, entretanto, a criança é presenteada com informação que não se adapta aos seus esquemas existentes, de modo que surge o desequilíbrio quando os esquemas existentes na criança são inadequados para os novos desafios que a mesma enfrenta. Ela, consequentemente, tenta restaurar o equilíbrio pela assimilação – incorporação da nova informação aos esquemas existentes na criança. Por exemplo, suponhamos que o cachorro de Arthur é um grande labrador e que Arthur vai ao parque e vê um poodle, um cocker spainel e um cão-esquimó. Ele tem de assimilar a nova informação em seus esquemas existentes para au-aus – nenhuma grande coisa. Suponhamos, entretanto, que Arthur também visita um pequeno zoológico e vê um lobo, um urso, um leão, umazebra e um camelo. Ao ver cada novo animal, ele parece perplexo e pergunta à sua mãe: “Au-au?” A cada vez, sua mãe diz:! Não, este animal não é um cachorro. Este animal é um ______[nomeia o animal]”. Ele não pode assimilar esse animais diferentes em seu esquema existente para au-aus; em vez disso, ele tem de modificar, de algum modo, seus esquemas a fim de considerar a nova informação, criando, talvez um esquema abrangente para animais, ao qual ele adapta seu esquema existente para cachorros. Piaget sugeria que Arthur modificasse os seus esquemas existentes pela acomodação – mudança dos esquemas existentes para adaptá-los à nova informação relevante sobre o ambiente. Em conjunto, os processos de assimilação e de acomodação resultam num nível mais sofisticado de pensamento do que era possível previamente. Além disso, esses processos resultam no restabelecimento do equilíbrio, oferecendo, desse modo, à pessoa – tal como Arthur – níveis superiores de adaptabilidade. 3 ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO DE PIAGET Segundo Piaget, os processos equilibradores da assimilação e da acomodação são responsáveis por todas as mudanças associadas ao desenvolvimento por todas as mudanças associadas ao desenvolvimento cognitivo. Na sua concepção, é mais provável que o desequilíbrio ocorra durante os períodos de transição entre estágios. Isto é, apesar de Piaget ter postulado que os processos equilibradores continuam por toda infância, à medida que as crianças adaptam-se continuamente ao seu ambiente, ele também considerou que o desenvolvimento envolve estágios distintos, descontínuos. Particularmente, Piaget dividiu o desenvolvimento cognitivo nos quatro estágios principais resumidos aqui: os estágios sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal. 3.1 O Estágio Sensório-Motor O primeiro estágio de desenvolvimento, o estágio sensório-motor, envolve aumentos no número e na complexidade de capacidades sensoriais (input) e motoras (output) durante a infância – aproximadamente do nascimento a cerca de 18-24 meses de idade -. Segundo Piaget, as primeiras adaptações do bebê são reflexivas. Gradualmente, os bebês obtêm controle consciente e intencional sobre suas ações motoras. A princípio, eles agem assim para manter ou repetir sensações interessantes. Mais tarde, entretanto, exploram ativamente seu mundo físico e buscam com afinco novas e interessantes sensações. Ao longo das primeiras fases do desenvolvimento cognitivo sensório-motor, a cognição infantil parece focalizar-se apenas no que eles podem perceber imediatamente, pelos seus sentidos. Os bebês nada concebem que não lhes seja imediatamente perceptível. De acordo com Piaget, eles não têm um senso de permanência do objeto, pela qual os objetos continuam a existir, mesmo quando imperceptível aos bebês. Por exemplo, antes de aproximadamente 9 meses de idade, os que observam um objeto quando está sendo escondido de sua vista não o procurarão, uma vez escondido. Se um bebê de 4 meses de idade estivesse observando você esconder um chocalho debaixo de um cobertor, esse bebê não tentaria encontrar o chocalho sob o cobertor, enquanto um de 9 meses tentaria. Fonte: www.helioteixeira.org Um bebê mais novo e um mais velho respondem diferentemente à demonstração da permanência do objeto, de esconder um objeto debaixo de um cobertor ou atrás de um anteparo. Enquanto o bebê mais velho procura, o mais novo, aqui apresentado, desvia o olhar tão logo o objeto desaparece de sua vista. Embora pesquisas subsequentes tenham posto em dúvida algumas de suas interpretações quanto à permanência do objeto, parece que os bebês não têm o mesmo conceito com relação à permanência de objetos que os adultos têm. A posse de um senso de permanência do objeto exige alguma representação mental interna de um objeto mesmo quando este não é visto, ouvido ou, de outra forma, percebido. As respostas do pequeno bebê não exigem uma concepção de permanência do objeto ou de quaisquer outras representações mentais internas de objetos ou de ações. Seus pensamentos estão concentrados apenas em percepções sensoriais e comportamentos motores. No fim do período sensório-motor (18-24 meses de idade), as crianças começaram a mostrar sinais de pensamento representativo – representações internas de estímulos externos. Nessa transição para o estágio pré-operatório, a criança começa a ser capaz de pensar sobre pessoas e objetos que não são necessariamente perceptíveis naquele momento. Piaget acreditava que o padrão de capacidade progressiva para formar representações mentais internas continua ao longo da infância. Outro padrão característico do desenvolvimento cognitivo envolve a passagem progressiva das crianças de um foco sobre si próprias a um interesse nos outros. Isso é, à medida que ficam mais velhas, elas se tornam menos egocêntricas – menos concentradas em si próprias. Observe-se que o egocentrismo é uma característica cognitiva, não um traço de personalidade. Por exemplo, as primeiras adaptações que ocorrem durante a infância referem-se todas ao próprio corpo do bebê (por exemplo, os reflexos de sucção podem ser adaptados para abranger a sucção de um polegar ou de um dedo do pé). As adaptações posteriores, entretanto, envolvem também objetos do ambiente externo ao corpo do bebê. Similarmente, as primeiras representações mentais envolvem apenas a criança, mas as subsequentes abrangem também outros objetos. Piaget considerava essa tendência inicial indicativa de uma tendência mais ampla para as crianças de todas as idades tornarem-se progressivamente conscientes do mundo externo e de como os outros podem perceber esse mundo. 3.2 O Estágio Pré-Operatório No estágio pré-operatório, da idade aproximada de 1 1/2 ou 2 anos a cerca de 6 ou 7 anos, a criança começa a desenvolver ativamente as representações mentais internas, que se iniciaram no fim do estágio sensório-motor. Segundo Piaget, o aparecimento do pensamento representativo, durante o estágio pré-operatório, abre o caminho para o desenvolvimento subsequente do pensamento lógico, durante o estágio de operações concretas. Com o pensamento representativo, chega a comunicação verbal. Fonte: psicopedagogiacuritiba.com.br Entretanto a comunicação é amplamente egocêntrica. Uma conversação pode parecer sem qualquer coerência. A criança diz o está em sua mente, sem considerar muito o que outra pessoa disse. À medida que as crianças se desenvolvem, no entanto, levam cada vez mais em consideração o que os outros disseram, quando criam seus próprios comentários e respostas. A capacidade para manipular os símbolos verbais para objetos e ações – ainda que egocentricamente – acompanha a capacidade para manipular conceitos, e o estágio pré-operatório caracteriza-se por acréscimo no desenvolvimento conceitual. Todavia, a capacidade infantil para manipular conceitos ainda é bastante limitada durante este estágio. Por exemplo, durante esta fase as crianças exibem centração – uma tendência para focalizar somente um aspecto especialmente observável de um objeto ou uma situação complicada. Piaget fez uma série de experimentos que mostravam a centração das crianças. Ele representava a elas dois exemplares de trens em dois trilhos paralelos diferentes, conforme é mostrado na figura abaixo. Usava horários distintos de partida e de parada para cada trem e fazia- os seguirem seus trajetos em velocidades diferentes. Então entabulava perguntas sobre quem viajava mais lenta ou mais rapidamente. Fonte: www.helioteixeira.org Centração: Um único trem no pensamento. Apesar de Jean Piaget mostrar às crianças que os trens partiam em diferentes horários e deslocavam-se com diferentes velocidades, elas não consideravam tais variáveis, pois não podiam descentrar-se da única dimensão que um trem se deslocara de uma distância maiordo que o outro. Descobriu que as crianças com 4 a 5 anos de idade tendiam a concentrar-se em uma única dimensão, geralmente o ponto no qual os trens paravam. Especificamente, tais crianças diriam que o trem que percorrera maior distância nos trilhos também se deslocara mais rapidamente e por mais tempo, sem levar em conta o momento em que os trens tinham começado ou parado. Assim, no estágio pré- operatório, elas concentram-se em uma dimensão particular de um problema – tal como a posição final dos trens -, ignorando os outros aspectos da situação, mesmo quando eles são relevantes. Muitas modificações do desenvolvimento ocorrem durante este estágio. A experimentação intencional e ativa das crianças com a linguagem e com objetos em seus ambientes resulta em enormes acréscimos, no desenvolvimento conceitual e linguístico. Esses desenvolvimentos auxiliam a abrir caminho para o desenvolvimento cognitivo ulterior, durante o estágio de operações concretas. 3.3 O Estágio Operatório Concreto No estágio de operações concretas, aproximadamente dos 7 ou 8 anos até os 11 ou 12 anos de idade, as crianças tornam-se capazes de manipular mentalmente as representações internas que formaram, durante o período pré-operatório. Em outras palavras, eles agora não só têm ideias e memórias dos objetos, mas também podem realizar operações mentais com essas ideias e memórias. Entretanto, podem agir assim apenas quanto a objetos concretos (por exemplo, ideias e memórias de carros, alimentos, brinquedos, e outras coisas tangíveis) – daí a denominação de “operações concretas”. Talvez, a evidência mais forte da mudança do pensamento pré-operatório para o pensamento representativo do estágio operatório concreto seja vista nos experimentos clássicos de Piaget sobre conservação da quantidade. Na conservação, a criança é capaz de conservar mentalmente (lembrar-se) uma dada quantidade, embora observe modificações na aparência do objeto ou da substância. Esses experimentos investigaram as respostas das crianças a se uma quantidade de alguma coisa (por exemplo, o número de peças do jogo de damas, a quantidade de líquido ou o volume de massa) era conservada, apesar de modificações na aparência. (ver figura abaixo) Fonte: www.helioteixeira.org Inicialmente elas contam com suas percepções imediatas de como as coisas parecem ser; gradualmente, começam a formular regras internas em relação a como funciona o mundo e, finalmente usam essas regras internas para orientar o seu raciocínio, em vez de apenas as aparências. Talvez o experimento piagetiano de conservação mais famoso de todos demonstre modificações do desenvolvimento na conservação da quantidade de líquido. (ver fotos mais abaixo) O experimentador mostra a criança dois pequenos béqueres (= copos químicos) com líquido neles. O experimentador faz a criança verificar que os dois béqueres contêm as mesmas quantidades de líquido. Depois, à medida que ela observa, o experimentador despeja o líquido de um dos pequenos béqueres em um terceiro béquer, que é mais alto e fino do que os outros dois. No novo béquer, o líquido no tubo mais estreito eleva-se a um nível mais alto do que no outro béquer menor e mais largo, ainda cheio. Quando indagada se as quantidades de líquido nos dois béqueres cheios são as mesmas ou diferentes, a criança pré- operatória dia que agora há mais líquido no béquer mais alto e mais fino, porque o líquido, nesse béquer, alcança um ponto perceptivelmente mais alto. Ela viu o experimentador despejar todo o líquido de um béquer no outro, nada adicionando, mas não concebe que a quantidade seja conservada, apesar da mudança de aparência. A criança operatória concreta, por outro lado, diz que os béqueres contêm a mesma quantidade de líquido, baseada nos seus esquemas internos quanto à conservação da matéria. Fonte: www.helioteixeira.org Esta menina está participando da clássica tarefa piagetiana, na qual o pesquisador distribui iguais quantidades de líquido em dois béqueres idênticos, depois despeja-o de um dos béqueres para um alto. Ainda no estágio pré-operatório, ela ainda não pode conservar a quantidade de líquido, de modo que não reconhece que a mesma é conservada, apesar das mudanças superficiais na aparência da quantidade. Na foto final, a menina segura o béquer alto, afirmando que ele contém mais líquido do que o béquer pequeno. Tão logo ela atinja o estágio de operações concretas, imediatamente conservará a quantidade de líquido. O que a criança operatória concreta pode fazer que a pré-operatória não pode? Ela pode manipular representações internas de objetos e de substâncias concretas, conservando, mentalmente, a noção de quantidade e concluindo que, apesar das aparências físicas diferentes, as quantidades são idênticas. Em primeiro lugar, a criança operatória concreta pode descentrar da dimensão única da altura do líquido no recipiente, para considerar também a largura deste último. Além do mais, o pensamento operatório concreto é reversível: ela pode julgar idênticas as quantidades, pois entende que, potencialmente, o líquido podia ser redespejado no recipiente original (o béquer pequeno), revertendo, dessa forma, a ação. Uma vez que a criança reconheça internamente a possibilidade de reverter a ação e possa realizar mentalmente essa operação concreta, ela pode captar a implicação lógica de que a quantidade não mudou. Observe-se, entretanto, que as operações são concretas – isto é, as operações cognitivas agem sobre representações cognitivas de eventos físicos reais. O estágio final do desenvolvimento cognitivo, segundo Piaget, envolve ultrapassar tais operações concretas e aplicar os mesmo princípios a conceitos abstratos. 3.4 Estágio Operatório Formal O estágio operatório formal, aproximadamente dos 11 ou 12 anos de idade em diante, envolve operações mentais sobre abstrações e símbolos que podem não ter formas concretas ou físicas. Além do mais, as crianças começam a compreender algumas coisas que elas mesmas não tinham experimentado diretamente. Durante o estágio de operações concretas, elas começam a ser capazes de ver a perspectiva dos outros, se a perspectiva alternativa pode ser manipulada concretamente. Por exemplo, elas podem imaginar como outra criança pode ver uma cena (por exemplo, a pintura de uma cidade) quando sentam em lados opostos de uma mesa onde a cena é exibida. Durante as operações formais, entretanto, finalmente elas são completamente capazes de adotar outras perspectivas além das suas próprias, mesmo quando não estão trabalhando com objetos concretos. Além disso, no estágio de operações formais, as pessoas procuram intencionalmente criar uma representação mental sistemática das situações com as quais se deparam. Piaget usou diversas tarefas para demonstrar o ingresso nas operações formais. Considerem, por exemplo, a maneira pela qual delineamos as permutações (variações em combinações). Pare por um momento e tente responder a esta questão: Quais são todas as permutações possíveis das letras “A, B, C, D”? Como você abordou o problema? Uma pessoa no estágio operatório formal delinearia um sistema, talvez primeiramente variando a colocação da última letra, depois da penúltima, e assim por diante. A lista de uma pessoa operatória formal pode começar: ABCD, ABDC, ADBC, DABC… É mais provável que a pessoa operatória concreta apenas faça uma lista aleatória das combinações, sem algum plano sistemático: ABCD, DCBA, ACBD, DABC, etc. Muitos outros aspectos dos raciocínios dedutivo e indutivo também se desenvolvem, durante o período de operações formais. A capacidade para usar a lógica formal e o raciocínio matemático também cresce durante essa época. Além disso, a sofisticação do processamento conceitual e linguístico continua a crescer. Resumindo, a teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget envolveestágios. Para ele, tais estágios ocorrem em quase as mesmas idades para as diferentes crianças e cada um se constrói sobre o estágio precedente. Eles ocorrem em uma ordem fixa e são irreversíveis: uma vez que uma criança entre em um novo estágio, ela pensa nos aspectos que caracterizam esse estágio, independentemente do domínio da tarefa, da tarefa específica ou mesmo do contexto no qual a tarefa é apresentada. Ela jamais pensa nos aspectos que caracterizam um estágio anterior do desenvolvimento cognitivo. Outros teóricos, inclusive alguns neopiagetianos, discordariam dessa concepção, sugerindo que pode haver maior flexibilidade na progressão do desenvolvimento cognitivo ao longo das tarefas e dos domínios da mesma, do que é sugerido pela teoria piagetiana. 4 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DO ADOLESCENTE3 A transição principal que ocorre no pensar na adolescência é impressionante. A crescente capacidade para considerar tanto as realidades com as quais uma pessoa entra em contato, como as que podem ou não existir fisicamente. Esta capacidade é chamada de pensamento formal e usa o que para Piaget são as operações formais. O pensamento formal permite a conceituação de abstrações e de eventos concretos (FAW, 1981). A capacidade para pensar formalmente não somente aumenta a habilidade do adolescente na solução de problemas que anteriormente ficam sem solução, como também ao idealismo típico de seu grupo etário. A capacidade para conceituar o mundo como este poderia ser muitas vezes leva os adolescentes a questionar por que o mundo real não corresponde com o ideal potencial (FAW, 1981). Fonte: 2.bp.blogspot.com 3 Texto extraído do link: http://www.portaldeposgraduacao.com.br/conteudo/artigos/psicologia/desenvolvimento-cognitivo-do- adolescente/27332 4.1 Características da Cognição Formal Enfoque em conclusões lógicas e não em informação fatual: O adolescente tende a abordar os problemas pela avaliação de sua correspondência à realidade, ao passo que os adolescentes conseguem apreender o potencial para tirar da informação disponível conclusões lógicas que são independentes de sua correspondência à realidade (FAW, 1981). Raciocínio Dedutivo Hipotético: O adolescente com seu enfoque de conclusões possíveis que podem ser geradas de um conjunto de pressupostos têm margem para raciocínio dedutivo hipotético. Nesse raciocínio, primeiramente um indivíduo estabelece uma hipótese teórica acerca de maneiras possíveis em que os elementos de uma teoria se relacionam. A seguir são feitas deduções sobre as observações que seriam feitas da realidade, se as hipóteses fossem verdadeiras. A fim de determinar a adequação das hipóteses iniciais, são feitas comparações entre as observações previstas e as verdadeiras observações da realidade. Finalmente, é feita uma reformulação da perspectiva teórica sobre a realidade, para que sejam levadas em conta as discrepâncias entre a observação prevista e a real. As duas primeiras destas fases do raciocínio dedutivo hipotético envolvem o pensar sobre a maneira que a realidade poderia ser, por isso requerem pensamento formal. É somente na última fase que o indivíduo deve confrontar-se com a realidade (FAW, 1981). Geração de Todas as Combinações Potenciais e Permutações de Eventos: A fim de descobrir o número (resposta) que, quando somado a 8 se torna cinco vezes seu valor original, os adolescentes selecionarão um número após o outro e inserirão cada um na fórmula x + 8=? e na equação 5x=?, para verificarem se as respostas são iguais. O adolescente, porém é capaz de reorganizar o problema original na fórmula x + 8= 5x. Subsequentemente, o adolescente pode resolver a equação para chegar a uma resposta. Eles não precisam das aproximações de ensaio e erro para descobrirem a solução do problema (FAW, 1981). Consideração Simultânea de mais um aspecto de uma situação e os relacionamentos entre eles: O adolescente examina os eventos sequencialmente não explora o relacionamento existente ou potencial entre eles. Exemplo: O adolescente observa o seguinte evento: (1) O pai diz que deseja que a família seja saudável e que todos se apreciem durante muitos anos; (2) A televisão diz que fumar pode ser arriscado para a saúde e que a pessoa pode morrer mais cedo do que o normal; (3) O pai é observado a fumar. O adolescente responde a cada um destes eventos como a uma entidade separada. Não considera a falta de coerência lógica nestes eventos. Suas tentativas de conciliar a coerência lógica de um ideal com a ilógica da realidade percebida muitas vezes resultam em confusão. Para o adolescente raramente existe essa confusão (FAW, 1981). Prevalência do Pensamento Formal: Dependendo do ambiente em que o adolescente é criado, não solicita o desenvolvimento de cognição operacional formal para seu funcionamento normal. Eles podem não desenvolver sua capacidade para essa forma de cognição. Até mesmo os que a desenvolveram, podem não usá-la constantemente. Existem muitas situações em que os processos cognitivos formais são menos eficientes do que o pensamento operacional concreto. Além do mais, como no caso do jovem mais novo, os motivos pessoais e as emoções podem interferir na plena utilização pelo indivíduo de sua capacidade cognitiva formal (FAW, 1981). 5 DESENVOLVIMENTO FÍSICO E COGNITIVO DO ADOLESCENTE4 5.1 Desenvolvimento Físico De acordo com Sprinthall (2008) fisicamente os adolescentes passam por mudanças hormonais promovidas pelo hipotálamo, que estimulam os órgãos sexuais a produzir certos hormônios. Em análogo a essa maturação sexual o desenvolvimento corporal vai se efetuando, com o crescimento de membros inferiores e, posteriormente, os membros superiores e troncos. Isto pode originar desequilíbrios proporcionais e desconforto físicos e que, as vezes provocam embaraçados em certas situações sociais. Após a puberdade ocorre o crescimento ponderal com o aumento da massa muscular nos rapazes, e de tecido adiposo nos homens. Paralelamente, ocorrem 4 Texto extraído do link: http://producao.virtual.ufpb.br/books/edusantana/fundamentos- psicologicos-da-educacao-livro/livro/livro.chunked/ch04s04.html alterações do sistema digestivo e do índice metabólico, que trazem distúrbios alimentares e aumento do apetite. Estas alterações da alimentação podem desencadear, devido à hipersensibilidade com o corpo, comportamentos como a anorexia, bulimia, irritabilidade, sentimentos de culpa, isolamento e depressões. Essa evolução física e sexual acelerada, deve estar em sintonia com o ritmo do desenvolvimento cognitivo, para que não desencadeie comportamentos desviantes em relação às normas impostas pela sociedade. Fonte: mega.ibxk.com.br 5.2 Desenvolvimento cognitivo e aprendizagem adolescente As transformações a nível intelectual são de extrema importância durante a adolescência, visto que, nessa fase, a inteligência toma a sua forma final com o pensamento abstrato ou formal. Para Piaget (1949), ocorre entre os 11-12 anos e os 14-15 anos. Estas modificações podem influenciar no entendimento das regras. Esse pensamento tido como período das operações formais, vai ajustar o adolescente ao mundo real e ao seu quotidiano, além disso, proporcionando a capacidade de formular grandiosas teorias e ideias. Para Piaget as transformações emocionais que ocorrem na adolescência dependem das transformações cognitivas e, uma das grandes transformações do estágio de desenvolvimento operatório formal é o surgimento do pensamento hipotético-dedutivo, diferente do estágio operatório concreto, em que a criança apenas raciocina sobre proposições que julgasse verdadeiras, apoiando-se no concreto para isso. Na fase da adolescência o ser humano torna-se capaz de raciocinar corretamentesobre proposições em que não acredita, ou ainda não acredita, isto é, ou seja, pensa e reflete hipoteticamente. Desta forma, adquire a capacidade de ultrapassar, pelo pensamento, situações vividas e a projetar ideias para o futuro. Na fase adolescente o ser humano desenvolve a capacidade para pensar sobre o seu próprio pensamento e sobre o pensamento dos outros, chamada de metacognição (Sprinthall, 2008). A autorreflexão permite um amplo alargamento da imaginação. Os adolescentes podem tomar consciência da forma como conhecem para além daquilo que conhecem, outra característica importante do pensamento adolescente é a tomada de consciência da variedade de estratégias de aprendizagem que poderão ser utilizadas. Com isto as oportunidades de autocorreção em nível de resolução de problemas são muito maiores. Os adolescentes têm a capacidade de falar consigo próprios, processo este, por vezes, designado de diálogo interno, e chegar a novas formas de compreensão sem estarem presos a experiências concretas. A metacognição traz a consciência sobre o fato das pessoas serem diferentes e terem pensamentos diferentes sobre a mesma situação ou ideia, havendo uma variedade de pontos de vistas, diferentemente, das crianças mais novas que tendem a pensar que todos nós encaramos as situações da mesma forma que elas, esse comportamento passa a ser chamado de egocêntrico, centrados na sua própria perspectiva. Para um melhor desenvolvimento intelectual, as influências e os estímulos externos são de grande importância por serem modelos para os adolescentes e constituírem uma estimulação. Existem formas poderosas de estimular o pensamento abstrato. Para Sprinthall (2004) são o visionamento de filmes ou vídeos e a participação em atividades artísticas, tais como pintura, o drama, a dança e a música. Quanto mais ativo for o processo simbólico, tanto maior o estímulo ao desenvolvimento cognitivo. Durante este estádio, escrever poemas é mais eficaz do que ler poemas; fazer filmes é mais eficaz que visioná-los; participar numa dramatização de improviso é mais eficaz do que observá-la. Pois na perspectiva piagetiana, o desenvolvimento cognitivo depende da ação, em qualquer dos estádios. Em todos os seus trabalhos ele tem uma frase chave: a ação produz desenvolvimento (SPRINTHALL, 2004). Para Piaget (1970), a atividade de assimilar certas experiências do meio circundante força a criança a acomodá-las ou internalizá-las. Esta internalização de experiências é fundamental para o desenvolvimento cognitivo, o qual sugere que o desenvolvimento mais completo tem lugar quando as crianças assimilam experiências do seu meio, porque só então são capazes de acomodar ou internalizar essas experiências. 6 DESENVOLVIMENTO: MATURAÇÃO E APRENDIZAGEM5 Fonte: psicoativo.com Assim como a hereditariedade e o meio ambiente, a maturação e aprendizagem são processos interativos do desenvolvimento. Em que a maturação corresponde a padrões de diferenciação do comportamento que ocorrem por mudanças ordenadas e sequenciais. E que a aprendizagem implica em aquisição realizada na interação com o meio. Esses processos se desenvolvem intimamente relacionados. Contudo, entre os estudiosos, não há acordo acerca do entendimento sobre como ocorre essa relação. Para alguns a maturação antecede a aprendizagem, sendo um processo inato. Para 5 Texto extraído no link: http://producao.virtual.ufpb.br/books/edusantana/fundamentos- psicologicos-da-educacao-livro/livro/livro.chunked/index.html outros a maturação cria condições para aprendizagem, que, estimula o processo maturacional. Para os educadores na escola contemporânea, é a crença na maturação como processo dinâmico que fundamenta nossa ação educativa. Visto que não se espera simplesmente a maturação ocorrer para que o ser possa desenvolver a aprendizagem, mas se cria condições para que esta ocorra. 6.1 Diferença entre crescimento e desenvolvimento É importante fazer essa diferenciação para facilitar a compreensão de alguns conceitos fundamentais da psicologia do desenvolvimento. O crescimento deve ser entendido como referente ao aspecto quantitativo das proporções do corpo, tratando do aumento físico das proporções do corpo. Enquanto que o desenvolvimento refere- se mais ao aspecto qualitativo, sem, contudo excluir alguns aspectos quantitativos. O crescimento estaciona em determinada idade do ser humano, ao atingir a maturidade biológica. Diferentemente do processo de desenvolvimento que permanece da concepção até a morte. Apesar das diferenças que caracterizam o desenvolvimento de cada pessoa, há certos princípios universais do desenvolvimento. Fundamentados em Moreira (2000), trataremos de alguns princípios maturacionais previsíveis de serem observados no desenvolvimento humano. 7 PRINCÍPIOS GERAIS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 7.1 O desenvolvimento se processa por etapas O desenvolvimento humano se dá por fases que apresentam características próprias. Contudo, a definição dos critérios de periodização da vida humana não é única. Há teóricos que abordam o desenvolvimento sob o aspecto físico como Gesell, aspecto cognitivo segundo estudos de Piaget, ou ainda pelo aspecto psicossexual segundo as investigações de Freud. Mesmo havendo grande diversidade de critérios para o estabelecimento de fases no desenvolvimento do ser humano há uma convergência para o entendimento de que o desenvolvimento implica em novos padrões de comportamentos constituídos por processos de reintegração sucessiva de estruturas comportamentais e/ou orgânicas. 7.2 O desenvolvimento, embora contínuo e sequencial, é marcado por profundas transformações A evolução implica em transformações estruturais possibilitadoras de novos desempenhos. Tanto o crescimento como o desenvolvimento produzem mudanças nos componentes físico, mental, emocional e social que ocorrem em ordem invariante. Uma constatação desse princípio é que a criança antes de correr, anda e engatinha. O desenvolvimento é direcional e se dá numa direção céfalo-caudal e próximo distal A embriologia corrobora esse princípio com a constatação que o organismo desenvolve primeiro a cabeça, em seguida o tronco e os membros. Por direção próximo-distal diz-se de um desenvolvimento que acontece do centro (cérebro/medula espinhal—eixo central) para a periferia do corpo (membros superiores e inferiores). Inicialmente há crescimento e desenvolvimento das partes próximas ao cérebro e depois se estende descendentemente até as partes mais distantes. O desenvolvimento caminha de atividades gerais para as específicas o comportamento motor se desenvolve de respostas difusas e não diferenciadas para as mais específicas e elaboradas. Quando tocamos o corpo de um recém-nascido, ele responde com movimentos gerais (todo o corpo se move), com o desenvolvimento do organismo, apenas a parte do corpo diretamente estimulada responde ao estímulo. O desenvolvimento se dá em velocidade diferente para diversas partes do corpo A cabeça cresce intensamente do nascimento até os dois anos de idade quando desacelera esse crescimento. O tronco cresce significativamente até o um ano e os membros superiores e inferiores em torno dos dois anos começam um crescimento acelerado. Em cada aspecto o ser apresenta ritmos diferentes nas diversas fases. No aspecto cognitivo a capacidade de raciocínio lógico indutivo- dedutivo aparece na adolescência. 7.3 Os fatores que influenciam o desenvolvimento humano (Bock, 2008, p. 99) Fonte: www.jrmcoaching.com.br Vários fatores indissociados e em permanente interação afetam todos os aspectos do desenvolvimento. São eles: Hereditariedade: a carga genética estabelece o potencial do indivíduo, que pode ou não desenvolver-se. Existem pesquisas que comprovam os aspectos genéticos da inteligência. No entanto,a inteligência pode desenvolver-se aquém ou além do seu potencial, dependendo das condições do meio que encontra. Crescimento orgânico: refere-se ao aspecto físico. O aumento de altura e a estabilização do esqueleto permitem ao indivíduo comportamentos e um domínio do mundo que antes não existiam. Pense nas possibilidades de descobertas de uma criança, quando começa a engatinhar e depois a andar, em relação à quando esta criança estava no berço com alguns dias de vida. Maturação neurofisiológica: é o que torna possível determinado padrão de comportamento. A alfabetização das crianças, por exemplo, depende dessa maturação. Para segurar o lápis e manejá-lo como nós, é necessário um desenvolvimento neurológico que a criança de 2, 3 anos não tem. Observe como ela segura o lápis. Meio: o conjunto de influências e estimulações ambientais altera os padrões de comportamento do indivíduo. Por exemplo, se a estimulação verbal for muito intensa, uma criança de 3 anos pode ter um repertório verbal muito maior do que a média das crianças de sua idade, mas, ao mesmo tempo, pode não subir e descer com facilidade uma escada, porque esta situação pode não ter feito parte de sua experiência de vida. 8 FASES DO DESENVOLVIMENTO HUMANO Fonte: acrediteounao.com 8.1 Desenvolvimento Infantil O conceito de Infância, bem como sua caracterização, em que o ser deve ser protegido e cuidado, é considerado recente uma vez considerando a história da ciência, isto porque até o século XVII predominava a visão de criança como adulto em miniatura, nessa perspectiva podemos dizer que a infância não era valorizada, visto que a sociedade fazia pouca distinção entre a infância e a idade adulta. De acordo com Ariés, o ingresso precoce da criança para o mundo adulto, acontecia da seguinte forma: De criancinha pequena, ela se transformava imediatamente em homem jovem, sem passar pelas etapas da juventude, que talvez fossem praticadas antes da Idade Média e que se tornaram aspectos essenciais das sociedades evoluídas de hoje. (ARIÈS, 2006, p.9) Esta percepção era o reflexo do tratamento que a sociedade dispensava as crianças, até os sete anos de idade elas recebiam cuidados especiais, após esta idade passavam a desenvolver as mesmas atividades que os adultos, inclusive a participação em festas coletivas e orgias, que até então não era considerada como maléfica a formação do caráter e da moral da criança. A concepção da criança como adulto em miniatura segue até os séculos XV, XVI e XVII, onde gradativamente a criança começou a ser notada como um ser que possui particularidades e características que as diferenciam dos adultos, um ser dotado de capacidade e desenvolvimento. 8.2 Estudos sobre o Desenvolvimento Infantil Os primeiros estudos acerca do desenvolvimento infantil, limitaram-se a observação dos bebês nos primeiros anos de vida e tinha como objetivo a descrição da regularidade das mudanças do comportamento de acordo com a idade e as variações existentes entre crianças que possuíam a mesma faixa etária. Watson foi um dos representantes do Behaviorismo e analisou as variáveis ambientais como estímulos progressivamente associados a respostas empregando o modelo do condicionamento clássico como resultantes de um processo de aprendizagem, neste caso as respostas passam a ser dadas através de determinados estímulos. Fonte: www.sedeinsana.com A teoria Psicanalítica de Freud surgiu nas décadas de 1920 e 1930, e enfatizava as relações afetivas que eram desenvolvidas na infância, especialmente nos primeiros cinco anos de idade. Conforme Freud três sistemas formam a personalidade: Id, ego e superego, o id caracteriza a satisfação imediata dos instintos que dispõe de uma quantidade de energia limitada. Nesta perspectiva se esta energia for descarregada em um objeto, haverá menos energia para outros propósitos. O ego representa a parte racional e serve de mediador entre as exigências do id e a realidade, o superego reflete a consciência moral. Freud também percebeu que alguns comportamentos são moldados pela sexualidade, e que este fator inicia-se na infância através de relação que a criança tem com seu próprio corpo, sendo a busca de prazer o fator que motiva o comportamento do ser humano. Após os estudos de Watson e Freud, os estudos na área do desenvolvimento infantil começaram a diminuir, contudo a partir da década de 1950 a Psicologia do Desenvolvimento começou a expandir-se, e junto com essa expansão veio a preocupação com as bases biológicas da conduta humana. As pesquisas explicativas ganharam vez na teoria de Jean Piaget, e sua teoria do desenvolvimento cognitivo ou intelectual, passou a dominar a área do desenvolvimento. Para Piaget a inteligência possui a função de adaptar o organismo as exigências do ambiente, tratando-se pois de uma estrutura biológica, esta adaptação se faz por meio de dois processos: assimilação e acomodação. A assimilação se dá através da incorporação dos desafios e informações do meio aos esquemas mentais já existentes. A acomodação caracteriza-se por ser o processo de criação ou mudança de esquemas mentais resultantes da necessidade de assimilar os desafios ou informações do meio. A interação entre assimilação e acomodação torna-se comum ao longo da vida e está presente nos níveis de funcionamento intelectual e comportamental. Piaget desenvolveu sua teoria em estágios, e isto faz com que indique a natureza biológica da inteligência. Piaget descreve quatro estágios, que caracterizam as diferentes formas de adaptação de que o ser humano é capaz: sensório-motor, intuitivo, operatório concreto e operatório formal. (Sabini 2004, p.34) 9 DESENVOLVIMENTO DO ADOLESCENTE 9.1 Concepções históricas A concepção de infância, tal como temos na atualidade, teve sua vigência muito recentemente e apenas, no século XIX, as sociedades passaram a perceber a infância e os anos juvenis como estágios especiais de desenvolvimento. Em anos de história, a psicologia da adolescência tem se deparado com estereótipos e estigmas. O reconhecimento social da adolescência começa a acontecer a partir da última metade do século XX. Com Stanley Hall é que se tem a identificação da adolescência como uma etapa marcada por tormentos e conturbações vinculadas à emergência da sexualidade. Fonte: claudiabragaendocrinologia.com.br Ao se falar de Stanley Hall, vinculamos suas “descobertas” ao processo da industrialização que traz um contexto favorável a essa descoberta diante do crescimento industrial e do crescimento dos movimentos de trabalhadores, que passaram a exigir leis de proteções trabalhistas e reivindicar a proibição do trabalho infantil, exigindo que crianças e jovens passem das atividades laboral para frequentar a escola pública, essas questões estavam muito ligadas a remuneração barata que era destinada aos trabalhadores mais jovens. Além disso, a educação do público juvenil seria uma forma de se ter mão-de-obra futura mais qualificada e que se adequasse ao processo de aceleração da produção industrial e do desenvolvimento tecnológico. Em meio a esse processo surge Stanley Hall que, baseando-se nas descobertas da Teoria da Evolução das Espécies de Charles Darwin, segundo Sprinthall (2008), considerava que a adolescência necessitava de estudos especiais, por ser um estágio de desenvolvimento evolutivo humano dotado de necessidades específicas, afirmando que, nessa fase, o ser humano passa a experimentar, novamente, todos as sensações já vivenciadas no desenvolvimento durante a infância. Para Hall adolescência seria uma experiência comparada a um segundo nascimento, em que o ser humano teria a oportunidade de repassar por todos os estágios anteriores e, obter, com isso, o ápice de seu desenvolvimento, além disso, essa seria uma fase caótica e difícil devido a velocidade com quese dão as transformações. Essa concepção foi reforçada na teoria psicanalista que a caracterizaram como uma etapa de confusões, estresse e luto também causados pelos impulsos sexuais que emergem nessa fase do desenvolvimento. A seguir veremos o posicionamento de Freud e Lacan por Nara Dantas. Há diversas leituras da adolescência dentro da psicanálise. Autores da escola inglesa, por exemplo, concebem-na numa perspectiva mais desenvolvimentista, cumprindo a última etapa da sexualidade, tal como Freud descreve nos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”. Para alguns deles, a crise da adolescência é vista como um desvio do curso normal do desenvolvimento. As diferentes formas de perceber a questão refletem diretamente no diagnóstico do caso, o que pode levar a resultados desastrosos no processo terapêutico. Para esses autores a genitalidade é a grande questão da adolescência, o que significa dizer que o adolescente vai finalmente ao encontro da sua sexualidade, ou seja, que a anatomia é o destino da pulsão. Nossa leitura da adolescência vem no sentido de pô-la em questão, como tempo de revivescência e de ressignificação edípica. Que caminho poderia nos levar até nosso objetivo? Articulando-a com o mecanismo do a posteriori, modelo, por princípio, do funcionamento psíquico, constituído de um primeiro tempo, em que ocorre a estruturação psíquica do sujeito através do Édipo, intercalado pelo período de latência e seguido pela adolescência, que tem função tempo de revivescência e de ressignificação edípica. Podendo constituir-se de pura repetição ou elaboração e abertura, permitindo que o sujeito possa historiar seu passado. A história, portanto, não é somente passado; trata-se de um trabalho de construção, como aponta Lacan (1986, p. 21) quando diz que “a história não é o passado. A história é o passado na medida em que é historiado no presente— historiado no presente porque vivido no passado”. Fonte: lh3.googleusercontent.com A adolescência é o momento de deixar para trás a criança idealizada pelos pais. É tempo de desinvestimentos e reinvestimentos, de busca de uma identidade sexual. Não é à-toa que a “crise da adolescência” costuma ser motivo de preocupação. Por outro lado, não poderíamos reencontrar esses conflitos e esse modo de funcionamento também na vida adulta? Não é isso que se encontra permeando as relações? Muitas crises acompanharão o sujeito ao longo da vida. Para a psicanálise, diferentemente da psicologia, não faz sentido falar-se de fases da vida, que começam na infância e terminam na idade adulta. O infantil está presente no adulto. Daí perguntarmos se, no adulto, além do que é dado pelo infantil e que o estrutura, também não comportaria um funcionamento adolescente como função de reinscrição do sujeito, integrando o que não foi simbolizado da sua história. Não que a adolescência, em si, vá cumprir o papel da análise. Esta última cria as condições necessárias para que o sujeito se depare com uma angústia mobilizadora do trabalho psíquico e isso só é possível pela suspensão da fala do analista. A adolescência, na medida em que tem que se haver com uma nova realidade, a do corpo transformado pela puberdade, poderá dar um novo encaminhamento ao ressurgimento do Édipo, através da simbolização. Pode ser, portanto, um momento muito criativo ou de pura repetição. Questionamos se não é a partir da adolescência que se vai instalar pela vida afora esse mal-estar ao qual Freud se referiu em O mal- estar na civilização (1929), à proporção em que haverá uma tensão entre um corpo transformado, “pulsante”, e as exigências do mundo externo, que caminham em direção oposta. (Dantas, 2002, p. 17-18.) Além dessas perspectivas históricas há uma variação do conceito e visão do adolescente de acordo com a cultura em que vive, como destaca Sprinthall (2008 p.20), ao descrever a pesquisa da antropóloga Margaret Mead sobre o desenvolvimento do adolescente entre as culturas nativas da sociedade de Samoa na Polinésia (Pacífico Sul) e Quênia na África Oriental (Oceano Índico). Na sociedade de Samoa a adolescência é uma experiência de crescimento tranquilo e livre de conflitos e tensões. Visto que, na cultura samoana, os principais acontecimentos da vida, incluindo o nascimento, a morte e o sexo são tratados de forma aberta. Sendo assim, os acontecimentos terrenos da vida eram tratados de modo que essa transição, como a passagem da infância para adolescência, se desse de forma calma e gradual. As tarefas designadas aos adolescentes e as crianças eram adequadas a suas capacidades. Já no Quênia a transição da adolescência para a vida adulta acontece de forma abruta e traumática, a passagem para vida adulta consiste em cerimônias e rituais através de traumas físicos como circuncisão e extração de cílios, além disso, as tarefas são rigidamente diferencias e de estatuto muito baixo para jovens e crianças. 10 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DO ADOLESCENTE O desenvolvimento cognitivo é entendido como o processo pelo qual o ser humano constrói o conhecimento. A sequência contínua e dinâmica de operações que ocorrem na aquisição de conhecimento envolve diversas funções cognitivas como atenção, memória, linguagem, percepção e raciocínio. Essas funções se desenvolvem em interação entre si, visto que o ser humano existe numa totalidade e assim se desenvolve em sua condição de aprender. Fonte: cdn.vidaysalud.com Estudos acerca do desenvolvimento cognitivo, sob o olhar de posições teóricas encontradas no universo científico da Psicologia referindo-se a modelos díspares de homem, enfatizam a relação entre pensamento e linguagem. Ambos carregando verdades imprescindíveis a quem anseia conhecer cada vez mais os fenômenos do comportamento humano. Estudaremos o aspecto cognitivo do desenvolvimento humano sob visões teóricas diversas com ênfase nas concepções contemporâneas interacionistas, que concebem o conhecimento como construção que se dá na interação entre sujeito e objeto. Uma das perspectivas teóricas emana do pensamento do filósofo inglês John Lock (1632 - 1704) e cresce com os trabalhos de psicólogos ambientalistas como J B Watson (1878 - 1958), representantes respectivamente da teoria behaviorista e neobehaviorista que dominaram a psicologia entre as décadas de 50 e 80. Na análise behaviorista o indivíduo aprende o sistema linguístico de sua comunidade verbal por mecanismos, pelos quais o indivíduo reage, utilizando a linguagem em relação aos outros e em relação a si mesmo (o pensamento). Fonte: www.clinicamotta.com A ligação entre pensamento e linguagem se apresenta no behaviorismo radical de Skinner com a crença que nega a existência de eventos privados, embora questione a sua suposta natureza física e seu status enquanto categoria explicativa do comportamento, defendendo que o pensamento é apenas comportamento, verbal ou não, encoberto ou aberto. Os comportamentalistas ao se referirem à linguagem como comportamento verbal afirmam que as palavras são respostas aprendidas por associação e reforçamento. A relação entre a palavra e seu significado existe enquanto percepção simultânea de determinado objeto. Há uma associação palavra —objeto, que pode fortalecer-se, enfraquecer ou ser extinta em função das contingências reforçadoras. A linguagem surge como mecanismo social que medeia a passagem do comportamento público para o privado em que as palavras sofrem mudanças externas e quantitativas, bem como são capazes de produzir mudanças no ambiente. Nessa concepção o organismo é visto como ser que reage ao ambiente modificando-se, e como ser que opera sobre seu ambiente, modificando-o. Outro paradigma existente no campo epistemológico da psicologia surge a partir do pensamento inatista. Dentre os psicólogos que enfatizam tais ideias estão Carl Rogers e o psicolinguista Noam Chomsky.Este defende que o sistema nervoso humano contém mecanismos inatos possibilitadores da criança construir regras de linguagem. Nessa visão, as crianças adquirem a linguagem de uma maneira maturacional, biologicamente determinada tal como elas aprendem a andar. Assim, a linguagem é um processo que se desenvolve de dentro para fora. A luta entre as concepções materialistas e idealista na psicologia tem sido mais acirrada que em qualquer outra ciência. A dualidade predominante reflete-se na incompatibilidade entre essas estruturas teóricas, com seus tons metafísicos e idealistas e bases empíricas sobre as quais se edificaram. 11 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO NA PERSPECTIVA INTERACIONISTA DE PIAGET E IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS Fonte: lh5.googleusercontent.com Jean Piaget, cientista suíço de expressiva agudeza intelectual, desenvolveu investigações sobre o desenvolvimento do pensamento que o constituiu destaque dentre os estudiosos do desenvolvimento cognitivo. Suas ousadas proposições acerca do desenvolvimento cognitivo ofereceram contribuições fundamentais para que no mundo contemporâneo se tenha a compreensão que temos acerca de como se desenvolve a cognição. Suas investigações sobre o desenvolvimento do pensamento oportunizaram entender como se dá o processo de desenvolvimento cognitivo do nascimento até a adolescência. Para esse pesquisador a inteligência é uma estrutura que tem a função de ajustar o organismo às realidades do meio. Em que meio tem o sentido de meio do conhecimento e refere-se a tudo que está disponível para o indivíduo enquanto desafio a sua inteligência. O conceito piagetiano de meio não corresponde a um sentido genérico relativo a meio ambiente. Piaget foi um dos primeiros estudiosos a colocar o conhecimento como não predeterminado nas estruturas internas do indivíduo ou como preexistentes nos objetos e sim como uma construção resultante de trocas dialéticas realizadas entre o indivíduo e o meio do conhecimento. O termo construtivismo é característico da proposição teórica de Piaget e foi por ele usado, pela primeira vez, na década de setenta. Essa expressão refere-se aos mecanismos subjacentes à construção das estruturas cognitivas. Nessa perspectiva, a inteligência é uma estrutura biológica, e assim como as outras, tem a função de realizar adaptações do organismo. As adaptações intelectivas se fazem por meio de dois processos complementares que os nomeou de assimilação e acomodação. Por assimilação entende-se o processo de incorporação dos desafios e informações do meio aos esquemas mentais já existentes. Enquanto acomodação corresponde ao processo de criação ou mudança de esquemas mentais para que ocorra a assimilação. Na linguagem piagetiana esquema significa a condição inicial das trocas que se efetuam entre o indivíduo e o meio. No humano os esquemas iniciais, ponto de partida da interação sujeito meio, são os reflexos. A partir deles todos os demais esquemas são produzidos por assimilação e acomodação. 11.1 Relação pensamento linguagem na perspectiva de Piaget Piaget tenta escapar dessa dualidade inevitável levantando a questão da inter- relação objetiva de todos os traços característicos do pensamento infantil por ele observados. Sua concepção do desenvolvimento do pensamento baseia-se na premissa, extraída da psicanálise, de que o pensamento infantil é original e naturalmente autístico, se transformando em pensamento realista sob longa e persistente pressão social. O autismo é, aqui considerado, a forma original e mais primitiva do pensamento. A lógica aparece relativamente mais tarde e o pensamento egocêntrico é o elo entre ambos. A base da crença de Piaget é fornecida pelas pesquisas que realizou sobre o uso da linguagem pelas crianças. Suas observações sistemáticas levaram-no à conclusão de que todas as conversas infantis podem ser divididas e classificadas em dois grupos: egocêntrica e socializada. Na linguagem egocêntrica a criança fala apenas para si própria, sem interesse pelo seu interlocutor, não tenta comunicar-se, não espera resposta e, frequentemente, sequer se preocupa em saber se alguém a ouve. Na linguagem socializada ela tenta estabelecer uma espécie de comunicação com outros. Pede, ordena, ameaça, transmite informações e faz perguntas. Nessa perspectiva teórica a linguagem segue o desenvolvimento do pensamento até tornar-se parte dele, as formas como as palavras são usadas e os significados atribuídos a elas refletem os níveis de desenvolvimento cognitivo, o que permite considera-la como um mapa do pensamento. Para Piaget o processo da linguagem não traz em si um correspondente progresso em operações, ao passo que o inverso é uma realidade. Nessa afirmação pode-se verificar uma posição filosófica, apesar dele tentar evitar teorizações, sua obra acaba extrapolando os limites da ciência factual pura. A própria recusa deliberada da filosofia já é, em si mesma, uma filosofia—e uma filosofia que pode envolver o seu proponente em muitas contradições. A teoria piagetiana defende que durante os dois primeiros anos de vida a linguagem tem um papel insignificante no desenvolvimento da criança. Tendo em vista que sua forma de agir sobre o mundo e de compreendê-lo são individuais e construídas no plano de ação imediata. A criança se relaciona com o mundo e o elabora por meio dos seus sentidos e movimentos (período sensório motor). Fonte: 3.bp.blogspot.com Da inteligência sensório-motora surge a função simbólica, possibilidade de representação, que cria condições para aquisição e desenvolvimento da linguagem. Nessa concepção a linguagem integra-se à função simbólica. Ela não é sua causa e sim seu resultado. Mais ainda, ela é apenas um caso particular das formas de simbolização. E como tal diz respeito aos sistemas de signos coletivos que transmitem ao indivíduo uma porção de conceitos, um sistema pronto de classificações e de relações que vão sendo aprendidos e elaborados por ele de acordo com seus esquemas de ação e de pensamento. Somente o desenvolvimento do pensamento operatório possibilita ao indivíduo aprender as relações lógicas, de abstração e de generalização. A partir desse estágio o conhecimento se constrói sobre proposições e hipóteses enunciadas verbalmente. A palavra torna-se uma condição necessária, embora não suficiente, do conhecimento lógico-abstrato. As uniformidades de desenvolvimento estabelecidas por Piaget aplicam-se ao meio dado, nas condições em que o pesquisador realizou seu estudo. Não são leis da natureza, mas leis históricas e socialmente determinadas. A propósito, Piaget recebeu várias críticas por não ter dado a devida importância à situação social e ao meio. O fato de a fala ser mais egocêntrica ou mais social depende não só da idade da criança, mas das condições que a cercam. Num meio social em que as crianças têm mais atividades em grupo que as crianças observadas por Piaget em uma escola de Genebra, o coeficiente de egocentrismo apresenta-se um tanto menor. Para essa proposição teórica a inteligência relaciona-se com a adaptação do homem ao mundo externo e se desenvolve progressivamente como resultado da equilibração majorante de estruturas que se constituem durante o processo de desenvolvimento. Para Piaget esse fator é o mais fundamental na estruturação da Inteligência. Para compreender o termo piagetiano “equilibração majorante” devemos entender que se refere ao processo de desenvolvimento intelectual ocorrido numa estrutura cognitiva que tende a funcionar em equilíbrio, aumentando o grau de organização interna e de adaptação ao meio. Quando esse equilíbrio é comprometido por experiências não assimiláveis, o organismo (mente) se reestrutura (processo de acomodação) para construir novos esquemas de assimilação restabelecendo o equilíbrio, chamado por Piaget de equilibração majorante e consideradofator preponderante no desenvolvimento mental cognitivo. Tal fator possibilita aumento de conhecimento (aprendizagem). Nessa perspectiva aprender é um mecanismo desenvolvido a partir da capacidade de reequilibração. E o ensino precisa ativar esse mecanismo. Para percebermos as implicações pedagógicas da abordagem construtivista na educação em que a escola tem papel relevante na construção da inteligência trazemos as ideias desenvolvidas por Piaget a partir de estudo/observação no comportamento infantil e adolescente e que representam fundamentos para alcançarmos também a compreensão do comportamento intelectivo adulto e idoso. Para ele: A criança (sujeito) constitui com o meio (objeto) uma totalidade. À medida que esse meio se modifica, no caso quando a escola entre em cena na vida da criança, novas estimulações passam a exigir-lhe novas condutas, tirando-a do estado de equilíbrio cognitivo a que estava acostumada. O resultado das novas solicitações feitas, pelo ambiente escolar, à criança, deve ser o de leva- la a formar novos padrões de conduta ou esquemas, aumentando e tornando mais complexo o seu repertório de condutas cognitivas. Assim, o processo de ensino aprendizagem deve ser de propiciar à criança o aparecimento de várias capacidades especiais que lhe assegurem o desenvolvimento cognitivo. Através de cada uma das disciplinas que compõem o currículo do aluno, isto será possível, dependendo da forma como seja conduzido o processo pedagógico. (Coutinho, 1999, p. 122) Assim, ser professor de qualquer disciplina implica em ser um profissional detentor de boa formação pedagógica afinal: (...) o ensino em nossas escolas não deve se limitar apenas a transmitir ao aluno determinados conhecimentos ou a formar certo número de aptidões, de hábitos. Uma de suas tarefas primordiais deve ser, sem dúvida, desenvolver o pensamento do aluno, a sua capacidade de analisar e generalizar fenômenos da realidade, de raciocinar corretamente; numa palavra, desenvolver “no todo” as suas estruturas operatórias. No plano cognitivo o desenvolvimento do pensamento lógico deve ser, portanto, uma das principais tarefas da escola. (Ibidem, p. 124) Em nosso fazer pedagógico, para atingirmos as capacidades do pensamento lógico de nossos aprendentes, é imperativo nos instrumentalizar de conhecimentos esclarecedores acerca de como as possibilidades do pensamento lógico se desenvolvem. Para tanto é imprescindível nos apropriarmos da noção de estágio proposta por Piaget, noção central na abordagem piagetiana sobre o desenvolvimento cognitivo. Para ele os estágios são estruturas de conjunto em que cada estrutura se relaciona ao todo e somente tem significado nesse todo. Possuem caráter integrativo, sendo as estruturas de um nível integradas no nível subsequente. E têm um nível de preparação—esquemas construídos no estágio anterior—e um nível de acabamento—construção de novos esquemas. Por fim, os estágios apresentam uma ordem de sucessão invariável em uma cronologia variável. Assim, na sequência dos estágios podem ocorrer defasagens. Conforme Piaget, a personalidade começa a se formar no final da infância, entre 8 e 12 anos, com a organização autônoma das regras, dos valores, a afirmação da vontade. Esses aspectos subordinam-se num sistema único e pessoal e vão-se exteriorizar na construção de um projeto de vida. Esse projeto é que vai nortear o indivíduo em sua adaptação ativa à realidade, que ocorre através de sua inserção no mundo do trabalho ou na preparação para ele, quando ocorre um equilíbrio entre o real e os ideais do indivíduo, [pg. 106] isto é, de revolucionário no plano das ideias, ele se torna transformador, no plano da ação. Fonte: 4.bp.blogspot.com É importante lembrar que na nossa cultura, em determinadas classes sociais que “protegem” a infância e a juventude, a prorrogação do período da adolescência é cada vez maior, caracterizando-se por uma dependência em relação aos pais e uma postergação do período em que o indivíduo vai se tornar socialmente produtivo e, portanto, entrará na idade adulta. Na idade adulta não surge nenhuma nova estrutura mental, e o indivíduo caminha então para um aumento gradual do desenvolvimento cognitivo, em profundidade, e uma maior compreensão dos problemas e das realidades significativas que o atingem. Isto influencia os conteúdos afetivo emocionais e sua forma de estar no mundo. (Bock, 2008, p. 139) 12 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO NA PERSPECTIVA INTERACIONISTA DE VYGOTSKY E IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS Lev Vygotsky em parceria com seus colaboradores Alexander Romanovich Luria (1902-1977) e Alexei Nikolaievich Leontiev (1904-1979) compõe o grupo de teóricos da chamada Psicologia Soviética, que muito se destacou após a revolução de 1917 ao buscar abordar a natureza e significação dos fenômenos psicológicos humanos sob novas bases, perspectivando a democratização do saber produzido pela e para a sociedade do novo contexto político soviético. Vygotsky buscou uma abordagem possibilitadora de descrição e explicação das funções psicológicas superiores em termos aceitáveis para as ciências naturais. O grande avanço de sua abordagem foi tratar as funções psicológicas a partir do estudo de fenômenos propriamente humanos, sem reduzi-las a inferências extraídas da psicologia animal. Assim, as atividades humanas ganham novo status epistemológico em que a função linguagem ocupa lugar de destaque no desenvolvimento humano pela importância que tem na construção dos processos do pensamento. Com essa posição teórica inaugura-se nova perspectiva para a Psicologia. Esse teórico foi o primeiro psicólogo a visualizar a cultura como integrante da natureza humana, mecanismo por ele chamado de processo de internalização que acontece do interpsíquico para o intrapsíquico. No campo da Psicologia Vygotsky propôs uma abordagem dialética dos fenômenos psicológicos e buscou revelar a gênese social da consciência. Para ele as funções psicológicas são efeito e causa da atividade social do homem. Pois a consciência se constrói no processo de produção social do homem. A prática profissional como professor de educação especial, psicólogo e a reflexão sobre essas experiências o levou a uma concepção avançada sobre o papel da aprendizagem no desenvolvimento, ampliando os pressupostos acerca da inteligência infantil. Evidencia que na avaliação da capacidade intelectual da criança o desempenho nos testes psicológicos é insuficiente por mensurarem apenas o nível de desenvolvimento cognitivo alcançado, nada informando acerca do desenvolvimento iniciado e “não atingido ainda” e com ajuda podem alcançar— desenvolvimento proximal. Diante disso o papel da escola é ensinar a aprender, permitir que o sujeito trabalhe além do nível de desenvolvimento real (desenvolvimento já completado) mobilizando a zona de desenvolvimento (espaço entre o real e o potencial—o que está próximo de ser atingido, mas precisa de ajuda para alcançar). Fonte: www.revistabula.com Na visão de Vygotsky os processos de desenvolvimento e aprendizagem não coincidem. Opondo-se às ideias até então colocadas, ele fundamenta a posição teórica em que os processos de desenvolvimento podem ser beneficiados pelas aprendizagens. Ou seja, o indivíduo se desenvolve enquanto aprende. Nesse ponto Vygotsky e Piaget se contrapõem. Enquanto o primeiro defende que a aprendizagem antecede o desenvolvimento, o segundo defende que o desenvolvimento antecede a aprendizagem. 12.1 Relação pensamento linguagem na perspectiva de Vygotsky O enfoque de Vygotsky sobre a relação linguagem e pensamento dá-se no sentido de buscar compreender as implicações da linguagem no processo de hominização, isto é, na passagem da consciência predominantemente biológica, instintiva, para a racional, em que a palavra não é analisada como uma das funções simbólicas, mas
Compartilhar