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Curatela e Tutela com ênfase no Estatuto da Pesso com Deficiência - Direito Civil

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CENTRO UNIVERSITÁRIO PRESIDENTE TANCREDO DE ALMEIDA NEVES
· Bruno Andrade
· Caroline Oliveira
· Dircineia Santos
· Ednaldo Vitor
· Samira Sade
Direito Civil VI
Professor: Welinton Augusto Ribeiro
Breves apontamentos sobre os institutos da Tutela e da Curatela com especial atenção ao Estatuto da Pessoa com Deficiência
SÃO JOÃO DEL-REI
 Novembro de 2019
Sumário
	
1. Introdução _________________________________________________ 3
2. Tutela: Acepção _____________________________________________ 4
3. O ECA e o instituto da tutela __________________________________ 6
4. A possibilidade da Tutela Compartilhada _______________________ 7
5. As diferentes Espécies de Tutela ______________________________ 8
5.1. Documental ________________________________________________ 8
5.2. Testamentária ______________________________________________ 8
5.3. Legítima ___________________________________________________ 9
6. Curatela: Acepção _________________________________________ 10
7. Curatela Compartilhada ____________________________________ 13
8. Espécies de Curatela _______________________________________ 13
9. Legitimidade para propositura da ação de interdição ____________ 13
10. Curatela do enfermo e do idoso______________________________ 14
11. Inovações trazidas pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência _____ 15
12. Exercício da Curatela ______________________________________ 17
13. Dever de Prestação de contas _______________________________ 18
14. Considerações Finais ______________________________________ 19
15. Referências Bibliográficas ___________________________________ 20
1. Introdução
Procuramos discorrer neste trabalho sobre os aspectos precípuos dos institutos de Tutela e Curatela, enfatizando as mudanças trazidas pelo Estatudo da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015) à curatela. 
Em um primeiro momento, acreditamos ser imperioso destacar que, embora semelhantes em alguns aspectos, a tutela e a curatela são institutos completamente autônomos que se destinam a proteger pessoas inaptas que necessitem de outros para agir e tomar decisões em seu nome. 
Incorrendo no risco de sermos simplistas, poderíamos conceituar a tutela enquanto:
a autorização judicial concedida a um adulto capaz, para que proteja, zele, guarde, oriente, responsabilize-se e administre os bens de menores cujos pais são falecidos ou estejam ausentes, até que completem 18 anos de idade.	Isto é, é a possibilidade de um adulto capaz gerir e se responsabilizar pelos bens de crianças e adolescentes.
Já a curatela é o instituto que:
institui um curador, que é a pessoa que vai cuidar de pessoas que não têm capacidade física ou mental para gerir sua vida. A ação se chama ação de interdição e ela decreta que aquela pessoa é incapaz de administrar os bens e as despesas. Nomeia-se um curador que vai exercer os atos em nome dessa pessoa
	Destarte, a curatela é a possibilidade de um adulto capaz gerir e se responsabilizar pelos bens das pessoas declaradas judicialmente incapazes. Enquanto a tutela é a autorização concedida a um adulto capaz para que este se responsabilize e administre os bens de menores cujos pais tenham falecido ou estejam ausentes. 
	Neste sentido, é mister ressaltar que o Estatuto da Pessoa com Deficiência veio dar novos contornos ao que se considera “incapacidade”. Assim, percebemos determinada graduação concernente à “incapacidade”, de modo que a dignidade da pessoa humana seja preservada. Isto é, visando o princípio basilar de nosso Estado Democrático de Direito – a dignidade da pessoa humana – o Estatuto busca desconstruir a ideia de “incapacidade”, de modo que as pessoas possam cada vez mais exercer sua autonomia, se autodeterminar e cuidar dos próprios interesses, claramente, respeitando os limites de sua capacidade. 
Nos próximos tópicos, trataremos sobre cada um dos supracitados institutos de forma mais detalhada.
2. Tutela: Acepção
	É cediço que as crianças e adolescentes gozam de proteção máxima do Estado, visto que constitucionalmente, o artigo 227 de nossa Lei Maior, institui o princípio da “prioridade absoluta”, de modo que seus interesses devam ser protegidos por todos – família, Estado e sociedade, in verbis:
Art. 227 É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.	
	Assim, diante da possibilidade de uma criança ou adolescente se encontrar sem a proteção dos pais, surge a tutela, que seria, assim, um instituto do direito de família utilizado para suprir o poder familiar que por qualquer motivo deixe de existir. Deste modo, a tutela visa a assistir o menor, zelando pelo seu bem estar e, atribuindo a uma pessoa maior e capaz, os poderes necessários para proteger e dar assistência ao menor, no caso da falta dos pais – que são os primeiros responsáveis, de forma direta. Consoante Roberto João Elias, a tutela supre o poder paternal, sendo subsidiário a este, vejamos:
Na falta dos pais, por quaisquer motivos, é necessário que alguém os substitua, aparando aqueles que, pela pouca idade e inexperiência, não tem condições de viver sozinhos e praticar todos os atos necessários à sua subsistência e a uma vida normal em sociedade. A tutela supre o poder paternal, tendo um caráter subsidiário, na falta dele.
	Portanto, uma vez que ambos os pais estejam ausentes (seja por estarem falecidos ou por outros motivos, como uma possível suspensão ou perda de guarda), é necessário que o menor tenha alguém para representá-lo nos atos da vida civil, além de dispensar-lhe a proteção essencial para seu desenvolvimento integral e saudável. Assim, surge a figura do tutor, que preenche a lacuna criada pela ausência paterna e materna. 
	A princípio, poderíamos vislumbrar a tutela enquanto instituto ideal para a concretização da proteção ao menor. Contudo, doutrinariamente, percebemos que a figura do tutor vem se tornando obsoleta, visto que ele vem se destinando tão somente à proteção patrimonial, isto é, ele se encarrega unicamente da gestão dos bens dos menores e não com o bem-estar pleno destes – o que seria o esperado. Deste modo, o tutor benificiaria as crianças e adolescentes que dispusessem de bens, e não a totalidade das crianças e adolescentes. Depreende-se, então, que o preconizado por nossa Carta Magna e pelo ECA – a preocupação em alocar o menor em uma família substituta – se esvai e não acontece faticamente. Esta crítica busca demonstrar que o tutor não deve se restringir a cuidar do patrimônio do menor, mas deve se responsabilizar por sua criação, sua educação, suprindo efetivamente o papel dos pais ausentes ou falecidos e possibilitando que os menores cresçam no seio de uma família.
	A preferência na nomeação dos tutores é dos parentes do menor, consoante disposto no artigo 1731 do Código Civil:
Art. 1.731. Em falta de tutor nomeado pelos pais incumbe a tutela aos parentes consangüíneos do menor, por esta ordem:
I - aos ascendentes, preferindo o de grau mais próximo ao mais remoto;
II - aos colaterais até o terceiro grau, preferindo os mais próximos aos mais remotos, e, no mesmo grau, os mais velhos aos mais moços; em qualquer dos casos, o juiz escolherá entre eles o mais apto a exercer a tutela em benefício do menor.
	Acreditamos que esta preferência faz todo o sentido quando pensamos no melhor interesse da criança e no seu direito fundamental de convivência familiar. Nomeando-se um tutor que já tenha convívio com o menor pode-se diminuir o impacto que a falta dos pais traz à saúde emocional da criança e do adolescente. Resta claro que a tutela é um dever público de caráter jurídico-familiar – o que justifica a preferência pela família do menor. Neste diapasão, é interessante corroborar quepara a nomeação do tutor dever ser sempre resguardado o melhor interesse do tutelado, de modo que deve ser escolhido como tutor, aquele que apresente laços de maior afetividade com o menor.
	Ainda que o tutor deva, da melhor maneira possível, suprir a falta dos pais do menor, é necessário enfatizar que seus poderes são limitados e que seus atos são regularmente fiscalizados. Um exemplo típio da diferença entre o poder dos pais e o poder dos tutores é o caso do usufruto – enquanto pais podem ser usufrutuários dos bens do filho, aos tutores não cabe tal direito.
	Há, ainda, algumas outras peculiaridades que devem ser observadas. No caso de irmãos que necessitem de tutela, a preferência é de que haja apenas um tutor para todos. No entanto, não podendo ser atendida esta demanda no caso concreto, é possível que tutores diferentes sejam nomeados.
	Ao fim da tutela – que pode acontecer quando da maioridade do menor ou por outros motivos, como regresso dos pais ou extinção da suspensão de guarda, por exemplo – o tutor deve prestar contas de sua gestão e, após tal prestação, não sobeja nenhum compromisso ou responsabilidade entre tutor e tutelado. Fato interessante é que, uma vez não havendo objeção legal, o tutor pode, inclusive, adotar ou casar-se com o tutelado.	
3. O ECA e o instituto da tutela
	O estatuto da criança e do adolescente prevê o instituto da tutela em seu artigo 36, in litteris:
Art. 36. A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos. 
Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe a prévia decretação da perda ou suspensão do poder familiar e implica necessariamente o dever de guarda. 
	O deferimento da tutela acontece através de um processo, cuja competência para julgamento é da Vara de Família (no caso de menores que vivam no seio familiar) e da Vara de Infância e Juventude (no caso de menores que estejam em situação de risco). Em ambos os casos, é do Ministério Público a legitimidade para propor a ação de nomeação de tutor, da mesma forma que é do Parquet a legitimidade para a ação de apresentação de contas do tutor, quando finda a tutela.
	Neste sentido, vale observar que, a nomeação do tutor ocorre após a suspensão ou perda do poder familiar. Em ambos casos, nomear um tutor é uma solução viável para que o menor não fique desprotegido, contudo, resta questionar se a nomeação de um tutor é a medida ideal no caso de perda do poder familiar. A suspensão é uma situação temporária, na qual o menor pode voltar a viver com os pais, contudo, a perda do pátrio poder é perene, desta forma, a solução preferível seria a do encaminhamento do menor para adoção, visto que, uma vez que inexiste a possibilidade de que ele volte a viver com os pais, o ideal seria que fosse acolhido por outra família, convivendo e se desenvolvendo neste seio familiar. 
	Mais ainda, é interessante notar que, uma vez que o menor esteja sob o poder familiar, ao invés de tutela, deve ser concedida a guarda.
	Outro fato interessante a ser pontuado é o de que, ainda que exista a possibilidade do tutor adotar o tutelado, isto não o exime da prestação de contas prévia, uma vez que a adoção não pode ser utilizada pelo tutor para se livrar da prestação de contas.
4. A possibilidade da Tutela Compartilhada
	
	O artigo 1733, § 1º, do Código Civil não permite a nomeação de mais de um tutor:
Art. 1.733. Aos irmãos órfãos dar-se-á um só tutor.
§ 1o No caso de ser nomeado mais de um tutor por disposição testamentária sem indicação de precedência, entende-se que a tutela foi cometida ao primeiro, e que os outros lhe sucederão pela ordem de nomeação, se ocorrer morte, incapacidade, escusa ou qualquer outro impedimento.
	Contudo, cumpre aduzir que, pelas dificuldades inerentes à assunção do encargo da tutela, ainda que o Código Civil explicitamente “proíba” a nomeação de mais de um tutor, para o melhor interesse da criança, no caso em concreto, é possível que sejam nomeados dois ou mais tutores. Isto é, se for atestado que é melhor para o tutelado que dois ou mais tutores assumam a responsabilidade da tutela, isto pode acontecer. Pensemos, por exemplo, no caso de um casal, para o menor, é interessante que os dois assumam sua tutela e lhe permitam viver em família, ambos compartilhando a responsabilidade de zelar e proteger o menor.
5. As diferentes espécies de Tutela
	
	As espécies de tutela variam de acordo com a maneira como são instituídas, sendo elas: 
5.1. Documental 
	É a tutela prevista no artigo 1729 do Código Civil, que prevê que compete aos pais nomear o tutor, desde que eles estejam aptos para realizar tal nomeação, caso contrário o ato será nulo. A tutela deve ser instituída por testamento ou por qualquer outro documento autêntico, tais como escritura pública, escrito particular e até mesmo por carta, desde que fique claro no documento a nomeação e a identidade do signatário.
5.2. Testamentária
	É a tutela instituída via testamento. Neste caso, qualquer um dos pais pode instituir a tutela por este meio, contudo, vale lembrar que se os dois a fizerem através de testamento, cada um deve nomear o tutor em documentos distintos, uma vez que o ordenamento não permite o testamento em conjunto. Se, posteriormente, o testamento for considerado nulo ou anulável, ainda assim deve ser reconhecida a nomeação, desde que reste comprovado que não há dúvida quanto à vontade do testador.
	O artigo 37 do ECA prevê que o tutor deve ingressar com o pedido de controle judicial do ato, no prazo de 30 dias após a abertura da sucessão – assim, a tutela lhe pode ser deferida. É importante ressaltar que este deferimento só ocorrerá no caso de se comprovar que o ato será benéfico ao tutelado, isto é, se for provado que a disposição de última vontade dos pais será vantajosa ao menor e, ainda, que não exista outra pessoa em melhores condições para exercer a tutela.
	Um ponto interessante a ser observado é o de que, assim como a disposição de última vontade pode instituir um tutor, pode também excluir uma pessoa para o exercício da tutela. Isto é, os pais podem deixar claro em testamento o nome de pessoas que não poderão exercer a tutela dos filhos, de modo que esta pessoa se torna incapaz para tal.
	No caso de um pai nomear um tutor em testamento e vir a falecer, contudo, o outro genitor sobreviver, o genitor sobrevivente passa a exercer o pátrio poder, não se falando em tutela neste caso. Deste modo, percebe-se que, somente na ausência de ambos os genitores, é que o tutor poderia exercer a tutela. 
	Existe ainda a possibilidade de os genitores nomearem tutores distintos. Neste caso, cabe ao juiz a decisão sobre quem exercerá a tutela, lembrando que para tal decisão será considerado o melhor interesse do tutelado.
5.3. Legitima
	A tutela legitima ocorre quando os pais não nomeiam o tutor, sendo, então, chamados os parentes consanguíneos. O supracitado artigo 1731 do Código Civi, estabelece a ordem de chamamento dos parentes conforme o grau de parentesco. No entanto, este artigo não impede o juiz de escolher como tutor aquele atende ao melhor interesse do menor. Assim, a ordem não é taxativa, podendo ser inobservado para beneficiar o tutelado. 
No caso de o tutor descumprir, injustificadamente, os seus deveres de guarda, educação e sustento do menor, a tutela poderá ser revogada, conforme preconiza o artigo 38 do ECA, que dispõe que aplica-se à destituição da tutela, o disposto no artigo 24:
Art. 24. A perda e a suspensão do pátrio poder poder familiar serão decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o art. 22.
O procedimento adotado para remoção do tutor é ditado pelo Código de Processo Civil. Quanto à legitimidade, pode-se dizer que tanto o Ministério Público ou quem tenha o legítimo interesse de agir podem pleitear a dispensa ou remoção definitiva do tutor. Caso haja grave prejuízo ao tutelado, seja por culpa ou dolo, pode-se obter por liminara suspensão do encargo, ficando o tutor responsável por sanar os prejuízos causados durante o período de sua tutela. 
Para que haja remoção do tutor basta que o juiz suspeite que sua tutela esteja sendo ineficiente. O tutor será destituído sumariamente caso cometa, no exercício da tutela, qualquer crime de forma dolosa contra o tutelado, sendo este um efeito da condenação por reclusão observado no art. 92, II do nosso Código Pena.
6. Curatela: Acepção
Consoante entendimento legislativo, ao completar dezoito anos, a pessoa atinge a maioridade, de modo que presume-se que ela adquiriu capacidade plena para gerir sua vida, não mais necessitando do auxílio de um curador.
Existem, contudo, casos excepcionais nos quais a pessoa atinge a maioridade porém, carece da capacidade para gerir seus bens e sua vida de maneira independente. Nesses casos, é necessário que seja nomeado um curador para assistir à pessoa nos atos de sua vida. Deste modo, a curatela é um instituto criado para zelar pelos interesses da pessoa maior de idade que seja incapaz de gerir sozinha sua vida e administrar seu patrimônio.
Estão sujeitos à curatela os nascituros, os ébrios habituais (alcoólatras); os viciados em tóxicos; as pessoas que por motivos transitórios ou definitivos não possam exprimir sua vontade; e os pródigos (pessoas que administram mal seus bens, esbanjadores).. É interessante notar que “nascituros” constam no rol de possíveis curatelados, ora, pode sobrevir o questionamento de que a tutela seria o instituto aplicável neste caso. Porém, acreditamos que se possa jogar luz sobre o assunto através das palavras de Verônica Stefany Lopomo:
O curador do nascituro é um representante do nascituro, o qual deve resguardar seus interesses. O curador pratica atos de interesse do nascituro, até que este nasça, da mesma forma que seria cabível aos pais. O curador existe para que os direitos do nascituro sejam preservados, que estes direitos sejam defendidos, vez que o nascituro é incapaz. 
Assim, ainda que em um primeiro momento sejam os pais os responsáveis pelo nascituro, na possibilidade de estes não poderem exercer o pátrio poder, os direitos do nascituro devem ser protegidos pelo curador. Vale ressaltar que extingue-se a curatela a partir do nascimento da criança e, no caso de os genitores não poderem exercer o poder familiar, deverá ser designado ao menor nascido um tutor.
À curatela são aplicadas as disposições do código civil que tratam da tutela (art. 1774). 
No que concerne aos pressupostos fático e legal da curatela, consoante leciona Caio Mário da Silva Pereira:
O pressuposto fático da curatela é a incapacidade; o pressuposto jurídico, uma decisão judicial. Não pode haver curatela senão deferida pelo juiz, no que, aliás, este instituto difere do poder familiar, que é de origem sempre legal, e da tutela, que pode provir da nomeação dos pais.
Depreende-se, pois, que é necessário atestar-se a incapacidade do curatelado e o curador só pode ser nomeado através de uma decisão judicial.
É interessante tecermos alguns comentários concernentes à decisão judicial que defere a interdição. Existe uma grande discussão sobre a natureza jurídica desta sentença, em relação aos atos praticados pelo interditando antes da prolação sentencial – isto é, os efeitos podem retroagir a atos anteriores à sentença?
A doutrina majoritária afirma que a sentença é constitutiva, pois está relacionada com o estado da pessoa. É fato notório que a incapacidade é detectada antes da sentença, mas os efeitos jurídicos da interdição como, por exemplo, o reconhecimento da incapacidade dos atos da vida civil, apenas se tornam efetivos após o transito em julgado.
Para Pontes de Miranda, a sentença, mesmo constitutiva, não cria a incapacidade, apenas afirma a sua existência e dá legitimidade acerca da necessidade de um curador – desde que comprovada a incapacidade do individuo. Deste modo, a sentença produz efeito imediato, mas cabe interposição de recurso devolutivo.
Devido ao fato da incapacidade existir antes da sentença, cabe ação anulatória dos atos anteriores. É importante ressaltar que a destituição dos atos pretéritos ocorre somente em casos extremos. O procedimento é feito somente por via judicial e com prova cabal da deficiência do interditado de modo a evitar prejuízos a terceiros. 
Já os atos posteriores a interdição não carecem de provas para que sejam nulos e desconstituídos, como aduz o artigo 166, inciso I, do Código Civil:
Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:
I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
Após o transito em julgado, a sentença passa a surtir seus efeitos jurídicos e deve ser publicada no Diário Oficial, no prazo de 10 dias. O mesmo acontece no Cartório de Pessoas Naturais da comarca correspondente a tramitação do processo. Deve constar também no registro de nascimento e casamento do interditado.
Cabe ao Ministério Público a legitimidade absoluta para pleitear a remoção ou a dispensa do curador.
O artigo 1198 do CC/02 permite a recondução espontânea da curatela, se a mesma não tiver prazo determinado ou solicitação de exoneração da conduta.
A substituição voluntária do curador também pode ocorrer nos autos do mesmo processo. Devendo constar justificativa plausível e concordância do curador substituto. Porém o curador que será substituído deve prestar contas da atividade que exerceu, se assim estiver estipulado.
7. Curatela compartilhada
Os genitores têm legitimidade para exercer a curatela e podem optar por utilizar este instituto de forma compartilhada. Além dos genitores, qualquer parente pode exercer a curatela compartilhada, basta haver entre eles uma união estável seja ela homo ou heteroafetiva não existindo qualquer barreira legal que impeça que os dois exerçam a curatela.
8. Espécies de Curatela
	Antes do advento do Estatuto da Pessoa com Deficiência, a interdição poderia ser total ou parcial, conforme estabelecia o artigo 1.772 do Código Civil, contudo, este artigo foi revogado. 
	Nos termos atuais, o juiz concede a curatela e indica os atos para os quais a mesma será necessária, não havendo mais que se falar em curatela parcial ou total. 
	Destarte, conforme preceitua o artigo 755 do Código de Processo Civil, cabe ao juiz nomear o curador e fixar, de forma expressa, os limites da curatela, isto é, em que situações da vida civil do curatelado o curador pode intervir. Não pode mais o juiz declarar de forma genérica que a curatela será parcial ou total, valendo lembrar que, a incapacidade absoluta se restringe aos menores de 16 anos.
9. Legitimidade para propositura da ação interdição
Para que se ateste a incapacidade do indivíduo, é necessário que exista uma decisão judicial. Atualmente, após o advento do Estatuto da Pessoa com Deficiência, só podem ser interditados (e, consequentemente submetidos à curatela): ébrios habituais (alcoólatras); viciados em tóxicos; pessoas que por motivos transitórios ou definitivos não possam exprimir sua vontade; e pródigos (pessoas que administram mal seus bens, esbanjadores) – sendo imperioso ressaltar que ester rol é taxativo, isto é, não pode incluir outra circunstância por analogia.
As pessoas legitimadas para propositura da interdição são: os pais ou tutores – tanto os pais heteroafetivos quanto os homoafetivos podem pedir a interdição do filho, não havendo impedimento legal se tal pedido for feito por apenas um dos pares; o cônjuge ou parente – podem os cônjuges estando separados requerer a interdição um do outro. Não há necessidade de convivência para que o processo seja requerido, apenas sendo vedado, no caso de estarem separados, um ser curador do outro; o Ministério Público – o Parquet pode requerer a interdição nos casos previstos no art. 1769 do Código Civil. É necessário nessa espécie de interdição a nomeação de um representante ao interditando. A doutrina utiliza a nomenclatura, bem apropriada, de curador à lide, pois o representante só será curador durante o processo representando o interditando.
10. Curatela do enfermo e do idoso
	A curatela podeser concedida também em benefício do enfermo e da pessoa com deficiência com o intuito de gerenciar os negócios e os bens do curatelado. Ela é conhecida como curatela mandato ou curatela de menor extensão por não estar relacionada a um incapaz, sendo, portanto, um tipo especial de curatela. O âmbito de abrangência é estabelecido pelo próprio curatelado. O exercício desta modalidade de curatela se inicia a partir do momento em que são dadas ao curador as atribuições de poderes para a administração dos bens e negócios do curatelado. Mas, neste caso, não ocorre a transferência ou renúncia de direitos, pois a manifestação de vontade do curatelado continua prevalecendo.
	As pessoas legitimadas podem, sem distinção, requerer a curatela, no entanto, ela será efetuada mediante a autorização expressa do interditado. Caso ele não tenha capacidade para expressar a sua vontade ocorrerá a curatela convencional.
	Esta espécie de curatela atende principalmente às pessoas idosas que, devido a dificuldade de locomoção e demais limitações decorrentes da idade, não possuem condições de gerenciar seus bens.
A jurisprudência é uníssona ao garantir o acesso a curatela mandato para os idosos que não possuem capacidade física para gerir seus próprios bens.
Interdição. "curatela-mandato" (art. 1.780, C C/2002). Possibilidade. Recurso a que se dá parcial provimento. l - Seja à luz dos princípios da instrumentalidade das formas, da economia, da celeridade processual e, ainda, da inafastabilidade ela jurisdição, seja por estar implícito no pedido de total interdição o da parcial interdição ("curatela-mandato"), ou seja, sob os auspícios da equidade prevista no art. 1.109 do CPC, possível o deferimento da interdição parcial quando pedida a total. II - Restando comprovado que a interditanda possui capacidade para os atos ela vida civil, porém sem condições físicas para gerir seus interesses, não é razoável negar-lhe, sobretudo quando por ela expressamente desejado, o suporte ou auxílio de um curador, o que possível de ser feito sem sua completa interdição, como autoriza o art . l.780 do C C/2002. llI - Para o fiel exercício da "curatela-mandato" , basta a atribuição de poderes para a mera administração dos negócios e bens da curatelada, sem autorização para a transferência ou renúncia de direitos, o que continuará dependendo da expressa manifestação ele vontade da curatelada. (TJMG, AC 1.0024.09.6395 11-6/00 17.ªC. Cív., Rei. Des. Peixoto Henriques, j . 15/10/2013) – grifo nosso
	Mesmo diante da possibilidade de se conseguir esta modalidade de curatela, o mais usual é a nomeação de procurador e não de curador para a assistência nos atos da vida civil.
11. Inovações trazidas pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência
	
	Em relação a curatela á pessoa com deficiência é importante destacar algumas inovações trazidas pela Lei 13.146 de 2015, o Estatuto da Pessoa com Deficiência.
	 O Estatuto da Pessoa com Deficiência soergueu-se com o intuito de promover a inclusão social da pessoa com deficiência assim como a garantir que essas pessoas possam gozar do exercício pleno de seus direitos, proporcionando-lhes emancipação pessoal e social. Assim, o Estatuto prevê a possibilidade de curatela, porém assegurando igualdade de condições à pessoa com deficiência. Vejamos o que estabelece o artigo 84 do supracitado Estatuto:
Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício de sua capacidade legal em igualdade de condições com as demais pessoas.
§ 1o Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela, conforme a lei.
	Outra transformação importante assegurada pelo Estatuto foi a concepção de capacidade. Tal transformação é resumida de forma didática por Isadora Braga:
A grande mudança trazida pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência foi a alteração dos artigos 3º e 4º do Código Civil Brasileiro, relativos às (in)capacidades absoluta e relativa. Segundo a nova redação, os absolutamente incapazes abrangem apenas os menores de 16 anos. Aqueles “que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade”, que antes eram tidos como absolutamente incapazes, passam a ser apenas relativamente incapazes, pertencendo ao art. 4º (e não mais ao 3º do CC). Os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido deixam de ser incapazes, relativa ou absolutamente, para adquirirem capacidade plena. E os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo, que antes eram considerados relativamente incapazes, passaram a ser completamente capazes.
	Desta forma, reduz-se o rol daqueles que podem ser submetidos à curatela, de modo que possam se autodeterminar e exercer sua autonomia.
	Outra questão importante é a abrangência da curatela que passa a ter somente dimensão patrimonial, consoante o artigo 85 do Estatuto:
Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial.
§ 1º. A definição da curatela não alcança o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto.
	Poderíamos nos questionar se não seria temerário “desproteger” estas pessoas, contudo, devemos nos lembrar que existem outros institutos que podem auxiliá-las, de forma que menos austera que a curatela. Ora, é possível, por exemplo, a tomada de decisão apoiada, que pode ser requerido pela própria pessoa com deficiência que sinta necessidade de auxílio para exercer determinados atos de sua vida.
12. Exercício da Curatela
A aplicação da curatela obedece aos mesmos critérios da tutela destacando-se a possibilidade de escusa, normas de exercício, gerenciamento de bens e dever de prestar contas, de acordo com a previsão legal do Código Civil.
O exercício da curatela possui múnus público, mas a legislação vigente permite o recebimento de remuneração proporcional aos bens administrados, bem como o reembolso dos valores dispendidos no exercício de curador. Tal permissão é justa, pois o curador muitas vezes abre mão das suas atividades para atender o interdito e compromete os meios de garantir sua própria subsistência.
A aplicação extensiva das regras da tutela à curatela permite também a criação de um protutor, ou “pró-curador” que tem a função de fiscalizar os atos do curador. 
O artigo 1743 do CC/02 prevê também a possibilidade de contratação de pessoa física ou jurídica para atender os interesses do interditado, em casos complexos, quando for exigido conhecimento técnico e for a lugares de difícil acesso do curador. É importante ressaltar que, esta atividade depende de aprovação judicial.
Insta salientar, também, a presença da curatela prorrogada ou extensiva que permite a extensão dos poderes do curador tanto a pessoa quando aos bens do curatelado, bem como aos filhos nascidos ou nascituros. Nessa hipótese, o filho do interdito acaba também sujeito à curatela, afinal, o seu genitor está vivo, ainda que seja incapaz.
De acordo com os artigos 1776 e 1777 do Código Civil, o curador tem também o dever de contribuir para a recuperação do interditado dando-lhe acesso ao tratamento adequado. Caso não seja possível à adaptação do curatelado no ambiente domestico pode ser oferecido estabelecimento adequado. 
13. Dever de prestação de contas
O curador tem o dever de prestar contas, visto que está gerindo patrimônio alheio. 
Os pais, por exercerem o poder familiar sobre os filhos, são considerados usufrutuários de seus bens e, consequentemente, dispensados da prestação de contas, ao serem nomeados curadores de suas proles, como aduz o artigo 1689 do CC:
Art. 1.689. O pai e a mãe, enquanto no exercício do poder familiar:
I - são usufrutuários dos bens dos filhos;
II - têm a administração dos bens dos filhos menores sob sua autoridade.
Em relação ao cônjuge, a prestação de contas só é dispensada se o regime de bens for de comunhão universal. 
Importante ressaltar também que a prestação de contas pode ser dispensada quando o curatelado não possuir patrimônio ou aufira renda ínfima.
14. Considerações Finais
	
	Após o exposto, percebemosque a tutela e a curatela são institutos um tanto quanto importantes no Direito, que possibilitam a proteção dos indivíduos incapazes de responder por seus atos de forma autônoma.
	Compreendemos, outrossim que, a partir da vigência do Estatuto da Pessoa com Deficiência, a autonomia das pessoas está sendo mais observada o que demonstra respeito ao princípio da igualdade, ao princípio da dignidade da pessoa humana e ao princípio da liberdade. Quando houver comprometimento da capacidade plena, podemos nos valer do instituto da curatela, contudo, de forma limitada e em caráter excepcional.
	Acreditamos que o Estatuto desconstruiu a ideia de incapacidade, respeitando a integridade do indivíduo e transformando a curatela em “possibilidade de auxílio a quem necessite” e não mais em “possibilidade de substituição da vontade do curatelado”. 
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