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1 Semiologia Neurológica Larissa Melo Moura Mariana Campos Função Motora e Tônus Muscular O que é que mede a força? É o quanto o músculo vence a resistência. Quando eu for examinar, checar ou avaliar a força muscular do paciente, a primeira coisa a ver é se ele contrai. Segunda coisa é movimentar uma articulação. A terceira coisa é ver se ele vence resistência e a resistência mais comum que um músculo, membro ou articulação do nosso corpo vence é a gravidade. E, para alguns movimentos, se for preciso ficar de pé, é necessário também vencer a força peso. Então, é preciso checar a capacidade que o músculo tem de contrair, movimentar uma articulação, vencer a gravidade e vencer resistências (incluindo a do próprio peso). Sabendo disso que se é possível saber graduar a força. Relembrando o que atua na manutenção da força e da motricidade Quem é responsável pela força muscular? 1° e 2° neurônio motor. Nosso 1° neurônio motor, que faz parte do sistema piramidal, é responsável pelo comando do movimento até o segundo neurônio motor que vai executar o movimento, é o 2° neurônio quem vai realizar a contração muscular . O que é que o sistema piramidal faz? Comanda, inicia a informação. O primeiro neurônio, então, é quem exerce o comando e o segundo, a contração. Considerando que o 2° é quem executa, podemos considerar ele como facilitador do movimento, ele facilita a contração muscular. Ele tende a fazer, tende a contrair. Enquanto que o primeiro motor faz a regulação da contração e algumas vezes até a inibição do segundo neurônio motor, pois se deixar o 2° sem regulação, ele meio que “faz o que quiser”, não em movimentos, mas em termos de contração muscular. É por isso que quando eu tenho o 1° neurônio motor perfeito e o segundo neurônio motor perfeito, tem-se uma contração muscular basal, que me permite manter a forma do meu músculo em estado perfeito, basal também. O que é isso? Uma contração mínima para manter o formato do músculo? É o tônus. Se por acaso, não tiver um 1° neurônio motor perfeitamente funcionando, regulando e às vezes até inibindo, o que acontece com meu tônus? O tônus aumenta (hipertonia), porque é ele quem regula, se ele não tem quem regular, o 2° neurônio motor vai facilitar a contração, aumentando o tônus. Isso também acontece com o reflexo. Se o 1° neurônio não estiver lá para inibir ou regular o 2° neurônio, o reflexo aumenta. E, o contrário existe quando a lesão é do 2°, o que acontece com meu tônus, já que é ele quem facilita? O tônus diminui (hipotinia) e o reflexo também diminui, podendo chegar até a arreflexia, já que não tem o 2° neurônio motor que é quem promove a contração. Porém, existe uma terceira característica dos músculos relacionado a esse balanço de contração muscular que é um pouco diferente. Quando se pensa em musculatura, quais as características que vem a mente, fora tônus, reflexo e força? Seria o trofismo muscular, que é a quantidade de massa, a de fibras e o tamanho do músculo. Se eu tiver uma lesão de segundo neurônio motor, o que acontece com o trofismo muscular? Cai, tem até uma atrofia. E, se eu tiver uma lesão de segundo neurônio motor, o que acontece com o trofismo? Um distrofismo (dis= mudança de algo). O que é que acontece quando se tem um AVC? Se eu tiver uma lesão piramidal, o trofismo também pode cair, a diferença é que acontece de forma crônica, gradual e variável. Por que isso acontece? 2 Semiologia Neurológica Larissa Melo Moura Mariana Campos Nosso 2° neurônio motor faz parte da homeostase muscular, o músculo precisa de inervação, irrigação para que ele possa se manter como é. E, eu preciso do meu 2° neurônio motor mantendo meu tônus, minha contração basal para que meu músculo tenha um formato. O neurônio também serve para manter a homeostase muscular, porque ele fica em contato constante com o músculo, mantendo o tônus e a contração mínima adequada e etc, e o músculo vai recebendo destino e vai se mantendo saudável. Se eu perco isso de uma vez e o músculo para de receber qualquer estímulo, o que acontece com ele? Ele para de ter serventia, então perde massa rápido, reduz fibra rápido, porém não morre, porque ele não para de receber suprimento sanguíneo, energia, nada. O músculo continua vivo, mas perde função, porque não tem mais nada estimulando. Agora, se eu perco o 1° que não está ligado diretamente ao músculo, mas a quem comanda, ele perde a serventia ao longo do tempo, para de usar ao longo do tempo. Então, de forma gradual, ele começa a perder massa também, como quando vai para academia, ganha uma massa muscular e, se para um tempo, depois perde, porque para de usar aquele músculo como era antes. Mas, continua com a célula saudável mantendo uma certa homeostase. Assim, a atrofia do 1° neurônio motor acontece, porém é mais leve, variável e tardia (ao longo do tempo). Considerando isso, eu consigo diferenciar do meu exame físico através de tônus, reflexo e etc, se a lesão é de primeiro ou segundo motor, porque falta de força vai ter nos dois e sabendo que é preciso ver contração muscular, capacidade de movimentar uma articulação, capacidade de vencer a gravidade e resistência, eu consigo graduar a força. Essa tabela é a de graduação de força internacional, na qual eu consigo colocar minha força muscular graduada de 0 a 5. A grau 5 é a normal, é a que vence resistência normal, contrai normal...é o basal. A grau 4 é uma força que tem uma boa contração, vence gravidade e vence resistência, mas não tanto quanto a normal. Por exemplo: ela é uma pessoa que tem uma paresia de um lado, consegue abrir uma garrafa, segurar uma bolsa, consegue vencer uma resistência, mas não tão bem quanto o lado contralateral saudável ou quanto o que ela era anteriormente da lesão. Então, a força grau 4 vence resistência, mas não tão bem como antes. Na força grau 3, você consegue movimentar a contração e vencer a gravidade, mas não consegue vencer resistência externa. É um braço que levanta , mas se repetir qualquer força contra ele, ele cai. Na força grau 2, não vence gravidade, consegue se movimentar ao longo do plano, contrai o suficiente para movimentar uma articulação, mas não consegue levantar contra a gravidade. Na força grau 1, tem esboço da contração muscular mas não movimenta nada e o grau 0 não tem nada, nem esboço de contração. Por exemplo, você vê 3 Semiologia Neurológica Larissa Melo Moura Mariana Campos o músculo parado, pede para o paciente mexer e observa que o bíceps contraiu um pouco, as vezes até sente que alguns grupamentos musculares contraem. A título de classificação, apenas a força grau 0 é considerado plegia. Os demais, até grau 4, são considerados paresia, como grau 5 é normal, não se enquadra em nenhum desses dois. Então, se tiver diante de uma força grau 0, é uma plegia. Se tiver na dúvida, porque as vezes é muito difícil de perceber esboço, considera que é grau 0 e que é plegia também. A partir de 1 grau até 4, paresia. Com isso se consegue denominar: hemiparesia(metade do corpo) ou plegia, para (membros inferiores), mono(um dos membros), tetra (os 4 membros) e di(quando acontece uma hemiparesia em um momento e depois outra hemiparesia, é um paciente que teve um AVC de um lado e depois de outro, é diferente da tetra, pois a tetra acontece no mesmo momento e a di em momentos diferentes). Existem duas maneiras de testar: a primeira são as manobras contra a resistência do examinador. Preciso checar se o músculo contrai ou movimenta e vence resistência, então é preciso imprimir uma resistência a movimentação daquele músculo e vou checar se ele vence. A segunda forma é a partir da manobra deficitária, que é contra a resistência do próprio corpo do paciente. Exame de força no Exame Físico: - De cima para baixo; - Do proximal para o distal; Sempre comparando proximal com distal e um ladocom outro. Em algumas manobras se consegue checar com as duas mãos ao mesmo tempo e outras, checa-se de um lado e depois do outro. Além disso, sempre se examina o paciente do lado direito. Elevação dos ombros Começando de cima para baixo, começa a partir dos ombros, o primeiro a se fazer é testar a sua elevação: pede pra elevar os ombros, faz força e não deixa abaixar. Com isso, pedi para o paciente fazer um movimento contra a gravidade, coloquei uma resistência com a força, ele não cedeu, os dois lados iguais, então, tenho força grau 5. Abdução e adução dos braços Levanta os braços, pede para o paciente não deixar baixar. Coloco força proximal aos braços e depois fecho os braços. Com isso, eu vejo a abdução e adução contra a resistência. O mesmo se faz dos dois lados. Resumindo: pede para levantar e faz força pra baixo para ver a abdução e pede pra baixar e faz força pra cima para ver a adução. Sempre se faz força no movimento contrário o qual se quer testar. Flexão e extensão do antebraço Nessa manobra, primeiro se estabiliza o cotovelo. Peço para o paciente puxar o braço pra ele e eu puxo para mim. Você faz uma força distal, porque se não fica difícil para ele e eu quero a melhor força do paciente. Sempre a mão que eu imprimo a força de um lado, vou fazer o mesmo do outro lado, para não haver distorção. Flexão e extensão dos punhos Estabilizo o punho e coloco força contra a flexão do punho, pois quero ver a flexão, então, eu tenho que estender, ele vai flexionar contra a resistência. Na extensão, eu tento flexionar e do mesmo jeito comparo as duas mãos. Força geral da mão 4 Semiologia Neurológica Larissa Melo Moura Mariana Campos Pede para o paciente apertar a mão com força ou os dois dedos com força, sendo esses dos dois dedos mais sensíveis. Depois disso, consigo sistematizar melhor o exame das mãos vendo os nervos. Vou pedir para juntar fazendo um “ok” e vou tentar abrir colocando força proximal aos dedos e comparo com o outro lado, caso coloque distal, o paciente abre. Após isso, faz-se com o dedo mínimo e o polegar para ver o nervo ulnar e o opositor do dedo mínimo, sempre fazendo força proximal dos dois lados. Abdução do dedo mínimo Pede para o paciente tentar abrir o dedo mínimo O examinador deve imprimir uma força proximal, tentando fechar o dedo Tem intuito de ver a força do M. abdutor do dedo mínimo Sistematização dos nervos envolvidos em cada movimento Extensão do punho Nervo radial Flexão do punho Nervo mediano Sinal de OK (polegar com indicador) Nervo mediano Oposição ao polegar Nervo ulnar Abdução do dedo mínimo Nervo ulnar Nas lesões piramidais a fraqueza tende a ser mais distal, então se faz necessário comparar a força proximal e distal do paciente. O exame da mão é um exame muito sensível pelo fato da mão ter muitos movimentos diferentes, a partir desse exame se consegue ter um domínio geral da graduação da força da mão do paciente e dessa forma caracterizar diferentes comorbidades associadas, em um AVC, por exemplo, a mão inteira fica enfraquecida, entretanto, no caso de uma lesão de 2 neurônio motor, como uma síndrome de túnel do carpo ou uma lesão de nervo ulnar no epicôndilo, apenas aquela área vai estar mais fraca, pois estará relacionada com alteração de um nervo especifico Manobras deficitárias para o membro superior 5 Semiologia Neurológica Larissa Melo Moura Mariana Campos Em alguns casos não é possível verificar um déficit de força caso este seja muito sensível ou se o paciente for muito mais forte do que o examinador, nesses casos, é necessário fazer com que o paciente vença a sua própria resistência e para isso o examinador irá fazer uso das manobras deficitárias. 1. Mingazzini de membros superiores ou manobra dos braços estendidos O examinador irá pedir para o paciente elevar os braços e esticar, separar os dedos e fechar os olhos Dever ter no mínimo 1 minuto de duração ou, para maior sensibilização, 2 minutos O fato de fechar os olhos é necessário para sensibilizar mais o exame, pois o paciente perde a propriocepção visual Quando há uma lesão piramidal, a primeira musculatura que fadiga é a dos extensores dos dedos, dessa forma o examinador irá ver o paciente flexionar os dedos. 2. Manobra dos braços em supino O examinador irá pedir para o paciente elevar os braços, colocar a mão em supinação, esticar e separar os dedos e fechar os olhos Dever ter no mínimo 1 minuto de duração ou, para maior sensibilização, 2 minutos A segunda musculatura a fadigar é a dos pronadores, ou seja, primeiro os dedos irão flexionar e em seguida o punho e o braço irão pronar A terceira musculatura que fadiga é a dos extensores do antebraço, fazendo o braço cair Por essas musculaturas serem as mais atingidas, quando um paciente tem um AVC dentre as sequelas mais comuns estão o braço flexionado pronado com a mão fechada. Membros Inferiores Começa de proximal para distal comparando um lado com o outro lado, mantendo sempre a avaliação com a mesma mão dos dois lados. 6 Semiologia Neurológica Larissa Melo Moura Mariana Campos 1. Flexão da coxa sobre o tronco Pede-se para o paciente flexionar a perna contra o tronco O examinador deve imprimir força no sentido de tentar abaixar a perna 2. Abdução da coxa Pede-se para o paciente fazer o movimento de abrir as coxas O examinador deve imprimir força no sentido de fechar as coxas 3. Adução da coxa Pede-se para o paciente fazer o movimento de fechar as coxas O examinador deve imprimir força no sentido de abrir as pernas 4. Extensão da perna Estabilizar o joelho do paciente com uma das mãos Pede-se para o paciente fazer o movimento de esticar a perna O examinador deve imprimir força distal no sentido de impedir o movimento 5. Flexão da perna Estabilizar o joelho do paciente com uma das mãos Pede-se para o paciente fazer o movimento de flexionar a perna O examinador deve imprimir força distal no sentido de impedir o movimento 6. Dorsiflexão do pé Pede-se para o paciente fazer o movimento de levantar o pé O examinador deve imprimir força no sentido de impedir o movimento 7. Flexão plantar Pede-se para o paciente fazer o movimento de abaixar o pé O examinador deve imprimir força no sentido de impedir o movimento 8. Inversão do pé Pede-se para o paciente fazer o movimento de colocar o pé para dentro O examinador deve imprimir força no sentido de impedir o movimento 9. Eversão do pé Pede-se para o paciente fazer o movimento de colocar o pé para fora O examinador deve imprimir força no sentido de impedir o movimento Da mesma forma que ocorre nas mãos, quanto mais distal, mais características apresenta da lesão piramidal. No caso de uma lesão no nervo fibular, por exemplo, o pé do paciente fica caído (marcha escarvante). Quando há uma lesão no nervo fibular, indícios de fraqueza se mostram na dorsiflexão e eversão do pé. Manobras deficitárias dos membros inferiores 1. Mingazzini 7 Semiologia Neurológica Larissa Melo Moura Mariana Campos Paciente deve flexionar o joelho, manter coxa a 90 graus do troco, a perna a 90 graus da coxa e o pé a 90 graus da perna A outra perna deve estar na mesma posição sem que encostem uma na outra Deve durar de 30 segundas a 2 minutos Pode fazer uma perna depois a outra, sendo que nesses casos deve-se deixar 2 minutos Quando há uma lesão piramidal os dedos flexionam, o pé cai e por último a perna cai Muito importante, pois mostra déficits muito leves Levando em consideração a escala de força de 0 a 5, qual a quantidade mínima de força uma pessoa precisa para andar?4, pois para ficar de pé é preciso pelo menos vencer a resistência do corpo. Em relação a avaliação do tônus muscular são vistos os movimentos passivos do corpo (paciente relaxado). Nessa avaliação buscamos perceber se no movimento passivo há facilidade, que é o estado normal. Quando existe uma lesão piramidal o tônus aumenta e ocorre uma resistência ao movimento passivo no início, mas em seguida o movimento se solta de forma brusca (sinal do canivete). Esse cenário é chamado de hipertonia elástica ou espasticidade. Por sua vez, uma lesão extrapiramidal do tipo parkinsonismo, o tônus também aumenta, só que dessa vez durante todo o movimento passivo. Esse cenário é chamado de hipertonia plástica ou rigidez (sinal da roda dentada). Na lesão do 2 neurônio motor o tônus diminui, ocorrendo uma hipotonia, com um movimento mais solto. Nível de consciência Agitação Dificuldade de manter a atenção em uma só coisa sem conseguir se manter quieto Alerta Capacidade de interagir com o meio e responder a essa interação por no mínimo 10 segundos Sonolência Está com olhos fechados, mas a qualquer estímulo mínimo acorda, mantem atenção por algum tempo e dorme novamente ao cessar o estímulo Estupor Precisa de estímulo vigoroso para responder Coma Não responde a estímulo nenhum