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1 Importância do SIMA no Processo de Desenvolvimento dos Mercados Agrícolas No processo de comercialização agrária todos intervenientes devem ter informações sobre aquilo que o mercado procura. Numa economia de mercado é importante que haja um sistema de informação que liga quem tem produto com quem quer comprar. Para que o mercado seja funcional tal sistema de informação de mercados deve ser público, isto é, deve ser fornecido pelo Estado. É relevante que essa informação seja de alta qualidade, abrangente, não parcial (isto é, sem falta de elementos chave), bem distribuída (isto é, disponível para todos os agentes) Se o sistema de informação for privado, pode faltar pode faltar algum dos elementos essenciais referidos no parágrafo anterior, trazendo como consequência o aumento de riscos para a maioria dos agentes de mercado (incluindo para produtores e consumidores), a redução da eficiência do mercado e a redução dos rendimentos reais dos consumidores e produtores. A disponibilidade da informação de mercados influencia fortemente os preços. A informação chave que o sistema deve ter é: a) os preços que os comerciantes da zona estão a pagar (esta informação habilita os produtores a negociar melhores preços com os comerciantes); b) a má colheita em vários pontos do país (esta informação habilita os produtores a decidir armazenar, na esperança de que os preços subam mais tarde e possam tirar vantagens). c) os preços praticados nos países vizinhos (esta informação habilita os produtores e comerciantes a melhor prever o nível de subida dos preços nacionais) O objectivo da informação é: i. No curto prazo, facilitar a tomada de decisão dos operadores do mercado ii. No longo prazo fins de politica e análises A informação deve ser apresentada de forma mais simples para que todos os intervenientes possam ter acesso e possam usa-la de forma efeciente. 2 Como é feita a selecção dos locais de monitoria? O SIMA tem cobertura nacional e recolhe informação em 23 locais (todas capitais provinciais e alguns distritos). A informação recolhida é sobre os preços, a disponibilidade de produtos os fluxos dos produtos e o custo de transporte. Depois de devidamente analisada, a informação é disponibilizada através das Publicações do SIMA, do Boletim Semanal Quente Quente, do Boletim Mensal, de Flashs e de Relatórios de pesquisa. 1. Análise dos Custos e Margens de Comercialização 1.1 Importância É importante entender a estrutura de custos e as margens envolvidas na comercialiazação de bens/ produtos agrários, três razões: a) os produtores raramente vendem seus produtos directamente para os consumidores b) existem etapas e operações dentro do fluxo de comercialização que são da responsabilidade de diferentes agentes e que precisam ser entendidos. c) em zonas pouco desenvolvidas, onde as actividades económicas geralmente não são especializadas, a maioria dos produtores não pode assegurar seus rendimentos apenas com base nas vendas dos seus produtos, porque vendem os seus produtos a custos muito baixos e não dispõem de outras alternativas, enquanto que as margens conseguidas pelos intermediários são extremamente altas porque estes conhecem os preços reais das zonas de consumo. Qual é o papel do governo? No processo de comercialização o papel do governo é assegurar uma ligação contínua entre os produtores e consumidores. A eficiência dessa ligação pode ser medida com base nos recursos consumidos pelo sector de distribuição, desde o 3 produtor até ao destino final (consumidor). Tal sector de distribuição pode ser público ou privado. Enquanto o sector público se preocupa apenas em assegurar uma ligação contínua entre os produtores e consumidores, o sector privado procura maximizar seus lucros e o preço por ele cobrado e a margem conseguida são uma medida da eficiência do sistema de comercialização. Há no entanto, que ter em conta que a eficiência do sistema de comercialização não pode ser usada como o único critério de avaliação, pois existe uma componente social que importa considerar. É o caso, por exemplo, (a) da estabilização de preços através de taxação aos produtores e consumidores face a flutuações anormais nos mercados domésticos; (b) do controle de exportações ou importações por meio de taxas. 1.2 Margens de Comercialização Quando se falou do desempenho dos mercados na parte I do nosso curso disse-se que a margem de comercialização era um dos indicadores do desempenho, e que esta pode ser determinada de diversas formas, de acordo com os investigadores, com o propósito da pesquisa, assim como com a parte da cadeia de comercialização em análise. Daqui resulta haja diferentes definições da margem de comercialização, tais como: b) São as despesas cobradas ao consumidor pela realização das actividades de comercialização. c) É a percentagem do preço final que é devida às funções de comercialização d) É o reflexo do afastamento entre o preço recebido pelo produtor e o pago pelos consumidores. e) É a diferença de preços paga pelo intermediário ou conjunto de intermediários e o preço de compra do produto. Tem sido comum apontar-se como as principais determinantes dos preços de mercado a oferta de produtos e a demanda dos consumidores e esquecer-se que produtores e consumidores estão separados por muitos intermediários tais como transportadores, processadores e armazenadores. De facto, o contacto directo entre 4 produtores e consumidores só acontece nas economias primárias. Em economias modernas a produção e consumo estão separadas no tempo e espaço. Os intermediários transportam, armazenam e transformam, e assim incrementam os custos de comercialização. Estes acabam sendo incorporados no preço para o consumidor. 1.3 Análise de Margens de comercialização: As margens podem ser calculadas em diferentes etapas do processo. Por isso existem diferentes tipos de margens. Assim podemos ter: a) A Margem de comercialização que é dada pela expressão: M = Pc - Pp Onde : M = Margem Pc = Preço pago pelo consumidor Pp = Preço recebido pelo produtor b) Margem Total (MT), também chamada margem total absoluta, é apresentada pela fórmula: MT = Pi - P: Onde, Pi = Preço praticado pelo intermediário Pp = Preço recebido pelo produtor i. Mede a despesa do consumidor devida a todo o processo de comercialização. ii. Corresponde à diferença entre o preço cobrado pelo intermediário e o pagamento recebido pelo produtor c) Margem total relativa (MTR): é dada pela expressão MTR = (Pi - Pp) / Pi i. É a proporção do preço praticado ao nível intermediário. 5 d) Margem absoluta do intermediário (Mi): é calculada pela expressão Mi = Pi – Pa Onde, Pi = Preço praticado pelo intermediário Pa = Preço de venda do acumulador (preço pago pelo intermediário ao acumulador de quem ele compra o produto. i. Reflecte níveis específicos de mercado ii. É a diferença entre o preço cobrado pelo intermediário (Pi) e o por ele pago (Pa): e) A Margem Relativa do intermediário será: MRi = (Pi - Pa) / Pi f) Margem absoluta do Grossista: é dada por MG = Pg - Pp Onde: Pg = Preço praticado pelo grossista Pp = Preço de venda do acumulador g) Margem Relativa do Grossista: calcula-se MRG = (Pg - Pp)/ Pg 1.4 Utilização e Limitação das margens A análise da evolução das margens de comercialização permite avaliar o desempenho dos mercados. No entanto, existem duas limitantes no uso das margens de comercialização: i. As comummente usadas são as margens correntes, e não tomam em conta o desfasamento entre o instante em que o produtor vende e aquele em que o consumidor final compra. o as margens medidas num mesmo instante de tempo, tendem a ser subestimadas, porque os preços nos vários níveis de mercado tendem a subirou descer conjuntamente 6 ii. É difícil calcular o preço ao produtor, por ser difícil conhecer a proveniência do produto, ao contrário do que se passa com o destino do produto final, e consequente preço ao consumidor. 1.4.1 Factores que podem afectar as margens As margens podem ser afectadas pelos seguintes determinanter: i. Características do mercado em que o produto é transaccionado (estrutura e concorrência): esperam-se margens maiores à medida que as formas monopolizadas ou oligopolizadas predominam no mercado. ii. A intensidade e frequência dos choques de oferta e demanda do produto e dos seus insumos de produção e de comercialização iii. Características do produto: tendem a apresentar margem maior os produtos processados e os produtos perecíveis que exigem maiores cuidados no processo de comercialização iv. Mudanças tecnológicas: podem reduzir os custos e as margens. São disso exemplos a armazenamento e o transporte a granel, os serviços de comercialização que adicionam valor aos produtos e os auto-serviços nos supermercados em que se deixa de prestar atenção ao atendimento face- a-face com os consumidores. NB: ao produtor não importa a magnitude das margens, mas sim a magnitude do lucro que recebe da venda do produto. 1.4.2 As margens podem ser elevadas por duas razões i. Custos reais altos de comercialização, que tornam o preço ao consumidor muito mais alto do que o preço ao produtor. ii. Existência de elementos monopolistas no sistema de comercialização, que estão a obter lucros excessivos. 7 1.5 Custos de Comercialização Existem diferentes custos na cadeia de comercialização. A sua estrutura pode variar com o tipo de culturas/produto e com os canais (fluxo) de mercados. Os custos podem ser simples ou complexos: i. Custos simples – são exemplos deles: os custos do tempo despendido pelo produtor para ir até ao mercado mais próximo aonde ele permanece até que todos os seus produtos sejam vendidos. ii. Custos complexos - Vão desde a preparação do produto para ser armazenado (a curto, médio e longo prazos), transportado para longas distâncias e processado diversas vezes até chegar ao destino final (consumidor). Quanto mais complexa e prolongada a cadeia de mercado mais altos são os custos de comercialização. A consequência deste facto é que “a comparação simples entre o preço ao produtor e o preço do retalhista não é um bom indicador de eficiência dos mercados uma vez que há custos inerentes à transferência dos produtos desde o produtor até ao alvo final (consumidor). Por exemplo: um produtor vivendo mais próximo do mercado normalmente receberá uma parte mais alta do preço final comparativamente ao que vive mais distante devido ao baixo custo de transporte. um produtor duma cultura perecível como o tomate poderá receber uma parte menor do preço final do que o produtor duma cultura não perecível como por exemplo coco. 1.6 Agentes de Mercado A comercialização é um sistema que compreende várias operações e funções inter- relacionadas. As múltiplas funções e operações que os agentes (participantes) deste sistema desempenham tornam difícil a sua classificação. No entanto tais agentes podem ser classificados em: 1. Produtores 2. Acumuladores rurais 3. Grossistas 4. Processadores 8 5. Retalhistas 6. Exportadores e Importadores 7. Instituições governamentais 8. Associações de produtores e consumidores 9. Intermediários 10. Outras organizações 11. Consumidores 1. Os Produtores são a primeira ligação no canal de comercialização. Eles realizam duas operações: (i) colhem o produto e o fornecem ao segundo agente; (ii) tomam decisões sobre o mercado e a comercialização a partir do momento em que decidem o que produzir 2. Os Acumuladores rurais (rural assemblers) são por vezes conhecidos como transportadores. Estes também realizam duas operações: (i) estabelecem a primeira ligação entre o produtor e outros intermediários; (ii) acumulam pequenos lotes de produto das zonas rurais num determinado lugar até perfazer grandes quantidades e depois transportam-no. 3. Os Grossistas: (i) concentram o produto em lotes e o organizam em lotes uniformes; (ii) também facilitam e especializam operações de armazenamento, transporte e em geral as operações subsequentes que envolvem os retalhistas. 4. Os Retalhistas são considerados os intermediários que têm a tarefa de dividir grandes lotes do produto em pequenos lotes, de forma a facilitar a venda de pequenas unidades aos consumidores. 5. Os Processadores usam o produto agrário como matéria prima. 6. Os Exportadores e Importadores compram e vendem o produto agrário em mercados externos. Tal produto pode variar desde o primário (fresco) até ao processado, em qualquer dos seus vários estágios de processamento. 7. As Instituições Governamentais incluem as organizações governamentais que regulam os preços. 8. As Associações de produtores e consumidores incluem associações profissionais e cooperativas que regulam e influenciam a produção e o processo de comercialização. Também podem ser associações de 9 consumidores que podem tomar o lugar do intermediário e ter um impacto nas margens de comercialização. 9. Os Intermediários (brokers) são agentes que trabalham em nome de outros participantes, e que recebem destes uma comissão (normalmente uma percentagem do preço tecto de venda) pelo trabalho realizado. Operam a todos níveis da cadeia de comercialização. 10. Outras organizações (ex: Marketing board – Câmaras de Comércio) são instituições com algum poder monopolista em certo estágio do processo de comercialização (ex: ICM - Instituto de Cereais de Moçambique). Podem ser público-privadas (para-estatais), ou somente privadas. 11. Os Consumidores constituem o último elo na cadeia de comercialização. São famílias e por vezes os processadores podem também ser classificados como consumidores primários. Resumindo: As funções destes agentes podem se sobrepor, em muitos dos casos. No geral pode- se observar as seguintes combinações: i. Transportadores–Grossistas - acumulam o produto e o tornam disponível para os retalhistas. ii. Grossistas–Retalhistas - os grossistas também podem vender directamente aos consumidores. iii. Grossistas–Exportadores. 1.7 Cooperativismo e Associativismo no Contexto da Comercialização As palavras "cooperativismo" e "associativismo" vêm erradamente sendo confundidas e tratadas como sinónimas por articulistas e palestrantes. 10 Contexto social em que surgiu o cooperativismo A vida na Europa Ocidental a partir do século XVIII estrutura-se economicamente e socialmente de acordo com o princípio liberal que considera os interesses individuais como a força suprema para progresso. Na França por exemplo a Revolução veio acabar com os grémios, municípios autónomos e outras instituições que se interpunham entre o Estado e o indivíduo, ficando assim este isolado. Na Inglaterra a proibição de se formarem associações coloca os operários em situação semelhante. O Estado por sua vez assume a função negativa de salvaguardar a liberdade individual. No entanto a competição toma dimensões incontroláveis, onde o conceito de ser humano desaparece dentro das relações económicas, porque a classe operária sofre a maior opressão registada na história do trabalho. Estas rápidas mudanças foram propícias ao aparecimento de movimentos sociais entre as camadas mais afectadas e mal ajustadas, para se organizarem e lutarem contra todas as formas de opressão do ser humano. Definição de Cooperativismo a) É uma forma de organização social e econômica na qual os indivíduos participantes realizam trabalhos em conjunto, sem que no grupo haja qualquer tipo de concorrência. b) Existe um objectivo inerente que é o de garantir o bem-estardos associados e suas famílias, valorizando desta feita o produtor, uma vez que este produz visando satisfazer o meio rural e urbano, criando um vinculo cada vez maior através da comercialização entre estes dois meios. 11 Cooperativas de Comercialização a) São cooperativas através das quais produtores vendem os produtos de suas machambas. b) Podem entre outras funções, juntar os produtos dos seus membros para a classificação, empacotamento, venda, etc. c) Existem diferentes tipos de cooperativas e a sua escala de operação pode variar dependendo do tipo de produto ou serviço com que lidam. Segundo Ferrinho (1978) numa cooperativa não é concebível a ideia de separação desta com a sua comunidade, pois o movimento é simultaneamente condicionado pelas culturas locais. Segundo de Noronha (1976: p.23), uma cooperativa deve ter os seguintes objectivos: Encarar o homem em primeiro plano, considerando-o como fim e não como meio; Produzir e distribuir produtos para satisfazer as necessidades humanas e não servir ao enriquecimento de alguns; Fazer do consumo a base dos sistemas de produção e distribuição; Aproximar o consumidor das fontes de produção, e eliminar, tanto quanto possível, os intermediários, controlando o sistema de trocas e combatendo a especulação; Valorizar o indivíduo através do processo associativo; Promover harmonia social, pela satisfação das necessidades individuais e familiares; Melhorar o nível de vida do homem comum, pela valorização do seu trabalho, respeitando o seu trabalho, respeitando e preservando a livre iniciativa. Racionalizar os métodos de trabalho, mediante a melhor utilização dos recursos e menores gastos. 12 Definição de Associativismo a) A associação é uma forma de organização menos formal que uma cooperativa, na qual um grupo de pessoas se une para uma finalidade específica. b) Um aspecto importante a realçar na história das associações é o facto destas terem aumentado em número, sobretudo nas regiões onde existem muitos agricultores familiares. As associações possuem três características: a) São formadas com o intuito de fazer algo em comum b) A participação é voluntária c) Existem sem a participação do Estado ou organizações oficiais Através das associações: a) Fica mais fácil a adaptação à globalização, que traz quebras de barreiras de comercialização e outras políticas neoliberais b) É mais fácil conseguir financiamentos bancários c) Há maior cooperação e respeito entre produtores d) Há maior integração
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