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PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO

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PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO
· Considerações preliminares: conceito, peculiaridades, fundamento legal
· Classificação geral: pessoas jurídicas de direito público e de direito privado.
· Desconsideração da personalidade jurídica.
· Extinção e destinação dos bens.
· Entes ou grupos despersonalizados
Origem e noções preliminares:
	 “A vida, cada vez mais complexa, faz com que seja necessária a conjugação de esforços de vários indivíduos para a consecução de objetivo comuns. Isso porque o homem não encontra em si forças e recursos suficientes para desenvolver sozinho todas as atividades que almeja e assim suprir todas as suas necessidades e as da comunidade em que se insere.
	Esses esforços são realizados diretamente pelo próprio homem enquanto capaz juridicamente de adquirir direitos, de exercê-los e deles dispor diretamente ou por meio de agrupamentos de pessoas ou de uma massa de bens.
	Surgem, assim, as pessoas jurídicas dessa união de pessoas ou de patrimônios, as quais a legislação, ou seja, o ordenamento jurídico, torna aptas juridicamente a adquirir e exercer direitos e contrair obrigações.
	Por vezes, como ressalta o Mestre Silvio Rodrigues, a finalidade que move o homem não tem intuitos econômicos, e os indivíduos se associam para se recrear, ou para se cultivarem, ou para praticar a caridade, a assistência social, ou mesmo para juntos, cultuar Deus. Uma associação e uma sociedade civil, dessarte, nasce, ganha vida e personalidade, sobrelevando-se aos indivíduos que a compõem.
	Ainda, algumas vezes alguém destaca de seu patrimônio uma porção de bens livres, destinando-o a um fim determinado. Tal patrimônio separado via ser administrado e gerido tendo em vista aquele escopo em questão.
	Sob o ponto de vista prático, na explicação jurídica dos entes coletivos, talvez o mais importante seja a conclusão de que tais instituições existem e efetivamente atuam na sociedade, com organização e autonomia própria , fins lícitos, morais e sociais”. José Eduardo Sabo Paes *
Outras denominações: pessoas coletivas, morais, fictícias ou abstratas. 
Fundamento legal: arts. 40 a 69 CC.
 
“Grupo humano, criado na forma da lei, e dotado de personalidade jurídica própria, para a realização de fins comuns”. (Gagliano e Pamplona Filho*).
“Conjunto de pessoas ou de bens arrecadados, que adquirem personalidade jurídica própria (art. 1º CC) por uma ficção legal”. (Flávio Tartuce**)
Pressupostos existenciais: vontade criadora; obediência aos requisitos legais; objeto(finalidade) lícito.
Surgimento da pessoa jurídica: art. 45 “caput” CC : a personificação é decorrente da técnica jurídica. Assim, a sua existência legal, no sistema de disposições normativas, exige o cumprimento dos requisitos legais, que considera indispensável o REGISTRO (inscrição do ato constitutivo – estatuto ou contrato social) no registro competente. TEORIA DA REALIDADE TÉCNICA. Art. 46 CC – tendo identidade própria (distinta da identidade das pessoas que a integram), o registro deve conter os requisitos deste artigo, sob pena de não valer a constituição (criação) da pessoa jurídica – plano da validade.
Classificação:
2.1) quanto à nacionalidade:
a- Pessoa jurídica nacional: é a organizada conforme a lei brasileira e que tem no Brasil a sua sede principal e os seus órgãos de administração.
b- Pessoa jurídica estrangeira: é aquela formada em outro País, e que não poderá funcionar no Brasil sem autorização do Poder Executivo, interessando também ao Direito Internacional.
2.2) quanto à estrutura interna:
a- Corporação: é o conjunto de pessoas que atua com fins e objetivos próprios. São corporações as associações, as sociedades, os partidos políticos e as entidades religiosas.
b- Fundação: é o conjunto de bens arrecadados com finalidade e interesse social.
2.3) quanto às funções e capacidade: arts. 40 a 44 CC
a- Pessoas jurídica de direito público externo ou interno 
b- PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO (autonomia privada) : art. 44 I - as ASSOCIAÇÕES; II – as SOCIEDADES (simples e empresárias); III - as FUNDAÇÕES; IV - as ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS; V- os PARTIDOS POLÍTICOS; VI – as EMPRESAS INDIVIDUAIS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA (EIRELI). 
DAS ASSOCIAÇÕES 
Art. 5º XVII, XVIII, XIX, XX, XI CF
Arts. 53 a 61 CC
Art. 53 CC, em sintonia com o princípio da simplicidade. As associações, pela previsão legal, são conjuntos de pessoas (corporação), com fins determinados, que não sejam lucrativos (assim deve ser entendida a expressão fins não econômicos).
Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos, uma vez que não há intuito de lucro – art. 53, parágrafo único CC. 
Estatutos deverão conter os requisitos do art. 54 CC.
Determina o art. 55 CC que, regra geral, deverão os associados ter iguais direitos, podendo o Estatuto criar, eventualmente, categorias especiais. Ex.: um clube esportivo e de recreação – pode criar a categoria de associado contribuinte (que não tem poder de decisão ou direito de voto) e associado proprietário (que tem poder diretivo e direito ao voto). 
Art. 56, “caput” CC -A qualidade de associado é intransferível, havendo um ato personalíssimo na admissão (STJ, AgRg-Ag 1.272.080/RJ, 3ª Turma, Rel. Massami Uyeda, j. 27.04.2010). Porém, poderá haver disposição em sentido contrário no estatuto, sendo tal norma dispositiva ou de ordem privada. 
Se o associado for titular de quota ou fração ideal do patrimônio da associação, a transferência daquela não importará, por si só, na atribuição da qualidade de associado ao adquirente ou ao herdeiro, salvo disposição diversa no estatuto – art. 56, parágrafo único, CC. Tal comando legal reforça a tese de que a admissão na associação é ato personalíssimo.
A exclusão de associado somente será admissível havendo justa causa para tanto (cláusula geral) – art. 57 CC.
Eventualmente, cabe discutir, no âmbito judicial, a exclusão do associado, conforme já reconheceu o STF, aplicando a teoria de eficácia horizontal dos direitos fundamentais (STF, RE 201.819/RJ, Rel. Min. Ellen Gracie, Rel. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, j. 11.10.2005).
Outro Ac. Interessante concluiu que não se pode impor compulsoriamente mensalidades em casos de associação de moradores de condomínios fechados de casas. (STF, RE 432.106, Rel. Min. Marco Aurélio, 1ª Turma, j. 20.09.2011). Também julgados recentes do STJ (REsp 1.280.871/SP e REsp. 1.439.163/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para o acórdão Min. Marco Buzzi, 2ª Seção, julgados em 11.03.2015).
Art. 58 CC – em sintonia com o princípio da eticidade e a correspondente valorização da boa-fé, preconiza que nenhum associado poderá ser impedido de exercer direito ou função que lhe tenha sido legitimamente conferido, a não ser nos casos e formas previstos na lei ou no estatuto. Percebe-se a intenção do legislador em valorizar os direitos inerente à dignidade da pessoa humana, sendo o comando visualizado como uma manifestação do princípio constitucional do art. 5º II.
Arts. 59e 60 CC – assembléia geral e órgãos deliberativos.
Art. 61 CC – dissolução das associações. CF art. 5º, XIX.
DAS SOCIEDADES 
Arts. 981 a 1.141 CC.
Finalidade: lucrativa. Constitui espécie de corporação (conjunto de pessoas).
As sociedade se dividem em:
a- Sociedades empresárias – são as que visam a uma finalidade lucrativa, através do exercício de atividade empresária (art. 982 CC). Como exemplo pode ser citada qualquer sociedade que tem objetivo comercial ou, ainda, que traz como conteúdo o próprio conceito de empresário (art. 966 CC). O CC anterior (1916) denominava tais sociedades como comerciais ou mercantis.
b- Sociedades simples – são as que visam, também a um fim econômico (lucro), mediante exercício de atividade não empresária. São as antigas sociedades civis. Como exemplos, podem ser citados escritórios de advocacia, sociedades imobiliárias, as cooperativas. 
Art. 985 CC – aquisição da personalidade jurídica. (art. 45 e 1.150 CC). Lei n. 8.934/94 (Registro Público de Empresas Mercantis e atividades afins; Lei n. 8.906/94 (Estatuto da Advocacia).
DAS FUNDAÇÕES PARTICULARESArts. 62 a 69 CC
São bens arrecadados e personificados, em atenção a um determinado fim, que por uma ficção legal lhe dá unidade parcial. 
“Diferentemente das associações e das sociedades, as fundações resultam não da união de indivíduos, mas da afetação de um patrimônio, por testamento ou por escritura pública, que faz o seu instituidor, especificando o fim para o qual se destina”.*
São criadas (formalizadas) por meio de escritura púbica ou testamento. Elementos: afetação de bens livres; especificação dos fins; previsão do modo de administrá-los; elaboração de estatutos com base em seus objetivos e submetidos à apreciação do Ministério Público que os fiscalizará –art. 62 CC
Finalidade: art. 62, parágrafo único CC.
Em razão de seu interesse social, há necessidade de os administradores prestarem contas ao Ministério Público (Curadoria das Fundações)- art. 66 CC
DAS EMPRESAS INDIVIDUAIS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA – EIRELI
Art. 44, VI CC
Art. 980 “A” CC: estrutura e função.
A nova categoria foi instituída visando à diminuição da burocracia para a constituição de empresas em nosso país. O tema interessa ao Direito Empresarial. A natureza especial do instituto está presente no fato de ser a pessoa jurídica constituída por apenas uma pessoa, o que quebra com a noção de alteridade, tão comum ao conceito de pessoa coletiva.
Tais entidades não constituem sociedades na sua formação, pelo fato de serem constituídas apenas por uma pessoa natural. O tratamento como sociedade de responsabilidade limitada refere-se apenas aos seus efeitos e não quanto à sua estrutura.
Grande vantagem da EIRELI: enquanto a responsabilidade pelas dívidas do empresário individua recai sobre o seu patrimônio pessoal (pessoa natural), na EIRELI, a sua responsabilidade é limitada ao capital integralizado.

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