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Manifestações de Ciúme no Relacionamento Conjugal

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Prévia do material em texto

1
ASSOCIAÇÃO CULTURAL E EDUCACIONAL DE GARÇA 
FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE 
 
 
 
 
 
 
 
MANIFESTAÇÕES DE CIÚME E SUAS 
CONSEQÜÊNCIAS, NA DINÂMICA DE 
RELACIONAMENTO CONJUGAL 
 
 
 
 
Khallin Tiemi Seo 
R.A. 50090 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Garça – São Paulo – Brasil 
2006 
 2
ASSOCIAÇÃO CULTURAL E EDUCACIONAL DE GARÇA 
FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE 
CURSO DE PSICOLOGIA 
 
 
 
 
 
MANIFESTAÇÕES DE CIÚME E SUAS 
CONSEQÜÊNCIAS, NA DINÂMICA DE 
RELACIONAMENTO CONJUGAL 
 
 
 
Khallin Tiemi Seo 
 
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Janete 
de Aguirre Bervique 
Supervisora: Prof.ª Dr.ª Regina 
de Cássia Rondina 
 
Monografia apresentada à 
Faculdade de Ciências da 
Saúde, como requisito parcial 
para obtenção do título de 
Psicólogo 
 
 
Garça – São Paulo – Brasil 
2006 
 3
FOLHA DE APROVAÇÃO 
 
Khallin Tiemi Seo 
 
“Manifestações de ciúme e suas conseqüências, na dinâmica de 
relacionamento conjugal”. 
 
 
Este trabalho, apresentado como requisito parcial para a obtenção do 
título de graduação em Psicologia, foi realizado na Faculdade de Ciências da 
Saúde – FASU e aprovado pela Banca Examinadora, formada pelos 
professores: 
 
 
Prof.ª Dr.ª Janete de Aguirre Bervique................................................. Nota: 10,0 
 
Prof.ª Ms. Maristela Colombo .............................................................. Nota: 10,0 
 
Prof. Ms. Jair Izaías Kappan................................................................ Nota: 10,0 
 
 
Média: 10,0 
 
 
Data da apresentação: 11/09/06 
 
 
 
 
 
Garça – São Paulo – Brasil 
2006 
 4
* Parecer da professora-orientadora recomendando o trabalho: 
 
 Na qualidade de professora-orientadora da monografia “Manifestações 
de ciúme e suas conseqüências, na dinâmica de relacionamento conjugal”, de 
autoria da aluna Khallin Tiemi Seo, do 10o termo do Curso de Psicologia da 
Faculdade de Ciências da Saúde FASU/ACEG, de Garça-SP, recomendo-a 
para concorrer ao Prêmio Silvia Lane, considerando que a mesma: 
- teve como ponto de partida a problemática existencial da própria autora, 
vivenciando o ciúme; 
- se refere a um problema da afetividade humana, presente no cotidiano 
de um sem número de casais; 
- apresenta relevância científica, por ser oportuno, observável, constatável 
e ter ensejado a elaboração e execução de um projeto de pesquisa; 
- representa a aprendizagem e o exercício da metodologia científica, bem 
como das normas da ABNT, por sua autora; 
- apresenta relevância social, por estar contribuindo à ampliação da 
consciência ecológica, em nível de relações interpessoais; 
- evidencia que a autora percorreu as três etapas de um trabalho que 
pretende ser científico: a heurística, a projetiva e a executiva; 
- representa um exercício e um aprimoramento da autora no manejo da 
norma culta da Língua Portuguesa e no uso da nomenclatura técnica; 
- apresenta a sistematização de grande parte da literatura sobre o tema, 
disponível em Português, subsidiando pesquisas congêneres, 
subseqüentes; 
- consolida os esforços continuados de sua autora, ao longo do Curso, 
visando, ao lado do autoconhecimento e do auto-aprimoramento, a dar a 
sua contribuição para ampliar o acervo de estudos sobre a problemática 
do ciúme. 
 
Este parecer resume algumas das razões pelas quais recomendo a 
monografia em pauta para concorrer ao Prêmio Silvia Lane, tão oportunamente 
promovido pela Associação Brasileira de Ensino de Psicologia/ABEP. 
 
 
 
 
 
 
 
Garça, 02 de dezembro de 2006. 
 
 
Prof.ª Dr.ª Janete de Aguirre Bervique. 
Orientadora. 
 
 
 
 
 5
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Que eu tenha a capacidade de aceitar as coisas que não posso mudar, 
a força para mudar as coisas que posso mudar, 
e a sabedoria para perceber a diferença”. 
(Almirante Hart) 
 
 6
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho à minha mãe querida, 
 pessoa ímpar, com sua grandeza e amor infinito; 
uma pessoa especial, que está sempre presente, 
ao meu lado. Mãe, obrigada por acreditar em mim e por 
 participar desse momento tão importante na minha vida. 
 7
AGRADECIMENTOS 
 
 
 Primeiramente, quero agradecer a Deus, por me guiar e iluminar o meu 
caminho. 
Minha gratidão aos meus pais e meu irmão – meus anjos da guarda – 
pelo carinho e apoio, e por serem a minha família querida. 
Agradeço à minha orientadora Prof.ª Dr.ª Janete de Aguirre Bervique, 
pelos importantes ensinamentos, e por aprimorar a coerência e a qualidade 
deste trabalho. É uma pessoa admirável, pela sua sabedoria, disposição e 
dedicação ao trabalho. 
Meus agradecimentos à minha supervisora Prof.ª Dr.ª Regina de Cássia 
Rondina – um exemplo de ética e determinação – por dedicar seus esforços 
para assegurar a integridade deste trabalho. 
Um agradecimento carinhoso ao meu namorado Marcelo, pelo amor, 
paciência e compreensão; uma pessoa que está ao meu lado, a cada passo do 
meu caminho, sempre me apoiando. 
Um agradecimento especial à Érica Shinohara, minha amiga querida e 
leal. Obrigada pelo carinho e por fazer parte da minha vida. 
Agradeço à Prof.ª Dr.ª Alessandra de Morais Shimizu, pela amizade e 
apoio, durante a minha formação acadêmica, e pelo suporte nas minhas 
dúvidas e ansiedades perante a minha atuação. É uma pessoa que admiro 
muito: um modelo de dedicação, ética, humildade e amor à profissão. 
Quero agradecer às minhas amigas de Faculdade, companheiras de 
aprendizagem desta longa jornada acadêmica. Cada uma participou, de forma 
especial, na minha vida; juntas, enfrentamos dificuldades, dividimos angústias, 
conquistas e alegrias. Sentirei saudade dos churrascos, dos bolos de 
aniversário, das risadas e dos momentos que compartilhamos nesses anos. 
Enfim, quero agradecer a todos, de todo o coração: aos meus pacientes, 
aos meus familiares, amigos, professores e ex-professores, que colaboraram, 
direta ou indiretamente, para a realização desta monografia e por participarem 
da minha formação. 
 
 8
RESUMO 
 
 
Esta monografia apresenta uma revisão da literatura acerca do ciúme no 
relacionamento conjugal, em casais heterossexuais, destacando algumas 
características dessa problemática. Atenta, também, para as conseqüências do 
problema, no ajustamento emocional e na dinâmica de relacionamento afetivo 
do casal, bem como para a importância do tratamento psicológico e/ou 
psiquiátrico dessa problemática. O Capítulo 1 – Introdução – contém uma breve 
revisão da literatura acerca da afetividade humana, destacando alguns 
sentimentos positivos e negativos nas relações interpessoais; e, também, uma 
breve apresentação sobre o ciúme, tema central da pesquisa. Expõe, ainda, os 
objetivos do trabalho e a metodologia utilizada. O Capítulo 2 – A problemática 
do ciúme nos relacionamentos amorosos em casais heterossexuais – enfoca 
os achados bibliográficos com as respectivas discussões, apresentados de 
acordo dos objetivos propostos para a pesquisa: a problemática do ciúme nos 
relacionamentos amorosos em casais heterossexuais; as diferenças entre os 
sexos em relação ao ciúme; principais fatores desencadeantes de ciúme; sobre 
o ciúme patológico; o papel do ciúme no relacionamento amoroso; fatores que 
predispõem homens e mulheres a manifestações de ciúme; estratégias de 
enfrentamento. Tudo amparado por um referencial teórico consistente, 
constituído por vários autores atuais. O Capítulo 3 – Considerações Finais – 
retoma os objetivos que orientaram a realização da pesquisa, da qual resultou 
esta monografia; confronta-os com os achados oriundos da revisão da 
literatura, visando a aferir o nível de consecução dos mesmos. Enfatiza alguns 
aspectos, cuja importância sugere uma abertura para a realização de 
pesquisas congêneres, envolvendo sujeitos que vivenciam a problemática do 
ciúme. 
 
Palavras-chave: fenômenos afetivos, relacionamento conjugal, ciúme, 
manifestaçõesde ciúme 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 9
ABSTRACT 
 
This work features a revision of the literature about jealousy in 
heterosexual conjugal relationship, detailing some characteristics of this 
problem. Consider also to emotional adjustment and affective relationship 
dynamics of the couple as the importance of psychologist and/or psychiatrist 
treatment. Chapter 1 – Introduction – Shows a short literature revision about 
human affectivity, outstanding some positive/negative feelings in relationships 
and also a short presentation about jealousy (center theme of the research). 
Exposes too, the goal of the work and methodology applied. Chapter 2 – The 
jealousy in amorous relationship of heterosexual couples – focus biographycs 
themes and respective discussion presented as the proposal objective of the 
research: the jealousy in amorous relationship in heterosexual couples; the 
differences between male and female about jealousy; the main facts that 
predispose men and women to manifest jealousy; strategy to tackle it. All of it is 
supported by consistent theorical references of several nowadays authors. 
Chapter 3 – Final considering – retake the objectives that guide the 
achievement of the research to arise this monograph confronting the literature 
issues in the objective to gauge the attainment oh them. Emphatises some 
aspects, which importance suggests a beginning to further research, envolving 
people that live the jealousy problem in their lives. 
 
Key-words: affective phenomenon, conjugal relationship, jealousy, manifest 
jealousy 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 10
SUMÁRIO 
 
Página 
CAPÍTULO 1 
INTRODUÇÃO..................................................................................................11 
 1.1. Objetivos .................................................................................................18 
 1.2. Metodologia ............................................................................................19 
 
CAPÍTULO 2 
A PROBLEMÁTICA DO CIÚME NOS RELACIONAMENTOS AMOROSOS EM 
CASAIS HETEROSSEXUAIS ..........................................................................21 
 2.1. As diferenças entre os sexos em relação ao ciúme................................27 
 2.2. Principais fatores desencadeantes de ciúme..........................................33 
 2.3. Sobre o ciúme patológico........................................................................39 
 2.4. O papel do ciúme no relacionamento amoroso.......................................46 
2.5. Fatores que predispõem homens e mulheres a manifestações de ciúme
.......................................................................................................................48 
 2.6. Estratégias de enfrentamento .................................................................49 
 
CAPÍTULO 3 
CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................55 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................65 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 11
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 1 
INTRODUÇÃO 
 
12
A afetividade humana é um tema intensamente explorado na Literatura 
Universal, bem como em todas as derivações da Arte: artes plásticas, música, 
literatura, cinema, teatro, teledramaturgia, entre outras. E no quadro da 
afetividade humana, o amor é considerado o mais profundo elo de ligação entre 
as pessoas, um estado de integração, aceitação, espontaneidade, confirmação 
e respeito mútuo; caracteriza-se por dois seres que se unem, não apenas com 
o propósito de satisfazerem suas necessidades e desejos, mas sim, de se 
amarem e compartilharem o amor que sentem (CARDELLA, 1994). Sobre esse 
sentimento, a autora assim se expressa: 
 
“O amor é a polaridade oposta do egocentrismo e do 
sofrimento de natureza emocional. (...) é de natureza 
incondicional, o que implica a capacidade de amar o diferente 
e não apenas o semelhante. (...) envolve maturidade 
emocional, responsabilidade e posse da própria vida, auto-
sustentação e independência em relação aos demais” (Id., 
ibid., p.16-17). 
 
 Amar a si mesmo – aceitando-se, reconhecendo-se, respeitando-se e 
validando-se como ser humano único – é a primeira condição necessária para 
ser capaz de estabelecer quaisquer relações amorosas maduras e saudáveis, 
que envolvem escolha mútua, reciprocidade e cooperação. 
A respeito do amor cooperativo, Goldberg (2000, p.267-275) considera: 
 
“O amor cooperativo é amor consciente entre dois indivíduos 
que amadureceram além de seus anseios narcisistas 
baseados em problemas infantis não resolvidos. (...) Significa 
dois indivíduos independentes, que optam por ficarem juntos e 
trabalharem suas diferenças”. 
 
Consoante essa concepção, o amor maduro envolve compreensão e 
aceitação recíprocas, e o reconhecimento de que todos somos seres 
singulares, com potencialidades e limitações, e que não existe perfeição. 
 
13
Quando este sentimento acontece, as pessoas se dizem felizes, percebem o 
mundo como mais seguro, mostram maior auto-estima, otimismo, disposição, 
possuem relacionamentos mais maduros e satisfatórios; tudo isso se reflete no 
trabalho, na família, nas amizades, enfim, em todas as dimensões vividas por 
elas. 
Segundo Viscott (1982, p. 18), “os sentimentos são a reação mais direta à 
nossa percepção”. É importante entrar em contato tanto com os sentimentos 
prazerosos como com os dolorosos, pois, diante dessas experiências, o 
indivíduo tem a liberdade de um ajuste mais realista ao mundo, encarando as 
dificuldades, os desafios, superando-os e, também, poder sentir um bem-estar, 
uma renovação e sensação de inteireza. 
Ainda que o amor seja o sentimento mais profundo no relacionamento 
de um casal, as dificuldades e obstáculos relacionados a ele são inúmeros e 
variáveis; dependem do nível do envolvimento, das expectativas dos parceiros, 
das crenças, dos mecanismos de defesa e dos papéis na relação. “Assim como 
o amor narcisista, o ódio narcisista sempre destrói a possibilidade de relacionamentos 
cooperativos e mutuamente enriquecedores” (GOLDBERG, op.cit., p.90). 
Shinyashiki e Dumêt (1988, p.12) relacionam o amor quando surge o 
medo e a indiferença num relacionamento: 
 
“Os maiores inimigos do amor são o medo e a indiferença. O 
medo transforma o amor em angústia. A indiferença supõe a 
morte do amor. As pessoas antes amadas, na indiferença, 
perdem significação; o desejo se apaga”. 
 
Tanto os sentimentos positivos como os negativos, nas relações 
interpessoais, fazem parte do cotidiano, da realidade existencial humana. 
Muitas vezes, as emoções negativas consomem completamente aquilo que 
começou como amor, acabando em obsessão, descontrole, ruptura, fracasso, 
mágoa, dor, frustração; o amor acaba não suportando o peso de expectativas 
irrealistas das pessoas envolvidas. Quando se aborda o lado sombrio do amor, 
quanto mais se procura calar o inconsciente, mais alto ele vai falar; quando os 
sentimentos odiosos não são reconhecidos, eles vão se acumulando e mais 
 
14
destrutivas serão as suas manifestações (Id., ibid.). Estes autores consideram 
que o ódio só é destrutivo quando traduzido em conduta destrutiva; 
reconhecido e usado corretamente, o ódio pode ser saudável, na medida em 
que proporciona ajustes de conduta, por exemplo, se não odiássemos a 
injustiça, como seríamos motivados a corrigi-la ou como nos defenderíamos? 
Se não odiássemos a dor, como aprenderíamos a não colocar mais a mão no 
fogo, uma vez acidentalmente queimada? “Reconhecer o ódio e encontrar válvulas 
de escape não-destrutivas é uma tarefa que precisamos realizar” (Id., ibid., p.79). 
Davidoff (2001) apóia essa idéia, de que as pessoas podem sentir raiva, mas 
que devem lidar com ela de forma não agressiva, esclarecendo o incidente, 
conversando com o ofensor, expressando abertamente seussentimentos, o 
que pensa da situação, sem exibir hostilidade; tentando resolver de forma mais 
madura, tendo um controle da situação, sem desequilíbrio emocional e 
impulsivo. É importante entender a origem do ódio, não ficar remoendo sua dor, 
elaborando fantasias raivosas de retaliação e ser capaz de verbalizar os 
sentimentos, de forma não destrutiva. 
A raiva é uma emoção caracterizada por fortes sentimentos de 
contrariedade, frustração, violação de expectativas ou desejos pessoais e 
prejuízo da auto-estima, os quais são acionados por ofensas reais ou 
imaginárias (DAVIDOFF, op.cit.; VISCOTT, op.cit.). 
Do ponto de vista de Myers (1999), a raiva é despertada, mais 
freqüentemente, por eventos interpretados como intencionais, injustificados e 
evitáveis, do que apenas por aqueles eventos que são frustrantes. Ele presume 
que descarregar a raiva proporciona liberação emocional, ou catarse no 
indivíduo; a raiva é reduzida ao liberá-la através da ação direta contra quem a 
provocou ou em forma de fantasia agressiva. Entretanto, o autor considera que 
expressar a raiva dessa forma pode acalmar a pessoa, temporariamente; mas, 
também, pode aumentar a hostilidade latente e/ou provocar retaliação e 
confrontos ainda maiores. De qualquer forma, é importante não adiar a 
resolução desse problema, pois quanto mais raiva reprimida, mais aumentará a 
mágoa dentro de si; ao segurar a raiva dentro de si mesmo, a pessoa estará se 
punindo, canalizando a raiva, dirigindo-a contra si mesmo. Na medida em que 
 
15
esse assunto é enfrentado, uma vez extravasado, a raiva tende a desaparecer. 
“A raiva nunca desaparece enquanto os pensamentos de ressentimento ficarem 
guardados na mente” (O BUDA, 500 a.C., apud Myers, op.cit.). 
Retornando aos afetos positivos, é interessante a posição de Goldberg 
(op.cit.), por considerar que o amor romântico se baseia na fantasia, em 
desejos pessoais idealizados, no sentido de que tal amor venha a preencher 
tudo o que a pessoa precisa ou quer. Quando esta enxerga a realidade da 
outra pessoa, com seus defeitos e limitações, acaba não suportando o choque 
da desilusão; sente-se traída pelo outro e pelo amor, e, em vez de perseverar, 
lutar e superar essa desilusão, acaba destruindo esse amor. A desilusão é, 
portanto, a contrapartida da idealização fantástica do outro, que pode 
desencadear um sem número de afetos negativos, como o desejo de vingança, 
explicitado no excerto a seguir: 
 
“Querer vingança é parte do processo de cura da mágoa e da 
raiva; a vingança serve também como defesa contra a 
sensação de impotência e desesperança: a vida fica mais 
suportável quando se espera um triunfo vingativo e não nos 
sentimos tanto vítimas indefesas” (Goldberg, op.cit., p.247, 
248). 
 
Diante dessa questão, esse autor também concorda que, quando o amor 
frustra a pessoa, o sentimento de vingança vem à tona, envenenando o seu 
comportamento; as pessoas que querem vingança são as que se sentem 
vítimas e querem ferir, atacar o outro em igual ou maior intensidade, para suprir 
o ego ferido, pois: “há ocasiões em que a raiva, a mágoa e a frustração fazem 
fracassar todas as tentativas de comunicação e o ser amado parece um inimigo” (Id., 
ibid., p.35). 
Segundo Feldman (2005, p.68), “na traição, a palavra-chave é a rejeição. A 
pessoa traída se sente rejeitada, trocada, abandonada. Sua auto-imagem e sua auto-
estima, pilares de toda a estrutura emocional, ficam profundamente abaladas”. Esta 
autora, com o intuito de tornar mais inteligível e compreensível esta questão – 
 
16
traição – explica outros estados afetivos que a circunscrevem e a conjunção 
dos mesmos com suas repercussões corporais. 
 
“Os sentimentos de grande intensidade costumam ser 
acompanhados de um estado de angústia e ansiedade, 
especialmente no momento da confirmação da traição e nos 
momentos subseqüentes. (...) É uma sensação de grande mal-
estar físico, caracterizada por fenômenos somáticos, como 
taquicardia, sudorese, tremores, boca seca, entre outros. As 
pessoas costumam falar de ‘dor no peito’, ‘frio na barriga’, 
‘aperto’, ‘nó na garganta’, ‘pontadas no coração’” (Id.,ibid., 
p.75). 
 
Todos os afetos negativos representam a polaridade oposta ao amor e 
entre eles situa-se o ciúme, gerador de sofrimentos emocionais, tratado como 
tema central dessa pesquisa. Após este preâmbulo sobre o quadro da 
afetividade humana, com seus afetos positivos e negativos, necessário para 
situar o ciúme no contexto do cotidiano relacional conjugal, este sentimento 
será abordado, a seguir, visando a estabelecer uma base conceitual inteligível. 
Vários estudiosos de questões sobre a afetividade humana consideram 
o ciúme como um sentimento humano que pode interferir, em maior ou menor 
grau, na dinâmica de relacionamento conjugal. É um sentimento que produz 
angústia, raiva, desconfiança, baixa auto-estima, insegurança e tensão nos 
parceiros; e pode atingir formas doentias, abalando a saúde mental, podendo 
chegar ao extremo da violência (agressões físicas, homicídios e/ou suicídios), 
prejudicando a relação afetiva; é uma resposta negativa e, ao mesmo tempo, 
protetora, frente a uma ameaça da perda do parceiro íntimo, ou da qualidade 
do relacionamento valorizado (BRANDEN, 2002; CARLSON & CARLSON, 
2001; POSADAS, 2001; RANGEL, 2004; SANTOS, 2003; SHINYASHIKI & 
DUMÊT, op.cit.; SILVA, 1999). 
Segundo definição oficial apresentada no Novo Dicionário Aurélio, 
entende-se por ciúme: 
 
 
17
“1. Sentimento doloroso que as exigências de um amor 
inquieto, o desejo de posse da pessoa amada, a suspeita ou a 
certeza de sua infidelidade, fazem nascer em alguém; zelos. 2. 
Emulação, competição, rivalidade. 3. Despeito invejoso; inveja. 
4. Receio de perder alguma coisa; cuidado, zelo” (FERREIRA, 
s.d., p.333). 
 
 Examinando a literatura selecionada, pude observar nos achados 
bibliográficos acerca da temática (ciúme), que há semelhanças com a definição 
do Dicionário Aurélio, no sentido de o ciúme ser um sentimento doloroso, 
envolvendo possessividade, suspeitas, inveja dos atributos do rival e, 
principalmente, medo de perder o amado. 
Outros autores discorrem sobre essa temática, entre eles, Bottura Junior 
(2003), para quem é natural sentir medo pela ameaça de uma perda afetiva. As 
pessoas se sentem inseguras diante das perdas, com medo de serem 
excluídas da vida de outra pessoa. O indivíduo ciumento vive as exigências de 
um amor possessivo, por medo ou risco de perda do objeto amado 
(CAVALCANTE, 1997; COSTA e col., 1991). Buss (2000) atenta para dois 
ingredientes centrais do ciúme: a ameaça de perder um parceiro e a presença 
de uma terceira pessoa, motivando um comportamento reativo no sentido de se 
contrapor à ameaça. Ciúme, nessa linha de interpretação, consiste em uma 
emoção negativa, porque causa dor psicológica; em excesso, pode destruir 
relações harmoniosas, tornando-as pesadelos infernais. 
É importante atentar para as conseqüências do problema, no 
ajustamento emocional e na dinâmica de relacionamento afetivo do indivíduo 
(RANGEL, op.cit.). Segundo Bottura Junior (op.cit.), quando o ciúme ultrapassa 
o limite, o enciumado pode ser levado a distorções de interpretação da 
realidade e confiar, cegamente, nas suas fantasias, para afirmar seu raciocínio 
e justificar a continuidade de suas atitudes de ciúme. É atormentado pela 
dúvida, não consegue controlar sua desconfiança. Tomado pelas fantasias, se 
não conseguir controlar toda a vida do parceiro, o ciumento pode partir para a 
violência, intimidação e até a morte (suicídio ou homicídio), para dar fim à sua 
tortura. A relação, então, torna-se tensa e sufocada, pelas limitações impostas 
 
18
pelo ciúme, pela perseguição doentia, pelas cobranças, fiscalizações e 
pressões, que o ciumento exerce. Sofre o ciumento, o parceiro e as pessoas 
que convivem com eles, gerando conflitos, incompreensões, insegurança e, 
até, agressões,pois a imaginação ciumenta transgride regras, valores e 
princípios, como afirma o autor referido a seguir: 
 
“Para a imaginação ciumenta, a incerteza é mais dolorosa do 
que a certeza; (...) a imaginação do possível é mais intensa do 
que a constatação do real. (...) a representação infinita dos 
possíveis indeterminados é mais intensa do que a de qualquer 
realidade determinada” (GRIMALDI, 1994, p.43-47). 
 
Diante do exposto, acredito que a realização de pesquisas sobre o 
impacto do ciúme na dinâmica de ajustamento conjugal possa oferecer 
subsídios realísticos para o trabalho de profissionais que atuam junto a casais, 
que vivenciam esta problemática. Estudos sobre o assunto podem aumentar o 
conhecimento sobre as diferentes formas e manifestações patológicas ou não 
de ciúme, bem como as principais causas e fatores implicados no 
aparecimento do problema, subsidiando a elaboração de estratégias para o 
enfrentamento do mesmo. 
 
1.1. Objetivos 
 
Com a intenção de ter um lineamento, relativamente seguro, para 
orientar a minha trajetória como pesquisadora, defini alguns objetivos, 
apresentados a seguir. 
Como objetivo geral, propus-me investigar, via levantamento 
bibliográfico, a problemática do ciúme nos relacionamentos amorosos, entre 
homens e mulheres. 
Como objetivos específicos, defini os seguintes propósitos: 
- levantar dados bibliográficos a respeito do ciúme nos 
relacionamentos amorosos, entre casais heterossexuais; 
 
19
- averiguar, através da literatura, se existe diferença entre o grau de 
prevalência de sintomas de ciúme nos dois sexos; 
- identificar as manifestações de ciúme entre estes casais; 
- conceituar o papel do ciúme no relacionamento amoroso; 
- caracterizar os principais fatores que predispõem homens e mulheres 
a manifestações de ciúme. 
 
1.2. Metodologia 
 
Este trabalho consistiu em uma pesquisa bibliográfica. A coleta de dados 
foi efetuada através de consulta a livros, periódicos, bases de dados da 
Internet, revistas, entre outros. 
Inicialmente, foi efetuado um levantamento junto ao acervo da Biblioteca 
da FAEF e, depois, nas demais obras adquiridas por mim. Na seqüência, foi 
realizado um levantamento complementar, junto a sites de busca da Internet, 
tais como Lilacs, Bireme, Scielo, entre outros. 
 Os artigos e obras encontrados foram selecionados para a utilização no 
presente trabalho, com base nos seguintes critérios: 
a) pertinência em relação ao assunto-objeto deste trabalho; 
b) confiabilidade da fonte, clareza e concisão dos resultados. 
 
Foi efetuada uma leitura e fichamento do material coletado. Tendo em 
vista a natureza deste estudo, os dados coletados foram sistematizados e 
agrupados em categorias, segundo os objetivos geral e específicos, 
estabelecidos para este trabalho. 
 Na seqüência, foram realizadas a discussão e a análise das categorias, 
com base na literatura pertinente levantada. Com isso, a intenção subjacente 
foi a de chegar a alguns resultados conceituais, de categorização e técnicos 
sobre a questão do ciúme, que pudessem contribuir com o trabalho de 
profissionais que lidam com esta problemática, além de desvelar indícios para 
novos estudos. 
 
 
20
Através dos estudos realizados sobre os dados coletados, apresento, a 
seguir, uma revisão da literatura sobre as principais manifestações do ciúme 
amoroso, na dinâmica de relacionamento conjugal, explicitando o conteúdo 
consoante os objetivos geral e específicos, definidos na Introdução desta 
monografia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 2 
A PROBLEMÁTICA DO CIÚME NOS 
RELACIONAMENTOS AMOROSOS EM CASAIS 
HETEROSSEXUAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22
O ciúme amoroso é uma manifestação afetiva, que se apresenta sob as 
mais diversas formas e graus de intensidade, implicando sempre na existência 
de um terceiro, num contexto triangular, e na iminente ameaça de perda do 
parceiro; é numa dúvida (real ou imaginária) que se apóia a máxima do ciúme; 
apenas a suspeita já é encarada como uma traição. Caracteriza-se por uma 
atitude de possessividade com o parceiro, aprisionando-o e controlando sua 
vida, pois o ciumento teme que seu parceiro seja mais forte e que possa viver 
sem ele. Uma crise de ciúme pode gerar agressões físicas e psicológicas e, 
também, causa muita dor psíquica, tanto para o ciumento como para quem 
sofre as conseqüências desse mal (ARREGUY, 2001; LACHAUD, 2001; 
ALBISETTI, 1994, 1997; FRIDAY, 1987; NOGUEIRA, 2003). Para Friday, “o 
ciúme é dito normal quando se constitui em reação normal a uma ameaça real” 
(FRIDAY, op.cit., p.193). Há uma concordância de Feldman (op.cit.) com esta 
afirmação, quando considera que, no ciúme normal, a pessoa reage, apenas, 
diante de sinais evidentes de que seu parceiro está envolvido, amorosamente, 
com outra pessoa; neste caso, seu ciúme é racional e objetivo; a relação com 
seu parceiro não é de possessividade; ela respeita o espaço do outro, não 
compete atenção com seu amado; enfim, estas pessoas possuem 
autoconfiança, auto-estima, conhecem o seu próprio valor, por isso, sabem 
discernir situações de ameaça real das ameaças infundadas. 
Segundo Gikovate (2006), as pessoas tendem a ter, na maioria das 
ligações afetivas, um desejo de exclusividade e possessividade perante o 
parceiro amoroso, sentindo direito de propriedade sobre ele, afastando-o de 
todas as pessoas percebidas como rivais. Surge, assim, o risco e o medo da 
perda da pessoa amada. 
Cercado pelas circunstâncias do cotidiano e influenciado pelas mesmas, 
o ciúme evolui como uma defesa, uma resposta às ameaças da infidelidade e 
de abandono por parte de um parceiro. A pessoa ciumenta tem uma 
sensibilidade elevada aos sinais de infidelidade (BUSS, op.cit.). Corroborando 
essa idéia, Rangel (op.cit., p.34, 85) considera: 
 
“A descoberta do ciúme é um processo doloroso porque mexe 
com o conteúdo negativo do Ego. (...) O que causa dor é Ego. 
 
23
É carência não atendida, são projetos frustrados, gostos e 
caprichos não realizados e o sentimento da perda de um lugar 
destacado na existência do outro”. 
 
Esse estado afetivo negativo vem de encontro à afirmação de Cardella, 
referida na Introdução, de que o amor “é a polaridade oposta do egocentrismo e do 
sofrimento de natureza emocional” (loc.cit.), pois, como afirma Santos (2002, p.75-
77), o amor 
 
“... sempre vem acompanhado de um sentimento de zelo, de 
cuidado, de acolhimento, de respeito para com a pessoa 
amada; um sentimento de alteridade, voltado para o outro e 
não para si mesmo. Uma distorção deste zelo é o sentimento 
de ciúme, (...) um sentimento egocentrado, voltado para si 
mesmo, para quem o sente, pois é o medo que alguém sente 
de perder o outro, ou sua exclusividade sobre ele, um 
sentimento de posse, um medo de ser excluído da relação, ou 
ameaçado de exclusão”. 
 
 Segundo o autor, o ciumento sente-se ameaçado quanto à estabilidade 
e à qualidade de um relacionamento íntimo valorizado; com isso, a pessoa 
passa a viver em estado de tensão, experienciando angústia, desconfiança, 
ruminações, dúvidas, insegurança, suspeitas, temendo ser traído ou 
abandonado, o que causa um grande sofrimento e mal-estar na relação. O 
autor afirma que o grau de ciúme pode variar em intensidade, de leve, 
moderado, a severo; que, dependendo do caso, pode ser uma simples 
manifestação de baixa auto-estima, chegando a neuroses, obsessões, 
situações delirantes e patologias psiquiátricas graves; ainda que, quanto mais 
intenso e menos controlável for o ciúme, maior será o problema e a fragilização 
da relação afetiva. 
Os estudiosos da afetividade humana consideram o ciúme como um 
estado afetivo bastante comum à natureza humana. Entre eles, Torres; Ramos-
Cerqueira; Dias (1999, p.02) que afirmam: 
 
 
24
“O ciúme é uma emoção humana extremamentecomum, 
senão universal, podendo ser difícil a distinção entre ciúme 
‘normal’ e ‘patológico’. (...) O ciúme seria um conjunto de 
pensamentos, emoções e ações, desencadeado por alguma 
ameaça à estabilidade ou qualidade de um relacionamento 
íntimo valorizado. As definições de ciúme são muitas, tendo 
em comum três elementos: 1) ser uma reação frente a uma 
ameaça percebida; 2) haver um rival real ou imaginário e; 3) a 
reação visa eliminar os riscos da perda do amor. A maneira 
como o ciúme é visto tem variações importantes nas diferentes 
culturas e épocas. (...) No entanto, o potencial destrutivo, o 
‘lado negro’ desta emoção sempre foi reconhecido”. 
 
Nestes autores, evidencia-se o referencial teórico que deu sustentação à 
consideração de Santos (op.cit.), quanto ao fato de o ciúme ser desencadeado 
por “sentimentos de ameaça à estabilidade ou qualidade de um relacionamento íntimo 
valorizado”, mencionado na referência anterior. 
Freud (1969) considera que o ciúme é uma emoção normal em sua 
manifestação competitiva, podendo ter graus anormalmente intensos em suas 
manifestações. Há um sofrimento causado pelo pensamento de perder o objeto 
amado, sendo uma ferida narcísica para a auto-estima. Há um luto, pela dor 
causada pelo objeto que se supõe ter perdido, e da humilhação narcísica. Para 
ele, o ciúme é 
 
“... um daqueles estados emocionais, como o luto, que podem 
ser descritos como normais. Se alguém parece não possuí-lo, 
justifica-se a inferência de que ele se experimentou severa 
repressão e, conseqüentemente, desempenha um papel ainda 
maior em sua vida mental inconsciente” (FREUD, op.cit., apud 
ARREGUY, op.cit., p.16). 
 
Freud (1969) também destaca que o ciúme não é inteiramente racional, 
sendo uma manifestação tardia da situação edípica de rivalidade com alguém 
 
25
que divide a atenção de outrem sobre mim. Já o ciúme delirante tem origem em 
impulsos reprimidos, no sentido da infidelidade (FREUD, op.cit.). 
A despeito de ser um estado afetivo “extremamente comum, senão 
universal” (TORRES; RAMOS-CERQUEIRA; DIAS, loc.cit.), as condutas das 
pessoas ciumentas são bastante diversificadas. Myra y Lopez (1982, apud 
CAVALCANTE, op.cit.) caracteriza seis tipos de conduta ciumenta: 
- a “queixosa”, em que o ciumento se torna um pedinte ou mendigo de 
amor, despertando compaixão, ao invés de paixão; 
- a “trombuda”, típica de pessoas fechadas e desconfiadas, que vivem 
de “tromba caída” e, não raro, abandonam o convívio do lar, em 
busca de um refúgio para ruminar o seu ressentimento; 
- a “recriminante”, em que a pessoa condena, insulta e ofende com 
palavras, chegando, às vezes, à agressão mais ou menos violenta; 
- a “autopunitiva ou expiatória”, em que o ciumento se impõe 
sofrimento, cria em quem ama um sentimento de culpa, faz com que 
a opinião social se volte contra ele, tornando-se mártir; 
- a “vingativa”, em que a pessoa usa a agressão direta, vingando-se do 
outro, conforme o ditado “olho por olho, dente por dente”; 
- a “superadora”, em que a pessoa, ao perceber que o carinho do 
amado estaria acabando, modifica a relação, estimulando novas 
reações do parceiro; este é um tipo utópico, pois “uma característica do 
ciúme intenso é o seu mecanismo mórbido de autoprodução” (MYRA y 
LOPES, op.cit., p.110). 
 
Essas condutas se fazem presentes na dinâmica das relações conjugais, 
no cotidiano do casal, não existindo uma conduta pura. Entretanto, todas são 
permeadas pela violência psicológica, que é um processo que visa a manter 
um domínio do ciumento sobre o parceiro, com críticas, humilhações, ofensas, 
falta de respeito, engrandecendo-se e rebaixando o outro, repetidas vezes, e 
se reforçando com o tempo. As palavras, atitudes que compõem as reações de 
ciúme, e gestos, fazem parte de um processo muito destrutivo que fere a auto-
estima da pessoa, podendo levar até ao suicídio da vítima dessa violência 
 
26
psicológica, dependendo da maneira como essa pessoa lida com essas 
atitudes do parceiro ciumento (HIRIGOYEN, 2006). A mesma autora completa: 
“na maior parte das vezes, a violência física só surge quando a mulher resiste à 
violência psicológica, ou seja, quando o homem não conseguiu controlar como 
desejaria uma mulher demasiado independente” (Id., ibid., p.44). A violência 
psicológica aparece, ainda, como autocompaixão, em que o ciumento 
ressentido se faz de vítima para desencadear sentimento de culpa no parceiro, 
como no tipo autopunitivo ou expiatório, de Myra y Lopes, referido 
anteriormente. 
Hirigoyen, ainda, discute os efeitos conseqüentes da violência conjugal 
em crianças que vivem nesse ambiente de maus-tratos, as quais acabam, 
também, sendo vítimas, podendo ter perturbações no desenvolvimento, 
psicossomáticas, emocionais e/ou comportamentais, pois, 
 
“... Ser testemunha de violência é tão prejudicial, ou até 
mais, do que estar diretamente exposto à ela. (...) Para uma 
criança, ser testemunha de violências conjugais é o mesmo 
que ter sido ela própria maltratada. A mãe pode cuidar para 
que seu filho não veja diretamente as violências, mas ele verá 
as marcas dos golpes e a infelicidade refletidas nos olhos 
dela” (Id., ibid., p.177-179). 
 
Referindo-se a esses estados afetivos negativos, que circunscrevem o 
ciúme, Trigueiro (1999, p. 46) acrescenta que, 
 
“... o ser ciumento é infeliz, inseguro, confunde o amor com a 
posse do ser amado, teme perder o outro, ou num extremo de 
egocentrismo, perder-se a si mesmo. E se vai num crescendo, 
vira caso patológico”. 
 
 O ciúme é uma manifestação afetiva, muitas vezes negativa, que 
interfere consideravelmente na dinâmica do relacionamento conjugal, podendo 
tornar-se patológico se não administrado adequadamente. Nesse sentido, é 
 
27
interessante notar as possíveis diferenças existentes entre homens e mulheres, 
na questão do ciúme. 
 
2.1. As diferenças entre os sexos em relação ao ciúme 
 
Ao lado das generalidades relativas ao sentimento ciúme, fatores 
predisponentes e desencadeantes, e suas manifestações, comuns a homens e 
mulheres, é interessante notar, ainda, que as manifestações do ciúme normal e 
doentio diferem entre os sexos. Segundo Buss (op.cit.), estudos mostram que 
homens e mulheres são igualmente ciumentos; ou seja, ambos podem ser 
atormentados pelo ciúme tanto em suas manifestações cotidianas, quanto em 
suas expressões clínicas mais ostensivas, mas os eventos que disparam o 
ciúme são diferentes em cada caso. Há diferenças entre homens e mulheres 
nas suas atitudes quanto ao envolvimento emocional no sexo. A maioria das 
mulheres deseja algum tipo de envolvimento emocional, compromisso, amor, 
homens maduros, com status financeiro. Os homens têm desejos de variedade 
sexual, priorizando beleza física (corpo atraente) e juventude. Então, para as 
mulheres, a infidelidade emocional seria mais perturbadora, enquanto os 
homens ficam mais aflitos pela infidelidade sexual de suas parceiras. Nesse 
sentido, o autor considera: 
 
“O ciúme dos homens é mais sensível a pistas de infidelidade 
sexual, e o ciúme das mulheres é mais sensível a pistas de 
infidelidade emocional. (...) O ciúme é especialmente 
sintonizado com os desejos do sexo oposto. As mulheres são 
primordialmente ameaçadas por rivais que corporificam o que 
os homens querem. Os homens são primordialmente 
ameaçados por rivais que têm o que as mulheres querem” (Id., 
ibid., p. 74, 83). 
 
Vincent (2005) apóia a posição de Buss (op.cit.), quando afirma que a 
infidelidade sexual atormenta mais os homens e a infidelidade emocional 
suscita um ciúme maior entre as mulheres. Sobre esse aspecto, Matarazzo 
 
28
(2005), também, afirma que os homens buscam mais prazer sexual, conquista, 
variedade, sem envolvimento emocional; entretanto, para as mulheres, sexo e 
amor estão entrelaçados, ou seja, procuram mais intimidade afetiva, apego, 
segurança. Dessa forma, como os homens não dãotanta importância ao 
envolvimento emocional, para eles, uma “breve aventura” não soa como uma 
séria ameaça ao casamento; ao contrário, para as mulheres, esse ato é 
considerado imperdoável. Matarazzo tece considerações a respeito da dor, da 
mágoa e da vingança, que tanto podem acometer homens como mulheres: 
 
“... Custamos muito para perdoar quem nos machucou; 
custamos mais ainda para nos libertar da dor. Todos sabemos 
que incidentes dolorosos não perdoados causam novas dores, 
novas tristezas, novos problemas. Cada mágoa é uma ferida 
emocional que, quando arranhada, infecciona. Essa infecção 
envenena nossa mente. Daí passamos a investir grande parte 
da nossa energia emocional para alimentar esse ciclo infinito 
de raiva, ou seja, atravessamos os dias e as noites querendo 
marcar pontos, vingar-nos” (Id., ibid., p.130). 
 
Gikovate (op.cit.) identifica a relação do ciúme com a inveja, afirmando 
que os homens sentem inveja do poder sensual feminino, pelos atributos 
físicos que demonstram, frente aos olhos deles. E, justamente por isso, muitas 
mulheres enlouquecem de ciúme, sentem-se desprezadas pelos parceiros, por 
eles fixarem olhares em outras mulheres que lhes pareçam interessantes; 
nesse sentido, o ciúme se expressa, de forma intensa, pela via da visão. O 
autor considera, ainda, que se houver a presença da infidelidade sexual 
(efetiva), a dor torna-se muito maior do que apenas em razão dos fenômenos 
visuais; e se houver envolvimento sentimental, o acontecimento torna-se mais 
grave ainda. 
Seguindo a mesma idéia de Gikovate, estudos feitos na Coréia, nos 
Estados Unidos e nos Países Baixos, mostram que homens e mulheres se 
sentem mais ameaçados por rivais que tenham valores e atributos superiores 
aos deles. Os homens sentem-se mais ameaçados frente a um rival que tenha 
 
29
um plano de carreira melhor, status financeiro superior, mais recursos materiais 
e força física, enquanto as mulheres se incomodam mais com a beleza física 
das rivais (VINCENT, op.cit.). Ou seja, o ciúme revela-se mais forte nos 
homens, segundo aspectos provindos da época do patriarcado, na qual 
imperava o machismo, o poder dos homens sobre as mulheres, em que o 
status superior era tido como um orgulho pelos homens; e para as mulheres, 
impera a preocupação com a beleza, originada pelas pressões externas 
exercidas sobre elas, impressas na mídia, no alcance da beleza perfeita e tão 
sonhada, almejada por todas, gerando disputa e comparação infindáveis. 
Em outros casos, as mulheres liberam para dentro de si os sentimentos 
destruidores de ódio e vingança, caindo em depressão, destruindo a própria 
energia vital e a si mesmas; podem recorrer a psicofármacos e ao álcool, 
originando sentimentos de fraqueza e de inferioridade. Outras mulheres 
reagem de forma diferente: perseguem seus parceiros e as amantes com 
ameaças, hostilidade, planejam vingança; pedem o divórcio e forçam os 
parceiros, materialmente, a entregar-lhes tudo o que elas têm direito, não 
deixam que eles vejam os filhos; enfim, carregadas de ódio e sofrimento, 
descontam toda a raiva em cima dos parceiros, na maioria das vezes, de forma 
sádica e cruel, para recompensar a perda e restabelecer a autoconsideração 
(RINNE, 1999). Elas reagem dessa forma, pois estão com o orgulho ferido e 
impulsionadas pelo ódio. 
No sexo feminino, é importante atentar para os principais fatores que 
podem precipitar as manifestações de ciúme, levando a sentimentos de 
inferioridade, menor desejo sexual e, conseqüentemente, medo da infidelidade 
(traição) do parceiro. Por outro lado, para os homens, os temores de abandono 
e os delírios de infidelidade por parte da parceira, podem surgir em situações 
específicas, como, por exemplo, a saúde em declínio. Nesse caso, a doença 
faz com que o homem fique preso à casa e, assim, a parceira fica livre para 
sair; por isso, ele atormenta-a com questionamentos, acusações, ameaças e, 
por fim, com violência física (BUSS, op.cit.; HIRIGOYEN, op.cit.). 
A insatisfação sexual também pode ser detonadora de ciúme, causando 
infelicidade conjugal, aumentando a probabilidade de rompimento e ameaça à 
 
30
infidelidade sexual. Uma das principais razões de agressões físicas dos 
maridos contra suas mulheres reside no ciúme sexual. Além disso, a violência 
como medida mais severa para coibir a infidelidade não é limitada às parceiras 
conjugais; também prevalece durante o namoro. As manifestações de ciúme 
podem variar desde ameaças de violência, ocorrências de espancamentos e 
até assassinatos. Muitas vezes, o parceiro ataca a mulher com uma raiva 
intensa, com a intenção de causar dano corporal ou até mesmo a morte 
(BUSS, op.cit.). 
Mulheres também podem utilizar-se de violência contra seus parceiros. 
No entanto, na maioria das vezes, utilizam a violência como uma autodefesa 
contra um parceiro preste a agredi-la. Ou então, a violência pode ocorrer em 
mulheres submetidas a um histórico de espancamentos, diante das violências 
de que estavam sendo vítimas. As mulheres em geral, causam menos danos 
corporais do que os homens. Os homens usam da violência contra suas 
parceiras como uma forma de controle e domínio, mantendo assim, uma 
ameaça verossímil, com o intuito de reduzir as chances de que a parceira 
cometa infidelidade ou abandone a relação. Já as mulheres utilizam-se de 
manipulação, chantagem emocional, falsa gravidez etc., para segurar o 
parceiro na relação (BUSS, op.cit.; HIRIGOYEN, op.cit.). 
Outra questão a ser considerada nesta diferenciação refere-se ao que os 
outros pensam; muitas pessoas sentem-se incomodadas com opiniões alheias, 
 
“... estão sempre muito mais preocupadas com o que os 
‘outros’ estão achando delas do que costumam manifestar. 
Neste item em particular – o do ciúme sexual – os homens são 
ainda mais sensíveis à opinião pública do que as mulheres. 
Agem de modo repressivo porque não querem ser mal falados 
nem ofendidos em sua virilidade” (GIKOVATE, op.cit., p.140). 
 
Impera aí, a questão da honra, o machismo, o orgulho ferido; a opinião 
pública e a crítica social representam um fardo que têm que carregar. 
Quanto à origem do ciúme nos homens, Arreguy (op.cit.), sustentado 
pela posição psicanalítica, considera que a triangulação do Complexo de Édipo 
 
31
é que marca o início da manifestação do ciúme, apontando para uma reedição 
edípica, repetindo uma situação vivida na infância, que se manteve fortemente 
investida, como se o amor edipiano não fosse elaborado. Por isso, segundo a 
autora, a rivalidade com outros homens é mais acirrada porque se trata de uma 
competição entre amantes, que repete uma disputa entre irmãos. 
Ainda, em relação ao ciúme exposto pelos homens, essa autora observa 
que “... sempre houve crimes passionais no passado, mas eles aconteciam 
principalmente como resposta a uma ‘questão de honra’, atribuída ao homem como 
um valor essencial, um valor patriarcalista” (Id., ibid., p.126). 
Segundo Friday (op.cit.), o ciúme, tanto entre homens como nas 
mulheres, pode se manifestar e ser experienciado de forma semelhante, 
quando afirma que os homens são tão violentamente ciumentos quanto as 
mulheres, havendo uma mistura de amor e ódio, com dor ou medo. De fato, é 
comum a violência física gerada pelo descontrole nas situações que envolvem 
o ciúme. Entretanto, os homens não falam muito sobre esse sentimento, se 
fecham, negam seus sentimentos mais profundos, como uma defesa, mas não 
que a emoção esteja ausente. Dependendo do contexto, da cultura e da 
sociedade em que um homem esteja inserido e interagindo, não lhe é permitido 
abrir-se a esses sentimentos, pois pode revelar sua vulnerabilidade, fraqueza, 
fragilidade, “impróprias” a uma postura dita “masculina”. Por isso, a dificuldade 
dos homens de expressarem seus sentimentos; eles mantêm uma carcaça, um 
escudo contra o possível ataque dessas emoções, perante as pessoas. Há 
uma fuga,em não querer assumir esses sentimentos, muito menos de querer 
falar deles e assumir que estejam sofrendo por isso; muitas vezes, aquilo que 
um homem demonstra não é o que, de fato, está sentindo (GIKOVATE, op.cit.; 
FRIDAY, op.cit.). 
Para Hirigoyen, o que torna os homens ciumentos e irritáveis com suas 
parceiras vem de uma angústia interna, de um medo infantil de serem 
abandonados; e esse medo e angústia do abandono só são contidos se eles 
tiverem um controle permanente das parceiras, pois: 
 
“... têm dentro de si um sentimento de impotência que os leva 
a exercer, externamente, um domínio sobre a mulher. Para se 
 
32
sentirem bem, é preciso que possam controlar a que distância 
deles a companheira deve ser mantida: muita proximidade os 
inquieta, sentem-se engolidos, sufocados, ao passo que uma 
distância muito grande reativa seu medo de abandono. (...) 
Confundem amor e possessão. Ora, o amor não é posse, e 
sim troca e partilha” (HIRIGOYEN, op.cit., p.129). 
 
É interessante notar, nos estudos de Nogueira (op.cit.), que o ciúme 
sexual difere dos outros tipos de ciúme; o autor afirma que este se origina de 
maneira irracional, instintiva, para manutenção da espécie, funcionando como 
um processo de defesa de seu território e de evitar que “sua fêmea” copule 
com outros machos, numa relação de exclusividade sexual. Ocorre tanto em 
homens quanto em mulheres e, também, está ligado à ameaça de perda, mas 
com valor e significados diferentes. A reação frente a essa ameaça pode se 
manifestar de várias formas, em agressões físicas e/ou psicológicas, podendo 
chegar a assassinatos, quando o impulso destrutivo se torna incontrolável. 
Com efeito, “o ciúme sexual ou qualquer outro, aparece desde que exista um fato. 
Esse fato gera uma possibilidade que, por sua vez, acarretará o temor e a 
conseqüente atitude, às vezes, agressiva por parte do enciumado” (Id.,ibid., p.113). 
Nogueira, também, discorre sobre o ciúme infundado, no qual o homem 
fantasia, imagina, supõe comportamentos inaceitáveis, inadequados de sua 
parceira, por exemplo, uma traição; porém, nada existe de real, é um delírio do 
enciumado e não pode ser qualificado como um ciúme sexual. 
Enfim, o ciúme traz um conjunto de sentimentos negativos e torturantes, 
como medo de perder o amado, inveja do rival, falta de valor próprio, 
sentimento de rejeição, entre outros (RINNE, op.cit.). Corroborando a idéia 
dessa autora, Gikovate (op.cit.) considera que no ciúme, há o temor da perda 
do amado, somado ao caráter possessivo do enciumado, porque a rejeição 
amorosa humilha e desampara a pessoa. 
Essas diferenças de gênero quanto ao ciúme, entretanto, são relativas e 
não exclusivas do homem e da mulher; esta pode ser tão ou mais agressiva 
que o homem e este tão ou mais lamuriento do que a mulher. 
 
 
33
2.2. Principais fatores desencadeantes de ciúme 
 
 O ciúme é um sentimento que faz parte dos relacionamentos amorosos 
de muitos casais. Pode gerar desconforto, intrigas e sentimento de vingança, 
se a pessoa se sentir ferida, humilhada, rejeitada. 
 A respeito dos fatores desencadeantes de ciúme, Santos (op.cit., p.86) 
considera: 
 
“Uma pessoa se torna ciumenta devido a uma série de 
circunstâncias que vão desde uma instabilidade emocional 
passageira até situações mais complicadas, em que o nível de 
tensão se torna tão elevado, que não é mais possível à pessoa 
utilizar-se de seus mecanismos habituais de adaptação e 
defesa, caindo assim em uma verdadeira crise”. 
 
Ou seja, ela pode acabar desencadeando sintomas patológicos de 
ciúme, bem como outras patologias associadas, devido às pressões externas e 
conflitos internos, resultantes de várias circunstâncias vivenciadas pela pessoa, 
no seu relacionamento amoroso. 
Albisetti (op.cit., p.5) afirma que “o ciúme faz parte de uma visão possessiva 
do ambiente, do outro, de si. É o resíduo da estrutura infantil do eu”. Também, afirma 
que a pessoa “relembra”, inconscientemente, dos tempos de quando era 
recém-nascido, da relação simbiótica com a mãe, que era gratificante, pois 
todas as suas necessidades e desejos eram satisfeitos de imediato. Supõe-se 
que o adulto ciumento é aquele que não superou devidamente essa fase 
passada, transferindo para outra pessoa os seus “direitos de propriedade 
exclusiva. Assim, os objetos que o sujeito ama no decorrer da vida, são substitutos do 
objeto materno” (ALBISETTI, op.cit.; ARREGUY, op.cit.). 
Assim como Freud (op.cit.), Lachaud (op.cit.) e Arreguy (op.cit.), Coen 
(1987) também apóia a participação do narcisismo e do complexo de Édipo na 
problemática do ciúme, ou seja, ambos podem estar envolvidos no surgimento 
de um ciúme (COEN, op.cit., apud ARREGUY, op.cit.). 
 
34
Existem casos em que o ciúme sexual é o motivo principal para o 
homicídio de parceiros e rivais. Nestes casos, a descoberta da infidelidade leva 
à determinação em terminar a relação, por não suportar a idéia da perda ou de 
ser abandonado pelo parceiro. (BUSS, op.cit.). Esta idéia compatibiliza-se com 
a afirmação subseqüente, de Grinberg: 
 
“A morte resultante do ódio despertado pelo ciúme, diante de 
uma experiência de traição, traria, de forma patológica, o 
alívio, temporário e ilusório, para o sofrimento oriundo de seu 
complexo de inferioridade” (GRINBERG, 2000, p. 73). 
 
Ainda, considerando os fatores desencadeantes, Gikovate (op.cit.), 
afirma que o ciúme se expressa em torno da sexualidade, no sentido do 
sentimento de possessividade do parceiro amoroso e do medo da perda do que 
lhe é precioso, valioso; e qualquer tipo de intimidade física que o parceiro 
(mesmo quando ainda não se tenha um compromisso sério, fixo) tenha com 
outra pessoa, já provoca a dolorosa sensação de traição e, conseqüentemente, 
o sentimento de ciúme, podendo determinar uma reação de raiva e desejo 
imediato de vingança, em alguns casos. Entretanto, o autor discorda dessa 
atitude vingativa do ciumento, quando, atormentado pelo ciúme, sente-se no 
direito de interferir no jeito de ser do parceiro, dominando-o, limitando a sua 
liberdade. Para ele, uma atitude frente ao incômodo que outra pessoa possa 
provocar, seria sair de perto, apenas, não interferindo no destino do parceiro, 
como se fosse “dono” da vida do mesmo. 
Engel (2000) realizou um estudo sobre os conflitos relacionados às 
relações amorosas e/ou sexuais, a partir de julgamentos de crimes passionais, 
na cidade do Rio de Janeiro (entre 1890 e 1930), intitulado “Paixão, crime e 
relações de gênero”. Nesse estudo, o ciúme, envolvendo infidelidade, suspeitas 
de infidelidade, rivalidades amorosas e ofensas da honra, foi apontado como o 
principal motivo das agressões, lesões corporais graves, homicídios e 
tentativas de homicídio, no período considerado. Ela destaca que 
 
 
35
“... nos homens, o ciúme encontra-se intimamente associado à 
noção de ‘honra masculina’, que, uma vez maculada pela 
traição, real ou imaginária, por disputas amorosas entre rivais 
do sexo masculino, por situações de suposta ou comprovada 
infidelidade das mulheres com as quais os agressores 
mantinham relações afetivas e/ou sexuais, deveriam ser 
‘lavadas com sangue’. (...) A honra da mulher estaria 
profundamente vinculada à defesa da virgindade ou da 
fidelidade conjugal” (p. 163-165). 
 
Outros estudos revelam, também, o papel do álcool como 
desencadeador do ciúme. O consumo desta droga ilícita, presente no cotidiano 
de muitas famílias, leva o ciumento à suspeita de infidelidade, considerada 
delirante, ou à manifestação do ciúme patológico. Isto acontece porque o álcool 
promove a distorção da percepção e pode, também, deturpar a interpretação 
dos fatos. Em alguns casos, pode ocorrer associação entre consumo de álcool 
e a impotência sexual, e o conseqüente aparecimento do ciúme; sentimentos 
de inferioridade sexual podem ser maiores em algumas pessoas, o que pode 
levar o indivíduo a ter medo de ser abandonadopela parceira, pois a mulher 
acaba desenvolvendo uma aversão ao marido que se torna áspero e brutal, por 
estar bêbado (BUSS, op.cit.; GIKOVATE, op.cit.). 
Hirigoyen (op.cit.) corrobora o ponto de vista desses autores de que o 
uso do álcool ou drogas pode reduzir inibições e liberar as pulsões agressivas 
do ciumento, levando ao homicídio de seu parceiro, num ato de dominação 
extrema; ou ainda, desejando se vingar; julgando ter sofrido uma perda ou uma 
injustiça, mata para obter a reparação. Davidoff (op.cit.), também, apóia a idéia 
de que a violência contra a mulher costuma ser acionada pelo consumo de 
álcool, reduzindo temporariamente o controle do marido, que usa a violência 
para encerrar discussões ou resolver conflitos. 
Assim, o ciumento, baseado em suspeitas de infidelidade do parceiro, 
sejam elas comprovadas ou não, “não perdoa e não confia. Se lhe falta motivos no 
presente, busca-os no passado e até no imprevisível futuro, ainda que ilusórios, frutos 
 
36
de sua imaginação atormentada” (ROSA, 2005, p.19), seja esta resultante do 
consumo de álcool ou não. 
Adeodato et al. (2005) realizaram um estudo para avaliar a qualidade de 
vida e a depressão em mulheres vítimas de seus parceiros, e o álcool e ciúme 
foram relacionados como os mais referidos desencadeantes das agressões 
físicas. 
Ainda, no tocante às relações afetivas violentas, ligadas ao consumo de 
álcool, estudos de Taquete e colaboradores evidenciaram que 
 
“... há presença de relações afetivas violentas entre 
namorados, principalmente quando existe envolvimento com 
álcool e drogas, ciúme, desconfiança e infidelidade no namoro. 
A violência presenciada entre os pais também é um modelo 
que tende a ser repetido pelos filhos. (...) Alguns adolescentes 
consideram normal a agressão verbal e/ou física na resolução 
de conflitos; o ciúme é o motivo mais freqüente de discussão 
entre namorados” (TAQUETTE et al., 2003, p.1441-1442). 
 
Com isto, forma-se, então, um círculo vicioso e pernicioso. Ou seja, 
muitas vezes, as crianças, desde pequenas, como já estão expostas aos 
exemplos de violência e agressão na própria família, sem ter outros modelos 
identificatórios disponíveis, acabam reproduzindo o que aprenderam em casa, 
quando começam a ter relacionamentos amorosos. 
Outros fatores, também, foram arrolados como motivadores do ciúme e 
entre eles a auto-estima; relacionam o grau de ciúme a uma boa ou baixa auto-
estima. Há autores que consideram que um “fracasso do narcisismo” em 
manter a função egóica do amor a si mesmo, remete a uma dependência muito 
forte da confirmação amorosa do companheiro, o qual depende do suporte do 
parceiro para que possa garantir o seu valor pessoal; a dependência do 
parceiro sustenta a própria sobrevivência do eu (DENZLER, 1997, apud 
ARREGUY, op.cit.; RACAMIER, 1968, apud ARREGUY, op.cit.). Freud (op.cit.) 
e Lachaud (op.cit.) também compartilham da mesma opinião, de que todo 
ciúme comporta a dor de uma ferida narcísica. Ainda, Gikovate (op.cit.) afirma 
 
37
que o ciúme tem correlação com uma ferida na vaidade, pela possibilidade do 
enciumado ser trocado por alguém mais interessante e gratificante. 
Lachaud (apud ARREGUY, op.cit.) e Gikovate (op.cit.) associam a idéia 
de posse com a inveja, trazendo o sentido de inferioridade, onde invejamos os 
atributos ou o poder que a pessoa invejada possa possuir, que o nosso 
companheiro veja no outro esses requisitos, mas que nós não possuímos. 
Quem é inseguro, fraco, dependente, aumenta o próprio ciúme e a inveja, 
causando sofrimento e dor psíquica. Friday (op.cit., p.35) completa: “... a posição 
inferior conduz a pessoa à eventualidade de se sentir ameaçada por um rival 
imaginário ou real”. Albisetti (op.cit.), Friday (op.cit.) e Nogueira (op.cit.), também, 
concordam com a idéia de Lachaud (op.cit.) a respeito da ligação do ciúme 
com a inveja, quando discutem que a inveja conduz ao ciúme: se a pessoa 
reconhece sentir inveja, comparando-se com outra pessoa, ela também está 
reconhecendo sua inferioridade em relação a essa pessoa (rival) e, assim, 
descobre-se em carência de algo, sabe de sua limitação, deseja ter o que o 
outro tem, para si, podendo, com isso, manifestar um comportamento agressivo 
contra a outra pessoa ou contra ele próprio. 
O invejoso quer destruir a felicidade dos outros, pelo seu ressentimento; 
ele é dissimulado, hostil, cruel, odeia aqueles que o fazem sentir a sua própria 
inferioridade; assim, muitas vezes, as pessoas nem têm consciência de que a 
inveja é prejudicial ao próprio invejoso, pois o impede de ver as próprias 
qualidades, por estarem ofuscadas pelas qualidades dos outros (EPSTEIN, 
2004). 
Gikovate (op.cit.), também, nota que a pessoa enciumada exerce um 
controle sobre o parceiro, frente situações ameaçadoras, tentando dificultar o 
surgimento de todas as circunstâncias nas quais o amado possa cruzar com 
alguém que lhe pareça interessante, pois teme perder o parceiro, conseqüência 
de sua fraqueza pessoal em lidar com frustrações. Assim, o ciumento limita os 
direitos e a liberdade individual do parceiro, alegando ser em nome do amor. A 
posição deste estudioso compatibiliza-se com a de outros anteriores, como 
Lachaud (op.cit.) e Albisetti (op.cit.), que consideram que a pessoa ciumenta 
teme que seu objeto de amor seja atraído por um outro; a pessoa sente raiva 
 
38
porque inveja as qualidades que o companheiro vê na outra pessoa; o 
ciumento vive sob a terrível ameaça permanente de uma despossessão. No 
campo da rivalidade, o sujeito experimenta um sentimento de ciúme, de 
despeito, por não ter o que o outro (rival) possui, pois, como explicita o excerto 
a seguir: 
 
“Todos os homens e todas as mulheres, consciente ou 
inconscientemente, temem a presença de alguém que seria 
mais satisfatório para o seu parceiro sexual; este terceiro 
temido é a origem da insegurança emocional na intimidade 
sexual e do ciúme como um sinal de alarme protegendo a 
integridade do casal” (KENBERG, 1995, p.85). 
 
 É interessante notar, ainda, que as crises de ciúme podem se agravar 
em casais com grandes diferenças de idade, de beleza física, de projeção 
social, de situação econômica, entre outros atributos, tornando-se mais comum 
o surgimento da desconfiança, do medo, da insegurança por parte do parceiro 
em desvantagem nas características citadas (SANTOS, op.cit.). 
 Gikovate (op.cit.) aponta outro fator desencadeante, de natureza mais 
complexa; afirma que o ciúme, também, pode ter relação com o risco de que o 
parceiro possa estar envolvido, sentimentalmente, com outra pessoa, podendo 
ser, para algumas pessoas, uma ameaça mais grave à estabilidade do vínculo 
amoroso e ao futuro do relacionamento. Dependendo do caso, a pessoa 
enciumada sente-se ainda mais magoada e humilhada pelo parceiro, do que se 
estivesse diante de uma traição física, sexual; neste caso, pode sentir mais 
raiva dele (que devia lealdade) do que da rival. 
 Outro fator que pode desencadear o ciúme é o chamado “cyberciúme, 
originário da enorme janela que a internet abriu para novos encontros” (PASINI apud 
SALOMONE, 2006, p.145). Para uma pessoa ciumenta, que é atormentada pela 
ameaça da perda do parceiro e que vive buscando provas (reais ou 
imaginárias) da possível infidelidade do seu companheiro, flagrá-lo teclando na 
Internet, numa sala de bate-papo (chat), trocando mensagens com uma 
desconhecida é o bastante para a pessoa suspeitar e com isso, desencadear 
 
39
discussões e brigas. Seria mais um motivo para desconfianças e intermináveis 
cobranças e questionamentos. Pasini (id., ibid., p.145) completa: “Se antes a 
conquista era feita com um buquê de flores, agora pode ser simplesmente com uma 
troca de mensagens”. 
Diante do exposto, é possível corroborar a idéia de que “a multiplicidade 
das variações do ciúme mostra também a complexidade desse sentimento em função 
dos ideais sociais que interferemem sua manifestação em diferentes contextos” 
(ARREGUY, op.cit., p.128). Sobre esse aspecto, Gikovate (op.cit.), acrescenta 
que diante dos componentes envolvidos no ciúme, nos relacionamentos 
amorosos, as manifestações ciumentas derivam das vivências e histórias 
pessoais, de cada pessoa, variando em cada cultura e época, em cada mente 
e em cada contexto. 
 
2.3. Sobre o ciúme patológico 
 
Retomando a posição de Torres; Ramos-Cerqueira; Dias (op.cit.,), 
referido na parte inicial deste capítulo, que consideram o ciúme “uma emoção 
humana extremamente comum, senão universal, podendo ser difícil a distinção entre 
ciúme ‘normal’ e ‘patológico’”, as variações supra-referidas são múltiplas e 
variadas; e suas manifestações, de extremo a extremo, podem ir das 
“ceninhas” e “broncas” cotidianas a violências extremas, entre estas o 
homicídio. Através dos tempos, este quadro se fez presentes nas crônicas 
policiais, na literatura, na música, no cinema e em novelas na TV. 
A literatura científica sobre o assunto permite discriminar dois tipos de 
ciúme: o normal e o patológico. E, para Goldberg (op.cit.), a linha que separa o 
ciúme normal do patológico é muito tênue: “a vontade de proteger se transforma 
facilmente em possessividade; o cuidado, em controle; o interesse, em obsessão” ( 
p.19). 
Cavalcante (op.cit., p.24) assim caracteriza o ciúme patológico: 
 
“... uma perturbação total, um transtorno afetivo grave. O 
ciumento sofre em seu amor: em sua confiança, em sua 
tranqüilidade, em seu amor próprio, em seu espírito de 
dominação e em seu espírito de posse. O ciúme corrói-lhe o 
 
40
sentimento em sua base e destrói, com uma raiva furiosa, 
suas próprias raízes. Propicia a invasão da dúvida que 
perturba a alma, fazendo com que ame e odeie ao mesmo 
tempo, a pessoa objeto de sua afeição. O maior sofrimento do 
ciumento é a incerteza em que vive, pela impossibilidade de 
saber, com segurança, se o parceiro o engana ou não”. 
 
O mesmo autor explica, ainda, que o ciúme patológico é um transtorno 
afetivo grave, que corrói e destrói o relacionamento e os sentimentos; é uma 
perturbação na qual o indivíduo sente-se, constantemente, ameaçado. Nesses 
casos, muitas vezes a relação é baseada na posse; conseqüentemente, isto 
bloqueia, não faz crescer o amor. O relacionamento torna-se muito angustiante, 
tenso, carregado de uma intensa carga emocional negativa. Corroborando a 
posição de Cavalcante, Gikovate (op.cit.) afirma que é imprevisível deduzir a 
intensidade das emoções mobilizadas e as reações que poderão ser 
desencadeadas, frente a uma crise de ciúme. 
No processo de ciúme patológico, várias emoções, pensamentos 
irracionais e perturbadores, dúvidas e ruminações sobre provas inconclusivas, 
idéias obsessivas, prevalentes ou delirantes sobre infidelidade, busca 
incessante de evidências que confirmem ou afastem a suspeita, além de 
comportamentos inaceitáveis ou bizarros, são experimentados pelo indivíduo 
que sofre do problema. A perturbação se manifesta através de sentimentos 
como ansiedade, culpa, raiva, sentimento de inferioridade, depressão, imagens 
intrusivas, remorso, humilhação, insegurança, vergonha, rejeição, rituais de 
verificação, desejo de vingança, angústia, possessividade, baixa auto-estima, 
muito medo de perder o parceiro para um rival, desconfiança excessiva e 
infundada, gerando significativo prejuízo no funcionamento pessoal e 
interpessoal de quem sofre desse mal (TORRES; RAMOS-CERQUEIRA; DIAS, 
op.cit.; BOTTURA JUNIOR, op.cit.; CAVALCANTE, op.cit.; GIKOVATE, op.cit.). 
O ciúme, com todas as emoções e sentimentos, bem como as reações 
decorrentes da confusão de vários estados afetivos simultâneos, não fica 
restrito ao presente do parceiro do ciumento: 
 
 
41
“... pode se dirigir ao passado da mulher e, no caso, o 
homem fica remoendo acontecimentos sobre os quais não tem 
o menor controle, por serem passados. De maneira geral, 
nenhuma explicação racional consegue acalmar um ciúme 
patológico, pois se trata de uma recusa da realidade” 
(HIRIGOYEN, op.cit., p.34). 
 
Essa atitude de investigação do passado do parceiro não é exclusiva do 
homem; também, a mulher pode manifestar uma curiosidade mórbida em saber 
quem foi a primeira, se a amou, se era bonita, como era a relação sexual, entre 
outras coisas. 
Face ao apresentado até aqui, com apoio na literatura consultada e já 
tendo me apropriado de algumas conceituações pertinentes ao tema, permito-
me afirmar que a pessoa acometida pelo ciúme doentio é irracional, fantasiosa; 
controla, suspeita, desconfia do parceiro; reduz ao mínimo a liberdade do 
mesmo, podendo explodir em crises de violência, devido à sua insegurança, 
ansiedade e estados paranóicos; sofre com a idéia de que pode estar sendo 
traída. 
Anteriormente, uma referência a Hirigoyen (op.cit.) ressalta que as 
pessoas ciumentas com personalidades paranóicas suspeitam, 
permanentemente, que seus parceiros escondem coisas, que têm planos hostis 
contra elas; põem em dúvida, sem qualquer justificativa, a fidelidade do 
parceiro, controlam o espaço e o tempo do mesmo; questionam, acusam, 
inspecionam sua aparência, enfim, não têm a mínima confiança nele. E a 
autora completa: 
 
“O risco de passagem do pensamento ao ato é máximo 
quando a mulher tenta ir embora, quando não tem mais medo 
do companheiro e decide enfrentá-lo. Ele deixa, então, de 
fazer julgamentos e resolve fazer justiça com as próprias 
mãos. Segundo um estudo norte-americano de Crawford e 
Gartner, datado de 1992, 45% dos assassinatos de mulheres 
 
42
foram provocados pela fúria do homem que se julgou 
abandonado pela parceira” (Id.,ibid., p.165,166). 
 
Hirigoyen acrescenta que indivíduos com personalidades paranóicas 
vivem sua raiva e ciúme de forma inflexível e destruidora; eles dificilmente são 
acessíveis a um tratamento, pois estão convencidos de que o problema vem do 
outro e que têm toda razão em agir violentamente contra seus parceiros. Suas 
crises de ciúme podem levar a homicídios, podendo ser seguidas de suicídio. 
O ciúme pode se manifestar de um modo mais intensificado, algo 
patológico, quando o ciúme recalcado retorna acumulado deixando, assim, a 
pessoa totalmente dominada por esse afeto, podendo se expressar como 
ciúme projetivo e delirante (ARREGUY, op.cit.). 
Para Lachaud, “no ciúme patológico, o objeto permanece no registro da 
necessidade e sua ausência não garante mais a autoconservação” (op.cit., p.36). O 
indivíduo quer possuir, ter o outro todo para si, derivado do grau de 
insegurança sobre o qual se fundamenta a personalidade individual, do 
sentimento de inferioridade, da falta de confiança em si, da incapacidade de 
uma autonomia própria: “Ser ciumento é ser ciumento do TODO. O ciúme é 
reivindicação do TODO. É investir, de modo imaginário, uma posição suposta TODA” 
(Id.,ibid., p.81). 
Por ter um quadro com nítidas semelhanças em relação ao transtorno 
paranóide, o ciúme doentio ou patológico, 
 
“... que já foi chamado de ‘paranóia conjugal’, se compõe de 
ruminações infindáveis a respeito da parceira. O homem é de 
tal forma dependente da sua companheira que, sentindo-se 
abandonado porque ela lhe escapa simplesmente por ser ela 
mesma, prefere matá-la a ver essa alteridade. É evidente que 
não pode mais viver depois disso, pois ela não está mais ali, e 
ele cairá num estado de depressão profunda ou poderá até 
acabar se suicidando” (HIRIGOYEN, op.cit., p.59, 60). 
 
 
 
43
 Entretanto, isto não é exclusividade masculina; também, pode ocorrer o 
inverso: a pessoa atormentada pelo ciúme ser uma mulher e agir contra seu 
parceiro. 
Alguns autores sugerem, por exemplo, que o ciúme patológico pode ser 
sintoma de um quadro obsessivo-compulsivo, no qual pensamentos de ciúme 
podem ser vivenciados como excessivos, irracionais ou intrusivos; podem levar 
a comportamentos compulsivos, como os de verificação (por exemplo,questionamentos, telefonemas, visitas-surpresa, vasculhar bolsos, bolsas, 
celulares, agendas, ouvir telefonemas, seguir o cônjuge, abrir 
correspondências, entre outros), caracterizados por dúvidas e ruminações 
sobre provas inconclusivas, na busca incessante de evidências que confirmem 
ou afastem a suspeita (TORRES; RAMOS-CERQUEIRA; DIAS, op.cit.). 
Do ponto de vista psiquiátrico, há diferentes tipos de ciúme patológico, 
que se caracterizam em transtornos, como: psicoses delirantes crônicas; 
delírios paranóicos sistematizados (paranóia); psicoses alucinatórias crônicas; 
parafrenias; esquizofrenia; esquizofrenia paranóide; alcoolismo; embriaguez 
patológica; alucinoses alcoólicas, toxicomania; psicopatia (CAVALCANTE, 
op.cit.). 
Lachaud (op.cit., p.34-36) lembra que Freud distingue três camadas de 
ciúme, anormalmente reforçado, com as quais a análise lida: 1) o “ciúme 
concorrencial ou normal” que Freud considera normal e que é a “dor ressentida 
de saber ou de crer que o objeto de amor está perdido”; sempre está 
relacionado ao sexual e implica a existência de um terceiro; 2) o “ciúme 
projetado”, que põe em jogo um processo inconsciente de projeção de um 
desejo de traição recalcado; e 3) o “ciúme delirante”, em que “o desejo de 
infidelidade está voltado para um parceiro do mesmo sexo que o sujeito”. O 
ciúme projetado e o ciúme delirante, implicam, portanto, o narcisismo e a 
homossexualidade, respectivamente, “traços reforçados, paradoxalmente, no 
ciúme dito ‘normal’, por Freud”. 
A mesma autora, comparando o ciúme normal com o delirante, chega 
aos seus traços distintivos ou peculiares a cada tipo, apesar de, em ambos os 
casos, existirem características comuns. Ela esclarece: 
 
44
 
“O ciúme é considerado um delírio, na medida em que ele 
instala um terceiro que tem estatuto de real; um elemento que 
vem necessariamente irromper na representação de um rival, 
causa de todos os males. (...) O ciumento acumula sinais 
como se acumulasse provas materiais contra o outro. Para o 
delirante, não há prova de defesa; tudo conspira para acusar o 
outro. Ao passo que, no ciúme dito ‘normal’, o que o ciumento 
busca é a confissão. Cabelos, marcas, cheiros, barulho, são 
testemunhas mudas, logo, irrefutáveis. Tudo sinaliza para 
designar o culpado. E o culpado é o outro. Ele está me traindo. 
E às vezes alguém próximo, qualquer um, todo mundo. O 
acento mais delirante estando contido nesta certeza: ‘todos o 
querem’. Certeza de que o outro é o objeto de uma cobiça 
universal” (Id.,ibid., p.102, 103). 
 
Segundo Arreguy (op.cit.), a ameaça de separação e perda do par 
indica, no parceiro ciumento, uma ruptura na própria estrutura do eu, havendo 
um temor iminente dessa perda. Os aspectos patológicos do ciúme são, então, 
ancorados numa agressividade exacerbada e/ou na prevalência da pulsão de 
morte que podem tanto se dirigir para o próprio sujeito ciumento quanto para o 
rival e/ou o objeto de amor. Há um desejo de vingança e necessidade de 
destruição do outro que surgiu como intruso, para atrapalhar o relacionamento 
amoroso. A autora afirma que, corroborando essa idéia, outros autores que 
abordam o ciúme, concordam que a agressividade do ciumento pode seguir 
diferentes focos: o desejo de destruição do rival, o desejo de destruição do 
objeto traidor, ou a destruição de si mesmo, para se livrar do próprio sofrimento 
ou se autopunir; podendo resultar nos assassinatos e/ou suicídios dos 
envolvidos. Assim sendo, “matar o cônjuge ciumento pode ser um ato impulsivo, 
realizado sobre um fundo de repetidas violências e de ciúme” (HIRIGOYEN, op.cit., 
p.59). 
Racamier discute a existência de uma “marca depressiva do ciúme, 
relacionando essa marca à tendência passiva do sujeito perante o outro e à queda 
brutal ou progressiva da estima de si” (apud ARREGUY, op.cit., p.58). Segundo esse 
 
45
autor, o ciúme depressivo pode advir por uma falha na estruturação narcisista, 
resultado de uma fixação na dor da perda fundada na ferida narcísica, 
ocasionando baixa auto-estima, sofrimento da perda do objeto, e conseqüente 
perda da capacidade de obter prazer, da sua razão de viver e de seu valor 
pessoal. O indivíduo acaba se submetendo a esses sentimentos, parecendo 
conformar-se com a traição do objeto amado, considerando inevitável que o 
parceiro amoroso possua um outro; sente-se indigno de receber um amor 
exclusivo, abrindo mão, assim, da competição com o rival, colocando-se, já, na 
posição de perdedor, de inferior, não buscando solucionar esse problema. A 
infidelidade (real ou imaginária) do parceiro é vivida num sentimento passivo, 
em que o indivíduo desiste da disputa, porém, mesclado ao ódio. E Racamier 
completa, afirmando: 
 
“O eu se julga culpado pela traição e pela perda do objeto 
amado, na medida em que uma intensa desvalorização de si 
imprime ao eu a responsabilidade pelo desinteresse do outro. 
Desse modo, o ódio e a desvalorização de si mesmo tornam o 
sujeito impotente para o amor. (...) ocorre um movimento de 
autodestruição do ciumento depressivo. Assim, a regressão 
nele se dá sob a marca da pulsão de morte veiculada por um 
supereu sádico concomitante a um narcisismo estruturalmente 
falho. O auge de uma manifestação pautada nesses 
parâmetros seria o suicídio por ciúme” (op.cit. p.62, 65). 
 
 Arreguy (op.cit.) refere-se, também, ao ciúme perverso, em que o 
indivíduo ciumento se considera onipotentemente perfeito, em decorrência do 
excessivo investimento narcísico e idealizado dos pais na infância; só aceita o 
papel de ganhador na competição amorosa; usa o outro como um objeto para o 
seu gozo, e se for frustrado pelo parceiro e vier a sentir ciúme, destrói o outro, 
anula-o; o outro é visto, apenas, como objeto de uso, vinculado aos seus 
desejos. Ele apenas age, o que pode dar origem ao crime passional, pois se 
nega a enfrentar a ruptura desse ideal de onipotência, construído na infância. 
Então, 
 
46
 
“... mantém relações supostamente sem ciúme, onde não há 
uma exigência de fidelidade e exclusividade; assim, ao invés 
de enfrentar as dificuldades do relacionamento, da diferença, 
da possibilidade constante do aparecimento de um rival, o 
sujeito apenas troca sucessivamente de objeto de amor, 
mantém relacionamentos com mais de um parceiro, ou ainda, 
liga-se sempre a parceiros sabidamente infiéis. Contudo, é 
possível ocorrer uma irrupção do ciúme nesse tipo de 
relacionamento, quando, então, o ciúme pode aparecer de 
forma primitiva e violenta, uma vez que esses sujeitos não 
admitem interdição alguma para seu gozo. Nesse caso, o 
ciumento perverso destrói o rival e/ou o próprio objeto de 
amor, possivelmente como protagonista de crimes passionais” 
(ARREGUY, op.cit., p.72). 
 
 A mesma autora afirma, ainda, que tanto o ciúme depressivo como o 
perverso são oscilantes, podendo se manifestar num mesmo indivíduo, em 
diferentes momentos e com diferentes intensidades (Id.,ibid.). 
 Pelo que me foi dado a perceber, investigando as características 
peculiares do ciúme patológico, me permito afirmar que o ciúme, nesse grau, 
foge a qualquer critério de normalidade; é, realmente, pelas suas 
manifestações e conseqüências, geralmente, drásticas, um transtorno afetivo 
grave, devendo ser encarado e tratado como tal. Mesmo com a capacidade de 
dissimulação de um artista e das diferentes estratégias utilizadas para 
escondê-lo, a revolução afetiva interna está acontecendo e a explosão – 
agressiva e violenta – pode ocorrer, em qualquer momento. 
 
2.4. O papel do ciúme no relacionamento amoroso 
 
Por mais que se fale contra o ciúme e se lhe atribua causas que 
desqualifiquem quem o vivencia – insegurança, baixa auto-estima, sentimento 
de inferioridade etc. – esse sentimento, se existe na experiência amorosa, deve 
ter um papel. 
 
47
Conceituar o papel do ciúme no relacionamento amoroso, o quarto 
objetivo específico desta pesquisa, foi

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