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RESUMO - FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSÃO DOCENTE - ANTONIO NOVOA

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O texto tem como objetivo abordar o debate acerca 
da formação de professores sob uma perspectiva 
profissional e não acadêmica (área, currículos, etc.). 
Para isso, primeiro apresenta um panorama histórico 
acerca da formação da profissão docente e depois 
apresenta propostas de trabalhos para a formação 
docente relacionadas ao desenvolvimento pessoal, 
profissional e organizacional. 
 
▪ A FORMAÇÃO DA PROFISSÃO DOCENTE: 
APONTAMENTOS HISTÓRICOS 
 
A docência se constitui como profissão depois que o 
Estado substitui a Igreja como entidade de tutela do 
ensino. Os reformadores portugueses do final do 
século XVIII sabiam que esse esforço iria validar 
ideologicamente o poder estatal no processo de 
reprodução social, pois os professores são as vozes 
dos novos dispositivos de escolarização. 
Ao longo do século XIX, o papel do professor ganha 
importância na criação de um Portugal 
contemporâneo. O recrutamento de professores foi 
ficando mais rigoroso e com a criação de uma base do 
sistema educativo, a formação de professores passou 
a constituir uma parte valiosa para a profissão. 
As escolas normais são criadas para o controle do 
corpo profissional de professores e, nas décadas de 
viragem do século XIX para o XX, há um confronto de 
visões acerca da profissão docente dentro desse 
sistema de ensino. Apesar das escolas normais 
difundirem e transmitirem conhecimentos produzidos 
fora da esfera docente, elas também se tornam um 
lugar de reflexão quanto as práticas dos professores 
como profissionais. 
Ainda nesse período acontece uma série de mudanças 
sociológicas no professorado em relação aos ensinos 
primário e secundário. Há o fortalecimento de 
instituições de formação de professores, 
desenvolvimento de sindicatos, mulheres na profissão 
e modificações na organização socioeconômica do 
corpo docente. Apesar do controle estatal sob os 
professores, cresce uma certa autonomia na profissão 
docente. 
Na Primeira República, a ambição de “formar um 
homem novo” deu aos professores a justificativa de 
que para efetuar essa missão eles precisavam de maior 
prestígio, qualificação e autonomia dentro da 
educação. Porém, o Estado não estava disposto a 
abdicar do controle ideológico que mantinham dentro 
do campo educativo, e assim, iniciam-se conflitos pelo 
controle da autonomia educacional. 
+ Para Adolfo Lima (1915), o poder político não é 
capaz de exercer funções específicas da educação no 
que diz respeito ao recrutamento de professores; 
+ Já para Eusébio Tamagnini (1930) o Estado 
organiza o plano dos estudos e os objetivos, mas 
compete apenas ao professor o saber pedagógico. 
Apesar dos dois autores apresentarem perspectivas 
diferentes, ambos chamam a atenção para a 
necessidade da autonomia na profissão docente. Esse 
é o momento-chave da configuração social e 
profissional da formação de professores dentro do 
pensamento docente. 
Durante o Estado Novo há uma política ambígua em 
relação a profissão docente: ao mesmo tempo que o 
Estado exerce um controle autoritário em relação a 
sua autonomia profissional, ele também eleva a 
profissão como símbolo de prestígio social. Nesse 
período, reforçam-se os mecanismos de controle 
ideológico na formação e no exercício da atividade 
docente dentro do funcionamento das escolas normais 
primárias e secundárias. 
+ No ensino primário, houve a redução da condição de 
admissão do ensino normal, em relação aos conteúdos, 
tempo de formação e exigência intelectual. Também 
houve a instauração de controle moral e ideológico nas 
formações, nos estágios e nas avaliações. 
+ No ensino secundário, extinguiu-se a escola normal 
secundária e criou-se o Curso de Ciências Pedagógicas 
e o Liceu Normal, onde separavam-se a preparação 
acadêmica e profissional da prática profissional. Esse 
modelo torna inviável a integração dificultando a 
formação profissionalizante dos professores. 
O período do Estado Novo contribuiu com a 
degradação do estatuto socioeconômico da profissão 
docente e com a elevação da imagem de “funcionário”. 
Essa visão funcionarizada da docência ganha força na 
formação dos professores, enquanto a visão de um 
profissional autônomo e reflexivo perde. 
Ao passar das décadas, realizaram-se debates acerca 
da profissão docente e sua formação: 
a) ANOS 60: 
Portugal surge em último lugar nas estatísticas 
europeias das políticas educativas. Diante disso, urge 
a importância do papel da educação na formação do 
capital humano e cria-se uma escola de planejamento 
de ensino. Nos próximos anos acontece o 
recrutamento massivo de professores em pouco 
tempo, desencadeando ainda mais a 
desprofissionalização da docência. 
b) ANOS 70: 
O ensino normal primário atua sob direção do 
Ministério da Educação e acontece o lançamento de 
Escolas Superiores de Educação com a ajuda do Banco 
Mundial. A formação de professores nas Universidades 
se depara com a visão de setores conservadores, que 
veem o ensino como uma ação que não precisa de 
saberes pedagógicos para se concretizar desde que 
possuam os conhecimentos específicos. Essa década 
ficou conhecida pelas ricas referências teóricas, 
curriculares e metodológicas acerca da construção 
dos programas de formação. 
c) ANOS 80: 
Ficou marcado por desequilíbrios estruturais devido a 
quantidade de professores sem as habilitações 
acadêmicas e pedagógicas necessárias. O poder 
político-sindical procurou remediar a situação através 
de programas de profissionalização em 
exercício/serviço e formação em serviço. Esse esforço 
não surtiu efeito inovador do ponto de vista 
organizativo/curricular e nem do conceitual, no mais, 
reforçou a visão degradada e desqualificada que os 
professores se encontravam devido ao controle estatal 
sob a profissão docente. 
d) ANOS 90: 
Estando a formação inicial em resolução, o foco se vira 
para a formação contínua que lida com as mesmas 
convergências político-sindicais: o sucesso da Reforma 
do Sistema Educativo e do outro lado a concretização 
do Estatuto da Carreira Docente. O Estado procura 
instaurar uma função de regularização que prolongue 
seu controle na profissão, e nisso, a formação contínua 
tende a se articular com os objetivos do sistema. A 
política reformadora tem produzido discursos de apelo 
a participação, reforçando o poder do Estado. 
Produzindo perspectivas sociais e orientações técnicas, 
a tutela político-estatal se estende para uma tutela 
científico-curricular e instaura controles mais sutis 
sobre a profissão docente. 
A preocupação gerada em torno da formação de 
professores, não só diz respeito a ocupação de um 
cargo importante no mercado de trabalho, mas a um 
controle sobre a profissão docente. Com isso, gera-se 
os questionamentos: haverá uma consolidação das 
tutelas do Estado sob a profissão docente ou haverá 
o desenvolvimento científico no ensino por meio da 
autonomia dos professores? 
É preciso reconhecer as falhas científicas e conceituais 
dos atuais programas de formação dos professores, 
situando nossa visão para além das engrenagens 
tradicionais (científico x pedagógico / teoria x 
metodologia) e sugerindo novas maneiras de pensar. 
 
▪ A FORMAÇÃO DE PROFESSORES 
 
Os anos 80 contribuíram com a concepção 
desprestigiada que a profissão docente possui. A falta 
de um projeto que mobilizasse a classe docente, 
dificultou a afirmação social dos professores e abriu 
espaço para uma afirmação mais própria de 
“funcionário” do que de “profissional autônomo”. 
A profissão docente encontra-se sob a influência de 
um processo de proletarização, que degrada o 
estatuto, o rendimento e a autonomia dos professores. 
Esse processo: 
+ Separa a concepção da execução, ou seja, valida a 
intervenção de especialistas científicos na produção 
dos conhecimentos e reduz aos professores apenas a 
aplicação destes; 
+ Intensifica o trabalho dos professores, aumentando 
suas tarefas diárias e colocando uma sobrecarga 
permanente de atividades e avaliações. 
As consequências desse processo navida dos 
professores resultam em: 
+ Economizar esforços e realizar apenas o essencial 
no cumprimento da tarefa; 
+ Apoia-se nos especialistas e acabar depreciando 
suas experiências e capacidades ao longo dos anos; 
+ Perder competências coletivas para ganhar 
competências administrativas; 
+ Perder qualidade para ganhar quantidade. 
 
A formação de professores pode desempenhar um 
papel importante na criação de uma nova 
profissionalidade docente. Estimulando uma cultura 
profissional no seio docente e uma cultura 
organizacional no seio das escolas. Para isso, é preciso 
dar atenção aos principais desenvolvimentos, que são: 
 
a) DESENVOLVIMENTO PESSOAL: 
 
Aqui produz-se a vida do professor, estimula-se sua 
perspectiva crítico-reflexiva e lhes fornece um 
pensamento autônomo e auto formador. Esse 
desenvolvimento não se constrói através de 
acumulações (cursos, técnicas, etc.) mas de reflexões 
sobre as práticas de (re)construção de uma identidade 
pessoal. Por isso, é importante investir na pessoa e o 
seu saber da experiência, pois o que o professor retém 
como referências está ligado à sua experiência e 
identidade construídos ao longo da vida. Além disso, é 
importante também a criação de redes de auto 
formação participada, para estimular a socialização 
profissional e a produção de uma cultura de saberes e 
valores produzidos pelos próprios professores. As 
diferentes perspectivas e o conhecimento profissional 
partilhados dos professores, ajudam nos percursos da 
formação e sua formulação teórica. Ao mesmo tempo 
que o professor produz sua vida, ele também produz 
sua profissão. 
 
b) DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL: 
 
Aqui produz-se a profissão docente, onde os 
professores são profissionais reflexivos que assumem 
a responsabilidade pelo seu desenvolvimento 
profissional e participam como protagonistas na 
implementação de políticas educacionais. As situações 
que os professores enfrentam/resolvem tem 
características únicas e exigem respostas únicas, por 
isso, é preciso investir nesses saberes e trabalhá-los 
num ponto de vista teórico e conceitual. Além do 
científico é preciso trabalhar o pedagógico, pois a 
problemática do ensino não se encontra apenas na 
valorização dos saberes dos professores, mas também 
no esforço para a imposição de saberes “científicos”. 
Diante disso, é importante o investimento nas relações 
dos professores com o saber pedagógico e científico, 
passando pela experimentação, inovação e ensaios 
acerca dos modelos de trabalho pedagógico e a 
reflexão sobre sua utilização. Ao mesmo tempo que é 
preciso produzir sua profissão, é também preciso 
produzir o lugar em que ela intervém. Em outras 
palavras, o desenvolvimento profissional dos 
professores tem que estar articulado com as escolas 
e seus projetos. Essa formação profissional não se 
realiza antes ou depois, e sim durante, tornando-se 
uma prática devidamente contínua. 
 
c) DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL: 
Aqui produz-se a escola, investindo em projetos 
educacionais que articulam a formação contínua com 
a gestão escolar, as práticas curriculares e as 
necessidades dos professores. Essa formação não deve 
ser encarada como uma função distinta dentro de um 
projeto, mas como um processo permanente e 
integrado no dia-a-dia das escolas e professores. O 
uso das experiências inovadoras dos professores pode 
ajudar a implantar práticas diferenciadas de formação 
contínua, não oficializando nada, mas disseminando a 
ideia para que as práticas se adequem a outras 
pessoas e outros ambientes, tornando-se únicas de 
cada local. Com isso, uma nova cultura da formação 
de professores será criada, pois eles serão 
protagonistas nas diversas fases da formação: na 
concepção, no acompanhamento, na regulação e na 
avaliação. Além disso, é preciso estabelecer um elo 
positivo entre os poderes dos atores sociais, 
profissionais e institucionais, uma vez que a 
aprendizagem em comum facilita a consolidação de 
dispositivos de colaboração profissional. A formação 
contínua deve investir nas experiências inovadoras que 
já existem no sistema educativo, as transformando do 
seu ponto de vista, invés de instaurar novos 
mecanismos de controle e enquadramento. É preciso 
unir a lógica dos professores com a lógica das 
instituições de formação, não esquecendo que a 
formação é inseparável dos projetos profissionais e 
organizacionais. 
 
Por fim, o texto procura colaborar coma valorização 
das pessoas e dos grupos que têm lutado pela 
inovação no interior das escolas e do sistema 
educativo contra as que valorizam a tentativa de 
imposição de novos mecanismos de controle e 
enquadramento. A formação de professores localiza-
se nesse confronto. 
 
REFERÊNCIAS: 
 
NÓVOA, António. Formação de professores e profissão 
docente. In: Os professores e a sua formação. Lisboa: 
Dom Quixote, 1992. pg. 13-33.

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