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www.neurosaber.com.br Autismo e Linguagem: 2019 Entendendo a Comunicação Suplementar e/ou Alternativa Renato Lyuiti Kinoshita Desde 2011 atuando na área de Transtorno do Espectro do Autismo e Comunicação Suplementar e/ou Alternativa. Graduação em Fonoaudiologia pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP Especialista em Fonoaudiologia Neurofuncional pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia –CFFa Mestre em Saúde, Interdisciplinaridade e Reabilitação pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP www.neurosaber.com.br www.neurosaber.com.br INTRODUÇÃO Desde sempre a espécie humana busca formas de se comunicar, seja para expressar pensamentos, desejos e até como forma de se relacionar com os outros. Sendo assim, a comunicação acaba por se tornar uma necessidade básica para se viver em sociedade. No entanto, não são todas as pessoas que conseguem entender ou se fazerem entendidas e são inúmeros os fatores que podem desencadear essa dificuldade na comunicação. Desde a perda total da fala devido alguma doença até as dificuldades de comunicação devido algum transtorno de desenvolvimento que prejudica a capacidade de se comunicar e interagir, como no caso do Transtorno do Espectro Autista (TEA), que tem dificuldades para se comunicar tanto de forma verbal como não-verbal, como gestos, expressões corporais e faciais, etc. Essa condição bastante marcante nos casos de TEA deixam muitos pais, professores e familiares perdidos e angustiados, porque não sabem como acessar e até mesmo ensinar coisas simples a essa criança ou adolescente. Isso torna-se mais desafiador ainda diante dos constantes episódios de grito, choro e agressões decorrentes da dificuldade de comunicação. Para se ter ideia, hoje, somente no Brasil, estima-se um número de 2 milhões de autistas, ou seja, 1% da população brasileira possui o TEA e dado esse número não podemos deixar que essas crianças ou adolescentes passem despercebidos. É necessário que eles aprendam como se expressar de forma mais efetiva... www.neurosaber.com.br Por isso, esse e-book tem como finalidade ensinar de forma simples e didática a solução para essa dificuldade na comunicação a partir da CSA - Comunicação Suplementar e/ou Alternativa. Ao conhecer e aplicar a CSA, pais, professores e familiares poderão estimular a linguagem da criança ou adolescente com TEA em casa, na escola e em qualquer outro lugar, desenvolvendo a comunicação, diminuindo os comportamentos agressivos e ainda melhorando a socialização. Mas, antes, vamos entender o que é comunicação, como ela funciona e quais são os aspectos importantes para, então, depois, compreender o que é a comunicação suplementar e/ou alternativa e como usá-la para estimular a linguagem. Então, vamos lá? www.neurosaber.com.br EXEMPLO 1: ENTENDENDO A COMUNICAÇÃO O conceito mais comum que nós temos de comunicação é através da fala. É assim que transmitimos as nossas sensações e sentimentos; que trocamos informações e opiniões com as pessoas e, ainda, é através dessas conversas que conhecemos as pessoas e elas nos conhecem. Mas não é somente isso! Embora a comunicação verbal seja a forma mais predominante de comunicação ela não acontece sozinha. Isso porque também usamos de recursos não-verbais para validar o que está sendo dito, como, por exemplo, a entonação da voz, os gestos e as expressões corporais e faciais, o que torna a comunicação mais abrangente e faz com as interações interpessoais tornem-se mais ricas e complexas. Veja o exemplo abaixo: Eu fui demitida! Você deve estar muito feliz, não é mesmo? www.neurosaber.com.br EXEMPLO 2: Eu fui demitida! Poxa, que pena! Logo você arruma outro. Você conseguiu perceber a diferença? Nos dois casos a mulher disse a mesma coisa (“Eu fui demitida!”), mas a resposta da outra pessoa foi baseada na expressão facial e até a possível entonação que a mulher usou. No primeiro quadro ela não disse que estava feliz com a demissão, mas a linguagem não-verbal dela representava isso. Igualmente o segundo quadro: ela não disse que estava triste e preocupado, mas a expressão no seu rosto mostrava isso, o que fez com que a resposta da outra pessoa fosse uma forma de tranquilizá- lo. Sendo assim, esse conjunto de ações com recursos verbais e não- verbais permite compreendermos o outro e sermos compreendidos também. No entanto, essa via de mão dupla, muitas vezes não acontece com a criança ou adolescente com TEA, pois de acordo com as pesquisas cerca de 50% das pessoas com autismo não desenvolvem a fala naturalmente e aqui entra a Comunicação Suplementar e/ou Alternativa (CSA), como ferramenta na estimulação da comunicação verbal e não-verbal. www.neurosaber.com.br Você já parou para pensar que a dificuldade de linguagem e de comunicação da criança ou adolescente com TEA pode impactar e refletir no seu comportamento? Isso mesmo! O fato da pessoa com TEA não conseguir usar a linguagem, tanto a verbal quanto a não-verbal, impede que ela se comunique com clareza, ou seja, essa criança ou adolescente não consegue expressar seus pensamentos, sentimentos, medos, desejos e até mesmo as suas necessidades básicas. Assim, o choro, a agressividade e os gritos são as formas que eles encontram na tentativa de se comunicarem, isso porque possuem um repertório reduzido de comunicação, mas as demais pessoas também não sabem ao certo o que eles querem. Entenda a seguir o que é a CSA e como ela pode ajudar de forma efetiva a comunicação no TEA. LINGUAGEM REDUZIDA NO TEA = CHORO E AGRESSIVIDADE www.neurosaber.com.br A Comunicação Suplementar e/ou Alternativa (CSA) é uma das traduções utilizadas para o termo em inglês Augmentative and Alternative Communication. A CSA é um conjunto de ferramentas e estratégias utilizadas para resolver desafios cotidianos de comunicação de pessoas que apresentam algum tipo de comprometimento da linguagem verbal, na produção de sentidos e na interação. Assim o objetivo da CSA é permitir que a comunicação seja realizada de outras formas além da fala, como um olhar compartilhado, expressões faciais, gestos, toque, escrita, apontamento de símbolos, imagens até equipamentos com voz sintetizada que permitem a interação. Abordagem utilizada para desenvolver a comunicação da criança ou adolescente que fala, mas que tem dificuldades para fazer o uso funcional da fala. Abordagem utilizada quando há ausência da fala, ou seja, substitui a fala funcionando como uma alternativa para a comunicação, mas não inibe o desenvolvimento da fala. O QUE É A COMUNICAÇÃO SUPLEMENTAR E/OU ALTERNATIVA (CSA)? COMUNICAÇÃO SUPLEMENTAR ALTERNATIVA www.neurosaber.com.br Dentro da abordagem da CSA existem vários recursos que contribuem para a comunicação, interação e desenvolvimento da fala, como por exemplo: Figuras Impressas e plastificadas: Pranchas de comunicação alternativa: Estratégias de Baixa Tecnologia: Sinais Gráficos: www.neurosaber.com.br Painéis na parede (rotinas, regras, montagens de histórias) Escrita Fotos ROTINA ROTINAREGRAS 1. 2. 3. Gestos de uso comum: Língua de sinais: OLÁ! Sinais Manuais: www.neurosaber.com.br Objetos Concretos: www.neurosaber.com.br Estratégias de Alta Tecnologia: Tablets e aplicativos específicos Smartphones POR QUE A CSA É EFETIVA NO TEA? www.neurosaber.com.br A Comunicação Suplementar e/ou Alternativa no TEA tem como premissa trabalhar cada caso individualizado, atendendo as necessidades e as potencialidades de cada criança ou adolescente. Por isso, a CSA é efetiva porque: “Na minha experiência com o CSA aprendi que a comunicação no contexto da pessoa com deficiência que não consegue falar assume diversasformas: ela pode ser um grande remédio para a autoestima, pode ser uma chave para enfrentar nossos problemas presentes e também abre as portas para oportunidades futuras, pode ser uma ponte para acessar quem tanto queríamos. E acessar e conhecer quem realmente aquela pessoa é em sua essência”. Promove a comunicação Desenvolve a linguagem Estimula a aprendizagem de vocabulário, frases e fala Proporciona vivências e interações sociais Melhora a expressão Aumenta o vínculo com as pessoas Age como “antidepressivo” Organiza e entende rotina, tempo e espaço RELATO DE UMA MÃE www.neurosaber.com.br EXEMPLO PRÁTICO DE SITUAÇÃO NO TEA Agora que você já sabe o que é Comunicação Suplementar e/ ou Alternativa, veja um exemplo prático do uso de imagens para ensinar e expressar atividades simples da rotina, como higiene, comportamento e contexto escolar. No exemplo a seguir, escolhemos uma situação bastante comum na criança com TEA e que deixa os pais sem saberem o que fazer e sem saberem o que a criança quer: a mordida. Provavelmente essa criança quer alguma coisa ou está sentindo algo, mas não sabe como dizer. Por isso, usa a mordida para ter o olhar voltado à ela. Nesse caso, tomando a CSA como ponto de partida, use a sequência de figuras abaixo para mostrar sobre esse comportamento e, na sequência, peça para a criança ver e apontar a figura que lhe representa no momento. Claro que aqui estão apenas alguns exemplos por serem os mais recorrentes, mas você utilizar outras figuras ou até mesmo objetos concretos para que haja a comunicação. Veja abaixo como usar as figuras para intervir nesse comportamento. Imprima as figuras abaixo; - Se preferir, plastifique-as para ter mais durabilidade; - Utilize as imagens para ensinar sobre o “não morder”; - Acalme a criança! normalmente, mordidas, gritos, agressões ou choros antecedem algo. É importante compreendermos o que aconteceu, o que desencadeou este comportamento. - Abaixe o tom de voz, evite gritar ou falar alto. - Converse com um tom de voz acolhedor. - Lembre-se que a criança pode não falar, mas isso, não quer dizer que ela não compreende. - Fale que você está lá para ajudá-la. - Tome cuidado com o que você diz, porque muitas crianças estão bem atentas a tudo o que você fala. Importante: Existem diversas formas que cada criança consegue se acalmar, dependendo do momento que ela se encontra. é muito importante a orientação da equipe clinica, pois nossas ações podem acalmar ou agitar a criança. PASSO A PASSO Morder NÃO pode! www.neurosaber.com.br Todos TRISTES Todos Felizes www.neurosaber.com.br Ficar calmo Depois de mais calma, mostre que você compreendeu o que ela quer, mas que existem outras formas de mostrar isso. Olha só, você se lembra que não pode morder? Você pode me mostrar o que você quer assim ó! Lembre-se que não devemos utilizar estas figuras de “não pode” apenas quando a criança faz isso. Ela deve estar habituada com estas regras em seu dia-a-dia. A figura é uma sugestão de apontar, mas muitas crianças também entregam os pictogramas (imagens, figuras) para se comunicar. www.neurosaber.com.br Sugestões de figuras que a criança pode apontar Assistir no celularAssistir no celular BrincarComerComer Sentindo dor Brincar www.neurosaber.com.br IMPORTANTE: REFERÊNCIAS Essa prática é apenas um exemplo simples de como usar a Comunicação Suplementar e/ou Alternativa, mas isso não limita as mais diversas estratégias utilizadas nessa abordagem. Afinal, a seleção das estratégias vai depender das necessidades e potencialidades de cada criança. Por isso, é importante ter um olhar mais atento quanto às formas de comunicação que ela já expressa. Para saber mais sobre essa intervenção nos acompanhe nas redes sociais: CHUN, Regina Yu Shon. Comunicação suplementar e/ou alternativa: abrangência e peculiaridades dos termos e conceitos em uso no Brasil. Pró-Fono R. Atual. Cient. [online]. 2009, vol.21, n.1, pp.69-74. ISSN 0104-5687. http://dx.doi.org/10.1590/S0104- 56872009000100012 Burkhart, Linda J. International Society of Augmentative and Alternative Communication - ISAAC. Manzini, Eduardo J.; Deliberato, Débora. Portal de ajudas técnicas para educação: equipamento e material pedagógico especial para educação, capacitação e recreação da pessoa com deficiência física: recursos para comunicação alternativa. [2. ed.]. – Brasília : [MEC, SEESP], 2006. 52 p. https://www.facebook.com/neurosaber @neurosaberoficial