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Acumulação capitalista e questão social Aula 1: Nascimento do capitalismo Apresentação Nesta aula, iremos iniciar nossos estudos com o estudo sobre a importância do trabalho para o homem e suas alterações com o nascimento do capitalismo. No primeiro momento, serão apresentados os principais conceitos para compreensão da relevância do trabalho para o homem. Em seguida, apresentaremos as principais caraterísticas com o nascimento do capitalismo. Com este aprendizado, você poderá ter um olhar crítico sobre essa realidade e compreenderá como o Serviço Social se posiciona em relação ao tema. Objetivos Descrever a importância do trabalho para o homem; Explicar o sistema capitalista; Demonstrar a mudança do entendimento do trabalho no mundo capitalista. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Essência do trabalho e sua transformação no capitalismo O trabalho é uma atividade fundamental para a reprodução da vida social. Assim, diferentemente dos outros seres vivos, o homem é o ser que consegue colocar as forças da natureza a seu favor e, em geral, é a partir do trabalho que ele se socializa. O trabalho é uma condição para a existência humana, independentemente da organização social, eternamente necessário, uma vez que traz a medida da relação homem e natureza e seu processo de desenvolvimento. Também observamos que o homem se torna responsável pela destruição da natureza quando não tem a dimensão do que é, de fato, a importância do trabalho para essa construção de mundo. Fonte: Por nd3000 / Shutterstock. Em suma, partindo da análise de Karl Marx, o trabalho é essencial à sociabilidade humana. Assim, a sociedade existente se organizou e se organiza através do trabalho. Não é possível falar em trabalho sem trazer à tona a categoria central de uma sociedade, de uma cultura. Para Barroco (2008), o trabalho é uma atividade teleológica, fundamental na consciência do processo de autoconstrução. É o produto objetivo da práxis, que personifica suas intenções e seus projetos no decorrer da vida, firmando-se como núcleo gerador da liberdade e da ética. No entendimento de Marx, o trabalho é o fundamento ontológico-social do ser social, as mediações, capacidades essenciais postas em movimento, são conquistadas no processo histórico de sua autoconstrução pelo trabalho. Portanto, é através do trabalho que se cria a sociabilidade, a consciência, a universalidade e a liberdade, dando ao homem um caráter universal e sócio-histórico. O trabalho não é obra de um indivíduo, mas fortalece a cooperação entre os homens, concretiza-se socialmente e responde às necessidades sócio-históricas, produzindo interação humana com a linguagem, as representações e os costumes que compõem a cultura (BARROCO, 2008). Nesse momento, é importante trazer o entendimento sobre as diferenças entre o capitalismo e o socialismo. Capitalismo Resumidamente, tendo a economia como base, o capitalismo se caracteriza pela posse dos meios de produção nas mãos de uma pequena classe (burguesia), que vamos estudar com mais profundidade nas demais aulas. Do outro lado, há a classe operária que vende sua força de trabalho em troca do salário. Socialismo No regime socialista, não haveria a posse privada dos meios de produção. Assim, não haveria patrões ou burguesia. Todos seriam donos dos meios de produção. Além de trazer a dimensão da sociabilidade e a universalidade, o trabalho necessita que se conheça a natureza e os objetos necessários ao seu desenvolvimento. Para conseguir entender a gênese da consciência humana, sua capacidade racional e valorativa, é preciso compreender que o homem é capaz de agir racionalmente, podendo conhecer a realidade de modo a transformá-la através das práxis. Assim, a totalidade pode ser reproduzida e compreendida teoricamente. Fonte: Por Peshkova / Shutterstock. Saiba mais Você certamente já se deparou com algum filme ou imagem que traziam os trabalhadores em uma fábrica, realizando, por meio de alguma máquina, o seu trabalho. Uma cena clássica desse modelo chamado linha de fábrica é a do personagem de Charles Chaplin no filme Tempos Modernos. Nele, o personagem desenvolve seu trabalho mecanicamente, num ritmo frenético, quase sem perceber o que faz até o momento em que seu próprio corpo passa a reproduzir o ritmo da máquina. É o que traz a desvalorização do trabalho para o homem. Assim, a importância do trabalho, em sua essência, está na forma de agir do homem, que tem o poder de transformar suas necessidades e formas de satisfação em novas perguntas. Corresponde também à autoconstrução, se tornar autoconsciente e ter possibilidade de ser o sujeito construtor de si mesmo e da sua história. Através das atividades humanas, o trabalho e seu produto, a cultura, fazem emergir a autoconstrução dos próprios homens, em sua relação natural, respeitosa com a natureza que a cercam. A vida social se constitui a partir de várias formas de práxis advindas do trabalho, cuja base ontológica primária é dada pela práxis produtiva objetivada pelo trabalho. Mas a práxis não tem como objeto somente a matéria, ela supõe formas de interação cultural entre os homens para o seu desenvolvimento. Desta forma, os homens interagem entre si e tendem a influir uns sobre os outros, transformando a realidade, produzindo finalidades coletivas. Fonte: Por hadkhanong / Shutterstock. O entendimento que a gênese das escolhas e alternativas de valor são indissociáveis das práxis é importante. Assim, os valores instituídos pela intervenção primária do homem na natureza estabelecem mediações entre o homem e o objeto que se quer alcançar. Quando cria uma obra de arte, o homem se auto reconhece no produto de sua ação como um sujeito criador. Ele se vê valorizado diante de sua criação. O objeto criado é valoroso para ele porque expressa sua capacidade teleológica e prática, existindo independentemente do indivíduo que o criou. Saiba mais Para saber mais sobre o conceito de práxis, leia o artigo Trabalho, práxis e Serviço Social, que discute a práxis do Serviço Social a partir de uma reflexão ontológica sobre a categoria trabalho, diferenciando-a das outras práxis. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Marx define a sociedade de uma maneira bastante particular. A sociedade humana, para ele, não é constituída por meio da consciência comum, mas por meio do trabalho comum. Ele entende que a forma como os indivíduos se organizam para produzir se chama modo de produção, que se estabelecem sobre todas as demais relações sociais. Na sociedade capitalista está na relação entre capitalistas e operários toda a base da estrutura social. javascript:void(0); Capitalismo A sociedade, ao longo da história, vem sendo transformada em um sistema de acumulação capitalista a nível global, desregulado e comandado muito mais pela especulação financeira do que por investimentos produtivos. Esse sistema impõe um novo tipo de imperialismo, se alimenta dos fluxos de rendas financeiras internacionais, que transitam por intermédio dos comércios financeiros ditos emergentes. Assim, o modelo econômico capitalista é um processo circular, no qual o capital é acumulado e gera um volume de lucros, que são reinvestidos para aumentar a acumulação. O início desse processo está no modo de produção, ou seja, na forma como a sociedade se organiza para produzir os bens necessários à vida humana. Fonte: Por aekkorn/ Shutterstock. O capitalismo na visão de Marx Clique no botão acima. O capitalismo na visão de Marx Marx acreditava que o âmago da condição de se sentir humano é o trabalho significativo, através do qual o homem modela e transforma o meio ambiente. O capitalismo é uma maneira de organização social, que desumaniza ao solapar a essência da própria espécie. [...] nos sistemas alienados, indivíduos não trabalham porque experimentam satisfação ou censo de conexão com o processo vital, mas para ganhar o dinheiro de que necessitam para satisfazer suas necessidades [e, na maioria das vezes,básicas, pois a riqueza fica nas mãos da minoria]. [...] os indivíduos que participam de sistemas sociais alienados tendem a se sentir como dentes de uma engrenagem – isolados e desligados, [não conseguem encontrar no trabalho um significado] –, na qual vivenciam a si mesmos como seres humanos completos, integrados, cuja vida tenha uma finalidade. O trabalho alienado transforma-se em rotina, em atividade mecânica dirigida por outras pessoas, que serve meramente como meio para um fim. O trabalhador e seu trabalho transformam-se em pouco mais do que mercadorias compradas e vendidas no mercado de trabalho. (JOHNSON, 1997, p. 7) Nos estudos de Marx, essa troca se torna injusta e não traz prazer em realizar a atividade ao homem. De acordo com Barroco (2008), para Marx, o proletário é alienado da propriedade dos meios de trabalho, do controle sobre o processo de trabalho e de seu produto final. Como trabalhador assalariado, ele só dispõe de sua força de trabalho. Durante o processo, sua ação é fragmentada, e ele utiliza suas capacidades de forma limitada, não se apropriando do produto de seu trabalho. Está nos estudos de Marx que, no capitalismo, se cria uma cisão entre sujeito e objeto, uma relação de estranhamento que permite a reprodução de relações sociais em que a riqueza humana socialmente construída não é apropriada material e espiritualmente pelos indivíduos que a construíram. O produto da atividade humana, de forma genérica, se converte em algo que não diz respeito aos indivíduos singulares. O próprio indivíduo se torna objeto e os objetos passam a valer como coisas. Saiba mais Como sugestão de leitura, que nos intriga a refletir sobre o capitalismo, o texto Uma nova interpretação das origens do capitalismo? traz essa possibilidade, pois é instigante ao demonstrar a complexa teia de situações históricas específicas que deram origem ao capitalismo. javascript:void(0); Atividade 1. A respeito do conceito de trabalho de Marx, assinale a alternativa incorreta. a) É fundamento ontológico-social do ser social. b) É incapaz de criar a sociabilidade, dando ao homem um caráter de individualismo. c) Dá ao homem um caráter universal e sócio-histórico. d) É uma ação racional, que, através da práxis, transforma a realidade. e) Como práxis, cria-se a universalidade e a liberdade. Consumismo O consumismo que produz a coisificação das relações sociais é próprio do capitalismo. A transformação da riqueza humana faz com que o produto material e espiritual da práxis se transforme em um objeto estranho, com vida própria, que aparece aos homens como um poder que os domina, fomenta que os valores tomem a forma de coisas que têm valor independentemente da atividade humana (BARROCO, 2008). Assim, nasce o processo do homem alienado, ou seja: "[...] um conceito que se refere simultaneamente a um estado psicológico encontrado em indivíduos, um estado social que o gera e promove [de forma descontrolada. Marx considerava] a alienação resultado da posse privada do capital e do emprego de trabalhadores por salário, que ocorria primeiro na relação rompida entre o trabalho e o trabalhador. " - Johnson (1997) No capitalismo, o entendimento do homem referente ao trabalho humano é rompido. O seu trabalho não gera poder de voz sobre o que está produzindo. O valor está centrado no material e não em quem produziu (coisificação). Os valores éticos tendem a se expressar como valores de posse, de consumo, reproduzindo sentimentos, comportamentos e representações individualistas, que negam a alteridade e a sociabilidade livre. Assim, entendemos que o modo de produção é tão decisivo na formação das relações sociais e, portanto, das sociedades, que, para Marx, é possível compreender toda a história da civilização humana a partir dos seus modos de produção, isto é, das forças econômicas e de trabalho. Fonte: Por Lightspring / Shutterstock. Fonte: Por Rodrigo Bellizzi / Shutterstock. Toda forma social tem uma forma histórica de trabalho e, no capitalismo, essa forma é o trabalho assalariado. É dessa relação de compra e venda do trabalho que derivam todas as demais relações. Importante a análise que essa realidade material é também contraditória, formada por forças opostas e antagônicas, tão vivida e analisada pela profissão de Serviço Social. Para reforçar essa reflexão, vamos imaginar uma realidade. Ao mesmo tempo em que ela gera grande riqueza, também cria miséria e desigualdade. Mas a contradição principal reside no campo da produção e das relações de produção, novamente, no modo de produção. Todo modo de produção sempre é composto por duas classes antagônicas, em que a existência de uma depende necessariamente da outra, onde nasce a correção de poder e determinou as lutas de classes sociais. Fonte: Por nuvolanevicata / Shutterstock. Atenção É importante destacar que o modo de produção se refere à forma como está organizada a produção num determinado período do desenvolvimento da civilização humana, ou seja, cada época da história humana possuiu um modo de produção específico e que traz uma construção histórica dessa sociedade. O modo de produção compreende as forças produtivas (meios técnicos, matérias-primas, infraestrutura, energia, tecnologia etc.) e as relações de produção, isto é, a forma como está organizado o trabalho realizado (produção humana). Portanto, segundo a perspectiva marxista, em toda a história humana existiram seis modos de produção: Primitivo, Asiático, Escravista, Feudal, Capitalista e Comunista. Paulo Netto (1992) destaca como reage o Estado no sistema capitalista. "Através da política social, o Estado burguês no capitalismo monopolista procura administrar as expressões da questão social de forma a atender às demandas da ordem monopólica, conformando, pela adesão que recebe de categorias e setores cujas demandas incorpora, sistema de consenso variáveis, mas operantes. " - Paulo Netto (1992) É preciso relacionar e refletir quanto à dimensão do trabalho como atividade criadora da prática profissional do assistente social, com o desenvolvimento das forças produtivas e o surgimento do excedente econômico. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Atividade 1. De acordo com Johnson (1997, p. 7): “O trabalhador e seu trabalho transformam-se em pouco mais do que mercadorias compradas e vendidas no mercado de trabalho”. A afirmação refere-se ao: a) Consumismo exagerado. b) Trabalho consciente. c) Trabalho alienado. d) Trabalho significativo. e) Trabalho voltado a subsistência, que não visa ao lucro. 3. Sobre a práxis, é correto afirmar que: a) A práxis produtiva leva à emancipação. b) A práxis produtiva eleva à produção. c) A práxis é sinônimo de qualidade de produção. d) A práxis é advinda do capitalismo. e) A práxis não reforça a importância do trabalho humano. Notas Referências BARROCO, Maria Lucia Silva. Ética e serviço social: fundamentos ontológicos. São Paulo: Cortez, 2008. JOHNSON, A. G. Dicionário de Sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. NETTO, J. P. Capitalismo monopolista e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 1992. Próxima aula Projeto de intervenção do Serviço Social no mundo capitalista; Trabalho como atividade criadora à prática profissional do Assistente Social. Explore mais Pesquise na internet, sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Em caso de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem. Leia o livro: WAGNER, E. S. Hannah Arendt & Karl Marx: o mundo do trabalho. São Paulo: Ateliê, 2018.
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