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CIÊNCIAS NEUROLÓGICAS E NEUROCIÊNCIAS COGNITIVAS Caro(a) aluno(a), A Universidade Candido Mendes (UCAM), tem o interesse contínuo em proporcionar um ensino de qualidade, com estratégias de acesso aos saberes que conduzem ao conhecimento. Todos os projetos são fortemente comprometidos com o progresso educacional para o desempenho do aluno-profissional permissivo à busca do crescimento intelectual. Através do conhecimento, homens e mulheres se comunicam, têm acesso à informação, expressam opiniões, constroem visão de mundo, produzem cultura, é desejo desta Instituição, garantir a todos os alunos, o direito às informações necessárias para o exercício de suas variadas funções. Expressamos nossa satisfação em apresentar o seu novo material de estudo, totalmente reformulado e empenhado na facilitação de um construto melhor para os respaldos teóricos e práticos exigidos ao longo do curso. Dispensem tempo específico para a leitura deste material, produzido com muita dedicação pelos Doutores, Mestres e Especialistas que compõem a equipe docente da Universidade Candido Mendes (UCAM). Leia com atenção os conteúdos aqui abordados, pois eles nortearão o princípio de suas ideias, que se iniciam com um intenso processo de reflexão, análise e síntese dos saberes. Desejamos sucesso nesta caminhada e esperamos, mais uma vez, alcançar o equilíbrio e contribuição profícua no processo de conhecimento de todos! Atenciosamente, Setor Pedagógico Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 3 SUMÁRIO INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS ACERCA DAS CIÊNCIAS NEUROLÓGICAS E NEUROCIÊNCIAS COGNITIVAS ................................................................................................5 A NEUROCIÊNCIA E A FILOGÊNESE DO SISTEMA NERVOSO ........................................12 QUESTÕES EPISTEMOLÓGICAS DAS NEUROCIÊNCIAS COGNITIVAS .........................19 INTRODUÇÃO .........................................................................................................................19 OS PARADIGMAS COMPUTACIONAL E DINAMICISTA ................................................20 INTERAÇÕES CÉREBRO, CORPO E AMBIENTE ...............................................................22 UMA COMPUTAÇÃO PRAGMÁTICA? ................................................................................24 ATIVIDADE CEREBRAL E ATIVIDADE MENTAL ............................................................25 COMENTÁRIOS FINAIS .........................................................................................................27 A NEUROCIÊNCIA E AS BASES ESTRUTURAIS DO SISTEMA NERVOSO .....................28 AS MENINGES .........................................................................................................................36 A MEDULA ESPINHAL ..........................................................................................................36 O TECIDO NERVOSO .............................................................................................................38 OS HEMISFÉRIOS CEREBRAIS ............................................................................................40 O DIENCÉFALO (TÁLAMO E HIPOTÁLAMO) ..................................................................40 O TRONCO ENCEFÁLICO .....................................................................................................41 O CEREBELO ...........................................................................................................................42 OS NEURÔNIOS, SUA ESTRUTURA E SUAS FUNÇÕES......................................................45 A CLASSIFICAÇÃO DOS NEURÔNIOS ...............................................................................49 AS SINAPSES ...........................................................................................................................51 A DIVISÃO, ESPECIALIZAÇÃO, FUNÇÃO DOS HEMISFÉRIOS E CARACTERÍSTICAS DE CADA HEMISFÉRIO CEREBRAL .......................................................................................54 AS CARACTERÍSTICAS DE CADA HEMISFÉRIO .............................................................56 O SISTEMA NERVOSO CENTRAL, SUA PLASTICIDADE E A MEMÓRIA ........................58 A MEMÓRIA, O PROCESSO DE MEMORIZAÇÃO E A Perda de Memória .......................63 MEMÓRIA DE LONGO PRAZO OU DE LONGA DURAÇÃO ............................................65 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 4 MEMÓRIA DE CURTO PRAZO OU DE CURTA DURAÇÃO .............................................65 PERDA DE MEMÓRIA .........................................................................................................66 DÉFICIT DE MEMÓRIA ......................................................................................................67 INTELIGÊNCIA FLUIDA: DEFINIÇÃO FATORIAL, COGNITIVA E NEUROPSICOLÓGICA ...............................................................................................................71 PSICOMETRIA E INTELIGÊNCIA FLUIDA .........................................................................72 PSICOLOGIA COGNITIVA E INTELIGÊNCIA FLUIDA ....................................................76 ESTUDOS INICIAIS DOS COMPONENTES COGNITIVOS DO RACIOCÍNIO ANALÓGICO .........................................................................................................................77 OS COMPONENTES DE PROCESSAMENTO COGNITIVOS PARA PROBLEMAS EM MATRIZES .............................................................................................................................81 INTELIGÊNCIA FLUIDA E MEMÓRIA DE TRABALHO: OS ESTUDOS DA NEUROCIÊNCIA COGNITIVA E NEUROPSICOLOGIA ....................................................85 A MEMÓRIA DE TRABALHO ..............................................................................................85 O EXECUTIVO CENTRAL E A INTELIGÊNCIA FLUIDA ..................................................88 AS RELAÇÕES ENTRE INTELIGÊNCIA FLUIDA, EXECUTIVO CENTRAL E AS TAREFAS DE RACIOCÍNIO ANALÓGICO .........................................................................93 EVIDÊNCIAS DA NEUROCIÊNCIA E DA NEUROPSICOLOGIA .....................................96 CONCLUSÃO ...........................................................................................................................97 A IMPORTÂNCIA DA NEUROCIÊNCIA NA EDUCAÇÃO ....................................................99 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................104 REFERÊNCIAS BÁSICAS .....................................................................................................104 REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES ................................................................................104 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 5 INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS ACERCA DAS CIÊNCIAS NEUROLÓGICAS E NEUROCIÊNCIAS COGNITIVAS Vive-se um momento de muitas mudanças no panorama educacional. Experimentam-se, no processo formativo educacional, certos conceitos como construtivismo, sóciointeracionismo, psicogênese, ressignificacão da educação, legitimação do ensino e epistemologia, porém, em certas situações, as ações pedagógicas fogem desse contexto. Atualmente, a pluralidade de situações com que nos deparamos nas Instituições de Ensino evidencia a importância de ações coerentes com a diversidade de necessidades dos estudantes. O cenário do ensino brasileiro, na contemporaneidade, mostra outra realidade quando se volta o olhar ao ensinodo corpo humano, na nona série da Educação Básica, em especial, ao cérebro. Os conteúdos são repassados mecanicamente, com pouca profundidade, dentro de visões restritas, estáveis, condicionadas a práticas escolares que se vale de repetições constantes, cansativas e sem criatividade. Portanto, conhecer os diferentes espaços cerebrais e a Neurociência como um “todo” é fundamental para compreender o processo de aprender e até mesmo, fazer relações com outros conteúdos e com o cotidiano das pessoas. Nesse sentido e, ao realizarmos essa pesquisa pudemos constatar o quanto os fundamentos da Neurociência são ainda desconhecidos dos professores e distanciados da Educação. Tal percepção direcionou nossos estudos, abrindo novos caminhos, e aos poucos, passo-a-passo, fomos construindo um texto capaz de orientar educadores na utilização do conhecimento das Neurociências e apresentar o estudo do cérebro como um dos elementos essenciais para a efetivação desse diálogo no processo de ensino-aprendizagem. Tal preocupação, a construção de um texto esclarecedor, adveio da vontade de ajudar o educador a conhecer de forma mais dinâmica o funcionamento do cérebro e o avanço da Neurociência no século XXI, e a partir daí, fazer as mudanças necessárias, como uma possibilidade de evolução e crescimento. Logo, analisar e compreender a dimensão do cérebro e da Neurociência são elementos fundamentais e norteadores ao processo de ensino-aprendizagem, visando contribuir e ressignificar a formação de professores. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 6 Pensando nisso, buscamos ao longo desse estudo elementos reflexivos, críticos e práticos que salientam o assunto de forma mais prazerosa, como também, a preocupação em reconstruir concepções e procedimentos metodológicos para ressignificar estes elementos a partir de esforços e mudança de percepções nos campos do ensino e da aprendizagem. Durante muito tempo, ao longo da História, o entendimento do cérebro tem se tornado um desafio em diferentes momentos da sociedade e ao tipo de tratamento que estamos dando para as nossas práticas em sala de aula. A aprendizagem não é uma simples conquista de conteúdos. Entender como este processo acontece tornou-se um desafio para os educadores. Para que ela se concretize é preciso agregar novas informações à nossa memória e, ao mesmo tempo, interligá-la a práticas diferenciadas em sala de aula para que, posteriormente, dêem as respostas mais adequadas. Para dar sustentabilidade a esses múltiplos olhares, fez-se necessário pensar numa sociedade que está cada vez mais marcada pela diversidade de informações e culturas, internalizar o diálogo com o cérebro e suas múltiplas funções, interagir com as diversas dimensões, legitimando significados e conhecimentos diversos. Antes de analisar o sentido da aprendizagem cerebral e atribuir-lhe, consequentemente, determinadas funções para sua atuação, é importante alertar que, atualmente, nossa curiosidade deverá ir além do que veremos. Desse modo, muitos caminhos se abrem em nossa direção e muitas perguntas poderão ficar sem respostas, visto que muitos enigmas do cérebro e seu funcionamento permanecem, constantemente, estimulando a curiosidade dos Neurocientistas. Nesse sentido, pode-se repensar a educação das novas gerações, legitimando ao educador ações mais significativas, autônomas e eficientes já que, o mesmo, atua nas transformações neurobiológicas que produzem aprendizagem, mas desconhece como o cérebro funciona. Atualmente, no Brasil, a educação ainda não faz uso do conhecimento disponível sobre o funcionamento do sistema nervoso para orientação de sua prática. Por isso, pretendemos orientar educadores na utilização do conhecimento das Neurociências no ensino, visando desenvolvimento de práticas promotoras da aprendizagem, pois, todos os processos biológicos pelos quais os seres humanos se movem, pensam, percebem, aprendem, lembram, etc., são reflexões das funções cerebrais. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 7 Daí, a pluralidade de situações com que nos deparamos nas Instituições de Ensino demonstra a elevada complexidade em um currículo coerente com a diversidade de necessidades dos estudantes. Pensando nessa complexidade, nas questões inovadoras, nos recursos oferecidos e na prática dos professores buscaram-se alguns critérios importantes para assegurar essa diversidade no ambiente escolar. Um desses critérios baseou-se na própria evolução que a globalização oferece ao universo de conhecimentos, já que diariamente, nossos estudantes comparam filmes e reportagens que surgem na televisão e nos jornais com as repetitivas lições de escola (DOWBOR, 2011, p.12). Assim, podemos afirmar que, atualmente a Neurociência é uma das áreas que mais avançou, em termos de indagação e investigação, nos últimos tempos. Quando pensamos no tema, a primeira impressão que temos é de algo difícil, incompreensível, afinal falar a respeito do cérebro parece coisa do outro mundo ou, assunto específico para médicos. Entretanto, ao buscarem-se elementos que fizesse um diálogo com a Neurociência e o Ensino-aprendizagem, percebeu-se que isso é possível e que o ambiente escoar é propício para esse diálogo, afinal, grande parte dos saberes iniciou-se dentro da escola. Percebeu-se, ao longo do caminho, que a Neurociência lida com os mecanismos biológicos, as estruturas cerebrais, as doenças mentais, a cognição, o sistema nervoso, as emoções. Conhecer seus encantos requer desmistificar conceitos e linguagens e adentrar numa direção com desafios no universo do aprender. Conhecer o funcionamento cerebral é conhecer como o conhecimento humano vem a se organizar, e, portanto, torna-se tarefa respeitável ao redimensionamento do ser humano. Em sendo e, para iniciar nossa trajetória, buscamos conceituar a Neurologia e encontramos que ela é a especialidade da Medicina que estuda as doenças estruturais do Sistema Nervoso Central (composto pelo encéfalo e pela medula espinhal) e do Sistema Nervoso Periférico (composto pelos nervos e músculos), bem como de seus envoltórios (que são as meninges). Doença estrutural significa que há uma lesão identificável em três níveis: 1. Genético-molecular (mutação do material genético DNA); 2. Bioquímico (alteração de uma proteína ou enzima responsável pelas reações químicas que mantêm as funções dos tecidos, órgãos ou sistemas); ou, Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 8 3. Tecidual (alteração da natureza histológica ou morfológica própria de cada tecido, órgão ou sistema). Em outras palavras, existe uma alteração neuroanatômica ou neurofisiológica que produz manifestações clínicas, as quais devem ser interpretadas, portanto, a base do raciocínio da Neurologia Clínica é exatamente o exercício de associação dos sintomas e sinais neurológicos apresentados pelo paciente (diagnóstico sindrômico) com o tipo de função alterada e com a estrutura anatômica a ela associada (diagnóstico anatômico ou topográfico) (REED, 2004). Dentre as doenças tratadas pela Neurologia temos: Dores de cabeça (cefaleia); Epilepsia; Distúrbio do sono; Mielopatias; Neuropatias; Doenças vasculares encefálicas; Doenças neuro-degenerativas; Neuro-infecções (meningite, por exemplo). A Neurologia de maneira geral e as neurociências novas em muito podem contribuir para o avanço da inclusão social. Abaixo temos algumas definições importantes para compreendermos, ao longo do curso, o desenvolvimento cognitivo do ser humano: a) Neurociência tratado desenvolvimento químico, estrutural e funcional, patológico do sistema nervoso. As pesquisas científicas começaram no início do século XIX. Nessa ocasião, os fisiologistas Fristsch e Hitzig relataram que a estimulação elétrica de áreas específicas do córtex cerebral de um animal evocava movimentos, e os médicos Broca e Wernicke confirmaram, separadamente, por necropsia, danos cerebrais localizados em pessoas que tiveram déficits de linguagem após algum acidente. Em 1890, Cajal, neuroanatomista1, estabeleceu que cada célula nervosa é única, distinta e individual. O cientista Sherrington, estudando reações, relatou que as células nervosas (neurônios) respondem a estímulos e são conectadas por sinapses. 1 Os neuroanatomistas estudam a estrutura do sistema nervoso, em nível microscópico e macroscópico, dissecando o cérebro, a coluna vertebral e os nervos periféricos fora dessa estrutura. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 9 Em 1970, desenvolveram-se novas técnicas e produção de imagens, produzindo com clareza o encéfalo e a medula espinhal em vida, fornecendo informações fisiológicas e patológicas nunca antes disponíveis. Dentre as técnicas, existem a tomografia computadorizada axial (TCA), a tomografia por emissão de pósitrons (PCT) e a ressonância magnética (RM). b) Neurociência molecular investiga a química e a física envolvida na função neural. Estuda os íons e suas trocas necessárias para que uma célula nervosa conduza informações de uma parte do sistema nervoso para a outra. Reduzindo ao nível mais fundamental, a sensação, o movimento, a compreensão, o planejamento, o relacionamento, a fala e muitas outras funções humanas que dependem de alterações químicas e físicas. c) Neurociência celular considera as distinções entre os tipos de células no sistema nervoso e como funciona cada tipo respectivamente. As investigações com os neurônios recebem e transmitem informações, e os papéis das células não neurais do sistema nervoso são questões ao nível celular. d) Neurociência de sistemas tem a finalidade de investigar grupos de neurônios que executam uma função comum, por meio de circuitos e conexões. Como exemplo, têm- se posição e movimento do sistema musculoesquelético para o SNC, e o sistema motor, que controla os movimentos. e) Neurociência comportamental estuda a interação entre os sistemas que influenciam o comportamento, o controle postural, a influência relativa de sensações visuais, vestibulares e proprioceptivas no equilíbrio em diferentes condições. f) Neurociência cognitiva atua nos estudos do pensamento, da aprendizagem, da memória, do planejamento, do uso da linguagem e das diferenças entre memória para eventos específicos e para a execução de habilidades motoras. g) A neurofisiologia estuda as funções do sistema nervoso, utilizando eletrodos para estimular e gravar a reação das células nervosas ou de áreas maiores do cérebro. Muitas vezes o neurofisiologista separa as conexões nervosas para avaliar seus resultados. h) A neuropsicologia estuda as relações entre as funções neurais e psicológicas. Para estes especialistas a pergunta chave é: qual área específica do cérebro controla ou media as funções psicológicas? Utilizam como método o estudo do comportamento ou mudanças cognitivas que acompanham lesões em partes específicas do cérebro. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 10 De acordo com os estudos das neurociências, os processos de aprendizagem modelam o cérebro através das sinapses produzidas nos/pelos neurônios como será visto adiante. Eles dissolvem conexões pouco utilizadas ou fortalecem as ativas de uso frequente. [...] Até idade avançada, sinapses serão fortalecidas ou enfraquecidas por novos estímulos, experiências, pensamentos e ações, o que [...] possibilita aprender durante toda a vida (FRIEDRICH; PREISS, 2006, p. 52-53). Sendo assim, ensinar é estimular a produção de sinapses, tornar possíveis estímulos intelectuais que acionem o cérebro e favoreçam a aprendizagem. Dessa forma, para compreender o cérebro, é preciso ampliar nossos conhecimentos e apreciar o tipo de operações que ele realiza e os seus desempenhos, pois, a educação fundamenta-se no desenvolvimento destas capacidades. É preciso, ainda, abandonar o tédio, o vazio e a incerteza e buscar cada vez mais conhecimentos nessa área complexa, intrigante e moderna nos vastos campos da Ciência. De certo modo, a aprendizagem acontece num processo individual, porque cada cérebro estabelece redes específicas de acordo com os estímulos do ambiente imediato e a experiência e história única de cada indivíduo. Deste modo, este estudo toma o direcionamento da abordagem da neurofisiologia e da neuroanatomia de forma mais intensa, porém, não se deixou em associar algumas etapas a níveis comportamentais, uma vez que o ser humano precisa do equilíbrio das forças que atuam no seu sentir, querer e pensar. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 11 Cabe salientar que todas essas funções relacionam-se de forma direta com o aprendizado do ser humano por aspectos comportamentais, interferindo nas forças do pensar, sentir e querer. O Ensino tem-se preocupado com o aspecto multidimensional do conhecimento cerebral, pela própria informação da neurociência, acarretando com isso, uma busca mais consciente, atualizada e reflexiva da prática pedagógica do professor de ciências. Segundo Olivier, a Neurociência também denominada Neurociência Cognitiva busca uma relação entre as atividades do Sistema Nervoso Central e o Cognitivo. (2006, p.11). De tal modo, acredita-se que o professor por si só, com uma linguagem própria, possa fundamentar elementos do sistema nervoso, necessários ao entendimento do tema em questão, que lhe permitirão expressar originalidade, espontaneidade, conhecimento e criatividade. Assim, os educadores despertarão no contato com a Neurociência, as mais diversas formas de representá-las, o despertar do todo. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 12 A NEUROCIÊNCIA E A FILOGÊNESE DO SISTEMA NERVOSO Numa sociedade cada vez mais marcada pela heterogeneidade de culturas e saberes, pertence à Neurociência o desafio de explicar como as células cerebrais não só direciona o desempenho, como também são influenciadas pelo comportamento das pessoas e pelo meio ambiente, ou seja, busca novos olhares em contextos diversificados, registrados e assimilados em leituras especializadas. Pensando nessa possibilidade e, na dimensão histórica do conhecimento, levamos em conta não só os aspectos sociais, individuais, políticos, econômicos e coletivos do Ensino em Ciências, mas, o resgate de conceitos, linguagens, teorias e saberes ao longo da história do cérebro, a fim de que estudantes e professores possam ampliar suas experiências e seus conhecimentos teórico-práticos, situando-se no tempo e espaço e firmando-se como seres sócio- históricos do processo do aprender. Esse percurso não se iniciou nos dias de hoje, mas, [...] tem suas bases na antiguidade quando Sócrates em 370 a.C. sugeriu: “conhece-te a ti mesmo, pois dentro de ti reside toda sabedoria”. Dessa forma, lançou seus fundamentos no método introspectivo: olhar-se para dentro de si mesmo. Entretanto, sabemos que nem tudo reside dentro de nós. Há tanta coisa que aprendemos de fora que, precisamos na realidade entender como se processa essalinha divisória entre o mundo interno e o mundo externo, muitas vezes, confuso e complicado. (PRESA, 2007 p. 6). Atualmente, a escola requer uma pedagogia que não vise essencialmente transmitir conteúdos intelectuais, mas, sim, descobrir processos capazes de suprir as dificuldades existentes às áreas ligadas à aprendizagem. Diante de tal realidade, buscou-se no desenvolvimento da neurociência o intuito de incluir estes saberes com um aprender mais abrangente, contínuo e dinâmico, compreensivo e instigante para quem ensina e para quem aprende. Vive-se um tempo em que a dificuldade de aprender, de se concentrar, de memorizar, de persistir, de querer, está cada vez mais forte dentro das escolas. Assim sendo, identificou-se que a aprendizagem acontece sob dois aspectos: de um lado, os conhecimentos construídos e/ou reconstruídos e, de outro, os mecanismos utilizados para construí-los, visto que, a civilização atual faz parte de uma época totalmente influenciada, em grau sempre maior, pela tecnologia. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 13 Hoje em dia, têm-se informações precisas que a Neurociência cresceu, em passo acelerado, a partir do século XX, motivando novas abordagens, novas perguntas, novas direções, novos recursos e, uma aplicação mais verdadeira do conhecimento cerebral. Entretanto, inúmeras incógnitas ainda permeiam em nossa cultura a respeito do cérebro. Neste contexto, surge, ainda, a necessidade dos educadores dialogarem dentro de uma visão inovadora, com os temas abordados em sala de aula. Por isso, este estudo traz informações de valor precioso e aponta, por meio de recursos, importantes caminhos para o conhecimento do sistema funcional complexo que é o cérebro. Atualmente, encontramos um moderno campo da ciência cognitiva, conhecido como a era do novo cérebro, voltado para o estudo dos mecanismos cerebrais responsáveis por nossos pensamentos, emoções, decisões e atos. Portanto, a Neurociência é um termo que reúne algumas disciplinas biológicas que estudam o sistema nervoso, especialmente a anatomia e a fisiologia do cérebro humano. Com isso, englobam-se três áreas principais: a neurofisiologia (estuda as funções do sistema nervoso), a neuroanatomia (estuda a estrutura do sistema nervoso, em nível microscópico e macroscópico) e a neuropsicologia (estuda as modificações comportamentais). Dentro da percepção de Bear, A revolução das Neurociências ocorreu quando os cientistas perceberam que a melhor abordagem para o entendimento da função do encéfalo vinha da interdisciplinaridade, a combinação das abordagens tradicionais para produzir uma nova síntese, uma nova perspectiva. (2006, p. 03). Assim, o estudo da evolução humana que também podemos chamar de filogênese nos leva a compreender melhor a adaptação sensório-motora dos seres vivos e, por consequência, dos sujeitos aprendentes, pois mesmo os mais primitivos dos humanos tiveram de se ajustar continuamente ao meio ambiente, que também é mutável, para sobreviverem enquanto indivíduo e ainda como espécie (RELVAS, 2009). Para Sarnat (1981 apud RIBAS, 2006), do ponto de vista anatômico, há três maneiras básicas de se estudar o sistema nervoso central (SNC). A primeira consiste em estudar a simples disposição espacial das suas estruturas já desenvolvidas, campo de estudo denominado neuroanatomia; a segunda, em estudar o seu desenvolvimento ontogenético; e a terceira, em Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 14 estudar o seu desenvolvimento filogenético – ocorrido ao longo da chamada evolução das espécies, o que é feito principalmente através da paleontologia e da anatomia comparada. Ribas (2006) analisa que para a discussão de considerações de ordem anatômica pertinentes a questões comportamentais, paralelamente às relevantes contribuições experimentais em animais e às observações clínicas em seres humanos, a análise dos conhecimentos existentes sobre a evolução filogenética das estruturas nervosas é particularmente útil, uma vez que ela nos possibilita fazer especulações sobre o aparecimento, o desenvolvimento e o embricamento dessas estruturas e as possíveis características e comportamentos dos seus respectivos elementos evolutivos. Ao propiciar uma visão progressiva das complexidades nervosa e comportamental ao longo da evolução, a análise filogenética também acarreta, a cada passo, questionamentos sobre a própria conceituação de termos como consciência e psiquismo, entre outros, principalmente por propiciar especulações sobre os possíveis paralelos comportamentais existentes entre as diferentes espécies e o próprio ser humano (RIBAS, 2006). Em relação ao processo evolutivo, é importante lembrar que este diz respeito a mudanças que ocorreram por força de fatores, principalmente ambientais, que influenciaram todos os seres vivos, e não através de simples adições terminais de novas estruturas. Os processos evolutivos têm como principais denominadores comuns a adaptação, a expansão da diversidade e o aumento da complexidade. Ao longo de milhões de anos, o SNC dos vertebrados se desenvolveu até atingir a complexidade do SNC humano, e é particularmente interessante e intrigante como o desenvolvimento embrionário e fetal do SNC humano refaz grosseiramente este mesmo curso (HAECKE; GOULD, 1977 apud RIBAS, 2006). As maiores dificuldades dos estudos filogenéticos evidentemente se devem à escassez de informações sobre os elementos já extintos, ao longo tempo necessário para observação de quaisquer mudanças evolutivas naturais ou experimentais e à veracidade das inferências sugeridas pelos estudos de anatomia comparada. O desenvolvimento de técnicas de sequenciamento do DNA seguramente propiciará avanços neste campo, dadas as suas possibilidades de comparar genomas de diferentes espécies e mesmo de espécies extintas (RIBAS, 2006). Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 15 São condições fundamentais para que o indivíduo se adapte ao meio ambiente: a irritabilidade, a condutibilidade e a contratilidade. Por meio da irritabilidade ou sensibilidade, a célula detecta as modificações do meio ambiente. Essa sensibilidade celular causada por um estímulo é conduzida à outra parte da célula pela condutibilidade, possibilitando uma resposta a esse estímulo. Essa resposta pode ser o encurtamento da célula pela propriedade chamada contratilidade que é uma reação que normalmente acontece no sentido de fugir a um estímulo nocivo ou para se aproximar de um estímulo agradável (mecanismo de defesa, por meio da motricidade). Em seres ainda mais complexos (por exemplo, metazoários), as células musculares responsáveis pela contratilidade foram ficando na parte mais interior do animal. Na superfície, ficaram as células sensórias responsáveis pela identificação do estímulo. Essa distância entre as células sensórias e as musculares foi compensada pela especialização de células exclusivas para permitir a condutibilidade da informação colhida na superfície, levando-as até o interior do ser, para que houvesse uma resposta, que pode ser de repulsão ou de aproximação, dependendo do teor do estímulo. Esses neurônios são células nervosas responsáveis por motricidade e sensibilidade do corpo. A evolução filogenética providenciou para que essas células especializadas em conduzir sinais se agrupassem e formassem um sistema nervoso central. Esse sistema de comando conta com neurônios sensitivos ou aferentes, que são responsáveis pela coleta de informações oriundas do meio ambiente. Essas informações ou sinais são enviadosao centro de comando formado pelo sistema nervoso central para que este elabore e retorne uma determinada reação ou resposta. Essa resposta é possível graças aos neurônios eferentes ou motores, podendo denominar-se motricidade voluntária. As respostas podem ser elaboradas e retomadas a partir de qualquer ponto do sistema nervoso central, como encéfalo, medula oblonga, tronco encefálico, etc. Os reflexos patelares, observados no joelho do homem quando se bate com um martelete nessa região, o que provoca o estiramento involuntário da perna para frente, é um exemplo de reação a partir da medula oblonga, denominando-se de motricidade involuntária. Um terceiro tipo de neurônio trouxe um considerável aumento do número de sinapses, o que aumentou consideravelmente a complexidade do sistema nervoso. Esse neurônio foi Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 16 denominado de neurônio de associação. Ele associa os diversos tipos de informações e elabora as respostas a serem dadas ao estímulo. Seria o rudimento da inteligência, capaz de elaborar a compreensão, o raciocínio, a linguagem, ainda que primitiva, porém diferenciada dos outros seres vivos. O crescimento do número de neurônios de associação aconteceu de forma agrupada e em uma das extremidades dos seres vivos, o que seria mais tarde a sua cabeça. Durante os deslocamentos, os animais percebiam mais rapidamente as mudanças do meio por intermédio desses neurônios agrupados nessa extremidade e podiam elaborar respostas mais rápidas, livrando-se de perigos, para encontrar alimento, para perpetuar a espécie ou para se manter nos territórios e sobreviver. Essa extremidade especializou-se em explorar ambientes e, por isso, foi aparelhada com boca, olhos, ouvidos, pele e nariz, enfim, todos os órgãos dos sentidos. Em virtude da sua importância, esse agrupamento de neurônios foi protegido por um crânio e deu ao homem a capacidade de elaborar tarefas mais finas, como um simples movimento de pegar o garfo e levá- lo à boca ou segurar um lápis e realizar um registro no papel. O crescimento gradual do encéfalo observado na escala filogenética atinge seu maior grau de complexidade no ser humano. Os neurônios de associação situados no encéfalo foram os responsáveis pelo surgimento das funções psíquicas superiores. Chegava, assim, ao ápice da evolução do sistema nervoso. Daí em diante, o homem foi capaz de sentir, pensar, relacionar-se afetiva e emocionalmente, utilizando a motricidade corporal (os músculos voluntários e involuntários e as vísceras) como canal de expressão dos sentidos (RELVAS, 2009). Observando a estrutura do sistema nervoso, percebemos que ela tem partes situadas dentro do cérebro, da coluna vertebral e outras distribuídas por todo corpo. As primeiras recebem o nome coletivo de sistema nervoso central (SNC), e as últimas, de sistema nervoso periférico (SNP). É no sistema nervoso central que está a grande maioria das células, seus prolongamentos e os contatos que fazem entre si. No sistema nervoso periférico, estão relativamente poucas células, mas há um grande número de prolongamentos chamados fibras nervosas, agrupadas em filetes alongados chamados nervos. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 17 É possível dizer que a evolução do sistema nervoso central (SNC) dos animais vertebrados se deu na direção do aumento de complexidade, com um gradativo e marcante aumento do tamanho cerebral, resultado de um crescente número de neurônios e do surgimento progressivo de novas estruturas cerebrais (particularmente o córtex cerebral) e de sua expansão. O caminho de evolução do SNC percorrido pelo seres humanos se deu em direção à crescente intercomunicação entre neurônios, levando ao desenvolvimento de novas estruturas neuronais, que nos possibilitam uma mais rica percepção consciente do mundo em que vivemos e uma mais efetiva adaptação a diferentes ambientes. O processo evolutivo levou (até pela complexidade de suas dimensões e potencialidades) à separação de funções entre os nossos hemisférios corticais, criando-nos, de um lado, um “cérebro” cognitivo, racional e analítico e, de outro, um “cérebro” intuitivo, afetivo e emocional. Da existência destes dois modos operacionais surge-nos, se soubermos integrá-los harmoniosamente, a potencialidade de um processo de consciência bastante ampliado e de uma vida mais plena, criativa e amorosa. É preciso também notar que o processo de interação entre os neurônios não é fixo, mesmo após o nosso desenvolvimento e maturação iniciais. Ao contrário, dada a plasticidade entre as conexões sinápticas e à ação variável de substâncias transmissoras e moduladoras, o cérebro deve ser entendido como um conjunto de sistemas funcionais altamente dinâmicos com amplas potencialidades de reajuste e até de recuperação. Finalmente é preciso considerar que o homem não é um organismo acabado. Seu cérebro continua em constante evolução biológica adequando-se sempre a novas circunstâncias, e em busca do equilíbrio (SCHMIDEK; CANTOS, 2008). A Neurociência é uma ciência do século XX, ou seja, relativamente recente. Data da década de 1970 e resulta da confluência de várias disciplinas que até então concebiam o sistema nervoso de maneira independente e desarticulado, como a neuroanatomia, a neurofisiologia, a neurologia, a psiquiatria, a psicologia, entre outras. Assim sendo, a neurofisiologia examina as funções do sistema nervoso e, utiliza eletrodos para instigar e registrar a reação das células nervosas ou de áreas maiores do cérebro. A neuroanatomia estuda a estrutura do sistema nervoso, em nível microscópico e macroscópico. A neuropsicologia analisa a relação entre as funções neurais e psicológicas. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 18 Ultimamente têm-se informações de que a conexão do cérebro e da neurociência inclui estreitas ligações com os processos cognitivos, pois, permite orientar educadores na utilização do conhecimento das neurociências no ensino e na abordagem dos problemas de aprendizagem, visando desenvolvimento de práticas promotoras da aprendizagem, preventivas e terapêuticas das suas dificuldades. Nos últimos trinta anos, houve progressos consideráveis no conhecimento do cérebro. Hoje em dia, sabe-se muito mais sobre a organização anatômica do cérebro, sobre a circulação da informação dentro dele, sobre seus neurotransmissores, sobre a interação com o mundo exterior, seja ele físico social ou cultural, do que no século XIX ou início do século XX. Muito se avançou na compreensão dos mecanismos moleculares que participam da comunicação entre os neurônios e as repercussões disso são consideráveis. Portanto, o século XXI com todos os avanços é, com certeza, o “século do cérebro”. O educador está cotidianamente agindo nas modificações neurobiológicas cerebrais que levam à aprendizagem. No entanto, desconhece como o cérebro trabalha. Dessa forma, seria interessante que o educador antes de passar um conteúdo de Ciências, em particular sobre o cérebro, questionasse: Sabendo que o cérebro é o órgão da aprendizagem, qual seria a contribuição das Neurociências para a educação? O conhecimento do funcionamento do cérebro, objeto de estudo das Neurociências, poderia contribuir para o processo ensino-aprendizagem mediado pelo educador? Dessa forma, avaliar a coordenação do cérebro, suas funções, períodos críticos, as habilidades cognitivas e emocionais, as potencialidades e limitações do sistema nervoso, a memória, as dificuldades de aprendizagem e intervenções apropriadas, podetornar o trabalho do educador mais significativo, eficiente e autônomo. Portanto, o grande desafio do século XXI é conhecer cada parte que compõe o cérebro, associá-lo a uma comunicação intra e inter pessoal e revelar os mistérios na esfera mental, emocional e cognitiva do ser humano. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 19 QUESTÕES EPISTEMOLÓGICAS DAS NEUROCIÊNCIAS COGNITIVAS Neste texto2, identificam-se quatro questões centrais fundamentais para a epistemologia da neurociência de orientação cognitiva: a multiplicidade de níveis de análise no estudo das funções do cérebro; o confronto entre modelos computacionais e dinamicistas; o tratamento adequado das interações entre cérebro, corpo e ambiente; e os problemas filosóficos encontrados nas tentativas de se construir uma teoria neurobiológica dos processos conscientes e da linguagem humana. INTRODUÇÃO Os resultados das pesquisas neurocientíficas têm influenciado, por meio de suas aplicações médicas, diversos aspectos da vida humana; no entanto, as bases conceituais da neurociência têm recebido pouca atenção. A pesquisa empírica tem gerado um grande número de resultados experimentais, mas tal conhecimento ainda não foi integrado em um quadro convincente de como os processos cognitivos são realizados pelo cérebro. Isso se deve a fatores metodológicos e sociológicos que conduziram à proliferação de dados sem a concomitante sofisticação teórica. As limitações decorrem, possivelmente, da dificuldade intrínseca em se produzir uma teoria unificada da função cognitiva do cérebro e da hiperespecialização da vida acadêmica, fazendo que as carreiras científicas dos pesquisadores se estabeleçam dentro de recortes conceituais e metodológicos limitados. A neurociência cognitiva se originou de um esforço colaborativo recente, seguindo um padrão histórico de trabalho interdisciplinar nas ciências do cérebro e do comportamento. Tais esforços incluem a psicologia fisiológica do início do século XX, a neuropsicologia de meados do século passado até o presente, e o próprio termo 'neurociências', que apareceu nos anos 1960, denotando uma área mais ampla que a neuroanatomia e neurofisiologia. Tais esforços tentaram 2 Publicado pela revista Trabalho, Educação e Saúde. Versão Online. ISSN 1981-7746. Trab. educ. saúde (Online) vol.8 no.3 Rio de Janeiro nov. 2010. http://dx.doi.org/10.1590/S1981-77462010000300010. Autor: Alfredo Pereira Jr: Professor adjunto do Departamento de Educação do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), São Paulo, Brasil. Doutor em Lógica e Filosofia da Ciência pela Universidade Estadual de Campinas. Pós-Doutorado em Ciências do Cérebro e da Cognição no Massachusetts Institute of Technology. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 20 relacionar estudos dedicados a aspectos diversos do cérebro, e que podem ser pensados em três dimensões: a) 'vertical': referindo-se a níveis de organização estrutural, e respectivas funções - átomos, moléculas, células, tecidos, subsistemas, redes de ampla escala; b) 'horizontal': referindo-se a interações entre cérebro, corpo e ambiente de organismos; c) temporal: referindo- se a processos filogenéticos e ontogenéticos que determinam estrutura e função de cérebros de organismos individuais. Tais dimensões e respectivos níveis de análise parecem ser irredutíveis e difíceis de integrar. Em face dessas dificuldades, alguns cientistas como G. Edelman (1987; 1989), A. Damasio (1999) e R. Llinás (2002) têm se proposto a discutir problemas epistemológicos, o que conduziu a contribuições originais e pertinentes a respeito dos paradigmas neurocientíficos. A migração conversa, de filósofos que discutem neurociência, tem sido notavelmente pequena. Os Churchland são exceções importantes a esse respeito (ver CHURCHLAND, 1986; CHURCHLAND, 1988), apesar de sua proposta de substituição da descrição de senso comum dos estados mentais pela linguagem neurocientífica (materialismo eliminativo) não ter encontrado o apoio que esperavam. OS PARADIGMAS COMPUTACIONAL E DINAMICISTA Os dois principais tipos de modelos cognitivos utilizados no século XX para se entender o funcionamento cerebral são o combinatorial (ou 'computacional') e o de sistemas dinâmicos, frequentemente tomados como opostos e excludentes. Já no Simpósio Hixon, realizado em 1948, foram defendidas duas visões da função cerebral. Os que a conceberam em termos da computação de pulsos elétricos (VON NEUMANN, 1951; MCCULLOCH, 1951) discordaram dos que a pensaram em termos de 'campos' (KOHLER, 1951) ou de 'ação de massas' (LASHLEY, 1960). Da proposta dos primeiros, derivou-se a neurociência computacional, uma tentativa de explicar as funções cognitivas com base em mecanismos de processamento de informação e construção de representações mentais que vicejou ao final do século XX. Da proposta dos segundos, deriva-se a corrente dinamicista, que concebe os processos cognitivos em uma dimensão corpórea e interativa com o ambiente, favorecendo modelos de cunho ecológico que enfocam as ações dos sistemas cognitivos em seus respectivos contextos. Assim, as funções Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 21 de representação ficariam em segundo plano, entendendo-se a cognição como um processo de adaptação ativa. Nos anos 1950 e 1960, o uso do eletroencefalograma para o estudo de cognição sugeriu uma concepção de função cerebral em termos de padrões dinâmicos (WALTER, 1963; ROY JOHN, 1967), ideia ainda defendida por investigadores em percepção (PRIBRAM, 1991) e proponentes de metodologias dinamicistas em neurociência (KELSO, 1995; VAN GELDER, 1997). Não obstante, nos anos 1970, a época de ouro da inteligência artificial, o modelo do computador digital foi frequentemente considerado adequado para apreender as funções cognitivas do cérebro. O paradigma computacional tem influído na interpretação de dados obtidos por meio de tecnologias de imagem da atividade cerebral, PET-scanners e MRI funcional. Esforço significativo tem sido dedicado ao mapeamento do cérebro em termos de 'módulos', seguindo o conceito proposto por Fodor (1983). Tais interpretações supõem que as diversas regiões do cérebro (em especial, do neocórtex) seriam especializadas em funções cognitivas como memória, atenção e pensamento. Também têm sido usados modelos de tipo 'conexionista' (ou de 'redes neurais') simulados por computadores digitais, para se descrever a possível arquitetura de tais 'módulos'. Esse paradigma dominou a neurociência cognitiva nos anos 1990, mas sinais de esgotamento são visíveis, acompanhados por uma tendência a refocalizar os problemas da integração e sincronização. A história da neurociência exibe uma ênfase alternada nas questões especialização e integração de função. Tal alternância refletiria a 'dialética fundamental' da organização do cérebro (FRITH e FRISTON, 1997), consistindo em oposição e ao mesmo tempo complementaridade entre especialização e integração de função. Alguns processos cerebrais parecem ser mais bem analisados em termos de sistemas combinatoriais biologicamente especializados (processos bioquímicos na sinapse, codificação da informação sensorial pela frequência dos disparos neuronais), ao passo que outros seriam mais bem analisados em termos de sistemas dinâmicos apoiados por mecanismos físicos gerais (por exemplo, a difusão de íons de cálcio, a interação de campos eletromagnéticos, os ciclos de percepçãoe ação, o funcionamento do sistema vestibular etc.). De fato, seria surpreendente se cérebros animais usassem só uma dessas estratégias. Um reconhecimento de tal complementaridade faria Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 22 diferença no estudo das funções cerebrais, levando ao descrédito os modelos que assumem exclusivamente uma visão computacional ou dinamicista. INTERAÇÕES CÉREBRO, CORPO E AMBIENTE A relevância das interações entre cérebro, corpo e ambiente de organismos foi antecipada num trabalho teórico, escrito em 1938, do pioneiro da etologia Jakob von Uexkull (1957), e na pesquisa em percepção visual (por exemplo, HELD e HEIN, 1963; GIBSON, 1979). Recentemente essa questão reemergiu como a visão 'encarnada' (embodied) da cognição, proposta na ciência cognitiva (por exemplo, CLARK, 1996), na robótica (por exemplo, Brooks, 1991) e na neurociência (por exemplo, BALLARD et al., 1997). A interação entre cérebro, corpo e ambiente envolve difíceis problemas epistemológicos relativos à influência de padrões externos de informação na sinapse e na atividade metabólica do neurônio, e à gênese da intencionalidade subjacente à consciência. Aqui enfocarei dois tópicos centrais, a distinção entre 'reconhecimento' e 'representação', e a dimensão pragmática dos processos computacionais do cérebro. O conceito de 'reconhecimento' de padrões é aqui entendido como a formação de correspondências parciais entre propriedades dos estímulos que excitam o sistema nervoso periférico e os correspondentes padrões de atividade neuronal no sistema nervoso central (SNC) elicitados pelos primeiros - o conceito de 'correspondência parcial' entre estruturas em modelos científicos foi proposto por Da Costa e French (1990). A formação de correspondências parciais sugere um mecanismo de 'ressonância', como proposto no modelo de redes neurais ART (Adaptive Resonance Theory) de S. Grossberg (ver GROSSBERG e MERRILL, 1996; para uma proposta semelhante, ver também AMIT, 1995). É possível que os padrões ressonantes tenham uma estrutura temporal, descritível em termos de autocorrelação, ou seja, várias partes de um sistema, em diferentes escalas temporais, apresentam padrões de atividade semelhantes (ver CARIANI, 1994). O conceito de 'representação', por sua vez, implica uma relação isomórfica entre a estrutura que representa e a estrutura representada (NEWELL, 1990); seu uso, portanto, deve restringir-se a processos em que tal isomorfismo esteja presente. Na neurociência, estes processos seriam aqueles em que padrões formados em uma parte do cérebro são copiados e recombinados por outra parte do cérebro. Processos de reconhecimento de padrões externos Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 23 ocorrem nas áreas perceptuais, formando 'matrizes' que são copiadas e recombinadas pelo 'sistema executivo', gerando novos padrões informacionais, úteis para o planejamento e o controle do comportamento. As matrizes são reutilizadas em processos de imaginação, no sonho e no relembrar, podendo ainda ser alteradas mediante processos perceptuais novos. A distinção entre reconhecimento e representação seria semelhante então à distinção entre 'entender' e 'raciocinar'. 'Entender' corresponde a processos de reconhecimento, que emparelham padrões internos e externos. 'Raciocinar' corresponde a processos combinatoriais endógenos que constroem padrões mais complexos com base em recombinações de cópias das matrizes perceptuais, independentemente da estrutura do mundo externo (no exemplo clássico, pode-se formar a imagem de um unicórnio pela recombinação de padrões de animais percebidos). Na literatura científica, notamos que tal distinção não é feita, resultando em um uso indiscriminado do termo 'representação mental' para se referir à atividade de circuitos cerebrais que presumivelmente dariam suporte a processos cognitivos. Esse uso pode ser considerado um dos maiores problemas epistemológicos das neurociências cognitivas, ensejando muitas críticas e tentativas de eliminação de sua utilização, uma vez que o termo carrega consigo determinadas suposições oriundas da filosofia moderna e que foram absorvidas pelas ciências cognitivas. Dentre elas, destaco as seguintes: identificação de processos mentais com processos lógicos: o ser humano seria um agente exclusivamente racional que pautaria sua conduta em raciocínios corretos, por meio dos quais as alternativas de ação seriam representadas explicitamente a fim de que houvesse uma escolha consciente; intencionalidade cognitiva: a mente humana seria um sistema fundamentalmente cognitivo cuja consciência sempre se refere a objetos intencionais, ou seja, aqueles cuja existência está no domínio da própria mente e/ou em um mundo platônico das ideias. O pensamento se refere a objetos intencionais mediante representações, sendo a linguagem o meio mais apropriado para se elaborarem as mesmas; exclusividade cognitiva: mesmo que se considerem os processos afetivos e emocionais como constituintes da mente humana, eles são rebaixados a segundo plano, atuando como perturbações dos processos cognitivos. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 24 Particularmente espinhosa é a discussão do uso do termo 'representação' para fazer referência a estados afetivos e emocionais. Será que o cérebro representa sensações (como calor, fome, dor) e sentimentos (feelings em inglês, incluindo, por exemplo, tristeza, raiva e medo)? Não seria mais apropriado dizer que o indivíduo como um todo vivencia tais sensações e emoções? Encontramos, na situação acima descrita, dois novos problemas linguísticos, que acabam tornando-se problemas epistemológicos: a atribuição dos estados mentais ao cérebro, e não à pessoa como um todo, e a suposição de origem racionalista, possivelmente cartesiana, e que a linguística de Chomsky herdou, de que estados afetivos e emocionais seriam redutíveis a estados cognitivos. UMA COMPUTAÇÃO PRAGMÁTICA? Nos sistemas vivos submetidos à pressão adaptativa, o processo de recombinação de conteúdos mentais é guiado por objetivos. Cérebros reconhecem padrões naturais oriundos dos ambientes nos quais os animais lutam para sobreviver, e recombinam tais padrões obedecendo a parâmetros pragmáticos. Em computadores digitais falta a dimensão pragmática, derivada da pressão seletiva pela sobrevivência e pela reprodução; os computadores seriam máquinas que associam representações artificialmente codificadas, de acordo com funções previamente programadas. Nos sistemas vivos, as recombinações são monitoradas por meio de mecanismos de reaferência (reafference), que alertam o organismo sobre os resultados de ações prévias. O planejamento de ações novas está baseado na correção de discrepâncias (mismatches) entre o resultado intencionado e as consequências percebidas de ações prévias. No cérebro dos mamíferos, caracterizado pelo desenvolvimento das áreas neocorticais, a recombinação de padrões constituiria o modus operandi do 'sistema executivo', composto pelo córtex pré-frontal e suas conexões com áreas associativas perceptuais - a parietal e a ínfero- temporal posterior -, e pelo sistema límbico (ver D'ESPOSITO e GroSSMAN, 1996). Essa visão é compatível com a concepção funcional do cérebro como composto de um nível básico de processadores paralelos que se combina com um segundo nível de processamento de tipo serial (ver DENNETT, 1991). Os sistemas perceptuais de reconhecimento seriam os processadores Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos.Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 25 paralelos, e a biocomputação realizada pelo sistema executivo constituiria o processamento serial. Entretanto, os modelos computacionais, que se baseiam na codificação digital da informação, podem ser incompatíveis com os aspectos afetivos e emocionais da experiência consciente. Ora, os mecanismos de reaferência só se tornam efetivos quando geram respostas afetivas/emocionais que possibilitam ao indivíduo avaliar - em termos existenciais, que incluem, mas não se limitam, ao processamento lógico - a adequação de suas ações. Por exemplo, acredita-se que a existência da dor sirva como sinal de alerta para que os indivíduos procurem se afastar de determinadas situações que possam colocar em risco a sua integridade físico-biológica. Nesse caso, o componente dor seria essencial em modelos computacionais da cognição, porém como implementar o fenômeno da dor em computadores ou robôs? Seria possível distinguir computacionalmente, por meio de uma codificação digital, a dor e o prazer? Tal tarefa parece ser impossível, pois inclusive no plano biológico tal distinção é nebulosa. Por exemplo, uma região do cérebro chamada ínsula é ativada em ambas as situações, ou seja, quando uma pessoa sente certos tipos de dor e quanto sente certos tipos de prazer. Para explicar os feelings em termos físico-biológicos, possivelmente seja necessário um novo tipo de abordagem (ver, por exemplo, PEREIRA JR. e FURLAN, 2010). ATIVIDADE CEREBRAL E ATIVIDADE MENTAL Uma concepção de processos cognitivos baseada em categorias das ciências do cérebro não implica a tese de que as categorias psicológicas seriam teoricamente redutíveis a - ou elimináveis, em prol de - categorias neurobiológicas, o que tinha sido proposto por Churchland (1986) e Crick (1994). Ao contrário, nos estudos experimentais da neurociência cognitiva, cada nível de função do cérebro é acessado por uma metodologia diferente, encontrando-se possíveis correlações quando os resultados são comparados. Por exemplo, em uma sessão de fMRI (functional Magnetic Resonance Imaging/Ressonância Magnética Funcional) o sujeito executa tarefas cognitivas enquanto seu cérebro é esquadrinhado pelo equipamento de neuroimagem. É na interpretação de resultados que os dados da neuroimagem são correlacionados com os dados comportamentais da tarefa cognitiva, induzindo-se uma possível relação (causal ou não) entre eles. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 26 Explicações causais de cognição em termos de processos cerebrais são possíveis e cientificamente desejáveis, embora talvez incompletas. Os efeitos de neurotransmissores e receptores sobre estados cognitivos e emocionais estão sendo progressivamente descobertos. O progresso do conhecimento da fisiologia do cérebro não fará as disputas filosóficas sobre a natureza da mente desaparecerem, mas pode provocar uma mudança do estilo de discussão: em vez de um confronto de posições em nível puramente teórico, pode-se passar a discussões baseadas na interpretação dos dados empíricos. Por exemplo, ao se discutir se um transtorno mental - como a esquizofrenia - tem uma base genética, é possível classificar os diversos tipos de alterações cerebrais correlacionados com as psicopatologias e verificar se existem elementos comuns em suas diversas manifestações. Uma conclusão sugerida pelos estudos de lesões cerebrais e alterações farmacológicas é que de alguma maneira (a ser elucidada) processos cerebrais 'causam' processos conscientes (o que tem sido discutido por SEARLE, 1997). Nesses estudos, por exemplo, são comparados dois comportamentos em um único organismo: o primeiro, anterior, e o segundo, imediatamente posterior a uma lesão cerebral ou a uma alteração bioquímica. A inferência usualmente feita é que a diferença pertinente se deve à ausência da estrutura subtraída pela lesão ou pela alteração de concentração de compostos bioquímicos. Tal inferência é semelhante ao que é feito em outras áreas de ciência. Quando outra premissa plausível é acrescentada - a de que as mudanças de comportamento indicam mudanças nos processos conscientes -, a conclusão em questão é obtida, ou seja, que alterações em estados cerebrais 'causariam' mudanças nos processos conscientes. Manifesta-se aqui o problema de se entender como é possível que processos eletroquímicos na rede neuronal contribuam de alguma forma para 'causar' a experiência consciente, uma vez que as categorias que descrevem a experiência consciente (por exemplo, as qualidades sensoriais, como cores e sons, chamadas pelos filósofos de qualia) não seriam dedutiva ou mesmo semanticamente deriváveis dos referidos processos neuronais. Tal visão implicaria um conceito peculiar de causação que não foi discutido por Searle (1997): haveria relações causais entre processos descritos por categorias diferentes e lógico/semanticamente irredutíveis? O efeito não seria uma consequência lógica, nem pertenceria à mesma categoria semântica da causa. Uma consequência disso é que propriedades do efeito (conteúdos dos Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 27 processos conscientes) não poderiam ser deduzidas daspropriedades da causa (características dos processos cerebrais). Em outras palavras, embora a neurociência cognitiva descubra correlações entre o cérebro e a mente, um 'fosso explicativo' (explanatory gap, de acordo com LEVINE, 1983) restaria. Essa visão parece desafiar tanto o clássico princípio de razão suficiente, de Leibiniz, o qual afirma que tudo aquilo que existe tem uma razão, no sentido deexplicação racional, quanto o modelo de lei de cobertura (NAGEL, 1961), usado para a explicação científica dos fenômenos e que postula serem as propriedades dos efeitos dedutíveis das propriedades das causas (usando- se como premissas as leis científicas e as condições iniciais do sistema em estudo). Uma contribuição original da epistemologia da neurociência cognitiva seria a análise da possibilidade de efetiva explicação de processos cognitivos com base em categorias neurobiológicas. No caso de se concluir por uma impossibilidade, resta ainda a alternativa epistemológica de construção de modelos das relações entre processos cerebrais e processos mentais conscientes, como proposto por Lungarzo e Pereira Jr. (2009). O monismo de duplo aspecto (PEREIRA JR. et al., 2010) é uma posição filosófica que entende serem indissociáveis os aspectos físicos e mentais, ambos constituintes fundamentais do mundo em que vivemos, e não poderem ser eliminados ou reduzidos um ao outro. Nessa perspectiva em que o mundo físico e o mundo mental constituem uma unidade do tipo yin-yang, a tarefa da neurociência cognitiva seria justamente a de encontrar as devidas correspondências (isomorfismos ou homeomorfismos) entre padrões de atividade biofísica do cérebro e padrões de atividade mental (consciente ou inconsciente). COMENTÁRIOS FINAIS Os quatro temas epistemológicos aqui resenhados convergem no problema principal da neurociência cognitiva: entender como processos cognitivos são executados pelo cérebro, em suas interações com o (restante do) corpo e o ambiente. Tais temas refletem o avanço de pesquisa neurocientífica em uma área previamente ocupada por filósofos e psicólogos. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 28 A NEUROCIÊNCIA E AS BASES ESTRUTURAIS DO SISTEMA NERVOSO O Sistema Nervoso é o órgão onde se enraízam a sensibilidade consciente, a mobilidade espontânea ea inteligência. Por este motivo é analisado como o centro nervoso mais respeitável de todo o sistema. Nada escapa a ele e ao desenvolvimento integral do ser humano. De acordo com Relvas, O sistema nervoso detecta estímulos externos e internos, tanto físico quanto químico, e desencadeia respostas musculares e glandulares. Ele é formado, basicamente, por células nervosas, que se interconectam de forma específica e precisa, formando os circuitos (redes) neurais. (2005, p.33). Com isso, pode-se observar que o sistema nervoso é uma rede complexa que permite a comunicação do ser humano com o ambiente e, questionar esses circuitos que produzem comportamentos variáveis e invariáveis (reflexo). Incluem além de componentes sensoriais, referentes ao ambiente, os motores, geradores de movimentos, e os interativos, que recebem, armazenam e processam as informações. Assim, dentre os sistemas que compõem o organismo humano, neste estudo, o nosso maior interesse está no sistema nervoso, composto pelo sistema nervoso central - SNC (encéfalo e medula) e sistema nervoso periférico - SNP. São funções essenciais do sistema nervoso: Ajustar o organismo ao ambiente; Perceber e identificar as condições ambientais externas, bem como as condições reinantes dentro do próprio corpo; Elaborar respostas que adaptem a essas condições; Função sensorial, integrativa e motora. O sistema nervoso é um tecido originário de um folheto embrionário denominado como ectoderme, mais precisamente de uma área diferenciada deste folheto embrionário, a placa Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 29 neural. Inicialmente, a placa neural contém cerca de 125 mil células, que vão dar origem a um sistema que é composto por aproximadamente 100 bilhões de neurônios no futuro. A placa neural, aproximadamente na 3ª semana de gestação, se fecha, formando um tubo longitudinal (tubo neural) que na sua região rostral ou anterior, sofre uma dilatação que dará origem a uma parte fundamental do Sistema Nervoso Central, o Encéfalo. Nos pontos de encontro ou fechamento das extremidades da placa neural, no recém formado tubo neural, forma- se a crista neural que dá origem a componentes que a neuro-anatomia nomina como elementos periféricos e componentes celulares gliais. O Sistema Nervoso pode ser classificado de várias formas, sendo a classificação mais comum aquela que o divide em: a) sistema nervoso central (SNC), aquele que está contido no interior do chamado “estojo axial” (canal vertebral e crânio), ou seja, o encéfalo e a medula espinhal; b) sistema nervoso periférico (SNP), aquele que é encontrado fora deste estojo ósseo, que se relaciona com o esqueleto apendicular, sendo os nervos (axônios) e gânglios (formações de corpos neuronais ganglionares dispersas em regiões do corpo ou mesmo dispostas ao longo da coluna vertebral, como os gânglios sensitivos). No entanto, também podemos dividir o sistema nervoso funcionalmente em somático ou de vida de relação, que lembra o sistema nervoso que atua em todas as relações que são percebidas por nossa consciência; e, em visceral ou vegetativo, aquele interage de forma inconsciente, no controle e na percepção do meio interno e vísceras. Tanto o somático quanto o vegetativo, possuem componentes aferentes (sensitivos) e eferentes (motores) (DIAS; SCHNEIDER, 2006). Neste mesmo sentido, Bear (2006, p. 168-182) comenta que alguns desses componentes são essenciais em sua estrutura e ao funcionamento do cérebro. São eles: A medula espinhal ou raquiana (último componente do sistema nervoso central). Ela está localizada dorsalmente, interiormente ao canal vertebral. Nela, a massa cinzenta está localizada mais profundamente e a massa branca mais superficialmente. Assim, é capaz de controlar boa parte dos atos reflexos, sem a interferência do cérebro, mas apesar disso, grande parte dos estímulos recebidos por ela é enviada ao encéfalo, para a distribuição pelos vários centros. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 30 O tronco encefálico (formado pelo mesencéfalo, pela ponte e pela medula) conecta o cérebro à medula espinhal, além de coordenar e entregar as informações que chegam ao encéfalo. Controla ainda a atividade de diversas partes do corpo. O mesencéfalo recebe e coordena informações referentes ao estado de contrações dos músculos e a postura, responsável pelos reflexos. O cerebelo ajuda a manter o equilíbrio e a postura. O bulbo raquiano está implicado na manutenção das funções involuntárias, tais como a respiração. A ponte é constituída principalmente por fibras nervosas mielinizadas que ligam o córtex cerebral ao cerebelo. O tálamo, localizado dentro do prosencéfalo (conhecido como encéfalo anterior), age como centro de retransmissão dos impulsos elétricos, que viajam para o córtex cerebral. Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=areas+funcionais+do+cerebro+ Fonte:+http://www.corpohumano.hpg.ig.com.br/sist_nervoso/cerebro/cerebro. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 31 O sistema nervoso forma no organismo uma rede de comunicações entre a cabeça e todos os órgãos do corpo. Ele é formado pelo tecido nervoso, onde se destacam os neurônios e as células glia (dão sustentação aos neurônios e auxiliam no seu funcionamento). As células glia constituem cerca da metade do volume do nosso encéfalo. Há diversos tipos de células gliais. Os astrócitos, controlando a passagem de substancias do sangue para as células do sistema nervoso. Os oligodendrócitos e as células de Schwann enrolam-se sobre os axônios de certos neurônios, formando envoltórios isolantes. (RELVAS, 2005, p. 23). Os neurônios são células que possuem um corpo celular e prolongamentos. Os prolongamentos curtos são chamados dendritos; os prolongamentos longos, únicos em cada neurônio, são chamados axônio. A função dos neurônios é conduzir impulsos nervosos. Esses impulsos caminham em sentido único, entrando pelos dendritos, passando pelo corpo celular e saindo pelo axônio. Chama-se nervo a um feixe de células nervosas. Fibras nervosas são axônios mielinizados. Os nervos possuem fibras aferentes ou sensitivas, que levam informações aos centros nervosos, e fibras eferentes ou motoras, que trazem as respostas dos centros nervosos. “Organograma do Sistema Nervoso” Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=Áreas+funcionais+do+cérebro+ Fonte:+http://www.corpohumano.hpg.ig.com.br/sist_nervoso/cerebro/cerebro. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 32 Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=Áreas+funcionais+do+cérebro+ Fonte:+http://www.corpohumano.hpg.ig.com.br/sist_nervoso/medulaespinhal. Observando a estrutura do sistema nervoso, percebemos que eles têm partes situadas dentro do cérebro e da coluna vertebral e outras distribuídas por todo corpo. As primeiras recebem o nome coletivo de sistema nervoso central (SNC), e as últimas de sistema nervoso periférico (SNP). É no sistema nervoso central que está a grande maioria das células nervosas, seus prolongamentos e os contatos que fazem entre si. No sistema nervoso periférico estão relativamente poucas células, mas um grande número de prolongamentos chamados fibras nervosas, agrupados em filetes alongados chamados nervos. A esse respeito, Capovilla e do Vale destacam, Muitas funções do sistema nervoso como a sensação, percepção, memória, movimento eação, linguagem, pensamento, emoção, resultam da fina, adequada e harmônica integração de toda a rede neuronal. Diferentes componentes do sistema nervoso periférico e central mantêm-se em uma relação de dependência recíproca, tendo o neurônio como unidade sinalizadora que cumpre funções de transmissão e processamento de sinais através de dois de seus prolongamentos: os dendritos, Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 33 verdadeiras antenas para os sinais provenientes de outros neurônios e o axônio, um prolongamento longo que transporta a mensagem, contida no seu interior, o neurotransmissor, para locais, inclusive de grande distancia, do corpo. (2004, p. 113). Desta forma, essa relação de proximidades e dependência recíprocas localiza em regiões distintas, conjunto de neurônios que levam informação para o SNC: as fibras aferentes (respondem ao estímulo sensorial nos olhos, ouvidos, pele, nariz, músculos, articulações) e as fibras eferentes que enviam sinais para os músculos e as glândulas. Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=Áreas+funcionais+do+cérebro+ Fonte:+http://www.corpohumano.hpg.ig.com.br/sist_nervosoperiferico/cerebro/cerebro. Assim, o SNC (sistema nervoso central) recebe, analisa e integra informações. É o local onde ocorre a tomada de decisões e o envio de ordens. O SNP (sistema nervoso periférico) carrega informações dos órgãos sensoriais para o sistema nervoso central e do sistema nervoso Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 34 central para os órgãos efetores (músculos e glândulas). O SNC divide-se em encéfalo e medula. O encéfalo corresponde ao telencéfalo (hemisférios cerebrais), diencéfalo (tálamo e hipotálamo), cerebelo, e tronco cefálico (que se divide em: bulbo, situado caudalmente; mesencéfalo, situado cranialmente; e, ponte, situada entre ambos). Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=Áreas+funcionais+do+cérebro+ Fonte:+http://www.corpohumano.hpg.ig.com.br/sist_nervosoperiferico/cerebro/cerebro. Os órgãos do SNC são protegidos por estruturas esqueléticas (caixa craniana, protegendo o encéfalo; e coluna vertebral, protegendo a medula - também denominada raque) e por membranas denominadas meninges, situadas sob a proteção esquelética: dura-máter (a externa), aracnóide (a do meio) e pia-máter (a interna). Entre as meninges aracnóide e pia-máter há um espaço preenchido por um líquido denominado líquido cefalorraquidiano ou líquor. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 35 Decorrente disso, compreendemos que no ser humano, todo nosso comportamento, desde as mais simples às mais complexas funções nos mecanismos biológicos pelos quais nos movemos, pensamos, percebemos, aprendemos, lembramos, são reflexos das funções cerebrais. Em sendo, podemos afirmar que o Sistema Nervoso Central (encéfalo e medula espinhal) está contido em um estojo ósseo denominado estojo axial. Este estojo é constituído pelo crânio, que abriga o encéfalo e a coluna vertebral, formada por vértebras nos segmentos cervical, torácica (ou dorsal) e lombar que contém em sua luz (no canal vertebral ou forame vertebral) a medula espinhal, que se entende somente até a primeira vértebra lombar. Já na região lombo-sacral o canal vertebral abriga a cauda equina e o filum terminale. Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=areas+funcionais+do+cerebro+ Fonte:+http://www.corpohumano.hpg.ig.com.br/sist_nervoso/cerebro/cerebro. Córtex significa ‘casca’ em latim. De fato, o córtex é uma fina camada acinzentada que envolve o encéfalo e possui de quatro a nove milímetros de espessura. Também é chamado de neocórtex, de neo = novo em latim, porque é a estrutura mais recente na evolução dos mamíferos e dos primatas. São no córtex que se localizam as células nervosas (neurônios) responsáveis por grande parte dos nossos processos mentais superiores. Na região mais profunda, se encontra a massa branca, nela estão localizados os corpos dos neurônios e também seus axônios e dendritos. Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 36 As diferentes partes do córtex cerebral são divididas em quatro áreas chamadas de lobos cerebrais, tendo cada uma funções diferenciadas e especializadas. Os lobos cerebrais são designados pelos nomes dos ossos cranianos nas suas proximidades e que os recobrem. O lobo frontal fica localizado na região da testa; o lobo occipital, na região da nuca; o lobo parietal, na parte superior central da cabeça; e os lobos temporais, nas regiões laterais da cabeça, por cima das orelhas. O lobo frontal, que inclui o córtex motor e pré-motor e o córtex pré-frontal, está envolvido no planeamento de ações e movimento, assim como no pensamento abstrato. A atividade no lobo frontal aumenta nas pessoas normais somente quando temos que executar uma tarefa difícil em que temos que descobrir uma sequência de ações que minimize o número de manipulações necessárias. A parte da frente do lobo frontal, o córtex préfrontal, tem que ver com estratégia: decidir que sequências de movimento ativar e em que ordem e avaliar o seu resultado. As suas funções parecem incluir o pensamento abstrato e criativo, a fluência do pensamento e da linguagem, respostas afetivas e capacidade para ligações emocionais, julgamento social, vontade edeterminação para ação e atenção seletiva. Traumas no córtex pré-frontal fazem com que uma pessoa fique presa a estratégias que não funcionam ou que não consigam desenvolver uma sequência de ações correta. AS MENINGES O sistema nervoso central é protegido por três envoltórios formados por tecido conjuntivo, denominados, como meninges, sendo estas, na ordem do interior para o exterior: 1. Piamáter (Acolada mais intimamente ao sistema nervoso, é impossível de ser totalmente removida sem remover consigo o próprio tecido nervoso); 2. Aracnóide (Situada entre a Pia e Duramáter, é provida de trabéculas que permite a circulação do líquor); 3. Duramáter (Trata-se do envoltório mais externo e mais forte, que em conjunto com a Aracnóide é denominada como paquimeninge); O conjunto, piamáter e aracnóide é denominado leptomeninge. A MEDULA ESPINHAL Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 37 Etimologicamente, medula significa miolo e indica tudo o que está dentro. A medula espinhal é assim denominada por estar dentro do canal espinhal ou vertebral. A medula é uma massa de tecido nervoso alongada e cilindróide, situada dentro do canal vertebral, sem ocupá-lo completamente e ligeiramente achatada ântero-posteriormente. Tem calibre não uniforme por possuir duas dilatações, as intumescências cervical e lombar, de onde partem maior número de nervos através dos plexos braquial e lombossacral, para inervar os membros superiores e inferiores, respectivamente. Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=areas+funcionais+do+cerebro+ Fonte:+http://www.corpohumano.hpg.ig.com.br/medula_espinhal. Seu comprimento médio é de 42 cm na mulher adulta e de 45 cm no homem adulto. Sua massa total corresponde a apenas 2% do Sistema Nervoso Central humano, contudo inerva áreas motoras e sensoriais de todo o corpo, exceto as áreas inervadas pelos nervos cranianos. Na sua extremidade rostral, é contínua com o tronco cerebral (bulbo) aproximadamente ao nível do forame magno do osso occipital.
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