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A Educação Física e o esporte na escola: cotidiano, saberes e formação Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. O selo DIALÓGICA da Editora Ibpex faz referência às publicações que privilegiam uma linguagem na qual o autor dialoga com o leitor por meio de recursos textuais e visuais, o que torna o conteúdo muito mais dinâmico. São livros que criam um ambiente de interação com o leitor – seu universo cultural, social e de elaboração de conhecimentos –, possibilitando um real processo de interlocução para que a comunicação se efetive. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. Silvia Christina Madrid Finck A Educação Física e o esporte na escola: cotidiano, saberes e formação Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. Conselho editorial Dr. Ivo José Both (presidente) Drª. Elena Godoy Dr. Nelson Luís Dias Dr. Ulf Gregor Baranow Editor-chefe Lindsay Azambuja Editor-assistente Ariadne Nunes Wenger Editor de arte Raphael Bernadelli Análise de informação Adriane Beirauti Revisão de texto Dayene Correia Castilho Design de capa e miolo Sílvio Gabriel Spannenberg Fotografia de capa Ingimage Iconografia Danielle Scholtz Informamos que é de inteira responsabilidade da autora a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora Ibpex. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei n° 9.610/1998 e punido pelo art. 184 do Código Penal. Esta obra é utilizada como material didático nos cursos oferecidos pelo Grupo Uninter. Av. Vicente Machado, 317 ∙ 14º andar ∙ Centro CEP 80420-010 ∙ Curitiba ∙ PR ∙ Brasil Fone: (41) 2103-7306 www.editoraibpex.com.br editora@editoraibpex.com.br Foi feito o depósito legal. 1ª edição, 2013. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Finck, Silvia Christina Madrid A educação física e o esporte na escola: cotidiano, saberes e formação [livro eletrônico]/Silvia Christina Madrid Finck. – Curitiba: Ibpex, 2013. 2 Mb ; PDF ISBN 978-85-417-0050-4 1. Educação física 2. Educação física – Estudo e ensino 3. Prática de ensino I. Título. 13-02038 CDD-372.8607 Índices para catálogo sistemático: 1. Educação Física escolar: Estudo e ensino 372.8607 Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. Apresentação • 9 1 A Educacão Física no espaço da escola • 14 1.1 Educação Física escolar: reflexões necessárias • 15 1.1.1 A Educação Física na escola: percepções, contradições e possibilidades • 23 1.2 Abordagens pedagógicas da Educação Física: as contribuições para a escola • 34 1.2.1 Abordagem do ensino aberto • 38 1.2.2 Abordagem sistêmica • 46 1.2.3 Abordagem crítico-superadora • 48 1.2.4 Abordagem crítico-emancipatória • 53 1.2.5 Abordagem dos Parâmetros Curriculares Nacionais: a Educação Física nos anos finais do ensino fundamental • 55 1.3 Algumas considerações sobre as abordagens pedagógicas • 65 Sumário Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 2 A Educação Física e o esporte como prática pedagógica • 72 2.1 A Educação Física e o esporte na escola, segundo a Unesco • 74 2.2 Educação Física escolar: o esporte em foco • 83 2.2.1 O esporte: manifestações e possibilidades educacionais e pedagógicas • 87 2.2.2 Posicionamentos a favor do esporte • 101 2.2.3 Posicionamentos contra o esporte • 107 2.3 Os meios de comunicação e o esporte: divulgação e influências • 116 2.4 O esporte como conteúdo pedagógico no contexto escolar • 127 3 Educação Física escolar: cotidiano pedagógico e formação de professores • 136 3.1 O cotidiano da Educação Física escolar: contradições da prática e do saber docente • 137 3.1.1 Cotidiano, prática pedagógica e saber docente • 140 3.2 A importância da reflexão sobre o cotidiano pedagógico: na formação do professor • 155 3.3 Educação Física, esporte e formação de professores: algumas perspectivas • 162 Considerações finais • 171 Referências • 173 Sobre a autora • 189 Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 9 Apresentação Esta obra resulta de uma caminhada profissional idealizada e concretizada por meio da docência, de leituras, vivências, obser- vações e reflexões acadêmicas. Atualmente, tal percurso culmina no doutorado, cujo objeto de estudo é a análise do cotidiano pedagógico do professor de Educação Física que atua na escola. O exercício profissional na área de Educação Física, no contexto escolar e universitário, oportunizou a aquisição de um universo de experiências que, em parte, estão presentes nesta obra. Aqui são consideradas e discutidas questões em função de preocupações que estão voltadas para o âmbito pedagógico e de formação de professores que permeiam a Educação Física e o esporte. Refletir, discutir e pesquisar sobre a educação é bastante com- plexo. Adentrar a escola com o intuito de entender, considerar e traduzir o que lá acontece não é menos intrincado. O professor ocupa, nesse cenário, um papel de destaque, como o protagonista, o sujeito da pesquisa, o pesquisador. Considerar a abrangência da profissão docente é fundamental quando di- recionamos nosso olhar para o cotidiano pedagógico, a fim de compreendermosa complexidade do processo educacional na busca de possíveis respostas que são provisórias e inacabadas quando a temática é educação. O objetivo deste livro é contribuir com reflexões, discussões e perspectivas de possíveis intervenções na área da Educação Física, considerando o cotidiano pedagógico do professor na escola. Com base na complexidade desse aspecto, foram organizadas temáticas que tratam da Educação Física e do esporte no contexto escolar, Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 10 temas que contemplam questões relacionadas ao contexto peda- gógico e de formação de professores. No Capítulo 1 são abordados alguns aspectos da Educação Física escolar, por meio de um recorte histórico no qual destacamos questões legais dessa disciplina que tratam de sua obrigatoriedade, como aquelas que a referendam como disciplina curricular que deve estar presente no projeto político-pedagógico da escola. Na sequência, assinalamos alguns aspectos relacionados à atividade física e esportiva fora do contexto da escola, relacionando-os às questões da Educação Física escolar. Apontamos também algumas discussões e contradições que interferem no cotidiano escolar. Ainda no Capítulo 1 evidenciamos as principais abordagens pe- dagógicas que apontam para uma concepção crítica da Educação Física, pois estas contribuíram para a fundamentação de uma nova perspectiva dessa disciplina no contexto da escola. Destacamos também a concepção da Educação Física segundo a abordagem presente nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Em seguida, fazemos uma análise dos principais aspectos das concepções destacadas. No Capítulo 2, primeiramente enfatizamos o documento ela- borado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que trata de questões relacionadas à Educação Física e ao esporte no contexto da escola. Destacamos o teor desse documento, pois cremos ser de vital importância considerar seu conteúdo devido à representatividade dessa ins- tituição em nível mundial. A Unesco evidencia a importância da Educação Física e do es- porte na escola, destacando a necessidade do estabelecimento de metas para seu desenvolvimento. As preocupações e discussões dessa organização de notável relevância mundial foram desencade- adas pela necessidade de ser garantido o espaço tanto da educação física quanto do esporte, sendo que seu posicionamento objetiva Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 11 assegurar tal intento e também interferir nos encaminhamentos pedagógicos a serem realizados no contexto escolar. Nesse mesmo capítulo, tratamos o esporte na escola tanto nas aulas de Educação Física como no treinamento esportivo que ob- jetiva a participação dos alunos em competições escolares. São apontados aspectos educativos do esporte e a importância de esse fenômeno sociocultural ser abordado na escola. Apresentamos ainda alguns posicionamentos de estudiosos sobre o esporte, tanto aqueles que são a favor como os que são contra o seu de- senvolvimento no contexto escolar. Posteriormente, evidenciamos a participação e a influência da mídia, principalmente a televisão, na divulgação do esporte, consi- derando a forma como esse veículo de comunicação influencia na preferência dos alunos em relação a determinadas modalidades esportivas. Apontamos para algumas contradições, semelhanças e diferenças entre o esporte divulgado pelos meios de comunica- ção – denominado esporte “na” escola – e aquele que é ou deveria ser vivenciado pelos alunos: o esporte “da” escola. Finalizando o capítulo, destacamos a abordagem do esporte como conteúdo pedagógico da Educação Física escolar devido, principalmente, à sua predominância em relação aos demais conhecimentos tra- tados no contexto escolar. No Capítulo 3 evidenciamos algumas contradições presentes no cotidiano da Educação Física escolar e os respectivos fatos que cola- boram para o seu delineamento. Na sequência, destacamos alguns estudos sobre o cotidiano na área da educação, particularmente a área de Educação Física, em que o enfoque dos pesquisadores é bastante diferenciado. Em seguida, abordamos a importância de se considerar o cotidiano como campo de análise da prática pedagógica e do saber docente, a fim de perspectivarmos mu- danças visando à melhoria do processo de ensino-aprendizagem. Por fim, destacamos a importância da reflexão sobre o cotidiano Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 12 pedagógico da Educação Física e do esporte efetivado na escola no processo de formação inicial e continuada de professores. Enfim, este livro aponta a necessidade de reflexão, análise e transformação da prática pedagógica da Educação Física e do esporte, bem como a perspectiva de possibilidades teórico-me- todológicas para a abordagem de seus conhecimentos, tanto no contexto escolar como no processo de formação inicial e conti- nuada de professores. Assim sendo, evidenciamos que é fundamental considerar- mos o que o professor realiza em sua prática pedagógica escolar para que, com base nesse contexto, possamos refletir, discutir e perspectivar a Educação Física escolar numa dimensão crítica, compromissada e transformadora. Esperamos com esta obra possibilitar reflexões sobre a prática pedagógica da Educação Física e do esporte na escola e sobre o processo de formação de professores, bem como contribuir para instigar encaminhamentos para a transformação da Educação Física no contexto escolar. Contudo, devemos sempre ter em mente que, para a obtenção daquilo que pretendemos, teremos de ousar, não só individualmente, mas também no coletivo. Para tanto, é necessário um comprometimento profissional e acadêmico ininterrupto, metódico, partilhado e compromissado. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 1Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora Ibpex. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 15 1 A Educação Física no espaço da escola Abordamos, neste capítulo, aspectos da Educação Física na escola que incluem um recorte histórico de sua introduçãono contexto escolar. Paralelamente, evidenciamos questões que nos levam a visualizar esta disciplina nos dias de hoje, inclusive com relação ao âmbito legal. Na sequência, apontamos algumas das princi- pais abordagens pedagógicas que têm uma concepção crítica da Educação Física escolar, bem como destacamos suas contribuições para o desenvolvimento dessa disciplina no espaço da escola. 1.1 Educação Física escolar: reflexões necessárias Discorrer sobre Educação Física na escola não é tarefa fácil, pois percebemos que, ao mesmo tempo que a maioria dos alunos gosta e participa das aulas, essa disciplina ainda continua sendo pouco valorizada em relação às demais no ambiente escolar. Em parte, essa desvalorização é explicada por aspectos históricos relacionados à introdução da Educação Física no ambiente escolar brasileiro, por volta de 1920. Isso porque: “no Brasil [a Educação Física] foi pensada enquanto prática nas escolas com propósitos profiláticos, morais e culturais. Por falta até mesmo de formação adequada, muitos professores – chamados no passado de instrutores – aplica- vam para crianças exercícios praticados nos quartéis” (Confef, 2002). Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 16 As aulas eram, portanto, uma extensão da prática das atividades físicas realizadas pelos soldados. Os exercícios, na sua maioria, eram pautados nos métodos ginásticos estrangeiros, em que cada um preconizava determinados exercícios e dava ênfase a eles de acordo com uma sistematização específica. Soares afirma que os chamados métodos ginásticos; o sueco, o fran- cês, o alemão, o natural de Herbert, a Educação Física Desportiva Generalizada, entre outros, não se configuram como métodos, mas como sistematizações de exercícios físicos. A referida autora res- salta que o método sueco, criado por Peer Henrich Ling (1776-1839), representou um avanço do ponto de vista de sistematização da ginástica no plano mundial e serviu de base para outras sistema- tizações. (Finck, 1995, p. 61) Nunca houve consenso entre os profissionais sobre os tipos de atividades físicas que deve- riam ser ministradas nas aulas de Educação Física. A discussão, num primeiro momento, discorre sobre a ginástica e a recreação; pos- teriormente, o esporte passou a fazer parte dessa polêmica. Por volta de 1950, a Educação Física bra- sileira sofreu influência do método criado pelo Instituto Nacional de Esportes na França, denominado Educação Física Generalizada. Por meio dele, procurou-se incorporar o conteúdo esportivo aos métodos de Educação Física, ajustando-se a todos eles, principalmente ao sueco, ao francês, ao alemão e ao natural de Herbert (Finck, 1995). No entanto, para Betti (1991), são três os métodos prevalecentes ao longo da história da Educação Física no Brasil: o francês, o desportivo generalizado e o esportivo. O Método Francês caracterizava-se pelo comando e a formalidade do conteúdo. O Método Desportivo Generalizado possibilitava aos Os exercícios, na sua maioria, eram pautados nos métodos ginásticos estrangeiros, em que cada um preconizava determinados exercícios e dava ênfase a eles de acordo com uma sistematização específica. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 17 alunos a iniciação nos diferentes Esportes, desenvolvendo o gosto pelo belo, levando-os a adquirir ótima performance física e técnica. Os exercícios, feitos antes por obrigação, eram substituídos pelos exercícios executados por prazer, pois no jogo a alegria e o gosto em praticá-lo estavam presentes. O Método Esportivo não chegou a caracterizar-se como um método padronizado, mas ao eleger o esporte formal como conteúdo principal, acaba dando-lhe uma concepção de técnica esportiva bastante rígida. […] o Método Desportivo Generalizado que nasceu e sobreviveu entre 1950 e 1960, foi o único a fugir um pouco aos parâmetros da competitividade e da busca da vitória, mas sufocou-se diante do Método Esportivo a partir de 1970, quando então o modelo formal do Esporte de alto rendimento é assumido em sua plenitude, sem qualquer diferen- ciação, como também sem uma reflexão pedagógica mais profunda, passando então a ser adotado como sinônimo de Educação Física. (Finck, 1995, p. 64-65) Podemos constatar, por meio de tais fatos históricos, que a Educação Física é oferecida nas escolas há muito tempo e que, inicialmente, “sua prática foi calcada em ginástica e recreação e os objetivos definidos eram voltados para a construção de uma cultura que levasse o aluno a entender a importância daquela prática” (Confef, 2002). E hoje? O que está mais presente, como conhecimento, nas aulas de Educação Física? O que seria mais importante desenvolver nessas aulas? Hoje ainda não há concordância sobre quais conhecimentos seriam mais significativos para serem abordados nas aulas de Educação Física. Muitos profissionais ainda defendem o esporte como o conteúdo principal a ser trabalhado nas aulas, aquele que os alunos mais gostam e preferem; outros evidenciam que os professores deveriam desenvolver a disciplina sob a vertente Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 18 da saúde e da qualidade de vida; e há ainda aqueles que defendem a Educação Física como uma prática social, na qual as questões so- ciopolíticas não podem ser desconsideradas. Podemos constatar que algumas discus- sões em torno da Educação Física na escola já se fazem presentes há algum tempo, por exemplo, como medida de prevenção da saúde. Azevedo (1960) já indicava para a Educação Física a função de intervenção social, de modo a ensinar hábitos de higiene aos alunos e, ao mesmo tempo, incutir a importância do seu desenvolvimento e de se ter um corpo sadio. Posteriormente, passou a vigorar para a educação a Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971* (Brasil, 1971), que reforçava a Educação Física no contexto escolar, explicitando sua obrigatoriedade em todos os níveis de ensino do então pri- meiro e segundo graus (hoje ensino fundamental e médio). Dessa forma, a disciplina ganhou espaço como “área de atividades”, com os objetivos de despertar, desenvolver e aprimorar forças físicas, morais, cívicas, psíquicas e sociais do aluno. A aptidão física era então considerada referência fundamental para o planejamento, o controle e a avaliação da Educação Física. A partir de 1980, a participação da Educação Física no debate sobre as mudanças na educação brasileira foi inaugurada por alguns autores. Com isso, essa área de conhecimento passou por transformações importantes no referencial teórico-científico, o que a subsidiou com novos conhecimentos, os quais resul- taram em um número significativo de propostas inovadoras. * Essa lei foi revogada. a Educação Física é oferecida nas escolas há muito tempo […], inicialmente, “sua prática foi calcada em ginástica e recreação e os objetivos definidos eram voltados para a construção de umacultura que levasse o aluno a entender a importância daquela prática” (Confef, 2002). Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 19 Estas despontaram um novo encaminhamento para a Educação Física nas áreas de pesquisa e pedagógica no contexto escolar. O que ocorreu nesse período indica que as mudanças na prática realizada na Educação Física eram necessárias, principalmente na escola. Mas até que ponto os conhecimentos teórico-científicos têm influen- ciado e subsidiado o cotidiano efetivado pelo professor de Educação Física no seu fazer pedagógico? Na elaboração dessas propostas, o que tem sido considerado em relação ao trabalho que o professor realiza em termos pedagógicos no cotidiano escolar? Algumas das questões a serem abordadas, tais como as citadas, alcançam uma complexidade maior e existem há algum tempo. Podemos dizer que, desde então, muitas transformações ocor- reram na escola, embora ainda não seja possível dizer que esse referencial teórico-científico esteja sendo determinante no deli- neamento do cotidiano pedagógico. Diante dos avanços e estudos que têm sido realizados, é possível dizer que a Educação Física aponta para caminhos mais signifi- cativos, pois as discussões evoluíram e resultaram em muitas contribuições e possibilidades de reflexão oriundas de estudos desenvolvidos e retratados em um acervo bibliográfico com foco central na Educação Física escolar. Surgiram, então, questionamentos sobre a validade da forma como a Educação Física era desenvolvida nas escolas, envolvendo desde os seus objetivos, conteúdos e métodos até as suas formas de avaliação. Em 1990 começaram a ocorrer nacionalmente mudanças signi- ficativas envolvendo as questões educacionais, culminando com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), de nº 9.394, de 22 de dezembro de 1996 (Brasil, 1996), Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 20 que estabelece as normas para o encaminhamento da educação no Brasil. Por conseguinte, em 1997, surge a primeira versão dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (Brasil, 1997), cujo objetivo principal é apontar e sugerir linhas gerais para o encaminhamento peda- gógico das diversas áreas do conhecimento na escola, tanto para a educação infantil como para o ensino fundamental e médio. Nos dois últimos níveis de ensino, as diversas disciplinas estão agrupadas e inclusas em diferentes blocos, organizados conforme as proximidades existentes entre elas. A Educação Física como componente curricular está incluída na base nacional comum no bloco de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, conforme as indicações da LDBEN e dos PCN. Com a promulgação da LDBEN, foram delineadas novas pers- pectivas para a Educação Física. De acordo com o art. 26 dessa lei: [...] § 3º A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da educação básica, ajustando-se às fai- xas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos. (Brasil, 1996) Embora as mudanças legais tenham sido significativas, na me- dida em que colocaram a Educação Física no mesmo patamar de importância que as outras disciplinas no contexto escolar – dei- xando, assim, de ser obrigatória por lei e passando a fazer parte do projeto pedagógico –, ocorreram interpretações diferenciadas em relação à legislação. Algumas dessas mudanças resultaram em determinações que trouxeram prejuízos para a disciplina, como, por exemplo, a diminuição da carga horária com a redução do número de aulas e a exclusão da disciplina no período noturno em grande número de escolas. Dessa forma, a Educação Física acabou perdendo espaço no contexto escolar (Shigunov; Shigunov Neto, 2002, p. 94). Uma das consequências dessa redução foi a mobilização dos profissionais no sentido de garantir esse espaço. Assim, Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 21 posteriormente, por intermédio do trabalho articulado pelo Conselho Federal de Educação Física (Confef) e pelos Conselhos Regionais de Educação Física (Crefs) –, os ministros da Educação e do esporte assinaram portaria conjunta defendendo a obrigatoriedade da Educação Física no ensino básico (educação infantil, ensino fundamental e ensino mé- dio). Foi promulgada a Lei nº 10.328, de 12 de dezembro de 2001 (Brasil, 2001), que insere o termo obrigatório após a expressão curricular no parágrafo 3° do art. 26 da LDBEN. Em seguida, dois anos mais tarde, foi promulgada a Lei nº 10.793, de 1º de dezembro de 2003 (Brasil, 2003), que altera a redação do art. 26, parágrafo 3º e do art. 92 da LDBEN (Brasil, 1996), que “es- tabelece as diretrizes e bases da educação nacional” e dá outras providências. O art. 26 passa a vigorar, no seu páragrafo 3º, com a seguinte redação: […] A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: I- que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas; II- maior de trinta anos de idade; III- que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situação similar, estiver obrigado à prática da educação física; IV- amparado pelo Decreto-Lei nº 1.044, de 21 de outubro de 1969; V- (VETADO); VI- que tenha prole. Percebemos que, de certa forma, retrocedemos, pois o texto da “nova lei” é muito semelhante àquele da antiga Lei n° 5.692/1971, na qual os alunos eram dispensados da prática da Educação Física em situações quase que idênticas a estas já mencionadas. Ao possibilitar que a prática da Educação Física seja facultativa para uma parcela significativa dos alunos, a lei preconiza justamente “A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da educação básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos.” Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 22 o contrário do que é veiculado pelos meios de comunicação e vali- dado pela classe médica e científica, que vem a ser a necessidade de toda pessoa, independentemente de idade, realizar atividade física e/ou esportiva de forma regular em benefício de sua saúde e em busca de uma melhor qualidade de vida. Portanto, aos alu- nos é dado “suporte legal” para que iniciem uma vida sedentária ainda na escola. Aliado a isso, ainda percebemos que a disciplina não sofreu mudanças no âmbito escolar a partir da inclusão na nova LDB como um componente escolar. O lugar que ela ocupa nos currículos escolares é exatamente o mesmo. O que mudoufoi que algumas escolas seguiram a lei. Entretanto, con- tinuam tratando a educação física como um trabalho tido como menos intelectual, fazendo com que não receba um tratamento igualitário nos currículos escolares, em relação às demais disci- plinas. (Shigunov; Shigunov Neto, 2002, p. 95) O que o ocorre é que, muitas vezes, as atividades desenvolvi- das nas aulas de Educação Física se dão através da prática pela prática, “com pouca ou nenhuma reflexão por parte dos alunos sobre o significado da disciplina, ou da necessidade de atividades físicas como uma forma de vida ativa e sua contribuição para a vida diária do cidadão” (Confef, 2002). Tais pressupostos devem ser evidenciados na escola, no sentido de despertar nos alunos o interesse pela melhoria da qualidade de vida e, principalmente, em relação aos aspectos relacionados à manutenção da saúde. Por muito tempo, as aulas de Educação Física foram elabo- radas com o objetivo voltado para a aptidão física e a iniciação desportiva, numa perspectiva de padronização dos movimentos e de rendimento. Desde então ocorreram muitas mudanças sociais e políticas que foram traduzidas num discurso que supervaloriza a educação. Embora considerando que a educação física tenha acompanhado esse processo, sabemos que a realidade é muito contraditória, Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 23 principalmente porque esse discurso não chegou a influenciar de forma significativa a prática pedagógica. No sentido contrário, podemos dizer que a área da educação física se expandiu no campo científico, epistemológico e acadê- mico, o que pode ser constatado por meio do número de estudos e pesquisas desenvolvidos e da grande quantidade de publicações (livros, periódicos etc.), da qualificação de seus profissionais, entre outros. Tais aspectos contribuíram para que houvesse uma valorização da prática da ati- vidade física e esportiva, o que ocasionou um aumento no número de pessoas praticantes dessas atividades. Não podemos deixar de mencionar o papel da mídia nessa questão, já que são veiculadas mensagens e imagens relacionadas à atividade física e ao esporte que, certamente, são assimilados pelos alunos e acabam influenciando os comportamentos, as preferências e as manifestações deles. 1.1.1 A educação física na escola: percepções, contradições e possibilidades Embora a educação física tenha se desenvolvido nos campos científico, epistemológico e acadêmico, bem como acompanhado a educação nas mudanças sociais e políticas, as quais foram traduzidas num discurso que supervaloriza essa área, todo esse processo ainda é muito contraditório, principalmente porque tal discurso não chegou a influenciar definitivamente a prática pedagógica. Nesse sentido, Martins Júnior, citado por Shigunov e Shigunov Neto (2002, p. 49), evidencia que: A investigação, até então realizada, empiricamente, no Brasil, reve- lou que, enquanto a diversidade de oferta de atividades possíveis de serem desenvolvidas pela comunidade, no campo esportivo e de lazer, tem crescido geometricamente, as oferecidas pela Por muito tempo, as aulas de Educação Física foram elaboradas com o objetivo voltado para a aptidão física e a iniciação desportiva, numa perspectiva de padronização dos movimentos e de rendimento. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 24 Educação Física escolar crescem aritmeticamente, quando não se mantêm estacionárias; enquanto é incessante o crescimento do interesse comunitário por essa prática, a escola revela-se inativa e sem criatividade, não acompanhando as tendências dominantes na população. Essa inatividade e falta de criatividade podem ser desvendadas, de certa forma, por meio de alguns trabalhos e pesquisas* que indicam que a disciplina de Educação Física é, muitas vezes, exclu- dente. Isso ocorre quando o objetivo do professor é a formação de equipes esportivas para representar a escola em competições ou, ainda, quando a prática pedagógica efetivada acaba contribuindo para que o aluno se exclua das aulas, pois nela ou são enfatiza- das as técnicas e táticas do esporte ou os alunos participam das aulas realizando aquilo que desejam e da forma como sabem e querem (Finck, 1995). O encaminhamento pedagógico da Educação Física escolar, nesses parâmetros, pode influenciar os alunos a terem uma con- cepção deturpada da Educação Física, delineada por aspectos como: uma menor valoração em relação às outras disciplinas curriculares; uma compreensão equivocada de que tal conheci- mento não possui aplicabilidade no cotidiano; a não incorporação de hábitos relacionados à atividade física e/ou esportiva para uma prática permanente. Relacionados a esses pontos, de acordo com o Confef (2002), alguns trabalhos apontam para: • A diminuição da participação, entusiasmo e interesse nas aulas de Educação Física, das primeiras às últimas séries do ensino fundamental (Corbin, 1981; Ross & Gilbert, 1985); • A percepção de aspectos negativos das aulas de Educação Física, tidas como desestimulantes, cansativas, repetitivas, * Entre outros estudos, merecem destaque os que você encontra em: Bracht (1988); Molina Neto (1993); Moreira (1992, 1995); Soares, Taffarel e Escobar (1992). Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 25 desinteressantes e desorganizadas, mais acentuados em corres- pondência com o avanço no nível de escolarização (Betti, 1995); • O registro de aspectos positivos e negativos das aulas de Educação Física de 5ª a 8ª séries do ensino fundamental, encontrando-se referências a aulas repetitivas, monótonas, sem atração, não interessantes e desnecessárias (Kobal, 1995); • A não diferenciação, em termos de importância das aulas, entre alunos de 5ª a 8ª séries. (Betti, 1995; Kobal, 1995) A Educação Física como área de conhecimento não tem sido capaz de “convencer” a sociedade suficientemente sobre a importância de sua presença no currículo escolar. A concepção ainda é a de que sua tematização na escola se resume apenas em correr, jogar bola, fazer ginástica e brincar. Embora os meios de comunicação evidenciem o exercício físico – conforme será abordado mais adiante –, contribuindo, assim, para uma valorização da prática de atividades físicas e esportivas de forma regular, bem como a associação dessa prática a hábitos saudáveis numa perspectiva de uma melhor qualidade de vida, a escola parece caminhar no sentido inverso. O número de aulas de Educação Física di- minuiu significativamente na maioria das escolas públicas e particulares. Os alunos dos anos finais do ensino fundamental ti- nham três aulas da disciplina por semana e, atualmente, a maioria tem duas ou apenas uma aula, com um agravante para a escola pública, que não oferece espaço fora das aulas para a iniciação esportiva. Portanto, os alunos estão se movimentando cada vez menos, o que contribui para que tenham uma vida cada vez mais sedentária.A Educação Física como área de conhecimento não tem sido capaz de “convencer” a sociedade suficientemente sobre a importância de sua presença no currículo escolar. A concepção ainda é a de que sua tematização na escola se resume apenas em correr, jogar bola, fazer ginástica e brincar. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 26 Não deveria a escola ser um espaço para a formação de hábitos saudáveis? Em relação à prática da atividade física e esportiva, qual é a perspectiva educacional para uma melhor qualidade de vida? Como teremos adultos praticantes de atividades físicas e esportivas se tais hábitos não forem ensinados, principalmente, na infância e na adolescência? Entendemos que Educação Física na escola se relaciona direta- mente com a corporalidade e o movimento humano, que implica, portanto, uma atuação intencional sobre o homem como ser cor- póreo e motriz, abrangendo formas de atividades físicas como o esporte, o jogo, a ginástica, as lutas, a dança, entre outras (Taborda de Oliveira, 2003). Por isso, deve contribuir de maneira significativa com a formação e desenvolvimento dos alunos, oportunizando momentos pedagógi- cos de modo que possam interagir por meio da vivência de diversas situações de ensino-aprendizagem. Estas devem abranger inúmeros movimentos que envolvem muito mais do que atos motores, sendo impregnadas de significados, expressividade, alegria e prazer. A vivência dessas situações oportuniza o desenvolvimento não só de habilidades, mas de competências importantes para uma melhor convivência em grupo, como a capacidade de compartilhar, trocar, ouvir e aprender uns com os outros. A interação com o meio físico, social e cultural, por sua vez, é vista ao mesmo tempo como causa e efeito da exploração do potencial. Interação e exploração caracterizam um processo que evolui cicli- camente, pois é mediante a interação que a exploração do potencial se torna possível, ao mesmo tempo em que o potencial explorado possibilita uma interação ainda mais rica. (Tani, 2002, p. 114-115) À medida que essa interação acontece, o aluno estará mais mo- tivado a participar das aulas, realizando atividades físicas e Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 27 esportivas que o fazem superar seus limites, ampliando cada vez mais suas experiências e seu conhecimento. Tais aspectos contribuem para que a maioria dos alunos aprecie as aulas de Educação Física. Betti, I. C. R. (1992), em seus estudos, evidencia os aspectos motivacionais referentes ao motivo pelo qual os alunos gostam tanto das aulas de Educação Física e o que eles pensam sobre essa disciplina no ambiente da escola. A autora destaca, principalmente, que, apesar das condições precárias do material utilizado, do tipo de aula, que muitas vezes não é aquela que o aluno deseja, e dos atritos com os colegas, ele ainda sente muito prazer nas aulas dessa disciplina. Ainda conclui essa autora: O que ficou claro para mim é que, apesar da deficiência da Educação Física na escola, deficiência esta percebida pelos alunos que filtram os acontecimentos com sua percepção, eles ainda conseguem sentir muito prazer em participar das aulas. Que poder é esse que o movimento humano consegue exercer sobre as pessoas? Apesar da falta de comunicação professor x aluno, das desavenças com os colegas, do conteúdo que não muda, das condições das quadras e dos materiais, apesar de tudo os alunos, em sua maio- ria, continuam sentindo prazer em fazer as aulas […]. Isto não justifica a falta de atenção para com a Educação Física de forma geral. Muito pelo contrário: se da forma como está a Educação Física consegue exercer tamanho poder de sedução, imagine se fosse melhor! (Betti, I. C. R., 1992, p. 166) Considerando alguns pontos que colaboraram para o delineamento da Educação Física, como seu reconhecimento legal e o fato de a maioria dos alunos gostarem das aulas, indagamos: Por que a disciplina está perdendo espaço na escola, apesar de a maioria dos alunos gostar das aulas e sentir muito prazer nelas? Quais os argumentos para sua permanência como disciplina cur- ricular no mesmo grau de importância das demais? Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 28 Há algum tempo, tais questionamentos são presentes no meio acadêmico e profissional da área e há necessidade de serem discutidos de forma mais ampla e comprometida, a fim de con- tribuir de fato para a consolidação da Educação Física mediante a garantia de seu espaço na escola como área de conhecimento. A partir da promulgação da LDBEN (Brasil, 1996), a escola ga- nhou autonomia em relação à sistematização e à organização do seu projeto político-pedagógico, sendo que cada instituição define e estabelece a carga horária de cada uma das disciplinas da grade curricular. Dessa forma, cabe ao professor garantir o espaço significativo da sua disciplina no currículo. Certamente a qualidade do seu trabalho quanto à relevância epistemológica e social contribuirá para evidenciar a necessidade da Educação Física na escola para a comunidade. É interessante observar que a importância da realização das atividades físicas e esportivas de forma regular obtém maior relevância a cada dia em nossa sociedade, sendo cada vez mais manifestada nos diferentes meios de comunicação, principalmente, em relação às questões referentes à manutenção e à melhoria da saúde. Essa valoração é evidenciada em inúmeras pesquisas que são também responsáveis por esse destaque. “A educação física entende que a saúde constitui um componente fundamental da qualidade de vida das pessoas e a atividade física regular e sistemática, um elemento imprescindível para a promoção e manutenção da saúde” (Tani, 2002, p. 105-106). Praticar atividade física é cada vez mais comum entre as pessoas. Mais academias surgem a cada dia oferecendo inúmeras opções de atividades físicas, sendo cada vez mais crescente a quantidade de adeptos, seja nesse espaço formal, seja em parques, praças e Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 29 ruas, seja na própria residência, onde muitas pessoas organizam sua academia particular. Na escola, como já apontamos, parece estar acontecendo o con- trário. A Educação Física sofre um grande impacto: a disciplina desprestigiada, sem finalidade definida, perde espaço e os exem- plos de sua prática, de modo geral, a desabonam e comprometem sua posição no contexto educacional. Shigunov e Shigunov Neto (2002, p. 93) destacam que: Há pelo menos duas décadas, a educação física tem ocupado, nos currículos escolares, um lugar desprivilegiado em relaçãoa ou- tras disciplinas. Porém, não é esta visão que os professores desta disciplina têm em relação ao seu trabalho no contexto escolar. Os professores da área a consideram importante e indispensável para o aluno, ainda que os seus valores estejam confusos, indefinidos e diversificados, tanto para os profissionais da educação física, como para os demais professores. Nas escolas onde o esporte é ofertado como treinamento – e tem representatividade nas competições por intermédio de suas equipes, obtendo resul- tados positivos em relação à premiação –, os profissionais adquirem certo status perante a comunidade escolar (professores, alunos, pais. Com isso, as aulas de Educação Física acabam por ter certa importância na escola. Outra questão que cabe destacar são os con- vênios estabelecidos entre algumas escolas e clubes e academias, como o oferecimento da prática de atividades físicas e esportivas aos alunos nesses ambientes. Isso acaba refletindo em maior frequência e interesse dos alunos, principalmente os adolescentes. A partir da promulgação da LDBEN (Brasil, 1996), a escola ganhou autonomia em relação à sistematização e à organização do seu projeto político- -pedagógico, sendo que cada instituição define e estabelece a carga horária de cada uma das disciplinas da grade curricular. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 30 Será que, para os alunos, a Educação Física é apenas sinônimo de atividade prática? Por que uma parcela dos alunos parece se interessar mais pelas atividades físicas praticadas fora da escola? Em que medida a mídia contribui nessa preferência demonstrada pelos alunos? O que pode e deve ser feito para garantir o espaço da Educação Física na escola? Shigunov e Shigunov Neto (2002, p. 93) evidenciam que a postura de certos estabelecimentos de ensino tem demonstrado uma desvalorização da Educação Física como disciplina curricular, pois “dão destaque a essa disciplina apenas para obter resultados esportivos que serão utilizados como marketing em benefício da instituição e não do educando.” Acreditamos que o espaço das aulas de Educação Física precisa ser garantido, pois tem a sua especificidade educativa e não poderá nunca ser substituído por práticas efetivadas com outros objeti- vos (treinamentos esportivos) ou em outros espaços (academias, clubes) (Finck, 1995). Ao contrário da postura mercadológica desses estabelecimentos, a Educação Física escolar deve ser considerada “uma disciplina cur- ricular cuja meta é a disseminação do conhecimento sistematizado e acumulado historicamente sobre o fenômeno movimento humano, o que inclui naturalmente o esporte” (Tani, 2002, p. 113). Para tanto, é necessário que os conhecimentos tematizados nas aulas sejam contextualizados e abordados de forma mais atrativa e próxima das atividades físicas e esportivas que os alunos apreciam e praticam em outros espaços. Assim, eles terão acesso a conhecimentos mais aprofundados cientificamente, o que lhes possibilitará ir além do nível de informação do senso comum, diferenciando o espaço da escola dos demais em grau de importância. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 31 Para o Confef (2002), a Educação Física na escola deve ser uma disciplina inserida no contexto pedagógico e formativo da cidadania, com a finalidade de explicar a corporeidade, o sen- tido da qualidade de vida através de um estilo de vida ativo, que ofereça algumas vivências temáticas para que os alunos possam experimentar exercícios e práticas. A disciplina não pode estar calcada, nem ser justificada apenas na sua prática, mas sim, pela sua finalidade. Aí, mais uma vez, reaparece o dilema: Qual a fina- lidade da educação física escolar? Não se trata de algo simples, e sim de grande complexidade, pois, de um lado, muitos paradigmas que foram sendo constituídos ao longo do tempo ainda permeiam a Educação Física escolar, entre eles, o desenvolvimento da aptidão física, a busca de talentos esporti- vos e a formação de atletas e equipes espor- tivas representativas. Por outro lado, temos um discurso que evidencia a inclusão, a inter- disciplinaridade e a importância da Educação Física para a formação integral. O problema não será revertido pela lei, pois o amparo legal existente (Lei n° 10.328/2001) determina a obrigatoriedade da Educação Física em todo o ensino básico, mas não es- tipula e muito menos garante o número de aulas semanais que os alunos deverão ter. Os profissionais não podem ficar aguardando que os legisladores atendam seus apelos, promulgando leis que assegurem o espaço para a Educação Física. Tal fato ainda esbarraria em inconstitucionalidade, uma vez que nenhuma disciplina pode ter tratamento diferenciado (Confef, 2002). A Educação Física escolar deve ser considerada “uma disciplina curricular cuja meta é a disseminação do conhecimento sistematizado e acumulado historicamente sobre o fenômeno movimento humano, o que inclui naturalmente o esporte” (Tani, 2002, p. 113). Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 32 Desde 2002*, as universidades brasileiras vêm travando bata- lhas nos cursos de licenciatura com o objetivo de reformular o papel e a importância na formação do professor. As discussões se dão em torno de dois pontos centrais: um estágio curricular mais elevado e mais rigor nas disciplinas práticas. Desde então, a coordenação de tais cursos vem discutindo quais as melhores alternativas para resolver a deficiência na formação dos profes- sores que capacitam para o mercado de trabalho. Diante de tais iniciativas e encaminhamentos, teremos uma nova geração de professores para atuar na educação básica, mais preparada para lidar com as questões da escola e mais voltada, explicitamente, para o aluno e sua formação integral, como tam- bém para a construção de sua cidadania (Confef, 2002). Enquanto isso, é preciso agir para manter e garantir o espaço da Educação Física no contexto escolar, dando oportunidade para que essa nova geração de professores contribua para transformar a realidade. É fundamental também evidenciarmos os objetivos para essa disciplina numa perspectiva mais comprometida com aspectos relacionados à formação para a cidadania, à qualidade de vida e ao pleno entendimento do que seja corpo: aquele que não apenas se movimenta, mas também se relaciona e se expressa na sociedade. Os objetivos em relação aos conhecimentos dessa área – esporte, jogos, dança, lutas, ginástica – de- vem ser diferenciados em relação aos objetivos destes mesmos conhecimentos numa perspectiva profissional. * O Ministério da Educação (MEC), por intermédio do Conselho Nacional de Educação (CNE), criou a Resolução CNE/CP n° 01/2002 (Brasil, 2002), que institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, Curso de Licenciatura, de graduação plena. Para ver essaresolução na íntegra, acesse: <http://portal.mec.gov.br/cne/ arquivos/pdf/rcp01_02.pdf>. É preciso agir para manter e garantir o espaço da Educação Física no contexto escolar. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 33 Por outro lado, a atividade física e esportiva no contexto profis- sional deve ser considerada e abordada na escola, a fim de que os alunos tenham um conhecimento mais amplo dessas manifes- tações da cultura corporal de movimento, podendo, assim, fazer uma leitura competente e crítica do contexto. O encaminhamento teórico científico da Educação Física na es- cola deve estar pautado nos preceitos maio- res da educação. Os conhecimentos devem ser significativos, interessantes e prazerosos, voltados para uma formação comprometida com questões relacionadas à cidadania. De acordo com o Confef (2002), os PCN (Brasil, 1997) evidenciam que as aulas de Educação Física devem ser desenvolvidas na perspectiva “de possibilitar oportunidades a todos os alunos para que desenvolvam suas potencialidades, de forma democrática, não seletiva, visando sua formação e aprimoramento humano”, além de ressaltar que os alunos portadores de deficiência não podem ser privados das aulas, pois têm direito garantido de acesso ao conhecimento tanto quanto os demais. Seja qual for o objeto de conhecimento no processo de ensino- -aprendizagem, a individualidade e as características dos alunos devem ser consideradas, assim como as potencialidades valo- rizadas e as limitações respeitadas, em todas as dimensões: cognitiva, corporal, afetiva, ética, estética, de relação interpessoal e de inserção social. É preciso recuperar e garantir o espaço da Educação Física na es- cola, e cada profissional deve perceber esse novo momento, procu- rando aprofundar os debates com competência e responsabilidade. É importante ressaltar que a escola, como instituição formal, tem por objetivo contribuir para a formação integral do cidadão, de forma a abranger todos os seus aspectos, pois, no início de É importante ressaltar que a escola, como instituição formal, tem por objetivo contribuir para a formação integral do cidadão, de forma a abranger todos os seus aspectos. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 34 um novo milênio, o mundo necessita de cidadãos com um co- nhecimento amplo e valoroso, que possibilite sua atuação na sociedade de forma competente, responsável, ética, autônoma, cooperativa e criativa. 1.2 Abordagens pedagógicas da Educação Física: as contribuições para a escola É importante considerarmos o corpo em movimento como objeto de conhecimento, e situá-lo dessa forma, para o entendimento das questões centrais no processo pedagógico da Educação Física, tornando-se fundamental destacarmos alguns aspectos históricos das principais abordagens pedagógicas da área, considerando principalmente como o corpo foi visualizado e considerado nos diferentes períodos e épocas. Entendemos o corpo como o ser humano na sua essência, pleni- tude, fragilidade, carência, beleza e complexidade. Quando utili- zamos esse termo, o seu significado é o homem, o ser humano na sua totalidade. Segundo Freire (1991), no ser humano, o sensível e o inteligível não são resultados de uma soma; ao contrário, são entidades presentes em uma unidade mais ampla e complexa denominada corpo. Quando corpo e movimento são objetos da mesma discussão, em se tratando da Educação Física, Considera-se a relação das concepções com a prática cotidiana, onde nem sempre a teoria acontece na mesma velocidade da prática, ou seja, só se efetiva quando a concepção já não é hegemônica, assim como, a aceitação e a incor- poração das novas ideias pelos já atuantes pro- fessores de Educação Física, que quase sempre, Segundo Freire (1991), no ser humano, o sensível e o inteligível não são resultados de uma soma; ao contrário, são entidades presentes em uma unidade mais ampla e complexa denominada corpo. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 35 oferecem resistência às mudanças na prática pedagógica. Tais fatos colaboram de forma decisiva, na mesclagem pedagógica existente na prática da educação física escolar e, na morosidade na adoção de uma abordagem mais progressista dos seus conteúdos. (Finck, 1995, p. 70) Dessa forma, é importante destacarmos a seguir, mesmo que de forma resumida, os principais aspectos das concepções que permearam e permeiam os princípios da Educação Física escolar. A Educação Física no século xVIII e xIx era fortemente influen- ciada pelas instituições médica e militar, nas quais o intuito era formar corpos saudáveis. O conhecimento médico-científico* validava sua prática, que tinha como um dos principais objeti- vos o desenvolvimento de hábitos saudáveis e higiênicos entre a população, a fim de que os homens se tornassem produtivos e fortes, assim como as mulheres mais femininas e boas reprodu- toras. O corpo, nessa perspectiva, não pensava, e sim era pensado, sendo alvo de estudos das ciências biológicas. Nessa concepção, o corpo era igualado a uma estrutura mecânica e controlado de acordo com sua eficiência. O conhecimento sobre o seu funcionamento era valorizado pelas ciências biológicas, pois quanto mais dele fosse conhecido, maior seria seu controle e sua eficiência. As atividades realizadas visavam ao desenvolvimento das capacida- des orgânicas e da estética (funcionamento/ aptidão física), objetivando a adaptação do indivíduo ao processo produtivo, revelando, na época, uma perspectiva política nacionalista. * Exercendo um controle social por meio da relação com as famílias, encontraremos nos discursos dos médicos um enfoque disciplinador, normativo e moral. Estes, nessa época, entendiam que, por meio da ginástica, seria possível recuperar e formar cidadãos com saúde física e mental, regenerar a raça, as virtudes e a moral. Evidentemente que o modelo utilizado foi o da raça branca (Bracht, 1999; Coletivo de Autores, 1992). A Educação Física no século XVIII e XIX era fortemente influenciada pelas instituições médica e militar, nas quais o intuito era formar corpos saudáveis. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 36 Primeiramente, a ginástica era predominante na escola; posterior- mente, a prática esportiva passa também a fazer parte do contexto escolar. É importante ressaltar que os princípios básicos de ambas as práticas eram os mesmos: racionalização e repressão do corpo. Com o controle do corpo pretendia-se, principalmente, segundo Bracht (1999, p. 74), o “aumento do rendimento atlético-esportivo […] os aspectos biológicoscomo aumento da resistência, da força etc. […] os comportamentais como hábitos regrados de vida, res- peito às regras e normas das competições etc.” Dessa forma, o treinamento esportivo e a ginástica promovem a aptidão física e suas consequências, que são a saúde e a capa- cidade de trabalho/rendimento, individual e social, objetivos da política do corpo (Bracht, 1999). Posteriormente, no século xx, o esporte substituiu definitivamente a ginástica na escola e passou a ser utilizado como meio de adaptação social, o que inclui outro princípio: o da concorrência atrelado ao do rendimento. Existe o enaltecimento do movimento olímpico, em que o espírito de competição e o desejo de vencer são evidenciados. O esporte como técnica corporal, portanto, condensa e corporifica os mesmos princípios com novos sentidos e significados. Todavia, o núcleo central dessa atividade continua sendo a intervenção no corpo, o qual é visualizado como “máquina”. Segundo Bracht (1999), nas décadas de 1970 e 1980, o campo da Educação Física passou a incorporar as discussões pedagógicas, muito influenciadas pelas ciências humanas, principalmente a socio- logia e a filosofia da educação de orientação marxista. Para o autor, O eixo central da crítica que se fez ao paradigma da aptidão física e esportiva foi dado pela análise da função social da educação, e da Educação Física em particular, como elementos constituintes de uma sociedade capitalista marcada pela dominação e pelas diferenças (injustas) de classe. (Bracht, 1999, p. 78) Com isso, surgiram outras tendências pedagógicas decorrentes de estudos, a fim de contrapor as tendências que predominavam até Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 37 então. Essas tendências são vistas como propostas ou abordagens pedagógicas alternativas para o desenvolvimento da Educação Física, mas algumas são consideradas acríticas*, por não se vin- cularem a uma teoria crítica de educação, no sentido de fazer da crítica uma categoria central de suas discussões. Outras propostas foram apresentadas como tal e contribuíram de forma significativa para uma nova perspectiva da Educação Física. São abordagens que se fundamentam numa teoria crítica de Educação, quais sejam: a concepção de ensino aberto à experiência (Hildebrandt; Laging, 1986; Grupo de Trabalho Pedagógico UFPE – UFSM, 1991); a concepção sistêmica (Betti, 1991); a concepção crítico-superadora (Coletivo de Autores, 1992) e a concepção crítico-emancipatória (Kunz, 1994). Destacamos também a concepção presente nos PCN (Brasil, 1998b), que foi elaborada em forma de projeto e sugerida por um grupo de educadores para nortear o trabalho pedagógico desenvolvido nas escolas, nacionalmente e em todas as áreas do conhecimento, entre elas, a Educação Física. Essa proposta teve como inspiração o modelo educacional espanhol e também agrega algumas das principais ideias das abordagens citadas anteriormente, apon- tando encaminhamentos metodológicos diferenciados no trato do conhecimento da Educação Física escolar, relacionando-o a temas emergenciais que devem ser tratados pedagogicamente no contexto da escola. Assim, acreditamos ser importante destacar e analisar os principais aspectos tratados neste documento os PCN. * São elas: psicomotricidade (Le Boulch, 1987), desenvolvimentista (Gallahue, 1982; Tani et al., 1988; Manoel, 1994), educação de corpo inteiro (Freire, 1989), desenvolvimento humano (Krebs, 1995; Krebs et al., 1996), promoção pela saúde (Guedes; Guedes, 1996; Nahas, 1997). Segundo Bracht (1999), nas décadas de 1970 e 1980, o campo da Educação Física passou a incorporar as discussões pedagógicas, muito influenciadas pelas ciências humanas, principalmente a sociologia e a filosofia da educação de orientação marxista. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 38 Salientamos as propostas críticas, pois estas são amplamente divulgadas e discutidas nos meios acadêmico e profissional. Assim, consideramos o cotidiano escolar da Educação Física e do esporte à luz das referidas propostas, verificando em que proporções elas dão embasamento teórico-científico ao trabalho pedagógico que o professor efetiva no seu dia a dia. Evidenciamos também que é numa concepção crítica que se preconiza o desenvolvimento da Educação Física escolar. Em relação à formação de professores, consideramos impor- tante o entendimento que o acadêmico do curso de licenciatura em Educação Física deve ter ao fazer a leitura do cotidiano peda- gógico, ao identificar e relacionar o que é realizado nas aulas que observa na escola, por meio do Estágio Curricular Supervisionado (ECS), com as concepções presentes nas abordagens pedagógicas críticas, pois estas são desenvolvidas e discutidas no desenvolvi- mento da disciplina de Prática de Ensino. Acreditamos que as referidas abordagens apontam perspectivas para o ensino de forma crítica, reflexiva e comprometida e que podem contribuir para a formação integral dos alunos, a fim de que possam vir a usufruir do conhecimento vivenciado na escola, em relação à Educação Física e ao esporte, mesmo após terem concluído sua escolarização básica. Descrevemos essas teorias nos tópicos subsequentes. 1.2.1 Abordagem do ensino aberto É de fundamental importância fazermos menção, primeira- mente, à proposta da obra Concepções abertas no ensino da educa- ção física, que se tornou conhecida no Brasil por intermédio de Reiner Hildebrandt e Ralf Laging (1986), este último como pro- fessor visitante da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Outra obra que contribuiu para fundamentar a abordagem do en- sino aberto, analisando a aula de Educação Física sob as perspecti- vas didático-pedagógica, humana e político-social, é denominada Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 39 Visão didática da Educação Física (1991), publicada pelo Grupo de Trabalho Pedagógico formado por professores de duas instituições do ensino superior do Brasil: Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e UFSM. As referidas obras subsidiam uma teoria da aula de Educação Física aberta às experiências dos alunos: Trabalhando com a perspectiva de que a aula de EF [Educação Física] pode ser analisada em termos de um continuum que vai de uma concepção fechada a uma concepção aberta de ensino, e considerando que a concepção fechada inibe a formação de um sujeito autônomo e crítico, essa proposta indica a abertura das aulas no sentido de se conseguir a co-participação dos alunos nas decisões didáticas que configuram as aulas. (Bracht, 1999, p. 80) Nessa concepção, o objeto de estudo é o mundo do movimento e suas implicações sociais, que tem como principal objetivo trabalhar o movimento em sua amplitude e complexidade, com a intenção de proporcionar aos participantes autonomia para as capacidades de ação (Hildebrandt; Laging, 1986). Dieckert (1986), ao escrever o prefácio da referida obra, tratasobre currículo aberto e evidencia que A formação cultural no Brasil e, em decorrência, o ensino do esporte (praticado) nas escolas vêm se mantendo dentro de um currículo fechado. As causas são históricas: por um lado, a orientação pe- dagógica da Educação Física no Brasil e, por outro, a aplicação do método francês, modificado mais tarde pela adoção do sistema internacional de prática de esportes com o seu método de treina- mento, além da absorção do sistema americano. Neste contexto, até hoje é regra geral que o conteúdo das aulas de esporte seja fixado com muita antecedência, para dias determinados, dentro de um plano semestral. O ensino propriamente dito se faz cen- trado quase que exclusivamente no professor, com a aplicação de rígidos métodos conceituais. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 40 Apontamos que o currículo fechado não corresponde às novas concepções antropológicas e pedagógicas originárias de reflexões, estudos e discussões, tampouco às necessidades de mudanças educacionais no mundo de hoje. Se o que objetivamos é levar as crianças e os jovens a adquirirem personalidade independente, devemos proporcionar, já na escola, a possibilidade de participa- ções dos alunos nas decisões de caráter pessoal. A concepção de ensino aberto se fundamenta na ideia de propiciar ao aluno possibilidades de decidir junto, importando a proporção das possibilidades de codecisão no “grau de abertura” do ensino da Educação Física. Esta proporção, no entanto, depende do professor […] significa sempre uma decisão além dos limites e das possibilidades das decisões dos alunos. Desta maneira são determinados o grau da atividade dos alunos e a permissão de alternativas de ação. (Hildebrandt; Laging, 1986, p. 11, grifo do original) Essa metodologia pode ser utilizada de acordo com a atual estru- tura curricular escolar. A preocupação central é mais em relação a como trabalhá-la, bem como tornar significativos e acessíveis os conteúdos aos participantes. Embora Hildebrandt e Laging (1986) abordem, utilizem e apon- tem mais exemplos com o esporte, não sugerem conteúdos para serem desenvolvidos nas aulas de Educação Física. Os autores destacam que o importante é abordar o mundo do movimento e suas relações com os outros e as coisas. Os conteúdos/conhe- cimentos são construídos por meio de situações provocadas por estímulos, colocação de temas, problemas ou tarefas. Dessa forma, as situações que envolvem o processo de ensino-aprendizagem são preparadas para possibilitar aos alunos a realização das próprias ações para a vivência de produção pessoal. Nessa concepção de ensino, o aluno é solicitado a participar da elaboração do planejamento e da sua execução. Só assim a con- cepção de ensino aberto será possível, como atestam Hildebrandt Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 41 e Laging (1986, p. 15) quando afirmam que “As concepções de ensino são abertas quando os alunos participam das decisões em relação aos objetivos, conteúdos e âmbitos de transmissão ou dentro deste complexo de decisão. […] As possibilidades de decisão dos alunos são determinadas cada vez mais pela decisão prévia do professor.” É importante ressaltarmos que esse tipo de proposta não está abonando um ensino de conceito “façam o que bem entenderem”, pois, como já mencionamos, deve haver uma codecisão entre alunos e professor. Ou seja, a orientação não deve ficar, exclusivamente, centrada no docente, sendo importante a soli- citação de intervenção dos alunos no processo. O enfoque nessa concepção de ensino é desenvolvido mediante ações metodológicas que priorizam situações-problema e que são organizadas para conduzir o processo de ensino-aprendizagem a um aumento no nível de complexidade dos conhecimentos abor- dados nas aulas. Tais ações são realizadas de forma participativa, em que professor e alunos interagem na resolução de problemas e no estabelecimento de temas geradores. Uma especificidade importante nessa concepção de ensino é que ele se realiza pela “subjetividade” dos participantes. Aqui entram as intenções do professor e os objetivos de ação dos alunos (Oliveira, 1997). O Grupo de Trabalho Pedagógico UFPE – UFSM (1991, p. 2), nessa mesma perspectiva, defende uma aula de Educação Física: • que procura uma ligação do aprender escolar com a vida de mo- vimento dos alunos; • que não olha para o esporte só como rendimento motor; • que considera as necessidades e interesses, medos e aflições dos alunos, e que não os reduz a condições prévias de aprendizagem motora; • que mantém o caráter de brincadeira no movimento e na forma Os conteúdos/ conhecimentos são construídos por meio de situações provocadas por estímulos, colocação de temas, problemas ou tarefas. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 42 natural dos alunos, isto é, que faça com que isso se desenvolva na discussão social; • que considera a relação entre movimento, percepção e realização; • que faça os alunos participarem do planejamento e da construção da aula. Como podemos ver, na concepção de ensino aberto, a relação professor-aluno é fundamental. Essa relação deve ser estabelecida na perspectiva de uma ação coparticipativa, como já anunciamos, que se amplia à medida que os integrantes do grupo assumem responsabilidades de forma coletiva. A avaliação considera o processo de ensino-aprendizagem como um todo, em que todas as ações do aluno são consideradas e valorizadas. Em relação aos papéis que cada um desempenhará, Hildebrandt e Laging (1986, p. 16) destacam que professor e alunos não devem ser colocados com responsabilidades idênticas diante do sistema de ensino e enfatizam a tarefa do professor: no ensino aberto, será tarefa do professor integrar em arranjos de ensino orientados para o aluno a aprendizagem de prontidões de movimento, o desenvolvimento de qualidades motoras básicas e a transmissão de conhecimentos, de tal modo que, diante da colocação de prioridades da reivindicação educacional, os alunos tenham a possibilidade de codecisão. Dessa forma, assim como no ensino fechado, no ensino aberto também há necessidade de planejamento. No entanto, tanto os planejamentos como as execuções diferem muito quanto ao aspecto qualitativo, pois o aluno deve ser visto como sujeito do ensino, ocupando posição central nesse processo. importante É fundamental também evidenciarmos os objetivos da Educação Física numa perspectiva mais comprometida com aspectos relacionados à formação para a cidadania, à qualidade de vida e ao pleno enten- dimento do que seja corpo, aquele que não apenas se movimenta, mas também se relaciona e se expressa na sociedade. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a utora is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 43 Nesse sentido, o professor deve usar métodos de ensino que possibilitem espaços de ação aos alunos e não que os prendam a padrões de comportamentos determina- dos, sendo fundamental que nas situações de ensino seja contemplado o contexto so- cial dos alunos e que eles sejam estimulados a maior espontaneidade e independência (Oliveira, 1997). Por essa razão, Hildebrandt e Laging (1986, p. 29-30, grifo do original) afirmam que a subjetivação do ensino é um princípio básico do agir pedagógico para o professor, que intenciona con- duzir o ensino em harmonia com perspectivas de objetivos como a “educação para a maturidade” ou a “promoção de capacidades de ação no esporte”. Deve ter ficado claro que o processo de ensino dos alunos será subjetivado quando os conteúdos do ensino da Educação Física forem modificados para se tornarem adequados aos alunos, isto é, preparados de modo a ocupar os alunos produtivamente de acordo com seus interesses e necessidades. Para isso são necessários, em primeiro lugar, métodos não diretivos que deem espaços de ação aos alunos e não os prendam a formas de comportamento determina- das. O aproveitamento sensato destes espaços de ação, contudo, não pode ser pressuposto pelo professor. O desdobramento; quer autônomo quer em grupo, criando determinados fatores – criati- vidade, autorresponsabilidade, entre outros – deve ser estimulado pelo professor e promovido através do processo de ensino. Sobre esse ponto de vista, o Grupo de Trabalho Pedagógico UFPE– UFSM (1991) afirma que a ação pedagógica deve, então, realizar-se considerando as crianças com seriedade e os jovens como sujeitos capazes de atuar, ampliando, então, seus conhecimentos, escalas de valores e modelos de ação. Algumas questões surgem e devem ser consideradas quando se propõe a reflexão sobre o ensino da Educação Física na escola na na concepção de ensino aberto, a relação professor-aluno é fundamental. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 44 perspectiva de uma concepção aberta à experiência. Mas aí nos perguntamos: É possível desenvolver um currículo aberto às experiências em um sistema fechado de ensino? É possível desenvolver aulas abertas de Educação Física quando o professor não quer abrir mão de seu poder de tomar todas as decisões do processo de ensino-aprendizagem? Como o professor organizaria e desenvolveria um ensino numa concepção aberta com turmas numerosas e/ou com uma carga de trabalho excessiva? Outras questões surgem: Será que a maioria dos professores não deveria repensar sobre os encaminhamentos metodológicos de suas aulas? Será que as aulas estão sendo motivantes para os alunos? Ou ocorre o contrário? Sabemos que as diretrizes gerais e os princípios pedagógicos da Educação Física escolar são traçados por órgãos como o Ministério de Educação (MEC) e as Secretarias Estaduais de Educação de cada Estado, mas cabe ao professor a responsabilidade de tornar suas aulas educativas, motivantes e prazerosas aos alunos. É preciso observar a metodologia que está sendo utilizada, considerando todos os meios e experiências possíveis. Para que a educação proporcione ao aluno o desenvolvimento da autonomia, da crítica e da capacidade de comunicação, ela não pode ser centrada na perspectiva da docência, e sim deve ser recíproca entre professores e alunos. Tudo o que for realizado durante o processo de ensino-aprendizagem deve ser refletido, or- ganizado e planejado com a participação de ambos. O aluno deve ser considerado o ponto de partida, o foco central. Deve ser visto como o sujeito do ensino, ser capacitado a dominar as situações atuais e futuras da vida por meio da aquisição de habilidades, Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 45 capacidades e competências que possibilitem a reflexão, a crítica, a auto e a codeterminação em poder-fazer. O processo de ensino-aprendizagem deve possibilitar o po- der de codecisão, assim, o aluno participará efetivamente dos caminhos didático-metodológicos do processo. O papel do pro- fessor, nessa perspectiva de ensino, é o de orientador do processo, permitindo o arranjo de situações de exercícios, ensino e aplicação. O diálogo passa a ocupar um papel importante e a principal tarefa do professor é conduzir o processo a diferentes reflexões, ideias e objeti- vos de ação dos alunos, oferecendo-lhes meios auxiliares para solução ou sugestão concreta da solução, e visualizar com o aluno novas perspectivas para a Educação Física de forma reflexiva, significativa e prazerosa. Somente com a valorização do aluno e a compreensão dele sobre o que está sendo abordado, em termos de conhecimento, é que o ensino se tornará eficaz. Durante o período da vida escolar, o aluno deve ser capaz de aprender por meio de suas próprias descobertas, sendo os con- teúdos questionados e debatidos com o objetivo de fornecer-lhes a autocompreensão, e não a repetição de ações determinadas e comandadas pelo professor. Deve ficar claro que o processo de ensino-aprendizagem será subjetivado quando os conteúdos de ensino da Educação Física forem modificados para se tornarem ade- quados aos alunos, de acordo com seus interesses e necessidades. Assim, considerando essas questões, acreditamos que as au- las abertas às experiências sejam um dos caminhos no sentido das transformações sociais, devendo ir de encontro com os objetivos de todos aqueles que buscam mudanças na Educação Física escolar. Para que a educação proporcione ao aluno o desenvolvimento da autonomia, da crítica e da capacidade de comunicação, ela não pode ser centrada na perspectiva da docência, e sim deve ser recíproca entre professores e alunos. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 46 1.2.2 Abordagem sistêmica Esta proposta ainda vem sendo elaborada por Betti, M. (1991, 1992, 1994). Esse autor levanta as primeiras considerações a respeito da abordagem denominada sistêmica em sua obra publicada em 1991. Nesses trabalhos notamos as influências de estudos nas áreas de sociologia, filosofia e, com menor ênfase, psicologia. Betti (1991) considera a teoria de sistemas um recurso concei- tual e uma forma de pensar a questão do currículo de Educação Física, trabalhando principalmente com a percepção de hierarquia. O autor entende a Educação Física como um sistema hierárquico aberto, pontuando que as instâncias que ocupam níveis superiores nessa hierarquia (Secretarias de Educação) exercem algum controle sobre as instâncias inferiores (escola). É um sistema hierárquico aberto porque sofre interferências e inferências da sociedade como um todo, ao mesmo tempo em que também a infere e a interfere (Betti, 1991). Nesta abordagem, os termos corpo e movimento são considerados como meio e fim da Educação Física escolar,sendo importante garantir essa especificidade, a qual vai ser alcançada por meio da finalidade da Educação Física na escola, que é, segundo Betti, M. (1992, p. 282-287): “integrar e introduzir o aluno de 1° e 2° graus no mundo da cultura física, formando o cidadão que vai usufruir, partilhar, produzir, reproduzir e transformar as formas culturais da atividade física (o jogo, o esporte, a dança, a ginástica…).” Para esse autor, a função da Educação Física na escola não está reduzida ao ensino de ha- bilidades motoras, embora a aprendizagem delas também deva ser tomada como um dos Betti (1991) considera a teoria de sistemas um recurso conceitual e uma forma de pensar a questão do currículo de Educação Física, trabalhando principalmente com a percepção de hierarquia. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 47 objetivos, mas não o único a ser estipulado no desenvolvimento pedagógico dessa disciplina. Betti (1991) afirma que não basta o aluno aprender a correr, jogar ou saber fazer inúmeros exercícios, sem que entenda o porquê dessa prática e quais os benefícios que vai obter com essa vivên- cia. Alguns aspectos também são destacados pelo autor, como a importância do aluno aprender a organizar-se socialmente para a prática esportiva, bem como a vivência de valores como o respeito. O autor evidencia também a necessidade da incorporação na vida cotidiana das atividades físicas e esportivas a fim de as pessoas usufruírem os padrões e valores que a cultura corporal ou de movimento oferece após séculos de civilização. Utilizando as palavras de Betti, M. (1992, p. 286), destacamos que É preciso enfim levar o aluno a descobrir os motivos para praticar uma atividade física, favorecer o desenvolvimento de atitudes positivas para com a atividade física, levar à aprendizagem de comportamentos adequados na prática de uma atividade física, levar ao conhecimento, compreensão e análise de seu intelecto de todas as informações relacionadas às conquistas materiais e espirituais da cultura física, dirigir sua vontade e sua emoção para a prática e a apreciação do corpo em movimento. Na concepção sistêmica, os conteúdos a serem desenvolvidos na escola seriam o jogo, o esporte, a dança, a ginástica, portanto, são os mesmos apontados nas demais abordagens, sendo que a diferença estaria no enfoque. Por exemplo, em relação à abordagem crítica, o essencial seria o aluno conhecer a cultura corporal, enquanto Betti (1991) prefere utilizar o termo vivência para as diversas manifes- tações da cultura “corpo em movimento”. A utilização de “vivência”, segundo o autor, tem a pretensão de destacar a necessidade da “ex- perimentação dos movimentos em situação Betti (1991) afirma que não basta o aluno aprender a correr, jogar ou saber fazer inúmeros exercícios, sem que entenda o porquê dessa prática e quais os benefícios que vai obter com essa vivência. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 48 prática”, além do “conhecimento cognitivo e da experiência afetiva advindos da prática de movimentos”. Derivam dessa abor- dagem, principalmente, dois princípios: o da não exclusão e o da diversidade. O primeiro, considerado o mais importante, ressalta que ne- nhuma atividade pode excluir qualquer aluno das aulas de Educação Física, devendo ter por objetivo garantir o acesso de todos no processo de ensino-aprendizagem. O princípio da diversidade propõe que a Educação Física na escola proporcione atividades da cultura corporal diferenciadas, possibilitando assim um maior conhecimento, sendo de fundamental importância para o uso do tempo livre e de lazer, oportunizando o alcance da cidadania. Concordamos com Betti (1991) em relação à importância de o professor considerar esses princípios no desenvolvimento do trabalho pedagógico, pois, dessa forma, todos teriam as mesmas oportunidades de aprendizagem e um conhecimento ampliado a respeito da cultura corporal de movimento, o que possibilitaria ao aluno usufruir dele fora do ambiente escolar. 1.2.3 Abordagem crítico-superadora Essa proposta é fundamentada na perspectiva da pedagogia histórico-crítica e utiliza o discurso da justiça social como ponto de apoio. Com seus pressupostos no marxismo e no neomarxismo, recebeu, na Educação Física, grande influência de educadores como Libâneo e Saviani. De acordo com o Coletivo de Autores (1992), a pedagogia crítico-superadora se caracteriza numa pedagogia emergente e busca responder a determinados interesses de classe, além de sugerir questões de poder, interesse, esforço e contestação. Os autores acreditam que qualquer consideração mais apro- priada sobre a pedagogia deve tratar não somente de questões como ensinar, mas também de como nos apropriamos dos Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 49 conhecimentos, dando importância às questões da contextu- alização dos fatos e do resgate histórico (Coletivo de Autores, 1992). Também expõem e discutem questões teórico-metodo- lógicas da Educação Física, considerando-a uma “disciplina es- colar que trata, pedagogicamente, temas da cultura corporal.” (Coletivo de Autores, 1992). Nessa proposta, o objeto da área de conhecimento da Educação Física é a cultura corporal, que se concretiza nos seus diferentes temas, como o esporte, a ginástica, os jogos, as lutas, a dança, as acrobacias, a mímica e outros. É nessa perspectiva que apreen- demos que o objetivo principal é a busca da construção histórica dos conteúdos numa abordagem sociopolítico-econômica, na qual, complementando o que já mencionamos antes, as capacidades e habilidades motoras são consideradas, mas não como objetos centrais da tematização do conhecimento da Educação Física no contexto escolar. importante Os temas da cultura corporal são entendidos como conhecimentos que constituem o conteúdo da Educação Física que, nessa proposta, é sistematizado e organizado em ciclos da seguinte forma: pri- meiro ciclo – da organização da identidade dos dados da realidade (da educação infantil a 3ª série do ensino fundamental); segundo ciclo – da iniciação à sistematização do conhecimento (da 4ª a 6ª série do ensino fundamental); terceiro ciclo – da ampliação da sistematização do conhecimento (da 7ª a 8ª série do ensino fun- damental); quarto ciclo – do aprofundamento da sistematização do conhecimento (1ª, 2ª e 3ª séries do ensino médio). Os autores propõem que os temas sejam tratados de forma historicizada, de maneira a ser apreendido em seus movimentos contraditórios (Coletivo de Autores, 1992). Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al.50 A perspectiva crítico-superadora propõe uma reflexão pedagógica a respeito dos conheci- mentos da Educação Física que serão temati- zados nas aulas, a qual possui algumas carac- terísticas específicas: é diagnóstica, judicativa e teleológica. Diagnóstica, porque remete à constatação e leitura de dados da realidade, os quais necessi- tam de interpretação, isto é, de um julgamento sobre eles. Aquele que os interpreta, sendo um sujeito pensante, emite um juízo de valor que depende da perspectiva de classe de quem julga, porque os valores são diferenciados nos contornos de uma sociedade formada por classes sociais distintas. Segundo o Coletivo de Autores (1992, p. 25, grifo do original), “a reflexão pedagógica é judicativa, porque julga a partir de uma ética que representa os interesses de determinada classe social”. E, enfim, segundo esses mesmos autores, a reflexão pedagógica é teleológica porque determina um ponto em que se deseja che- gar, isto é, busca uma direção, que poderá ser conservadora ou transformadora, sendo que a perspectiva de classe daquele que reflete será determinante nesse sentido. Assim sendo, a reflexão pedagógica é entendida como sendo um projeto político-pedagógico, pois encaminha propostas de intervenção em determinada direção e possibilita uma reflexão sobre a ação dos homens na realidade, explicitando suas determi- nações. […] O currículo capaz de dar conta de uma reflexão peda- gógica ampliada e comprometida com os interesses das camadas populares tem como eixo a constatação, a interpretação, a compre- ensão e a explicação da realidade social complexa e contraditória. Isso vai exigir uma organização curricular em outros moldes, de forma a desenvolver uma outra lógica sobre a realidade, a lógica dialética, com a qual o aluno seja capaz de fazer uma outra leitura. Nessa proposta, o objeto da área de conhecimento da Educação Física é a cultura corporal, que se concretiza nos seus diferentes temas, como o esporte, a ginástica, os jogos, as lutas, a dança, as acrobacias, a mímica e outros. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 51 Nesta forma de organização curricular se questiona o objeto de cada disciplina ou matéria curricular e coloca-se em destaque a função social de cada uma delas no currículo. Busca situar a sua contribuição particular para a realidade social e natural no nível do pensamento/reflexão do aluno. Isso porque o conhecimento matemático, geográfico, artístico, histórico, linguístico, biológico ou corporal expressa uma determinada dimensão da “realidade” e não a sua totalidade. (Coletivo de Autores, 1992, p. 28) O aluno, ao ser capaz de articular os diferentes conhecimentos e elaborar uma síntese, adquire uma visão de totalidade. Dessa forma, o currículo obtém legitimidade e possibilita ao educando verificar, compreender e explicar a realidade mediante a aquisição do conhecimento científico universal sistematizado pelas diferen- tes áreas do conhecimento. Nessa concepção, alguns princípios curriculares norteiam o conhecimento a ser tratado na escola, bem como a seleção dos conteúdos, entre eles: a relevância social, contemporaneidade, a adequação às possibilidades sociocognos- citivas do aluno e a simultaneidade como dados da realidade, a espiralidade da incorporação das referências do pensamento e a provisoriedade do conhecimento (Coletivo de Autores, 1992). O princípio da relevância social diz respeito ao significado do conteúdo para a reflexão pedagógica na escola. Ele deve estar relacionado ao entendimento da realidade social concreta, bem como possibilitar o entendimento dos determinantes sociais e históricos, especificamente a condição de classe social do aluno. De acordo com o Coletivo de Autores (1992), esse princípio está relacionado ao da contemporaneidade do conteúdo, o qual se refere à garantia de que o aluno terá acesso a conhecimentos mais atu- alizados possíveis, ficando assim informado sobre o que acontece no seu país e no mundo, como também sobre os avanços científicos e tecnológicos. O aluno, ao ser capaz de articular os diferentes conhecimentos e elaborar uma síntese, adquire uma visão de totalidade. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 52 Outro princípio curricular é o de adequação às possibilidades sociocognoscitivas de cada um. O professor deverá ter a com- petência para adequar o conteúdo “à capacidade cognitiva e à prática social do aluno, ao seu próprio conhecimento e às suas possibilidades enquanto sujeito histórico” (Coletivo de Autores, 1992, p. 31). Como princípio curricular para a seleção dos conteúdos, é destacado o da simultaneidade como dados da realidade. Isso significa que os conteúdos de ensino deverão ser organizados e apresentados aos alunos de maneira simultânea, explicitando a relação que mantêm entre si e objetivando o desenvolvimento da compreensão de que são dados da realidade que não podem ser pensados nem explicados isoladamente. Dessa forma, o que determinaria o encaminhamento didá- tico-metodológico das unidades num planejamento seriam a amplitude dos conhecimentos e seu referencial teórico científico, pois o processo de ensino-aprendizagem que envolve a obtenção de diferentes conhecimentos não se dá por etapas, vai sendo elaborado e ampliado pelos alunos por meio da mediação peda- gógica do professor. Assim, há uma ruptura com a linearidade com que é tratado o conhecimento na escola, o que remete a outro princípio curricular para a organização dos conteúdos, o da es- piralidade da incorporação das referências do pensamento. Isso significa compreender diferentes formas de organizar as referências do pensamento sobre o conhecimento para, assim, ampliá-las. Cabe destacar também o princípio da provisoriedade do conhecimento, que norteia a organização e a sistematização dos conteúdos e desfaz a ideia de que estes são terminais, isto é, finitos e acabados (Coletivo de Autores, 1992). O que determinaria o encaminhamento didático-metodológico das unidades num planejamento seriam a amplitude dos conhecimentos e seu referencial teórico científico. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 53 De acordo com essa perspectiva de ensino, as séries, turmas ou ciclos não se organizam por etapas. Ao ser introduzido o modelo dos ciclos, a referência às séries não é abandonada; busca-se, então, construir pouco a pouco as condições para que o atual sistema de seriação seja totalmente superado. Na perspectiva crítico-superadora, a pre- sença dos conhecimentos das diferentes disciplinas no currículo da escola, entre os quais os da Educação Física, somente serão justificados se contribuírem para que o aluno adquira condições de realizar uma leitura do contexto social na sua totalidade, bem como também seja capaz de identificar seus problemas, interpretando e estabelecendo comparações, questionando,intervindo e buscando superar os obstáculos com os quais se depara na realidade. Embora exista um esforço no sentido de implementar as ideias defendidas por essa concepção, pouco tem sido feito na prática da Educação Física escolar. Algumas críticas são tecidas nesse sentido por Resende (1994, p. 34), adepto dessa abordagem. Esse autor afirma que “os que defendem os pressupostos da perspec- tiva dialética ou histórico-crítica ainda não deram contribuições relevantes no sentido da elaboração didático-pedagógica, de modo a subsidiar a prática educativa”. 1.2.4 Abordagem crítico-emancipatória O trabalho de maior relevância que fundamenta a perspectiva crítico-emancipatória tem como autor o professor Elenor Kunz (1994), que indica uma reflexão sobre o ensino dos esportes pela sua transformação didático-pedagógica. Tal pressuposto significa possibilitar uma educação por intermédio do desenvolvimento do esporte na escola, contribuindo para que crianças e jovens “os que defendem os pressupostos da perspectiva dialética ou histórico-crítica ainda não deram contribuições relevantes no sentido da elaboração didático- pedagógica, de modo a subsidiar a prática educativa” (Resende, 1994, p. 34). Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 54 adquiram uma reflexão crítica a respeito do conhecimento da cultura corporal. O autor aponta uma concepção de movimento denominada dia- lógica, o que significa que o movimento humano é uma forma de comunicação com o mundo. O indivíduo é considerado capaz de crítica e de atuação autônomas. A referida proposta indica que a abordagem dos conhecimentos da cultura do movimento deve ser desenvolvida de maneira que os alunos adquiram a capacidade de agir de forma crítica nesse campo. Essa cultura de movimento é pró- pria do homem e é objeto da Educação Física, estando nela incluídas todas as atividades do movimento humano, entre elas, o esporte. Kunz (1994) aponta uma concepção diferenciada, principal- mente para o ensino dos esportes em nível escolar, que se caracteriza como didático-comunicativa. A principal crítica do autor está direcionada à racionalização do esporte em relação a padrões de movimentos realizados de forma isolada das vivências pessoais e emocionais daquele que o pratica. O referido autor faz também uma contraposição ao conceito de cultura corporal do Coletivo de Autores (1992), afirmando que este traduz a existência de uma dualidade entre cultura intelectual e cultura corporal, à medida que especifica essa cultura como corporal. Ou seja, para Kunz (1994), não existe cultura que não seja corporal, já que se movimentar seria uma especificidade dessa cultura. Kunz (1994), ao defender uma abordagem crítico-emancipatória para o ensino da Educação Física na escola, afirma que ela não aponta apenas para uma discussão sobre a intencionalidade daquele que pratica o esporte, mas sim para uma educação escolar que forme sujeitos livres e emancipados, que intencione desenvolver compe- tências humanas de comunicação, de interação social e objetiva. A defesa desse autor é a favor de um ensino crítico pelo qual os alunos poderão compreender a estrutura autoritária dos pro- cessos institucionalizados. Assim, a tarefa da educação crítica é Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 55 promover condições para que essas estruturas autoritárias se- jam suspensas e o ensino encaminhe o aluno no sentido de uma emancipação possibilitada pelo uso da linguagem (competência humana de comunicação). A linguagem é a essência do processo de comunicação entre as pessoas, é a forma de expressão de entendimento do mundo social e possibilita às pessoas participarem das de- cisões nos diferentes segmentos da sociedade. Permite ainda que o indivíduo aja de acordo com as situações e condições do grupo social a que pertence, bem como conforme o trabalho e o esforço de conhecer, desenvolver e se apropriar da cultura. Na concepção crítico-emancipatória são apontadas orientações didáticas, nas quais, segundo Darido (2001), o papel do professor seria o de confrontar, num primeiro momento, o aluno com a rea- lidade do ensino, ou seja, promover a “transcendência de limites”. Assim, o ensino, genuinamente, pressupõe três fases: na primeira, os alunos descobrem, pela própria experiência manipulativa, as formas e os meios para uma participação bem-sucedida em ati- vidades de movimentos e jogos; na segunda, manifestam o que experimentaram e o que aprenderam numa forma de exposição, podendo utilizar, para tanto, a linguagem ou a representação cê- nica; na terceira e última fase, os alunos devem formular perguntas, sobre suas aprendizagens e descobertas, sendo a finalidade maior entender o significado cultural da aprendizagem (Darido, 2001). 1.2.5 Abordagem dos Parâmetros Curriculares Nacionais: a Educação Física nos anos finais do ensino fundamental A elaboração dos PCN (Brasil, 1998b) resulta de um projeto do Ministério da Educação e do Desporto, que mobilizou um grupo Para Kunz (1994), não existe cultura que não seja corporal, já que se movimentar seria uma especificidade dessa cultura. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 56 de educadores para realizá-lo. Eles sugerem uma proposta para nortear o trabalho pedagógico nas escolas nacionalmente, por isso acreditamos ser importante destacar e analisar os principais aspectos tratados nesse documento. Os PCN* (Brasil, 1998b) apontam e sugerem diretrizes para o encaminhamento da Educação Física na escola. Em 1997, foram publicados os documentos referentes às séries iniciais do ensino fundamental; em 1998, àqueles relativos às séries finais do ensino fundamental; e em 1999, os referentes ao ensino médio. A principal intenção da elaboração de tais documentos foi subsi- diar a elaboração ou a revisão curricular dos estados e municípios, dialogando com as propostas e experiências já existentes, incen- tivando a discussão pedagógica interna das escolas e a elaboração de projetos educativos, assim como servir de material de reflexão para a prática de professores (Costa; Mendes; Diniz, 2002). Foram organizados tendo como base um documento intro- dutório, os temas transversais** e documentos que abordam a especificidade de cada uma das diferentes áreas ou componentes curriculares da escola. Na área da Educação Física, para os últimos anos/séries do ensino fundamental, os PCN (Brasil, 1998b) apresentam alguns avanços e algumas possibilidades importantes para a disciplina. Uma parte dessas ideias já era delineada nos trabalhos de al- guns autores brasileiros, em discussões acadêmicas, bem como no trabalho de alguns professores da rede escolar de ensino. A importância do referido documento dá-se na medida em que * Nos PCN, a terminologia utilizada para as fases de escolarização do ensino fundamental é a seguinte: para as séries iniciais, 1º e 2º ciclos; para as séries finais, 3º e 4º ciclos.A partir deste ponto na obra, adotaremos como termos para a referência ao ensino fundamental o seguinte: séries iniciais ou 1º a 5º ano/série e séries finais ou 6º a 9º ano/série. ** Os temas denominados transversais aparecem nos PCN e devem ser tematizados por todas as disciplinas na escola. Tal abordagem é justificada pela necessidade de se considerar, no contexto da escola, os temas que envolvem problemas sociais e tratá-los. A abordagem e a discussão desses assuntos irão contribuir na formação integral do aluno, a fim de que possa exercer sua cidadania de forma plena. Como temas, são sugeridos: ética, saúde, meio ambiente, pluralidade cultural, orientação sexual, trabalho e consumo. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 57 auxiliou na organização desses conhecimentos, articulando-os nas suas várias dimensões. A divisão dos PCN se dá em duas partes. A primeira apresenta os princípios e as características da área de Educação Física no ensino fundamental, na qual são evidenciadas as influências, as tendências e o quadro atual dessa disciplina na escola. A proposta indica a cultura corporal de movimento como o objeto de estudo da área da Educação Física, relacionando-o com os temas transversais. Apresentam também, de forma geral, as- pectos* conceituais, atitudinais e procedimentais relacionados à metodologia, conteúdos, objetivos e avaliação. A segunda parte detalha os critérios para a seleção de conteúdos em relação aos conhecimentos da cultura corporal de movimento, os objetivos, a metodologia, a avaliação e as orientações didáticas para o en- sino da Educação Física nas séries finais do ensino fundamental. Em relação aos objetivos gerais para o ensino fundamental, percebemos a ênfase no convívio social, particularmente nos objetivos da Educação Física, a prevalência de formação de valores, atitudes, habilidades e competências, e também daqueles voltados para a integração entre pessoas e grupos e para o reconhecimento da diversidade de padrões de beleza, saúde e desempenho. Quando se faz a análise dos objetivos da Educação Física, é possível perceber a amplitude das abordagens sugeridas nos PCN (Brasil, 1998b), pois estas tanto apontam para uma dimensão crítica em relação à prática da atividade física – na busca do corpo perfeito e padrões de beleza – quanto elenca seus benefícios, advindos da prática regular, para a saúde das pessoas. * De acordo com Coll et al. (2000), os conteúdos são apresentados segundo sua categoria conceitual (fatos, princípios e conceitos) e remetem a aprender o saber procedimental (habilidades e competências produtivas), que é ligado ao aprender a fazer – pesquisar, redigir, construir, jogar, correr, sacar etc. –, e o saber atidudinal (normas, valores e atitudes), relacionado ao aprender a ser e conviver, o que permite a identificação mais precisa das interações educativas, transformando- se nas expectativas de aprendizagem. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 58 Apesar de a integração do aluno na esfera da cultura corporal de movimento ser apontada como finalidade maior da Educação Física na escola, existe, de certa forma, um ecletismo nos meios que devem ser considerados para o alcance de tal intento. Tal ecletismo é percebido no texto quando os termos cultura corporal e cultura corporal de movimento são utilizados como se tivessem o mesmo significado. Rodrigues (2002, p. 139) faz referência a esse ecletismo e explica que “O que existe é uma justaposição de ideias (característica do ecletismo), como se estas abordagens tivessem se constituído a partir de consensos de visões de sociedade, educação, educação física, e todas trazendo avanços para a área, contribuindo com a formação de um homem integral.” Relembramos aqui alguns aspectos que são muito significativos na proposta apontada pelos PCN (Brasil, 1998b), sendo de extrema relevância que sejam buscados dentro de um projeto pedagógico, de melhoria da qualidade de vida, tais como: o princípio da in- clusão, as dimensões dos conteúdos (conceituais, atitudinais e procedimentais) e os temas transversais. Quanto ao primeiro aspecto – o princípio da inclusão –, a pro- posta destaca uma Educação Física dirigida a todos os alunos, sem discriminação. Evidencia também a importância da articulação entre aprender a fazer e saber por que se está fazendo, relacio- nando e explicitando as dimensões dos conteúdos nos aspectos procedimental, conceitual e atitudinal, respectivamente. Os temas transversais podem ser considerados o aspecto inovador apontado nos PCN (Brasil, 1998b), na medida em que possibilita a reflexão, a abordagem e a discussão de problemas da sociedade brasileira, não só aqueles ligados à cultura corporal de movimento, que devem ser tematizados pela disciplina da Educação Física, como também aqueles tratados pelas demais áreas do conheci- mento na escola. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 59 Dessa forma, por exemplo, alguns conteúdos relacionados com o esporte podem ser abordados para além de suas técnicas e táticas, entre eles, o esporte espetáculo, o consumo dos produtos espor- tivos, o doping dos atletas e jogadores profissionais, entre outros. Portanto, assuntos considerados polêmicos devem ser tratados no contexto da escola, pela disciplina da Educação Física, visando à reflexão crítica sobre problemas que atingem a sociedade. Estes devem ser abordados nas aulas, sem, no entanto, perder de vista o papel maior da disciplina, que é o de integrar o cidadão na esfera da cultura corporal de movimento. Os conteúdos específicos da Educação Física a serem abordados nas aulas, apontados nos PCN (Brasil, 1998b), aparecem divididos em três blocos de conhecimentos/conteúdos: esportes, jogos, lutas e ginásticas (primeiro bloco), atividades rítmicas e expressivas (segundo bloco) e conhecimentos sobre o corpo (terceiro bloco). O desenvolvimento sugerido para os conteúdos, nas séries finais do ensino fundamental, deve considerar um aprofundamento que amplie as experiências dos alunos per- passando vários níveis de competências existentes nos grupos trabalhados, partindo do mais simples para o mais complexo e específico ao longo dos ciclos, entretanto não se explicitam as diferenças que caracterizariam os saltos de um ciclo para o outro. (Rodrigues, 2002, p. 137) Os referidos blocos servem de referência para a organização do trabalho pedagógico da Educação Física escolar. Acreditamos que outros aspectos devem ser considerados na abordagem desses blocos, como os da corpo- reidade, da cidadania, da saúde e da qualidade de vida; assim, o conhecimento será tratado de forma contextualizada e significativa. A organização dos conteúdos é sugerida e vinculada a conceitos, procedimentos e Alguns conteúdos relacionados com o esporte podem ser abordados para além de suas técnicas e táticas, entre eles, o esporte espetáculo, o consumo dos produtosesportivos, o doping dos atletas e jogadores profissionais, entre outros. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 60 atitudes. Nessa organização existe a preocupação com a vivên- cia do movimento, mas também com a aquisição das habilidades específicas dos diferentes componentes da cultura corporal, bem como com a reflexão dos seus aspectos histórico-sociais, técnicos e táticos. Por um lado, são elencadas muitas sugestões de estra- tégias e experiências didáticas e há uma ênfase aos aspectos de prescrição; por outro, os aspectos conceituais são tratados de forma muitas vezes superficial. Percebemos um ecletismo na discussão que os PCN (Brasil, 1998b) efetivam sobre o objeto de estudo da Educação Física cha- mado de cultura corporal de movimento. Há uma tentativa, de certa forma, de aliar denominações feitas por outros autores, como, por exemplo, cultura de movimento, defendida pela perspectiva crítico- -emancipatória (Kunz, 1994), ao conceito de cultura corporal, da perspectiva crítico-superadora (Coletivo de Autores, 1992). O referido documento elenca conceitos para a área da Educação Física numa perspectiva crítica e apresenta alguns princípios da pedagogia crítico-superadora de forma equívoca e pouco apro- fundada, não fazendo, muitas vezes, referência a essa abordagem. Finalizando, afirma que a Educação Física é entendida como a área que trata da cultura corporal de movimento. Não existe uma análise crítica em relação às abordagens da área destacadas nos PCN (Brasil, 1998b), pois não são mencionadas as concepções de sociedade, educação e escola que as fundamentam. O que há é uma sobre- posição de ideias, como se essas abordagens tivessem se formado pela consonância de visões de sociedade, educação, Educação Física, e todas contribuindo com a formação de um homem integral. Nos PCN (Brasil, 1998b) são apontados alguns princípios que subsidiam a proposta para a área da Educação Física. São eles: inclusão, integração, diversidade, aprender a aprender e convívio A organização dos conteúdos é sugerida e vinculada a conceitos, procedimentos e atitudes. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 61 social. Tais princípios podem ser relacionados, de certa forma, com o que é destacado no Relatório Delors (Delors, 1999)* a respeito da Educação necessária para o novo milênio. O referido relatório evidencia que, para a educação poder dar respostas ao conjunto de suas incumbências, deve se constituir em torno de quatro aprendizagens fundamentais, que serão para cada pessoa os pilares do conhecimento: adquirir os instrumen- tos da compreensão (aprender a conhecer); poder atuar sobre o meio onde está inserido (aprender a fazer); participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas (aprender a viver juntos); e aprender a ser, a via fundamental que integra os três antecedentes. Essas instâncias do conhecimento formam uma única, pois existem entre elas vários pontos de relação e de troca. A Comissão Internacional, responsável pela elaboração do Relatório Delors (Delors, 1999), destaca que, geralmente, a escola valoriza prioritariamente o aprender a conhecer. Numa sequência, em grau de importância, segue o aprender a fazer; após, os demais, aprender a ser e aprender a viver juntos, que, na maioria das vezes, dependem de situações ocasionais. O que é defendido no Relatório é que cada um dos “quatro pilares do conhecimento” deve ser objeto de atenção de forma igualitária por parte do ensino estruturado, objetivando que o indivíduo, como pessoa e membro da sociedade, tenha uma educação global e para toda a vida. Portanto, o conhecimento deve ser valorizado e vivenciado tanto no plano cognitivo como no prático. * Também conhecido como Relatório Jacques Delors, foi iniciado em março de 1993 e concluído em setembro de 1996. Elaborado pela Comissão Internacional sobre a Educação para o Século xxI, foi coordenado por Delors para a Unesco. À sua elaboração precedeu um exercício de reflexão, identificando-se tendências e auscultando-se necessidades no cenário de incertezas e hesitações que se apresenta. No Relatório são defendidas teses da educação básica à universidade, as quais devem estar voltadas essencialmente para o desenvolvimento humano. Nos PCN (Brasil, 1998b) são apontados alguns princípios que subsidiam a proposta para a área da Educação Física. São eles: inclusão, integração, diversidade, aprender a aprender e convívio social. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 62 O pilar aprender a fazer, apontado para as reformas educacio- nais (Delors, 1999), destaca como prioridade aspectos relaciona- dos à experiência, ao fazer, ao desenvolvimento de habilidades e competências. Observamos que, no contexto escolar, a disciplina de Educação Física dá ênfase ao fazer, a esse agir corporalmente. Portanto, os alunos aprendem por meio das experiências corporais, desenvolvendo habilidades e competências tanto motoras como cognitivas, afetivas e sociais. Nos PCN, “O convívio social é o princípio que mais recebe ên- fase no tratamento das finalidades da educação física na escola, e pressupõe a mesma lógica dos princípios de integração e de inclusão.” (Rodrigues, 2002, p. 139). Logo, aprender a viver juntos pode ser relacionado a um dos pilares apontados no Relatório Delors como fundamental no processo educativo. O objeto de estudo da Educação Física considerado nos PCN (Brasil, 1998b) é a cultura corporal de movimento determinada pela intenção do praticante, que poderá ter um caráter lúdico ou utilitário. Dessa forma, os diferentes conhecimentos são conside- rados representações corporais de diversos aspectos da cultura humana e são componentes de ação e reflexão da área. Destacamos a crítica presente nos PCN (Brasil, 1998b) em re- lação à aptidão física, com base na afirmação de que a origem da prática da Educação Física é pautada nas concepções militar e médica, cuja finalidade maior seria a manutenção dos interesses da sociedade da época. Tal configuração contribuiu para que, na área, os conceitos de corpo e movimento ficassem reduzidos aos seus aspectos fisiológicos e técnicos, tanto nas questões práticas como em relação à reflexão teórica. “No entanto, é necessário superar a ênfase na aptidão física para o rendimento padronizado, decorrente Nos PCN, “O convívio social é o princípio que mais recebe ênfase no tratamento das finalidades da educação física na escola, e pressupõe a mesma lógica dos princípios de integração e de inclusão.” (Rodrigues, 2002, p. 139). Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 doC ód igo P en al. 63 deste referencial conceitual, e caracterizar a Educação Física de forma mais abrangente, incluindo todas as dimensões do ser hu- mano envolvidas em cada prática corporal” (Brasil, 1998b, p. 29). Dessa forma, a Educação Física escolar deve priorizar uma abordagem pedagógica mais ampla, de maneira que o acervo da cultura corporal de movimento seja desenvolvido, consi- derando-se seus aspectos de comunicação, expressividade de sentimentos, de lazer e de saúde; e que seus objetivos tenham uma dimensão diferenciada daqueles direcionados numa pers- pectiva profissional, sendo acima de tudo fonte de conhecimento e informação para os alunos. Deve ser garantido o acesso de todos os alunos nas aulas de Educação Física, no intuito de terem possibilidades de diferentes vivências, a fim de que construam um estilo pessoal para a prática das atividades físicas e esportivas, adquiram um sentimento de ligação com o grupo e obtenham instrumentos para que possam apreciar essas atitudes de forma crítica. Cabe destacarmos que, embora a abordagem dos PCN (Brasil, 1998b) aponte para uma concepção crítica da Educação Física como disciplina curricular na escola, essa abordagem é bastante diferenciada daquela elencada na perspectiva crítico-superadora, pois, para ela, os conhecimentos da cultura corporal devem con- tribuir para que o aluno possa fazer a leitura da realidade em sua totalidade, enquanto que para a primeira o conhecimento na escola se justifica pelo sentido utilitário de gerar um sentimento no educando de pertencer a um grupo. O discurso de uma educação física inclusiva, integrada, participa- tiva, crítica e preocupada com a formação para a cidadania pode parecer um avanço para a área, pelo menos do ponto de vista da orientação governamental e da legislação, que superaria os aspec- tos excludentes e discriminatórios característicos do paradigma da aptidão física. Neste caso, válido oficialmente desde a década de 1970, quando, em consonância com as políticas educacionais Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 64 da época, vinculava-se à formação técnico-profissional restrita. (Rodrigues, 2002, p. 143) Fazendo uma análise, é possível observarmos que a preleção sobre a função social da Educação Física, de certa forma, foi atualizada, assim como a concepção de escola e das demais disciplinas curriculares. Assim sendo, perce- bemos que os conceitos foram modificados de acordo com a reforma educacional, mas as re- lações que os dissimulam não foram alteradas. Em relação a essa questão, temos, por exemplo, o conceito de cidadania, que indica a formação de um indivíduo autônomo, res- ponsável, participativo e racional, que apa- rentemente tem um discurso emancipatório, mas que, na realidade, indica pressupostos que são componentes da competição e do mérito individual, pois tais habilidades são necessárias para a adaptação do sujeito na atual demanda do mercado de trabalho. Embora os PCN (Brasil, 1998b) apresentem limitações, reconhe- cemos sua contribuição e consideramos a superação da realidade da prática pedagógica por meio das possibilidades que o trabalho educativo pode assumir, na medida em que é desenvolvido na perspectiva de uma práxis educativa. Nesse sentido, a educação e a Educação Física são práticas sociais, e como tal, são tanto constituídas das determinações e relações sociais como também as constituem. Dessa forma, o trabalho desenvolvido na escola é permeado por valores, concepções e objetivos daqueles que são responsáveis pela sua realização. Assim, nessa perspectiva, os PCN (Brasil, 1998b) podem ser utilizados como ponto de partida para a reflexão sobre A Educação Física escolar deve priorizar uma abordagem pedagógica mais ampla, de maneira que o acervo da cultura corporal de movimento seja desenvolvido, considerando-se seus aspectos de comunicação, expressividade de sentimentos, de lazer e de saúde. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 65 compromissos e prioridades cumpridos pela prática pedagógica da Educação Física e da escola, devendo ser analisados criti- camente. Deve haver um diálogo crítico entre o que o referido documento aponta, o conhecimento produzido historicamente nas diversas áreas e a prática pedagógica da Educação Física, devendo ser levadas em conta as contradições da realidade social. 1.3 Algumas considerações sobre as abordagens pedagógicas As abordagens pedagógicas que destacamos apontam para con- cepções diferenciadas em relação à Educação Física escolar, mas têm em comum o objetivo de romper com o paradigma anterior, o da aptidão física e do rendimento, bem como de buscar uma prática pedagógica que contemple as múltiplas dimensões do ser humano. Essas abordagens resultam do diálogo entre diferentes teorias psicológicas, sociológicas e concepções filosóficas. Todas têm contribuído para ampliar os campos da ação e reflexão na área da Educação Física, aproximado-a das ciências humanas. Essas concepções representam importantes avanços em rela- ção ao paradigma que se tinha anteriormente à Educação Física escolar e contribuíram na construção de um referencial teórico- -científico a fim de subsidiar o trabalho pedagógico dessa área de conhecimento, desenvolvido na escola, bem como no levantamento de questões para que sejam discutidos novos encaminhamentos para a efetivação de um trabalho docente mais compromissado com as questões sociais. A abordagem que aponta para uma concepção de ensino aberto à experiência contribuiu no sentido de mostrar outras possibilidades metodológicas para o trabalho da Educação Física no contexto da escola. Evidencia um ensino não só voltado para o aluno, mas também para sua efetiva participação na organização Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 66 e na elaboração do trabalho pedagógico a ser desenvolvido. Dessa forma, o aluno teria um envolvimento de parceria na tomada de decisões em relação à sua própria aprendi- zagem. Entendemos que o envolvimento do aluno na tomada de decisões do processo de ensino-aprendizagem poderá contribuir efetivamente para o desenvolvimento de sua responsabilidade e autonomia, competências necessárias para sua atuação como cidadão. A abordagem sistêmica parece não ter sido amplamente discutida e divulgada na mesma proporção das demais, tanto nos meios aca- dêmicos como profissionais. Apesar de ainda estar em fase de elaboração, alguns pressupostos são bastante significativos, como o de procurar esclarecer os valores e as finalidades da Educação Física na escola, bem como propor princípios como a não exclusão do aluno e a diversidade dos conteúdos, os quais são apontados como fundamentais para nortear o desenvolvimento do trabalho pedagógico. Concordamos com Betti (1991), em relação a esses pressupostos, que o professor de Educação Física é o principal mediador do processo deensino-aprendizagem. Dessa forma, ele deve ter claro em quais valores fundamenta o seu trabalho e quais finalidades e objetivos apregoa no seu fazer pedagógico na escola, devendo ter como preocupação maior a inclusão de todos no processo, priorizando a diversificação dos conteúdos e ampliando, dessa forma, tanto o acesso ao conhecimento como as oportunidades de aprendizagem dos alunos. A abordagem crítico-superadora (Coletivo de Autores, 1992) evidencia a importância tanto da Educação Física como da edu- cação. De modo geral, as duas contribuem, por intermédio do desenvolvimento do trabalho pedagógico escolar, para que as mudanças sociais venham a ocorrer, diminuindo, dessa forma, As abordagens pedagógicas que destacamos apontam para concepções diferenciadas em relação à Educação Física escolar, mas têm em comum o objetivo de romper com o paradigma anterior, o da aptidão física e do rendimento. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 67 as desigualdades sociais. Embora sejam objetivos fundamentais e importantes de serem partilhados por todos os educadores, acreditamos que, para se buscar o alcance destes, é necessário o envolvimento da escola como um todo na organização e na efetivação de um trabalho coletivo e comprometido. Apesar de ser uma abordagem bastante divulgada nos meios acadêmicos, percebemos que, embora a maioria dos professores nas escolas tenha conhecimento sobre os seus pressupostos básicos, faltam- -lhes elementos para trabalharem com essa abordagem na prática concreta. Em relação à abordagem crítico-emancipatória de Kunz (1994), dois aspectos são fundamentais e devem ser destacados. O primeiro refere-se à preocupação com a emancipação do aluno tendo como base as aulas de Educação Física, nas quais, por meio de um ensino crítico, poderá aprender a analisar e questionar a realidade, cons- truindo seus próprios conceitos na busca de uma sociedade mais justa. O segundo aspecto seria a preocupação com a construção de propostas práticas, possíveis de serem desenvolvidas e que possam contribuir para o atendimento dos objetivos estabelecidos para o desenvolvimento do trabalho pedagógico. Vemos essa proposta como uma importante contribuição, princi- palmente em relação à abordagem do esporte na escola, pois ela aponta outros encaminhamentos metodológicos, evidenciando seus valores e mostrando a relevância da abordagem desse fe- nômeno social de uma forma crítica e significativa, vindo assim a contribuir para a emancipação do aluno como cidadão. Em muitos aspectos, a abordagem indicada nos PCN (Brasil, 1998b) é multifacetada, pois aponta possibilidades para o desen- volvimento da Educação Física escolar bastante diversas, incluindo questões relacionadas à saúde e ao lazer, como a reflexão crítica dos problemas da sociedade, que são emergentes e precisam de Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 68 soluções. Acreditamos que aspectos significativos relacionados à abordagem do conhecimento são apontados nos PCN, como: a observação de outras dimensões, a serem consideradas as conceituais e as atitudinais para além da procedimental, que corresponde ao fazer, realizar as atividades físicas e esportivas por meio do movimento – aspecto este predominante, muitas vezes, nas au- las de Educação Física; e os temas transversais, que possibilitam a reflexão necessária dos problemas da sociedade brasileira, que podem ser discutidos fundamentados no conhecimento relacio- nado aos temas da cultura corporal de movimento. Estes não se referem à criação de novas áreas do conhecimento, mas a objetivos e conteúdos que devem ser incorporados nas áreas já existentes como pertinentes a todas elas. O mundo hoje requer cidadãos que tenham não só conheci- mentos, mas também que saibam como utilizá-los em benefício de si e dos outros, e que tenham desenvolvido ainda as mais diversas habilidades, capacidades e competências. A escola, como instituição formal de ensino, deve oportunizar espaços e condições para que isso possa ser efetivado. Portanto, por meio de um projeto político diferenciado, a escola poderá buscar a formação do aluno como ci- dadão, para que ele possa atuar na sociedade de forma que venha contribuir na sua me- lhoria. Esse princípio deve estar presente no desenvolvimento das atividades pedagógicas curriculares cotidianas de todas as disciplinas, entre elas a Educação Física. Nesse sentido, é preciso substituir as certe- zas dos saberes pré-fixados, isto é, os conceitos de saúde, qualidade de vida e cidadania, nos quais, muitas vezes, sem reflexão, apoiamos o trabalho que de- senvolvemos na escola, na área da Educação Física. Precisamos questionar, discutir e refletir, no sentido de buscar conceitos que Em muitos aspectos, a abordagem indicada nos PCN (Brasil, 1998b) é multifacetada, pois aponta possibilidades para o desenvolvimento da Educação Física escolar bastante diversas. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 69 fundamentem o trabalho pedagógico e de suprir as necessidades da realidade, objetivando sua melhoria. Obviamente, as ações pedagógicas serão demarcadas nesses princípios, mas também deverão estar relacionadas com a pers- pectiva das práticas corporais, devendo ser pensadas sob o aspecto do corpo sensível, que se relaciona, cria, se expressa, interage, sofre repressões, vibra e se movimenta (Brunhs, 1991). A principal intenção dos profissionais da Educação Física que atuam na escola, assim como daqueles que atuam no processo de formação de professores no ensino superior, deve ser a de discutir e difundir um novo olhar sobre essas práticas, muito relacionadas no cotidiano das atividades físicas e esportivas com o caráter técnico, recreativo e utilitário. Portanto, podemos depreender que as vivências corporais têm contornos ligados muito mais a padrões estabelecidos pelo sistema educacional, pelos professores, pela mídia, que à vivência pessoal do ser humano, a qual deve superar os benefícios relacionados aos aspectos físicos, sociais, mas também buscar atingir valores como o desenvolvimento da ética. Nesse sentido, consideramos o ser humano na sua comple- xidade e entendemos a saúde não apenas como a ausência de doença, como muitos ainda pensam, mas de acordo com a concepção da Organização Mundial da Saúde (wHO, 1998), que a considera como um estado de completo bem-estar físico, mental e social. Assim, para uma pessoa estar num estado de bem-estar, deverá estar em equilíbrio e harmonia em relação a todas as dimensões humanas. Para Guiselini (1999, 2006), é impossível falarmos sobre saúde e bem-estar sem nos referirmos à prática da atividade física, pois, ao realizá-la, o indivíduo estará exercitando todas as suas dimensões humanas concomitantemente. Segundo o autor, devemos estar atentos ao binômio estresse-sedentarismo, que se constitui hoje Ne nh um a p ar te desta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 70 um dos principais problemas em relação à saúde e à qualidade de vida. Acreditamos que tal investimento deve co- meçar na escola, com a abordagem de conhe- cimentos significativos relacionados à cultura corporal de movimento, bem como com a orientação para o desenvolvimento de hábitos saudáveis em relação à vivência corporal das atividades físicas e esportivas. Nesse caso, o professor deve buscar alertar e conscientizar os alunos, desde cedo, para a importância de se preservar, manter e melhorar a saúde. Dessa forma, cremos também que a es- pontaneidade, o prazer, a naturalidade e a liberdade de escolha são fundamentais para a aquisição de hábitos saudáveis. Estes, so- mados à discussão de cidadania, na perspec- tiva de criar condições materiais e ambientais favoráveis para a mudança do estilo de vida das pessoas, podem servir de base concreta nas transformações de conceitos ligados às práticas corporais e à saúde. A Educação Física na escola deve contribuir para a formação integral do educando, possibilitando-lhe uma melhor amplitude de seus conhecimentos, fornecendo-lhe subsídios científicos em diversas áreas, entre elas a ludo-gmino-esportiva*, da saúde e do lazer. Por meio da vivência das atividades da cultura corporal, o aluno poderá não só ampliar seus conhecimentos, mas tam- bém adquirir hábitos saudáveis da prática de atividades físicas e esportivas, conscientizando-se da sua importância para uma melhor qualidade de vida, assim como vivenciar atividades em * Esse termo refere-se às atividades lúdicas, à ginástica e ao esporte. A principal intenção dos profissionais da Educação Física que atuam na escola, assim como daqueles que atuam no processo de formação de professores no ensino superior, deve ser a de discutir e difundir um novo olhar sobre essas práticas, muito relacionadas no cotidiano das atividades físicas e esportivas com o caráter técnico, recreativo e utilitário. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 71 grupo, desenvolvendo a criatividade e podendo resolver situações problemas de forma coletiva e prazerosa. Diante dessas questões, para a promoção de mudanças, é ne- cessário traçarmos primeiramente um diagnóstico da Educação Física escolar, bem como reconhecermos os diversos momentos históricos e as práticas dinamizadas pelos professores na escola, a fim de contribuirmos com o delineamento de perspectivas para possíveis encaminhamentos metodológicos diferenciados. Inicialmente, precisamos considerar o cotidiano da Educação Física escolar para que, com base nisso, possamos apresentar alternativas, promovendo discussões em vários níveis que envolvam tanto os profissionais atuantes da área como aqueles que estão em processo de formação inicial, buscando analisar profundamente as questões que abrangem esse contexto para uma retomada de posição. Assim, é extremamente importante considerarmos e analisarmos o cotidiano da Educação Física e do esporte no contexto escolar, pois, para perspectivarmos encaminhamentos didáticos metodológicos diferenciados, a fim de contribuir na formação de crianças e jovens, precisamos levar em conta como está o dia a dia da área na escola. Nessa análise, precisamos considerar os di- versos olhares daqueles que estão envolvidos nesse cotidiano: do professor da escola, dos alunos, dos acadêmicos, que serão os futuros profissionais da área, e do professor que atua no ensino superior na formação docente. A Educação Física na escola deve contribuir para a formação integral do educando, possibilitando-lhe uma melhor amplitude de seus conhecimentos, fornecendo-lhe subsídios científicos em diversas áreas Nen hu ma pa rte de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 72 2Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora Ibpex. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 73 2 A Educação Física e o esporte como prática pedagógica Neste capítulo, destacamos, inicialmente, o documento elaborado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) que trata de questões relacionadas à Educação Física e ao esporte no contexto escolar. Em seguida, focalizamos o esporte na escola, destacando seus aspectos educativos tanto no contexto das aulas de Educação Física – em que o objetivo maior deve ser o desenvolvimento do conhecimento para todos – como no de treinamento esportivo – em que o principal objetivo é a participação dos alunos em competições escolares. Na sequência, evidenciamos posicionamentos de estudiosos sobre o esporte, tanto favoráveis como desfavoráveis, bem como a participação da mídia (televisão) na divulgação do esporte e a influência exer- cida por ela sobre os alunos e a sociedade. Apontamos também algumas contradições, semelhanças e diferenças entre o esporte divulgado pelos meios de comunicação e o esporte da escola e finalizamos com a abordagem do esporte como conteúdo peda- gógico da Educação Física escolar. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 74 2.1 A Educação Física e o esporte na escola, segundo a Unesco* Entendemos ser de vital importância considerar o documento elaborado pelos representantes da Unesco que trata de questões que são próximas das temáticas abordadas. Tais preocupações e discussões foram desencadeadas pela refe- rida organização mediante a necessidade de se garantir o espaço para a Educação Física e o esporte na escola, como também de interferir nos encaminhamentos pedagógicos de ambos, a serem efetivados no contexto escolar. No sentido de evidenciar a importância da Educação Física e do esporte na escola, como também estabelecer metas para o seu desenvolvimento, a Unesco realizou, em sua sede em Paris, nos dias 9 e 10 de janeiro de 2003, um evento em forma de mesa redonda com os ministros responsáveis pelo esporte e pela Educação Física. Esse evento ocorreu durante a 31ª reunião da Conferência Geral da Unesco, no ano de 2001, em que foram examinadas as medidas adotadas até essa data em relação à Educação Física e ao esporte. O Comitê Intergovernamental para a Educação Física e o Esporte (Cigeps) propôs ao diretor geral que fossem estudados os três seguintes pontos: fortalecimento da Educação Física e do esporte no meio educativo, amparo dos jovens esportistas e elaboração de um instrumento jurídico in- ternacional relativo à luta contra a dopagem. No documento de trabalho, inicialmente, os seguintes aspectos foramdestacados: • As transformações no plano mundial nos âmbitos social, econômico e político têm tornado obsoletas, de modo quase automático, as ideologias e os conceitos tradicionais em que * Todo o texto deste item é uma tradução do documento da Unesco, cuja versão está em espanhol e pode ser consultada no seguinte link: <http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001284/128496s.pdf>. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 75 se fundaram as distintas colocações que determinaram o conteúdo, os métodos e as finalidades da Educação Física e do esporte. • As novas necessidades relacionadas com o desenvolvimento tecnológico, o importante fenômeno de urbanização e uma maior democratização do esporte geraram novas e diversas demandas, e estas, combinadas a uma série de novas possi- bilidades, poderiam explicar a falta de interesse dos jovens pelos processos tradicionais de organização e ensino da Educação Física e do esporte. • É fácil comprovar que o êxito do esporte de competição teve importantes incidências sociais, econômicas e políticas, e permitiu um auge de tudo que está relacionado com o esporte, convertendo-se em um elemento do patrimônio cultural da civilização contemporânea. • O esporte se converteu em um fenômeno social extremamente importante e, ao aumentar essa importância, aumentam também os perigos que o ameaçam. • O esporte é um fator de plena realização, como também de coesão e integração social e de fortalecimento da identidade dos grupos e das nações. As atividades físicas e esportivas constituem um dos elementos fundamentais da reforma dos sistemas educativos no mundo inteiro. Mas só poderá contribuir com o desenvolvimento harmonioso das pessoas se combinarem com uma formação intelectual e moral. Destacamos, a seguir, o primeiro ponto, o qual se refere ao forta- lecimento da Educação Física e do esporte no sistema educativo, que trata de questões relacionadas à sua importância no contexto escolar quando a temática é a educação de crianças e adolescentes. O texto do documento inicia-se com a afirmação de que tudo que possa exercer uma influência na conduta e na personalidade é educação. Dessa forma, a Educação Física e o esporte, ao favore- cerem o desenvolvimento das aptidões da criança, fazem parte Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 76 de uma parte considerável da educação, sendo uma autêntica escola para a vida social. Parece preferível substituir a dualidade corpo-mente pelos princípios de unidade e igualdade. Seja como for, é de desejar que a criança e o adolescente possam adquirir a consciência de seu corpo e da unidade psicofísica de seu ser, já que a aprendizagem física não é só atividade física, mas também conhecimento. Com frequência se menciona a função e a importância do es- porte na escola na perspectiva de uma educação permanente. A atividade física e esportiva não é um fim em si; deve ser praticada e servir como um meio de plena realização do aluno, um instru- mento de educação para aprender a ganhar ou perder, bem como um meio de emancipação. É também um método de socialização e integração, já que a escola é o lugar por excelência da socialização sistemática para muitos jovens, de ambos os sexos. A função da Educação Física e esportiva é geralmente abor- dada numa dupla perspectiva: por um lado, dentro do sistema educativo; por outro, em um espaço não formal ou extraescolar. Dentro da instituição educativa formal, a Educação Física deveria ser utilizada como um meio de aprendizagem de competências para a vida prática, principalmente em relação à transmissão de valores educativos, à aprendizagem da responsabilidade, à adap- tação ao meio ambiente e à aprendizagem da cidadania, isto é, o aluno deve se sentir cidadão do mundo sem deixar de ser cidadão de sua própria pátria. No espaço extraescolar, as experiências vivenciadas pelos jovens devem ser diversificadas, tendo por objetivo principal a melhoria da comunicação entre os jovens de diferentes regiões da cidade, incluídos aí também aqueles que são oriundos dos bairros periféricos das grandes cidades. Uma possibilidade significativa seria favorecer a prática do esporte para todos, colocando à dis- posição dos jovens, por exemplo, salas ou espaços esportivos polivalentes. Tanto na escola como fora dela, é indispensável Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 77 favorecer a prática regular das atividades fí- sicas e esportivas, devendo ser consideradas como parte integrante de todo processo de educação e formação. É indispensável lembrar a necessidade de ajudar a criança e o adolescente a descobrirem qual a atividade física ou o esporte que mais convêm à estruturação e ao pleno desenvol- vimento de sua personalidade: a cada um o seu esporte! São conhecidas as propriedades psicoterapêuticas dessas atividades, em par- ticular para superar a timidez, lutar contra tendências depressivas, canalizar a agressi- vidade, estruturar e moderar a hiperatividade. Em termos gerais, como são demonstrados de maneira sistemática os dados registrados no mundo inteiro, uma aula de Educação Física de qualidade pode permitir atender numerosas necessidades da população, especialmente entre as crianças e os jovens. Segundo um estudo realizado em 1999 pelo Conselho Internacional para a Ciência do Esporte e da Educação Física (Fiep, 2000), uma Educação Física de qualidade tem as seguintes características: • Poderá proporcionar a todos os alunos capacidades, habilida- des, valores, conhecimentos e capacidade de juízo crítico, que lhes permitirão participar durante toda a vida das atividades físicas e do esporte. • Contribui para o desenvolvimento geral e completo da mente, do corpo e da alma. • É a única disciplina escolar que está centralizada nas ques- tões do corpo, da atividade, do desenvolvimento e da saúde. • Contribui para que as crianças tenham um estilo de vida ativo e se interessem pela atividade física, que são elementos A atividade física e esportiva não é um fim em si; deve ser praticada e servir como um meio de plena realização do aluno, um instrumento de educação para aprender a ganhar ou perder, como um meio de emancipação, e também um método de socialização e integração, já que a escola é o lugar por excelência da socialização sistemática para muitos jovens de ambos os sexos Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 78 essenciais para um desenvolvimento saudável e a constitui- ção da base de uma vida adulta sã. • Contribui para incutir nas crianças respeito por seu próprio corpo e pelo corpo deoutros. • Fomenta a consciência do papel da atividade física na pre- servação da saúde. • Estimula o desenvolvimento social das crianças, preparando- -as tanto para a competição como para a cooperação e a colaboração. • Proporciona competências e conhecimentos que podem levar a uma atividade profissional no âmbito do esporte, da ati- vidade física, do descanso e do tempo livre, que são setores de atividade trabalhista em pleno auge. A Cúpula Mundial sobre a Educação Física, reunida em Berlim no ano de 1999, enviou um precatório aos Estados-membros da Unesco para que apliquem as recomendações contidas no Programa de Ação de Berlim, destinado aos ministros encarregados da educação, da juventude e do esporte. Numerosos participantes intervieram para insistir nas grandes orientações das recomendações relativas à Educação Física de qualidade e destacaram que esta necessita, sobretudo, de: • professores bem formados e qualificados nas escolas de ensino fundamental e nos estabelecimentos de ensino médio; • horários fixos nos programas escolares para todas as crianças e adolescentes; • equipes e espaços suficientes; • apoio por parte dos professores e das escolas para que possam dispensar uma Educação Física de qualidade. Nesse documento, foi salientado que a Educação Física e o esporte podem melhorar o desenvolvimento social, bem como o cognitivo e o rendimento escolar, incluindo, ainda, competências escolares como ler, escrever, contar e realizar as operações aritméticas elementares. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 79 Ainda há numerosos estudos que mostram que, se o número de horas dedicado à atividade física nos programas escolares for aumentado, mesmo que se reduza o número de horas dedicado às disciplinas intelectuais, não irá interferir de modo algum no nível das avaliações obtidas pelos alunos nem no progresso escolar. Observa-se justamente o contrário, uma melhora nas avaliações de muitos alunos e na aquisição dos conhecimentos intelectuais. A Educação Física proporciona às crianças competências e conhe- cimentos que lhes permitem chegar a ser autônomos e aprender de modo independente. Aliada ao esporte, oferece a cada criança a oportunidade de escolher, de formar valores e aptidões que favo- recem a aprendizagem de forma independente, desenvolvendo a autodisciplina. A realização desse tipo de atividade permite também dar ênfase a outros elementos tão importantes como os direitos humanos, a igualdade entre os sexos e a educação para a paz. Evidencia-se a criança como o centro de uma Educação Física de qualidade, e nessa concepção, o que conta é a criança, não o esporte. Cada criança é um ser único e que merece nosso inte- resse, por isso, deve ser tratado como tal. Para tanto, as atividades deveriam se adaptar ao ritmo da aprendizagem da criança e considerar as diferenças entre elas. Isso porque a educação tem de ser o fator es- sencial, não só no planejamento das atividades, mas também na criação de um ambiente de confiança entre professor e alunos. Encontramos na precatória a importância de ser fortalecida a função da Educação Física e do esporte no ambiente escolar, bem como no universitário, como partes integrantes do processo da educa- ção permanente. Para isso, são apontadas como necessárias as seguintes medidas: • Aplicar um programa de fomento e valorização da Educação Física e do esporte escolar e universitário, com instalação A Educação Física proporciona às crianças competências e conhecimentos que lhes permitem chegar a ser autônomos e aprender de modo independente. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 80 de equipes e materiais que se adaptem para um melhor funcionamento. • Conceder aos professores de Educação Física e esporte um estatuto comparável ao dos docentes das demais disciplinas, habitualmente considerados responsáveis por uma missão mais nobre. A revalorização de sua missão e estatuto cons- titui uma condição importante para o êxito dos programas a serem desenvolvidos. • Por um lado, deve haver empenho para obter unidade e interação entre a Educação Física e o esporte e a educação escolar, estética e ética, bem como a formação profissional; por outro, devem ser elaborados em particular programas que ressaltem e priorizem o valor educativo do esporte. • Preparar programas de atividades de Educação Física e es- porte que objetivem favorecer a prevenção da delinquência entre os jovens. Destacamos, no documento da Unesco, a Carta Internacional da Educação Física e do Esporte, aprovada em 21 de novembro de 1978 pela Conferência Geral da Unesco em sua vigéssima reunião, ce- lebrada em Paris, que proclama em seu primeiro artigo o direito fundamental de todo ser humano de ter acesso à Educação Física e ao esporte. Essa carta ainda complementa que é preciso criar condições necessárias para que o exercício desse direito, o qual co- meça na escola, possa ser efetivo no mundo inteiro, já que pode ser considerado um corolário do direito de todo ser humano à educação. A estrutura da escola futura é um problema que se expõe de modo cada vez mais premente nessas primeiras décadas do novo milênio. Tanto no Relatório Delors como no Fórum do Dakar e em diversas conferências se expôs essa questão, sob a rubrica “Voltar a pensar a escola”. Assim, propor uma ou várias respos- tas sobre a “escola do futuro” é também responder à pergunta: Como deve ser a Educação Física e esportiva e qual o seu lugar e a sua função nessa escola do terceiro milênio? Isso significa, Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 81 do mesmo modo, que as autoridades representativas presentes devem contribuir com propostas realistas e medidas concretas encaminhadas a promover, no mundo inteiro e em função das capacidades, das necessidades e das tradições de cada país, no plano regional, nacional e local, a prática regular de atividades físicas e esportivas ao longo de toda a vida das pessoas. Os ministros representantes da Unesco comprovaram a preocu- pação de que, em face da expansão dos programas de esporte de elite e de esportes para todos, nos últimos anos é possível perceber que as oportunidades para as crianças participarem de atividades de Educação Física se reduziram grandemente. Destacaram ainda que muitos países, devido às mudanças de prioridades, não res- peitam o número de horas prescrito para a Educação Física nos estabelecimentos de ensino, diminuído-o, inclusive, desmensurada- mente. Observaram, desse modo, que a redução dos programas de Educação Física contribuiu com o aumento da delinquência juvenil e da violência e, ainda, com o incremento dos gastos médicos e sociais. Segundo estudos realizados em escala internacional, por um dólar investido em atividades físicas, economizam-se entre dois e três dólares com gastos médicos. Nesse contexto, os ministros adotaram o “Programa de Ação de Berlim”,aprovado pela cúpula de 1999, e enfatizaram aos Estados- membros a necessidade de garantir que a Educação Física e o esporte sejam incorporados aos programas escolares ou que, no mínimo, seja cumprido o que prescreve a lei quanto às atividades da disciplina nos programas escolares. Alguns dados obtidos por meio de pesquisas são evidenciados no documento, tais como: • Em 92% dos 126 países que participaram da pesquisa, a Educação Física e o esporte são legalmente obrigatórios, mas são poucos os países em que a lei se cumpre; Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 82 • Mundialmente, 30% dos programas de Educação Física e es- porte, aproximadamente, são abandonados para a realização de outras atividades escolares; • Mundialmente, apenas 31% dos países dispõem de equipes especializadas para o desenvolvimento das atividades rela- cionadas à disciplina e ao esporte; • São os alunos que têm entre 9 e 14 anos que dispõem do maior número de horas para a Educação Física e o esporte. Esse número diminui com a idade, em particular durante os últimos anos da vida escolar, passando-se, então, a uma atividade voluntária ou que se suprime simplesmente do programa; • Se forem comparados os resultados referentes ao desempe- nho escolar de alunos que têm entre 6 e 12 anos e praticam 5 horas de atividade física por semana com aqueles de mesma idade que se dedicam apenas a 40 minutos por semana à atividade física, comprova-se que os alunos cujas atividades físicas são maiores obtêm resultados nitidamente superiores àqueles obtidos por outros que praticam um menor número de horas dessas atividades. Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS (WHO, 1998), “uma escola ativa é uma escola mais sadia e com maior rendimento, e um lugar onde se trabalha melhor”. Portanto, deixar de lado a Educação Física e o esporte é, com certeza, mais dispendioso que investir nessa educação. Alguns dados obtidos por meio de pesquisas destacam que um aumento de 25% da participação em uma atividade física (partindo do suposto que 33% da população têm uma atividade física regular) representaria uma redução dos gastos de saúde pública de 77,8 milhões de dólares (com base em 1995) e conduziria lucros de produtividade de 1 a 3%, isto é, dois a cinco dólares por cada dólar de investimento. Os custos diretos de incitação a um aumento da atividade física só subiriam para 191 milhões de dólares. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 83 Constatamos que, nesse documento emi- tido pela Unesco, por intermédio de seus representantes, são manifestadas preocu- pações em relação aos encaminhamentos e ao desenvolvimento que vêm sendo dado tanto para a Educação Física como para o esporte no contexto escolar. Também são evidenciados aspectos que fundamentam e justificam o porquê da necessidade de se garantir esse espaço na escola, assim como a necessidade de um tratamento pedagógico comprometido e de qualidade. Por meio das análises e das pes- quisas realizadas, são ressaltados os benefícios educacionais que o aluno vai adquirir, ao longo da vida escolar, se lhe for oferecido atividades físicas e esportivas de qualidade, comprometidas com princípios, acima de tudo, educacionais. São destacados também os prejuízos causados aos alunos, em decorrência da diminuição do número de horas dessas atividades no contexto escolar, que envolvem perdas em vários aspectos, como os sociais e afetivos, bem como os físicos e cognitivos. 2.2 Educação Física escolar: o esporte em foco A história, conforme visto anteriormente, mostra-nos que a Educação Física no Brasil, até 1950, era caracterizada basicamente pela in- fluência da instituição militar. Após esse período, passa a sofrer também uma grande influência da instituição esportiva. Segundo Bracht (1992, p. 22), “mais uma vez a Educação Física assume os códigos de uma outra instituição, e de tal forma que temos então, não o esporte da escola e sim o esporte na escola, o que indica sua subordinação aos códigos/sentidos da instituição esportiva”. O esporte, que já era bastante difundido na Educação Física, a partir de 1960 teve uma maior ascensão por razão de Estado. Segundo a OMS (WHO, 1998), “uma escola ativa é uma escola mais sadia e com maior rendimento, e um lugar onde se trabalha melhor”. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 84 Segundo Moreira (1992), nesse período a Educação Física entrou na planificação estratégica dos governos ditatoriais, passando a ser subordinada ao esporte. Um novo paradigma se instaurou para essa disciplina, por meio de uma política oficial que se deu a partir de 1970 e que preconizava a expansão da prática do esporte. Segundo o Confef (2002, p. 4-12), o Plano Nacional de Educação Física e Desporto, que data de 1976/1979, evidencia a predomi- nância do esporte como conteúdo escolar e aponta as seguintes observações: a atividade física é hoje considerada como um meio educativo privilegiado, porque abrange o ser na sua totalidade. O caráter de unidade da educação, por meio das atividades físicas, é reconhe- cido universalmente. Ela objetiva o equilíbrio e a saúde do corpo, a aptidão física para a ação e o desenvolvimento dos valores mo- rais. Sob a denominação comum de Educação Física e desportiva o consenso mundial reúne todas as atividades físicas dosadas e programadas, que embora pareçam idênticas na sua base, têm finalidades e meios diferenciados e específicos. O meio específico da Educação Física é a atividade física sistemá- tica, concebida para exercitar, treinar e aperfeiçoar. De acordo com a intenção principal que anima as atividades físicas, ela se desdobra em exercícios educativos propriamente ditos, os jogos e os desportos. Face à [sic] informalidade de que se reveste sua prática, os jogos e os desportos têm um poder maior de mobiliza- ção que os exercícios educativos, sendo recomendável, portanto para melhor eficácia da educação física a integração das formas. Embora no referido plano o destaque fosse o esporte com ênfase no aspecto educacional e formativo, o que acabou predominando na prática escolar foi o desenvolvimento do esporte nos parâmetros da Política Nacional de Educação Física e Desportos – Lei nº 6.251, de 8 de outubro de 1975* (Brasil, 1975) –, cuja prática esportiva * Essa lei foi revogada. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 85 tinha os objetivos voltados para o aprimoramento da aptidão física da população; a elevação do nível dos esportes em todas as áreas; a implantação e intensificação da prática dos esportes de massa; a elevaçãodo nível técnico-esportivo das representações nacionais; a difusão dos esportes como forma de utilização do tempo de lazer (Confef, 2002). Dessa forma, a preocupação principal passou a ser a busca do rendimento, do desempenho, ou seja, de resultados. Com isso, foram deixados de lado princípios que norteassem o desenvol- vimento do esporte na escola numa perspectiva de educação e formação integral do educando. No contexto escolar, a disciplina Educação Física assume o esporte como principal conteúdo a ser desenvolvido, fato que promove uma esportivização da Educação Física escolar. Assim, Educação Física e esporte tornaram-se si- nônimos na escola (Finck, 1995). Alguns professores muitas vezes ainda utilizam uma metodo- logia que tem componentes da concepção tradicional e tecnicista, abordando e desenvolvendo o esporte apenas na sua dimensão técnica e tática. Dessa forma, o aluno tem um conhecimento limitado do que seja esse fenômeno nos dias de hoje. Assim, depois de o aluno ter aulas de Educação Física durante anos, nas quais o conteúdo desenvolvido de forma predominante é o esporte, muitas vezes não domina nem a técnica nem a tática das moda- lidades esportivas. Desse modo, sua visão sobre esse fenômeno é muito estreita e suas experiências vivenciadas nem sempre são significativas. Assim sendo, posteriormente, quando estiver fora da escola, dificilmente praticará algum tipo de atividade esportiva no seu dia a dia (Finck, 1995). Outro fato que também contribui para a limitação do conheci- mento sobre o esporte é que o aluno, muitas vezes, é visto pelo pro- fessor como um atleta em potencial, o qual cobra a execução correta dos movimentos esportivos, eliminando o caráter lúdico, prazeroso e espontâneo dos movimentos e desconsiderando a expressividade Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 86 de cada aluno. Tudo isso influencia na diminuição do interesse dos alunos em participar das aulas. A cobrança por parte do professor, em conjunto com as constantes repetições dos mesmos exercícios, faz com que os alunos se afastem das aulas de Educação Física e, consequentemente, da prática do esporte (Finck, 1995). A minoria de alunos que consegue ter sucesso na realização dos movimentos solicitados pelo professor, por algum tempo permanece motivada para a sua prática, mas, devido à falta de variabilidade dos procedimentos utilizados, acaba justificando sua ausência de inúmeras maneiras e, muitas vezes, se afasta e não participa das aulas. A Educação Física escolar dispõe de uma gama de conhecimen- tos a serem abordados na escola, mas sabemos que o esporte é e continua sendo desenvolvido de forma hegemônica nas aulas da disciplina, especialmente nas séries finais do ensino funda- mental e médio. Alguns estudos já realizados e obras publicadas destacam essa questão*. Além da predominância do esporte como conteúdo das aulas de Educação Física, alguns professores visualizam a possibilidade de seu desenvolvimento apenas em meio estandar- dizado, condicionando o processo de ensino- -aprendizagem e os procedimentos utilizados de forma a tornar sua abordagem limitada e acrítica. Muitas vezes, não há oportunidade de participação da maioria dos alunos, pois o professor estabelece padrões de movimentos mais próximos do esporte de rendimento, o que torna as aulas, de certa forma, repetitivas e cansativas, tornando sua prática exclusiva * Entre outros estudos, destacam-se os de Coletivo de Autores (1992); Betti (1991); Bracht (1992); Moreira (1992, 1995) e Finck (1995). A cobrança por parte do professor, em conjunto com as constantes repetições dos mesmos exercícios, faz com que os alunos se afastem das aulas de Educação Física e, consequentemente, da prática do esporte (Finck, 1995). Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 87 de poucos, o que resulta em uma conotação elitista do esporte (Finck, 1995). Essa visão, portanto, é transmitida de acordo com os encami- nhamentos metodológicos priorizados pelo professor, pois, por intermédio deles, os alunos são induzidos a concluir que o esporte só pode ser praticado objetivando resultados e desempenho. Dessa forma, este se resume, basicamente, em técnica, rendimento e competição, que são características predominantes na visão de desempenho e que podem se ajustar ao contexto de equipe escolar, que também tem seu valor educacional. 2.2.1 O esporte: manifestações e possibilidades educacionais e pedagógicas A abordagem do esporte na escola não pode estar limitada ape- nas ao ensino de técnicas e táticas, o que ocasionaria uma visão reduzida e fragmentada a respeito desse fenômeno. Belbenoit (1976), pedagogo francês, adverte que o esporte não é educativo por si só, pois o educador é quem vai fazer com que ele seja um objeto e um meio de educação. Ele ainda evidencia que a prática do esporte na escola não pode ter como objetivo principal formar atletas, sendo que esse pode ser, segundo o autor, um efeito secundário que não deve ser recusado. Porém, o objetivo maior do esporte deve continuar sendo a expansão a todos de suas inúmeras possibilidades de atividades formativas. Dessa forma, é importante e fundamental que o esporte seja tratado pedagogicamente de forma mais abrangente nas suas outras dimensões, entre elas, a histórica, a antropológica, a cul- tural, a social, entre outras. Esse pedagogo (Belbenoit, 1976, p. 143) destaca algumas ideias que relacionam esporte, educação e escola: • O esporte é a forma mais rica e adaptada ao nosso tempo, um tipo de “experiência base”, carnalmente vivida, que permite construir, pela prática e pela reflexão, uma ética de saúde Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 88 global, essa expressão prova como o homem dividido de hoje aspira recuperar sua unidade. • O esporte é atividade de cultura, na medida em que a noção formal de equilíbrio entre corpo e espírito é substituída pela de convergência de todas as tentativas educativas (pois elas tendem para um objetivo único, e põem em movimento a totalidade dos poderes humanos), e em que a saúde psicos- somática e o desenvolvimento mental forem considerados inseparáveis da motricidade; o esporte é cultura porque há cultura onde ele se encontra, ao mesmo tempo em que há possibilidade de desenvolvimento pessoal e participação numa prática social significativa. • O esporte é um instrumento de cultura e de libertação do homem moderno na medida em que desempenha a função biológica (filogenética) de preservação da saúde (no sentido lato do termo) e a função sociocultural de comunicação, participação e expressão. • O esporte é o fenômeno sociocultural mais importante de nossa época, e é tão urgente aprender a posicionar-se diante dele quanto em relação aos meios de comunicação de massa. • Introduzir o esporte na escola, assim como as novas tecnolo- gias pedagógicas, audiovisuais ou informáticasé fazer viver a escola com o seu tempo. Concordamos com o autor, pois o esporte na escola deve ser tratado pedagogicamente como o mais importante fenômeno sociocultural de nossa época e todos os alunos devem usufruir desse conhecimento. Por outro lado, defendemos que na escola deve haver espaço para o aluno aprender e vivenciar o esporte em nível de competição, se assim o desejar. Devem ser oferecidas possibilidades diversificadas para praticá-lo, como a oferta de treinamento desportivo ou de Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 89 aulas especializadas*, de várias modalidades, para que o aluno possa escolher aquela com a qual mais se identificar. Há alguns anos, os alunos das escolas públicas estaduais do Estado do Paraná tinham a oportunidade de participar das aulas especializadas, que primeiramente eram denominadas aulas trei- namento, as quais eram desenvolvidas visando à formação de equipes representativas das escolas em competições. Os alunos tinham esse espaço na escola para o aprendizado mais específico do esporte, no qual eram ofertadas aulas de várias modalidades esportivas. A decisão de participar ou não delas geralmente ficava a critério do aluno. Infelizmente, desde 1994, os professores não têm mais esse espaço para desenvolver o trabalho com o esporte nessa perspectiva. Mesmo assim, podemos dizer que ainda existem algumas equipes representativas das escolas públicas que participam das competições escolares devido ao trabalho voluntário de alguns professores que dão continuidade àquilo que iniciaram em anos anteriores. Assim, apenas crianças e adolescentes que estudam em escolas da rede particular de ensino têm oportunidade de aprendizagem do esporte como treinamento, bem como possibilidades de participar de competições escolares. As equipes das escolas públicas que participam o fazem em desvantagem, já que não são oferecidas condições aos profissionais para o desenvolvimento do trabalho. Dessa forma, o esporte é cada vez mais privilégio de uma clientela escolar que paga por esse serviço oferecido. * Esse termo refere-se à denominação do trabalho realizado pelo professor de Educação Física nas escolas públicas estaduais do Estado do Paraná com o esporte, com relação ao treinamento esportivo, visando à participação dos alunos em competições escolares. O esporte na escola deve ser tratado pedagogicamente como o mais importante fenômeno sociocultural de nossa época e todos os alunos devem usufruir desse conhecimento. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 90 Tal desvantagem fica mais evidenciada quando são oferecidas bolsas de estudo, pelas escolas particulares, aos alunos das es- colas públicas que se sobressaem nas competições. Desse modo, o esporte torna-se ainda mais elitizado, pois reúne em poucas equipes aqueles considerados os melhores nas diversas moda- lidades esportivas, as quais enfrentarão as equipes das escolas públicas, cada vez mais enfraquecidas. Outra questão a ressaltar é o posterior “descarte” do aluno pela escola particular, que primeiramente lhe oferece uma bolsa de estudos em troca do seu desempenho esportivo, mas que, à medida que o atleta não interessa mais àquela instituição (tem rendimento diminuído ou se encontra fora da faixa etária para participar das competições que a escola tem interesse, por exem- plo), é descartado e volta para a escola pública, decepcionado e desmotivado, sem encontrar espaço para a prática do esporte no nível de competição. Manifestamos o esporte como o principal, o mais enriquecedor e o mais polêmico conteúdo da Educação Física escolar e evidenciamos que as mudanças no seu tratamento pedagógico são necessárias e urgentes no espaço da escola. O esporte deve ser abordado com enfoque educacional tanto nas aulas de Educação Física como nas aulas especializadas, dando oportunidade ao aluno, se este assim desejar, de praticar a mo- dalidade esportiva de sua preferência e participar de competições. Por que os alunos da escola pública não podem ter as mesmas oportunidades que os da escola particular para o aprendizado e a vivência do esporte no nível de competição? Sabemos que o esporte não é conteúdo único para ser tratado nas aulas de Educação Física, bem como seus objetivos não podem ser direcionados ao rendimento, e sim à integração e à inclusão dos alunos no desenvolvimento das atividades esportivas, pois Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 91 todos têm direito a ter acesso à vivência e ao conhecimento do esporte. Em relação aos encaminhamentos metodológicos utilizados para o desenvolvimento do esporte, observamos que muitos professores deixaram não só o rendimento e a técnica de lado, mas também outros aspectos em relação ao seu conhecimento, pois há, muitas vezes, falta de comprometimento educacional com o seu ensino. Não há sistematização, organização e sequência dos conteúdos abordados nas aulas. Assim, não temos equipes esportivas na escola, uma vez que percebemos que o número de atletas é cada vez menor, além de os alunos saberem muito pouco sobre o esporte. O professor que priorizava o ensino de técnicas não sabe mais como desenvolver o esporte nas aulas de Educação Física, geralmente aqueles que tiveram uma formação de cunho tecnicista. Podemos constatar, então, que os professores graduados mais re- centemente têm uma concepção semelhante ou limitam o ensino em relação ao esporte, abordando suas técnicas e táticas, ou então dão um enfoque apenas recreativo, tratando o conhecimento desse fenômeno sociocultural de forma reduzida e fragmentada. Shigunov (1997) evidencia alguns pontos conclusivos de uma pesquisa efetivada com professores da rede pública da cidade de Maringá, no Estado do Paraná. O estudo revela que a prática pedagógica docente está atrelada a um modelo de formação pro- fissional voltado para instruir, treinar, exigir, comandar e cobrar, e não para educar, dialogar, elogiar, entender. O autor ressalta a valorização da atividade prática, presente no discurso dos profes- sores, nas falas dos alunos (que não querem perder um minuto da aula prática e rejeitam a aula teórica), nas cobranças pedagó- gicas sobre as normas, na disciplina e no perfeito andamento do currículo escolar durante o ano letivo. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 92 Nesse mesmo sentido, Kunz (1995) aponta algumas concepções que ainda predominam em relação à Educação Física e ao esporte. O autor refere-se a “relevância do saber teórico para a competência do agir prático” dos profissionais que atuam na área da EducaçãoFísica, e diz que, para estes, o saber teórico tem um valor muito limitado. Isso ocorre, segundo o autor, por dois motivos: primei- ramente, pelo fato de que, ao longo da formação acadêmica, esses profissionais recebem uma instrumentalização funcional/prática, ou seja, aplicam receitas, seguem técnicas nos diferentes contextos de atuação da área; e em decorrência da sua formação acadêmica, esses profissionais que atuam na escola não têm a preocupação em agir pedagogicamente na sua disciplina, repetindo receituários práticos e caindo no círculo vicioso de sua graduação. No curso de Licenciatura em Educação Física, muitas vezes os acadêmicos têm uma formação bastante semelhante, na qual predomina o ensino de técnicas e táticas de modalidades esportivas coletivas como o basquetebol, o handebol, o voleibol, o futebol, e outras individuais, como o atletismo, a musculação, a ginástica, entre outras. Em todas as disciplinas, a ênfase é no ensino de modelos de exercícios que, posteriormente, têm a pro- babilidade de serem reproduzidos por profissionais nos diferentes contextos em que irão atuar, entre eles a escola. Constatamos, portanto, que o esporte está presente de forma predominante na formação dos futuros profissionais da Educação Física, o que provavelmente acabará refletindo na sua atuação pedagógica escolar (Frasson, 1995; Marinho, 2001). Percebemos a influência dessa predominância na realização do estágio supervisionado, quando o acadêmico, ao organizar as aulas que irá ministrar, prioriza o esporte como conteúdo. Outra questão relevante é que, embora o acadêmico conheça um grande número de exercícios esportivos, não sabe fazer as adequações pedagógicas necessárias, conforme as diversas faixas etárias dos alunos. Isso ocorre, muitas vezes, pelo fato de que os professores na Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 93 graduação limitam o desenvolvimento das disciplinas ao ensino de exercícios e “modelos”, não tratando das questões metodológicas que envolvem o planejamento desses conhecimentos. A disciplina que trata das referidas questões na graduação é a de Estágio Curricular, que os acadêmicos veem apenas no 3° e no 4° ano do curso. Até então, pouco ou quase nada sabem sobre organização e sistematização do conhecimento a ser tratado na escola, que envolvem aspectos referentes a planejamento e me- todologia de ensino. Destacamos também que a predominância do esporte nas aulas de Educação Física na escola ocorre por meio da notória preferência dos alunos pelos demais conteúdos, especificamente nas modalidades esportivas coletivas. São estas as mais divul- gadas pela mídia e que ganham destaque entre os alunos, sendo as preferidas e as mais comentadas. O esporte como fenômeno social se manifesta em diferentes contextos e tem objetivos distintos. É importante evidenciarmos que tais manifestações estão inter-relacionadas, e as principais são: o esporte educacional ou de educação, praticado em espaços formais (escolas) e informais (clubes, praças, ruas); o esporte de lazer ou de participação, geralmente praticado em espaços in- formais, mas que pode ser praticado também, nessa perspectiva, num espaço formal; e o esporte performance ou de rendimento, praticado em espaços formais, nesse caso, além das escolas, nos clubes (Finck, 1995). Cada uma das dimensões do esporte tem sua importância e ocorrem influências entre elas, sendo também, de certa forma, interdependentes. Quanto a isso, podemos ci- tar como exemplo, os profissionais do esporte tidos como ídolos pelos alunos, os quais os admiram e muitas vezes os imitam; ou, ainda, a preferência pela prática de determinada modalidade pode ser definida pela influência O esporte como fenômeno social se manifesta em diferentes contextos e tem objetivos distintos. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 94 que o aluno sofre, principalmente pelos meios de comunicação (Finck, 1995). O aluno geralmente tem como parâmetro de referência o es- porte de rendimento, pois é esse que ele mais conhece e apre- cia, principalmente por meio da televisão. Quando o esporte é abordado na escola, essa referência não é considerada. Seria necessário que o professor fizesse a mediação nesse processo, entre o esporte que o aluno assiste (rendimento) e o esporte que ele vivencia na escola (educacional), para que compreenda que é o mesmo esporte em relação ao conhecimento, apenas mani- festado corporalmente de maneira diferente, pois os objetivos e praticantes também são diferentes. Finck (1995, p. 39) afirma que O professor deve ter claro a diferença e não confundir esporte na escola (aula de Educação Física) e equipe escolar (treinamento esportivo); ambas podem e devem ser incentivadas, mas são momentos diferenciados. Entende-se que no primeiro momento o esporte é conteúdo curricular da Educação Física, e no segundo passa a ser instrumento alternativo educacional e de marketing. Os alunos têm nas aulas de Educação Física a oportunidade de praticar o esporte e cabe ao educador oportunizar a todos o seu aprendizado por meio de um conteúdo programático esportivo diversificado, que lhes possibilite um amplo conhecimento desse fenômeno, bem como vivências diferenciadas, para que, como espectadores, inclusive, possam fazer uma leitura mais apro- priada, a fim de melhor usufruirem o esporte que aprenderam no contexto da escola. Para isso, é necessário que o professor tenha uma postura me- todológica diferenciada daquela utilizada por muitos, buscando objetivar uma educação cujo valor maior é o humano, em suas relações com outros seres e em sua integração com o ambiente. Que […] provavelmente privilegiará a cooperação na competição, o prazer Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 95 da atividade realizada com consciência, o lúdico perdido ao longo do tempo pela exacerbação do alto rendimento e o movimento corporal expressivo em detrimento do movimento corporal imi- tativo. (Moreira, 1992, p. 206-208) Nessa perspectiva, os esportes, as atividades físicas consideradas como tal e as diversas e possíveis manifestações desses movi- mentos devem ser sopesados na elaboração do planejamento, quando o professor selecionar os conteúdos/conhecimentos que serão desenvolvidos nas aulas de Educação Física. Dessa forma, a possibilidade de os alunos se identificarem com as atividades programadas aumentam significativamente. “Quem poderia deixar de participar de alguma atividade desportiva? Haveria o indivíduo ‘zero’ que nenhum movimento desperte o seu interesse?” (Finck, 1995, p. 41). Clayes (1984) refere-se à infância e à adolescência como as fases de maior significado para a prática posterior do esporte, sendo que os fatores socioestruturais e culturais influenciam no comportamento desportivo dos indivíduos, determinando a sua participação ou não no desporto. O autor afirma que os agentes que influenciamna socialização do esporte são a escola, a família, a mídia, entre outros. Concordamos que a escola é um dos agentes que pode possi- bilitar essa socialização, pois é nela que a criança e o jovem têm o primeiro contato com a prática do esporte, o qual pode e deve ser democratizado no espaço escolar. Acreditamos que, como instituição social significativa, a escola não pode eximir-se diante da difusão de tão importante fenômeno sociocultural. Observamos que o esporte vem sendo desenvolvido como conteúdo predominante nas aulas de Educação Física, mas nem sempre vai de encontro aos anseios, às expectativas e às ne- cessidades dos alunos, em que as noções transmitidas desses movimentos esportivos reduzem-no como conhecimento (Finck, 1995). Contudo, o professor pode sistematizar e desenvolver o saber Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 96 esportivo nas aulas, de maneira que o educando seja o centro do processo de ensino-aprendizagem, e não os conteúdos. O aluno deve participar da elaboração das atividades, pois a abordagem do esporte não pode ser realizada como um fim em si mesmo, como já visto anteriormente. As ações motoras desempenhadas pelo aluno muitas vezes são automatizadas e repetitivas, levando-o a ser um mero executor dos exercícios que o professor determina e comanda. Essa forma distorcida de desenvolver o esporte na escola pode frustrar o aluno, além de gerar consequências desastrosas em seu desen- volvimento integral. Parlebas (1988) entende que a Educação Física é uma pedagogia das condutas moto- ras. O conceito de conduta motora tem como centro o indivíduo em ação, e as modalidades por ele praticadas são motrizes de expressão de sua personalidade. O autor afirma que o indivíduo em ação é uma pessoa que toma e armazena informações, que concebe e executa estratégias motoras. Dessa forma, as aulas de Educação Física podem converter-se em um autêntico espaço para tomada de decisões. Assim sendo, está longe da simples noção de movimento. Percebemos que os movimentos predomi- nantes nas aulas de Educação Física são os das modalidades esportivas coletivas. O aluno, como executor dessas práticas, também armazena informações, elabora um raciocínio, internalizando ações esportivas que são perspectivadas e transferidas. Nesse processo há uma dimensão não só biomecânica, mas cognitiva, relacional, afetiva e expressiva, pois o educando é um ser unitário atuando em sua totalidade e unidade, tanto em suas manifestações concretas como em seus Observamos que o esporte vem sendo desenvolvido como conteúdo predominante nas aulas de Educação Física, mas nem sempre vai de encontro aos anseios, às expectativas e às necessidades dos alunos, em que as noções transmitidas desses movimentos esportivos reduzem-no como conhecimento (Finck, 1995). Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 97 projetos, desejos e emoções. Tal processo pode ser relacionado à pedagogia das condutas motoras de Parlebas (1988). Observamos que, nas aulas de Educação Física, de modo geral, a relação de interação motriz de oposição é mais acentuada que a de cooperação, isto é, as relações entre adversários são predominantes sobre as relações entre companheiros na prática do esporte. Nas modalidades coletivas, a interação motora conjuga oposição e coo- peração, sendo que a predominância da primeira sobre a segunda está diretamente relacionada com os objetivos e a forma como o professor conduz sua prática pedagógica cotidiana. Portanto, o professor é de fundamental importância no processo de ensino-aprendizagem, pois tanto o que ele priorizar em relação aos objetivos para o tratamento pedagógico do esporte quanto o tipo de mediação que realizar durante as situações esportivas vivenciadas pelos alunos serão encaminhamentos determinantes para que a abordagem desse fenômeno tenha uma conotação, acima de tudo, educacional. De acordo com Paes (1998, p. 109-114), O esporte é uma representação simbólica da vida, de natureza educacional, podendo promover no praticante, modificações tanto na compreensão de valores como de costumes e modo de comporta- mento, interferindo no desenvolvimento individual, aproximando pessoas que têm, neste fenômeno, um meio para estabelecer e manter um melhor relacionamento social. Considerando a natureza educacional do esporte, entendemos que ele deve adquirir a conotação do jogo nas aulas de Educação Física, com suas características lúdicas de prazer e de modificação de regras. Porém, outras características relacionadas a um mí- nimo rendimento também devem ser consideradas, pois quando são ensinados os gestos técnicos e as regras e táticas, o esporte passa a ser vivenciado mais próximo desse rendimento possível. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 98 Portanto, há a necessidade de o professor fazer a mediação entre jogo e esporte, para que todos estejam incluídos nas aulas e se apropriem do conhecimento, vivendo o esporte. importante Alguns elementos e características do jogo podem ser utilizados na tematização do esporte na escola, entre eles a ludicidade (esporte escolar lúdico), a alegria (esporte escolar alegre), o prazer (esporte escolar prazeroso), a competição (competir com o adversário/com- panheiro) e a tensão (resultado incerto e de solução difícil, mas competitivo e apaixonante). Acreditamos que, se o professor não considerar e preservar al- guns elementos lúdicos na abordagem do esporte, certamente sua vivência ficará mais restrita àqueles que demonstram ter maior familiarização e maiores habilidades em relação aos seus movimentos, ficando sua abordagem mais próxima da concepção de performance. Segundo Finck (1995), existem duas formas de elitizar a prática do esporte na escola, especificamente nas aulas de Educação Física, as quais se efetivam por meio dos métodos e procedimentos que o professor adota para sua tematização: a primeira seria a de priorizar o ensino das técnicas e táticas do esporte, objetivando o desempenho dos gestos esportivos; a segunda seria a de deixar os alunos praticarem, nas aulas, aquilo que querem e sabem em relação à Educação Física. Agindo dessa forma, o professor não tem o compromisso com o ensino do esporte, colaborando assim para sua elitização, pois, ao encaminhar as aulas de acordo com uma das duas formas anteriormente citadas, deixa a maioria dos alunos excluídos de sua prática, tanto quando objetiva o desempenho dos gestos Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 99 esportivos como quando deixa os alunos livres para decidirem e fazeremaquilo que já sabem. Então, no contexto escolar, o professor deve considerar o es- porte como fenômeno cultural e de educação, contemplando seu desenvolvimento de forma que o aluno possa compreender as inter-relações de suas diferentes manifestações: o esporte perfor- mance ou de rendimento, o esporte educacional ou de educação, e o esporte de participação ou de lazer. Portanto, utilizando as palavras de Soares, Taffarel e Escobar (1992, p. 217-218), acreditamos que ensinar um esporte, enquanto conteúdo escolar, implica considerar desde os seus fundamentos básicos, os seus métodos de treina- mento, o seu “jogar” propriamente dito, até o seu enraizamento social e histórico, passando é claro pela sua significação cultural enquanto fenômeno de massas em nossos dias. Desse modo, o futebol, o voleibol, o basquetebol ou outra modalidade esportiva, deixam de ter um caráter apenas prático e passam a ter um caráter histórico e social. O aluno nas aulas de Educação Física saberá não apenas praticar uma determinada modalidade esportiva, mas, também, o que é praticar uma modalidade esportiva num mundo que transformou isso em profissão. O esporte, nas aulas de Educação Física, deve ser tematizado de forma ampla e lúdica, sendo contextualizado numa perspectiva crítica e participativa. Quanto mais diversificadas forem as mo- dalidades esportivas desenvolvidas na escola, maiores serão as alternativas voltadas para praticantes e espectadores, de forma que, no processo educacional, todos possam, num determinado momento, vivenciar essas experiências. Dessa forma, o esporte terá um sentido realmente educativo. A prática do esporte na escola é criticada por alguns estudiosos que discutem as temáticas da Educação Física. No entanto, como deixar o esporte fora da escola, se ele está tão presente na vida dos alunos de uma forma que está praticamente fora do controle Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 100 dos professores, pois invade o cotidiano de todos pelos meios de comunicação? O esporte influencia o comportamento dos alunos, bem como desperta aspirações e sonhos por meio dos ídolos que são, muitas vezes, imitados e tidos como exemplos a serem seguidos. Embora de diferentes formas, o esporte interfere e influencia vários setores da sociedade e está presente na vida da maioria das pessoas. Os alunos têm contato com o esporte das mais diferentes formas, são influenciados e motivados diariamente, principalmente pelos meios de comunicação, para a sua prática e consumo. Cabe ao educador manter esse interesse por intermédio de uma metodologia adequada, a qual vise a: possibilitar a todos os alunos o acesso às primeiras vivências corporais do esporte; ampliar e contextualizar esse fenômeno sociocultural como conhecimento na escola; fazer dos meios de comunicação aliados, aproveitando as informações adquiridas pelos alunos; enfatizar nas aulas mais o aspecto lúdico do que o técnico. Uma metodologia desenvolvida nessa direção possibilitará que o conhecimento sobre o esporte na escola tenha realmente significância e seja vivenciado pela maioria dos alunos. O esporte como conhecimento, abordado no contexto da Educação Física na escola, tem sido objeto de discussões em vários estudos de pesquisadores como Betti, Bracht, Coletivo de Autores, Freire, Moreira, Paes, entre outros. Alguns desses autores serão destacados no decorrer deste capítulo e, apesar das suas diferentes visões, cada uma contribui para a análise e a reflexão desse fenômeno sociocultural. Devido à predominância da prática do es- porte que percebemos nas aulas de Educação Física, é de suma importância que os estudos O esporte, nas aulas de Educação Física, deve ser tematizado de forma ampla e lúdica, sendo contextualizado numa perspectiva crítica e participativa. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 101 citados sejam analisados e considerados, servindo de referência para o possível entendimento da dimensão que o esporte deve ter hoje na escola. Como alguns pesquisadores se posicionam a favor do esporte no contexto escolar e outros se posicionam con- tra, nesta obra destacamos os aspectos de alguns dos principais enfoques nacionais e internacionais. 2.2.2 Posicionamentos a favor do esporte A visão dicotômica do homem entre corpo e mente é uma herança antiga, mas ainda muito presente na educação na prática peda- gógica de muitos profissionais da área, como podemos observar nas palavras de Fontanella (1995, p. 7-21): A visão dualística do homem é muito antiga. Ela é mesmo ime- morial. […] Na teoria o homem é dividido. Na prática, o homem é, ora dividido, ora indiviso. Quando age, o homem pode ser uno. Quando pensa, quando teoriza, quando filosofa, quando defende uma tese, o homem é presa da razão racionante, da razão dos conceitos, das leis, das proibições, dos julgamentos, da razão que abomina o sentir, o palpitar humano, o vibrar em comum. Alguns momentos são destacados por Fontanella (1995), nos quais, segundo ele, o homem pode se recuperar, ou seja, refazer suas energias: seria na dança, na arte e no esporte. Esse autor afirma que, “no esporte […] o homo ludens também é simplesmente ho- mem. Não como o intelectual. Age todo ele em consonância com o meio, com o universo, sem precaver-se disso. É o homem indiviso.” (Fontanella, 1995, p. 21). Muitos estudos evidenciam que o esporte ainda vem sendo desenvolvido nas aulas de Educação Física com ênfase em seus aspectos mecânicos e técnicos, sendo seu ensino realizado de forma reducionista e limitado (Finck, 2006). Apesar dessas constatações, a grande maioria de crianças e jovens, como já mencionados anteriormente, sente prazer na vivência do esporte Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 102 nas aulas, preferindo muitas vezes a disciplina de Educação Física entre as outras, como podemos constatar na pesquisas realizadas por Mourão e Pereira, citados por Votre (1995, p. 48), ao concluí- rem que “a educação física foi eleita a disciplina preferida pelos alunos, pois sua dimensão lúdica está proporcionando aos alunos autorrealização no espaço escolar”. Podemos dizer que o fascínio exercido pelo esporte na socie- dade é inegável pela beleza de seus gestos, movimentos, plasti- cidade, estética, por meio do qual o homem supera seus limites e se expressa. Tais aspectos contribuem para o surgimento dos ídolos, que, como já mencionado, são admirados, seguidos e imitados; as conquistas, o êxito e o sucesso no cenário esportivo mundial também são aspectos que fascinam as pessoas em to- das as faixas etárias. Tais fatores influenciam e se refletem no comportamento, nas escolhas e na expressividade das crianças e dos jovens, podendo ter uma conotação tanto positiva como negativa. Assim sendo, o trabalho do professor de Educação Física adquire maior grau de responsabilidade no desenvolvimento do esporte na escola. Na literatura,podemos constatar que existem tanto autores nacionais como internacionais que se posicionam a favor ou contra em relação ao desenvolvimento do esporte na escola. Desde sua inserção no contexto escolar, sua prática vem se consolidando cada vez mais, de modo que faz parte dos planejamentos dos profes- sores como principal conteúdo. Algumas modalidades coletivas são priorizadas (basquetebol, voleibol, futebol e handebol) em detrimento de outras, sendo que a menor ênfase é dada nas modalidades esportivas individuais (atletismo, ginástica), as quais compõem o cenário da Educação Física escolar. O desenvolvimento do esporte nessa direção ocasiona inúmeras polêmicas que constituem o debate em relação a sua abordagem na escola. As discussões se dão principalmente em torno do Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 103 rendimento técnico, da excessiva automatização dos gestos e mo- vimentos e da competitividade dentro e fora das aulas. Podemos dizer que estas seriam as razões fundamentais que têm ocasio- nado tal problemática. Teodorescu (1984) caracteriza o esporte como conhecimento e componente de uma cultura esportiva, identificando-o como elemento da Educação Física. Nas palavras desse autor, o conhecimento e a prática do desporto constituem atos de cultura; A cultura desportiva – tal como a cultura física – representa domí- nios da cultura material e espiritual universal. Ao mesmo tempo, o desporto constitui um excelente meio da Educação Física, com- ponente importante e inseparável da educação geral e multilateral característica do mundo contemporâneo. (Teodorescu, 1984, p.15) Shigunov e Pereira (1993, p. 89-90), quando se referem ao esporte na escola, destacam especialmente os coletivos e comentam: A partir da entrada na escola, os desportos coletivos poderão de- sempenhar um papel fundamental no desenvolvimento corporal e social da criança, desde que se relacionem com os fatores gerais da educação, numa exploração organizada e lúdica, direcionada para os objetivos multidisciplinares, características do processo ensino-aprendizagem atualmente proposto e visando ao desen- volvimento das potencialidades, bem como à integração na vida em sociedade. Por vezes, na escola, a busca de resultados tem ocasionado um trabalho especializado no esporte, o que traz consequências pre- judiciais ao desenvolvimento dos alunos em todos os aspectos, entre eles o físico e o psicológico. Contudo, Freire (2000, p. 94), ao se referir ao ensino e ao desenvolvimento do esporte, in- dica alguns princípios como fundamentais, os quais, segundo ele, deveriam ser seguidos pelo professor para a efetivação de uma pedagogia do esporte. São eles: ensinar esporte a todos; ensinar esporte bem a todos; ensinar mais que esporte a todos; Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 104 ensinar a gostar do esporte. Freire (2000) complementa que o professor deveria dispor do patrimônio lúdico das crianças, das brincadeiras, adaptando-as para a aprendizagem dos esportes. Assim como Freire (2000), muitos profissionais e pesquisadores da área são a favor do trabalho com o esporte na escola. Eles de- fendem e apontam possibilidades para que este seja abordado e desenvolvido nas aulas de Educação Física, assim como buscam, principalmente, resgatar seu valor educativo. Como pudemos perceber, o esporte está presente na sociedade em vários setores – no profissional, na indústria, no lazer e no educacional – e deve ser tratado pedagogicamente na escola, não apenas em relação às suas técnicas e táticas, mas sim como o fenômeno sociocultural de grande abrangência que representa. importante Segundo alguns autores, o esporte deve ser abordado nas aulas de Educação Física de acordo com objetivos mais amplos e significativos, voltados para fins educacionais, no qual um enfoque metodológico essencialmente lúdico deve ser priorizado. Dessa forma, os alunos teriam maiores oportunidades de desenvolver suas potencialidades e vivenciar situações de ensino-aprendizagem que contribuíssem para a sua formação em todos os aspectos, como o físico, o cognitivo e o afetivo social. Portanto, voltamos a frisar que o professor desempenha o im- portante papel de mediador nesse processo, estabelecendo e selecionando os conhecimentos e estratégias que irão permear o trabalho que será desenvolvido em relação ao esporte nas aulas de Educação Física. Assim sendo, os procedimentos utilizados por esse profissional para o desenvolvimento do esporte são funda- mentais. Nesse sentido, Paes, citado por Brotto (2001, p. 74), destaca a importância da ludicidade como um dos principais aspectos a serem considerados no processo de ensino-aprendizagem: Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 105 A ludicidade, a cooperação, a participação, o retorno à origem do esporte e mesmo a competição que, tratada de forma adequada, sem valorização exacerbada, pode promover a alegria e o prazer de uma prática que nunca se repete, pois a incerteza presente neste fenômeno, como uma de suas características, pode atuar como um fator de motivação, despertando na criança cada vez mais o interesse pelo esporte. A importância de se manter o caráter lúdico no esporte é também evidenciada por Cagigal (1979, p. 154), quando se refere à prática do esporte na escola, ao afirmar que “O esporte, em toda sua variada dimensão, desde o espetáculo mundial até o anônimo esforço individual, deve reter-se para acima de toda sua condição lúdica.” Assim, o aprendizado do esporte na escola deve ser permeado pela ludicidade e pelo prazer. Isso é possível quando utilizamos alguns recursos do jogo, como a adaptação das regras, do espaço e do número de jogadores. Dessa forma, será possível a inclusão dos alunos na vivência dos diferentes movimentos esportivos, pois todos terão acesso aos conhecimentos sobre o esporte. Cada moda- lidade esportiva tem sua especificidade, que inclui técnicas e táticas, regras, origem e história, entre outros componentes fundamentais. O ensino do esporte na escola está voltado principalmente para seus movimentos básicos, suas regras e o jogo. Não podemos deixar de considerar outros aspectos que também são importantes para o seu encaminhamento pedagógico, como a contextualização, a análise crítica, a cooperação e a motivação. A importância da prática do esporte na escola pode ser evidenciada pela ação socializadora e democrática que proporciona, pois os alunos, por meio de sua vivência, têm oportunidades de troca de experiências, de interações e de se organizarem em grupos, na busca de objetivos comuns, principalmente quando jogam. Isso pode ser possibilitado tanto nas aulas de Educação Física como Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os dire ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 106 nos treinamentos esportivos: o que diferencia o ensino do esporte num contexto e outro são os objetivos almejados. A escola, tanto privada como pública, deve oferecer espaço para o aprendizado do esporte também para treinamento esportivo, pois a maioria das crianças e jovens não tem acesso a clubes socioesportivos. Finck (1995, p. 53) destaca que, dessa forma, os alunos poderiam escolher a modalidade esportiva de sua prefe- rência e praticá-la adequadamente, complementando: “Vê-se o esporte como o mais rico e simples instrumento pedagógico da Educação Física escolar, que pode incutir no educando a vontade de crescer enquanto indivíduo, dando-lhe a sensação de que sua situação social não é final e pode, num determinado momento, ser revertida.” Nesse sentido, o esporte poderá ser o elemento desencadeador para que o aluno vislumbre maiores objetivos a serem alcançados em relação ao seu aprendizado. Entretanto, temos a competição como aspecto central das discussões em torno do esporte como conteúdo das aulas de Educação Física e, dessa forma, vários estudiosos criticam sua aplicação. Entretanto, Freire (1989, p. 153), referindo-se a essa questão, afirma que: Professores realmente preocupados com o desenvolvimento das características humanas, ao invés de tentar eliminar o caráter competitivo dos jogos deveriam procurar compreendê-lo e utilizá- -lo para valorizar as relações. Creio ser mais educativo reconhecer a importância do vencido e do vencedor do que nunca competir. O valor educacional do esporte é destacado por Cagigal (1981, p. 189) quando evidencia que algumas regras devem ser seguidas para que sua prática possa contribuir para a obtenção de atitudes no sentido de as pessoas viverem melhor com elas mesmas e com seus pares. Para tanto, afirma: Jogando: dando asas à necessidade humana de movimento; pondo em ação o corpo e espírito (podendo somar também o psíquico); Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 107 estimulando o esforço orgânico; habituando a superação pessoal; restabelecendo o equilíbrio psicossomático; (geralmente perdido pelo hábito sedentário); aprendendo experimentalmente (sem experimentos nem testes) a rica alternativa da tensão-distensão; expressando estados internos; praticando o ócio; atuando em equipe; vinculando os interesses particulares aos do grupo; apren- dendo que os jogos da vida sempre têm adversários; aceitando a derrota; comunicando-se com a linguagem simples de movimentos e habilidades universais inteligíveis; liberando-se; libertando-se. Nessa direção, os jogos e os esportes são destacados nos PCN (Brasil, 1998b) como componentes curriculares que indicam que esses conhecimentos, ao serem abordados pelo professor na escola, devem ter significado para os alunos. Para isso, torna-se necessário, segundo o referido documento, introduzir atividades que proporcionem pra- zer na sua prática, valorizando os conteúdos nos aspectos conceituais e atitudinais, além de visar os meios para garantir sua vivência como experiência corporal. Nessa perspectiva, devemos incluir o aluno na elaboração de propostas de ensino e aprendizagem, consi- derando sua realidade social e pessoal, sua percepção de si e dos outros, suas dúvidas e necessidade de compreensão desta realidade (Brasil, 1998b). 2.2.3 Posicionamentos contra o esporte Na via contrária, alguns autores consideram o esporte como de inadequado desenvolvimento para o âmbito da Educação Física escolar e alegam que seu papel não é educativo nem socializador. Pelo contrário, afirmam que sua prática na escola tem servido para reproduzir alunos acríticos e inconscientes, além de ter contribu- ído para incentivar a competição exacerbada e o autoritarismo. A escola, tanto privada como pública, deve oferecer espaço para o aprendizado do esporte também para treinamento esportivo, pois a maioria das crianças e jovens não tem acesso a clubes socioesportivos. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 108 De acordo com Brunhs (1991, p. 46): Essa sobrevalorização do esporte, muitas vezes leva os profissionais da área da Educação Física a não perceberem a dimensão educa- tiva da atividade lúdica, utilizando-se unicamente do esporte, em que os mais “poderosos” merecem atenção e os inimigos abatidos traduzem-se em pontos ganhos, transformando-se nos fracos inúteis “naturalmente” eliminados. Entendemos que o posicionamento da autora é um tanto radical e não aponta uma compreensão mais ampla sobre o esporte. Por sua vez, Bracht (1992) ressalta que é possível verificar, nas aulas de Educação Física em que o esporte é iniciado e desenvolvido, que o professor deixa de considerar as estratégias que permitem a participação de todos os alunos com as mesmas oportunidades e passa a se preocupar com aqueles que apresentam melhor ren- dimento, com o ensino das regras internacionais dos esportes e o desenvolvimento do espírito de competição nos alunos. Acreditamos que, se o professor de Educação Física tiver essa visão limitada, desenvolvendo suas aulas tendo como referência apenas elementos do esporte de rendimento, certamente o acesso dos alunos à vivência corporal dos movimentos esportivos será cerceada, assim como será reduzida a possibilidade de ampliação dos conhecimentos sobre o esporte. Para Bracht (1992, p. 61), o papel social do esporte no desenvol- vimento do educando possui a seguinte conotação: A socialização através do esporte escolar pode ser considerada uma forma de controle social, pela adaptação do praticante aos valores e normas dominantes como condição alegada para a funcionalidade e desenvolvimento da sociedade. Um dos papéis que cumpre o esporte/escolar em nosso país, então, é o de repro- duzir e reforçar a ideologia capitalista, que por sua vez visa fazer com que os valores e normas nela inseridas se apresentem como normais e desejáveis. Ou seja, a dominação e a exploração devem Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 109 ser assumidas e consentidas por todos, explorados e exploradores, como natural. De um lado, o referido autor atribui uma conotação ao esporte atrelada a ideais políticos, fazendo uma crítica contundente à sua prática. Entretanto, não se refere especificamente ao contexto da escola e prossegue do seguinte modo na exposição de seus argumentos: No esporte, desenvolvem-se ideias ou valores que levam ao con- formismo, como é o respeito incondicional a regras, porque o comportamento não conformado no esporte não leva a modifica- ções do esporte, mas, sim, à exclusão dele. No esporte coloca-se em destaque a ideia de que todos têm a oportunidade de vencer (vencer no esporte = vencer na vida), através do esforço pessoal e individual, bastando para isso que se esforce e quetenha talento (como Pelé, Zico, Bernard e outros), o que, em última análise, justifica e explica as diferenças sociais, negando toda e qualquer determinação social. (Bracht, 1992, p. 62-63) Por outro lado, Bracht (1992) evidencia a importância da metodolo- gia utilizada pelo professor e afirma que, na aprendizagem de qual- quer desporto, com a utilização de uma metodologia diferenciada, que ele denomina funcional-integrativa, a aula de Educação Física pode se transformar em um “campo de ação e vivência social”. A metodologia referenciada pelo autor seria aquela que incentiva a reflexão e o diálogo, a participação dos alunos nas decisões, que são tomadas em conjunto pelos elementos do grupo e pelo professor; possibilita a mudança de regras desportivas, para que todos os integrantes do grupo possam participar; proporciona a existência de um clima agradável de cooperação e companheirismo. Percebemos que ambos os autores (Brunhs, 1991; Bracht, 1992) apontam, de certa forma, o jogo e alguns de seus elementos quando as discussões giram em torno do esporte, sendo ele evidenciado como um elemento estrategista e emancipador no conteúdo da Educação Física escolar. Os aspectos evidenciados pelos autores Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 110 referem-se à qualidade lúdica do jogo e às suas regras, que podem ser modificadas por aqueles que participam e organizam o jogo. Ao considerarmos o esporte como meio educativo, é difícil não mencionarmos o jogo como um elemento fundamental no desenvolvimento desse conteúdo para crianças e jovens. Quando as pessoas falam sobre esporte, leem a respeito ou o praticam, geralmente pensam em jogo, pois tais termos remetem a maioria das pessoas a significados que são relacionados a práticas como diversão, passatempo, entretenimento, entre outros. o esporte tem suas raízes etimológicas no francês desport, que os ingleses alteraram para sport. O termo tinha, então, a conotação de prazer, divertimento, descanso. E, apesar das diversas nuances que o esporte assumiu ao longo do nosso século, as pessoas conti- nuam fiéis ao seu sentido original. Até hoje, por exemplo, quando se pretende manifestar algum descompromisso, diz-se que se fez alguma coisa por esporte. Apoiado nesse conceito, o lúdico aparece como sua característica básica, na medida em que o esporte será sempre um jogo, antes de mais nada. (Oliveira, 1986, p. 75) Percebemos, muitas vezes, a dificuldade de distinguir as pa- lavras jogo e esporte, uma vez que ambas trazem significa- dos análogos ou muito próximos, ou, ainda, interligam-se e complementam-se. Segundo Beltrami (1998, p. 54), “o tema mais recorrente na Educação Física escolar, entre os novos autores, é o jogo. Este aparece como estratégia didático-pedagógica privilegiada da educação física escolar nas formas como defendem os novos autores.” A autora evidencia que, para esses estudiosos, a pre- sença da ludicidade no jogo é que vai permitir o desenvolvimento de atitudes e provocar uma ação intencional ou possibilitar o desenvolvimento do conhecimento. Segundo Huizinga (1980, p. 14), o jogo é livre, absorve inteira- mente o jogador, é fascinante, além de possuir ritmo e harmonia. Esse autor destaca que, Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 111 Embora o jogo enquanto tal esteja para além do domínio do bem e do mal, o elemento de tensão lhe confere um certo valor ético, à medida que são postas à prova as qualidades do jogador: sua força e tenacidade, sua habilidade e coragem e, igualmente, suas capacidades espirituais, sua “lealdade”. Porque, apesar de seu ardente desejo de ganhar, deve sempre obedecer as regras do jogo. Para Finck (1995), existem diferenças entre jogo e esporte, mas, ao mesmo tempo, existem elementos que os aproximam, como a competição, o desafio, a tensão, a ordem, as regras, a ludicidade, a alegria, entre outros, indicando também semelhanças entre jogo e esporte. Brunhs (1991, p. 45), em direção contrária, na tentativa de es- tabelecer diferenças entre esporte e jogo, afirma: Partir da premissa da similaridade entre esporte e jogo é colocar este último fenômeno dentro de certas restrições predeterminadas como imposição de regras, modelos, busca de rendimento, recordes, medalhas, juízes, capitães etc., que se por um lado caracterizam aparentemente o esporte, acabam descaracterizando a atividade lúdica que apresenta componentes como a espontaneidade, a flexibilidade, o descompromisso, a criatividade, a fantasia, a ex- pressividade etc., com características culturais próprias. Em sua abordagem, essa autora se posiciona de forma dicotômica em relação ao jogo e ao esporte. Podemos constatar isso na forma como ela se refere a alguns termos, entre outros: o lúdico e a com- petição; as regras/modelos e o descompromisso/flexibilidade; a criatividade e o adestramento; o processo e o produto. Será que a ludicidade também não está presente no esporte? É possível praticar esporte sem o mínimo prazer? E no jogo, as regras e a competição não se fazem presentes? As regras são necessárias tanto no jogo como no esporte, e a rea- lização de ambas as práticas é permeada pela competição, pois Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 112 são aspectos necessários para que ocorra o desenvolvimento contínuo e motivador. Entendemos que as diferenças entre jogo e esporte se dão, principalmente, em nível de complexidade das regras e intensidade da competição. Quando analisamos os conceitos de vários autores sobre esporte e jogo, observamos que muitas contradições estão presentes, bem como muitas semelhanças e diferenças, particularmente para aqueles que defendem o jogo em detrimento do esporte, e também quando há uma supervalorização do esporte em relação ao jogo dentro e fora da escola. Concordamos em parte com essa supervalorização, pois em- bora o esporte de rendimento seja mais valorizado e divulgado fora da escola, principalmente pela mídia, percebemos que, no espaço escolar, o esporte vivenciado pelos alunos tem muito mais as características do jogo. Isso porque, quando os alunos jogam, são realizadas inúmeras adaptações que vão desde o espaço, o número de jogadores, o tempo das partidas, as regras etc., ou seja, tudo é combinado antes de começarem a jogar. Outra questão interessante é que muitas vezes os alunos nem se preocupam em contar os pontos ou marcar o placar: o importante é jogar e se divertir, e ganhar passa a ser um detalhe. Portanto, na escola, temos mais o jogo, com suas características, quando o esporte é praticado nas aulas de Educação Física. O jogo se faz presente na vida do homem desde a infância e perdura durante as diferentes fases de sua vida. Sua vivência pode mudar de intensidade conforme o interesse e a cultura do indivíduo. O esporte, por sua vez, tem ocupado um espaço cada vez maior na vida das pessoas de todas as idades, que buscam por meiode sua prática diferentes objetivos, os quais podem incluir a competição, a prática regular visando à manutenção e/ou a aquisição de benefícios para a saúde, obtendo melhor qualidade de vida, ou, ainda, como atividade de lazer. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 113 Na fase da infância, o acesso à diversidade de jogos é ampliado, pois quando a criança ingressa na escola, passa a conhecer um número maior deles, tanto por meio de atividades orientadas pelo professor como pela interação que estabelece com outras crianças, expandindo, assim, seu universo lúdico. Nos anos finais do ensino fundamental, iniciam-se as atividades de cunho mais esportivo nas aulas de Educação Física. Os PCN evidenciam que, além do esporte e dos jogos, devem ser desenvol- vidos também conteúdos como a ginástica, as atividades rítmicas e expressivas, as lutas e os conhecimentos sobre o corpo, que são conhecimentos da cultura corporal de movimento (Brasil,1998b). O jogo e o desenvolvimento infantil tem sido tema de muitos estudos desenvolvidos por pesquisadores de diversas áreas, pois o seu valor educacional é amplamente reconhecido, principalmente quando a temática refere-se à educação de crianças. Le Boulch (1987) faz referência aos jogos co- letivos, destacando que, principalmente entre 6 e 12 anos, eles ocupam uma posição cada vez maior na vida da criança. Ainda, eviden- cia que a maioria desses jogos apresenta de forma predominante o aspecto motor, como também sua prática favorece a compreensão e a aceitação das regras por parte das crian- ças. Segundo o autor, o jogo garante certa gratuidade e liberdade à criança. Portanto, o educador, ao propiciar a vivência do jogo, es- tará possibilitando um melhor desenvolvimento da socialização dos alunos. Citando Piaget, esse mesmo autor afirma que “a regra do jogo, mutuamente concedida pelos diferentes membros do grupo, de- sempenha um papel essencial no desenvolvimento social da O jogo se faz presente na vida do homem desde a infância e perdura durante as diferentes fases de sua vida. Sua vivência pode mudar de intensidade conforme o interesse e a cultura do indivíduo. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 114 criança, desde que não seja vivida como obrigação imposta pelo adulto.” (Le Boulch, 1987, p. 50). Para o Coletivo de Autores (1992, p. 65), “o jogo […] é uma inven- ção do homem, um ato em que sua intencionalidade e curiosidade resultam num processo criativo para modificar, imaginariamente, a realidade e o presente.” Esses autores ainda complementam: O jogo satisfaz necessidades das crianças, especialmente a ne- cessidade de “ação”. Para entender o avanço da criança no seu desenvolvimento, o professor deve conhecer quais as motivações, tendências e incentivos que a colocam em ação. Não sendo o jogo aspecto dominante da infância, ele deve ser entendido como “fator de desenvolvimento” por estimular a criança no exercício do pensamento, que pode desvincular-se das situações reais e levá-la a agir independentemente do que ela vê. (Coletivo de Autores, 1992, p. 66) Porém, diante de tais posicionamentos, percebemos a polêmica ocasionada pelo pensamento de diferentes autores em relação ao que seria mais relevante, significativo e educativo para se abordar na escola: o jogo ou o esporte? É preciso que os profis- sionais da área de Educação Física busquem os conhecimentos necessários a fim de poder conter radicalismos, de forma que tanto o jogo quanto o esporte, cada qual com suas especifici- dades, possam contribuir para a formação e a qualidade de vida dos educandos. Nesse sentido, na abordagem do esporte na escola, o professor poderá utilizar alguns elementos do jogo, principalmente o seu caráter lúdico, e algumas estratégias metodológicas, as quais poderão ser aplicadas no encaminhamento do processo de ensino- -aprendizagem do esporte. Entre estas, destacamos: • Adaptação das regras: para que os alunos se apropriem dos conhecimentos do esporte no ato de jogar, de forma que todos possam realmente jogar; Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . 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Sem dúvida, dessa forma, alguns elementos do jogo estariam sendo considerados e utilizados pelo professor na abordagem do esporte, objetivando não somente o seu conhecimento, mas também vi- sando à participação de todos os alunos nas atividades, a fim de que vivenciem corporalmente aquilo que estiverem aprendendo. importante Considerando o esporte um patrimônio cultural, que desperta o interesse dos alunos e exerce uma saudável atração em todos os segmentos da sociedade contemporânea, não podemos excluí-lo como conteúdo da Educação Física, mas sim permitir que todos os alunos tenham acesso a esse conhecimento de forma desmistificada, a fim de que possam reconstruí-lo com base em seus interesses e de suas necessidades. Reconhecemos que o esporte é um patrimônio da humanidade e que seu conhecimento precisa ser vivenciado pelos alunos no espaço da escola, sendo o seu estudo possível de ser realizado mediante uma análise que envolve diferentes aspectos. Entre eles, destacamos aqueles elencados pelo Coletivo de Autores (1992), quando indicam aspectos que devem ser discutidos no ensino do futebol. Entendemos que esses aspectos devem ser conside- rados no ensino do esporte, independentemente da modalidade: espetáculo esportivo; processo de trabalho que diversifica e gera mercados específicos de atuação profissional; jogo popularmente Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . 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Percebemos que, entre asmodalidades esportivas, o futebol (no Brasil, prática predominantemente masculina) tem um espaço maior de divulgação, sobre o qual existem programas específicos, transmissão de torneios e campeonatos e até o acom- panhamento da vida particular dos jogadores. Toda essa gama de informações chega a milhares de pessoas por intermédio da mídia, principalmente da televisão. Portanto, hoje, ao falarmos do fenômeno esporte, não podemos deixar de abordar e considerar o papel e a contribuição da mídia, principalmente na divulgação e na influência que têm sobre a sociedade de modo geral, tanto para sua prática e consumo como espectadores dos espetáculos esportivos, como também dos dife- rentes produtos específicos que são fabricados e comercializados para os diversos esportes. Dessa forma, o esporte fora do âmbito escolar é um espetáculo para ser assistido. O assistir e consumir espetáculos desportivos em estádios ou na televisão, separado da ação desportiva própria, é uma dimensão Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 117 essencial para a compreensão do esporte. Desenvolvimento para a capacidade de ação significa, deste modo, também, possibilitar aos alunos uma participação crítica no esporte passivo. (Grupo de Trabalho Pedagógico UFPE-UFSM, 1991, p. 37) O Grupo de Trabalho Pedagógico UFPE-UFSM (1991, p. 36-37) refere- -se ao esporte considerando seus aspectos educacionais. Para tanto, indica cinco perspectivas para o seu desenvolvimento do ponto de vista de objetivos pedagógicos como objeto de ação de alunos e professores: o esporte como algo socialmente regulamentado, a ser aprendido, assistido, refletido e também a ser modificado. O Grupo considera dar ao esporte, ainda, um tratamento didático, o que significa lhe atribuir “diferentes significados que irão dar origem a diferentes perspectivas para a sua realização na prática pedagógica.” (Grupo de Trabalho Pedagógico UFPE-UFSM, 1991, p. 36). Assim sendo, o esporte aparece como um campo de ação aberto, cuja construção social não pode exigir validade absoluta e cujas possibilidades não se esgotam com as formas de ação institucionalizadas. Os alunos devem compreender, através de experiências práticas, o esporte como um campo de ação aberto. […] como um objeto construído socialmente, que não tem validade absoluta. O esporte, assim, é pensado e deve ser considerado, na escola, como algo que pode ser criado com formas de ação não institucionalizadas. (Grupo de Trabalho Pedagógico UFPE-UFSM, 1991, p. 37-38) Já Finck (1995) afirma que o esporte é um fenômeno sociocultural e está presente na vida das pessoas de forma enfática e incisiva, sendo amplamente divulgado pelos meios de comunicação, atin- gindo a sociedade em todos os seus níveis. Nesse contexto, as crianças têm um contato virtual com o esporte (de rendimento ou performance) desde cedo, princi- palmente, por meio da televisão. Embora não saibam realizar os movimentos que ali visualizam, identificam e diferenciam Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 118 muitos deles. Esse conhecimento é adquirido à medida que se familiarizam com as imagens e o vocabulário, associando-os. Muitas vezes, a criança e o adolescente querem reproduzir, na escola, os movimentos esportivos que assistem na televisão, os quais são visualizados tanto em torneios e campeonatos como nos programas esportivos que evidenciam os “melhores lances” dos jogadores. Assim, muitos educadores estão de comum acordo em relação à influência que a televisão exerce sobre crianças e adolescentes, e muitas vezes o termo que utilizam quando se referem a esse meio de comunicação é mídia. Mas o que significa mídia e como ela se manifesta em nossa sociedade? A palavra mídia origina-se do termo mass media e pode significar tanto “meios de comunicação social” como “conjunto dos meios de comunicação”. Tais meios são utilizados como veículos de divulgação de mensagens publicitárias e também de entreteni- mento e de informação, e podem aparecer na forma impressa (jornais, revistas e impressos em geral), falada, eletrônica (rádio, televisão, computador), ao ar livre (outdoors, cartazes, pôsteres) e em trânsito (ônibus, táxi, metrô) (Ferrés, 1996). Entre os diversos veículos da mídia, a televisão é utilizada em grande escala, tornando-se uma forte ferramenta na transmissão de informações. Ela “transforma” pessoas comuns em figuras populares (heróis, artistas, jogadores, políticos, modelos e até os fora-da-lei) da noite para o dia, tornando muitas delas idolatradas, mitificadas. Um conjunto de forças envolve a mídia em diversos aspectos, entre eles o simbólico e o cultural. Por exemplo: de certa forma a televisão é também considerada um espelho da realidade, já que, de uma forma própria, faz da vida um espetáculo. As imagens servem de ligação com o imaginário da sociedade, atendendo quase sempre aos interesses mercadológicos, sendo que possui um ritmo alucinante na veiculação de informações, vendas, en- tretenimento, entre outros (Ferrés, 1996). Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 119 A televisão invade o espaço das pessoas, suas vidas e lares nas formas aberta e fechada. A primeira oferta canais aos quais todos têm acesso; a segunda, também conhecida como “não aberta” refere-se às redes de TV por assinatura, as quais o acesso é restrito para quem paga para usufruir de sua programação. Podemos dizer que o indivíduo é participante do processo co- municativo que se estabelece. O foco da mediação centra-se na relação da recepção com os efeitos da mensagem sobre o receptor, que é diretamente atingido e influenciado não somente pela razão, mas também pela emoção. Quando as diferentes informações atingem a emoção, podem ocorrer mudanças fisiológicas como tensão muscular, alteração do ritmo dos batimentos cardíacos e da respiração, entre outras. Essas informações também causam o riso e/ou o choro. Citado por Ferrés (1996), Schwartzenberg diz que os meios de comunicação também afetam profundamente as atitudes da comunidade, as estruturas políticas e o estado psicológico de todo um país. Os meios de comunicação trabalham com mitos. No entanto, assim como os criam, também podem destruí-los. Utilizam marcas do imaginário as quais são instituídas e modificadas por eles, com- binando informações sobre as necessidades materiais e simbólicas do grupo-alvo, como seus anseios, suas crenças e suas fantasias. Nesse sentido, a televisão é um dos meios de comunicação que mais usufrui desses comportamentos e que mais influencia as pessoas, uma vez que tem maior poder no aspecto comunicativo, associando imagem e som de forma combinada, possibilitando a criação de efeitos especiais, prendendo a atenção das pessoas. A televisão exerce um grande fascínio nas pessoas indife- rentemente de idade, sexo ou classe socioeconômica, pois pode transformar quase tudo em espetáculo, até fatos trágicos,como a morte. É que mesmo trazendo imagens e histórias reais, ela produz a realidade a seu modo, usando efeitos especiais, sons, selecionando as imagens que mais chamam a atenção e que, Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 120 geralmente, atingem o lado emocional do indivíduo. Toda essa produção ocasiona nas pessoas certa confusão, uma vez que constantemente são misturadas ficção e realidade. Isso é perce- bido principalmente entre os espectadores infantis, embora os adolescentes e adultos também sejam influenciados. Ferrés (1996) explica que grande parte do fascínio que a televisão exerce sobre as pessoas advém do fato de que ela cumpre todas as funções próprias do espetáculo, proporcionando gratificações como a sensorial, a mental e a psíquica. Em relação ao aspecto sensorial, o ganho é resultado de uma infinidade de estímulos visuais e sonoros, que incluem imagens, luzes, sons, entre outros. O aspecto mental deriva de fábulas e fantasias que satisfazem uma necessidade básica do ser humano. Já a gratificação psíquica advém da identificação e da projeção por parte das pessoas em relação a histórias, personagens, entre outros, o que possibilita a elaboração de conflitos internos. A televisão também utiliza técnicas para prender a atenção do telespectador para a próxima cena, capítulo ou episódio, fazendo uso de cortes, do suspense emocional, estimulando a imaginação do público, oportunizando a participação do telespectador, convidando-o a prever o desen- volvimento posterior do programa (Guimarães, 2000). Podemos perceber essa influência dos meios de comunicação também na escola, com base na observação do comportamento dos alunos no dia a dia, principalmente da televisão, pois este é o veículo a que eles têm mais acesso. Podemos observar que essa influência é revelada de muitas formas: pelo vocabulário que o aluno expressa; pelos movimentos esportivos que tenta ou até consegue realizar e que, muitas vezes, são próximos daqueles que vê por meio das imagens televisivas; pela maneira como se veste e se manifesta corporalmente (camiseta do time preferido, tênis que o ídolo usa ou que tem como marca o nome dele, corte e cor de cabelo igual ao do ídolo, gestos que os jogadores fazem durante as exibições esportivas etc.), entre outras. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 121 O esporte, assim, é uma manifestação da cultura física, é ciên- cia, profissão, arte, política, educação, atividade de ócio (em que a participação pode ser direta – forma consciente – ou indireta – como telespectador), sendo utilizado também como estratégia de propaganda, de manifestação, de manipulação de massas também como parte integrante da cultura. Na mídia, o esporte mais veiculado é o de rendimento. Muitas vezes, o interesse econômico, financeiro e até político de muitos predomina. Isso porque nem sempre os valores éticos são manti- dos quando se busca a vitória a qualquer custo, como, por exemplo, o uso de doping, de suborno, ou quando não são respeitados os limites dos jogadores, levando-os à exaustão. Elementos como a competição, a vitória, o recorde, a estética, a plasticidade, entre outros, estão presentes, principalmente no esporte de rendimento ou de performance. A televisão colabora com a divulgação desse cenário, por ter como característica a possibilidade de reunir som, imagem, movimento e cor, elementos significativos quando se busca transmitir emoção para o público, nesse caso, por meio da transmissão das modalida- des esportivas. Também, no esporte, manifestam-se as expressões fundamentais da vida humana, seus conflitos e suas perplexidades. Por intermédio dos diversos programas de TV, as pessoas ob- têm informações sobre temas como corpolatria, dietas, alimentação, remédios, drogas, cosméticos, perfumes, vestimenta e vários outros. A maioria desses temas ou produtos, quando veiculados, utiliza o esporte para mostrar seus benefícios ou malefícios. Com isso, participam dessas demonstrações atletas e técnicos, que dizem fazer ou não uso de tais produtos. Assim, uma fonte inesgotável é propiciada para o mercado e o consumo. Betti (1998, p. 36), ao se referir a essa questão, afirma que a televisão, além de estimular o consumo de produtos esportivos, (vestuá- rio, equipamentos etc.), utilizando o esporte como conteúdo ou associando-o a outros produtos por meio do anúncio publicitário, Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 122 tornou o próprio telespectáculo esportivo um produto de consumo comparável às telenovelas e aos programas de auditório. É importante evidenciarmos também que a televisão, como um dos principais meios de comunicação de massa, divulga conheci- mentos e informações não só sobre esportes, mas também sobre temas como drogas, sexo, aborto, prostituição, corpolatria e vários outros. A maioria das crianças e dos adolescentes têm acesso a esses conhecimentos, os quais irão influenciar, de certa forma, na formação de conceitos e valores, nas percepções do compor- tamento e na realidade social do telespectador (em especial das crianças e dos adolescentes). Este ocasionalmente assemelha-se a atores, atrizes e “mitos” criados pela televisão, à medida que experimenta as diferentes facetas de sua identidade em formação e “veste” diferentes “máscaras” sociais (Ferrés, 1996). Betti (1998, p. 68) destaca uma expressão de Eco que resume grande parte da programação televisiva quando se refere ao esporte: o esporte é uma “falação” que se apresenta nos noticiários e pro- gramas esportivos, nas “mesas redondas”, nos telejornais e em reportagens especiais que, em princípio, aparecem em qualquer programa de televisão. Pode ser ao vivo ou não. Como é óbvio, a fala é a forma mais importante, secundada por legendas e números. Esse autor complementa essas ideias evidenciando que a “falação” informa e atualiza fatos esportivos (vencedores, perdedores, líder do campeonato, vida dos jogadores), conta a história (das partidas, lutas e campeonatos), cria expectativas (faz previsões, depois explica e justifica), promete (cria polêmicas e constrói rivalida- des), critica (comenta e elege ídolos) e introduz uma linguagem tecnológica e científica ao grande público (Betti, 1998, p. 68-70). Ele afirma que, por meio dessas funções, a “falação”: • garante a coerência e a continuidade do discurso sobre o esporte; • garante que a programação esportiva sempre poderá continuar no dia seguinte; Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 123 • privilegia sempre o futebol, o esporte que movimenta milhões em dinheiro e pessoase que mais emociona os brasileiros. Percebemos também que as demais modalidades esportivas estão conseguindo um espaço um pouco maior na mídia, mas concor- damos que o futebol ainda prevalece quando o assunto é esporte. Na escola, essa predominância é manifestada principalmente quando a maioria dos meninos opta pelo futebol ao ter a oportu- nidade de escolher a modalidade esportiva que irão praticar nas aulas. Percebemos que fazem do jogo um grande evento, no qual cada time tem o nome de um clube de destaque, em que tentam reproduzir lances, jogadas e até formas de comemorar um gol, imagens que observam na televisão e que lhes chamam a atenção. Por meio da veiculação que a televisão faz do esporte, prin- cipalmente, introduz-se todo um acervo técnico e científico específico às pessoas, o qual exerce a função de transmitir um conhecimento sobre o esporte (táticas, técnicas, história, tecno- logia etc.), embora como função complementar, pois a principal é a espetacularização. Como o telespectador (em especial as crianças e os adolescentes) age ou reage perante tudo isso, já que assistir aos esportes pela televisão faz parte do dia a dia da população em geral? Os canais de televisão, muitas vezes, omitem temas essenciais relacionados ao esporte, mas investem cada vez mais em tec- nologia e recursos humanos para divulgar, cobrir e discutir o esporte, distribuindo um show de imagens e de efeitos especiais que prendem, encantam e divertem o telespectador. Como já vimos anteriormente, a mídia, especialmente a televi- são, tem um papel importante na divulgação do esporte, tanto no sentido de mostrar novas modalidades esportivas como no aspecto informativo e de entretenimento, influenciando, sem dúvida, as Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 124 preferências das pessoas em relação a sua prática, assim como na sua apreciação como espetáculo. Com o grande avanço tecnológico e o aumento da violência urbana, os meios de comunicação eletrônicos (rádio, televisão e computador) têm se tornado uma das principais atividades de entretenimento para crianças e adolescentes, constituindo-se numa das principais fontes de inatividade. Isso porque, muitas vezes, os jovens deixam de praticar atividades físicas e esporti- vas para ouvir programas de rádio, principalmente os musicais, ou assistir a programas de TV, usar o computador para jogar ou acessar a internet. Esse tipo de comportamento em excesso pode comprometer a qualidade de vida tanto das crianças como dos adolescentes, pois aspectos relacionados à sua saúde serão prejudicados, não só referentes à condição e aptidão física, mas também os aspectos mental, social e afetivo, pois, à medida que fa- zem essa troca, ficam mais isolados e, muitas vezes, querem transportar o que visualizam por meio das imagens para sua realidade. É fundamental percebermos que a televisão, ao mesmo tempo que espetaculariza os eventos esportivos, também fragmenta e descentraliza os fenômenos. Por exemplo: assistir a um jogo de basquete da Liga de Basquetebol Americana (NBA) pela televisão é maravilhar-se com uma série infindável de “enterradas” espeta- culares. Após assistirem ao jogo, muitos alunos tentarão realizar no ambiente escolar aquilo que visualizaram, isso podendo ocorrer em relação a outras modalidades esportivas. Em relação a outros comportamentos, como o de consumidor, por exemplo, pode ser motivado pelo desejo de querer obter produtos (tênis, camisetas, bolas, bonés etc.) que são comercializados diretamente e indire- tamente por meio dos eventos esportivos. Nesse contexto, não podemos ignorar os meios de comunica- ção e as influências que exercem nas crianças e nos jovens, uma A mídia, especialmente a televisão, tem um papel importante na divulgação do esporte. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 125 vez que fazem parte do universo cultural do mundo moderno. Segundo Finck (1995), o esporte também faz parte do mundo mo- derno, sendo veiculado amplamente pelos meios de comunicação e tendo a indústria como aliada. O esporte pode ser, para as pessoas em diferentes faixas etárias, um jogo, uma brincadeira, um espetáculo transmitido pela tele- visão, um jogo de video game ou de computador etc. Assim sendo, é de suma importância que sua abordagem na escola se dê de forma ampliada e contextualizada, a fim de propiciar aos alunos um entendimento aprofundado desse fenômeno sociocultural. Como nós, educadores e profissionais da Educação Física, podemos participar desse processo e contribuir com ele? Educar para uma leitura crítica dos programas de televisão é prioridade em nossos dias no contexto escolar, pois o contato dos alunos com esse veículo de comunicação é intenso. Não podemos deixar de admitir que atualmente é necessário formar telespectadores conscientes e críticos, capazes de “ler” os progra- mas televisivos sob o prisma da ética e da cidadania. Hoje a televisão tornou-se o instrumento privilegiado de pene- tração cultural, de socialização, de formação de consciências, de transmissão de ideologias e valores, de colonização. Por isso é surpreendente que a instituição escolar não tenha somente deixado que essa hegemonia na educação lhe fosse usurpada, mas que ainda assista, impassível, ao processo de penetração da cultura audiovisual, sem oferecer sequer modelos de interpretação e de análise crítica para as novas gerações. (Ferrés, 1996, p. 10) Os PCN (Brasil, 1998b) destacam como importantes os aspectos referentes à mídia, sendo fundamental tratá-los em todas as disciplinas na escola, e não apenas na Educação Física. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 126 À escola cabe, portanto, organizar e sistematizar também na forma de conhecimentos os símbolos culturais. Segundo Ferrés (1996, p. 9), na escola Dedica-se muito mais tempo a ensinar a ler do que será depois dedicado à leitura. Dedica-se muito mais tempo a ensinar arte do que será dedicado depois a contemplar a arte. No entanto, a televisão, que se tornou o fenômeno cultural mais impressionante da história da humanidade, é a prática para a qual os cidadãos estão menos preparados. Para que possamos fazer intervenções de forma competente e responsável e nos posicionar diante da questão da televisão, de- vemos ter conhecimentos sobre esse meio de comunicação e sua linguagem. “Se o professor não se encantar e não encontrar meios de também encantar seus alunos pelos conhecimentos […] todo o mais será cansaço e ineficácia na sala de aula, e continuaremos no caos e no marasmo” (Grossi, citado por Guimarães, 2000, p. 27). Muitas das reportagens televisivas podem servir como recurso didático pedagógico para os professores das diversas disciplinas escolares. No caso da Educação Física, quando o tema é o esporte, a televisão oferece inúmeras possibilidades, que o professor pode e deve utilizar nas aulas criticamente, tais como: o esportecomo profissão, o esporte como lazer, esporte voltado à saúde e à qua- lidade de vida, esporte e meio ambiente, esporte e diferenças culturais, esporte e indústria, entre outros. O esporte não pode ser desenvolvido na escola apenas na perspectiva dos seus movimentos, técnicas e táticas, pois é muito mais que isso. Ao aluno devemos dar possibilidades de ter um conhecimento mais abrangente e contextualizado, a fim de que possa estabelecer relações entre as diferentes manifesta- ções do esporte (performance ou rendimento, educacional ou de educação, de participação ou de lazer). Assim, poderá fazer uma leitura crítica do esporte de performance que ele assiste na mídia, Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 127 relacionando-o àquele que pratica nas aulas de Educação Física (educacional) e utilizando esse conhecimento em seu benefício e dos outros, no espaço escolar e fora dele. 2.4 O esporte como conteúdo pedagógico no contexto escolar De acordo com o que já discorremos, o esporte é um fenômeno sociocultural marcante na sociedade moderna e por meio de diferentes manifestações está presente em inúmeros lugares, ocupa diversos espaços e influencia as pessoas de diferentes maneiras, tanto na prática quanto na preferência por assistir aos inúmeros espetáculos que proporciona. A mídia, principalmente a televisão, por sua vez, contribui com a divulgação do esporte de rendimento, apreciado pela maioria das pessoas. Sem dúvida, este é o que mais assistem e comentam, de forma que acabam criando preferências e fazendo escolhas em relação à prática da atividade física e esportiva, tendo-o, muitas vezes, por referência. Os alunos, por sua vez, também sofrem essa influência, o que determina a preferência que têm pelo esporte em relação aos demais conteúdos tratados nas aulas de Educação Física. O esporte de rendimento tem objetivos e características que o diferenciam em relação ao educacional e ao de lazer, sendo que tal diferenciação se dá principalmente pela ênfase da competitivi- dade e da disputa, que incluem outros elementos, como as regras rígidas, os movimentos padronizados, a produtividade, o recorde e a vitória. Esse é o esporte que as pessoas apreciam e assistem pelos meios de comunicação, principalmente da televisão. Muitas das reportagens televisivas podem servir como recurso didático pedagógico para os professores das diversas disciplinas escolares. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 128 A escola como instituição e espaço formal de educação deve abordar pedagogicamente temas relacionados ao esporte de rendimento, a fim de que o aluno faça uma leitura desse fenômeno sociocultural de forma abrangente. Embora saibamos que o esporte de rendimento é o que mais in- fluencia o contexto que trata do seu ensino e aprendizagem, sa- bemos que hoje os objetivos da Educação Física escolar mudaram. Não se busca mais a performance dos movimentos esportivos, mas principalmente a participação de todos os alunos e o respeito à individualidade e à expressividade de cada um, com a ênfase de que todos devem ter acesso a esse conhecimento (Finck, 1995). importante O esporte deve ser considerado, no contexto da escola, não somente em relação aos aspectos motores (procedimentais), mas também aos cognitivos (conceituais), aos afetivos e aos sociais (atitudinais), que não podem ser esquecidos. O “fazer” é muito importante, mas o “conhecer”, o “aprender” e o “ser” devem estar presentes no trato desse conhecimento na escola (Brasil, 1998b). O “fazer” sempre esteve presente no desenvolvimento das aulas de Educação Física, pois os alunos realizam os diversos movi- mentos esportivos. Porém, o que é realizado não pode estar li- mitado apenas a gestos e movimentos, devem ter também um significado para o aluno em termos de conhecimento, nos quais as atitudes não podem ser deixadas de lado. É fundamental que estas sejam consideradas, pois são permeadas por valores éticos e morais que ultrapassam o contexto escolar e que servem para o direcionamento da vida. Podemos dizer que o esporte possui alto valor na vida das crianças e dos jovens. Se bem conduzido pelo educador, sua Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 129 vivência pode possibilitar inúmeras situações que ajudarão no desenvolvimento deles, como: • a possibilidade para a formação de grupos; • o processo de identificação com os ídolos, que pode ser bas- tante motivador no sentido de o aluno estabelecer objetivos e querer alcançá-los; • a possibilidade para a autoafirmação e a identidade; • a participação no esporte de rendimento por intermédio das competições escolares; • a possibilidade de o aluno se desenvolver em um campo de trabalho e obter ascensão social com o aprendizado; • o aprendizado de várias modalidades esportivas, que con- tribui para que o aluno adquira conhecimentos e os utilize no seu tempo livre. O esporte, principalmente das modalidades coletivas, possibilita tanto a formação de novos grupos de relacionamento como ensina novas formas de se relacionar por meio da sua prática. Oferece tam- bém inúmeras situações para o desenvolvimento de competências necessárias a uma boa convivência em grupo, como a tolerância e a aceitação do outro, tanto naquilo que é melhor como também nas suas limitações. Os novos grupos que se formam geralmente agregam crianças e jovens de realidades bastante diferenciadas, mas que estão ali comungando dos mesmos interesses e motivados para o mesmo fim, que seria a prática e o aprendizado da mesma modalidade esportiva. O fato de cada integrante do grupo ser diferente e ter as mesmas expectativas em relação àquela vivência esportiva possibilita o estabelecimento de novas formas de interagir e de se relacionar, com isso, todo o grupo aprende e cresce. A preferência que o educando tem por uma determinada mo- dalidade esportiva leva-o a admirar os jogadores desta, que se Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 130 transformam em ídolos. Às vezes, ocorre o contrário: a admiração pelo ídolo leva-o a ter preferência por uma determinada modali- dade esportiva. Muitas vezes, tem o desejo de ser e de jogar como ele, o que serve de motivação para que busque sempre a prática do esporte de uma forma mais próxima da ideal. Tal desejo fará com que estabeleça sempre novos objetivos, desejando alcançá-los, o que é bastante saudável para a formação de sua personalidade. As diversas situações de oposição e confronto que o educando enfrenta, presentes principalmente nas competições, colocam-no à prova. Ao se deparar comessas situações, tem de tomar partido, decidir, abrir mão de algo, aceitar aquilo que se apresenta no momento ou, mesmo diante de uma grande dificuldade, procurar meios com seus pares para tentar solucioná-la ou amenizá-la. Sem dúvida, é um aprendizado social abrangente e diversificado, em que as situações vivenciadas contribuem para que o educando desenvolva competências importantes para uma melhor con- vivência em grupo. Isso porque, à medida que aprende a ceder, escolher o que é melhor para o grupo, argumentar e defender suas ideias, com certeza terá o seu desenvolvimento melhorado em muitos aspectos. Outra questão a ser considerada é a possibilidade de o esporte se tornar um trabalho para o aluno, pois tendo na escola os pri- meiros conhecimentos e as primeiras experiências esportivas no nível de competição, ele poderá levar adiante esse aprendizado, aperfeiçoando-o cada vez mais. Dessa forma, terá a oportunidade de fazer do esporte uma profissão, o que poderá lhe dar uma perspectiva de vida diferenciada e certa ascensão social. O aprendizado do esporte no contexto da escola é muito importante também no sentido de que, à medida que o aluno tenha acesso ao conhecimento e vivência de várias mo- dalidades esportivas, terá também maiores possibilidades de escolha, a fim de poder Outra questão a ser considerada é a possibilidade de o esporte se tornar um trabalho para o aluno. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . 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As suas regras devem ser conhecidas e discutidas, podendo ser modificadas para que sua prática possa ser vivenciada pela maioria dos alunos. O esporte deve ser considerado uma manifestação do movimento humano, sendo construído pelos homens e também modificado conforme as necessidades e interesses dos diferentes grupos de praticantes. O esporte oferece também inúmeras possibilidades de prática as quais devem ser consideradas, assim como seus inúmeros objetivos. Portanto, ao ser abordado na escola, deve possibilitar ao aluno conhecimentos a fim de que ele possa fazer uma leitura analisando, refletindo, discutindo e modificando esse conheci- mento, conforme suas necessidades e interesses ao longo da vida. Na escola, o aluno deve adquirir conhecimentos que lhes deem subsídios para que consiga diferenciar o esporte em relação aos seus objetivos e manifestações (educacional, lazer e rendimento). Dessa forma, terá um melhor conhecimento desse fenômeno e saberá qual o seu significado nos dias de hoje. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 132 Tani (1998, p. 116) evidencia algumas características do esporte relacionadas a objetivos que buscam o rendimento e afirma que, dessa forma, este: Objetiva o máximo em termos de rendimento, pois visa à competi- ção; ocupa-se com o talento e portanto preocupa-se essencialmente com o potencial das pessoas; submete pessoas a treinamento, com orientação para a especificidade, ou seja, uma modalidade específica; enfatiza o produto e resulta em constante inovação. O interesse principal […] é a perpetuação do sistema ou a sua autopreservação e o sistema só se perpetua com recordes. Os motivos desse interesse podem ser culturais, econômicos, polí- ticos e ideológicos. O mesmo autor refere-se também ao esporte como conhecimento a ser abordado nas aulas de Educação Física, estabelecendo dife- renciações, principalmente em relação aos seus objetivos, afir- mando que, como tal: Objetiva o ótimo em termos de rendimento, respeitando as ca- racterísticas individuais, as expectativas e as aspirações das pessoas; ocupa-se com a pessoa comum, preocupando-se não apenas com o seu potencial, mas também com a sua limitação; visa à aprendizagem e, portanto submete pessoas à prática vista como um processo de solução de problemas motores; orienta-se para a generalidade, dando oportunidades de acesso a diferentes modalidades; enfatiza o processo e não o produto em forma de rendimentos ou recordes, e essa orientação resulta na difusão do esporte como um patrimônio cultural. (Tani, 1998, p. 117) Tani (1998) ainda destaca dois aspectos que considera importantes para que não se tenha uma visão do esporte ambígua, reduzida e simplista. O primeiro seria considerá-lo como patrimônio cultural da humanidade; algo que foi criado pelos homens, transmitido e transformado ao longo do tempo, o que lhe No contexto escolar, devem ser consideradas todas as manifestações e abordagens que o esporte possibilita. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 133 confere, segundo o autor, uma natureza dinâmica. O segundo aspecto seria o de considerar que, devido à ênfase dada a deter- minados aspectos do esporte, ele poderia assumir características diferenciadas. Por exemplo, enquanto a busca de resultados e recordes é o objetivo precípuo do esporte de rendimento, como conteúdo da Educação Física escolar e não escolar, a aquisição de habilidades, conhecimentos e valores e sua prática ao longo da vida, visando ao bem-estar e à qualidade de vida, constitui o seu objetivo primordial. Portanto, considerando os aspectos evidenciados por Tani (1998), a conotação que o esporte terá como conhecimento a ser tratado no contexto escolar, tanto nas aulas de Educação Física como nas aulas especializadas (treinamentos), vai depender do conhecimento que o professor tenha desse fenômeno, bem como dos objetivos que venha a estabelecer para o tratamento pedagógico do esporte, pois entendemos que o professor é o mediador e, como tal, desempenha papel fundamental nesse processo. Finck (1995) destaca algumas características do esporte de rendi- mento e as evidencia como diferenciações a serem consideradas nas aulas de Educação Física quando o tema for o esporte: • é um fenômeno social e tem regras institucionalizadas; • possui um campo que o caracteriza e que lhe é próprio, o esportivo; • é praticado em espaços estandardizados e o material utili- zado para sua realização possui características específicas; • sua prática no nível de competição requer de seus praticantes uma performance.A autora sugere outras características que estão mais próxi- mas do jogo e que podem permear a tematização do esporte nas aulas de Educação Física. Por exemplo: as regras podem ser adaptadas, assim como o espaço e o material a ser utilizado; Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 134 embora a competição esteja presente, por se tratar de jogo, todos podem participar, pois as alterações são realizadas à medida que os jogadores desejarem e estiverem de comum acordo. Tais características possibilitam que princípios como a participação e a ludicidade estejam presentes na abordagem do esporte nas aulas de Educação Física. Barbieri (2001) destaca e define alguns princípios do esporte, os quais ele denomina educacionais, que são: o da totalidade, o da coeducação, o da emancipação, o da participação, o da coo- peração e o do regionalismo. Segundo o autor, esses princípios devem ancorar a prática do esporte tanto no espaço escolar como em outros, pois seria objetivo também que a comunidade tivesse essa vivência e esse conhecimento. De forma resumida, apontamos algumas das especificidades dos referidos princípios (Indesp, 1996): • Totalidade: refere-se ao fortalecimento da unidade do homem consigo mesmo, com o outro e com o mundo. • Coeducação: é uma concepção ampliada de educação; seria o en- contro entre dois aprendizes, em que todos aprendem com todos. • Emancipação: seria a busca da autonomia e da liberdade do homem fundamentada na educação. • Participação: diz respeito à valorização do processo de interferên- cia do homem na realidade na qual está inserido, fundamentado nos princípios de cogestão, corresponsabilidade e integração e favorecendo seu comprometimento. • Cooperação: significa a união dos esforços na busca de objetivos comuns. • Regionalismo: significa respeito, proteção e valorização das raí- zes e heranças culturais; a singularidade dos diferentes mundos culturais faz parte e constitui o todo. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 135 Concordamos que esses princípios devem es- tar presentes no trato do esporte como conhe- cimento no contexto escolar. Isso porque todos devem participar das aulas (participação), já que o aprendizado do esporte deve servir para a promoção do aluno, contribuindo para que se torne uma pessoa melhor com relação à sua totalidade e emancipação. Para isso, devem ser priorizadas situações de ensino-aprendizagem nas quais ocorram interações para que todos aprendam com todos, contribuindo assim para o crescimento e a melhoria do grupo (coeducação, cooperação). O educador deve estar atento também às questões culturais do seu contexto (regionalismo), priorizando o desenvolvimento do esporte no que seria mais importante e significativo para os alunos, considerando a comunidade a que pertencem, suas ne- cessidades e seus interesses. Finck (1995) refere-se ao esporte como o conteúdo predominante tratado na escola, mas destaca alguns aspectos que devem ser con- siderados nas aulas de Educação Física, como a historicidade das diversas modalidades esportivas; a sua abordagem ampla, crítica, significativa e contextualizada; a inclusão de todos os alunos na sua prática; a sua tematização com caráter lúdico e a vivência prazerosa. Ao longo do século xx, o esporte, devido à sua amplitude e complexidade, foi identificado como um dos principais fenôme- nos socioculturais, sendo manifestado de diversas formas na sociedade nos seus diversos contextos, entre eles, o educacional. Foi valorizado tanto nos cursos de formação de professores de Educação Física como nas escolas, por professores e alunos. Dessa forma, sua prática pedagógica deve ser repensada e redimensio- nada, devendo ser considerado, visualizado e tematizado como um fenômeno de grande magnitude. Ao longo do século XX, o esporte, devido à sua amplitude e complexidade, foi identificado como um dos principais fenômenos socioculturais, sendo manifestado de diversas formas na sociedade nos seus diversos contextos, entre eles, o educacional. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 3Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora Ibpex. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 137 3 Educação Física escolar: cotidiano pedagógico e formação de professores Neste capítulo, evidenciamos algumas contradições presentes no cotidiano da Educação Física escolar e os respectivos fatos que colaboram para o seu delineamento. Em seguida, destaca- mos alguns estudos sobre o cotidiano na área da educação e da Educação Física em que o enfoque dos pesquisadores é bastante diferenciado. Abordamos também a importância de o cotidiano ser considerado como campo de análise e reflexão da prática pe- dagógica e do saber docente, visando a perspectivas de melhoria tanto do processo de ensino-aprendizagem da Educação Física e do esporte na escola como em relação às questões que envolvem a formação de professores. 3.1 O cotidiano da Educação Física escolar: contradições da prática e do saber docente O cotidiano da Educação Física apresenta algumas contradições que devem ser consideradas na efetivação de sua análise. Alguns fatos colaboram no seu delineamento, como a autonomia que Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 138 a escola adquiriu para definir sua grade curricular; a falta de conhecimento de diretores e professores das outras áreas, bem como da comunidade sobre os benefícios e a importância dessa disciplina na escola; e o reconhecimento dessa área de conheci- mento como uma profissão. A última LDBEN (Brasil, 1996) possibilita total autonomia das escolas para estabelecer o que é prioritário para sua comunidade, dando aos seus educadores liberdade de escolha para discutir, organizar e elaborar o projeto político-pedagógico, definindo a grade curricular. Existe a possibilidade de escolha do que seria importante para o aluno em termos de conhecimento. Muitas vezes, como já mencionado em capítulo anterior, algumas disci- plinas são tidas como mais importantes que a de Educação Física, obtendo uma maior carga horária na grade escolar. Dessa forma, entendemos que a Educação Física acabou per- dendo espaço na escola. Tal fato se deve, em parte, à falta de conhecimento e, consequentemente, à desvalorização dessa dis- ciplina por parte daqueles que dirigem e administram a escola. Isso também se estende à comunidade, representada pelos pais, que não tem conhecimento detodos os benefícios que as aulas de Educação Física poderão trazer aos seus filhos, no sentido, por exemplo, de contribuir para a formação de hábitos saudáveis, visando a uma melhor qualidade de vida. Outro fato agravante é que, muitas vezes, o trabalho do profissional de Educação Física não é valorizado na escola pela direção, pela equipe pedagógica e pelos demais professores de outras disciplinas. Já fora do contexto escolar, com a influência que a mídia exerce na valorização do profissional, mesmo que de forma indireta e superficial, ao veicular a imagem de um corpo tido como ideal, acaba transmitindo conceitos, valores e informações, eviden- ciando a importância e os benefícios da prática da atividade física e esportiva. De certa maneira, tais fatores acabam influenciando as pessoas a adotarem o hábito de praticar exercícios das mais Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 139 variadas formas. O profissional, então, ganha seu espaço nas academias, nos clubes e em situações desempenhadas de forma autônoma, por exemplo, como personal training*. Hoje, há um grande número de pessoas preocupadas com a aparência, principalmente com o corpo, embora os motivos principais para a adoção de tais hábitos devessem ser a manutenção e/ou melhoria da saúde. Dessa forma, percebemos uma grande contradição, pois en- quanto na escola a Educação Física e o esporte perdem espaço, fora dela se manifestam cada vez mais em formas diferenciadas de práticas da atividade física e esportiva. Na fase escolar, a Educação Física e o esporte são fundamentais e necessários, pois é nesse período da vida que as vivências dessas atividades poderão contribuir para a sedimentação de valores referentes à importância e aos benefícios que o indivíduo poderá adquirir com a prática de exercícios de forma regular, tanto para a manutenção como para a melhoria da saúde. Além disso, é a oportunidade de possibilitar um desenvolvimento melhorado do educando em outros aspectos, entre eles, os sociais. “Uma educação física de sucesso significa que os alunos, indepen- dentemente da idade, incorporarão atividades físicas nas suas culturas individuais sob qualquer forma (práticas esportivas, danças, ginásticas, programas de atividades diversas etc.)” (Gomes Tubino, 2002, p. 265-268). Nesse processo, o professor de Educação Física desempenha papel fundamental e sua atuação na escola como educador deve incluir ações pedagógicas direcionadas para esse objetivo. Como profissional dessa área, tem responsabilidade em contribuir para que os alunos desenvolvam hábitos saudáveis para um estilo de vida com mais qualidade. * Esse termo é utilizado pela maioria dos profissionais da área, pela mídia e também popularmente e refere-se àquele que organiza, planeja e estabelece atividades físicas e ou esportivas de forma personalizada, com o objetivo de atender às necessidades específicas de cada pessoa. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 140 Outra questão importante refere-se à regu- lamentação da profissão na área de Educação Física. A discussão vinha de muito tempo, mas, a partir do amparo legal, esse profissional passou a ser protegido pela lei, tendo, para isso, o Conselho Federal de Educação Física (Confef) no nível federal e os Crefs no nível estadual, o que deu certa segurança aos pro- fissionais da área. Hoje, existe uma grande contradição em re- lação a esse aspecto. É que enquanto o profis- sional de Educação Física conquista a regula- mentação da sua área, ao mesmo tempo perde espaço de atuação na escola, em que a carga horária semanal das aulas foi diminuída. Ainda, foi extinta (nas escolas públicas) as horas destinadas ao desenvolvimento do tra- balho especializado com o esporte de compe- tição, voltado aos treinamentos esportivos ou às aulas especializadas. Assim sendo, apenas uma parcela muito pequena de escolares tem acesso ao apren- dizado do esporte direcionado para tais objetivos: os alunos das escolas particulares. Essas questões contraditórias que o cotidiano revela devem ser analisadas e consideradas quando as discussões permeiam a Educação Física e o esporte no contexto da escola. 3.1.1 Cotidiano, prática pedagógica e saber docente O tema cotidiano é tratado por vários autores com concepções dife- renciadas. No Brasil, entre os mais conhecidos, destacamos três: Heller, Lefebvre e Kosik, cujos trabalhos* dizem respeito às questões * Esses autores seguem a linha marxista. Destacamos alguns de seus estudos: Heller (1989); Lefebvre (1972); Kosik (1976). Na fase escolar, a Educação Física e o esporte são fundamentais e necessários, pois é nesse período da vida que as vivências dessas atividades poderão contribuir para a sedimentação de valores referentes à importância e aos benefícios que o indivíduo poderá adquirir com a prática de exercícios de forma regular, tanto para a manutenção como para a melhoria da saúde. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 141 do cotidiano e ajudam no entendimento dos conceitos que estão a ele relacionados. Embora tais estudos sejam de fundamental importância, não subsidiam reflexões e pouco contribuem para discutir questões que compõem a vida escolar cotidiana, no sentido de estabelecer suas especificidades e relações com tais conceitos. Por outro lado, em algumas áreas de conhecimento têm sido de- senvolvidos estudos sobre o cotidiano. Maciel, citado por Shigunov e Shigunov Neto (2002, p. 31), referindo-se aos estudos realizados em Didática, evidencia o trabalho de alguns pesquisadores: Detecta-se uma preocupação muito grande em investigar o coti- diano escolar e, dentro dela, os vários aspectos de sua constituição, como podem ser apreciados nos estudos que destacam: a sala de aula como objeto de estudo da didática, como expressão do fenô- meno do ensino, em uma vertente dialético-materialista (Oliveira, 1993); o cotidiano escolar como possibilidade para a construção do saber didático, dentro da pesquisa etnográfica (André, 1993, 1994); a construção do saber didático, utilizando-se da pesquisa-ação (Silva, 1993); a construção da didática, voltada para a democrati- zação do processo educativo, em uma perspectiva histórico-crítica (Veiga, 1993); a aula como espaço de conhecimento, cultura (Penin, 1994); práticas interdisciplinares na sala de aula. (Fazenda, 1998) Pereira (1997), ao destacar também alguns estudos sobre o coti- diano, ressalta que observá-lo, ainda que possa parecer novo, é um procedimento muito antigo. De certa forma, afirma que seu estudo remonta os registros de costumes de povos estrangeiros realizados pelos gregos antigos, passando pela descrição de cam- panhas militares romanas. Considerando o grande número de referenciais teóricos, não é de se estranhar que, apesar de girarem em torno do tema cotidiano, não se tenha uma concepção única com contornos definidos e claros. Waldenfels, citadopor Souza (2000, p. 18), chega mesmo a referir-se a esse quadro como um “labirinto” para o qual seria muito temerário querer definir um fio condutor. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 142 De forma semelhante, podemos afirmar que as teorias do co- tidiano formam um conjunto bastante amplo no interior do qual, porém, é possível discernir algumas convergências: todas elas se distinguem pela renovação dos estudos empíricos, por uma atenção orientada para a pesquisa de campo que privilegia ativi- dades sociais estruturantes; todas elas se distinguem, igualmente, pela evolução de seus interesses, deixando o âmbito do sistema educacional em direção aos patamares mais restritos da realidade. Tais circunstâncias levam-nas a ser, por vezes, qualificadas como abordagens microssociológicas (Souza, 2000). Deixando a análise de contextos sociais mais amplos, a recon- ceptualização da sociologia, por exemplo, passa, agora, a permitir que a educação considere o ensino e a aprendizagem que ocorrem na sala de aula. Ou seja, com as teorias do cotidiano, as pesquisas educacionais entram na escola se dispondo a ouvir os seus agen- tes, a fim de verificar com que bases atuam no âmbito da sala de aula. Dessa forma, elas permitem, por exemplo, analisar quais processos intervém na formação do conhecimento dos alunos e suas relações com o currículo explícito e/ou oculto, e de onde se origina o conhecimento que se ensina na escola (Souza, 2000). Os estudos e pesquisas na área da Educação*, no Brasil, têm abordado com frequência o tema cotidiano, sendo este o cen- tro de interesse de muitos pesquisadores, que recorrem a essa temática não só para explicitar os seus projetos de pesquisa, mas também para tentar situar no dia a dia a referência para uma fundamentação teórica de suas ações educativas. Sobre isso, Chizzotti (1992, p. 87-88) destaca que há um interesse crescente pelas atividades do dia a dia, pelas atividades rotineiras que compõem os acontecimentos diários da vida e os significados que as pessoas vão construindo, nos seus * Entre outros, citamos: Domingues (1985); Penin (1989); Marques (1991). Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 143 hábitos, nos rituais em que celebram no recinto doméstico ou na sala de aula, e por todo sentido que as pessoas dão ao conceito de práticas e comportamentos, prenhes de significado social e político. Logo, podemos dizer que todas as práticas humanas são constitu- ídas de significados, sendo realizadas em qualquer contexto; entre eles, o educacional, em que são efetivadas as práticas pedagógicas que compõem o cotidiano escolar. Ghedin e Franco (2008), numa abordagem mais ampla, apontam novos sentidos para a compreensão dos fenômenos educativos, evidenciando sua evolução, bem como as configurações comple- xas e variadas que o próprio processo educativo vem assumindo para atender às atuais demandas socioculturais, exigindo que novas formas de pesquisa sejam incorporadas ao fazer científico. “Assim a prática educativa, vista como uma síntese provisória da intencionalidade educacional de uma época, num contexto específico, vai tomando sucessivamente diferentes contornos.” (Ghedin, Franco, 2008, p. 55). Os referidos autores afirmam que o impacto das metodologias qualitativas sobre a compreensão do fenômeno educacional foi grande, pois estas permitiram vislumbrar novas perspectivas, recompondo o corpo de conhecimentos em educação e organi- zando nova textura, que acabou favorecendo novas compreen- sões do fenômeno e exigindo novas atitudes metodológicas, que certamente ampliarão uma vez mais as dimensões do objeto de estudo em questão. Ghedin e Franco (2008) ainda fazem uma reflexão sobre as pos- sibilidades de que novos estudos e pesquisas científicas venham a referendar novas e frutíferas formas de pesquisa em educação. Assim sendo, novas compreensões vão sendo incorporadas ao conhecimento educacional, entre elas: • o professor vem à cena; • o cotidiano entra em destaque; • a realidade social passa a ser dotada de sentido; Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 144 • surgem questões relativas à identidade, à emancipação, à autonomia; • o processo impõe-se ao produto; • as técnicas de pesquisa enriquecem-se. Na perspectiva desses autores, na realização de pesquisas em educação, numa abordagem qualitativa: o professor é sujeito; o cotidiano é um espaço único impregnado de sentido; a realidade social passou a ser compreendida como algo composto de múl- tiplas significações, de representações que carregam o sentido da intencionalidade. À medida que as personagens falam, se expressam, vão surgindo ao pesquisador as questões de papéis sociais, de identidade, da busca do espaço existencial, bem como as do querer ser, da emancipação, da autonomia. Assim, focando o olhar no cotidiano, pode o pesquisador afeito a práticas quali- tativas perceber o fluxo dos fatos em movimento. Na busca dos conteúdos implícitos, dos valores encobertos que pautam os sentidos do cotidiano, há necessidade de profundas descrições, de diferentes interpretações. Entre outros estudos sobre o cotidiano escolar, evidenciamos o de Penin (1989), em que a autora explicita seu entendimento da escola como espaço de transmissão e apropriação do conhecimento or- ganizado, no qual busca sintetizar história e cotidiano dando vida aos fatos e dados recolhidos por meio da observação. Na área da Educação Física, no Brasil, ainda existem poucos es- tudos que contribuem na análise do cotidiano pedagógico dessa disciplina. Destacamos os de Moreira (1995) e Pereira (1997), em- bora o enfoque que cada autor priorize seja bastante diferenciado. Moreira (1995) realizou sua pesquisa numa abordagem feno- menológica, na qual procura o estudo do fenômeno do desvelar da ação do professor na escola, que tem por objetivo verificar se a Educação Física efetivada tem promovido mudanças ou se tem Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 145 servido como meio de reprodução do sistema que está posto. Para isso, o pesquisador observou o dia a dia da disciplina e considerou, em seis encontros, as atuações de quatro professores em turmas do ensino fundamental e médio. A pesquisa de Pereira (1997) teve por objetivo o entendimento aprofundado da realidade da Educação Física escolar, desenvolvida no ensino médio, em que o pesquisador defende e aponta para o que ele denomina Educação Física necessária. Evidenciamos a importância de serem considerados aspectos sobre a prática pedagógica e os saberes docentes do professor de Educação Física, objetivandoa busca de alguns pressupostos analítico-metodológicos de apreensão dos processos que consti- tuem o cotidiano efetivado no contexto escolar. De acordo com Souza (2000, p. 27), Entende-se “cotidiano” como um mundo social de uma determi- nada camada da população [...]. Nesse caso refere-se a contextos de socialização e experiências, à formação de orientações normativas, regras, maneiras de comportamento e modos de ver do meio social impregnados de fatores socioculturais. O conceito serve como uma ferramenta metodológica que organiza o comportamento das crianças e por isso deve ser considerada didaticamente. Nesse sentido, consideramos a escola um espaço formal de educa- ção, onde são estabelecidas relações entre as pessoas que compõem o seu contexto, principalmente professores e alunos. Na escola são vivenciadas experiências pedagógicas, algumas normas são estabelecidas com o objetivo de regular e orientar o seu funcio- namento, que é determinado por fatores sociais, políticos e cul- turais, bem como se estabelecem regras a serem cumpridas que visam organizar o comportamento dos alunos ao mesmo tempo em que o influencia. Concordamos com Penin (1989, p. 3), ao afirmar que, Ao se estudar a escola, a primeira consideração que se evidencia é que ela, apesar de questionada sobre vários aspectos, apresenta-se Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 146 como uma instituição sólida no contexto da sociedade moderna. Indivíduos de todas as classes sociais clamam por ela, exigindo seu crescimento e aprimoramento para cumprir aquilo que ela promete. Acreditamos na escola como um espaço contraditório, em que tanto educadores como alunos vivem parte do seu dia a dia, sendo aí construído e partilhado o conhecimento. Todos ensinam e apren- dem, rotinas e sequências são estabelecidas, surgem novidades, a criatividade está presente e, ainda, um pouco da história de vida de cada um influencia e contribui na construção do cotidiano es- colar. Portanto, a escola é um espaço que proporciona o convívio social, a troca e a ampliação de experiências, devendo possibilitar ao educando a produção e a aquisição do conhecimento de forma organizada, sistematizada e, também, significativa. Consideramos que o cotidiano se configura como o espaço e o tempo em que há vida, em que há cultura. É no dia a dia real e concreto, no qual estão inseridas rotinas e diferenças, certezas e dúvidas, mesmices, novidades e criatividades, com acidentes e satisfações que as pessoas vivem. É um mundo que está presente, é concreto, objetivo e diferente do imaginário, pois se configura por meio das ações dos homens. É construído diariamente, onde os sonhos se realizam ou não e o imediato não é apenas pensado, mas é vivido. A teoria se concretiza por meio da prática da vida pelos homens. Para Kosik (1995, p. 79), “Todo modo de existência humana ou de existir no mundo possui sua própria cotidianidade”. As pesquisas sobre o contexto escolar possibilitam a aproxi- mação do educador com as questões que envolvem o cotidiano pedagógico; permitem o entendimento da operacionalidade da escola, dos vários mecanismos que se fazem presentes e são permeados pela dialética, na dominação/resistência, na opressão/contestação; revelam quais e como são transmitidos Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 147 e reelaborados conhecimentos, valores, concepções e crenças sobre o homem, o mundo e as coisas. Precisamos conhecer a escola mais de perto, no sentido de entendermos a dinâmica das relações e interações que compõem seu cotidiano. Trata-se de uma instituição formal de educação bastante complexa, em que se estabelecem estruturas que en- volvem poder, organização, papéis que são desempenhados pelos sujeitos que ali atuam. Nesse espaço intricado são construídas ações, relações, conhecimentos são edificados, negados, revigo- rados, transformados. Fazendo uma análise da prática pedagógica dos professo- res, Perrenoud (1993) aponta três facetas que envolvem essa realidade: • A rotina e a improvisação regulada: dizem respeito, de um lado, à reprodução das práticas docentes – os professores conscientemente tendem a reproduzir comportamentos e ações que são comuns ao conjunto dos demais professores –, e, de outro, à expressão do habitus, no sentido que Bourdieu, citado por Setton (2002), atribui ao termo, em que esque- mas de ação e percepção, que não estão sob o controle da consciência do professor e cuja origem se perde no tempo, confundem-se com a tradição coletiva das práticas docentes. • A transposição didática: refere-se às transformações que recebem os saberes a fim de que possam se tornar ensináveis. • O tratamento das diferenças: está relacionado às diferenças individuais dos alunos quanto a níveis de conhecimento, projetos pessoais, personalidade. A prática pedagógica é permeada por saberes do professor, sendo adquiridos não só na sua formação inicial, mas principalmente durante o exercício de sua profissão. Borges (1998, p. 48) chama a atenção para a falta de reconhecimento em relação aos saberes do professor e argumenta: Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 148 Se a prática é a realidade concreta na qual atua o professor, efetu- ando a transposição didática, e se é por meio dela que ele coloca seus conhecimentos em ação, o que sabemos dessa prática? O que sabemos desses saberes – coletivos e individuais, expressão do habitus do professor – que são mobilizados no momento da elaboração dos programas e currículos e durante o contato com a realidade heterogênea do alunado? Com certeza muito pouco, pois, de um modo geral, desprezamos esse lado da formação do professor, principalmente porque não acreditamos nos saberes da prática, nos saberes do senso comum. Também, dentro dos cursos de formação de professores, não incorporamos o fato de que, fora da universidade, os futuros docentes continuam em formação; duvidamos que outros agentes ou instituições possam estar (in) formando os professores. O professor, na sua prática docente, desenvolve inúmeros saberes que a constituem. Segundo Tardif et al. (1991, p. 218), é possível conceituar o saber docente como “o conjunto de saberes que o professor possui não só no que diz respeito aos conhecimentos já produzidos que ele transmite, mas também, ao conjunto de saberes que integram sua prática e com os quais ele estabelece diferentes relações.” Para o autor, o saber docente pode ser enten- dido como “um amálgama, mais ou menos coerente” de saberes provenientes de quatro fontes: • Saberes da formação profissional: provenientes das ciências da educação e da ideologia pedagógica, sendo transmitidos pelas instituições formadoras. • Saberes das disciplinas: saberes sociais sistematizados e tematizados na instituição universitária. • Saberes curriculares: saberes sociais que a escola/sociedade selecionou para serem transmitidos às futurasgerações. • Saberes da experiência: desenvolvidos pelo professor no exercício de sua profissão. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 149 Quanto aos saberes da experiência, Tardif et al. (1991) apontam que, diante da impossibilidade de controlar os saberes das disciplinas curriculares e da formação profissional, os professores produzem ou tentam produzir saberes por meio dos quais compreendem e dominam sua prática. Os saberes da experiência permitem aos professores um distanciamento de outros saberes que estão longe da sua prática/vivência pedagógica. Quando perguntam aos pro- fessores sobre os seus saberes e que relação é estabelecida entre estes, as respostas indicam que há uma prioridade em relação àqueles que são por eles denominados práticos ou da experiência. Da pesquisa realizada com professores, Tardif et al. (1991) de- preendem que os saberes da experiência têm origem na prática cotidiana e é por ela validado. O professor os adquire pela sua experiência profissional e por meio dele constituem os funda- mentos de sua competência, fornecendo a base para modelos de excelência profissional. Mediante os saberes da experiência, os professores julgam sua formação anterior ou sua formação ao longo da carreira; as reformas introduzidas nos programas e cur- rículos; as inovações metodológicas e sua adequação à realidade. Baseado nas colocações de Tardif et al. (1991) a respeito dos campos de origem do saber docente, Therrien (1993b) aprofunda-se nos questionamentos relacionados à natureza, à proveniência e aos processos da categoria saber da experiência docente, a qual pode ser compreendida como o saber que se constrói na prática social e pedagógica do cotidiano desse ator social. Investigando a ação pedagógica, em um estudo realizado com professoras leigas, Therrien (1993b) pôde observar que a prática social delas – desenvolvida em intensa interação com seu meio de vida – situa-se num contexto de construção dos saberes de Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 150 experiência*, pois, em função de um contato muito elementar com os saberes da formação profissional, elas buscavam na prá- tica outras fontes de referência para sua atuação docente. Nesse sentido é que o saber de experiência pode ser identificado como elemento de referência, de validação e de análise da sua prática escolar; um saber social que informa a prática. Segundo Therrien (1993a, p. 4), a acentuada valorização do saber científico e do conhecimento tecnológico tem colocado os docentes numa posição contraditória em relação aos saberes que possuem e transmitem. Isso pode ser especialmente percebido no processo de formação dos professores, no qual, Ao mesmo tempo em que se concede aos docentes um papel de importância, sua formação se restringe cada vez mais ao saber compartimentado e especializado em “disciplinas científicas”, e isto numa perspectiva de educação limitada à tarefa de meros transmissores desses saberes, como técnicos especializados em “repetir” os conhecimentos produzidos por outros. Contraditoriamente, o processo social de valorização da produção do saber é desvinculado de sua transmissão. Em decorrência disso, Therrien (1993b, p. 4) observa que forma-se uma barreira entre o cientista e o professor, uma edição modernizada da separação entre pesquisa e ensino, teoria e prá- tica, numa sociedade que privilegia a divisão do trabalho na sua estrutura de classe. Esse ator social chamado professor-educador, embora considerado agente imprescindível das instituições de ensino, continua desvalorizado no conjunto dos atores que man- têm uma relação essencial com o saber. Entretanto, apoiado em Tardif et al. (1991), Therrien (1993b) afirma que, quando se considera o processo educativo numa perspectiva * No texto intitulado “O saber social da prática docente”, Therrien (1993b) utiliza a expressão saber de experiência, em vez de saber da experiência, para ressaltar a abrangência do saber construído pelo professor em sua vida cotidiana e profissional. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 151 que identifica o trabalho docente a uma prática profissional, fun- dada numa pluralidade de saberes historicamente construídos, constata-se que a formação nos saberes e a produção dos saberes constituem dois polos complementares e inseparáveis. Ou seja, o professor é responsável pela formação dos cidadãos no que diz respeito à transmissão dos saberes sociais historicamente produzidos e, no seu cotidiano, lida com os mais diferentes co- nhecimentos que lhe dão subsídios e que são agregados à sua prática docente, formando sua própria identidade. Nesse sentido é que sua prática está ligada ao processo criador, ultrapassando a simples transmissão de conhecimentos. Portanto, os saberes de experiência constituem o elemento essencial na formação do professor e não podem ser ignorados na definição dos currículos. Isso porque, segundo Therrien (1993a, 1993b), o saber de experiência é o saber próprio do professor; que se constrói em sua práxis social cotidiana como ator social, educador e docente; que se constrói em interação com os outros sujeitos e em relação à diversidade dos demais saberes; que ul- trapassa os conhecimentos adquiridos na prática da profissão, incluindo os saberes denominados culturais. Por esse motivo, o autor enfatiza que é fundamental aprofundar estudos sobre os saberes de experiência e os demais processos de apropriação dos saberes pelo professor, pois Considerando o processo de formação dos professores como elo inseparável da prática docente, numa perspectiva dinâmica de formação permanente, torna-se crucial identificar, descrever e analisar os elementos desse saber inter-relacionados com os saberes pedagógicos e disciplinares oriundos das instituições de formação dos profissionais de ensino, bem como os saberes curriculares definidos pela instituição escolar onde devem ser transmitidos. Importa, portanto, estudar a proveniência e os processos de apro- priação, na prática pedagógica dos docentes, do saber socialmente construído na sua práxis cotidiana. (Therrien, 1993b, p. 10) Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 152 Borges (1998) argumenta que, com essa reflexão, recoloca-se a questão de cunho epistemológico, que diz respeito à relação entre teoria e prática na formação dos educadores e ao conhecimento valorizado nas universidades. Em virtude do que se denomina conhecimento científico, compreendido como saber organizado e sistematizado, cada vez mais se prioriza, nos cursos de for- mação, uma estrutura curricular fragmentada,fundamentada num conjunto de saberes especializados de disciplinas cientí- ficas (Therrien, 1993a, 1993b). Isso coloca o docente em formação numa posição de futuro transmissor dos saberes apreendidos nessa instituição que o está formando, ou seja, transmissor de conhecimentos que são veiculados nas instituições de formação, produzidos pelos cientistas, produtores de saber. Borges (1998) ainda ressalta que a prática do professor, portanto, envolve ações que não estão descritas na literatura e em face dos inúmeros problemas que enfrenta no seu dia a dia de trabalho e de tantas decisões que precisa tomar e para as quais o caráter do ineditismo impede que se prescreva uma receita a ser aplicada. Tem-se a evidência de que existe um saber que se constrói no fazer (Schön, 1992; Perrenoud, 1993). Esse saber, construído na prática – o saber fazer –, pode ser identificado com os saberes da experiên- cia, mencionados por Tardif et al. (1991). Fundamentando-se na sua vida cotidiana e no conhecimento de seu meio, como diz Therrien (1993b, p. 412), “o saber de experiência do professor se identifica, portanto, com o seu saber social próprio resultante de sua prática social cotidiana”. Os saberes da experiência podem ser identificados com expe- riências provenientes não só da prática profissional, conforme evidencia Borges (1998), mas também da prática acadêmica, da prática cotidiana dentro e fora da escola, da prática de vida. Os saberes da experiência podem vir a integrar-se aos saberes cien- tíficos, dando-lhes um novo sentido e significado. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 153 A referida autora diz que isso implica outra postura diante da problemática dos conhecimentos que são validados pelas institui- ções que formam professores. As universidades têm confirmado uma concepção reducionista, que não considera vários aspectos da formação. Isso se dá principalmente pelo caráter científico dos conhecimentos que ela transmite. Borges (1998) afirma que tais aspectos envolvem não apenas conhecimentos a respeito da prática pedagógica do professor, mas também a respeito de sua história, de sua vida cotidiana, e, ainda, conhecimentos da própria organização escolar e das interações que o professor estabelece no âmbito da escola. Segundo André (1995, p. 41), movimentos de aproximação e de afastamento, onde se criam e recriam conhecimentos, valores e significados vai exigir o rompi- mento com uma visão de cotidiano estática, repetitiva, disforme, para considerá-lo, como diria Giroux (1986), um terreno cultural caracterizado por vários graus de acomodação, contestação e resis- tência, uma pluralidade de linguagens e objetivos conflitantes. Dessa forma, no espaço social da escola, os conhecimentos, bem como os valores e os significados, são elaborados, transformados e reelaborados, ocorrem aproximações e afastamentos; portanto, a visão estática e repetitiva de cotidiano precisa ser rescindida. Acreditamos que o cotidiano escolar é fonte de informações para o trabalho individual e coletivo da escola, assim como para as instâncias superiores, que deverão tomar as medidas necessárias dentro de sua competência – não positivas, mas facilitadoras, junto com outros fatores, para uma melhor qua- lidade de ensino nas escolas. Portanto, conhecer o cotidiano escolar torna-se importante na medida em que conhecê-lo é abrir possibilidades de transformação; para tanto, também é necessário que sejam consideradas suas contradições. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 154 Essas questões devem ser analisadas a fim de que possam ser perspectivadas melhorias no tratamento pedagógico da Educação Física e do esporte na escola. Consideramos o esporte um dos maiores fenômenos sociais, que possui um conhecimento amplo, específico e significativo, devendo ser abordado pedagogicamente tanto nas aulas de Educação Física como nos treinamentos esportivos (aulas especializadas) e tor- neios entre as séries (competições entre os alunos das diferentes turmas), sendo estes momentos diferenciados, mas que devem estar presentes na escola. Com o domínio do conhecimento sistematizado acerca do esporte, espera-se que a pessoa esteja apta para utilizá-lo em todas as situações de prática, seja na rua, no clube, no trabalho, seja no lar, e ao longo de toda a sua vida, para promover o bem-estar e a qualidade de vida. Esse conhecimento possibilitaria uma prática com senso crítico, ou seja, com a compreensão dos “porquês” dessa prática. Assim, a educação física estaria contribuindo para um processo contínuo de exploração ótima do potencial motor que capacitaria a pessoa a interagir de forma apropriada com o seu ambiente físico, social e cultural. (Tani, 2002, p. 114) Finck (1995) evidencia que é necessário buscar subsídios que possibi- litem contribuições no sentido de apontar perspectivas pedagógicas diferenciadas para a Educação Física e o esporte na escola, pois, nesse contexto, o cotidiano se apresenta distante do que tem sido discutido e produzido na área, assim como estão distantes também as propostas curriculares sugeridas em nível de governo estadual. Muitas vezes, também no trabalho pedagógico realizado, o as- pecto teórico da prática ou a reflexão sobre a ação nem sempre aparecem de maneira explícita, de forma clara. Envolvidos na continuidade das ações que realizam, alguns professores não con- seguem entender como a relação entre teoria e prática acontece na Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 155 rotina escolar e exageram na tendência de menosprezar a teoria, numa atitude praticista, ativista, ingênua e acrítica. Por outro lado, as propostas que chegam à escola, ao serem ela- boradas nos gabinetes da administração pública, não consideram o que é realizado em termos pedagógicos no cotidiano da escola. As falas, necessidades e interesses dos professores e alunos, também estão, muitas vezes, longe do acervo teórico científico produzido. Nesse contexto, acreditamos que são necessários encaminha- mentos que visem contribuir para um redimensionamento da Educação Física e do esporte no contexto escolar, como também na formação de professores. Para isso, temos como ponto de par- tida o cotidiano efetivado, no qual são considerados os diversos olhares e leituras de seus principais atores sobre o que acontece no dia a dia da escola, nas aulas de Educação Física, bem como em relação ao esporte, sendo este considerado não apenas no espaço das aulas, mas também em outros momentos escolares. 3.2 A importância da reflexão sobre o cotidiano pedagógico na formação do professor Entendemos o curso de Licenciatura em Educação Física como formador de professores para atuar na escola nas diferentes eta- pas do ensino e acreditamos ser a escola o principal espaço para a articulação de compreensões emancipadas sobre a Educação Física e o esporte. Porém, há muitas críticas* em relaçãoao ensino da Educação Física no contexto escolar, especialmente aquelas que se re- ferem aos aspectos metodológicos. Entre elas, evidenciamos os conteúdos abordados superficialmente, o predomínio e a * Entre os autores que tratam dessas questões, citamos: Freire (1989); Moreira (1992); Coletivo de Autores (1992); Betti M. (1992); Betti, I. C. R. (1992); Bracht (1992); Taffarel (1985). Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 156 abordagem limitada do esporte, a metodologia inadequada e a disciplina escolar distante do contexto, não sendo consi- deradas as experiências, as limitações e a cultura dos alunos (Finck, 1995). O principal personagem responsável por todos esses e outros problemas é quase sempre o professor de Educação Física. Pouco ou quase nenhum referendo positivo lhe atribuem, havendo até algumas generalizações. Essas críticas são elaboradas, geralmente, por aqueles que estão fora das escolas, os que detêm o saber aca- dêmico, os quais, muitas vezes, também elaboram as teorias para serem aplicadas pelos professores da “prática”, da escola do ensino fundamental e médio, e que somente dela entendem. Portanto, cabe a eles incorporar as “teorias” elaboradas pelos primeiros. A esse respeito, Shigunov e Shigunov Neto (2002, p. 83, grifo do original) dizem que A “tendência cientificista e tecnológica” parece considerar que apenas aqueles que “produzem” os conhecimentos têm a consci- ência dos conceitos teóricos, enquanto os professores são vistos como meros consumidores, devendo apenas conhecer os efeitos práticos. As consequências dessa visão é a perda da liberdade de pensar e decidir. Os “consumidores” perdem a capacidade de percepção de problemas sociais e humanos, deixando nas mãos dos teóricos o poder de dizer o que é ou não verdade, o que pode ou não ser “consumido”. Ocorre, assim, uma acomodação dos profissionais que atuam nas escolas, quanto a pensar, refletir sobre essas verdades, porque entendem serem produzidas por especialistas altamente capacitados, cujo valor e significado não necessitam ser questionados – a verdade já está determinada. Diante de tais questões, percebemos que há, de certa forma, uma ausência de unidade entre teoria e prática, que revela também o oposto, a chamada prática pela prática, ou a reprodução acrítica de saberes estereotipados, em que a Educação Física acaba privile- giando uma determinada prática, não como critério de validação Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 157 da teoria, mas como puro ativismo (Medina, p. 1983). Dessa forma, nega-se o aspecto teórico da prática, isto é, ao questionamento teórico sistemático das práticas. Isso muito tem contribuído para a condição de inferioridade em que se encontra, ainda hoje, a Educação Física no currículo escolar. Tanto um extremo como outro se torna um equívoco, por não apresentar qualquer possibilidade de legitimação e superação dessa área de conhecimento. Demo (1996, p. 28) afirma que “nenhuma prá- tica esgota a teoria, nenhuma teoria dá conta de todas as práticas.” Rein e White, citados por Gómez (1992), observam que a inves- tigação não só se distanciou da prática profissional como se tem deixado absorver por sua própria lógica, diferente das necessidades e dos interesses dos professores. Com isso, os autores ressaltam também que não querem dizer que a investigação básica não seja necessária e imprescindível, mas que é preciso desenvolver paralelamente outros programas de investigação, centrados nas exigências e nos problemas das situações derivadas da prática. Como conhecer tais exigências e problemas sem levar em conta o cotidiano pedagógico do professor? Parece não ser possível. É necessário conhecer o pensamento prá- tico do professor, sua práxis, resultante de todo um conhecimento acumulado e experenciado, que é refletido no seu saber-fazer pedagógico. Por meio e com base na análise/reflexão sobre a ação do professor na escola, é possível discutir as questões referentes ao ensino da Educação Física e do esporte. Em toda forma específica de práxis e na práxis tomada em seu conjunto, enquanto práxis total humana, está contida a teoria por se tratar de uma prática de um ser consciente – o que equivale a dizer que se trata de uma prática dirigida por finalidades que são produtos da consciência; finalidades estas que para se efetivarem exigem um mínimo de conhecimento. (Ribeiro, 1991, p. 30) Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 158 É de fundamental importância que num curso de formação de professores seja possibilitado ao acadêmico o contato com esse saber-fazer do professor, na perspectiva de uma aproximação analisada e refletida, a fim de absorver saberes e adquirir capaci- dade de reconstruí-los, utilizando como suporte os conhecimentos adquiridos na graduação. Felizmente, nos cursos de licenciatura, a disciplina de Estágio Curricular é desenvolvida em dois espaços: a universidade e a escola. A direção das atividades da disciplina desenvolve-se por meio de um trabalho compartilhado, com a contribuição dos co- nhecimentos produzidos na academia (bibliografias, pesquisas etc.) e que chegam à escola, e na realidade escolar (contextos diferenciados, percepções, prática pedagógica, organização da escola etc.). Esse trabalho contribui subsidiando as reflexões e discussões realizadas com os acadêmicos no desenvolvimento da disciplina de Estágio. No seu desenvolvimento, o acadêmico tem a oportunidade de estar em contato com a realidade escolar, por meio das observações que realizará e das decisões que tomará. Dessa forma, terá a vivência pedagógica, buscando como subsídios os conhecimentos teóricos científicos a fim de refletir, discutir e pesquisar, com o objetivo de inovar a prática pedagógica na escola. o Estágio não pode ser encarado como uma tarefa burocrática a ser cumprida formalmente, muitas vezes desvalorizado nas escolas onde os estagiários buscam espaço. Deve, sim, assumir a sua função prática, revisada numa dimensão mais dinâmica, profissional, produtora, de troca de serviços e de possibilidades de abertura para mudanças. (Kulcsar, citado por Piconez, 1994, p. 65) Nessa perspectiva, a disciplina de Estágio Supervisionado no curso de licenciatura deve permitir o acesso a conhecimentos teóricos científicos no sentido de possibilitar a reflexão sobre a realidade escolar, bem como sobre as questões que envolvem o processo de ensino-aprendizagem; possibilitar a confrontação e a articulação das teorias estudadas, analisadas e discutidas Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 159 com a realidadepedagógica do professor na escola, considerando esta como ponto de partida para seu desenvolvimento; apontar oportunidades de vivências da realidade escolar. Alguns elementos devem ser considerados na formação do pro- fessor, como a necessidade de esta ser entendida como processo, bem como a prática, em forma de estágio, considerada como eixo de formação – pois as escolas de ensino fundamental e médio são agências formadoras no processo de formação do futuro profes- sor. O professor atuante da escola deve ser também um agente formador do futuro professor. Considerando o cotidiano pedagógico escolar, percebemos que não se tem prestado a devida atenção às práticas alternativas que muitos professores conseguem desenvolver com sucesso. São experiências bem-sucedidas, apesar das condições existentes. É importante enxergar o professor com todas as suas necessida- des e limitações, mas também com toda sabedoria que acumu- lou ao longo da sua experiência. É fundamental que tenhamos como convicção que a formação do professor será concretizada quanto maior for seu envolvimento na busca de soluções para suas dificuldades. Esse processo de reflexão/ação conjunta poderá possibilitar, também, uma forma de interação de encaminhamento em curto prazo. Seria a assessoria dos professores da disciplina de Estágio Curricular Supervisionado em Educação Física (ECSEF), do curso de Licenciatura em Educação Física, em relação às orientações sobre as dificuldades encontradas a respeito da organização e da sistematização do trabalho desenvolvido pelos professores de Educação Física na escola, bem como a obtenção de subsídios para a reformulação e a atualização de ementas de aulas disciplinares. a competência sempre renovada alimenta-se também da capaci- dade de colocar sob questionamento a prática, a rotina de trabalho, o ambiente diário de exercício profissional etc.; a ideia é trazer a prática de volta para a teoria, aplicando-lhe um choque de crítica, Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 160 dentro do reconhecimento de que a prática somente se mantém inovadora, se voltar à teoria, e desta retornar à prática; não será difícil surpreender vazios teóricos, rotinas surradas, atividades sem sentido, descoordenação, que podem, sob a luz da crítica e da realimentação teórica, ganhar novas dimensões. (Demo, 1996, p. 71) Dessa forma, por um lado, haveria um retorno à escola daquilo que se produz na universidade e, por outro, a valorização do co- nhecimento que o professor constrói, não como receituário, mas sim como uma das formas de aproximar o futuro professor de parte da realidade escolar, colaborando para o processo de sua formação. Grande parte dos resultados das pesquisas pertinentes e diri- gidas às mudanças das práticas pedagógicas de sala de aula tem chegado escassamente aos professores e, consequentemente, aos acadêmicos, o que não colabora com os avanços. Ao contrário, a situação permanece da mesma forma. Muitas mudanças pode- riam acontecer se os resultados das pesquisas fossem realmente assumidos pelos agentes educacionais. Segundo Demo (1996), a pesquisa vista como princípio cien- tífico, no processo de formação, é uma das formas alternativas de superar a questão do envelhecimento de cursos baseados em transmissão de conhecimentos copiados, alimentados pela tradição que valoriza mais falar bem do que produzir ciência. A relação pedagógica que se estabelece no meio acadêmico deve se diferenciar de outras, o que estabelece tal distinção é a produção científica. Ainda, um papel estratégico desempenhado pela pes- quisa é que ela poderia vir a ser um ponto de confluência entre as várias disciplinas envolvidas na formação dos professores, multi ou interdisciplinarmente. Entendemos que a ação curricular deve ser exercida nessa perspectiva e também de forma coletiva. Em grande parte dos estudos realizados sobre formação de professores, a principal questão evidenciada é a desvinculação da teoria veiculada nos cursos e a prática nas salas de aula. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 161 O encaminhamento priorizado nos cursos de formação de professores se dá numa perspectiva de que a teoria precede a prática. Dessa forma, essa dependência admite um curso abstrato que se traduz pela concepção de que a prática é orientada pela teoria, que é definida antecipadamente e determina o como fazer. Portanto, não há qualquer síntese de ambas. Entendemos que é preciso superar a dicotomia existente, valen- do-se de medidas, estratégias e instrumentos capazes de resgatar a unidade teoria-prática para que a proposta curricular não perca a dimensão da totalidade da prática pedagógica. A teoria tem que ser mais que apenas análise de processos de ensino. A teoria tem a capacidade de antecipar ações práticas, mas é a partir, também, de propostas práticas concretas que o desenvolvimento teórico pode tomar um novo impulso. E é nesta dialética de interação entre a teoria e a prática, a prática e a teoria, que se insere a relevância das relações teórico-práticas na busca de uma pedagogia consistente para o ensino da Educação Física. (Kunz, 1995, p. 49) De acordo com Finck (2006), os acadêmicos afirmam que o que aprendem no curso, muitas vezes, não tem relação concreta com a realidade escolar e que na realização do estágio a teoria geral- mente é outra. Os acadêmicos dos cursos de licenciaturas, entre eles os de Educação Física, quando da realização do Seminário Integrado das licenciaturas* – que acontece no final de cada ano letivo –, têm, entre outros problemas, pontuado com frequência essa desvinculação existente entre teoria e prática. Demo (1996) faz menção à relação que deve existir entre teo- ria e prática quando se refere à profissionalização do educador e afirma: “trata-se de combinar sabiamente teoria e prática, ou seja, uma teoria que se confronte com a prática e com isto se * Este seminário ocorre na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), sendo um dos locais em que a autora desenvolveu sua pesquisa de doutorado. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 162 renove, e uma prática que volte sempre à teoria para se refazer” (Demo, 1996, p. 110). A possibilidade de aproximação entre o mundo do acadêmico e o do trabalho é facilitada, muitas vezes, por meio de convênios firmados com escolas de ensino fundamental e médio, da rede estadual de ensino, e de outras instituições interessadas em te- rem estagiários. Entendemos que essa integração propicia benefícios mútuos tanto para a escola, como campo de estágio, quanto para a uni- versidade, pois acadêmicos e professores podem pensar concre- tamente a prática, fundamentando-a cientificamente e podendo levar, por meio dos estagiários, os conhecimentos que serão dinamicamente aplicados na solução de problemas enfrentados por eles e pelas escolas. Por meio dessa integração, representada pela análise, reflexãoe discussão, que possibilita o confronto e a articulação da realidade (cotidiano pedagógico do professor na escola) com a teoria estu- dada e analisada, envolvendo os professores de Educação Física, os acadêmicos e o professor da disciplina de Estágio, é possível desenvolver um trabalho de caráter mais coletivo, que ganhará mais em qualidade quanto maior for a capacidade de desenvolvê- -lo de forma interdisciplinar*. 3.3 Educação Física, esporte e formação de professores: algumas perspectivas A escola deve oferecer espaço para o aprendizado do esporte em nível de treinamento, na busca de um rendimento possível para os alunos, pois parte significativa da população de escolares quer * Entendido como “processo de integração recíproca entre várias disciplinas e campos de conhecimento.” (Fenelon, 2010). Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 163 aprender esporte de forma mais especializada e deseja participar de competições. Mas e aqueles alunos que não desejam participar de competições, devem ter acesso ao aprendizado do esporte? Por quê? Onde? Já dissemos que o esporte é um fenômeno sociocultural presente na nossa sociedade. Suas diferentes modalidades foram sendo construídas, vivenciadas e modificadas pelos homens, acumulando um acervo cultural de conhecimentos que incluem códigos, sen- tidos e significados. Portanto, deve ser tratado pedagogicamente na escola de forma sistematizada e organizada. Assim sendo, todos os alunos têm direito ao seu aprendizado, e é nas aulas de Educação Física que esse saber deverá ser abordado com compe- tência e comprometimento pedagógico pelo professor. A tematização do esporte nas aulas de Educação Física de- verá buscar o desenvolvimento de objetivos educacionais e seu encaminhamento metodológico deverá incluir estratégias que priorizem vivências de ensino-aprendizagem que possibilitem aos alunos o desenvolvimento da autonomia e da convivência, atendendo princípios da inclusão, da diversidade e da participa- ção. Nessa perspectiva, as aulas de Educação Física se caracterizam como um espaço da consolidação das relações de companheirismo, amizade e trocas de experiências, onde todos aprendem com to- dos, adquirem conhecimentos e se desenvolvem, participando de forma efetiva na elaboração das atividades pedagógicas. Os conhecimentos da cultura corporal de movimento deverão ser abordados nas aulas de forma ampla, flexível, contextuali- zada e significativa, despertando o interesse dos alunos e lhes proporcionando prazer na realização das atividades físicas e esportivas. Também deverão ser abordados pedagogicamente em diferentes níveis de amplitude e complexidade, incluindo outros relacionados com a área da Educação Física e que tem sua Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 164 importância no contexto da sociedade, tais como: o corpo e suas dimensões e funcionamento; as possibilidades e o gerenciamento das atividades físicas e esportivas; as drogas e os danos à saúde; a violência e os danos sociais, físicos e morais; a alimentação saudável, entre outros. Vemos na escola o espaço de educação formal mais importante, pois nele são aglutinados grupos de crianças e jovens. Os alunos devem ter possibilidades de desenvolver e de realizar atividades que sejam de sua preferência e próximas da sua forma de ver o mundo e as coisas. Nessa direção, os objetivos de uma educação ampliada deveriam incluir o descobrimento da identidade e a vo- cação do aluno, a aprendizagem significativa e o desenvolvimento de valores, na perspectiva da formação de uma pessoa melhor, que possa atuar no mundo com responsabilidade, respeito, ética e solidariedade. Refletir, discutir e pesquisar sobre as questões da educação é bastante complexo; mergulhar na escola com o intuito de entender, considerar e traduzir o que lá acontece não é menos intricado. O professor, nesse cenário, ocupa um papel de destaque, como pro- tagonista, como sujeito da pesquisa, como pesquisador. Considerar a abrangência da profissão docente é fundamental quando direcio- namos nosso olhar para a escola e para o cotidiano pedagógico, a fim de compreendermos a complexidade do processo educacional na busca de possíveis respostas, provisórias e inacabadas. Isso confere um caráter transitório à pesquisa, que, na área da educa- ção, há alguns anos vem demonstrando, de modo nem consensual nem exclusivo, que novas compreensões vão sendo incorporadas ao conhecimento educacional. Entre elas, cabe ressaltar a figura do professor, a qual obtém destaque. Sua pessoa, sua fala, sua interpretação do vivido, suas repre- sentações, seu olhar, a dimensão de suas necessidades e ex- pectativas trazem novo panorama: o professor como pessoa, Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 165 como profissional, como construtor de inteligibilidade, como ser reflexivo, como alguém que pensa, decide, se angustia. (Ghedin; Franco, 2008, p. 60) Nesse sentido, segundo esses mesmos autores, o professor vai passando gradativamente, na evolução das pesquisas, de objeto a sujeito, pois a pesquisa qualitativa centrará seu foco na descoberta desse sujeito, em sua compreensão; vai buscar sua colaboração, fazer-se parceira dele, preocupar-se com sua formação, com suas histórias. Além do professor como sujeito, surgem também os alunos, os pais, a comunidade e reafirma-se a questão do sujeito. Segundo Ghedin e Franco (2008, p. 61), o professor estando presente como sujeito a pesquisa passa a incorporá-lo, e nessa nova dimensão, é possível olhar a realidade na perspectiva do professor, e não apenas a realidade sobre ele; ao conceber a subjetividade como um fator inevitável na pesquisa entre seres humanos em ação, passa a ser possível estabelecer contatos mais profundos, adentrar nas esferas do desejo, das emoções, das frustrações do sujeito, de suas representações, dos questionamentos de sua identidade. Nessa concepção, o cotidiano das práticas educacionais entra em destaque, pois a pesquisa qualitativa vai permitir sua com- preensão como possibilidade de vivências únicas, impregnadas de sentido, realçando a esfera do intersubjetivo, da interação e da comunicação, proclamando-o como o espaço em que as mu- danças podem ser pressentidas e anunciadas. Estar próximo a esse cotidiano significa também olhar de perto o que acontece na escola, no dia a dia, em sala de aula, considerando aspectos relacionados ao processo de ensino-aprendizagem e a formação de professores. Cunha (1992, p. 36) enfatiza a importância de serem conside- radas as relações estabelecidas no cotidiano e seus significados, destacando a participação do professor nesse contexto: Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim ee sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 166 A realidade da vida cotidiana também inclui uma participação coletiva. O existir na vida cotidiana é estar continuamente em interação e comunicação com os outros e os significados próprios são partilhados com os significados das outras pessoas, que vi- vem também o cotidiano. A expressão do cotidiano do professor é determinante e determinada pela conjuntura social e cultural onde se desenvolve. A autora evidencia que “unir ensino e pesquisa significa caminhar para que a educação seja integrada, envolvendo estudantes e pro- fessores numa criação do conhecimento comumente partilhado” (Cunha, 1992, p. 32). Dessa forma, considerando a realidade da Educação Física e do esporte na escola, é possível ver que o cotidiano pedagógico é multifacetado. Assim, sua percepção e interpretação têm que se dar de diferentes ângulos, sob diferentes olhares. Muitas vezes, aquilo que se produz (teoria), além de não estar contribuindo para a melhoria do cotidiano escolar, também não o leva em conta (prática). Portanto, ignora tanto as necessidades e expectativas enfrentadas pelos professores como o que reali- zam pedagogicamente. Concordamos com Resende (1994, p. 72), quando afirma que “a nossa produção acadêmica, para ter um sentido crítico e emancipador, terá que se justificar com base na realidade concreta enfrentada pelo profissional de educação física para que, dialeticamente, produza intervenções superadoras e qualitativas no âmbito da prática pedagógica.” Consideramos ser necessário estabelecer uma interação contínua entre a ação pedagógica dos professores de Educação Física e o trabalho desenvolvido por aqueles que atuam na universidade com a formação de professores, pois acreditamos que, a partir dessa relação, poderão ser estabelecidos parâmetros de atuação que orientem a formação dos professores numa nova perspectiva. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 167 Vemos como necessidade o estreitamento da ligação estabelecida entre a universidade e a escola, que poderá ocorrer por meio da análise, da reflexão e da discussão comprometida. Assim sendo, considerando a realidade e tomando-a como base, poderá contri- buir para a formação do futuro professor, perspectivando mudan- ças no ensino da Educação Física, validando as teorias discutidas por meio da prática percebida, e esta sendo convalidada pelo conhecimento reelaborado, abrindo, portanto, novos caminhos para a abordagem dessa disciplina. Nesse sentido, consideramos alguns encaminhamentos como sendo fundamentais, os quais poderão contribuir para perspec- tivar possibilidades para o desenvolvimento de ações visando à formação inicial e continuada de professores. Veiga e D’Ávila (2008, p. 15) nos dizem que “a formação de professores constitui o ato de formar o docente, educar o futuro profissional para o exercício do magistério. Envolve uma ação a ser desenvolvida com alguém que vai desempenhar a tarefa de educar, de ensinar, de aprender, de pesquisar e de avaliar.” Nesse sentido, concordando com os autores e, considerando a complexidade da profissão docente, acreditamos ser necessário que os acadêmicos dos cursos de licenciatura, entre eles os de Educação Física, devam ter um contato com o contexto escolar desde o início da graduação, com o objetivo de realizarem uma leitura minuciosa da realidade, sorvendo os saberes que ali se apresentam. Isso para que possam atuar futuramente como pro- fessores de forma mais efetiva e comprometida, contribuindo para a melhoria da escola como espaço de difusão do conhecimento e de formação dos alunos. “Formar professores implica com- preender a importância do papel da docência, propiciando uma profundidade científico-pedagógica que os capacite a enfrentar questões fundamentais da escola como instituição social, uma prática social que implica as ideias de formação, reflexão e crítica” (Veiga; D’Ávila, 2008, p. 14). Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 168 A formação do professor de Educação Física vai além do domínio exclusivo de técnicas corporais ou de táticas esportivas. Para gerir os dilemas cotidianos, o professor necessitará de saberes que se constituirão tanto por meio de sua experiência pessoal, como pela sua preparação pedagógica. É nessa formação que a prática de ensino sob a forma de Estágio Curricular Supervisionado deverá contribuir. Para tanto, seria importante um aumento na carga horária para o desenvolvimento das atividades, estabelecendo um contato maior e um vínculo mais refletido e compromissado com a escola. Tendo em vista a formação de professores, considerando-a de fundamental importância, evidenciamos a necessidade de que sejam desenvolvidos projetos que contem- plem o contexto escolar e universitário com o objetivo de envolver aqueles que estão em processo de formação inicial, os acadêmicos, e aqueles que já atuam na escola, os professores. Os projetos poderão ser organizados e desenvolvidos tanto no âmbito da extensão como no da pesquisa. E esse é outro caminho de extrema importância: a participação e o envolvimento dos acadêmicos e professores em grupos de estudos e pesquisas que tenham por objetivo discutir também as questões relacionadas à formação docente. Os grupos são uma excelente oportunidade para que acadêmicos e professores tenham oportunidades de suprir lacunas deixadas na sua formação inicial restrita e geral (Fazenda, 2008). Ao se reunirem com seus pares, poderão trocar experiências, ampliar as discussões em torno das questões re- lacionadas com a profissão docente, aprofundando as reflexões, e apontar encaminhamentos teórico-metodológicos para o de- senvolvimento do trabalho pedagógico da Educação Física e do esporte no contexto escolar. A formação do professor de Educação Física vai além do domínio exclusivo de técnicas corporais ou de táticas esportivas. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 169 Acreditamos que, no decorrer desta obra, deixamos muitas ques- tões em aberto, sem respostas, pois não é nossa intenção fechar as discussões ou tê-las como finalizadas, muito pelo contrário, o objetivo é suscitarmos novos questionamentos. Dessa forma, as perspectivas aqui apontadas são apenas uma contribuição inicial para que novos caminhos sejam buscados, podendo, de alguma forma, despertar a preocupação com os referidos contextos, vi- sando a uma educação por meio das atividades físicas e esportivas, parte da cultura corporal de movimento, na perspectiva de uma melhor educação tanto no contexto escolar como no de formação de professores. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto rais é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 171 Considerações finais A escola deve ser um espaço democrático do saber e da convivência. Por meio das diferentes áreas, os alunos devem adquirir conhe- cimentos, competências, habilidades e experiências em todos os aspectos – cognitivos, motores, afetivos e sociais –, a fim de atuarem no mundo de forma compromissada, responsável e ética. A Educação Física na escola, na abordagem dos conhecimentos da cultura corporal de movimento, não pode limitar ou evidenciar seu encaminhamento teórico-metodológico nos aspectos motores, mas, sim, os aspectos cognitivos, afetivos e sociais devem ser tratados pedagogicamente de forma equivalente. Nas aulas de Educação Física, devem ser possibilitadas situações de ensino-aprendizagem nas quais os alunos se sintam capazes, valorizados e possam interagir com seus pares de forma criativa e cooperativa, sendo de fundamental importância sua participação na construção dos saberes, visando à autonomia e à construção da cidadania. Nossa caminhada até aqui amplia a responsabilidade e o com- prometimento com as questões que envolvem o contexto escolar e de formação de professores. Nesse sentido, é possível instituir com os professores das escolas encaminhamentos metodológicos visando ao redimensionamento do ensino da Educação Física, buscando o desenvolvimento de um trabalho mais significativo, comprometido e contextualizado. Por meio desses encaminhamentos, é de fundamental impor- tância possibilitar ao acadêmico, futuro professor, confrontar a teoria estudada/analisada e suas discussões com a realidade da Educação Física e do esporte que lhe é mais próxima. Estes se Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 172 tornam o ponto de partida para a prática pedagógica efetivada nas escolas, por meio do estágio supervisionado realizado no desenvolvimento da prática de ensino. Acreditamos que permitir ao acadêmico a apreensão, a reflexão e a análise da teoria (discurso) e do confronto com a realidade escolar que o cerca (cotidiano) possibilita que ele desperte para um maior comprometimento, fornecendo-lhe subsídios, no sentido de buscar alternativas metodológicas, visando a novas perspectivas e à colaboração, ao sugerir mudanças na abordagem pedagógica da Educação Física e do esporte na escola, como também na própria escola. Dessa forma, interfere-se efetivamente na realidade, não deixando de considerar o que nela se revela, mas, a partir daí, dando-se o redimensionamento do conhecimento. Assim, na busca pelo envolvimento de acadêmicos e profes- sores, evidenciamos o desenvolvimento de ações que devem ser empreendidas e efetivadas no âmbito da organização de grupos de estudos e no de pesquisa. Esse encaminhamento tem por objetivo buscar intervenções nas áreas da Educação Física no contexto escolar e de formação de professores. As ações dos grupos poderão ser desenvolvidas voltadas para ações acadêmicas que visem à contribuição significativa dos profissionais e acadêmicos para as áreas de Educação Física no contexto escolar e de formação de professores. Por meio do espaço propiciado pelo grupo de estudos, as possibilidades de intervenção na área ganham uma maior dimensão, pois possibilitam pers- pectivas para o desenvolvimento da pesquisa por intermédio de projetos voltados para os âmbitos escolar e acadêmico. Devemos buscar a continuidade da caminhada de forma compar- tilhada e compromissada, em prol de objetivos maiores para a área da Educação Física, na perspectiva de desenvolvimento de ações que implicam novas possibilidades e maiores responsabilidades. Ne nh um a p ar te de sta pu bli ca çã o p od er á s er re pr od uz ida po r q ua lqu er m eio ou fo rm a s em a pr év ia au tor iza çã o d a E dit or a I bp ex . A vi ola çã o d os di re ito s a uto ra is é c rim e e sta be lec ido na Le i n º 9 .61 0/1 99 8 e pu nid o p elo ar t. 1 84 do C ód igo P en al. 173 Referências ANDRÉ, M. E. D. A. Etnografia da prática escolar. Campinas: Papirus, 1995. _____. Pesquisa no cotidiano da escola e o repensar da didática. Educação & Sociedade, São Paulo, n. 27, p. 84-92, 1987. AZEVEDO, F. Da Educação Física. São Paulo: Melhoramento, 1960. BARBIERI, C. A. S. Esporte educacional: uma possibilidade para a restauração do humano no homem. Canoas: Ed. da Ulbra, 2001. BELBENOIT, G. O desporto na escola. Lisboa: Estampa, 1976. BELTRAMI, D. M. A Educação Física escolar contemporânea: um estudo sobre o jogo como estratégia pedagógica e seus fundamentos teóricos metodológicos. 1998. Tese (Doutorado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1998. BETTI, I. C. R. Educação Física escolar: a percepção discente. 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