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1 CONCEPÇÕES EDUCACIONAIS E SEUS REFLEXOS NA LEGISLAÇÃO DO PRIMEIRO GOVERNO VARGAS (1930-1937)1 Stanley Amarante Rodrigues2 Resumo: O presente artigo pretende discutir as principais concepções pedagógicas da década de 1930 e seus reflexos na legislação do Primeiro Governo Vargas (1930-1937) determinando o impacto social dessa legislação educacional na sociedade do referido período. O objetivo é compreender como as concepções pedagógico-educacionais da década de 1930 influenciaram a legislação do Primeiro Governo Vargas e o impacto desta na sociedade brasileira realçando pontos negativos e positivos. Adotou-se um enfoque qualitativo e para a coleta de informações foram utilizados a análise documental e a análise bibliográfica. O principais autores consultados forma Demerval Saviani, Otaíza Romanelli, Maria Luisa Ribeiro, Paulo Ghiraldelli Jr., Azilde Lina Andreotti. Optou-se por uma análise múltipla fundada nos aspectos intertextuais, intratextuais e contextuais a partir do que se verificou que ambas as principais concepções educacionais da década de 1930, a tradicional e a escolanovista influíram profundamente na legislação educacional brasileira desembocando na criação de um sistema escolar dual, expansão da atividade escolar, desenvolvimento da indústria e uso ideológico do ensino. Palavras-chave: Concepções Educacionais, Legislação Educacional, Era Vargas. 1. INTRODUÇÃO Por que este tema seria relevante à academia e à ciência histórica? Pode-se responder o seguinte: este tema, embora diversas vezes explorado, não é comumente tratado de forma ampla. Serão discutidas ideias de autores de variadas áreas (pedagogos, filósofos, sociólogos e historiadores) que se enquadram em uma ou até mais de uma dessas áreas, podemos destacar Demerval Saviani, Otaíza Romanelli e Maria Luisa S. Ribeiro, e outros como Maria Lúcia de Arruda Aranha, Boris Fausto, Claudino Piletti e Nelson Piletti. Procurou-se uma visão não apenas ampla, mas ao mesmo tempo sintética das transformações educacionais ocorridas no Brasil entre os anos de 1930 e 1937 contribuindo assim para os eixos teóricos da(s) (1) História da Educação Brasileira, (2) Concepções 1 Adaptação de Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência para a obtenção de diploma de conclusão do curso de Licenciatura em História da Escola de Formação de Professores do Centro Universitário Projeção, sob orientação do Professor Dr. Jeansley Charlles de Lima em novembro de 2016. 2 Licenciado em História pelo Centro Universitário Projeção, estudante de Pós -Gradução em História do Brasil Contemporâneo pelo Centro Universitário Estácio de Brasília e do curso de graduação em Pedagogia pela Universidade de Brasilia. 2 Pedagógicas do Século XX e (3) Legislação Educacional e seus impactos sociais; inclusive através de conhecimentos potencialmente generalizáveis – construídos a partir de uniformidades empíricas – e que podem permitir uma aplicabilidade adaptada a outras pesquisas possibilitando, dessa forma, o avanço ou o enriquecimento do conhecimento científico tanto da área de história como de outras áreas interessadas na Educação Brasileira. Do ponto de vista social é relevante a compreensão do contexto educacional brasileiro, que se encontra, atualmente, diante de vários problemas relacionados à estrutura física e ao próprio modelo educacional. É preciso apontar que para uma legítima compreensão do atual momento é necessário conhecer as origens desse modelo, identificadas aqui no Primeiro Governo Vargas. Uma melhor compreensão das transformações educacionais entre os anos de 1930 e 1937 pode ajudar a entender melhor o atual contexto da educação brasileira e auxiliar na criação de propostas que venham a renovar os atuais paradigmas do ensino no Brasil. A importância desse tema está profundamente relacionada à sua relevância social, pois ao estar inserido no meio educacional o educador percebe-se diante de imensas dificuldades na aplicação efetiva do processo de ensino-aprendizagem frente ao atual modelo educacional – que parece não estar em consonância com as necessidades da presente sociedade brasileira. Dentre essas necessidades pode-se pontuar o aumento dos investimentos em recursos tecnológicos e infraestrutura escolar, uma maior preocupação com a formação pedagógica de professores de forma que estes possam usar de mecanismos didáticos que mais os aproximem dos alunos – e que despertem nestes um maior interesse – como uso de histórias em quadrinhos, obras literárias, músicas, jogos, viagens de campo e acesso a laboratórios para experiências práticas. 2. A ERA VARGAS O tema deste artigo não é um assunto novo na historiografia brasileira, muito pelo contrário. Tanto historiadores como educadores já se dedicaram a fazer uma análise e crítica das transformações educacionais ocorridas nesse período, a exemplo de Azilde Lina Andriotti3, Otaíza Romanelli4, Maria Luisa Santos Ribeiro5 e Demerval Saviani6. No entanto, 3 Azilde Lina Andriotti é Doutora em História da Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), pesquisadora vinculada ao Grupo de Estudos e Pesquisa “História, Sociedade e Educação no Brasil"(HISTEDBR). 4 Otaíza de Oliveira Romanelli é licenciada em Pedagogia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 1965, exerceu o magistério durante longos anos. Ao falecer era professora de História da Educação no curso de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Concluiu o doutorado em Educação na Sorbonne (Paris). 3 esse não é um assunto esgotado, pois ainda é muito relevante à resolução dos problemas educacionais atuais. O interesse ora manifesto pela pesquisa no campo da educação no Brasil deve-se a dois fatores: a implantação dos cursos de Pós-Graduação em Educação – iniciados a partir da década de 1960 – que estão a exigir especialistas em História e Política Educacional; e, principalmente, aos rumos da historiografia brasileira, para a qual esse campo vem contribuindo decisivamente (ROMANELLI, 2014). A primeira metade do século XX foi para o Brasil uma época de várias transformações, não apenas no campo educacional, mas também na estrutura política, social, cultural e econômica. O Brasil entrava no novo século como um país essencialmente agrário, que necessitava se enquadrar no panorama internacional dominado pelo capitalismo industrial. A partir da década de 1930, no governo de Getúlio Vargas, iniciou-se um projeto de modernização e de intensa política nacionalista, projeto este de cunho nacional- desenvolvimentista. É em meio a essa conjuntura que a educação adquirirá um papel central nas demandas do Primeiro Governo Vargas, como bem atesta Fausto (1995): Os vencedores de 1930 preocuparam-se desde cedo com o problema da educação. Seu objetivo principal era o de formar uma elite mais ampla, intelectualmente mais bem preparada. As tentativas de reforma do ensino vinham da década 1920, caracterizando-se nesse período pela iniciativa no nível dos Estados, o que correspondia ao figurino da República federativa. (p. 336). A educação brasileira passa por intenso processo de transformações em que duas concepções educacionais irão se destacar: a tradicional – de forte influência da Igreja Católica – que defendia o ensino da doutrina religiosa na escola, a separação dos sexos e o ensino particular – e a escolanovista ou renovadora – marcada pelo discurso pedagógico liberal – que defendia, tal como o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, a escola pública, laica, gratuita, obrigatória e voltada para o aluno e suas necessidades. As duas concepções entraram em choque e repercutiram, especialmente a escolanovista, no novo modelo educacional organizado pelo governo de Vargas. Pela primeira veza educação foi colocada em pauta constitucional, tanto na Constituição de 1934 como na de 1937, pode-se também destacar a 5 Maria Luisa Santos Ribeiro é Pedagoga, com mestrado e doutorado em Filosofia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), professora no Programa de Mestrado em Educação na mesma universidade. 6 Demerval Saviani é formado em filosofia pela PUC-SP (1966), doutor em Filosofia da Educação também pela PUC-SP (1971) e livre-docente em história da educação na UNICAMP (1986). Autor de grande número de trabalhos publicados, atualmente é professor emérito da UNICAMP e coordenador geral do Grupo Nacional de Estudos e Pesquisas HISTEDBR. 4 reforma educacional realizada pelo ministro do recém-criado Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública (1930): Francisco Campos. É possível perceber que a legislação do Primeiro Governo Vargas dá um imenso destaque a educação. A Constituição de 1934 estabelece a necessidade de um Plano Nacional de Educação assim como a gratuidade e obrigatoriedade do ensino elementar, havendo já nesse momento o atendimento de algumas das ideias expressas no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932), obra dos principais representantes brasileiros da concepção escolanovista (Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Paschoal Lemme, Gilberto Freyre, Lourenço Filho, Cicília Meireles, Florestan Fernandes, Gustavo Capanema, etc.). O próprio ensino escolar passa a ganhar uma valorização sem precedentes no Brasil, a escolarização passa a ser vista como mecanismo de ascensão social (ANDREOTTI, 2008) e serve muito bem ao projeto de modernização e nacionalização do país como se nota nos decretos de Francisco Campos em 1931 que organizaram o ensino secundário e superior. Essa reforma deu a base para a política nacional-desenvolvimentista do Governo Vargas. Embora o número de escolas públicas tenha aumentado geometricamente, este não conseguiu acompanhar a demanda exigida pela sociedade brasileira (ROMANELLI, 2014). Fausto (1995) comenta que: A ação do Estado no setor educativo relacionou-se intimamente com movimentos na sociedade, envolvendo educadores e a elite cultural, como a fundação da USP bem exemplifica. Esses movimentos vinham da década de 1920 e ganharam maior ressonância após a Revolução de 1930. Podemos falar de duas correntes básicas opostas: a dos reformadores liberais e a dos pensadores católicos. (p. 339). Ainda assim é possível visualizar o sucesso da política educacional de Vargas que formou em menos de duas décadas o “grosso” do proletariado brasileiro e introduziu o Brasil no mundo capitalista industrial, deu-lhe algum porte na economia internacional e, simultaneamente, adquiriu o apoio político dessa classe ganhando alcunhas como “Pai dos Pobres”, “Protetor dos Trabalhadores” e “Primeiro Operário da Nação”. Ideias de valorização do trabalho e do trabalhador eram frequentes no ensino, fosse ele normal, agrícola, comercial ou industrial. O melhor cidadão era o trabalhador que ajudava no desenvolvimento da nação. Vargas era o primeiro deles – o exemplo a ser seguido (SOUZA, 2006) 7. Nesse discurso 7 Giani Maria de Souza é licenciada em História pela Universidade da região de Joinville (UNIVILLE). Mestra em Filosofia e História da Educação pela UNICAMP. Participa do Grupo Nacional de Estudos e Pesquisas HISTEDBR. 5 pode-se ver a ideologia da Nova Escola8, que embora relacionada com a concepção escolanovista não deve ser confundida com a mesma. No entanto, deve-se tomar cuidado para não confundir a tendência centralizadora e autoritária do governo Vargas com o fascismo. Sobre isso Fausto (1995) disse que: É costume apontar a inspiração fascista do governo Vargas na área educativa. Lembremos também que nessa área, como em outras, o governo adotou uma postura autoritária e não-fascista. Ou seja, o Estado tratou de organizar a educação de cima a baixo, mas sem envolver uma grande mobilização da sociedade; sem promover também uma formação escolar totalitária que abrangesse todos os aspectos do universo cultural. Mesmo no curso da ditadura do Estado Novo (1937-1945), a educação esteve impregnada de uma mistura de valores hierárquicos, de conservadorismo nascido da influência católica, sem tomar a forma de uma doutrinação fascista. (p. 337). Em resumo, esse foi um período particularmente agitado e marcado por uma grande gama de acontecimentos. Para melhor entendê-los optou-se por uma abordagem compartimentada, onde serão tratados os contextos político, econômico e social, de um lado, e, de outro, o contexto ideológico. 2.1. Contexto Político, Econômico e Social Em 1929, o mundo capitalista passava por sua maior crise até então. Essa crise teve uma grande repercussão não só na economia, mas também na própria estrutura política do governo brasileiro. Pela primeira vez grupos de diferentes seguimentos sociais se aglutinaram em massa contra as forças conservadoras, a política dos governadores e o coronelismo mostravam-se incapazes de manter o bom funcionamento do sistema. A própria aristocracia dividiu-se, rompendo a tradicional aliança entre os estados de São Paulo e Minas Gerais, durante as eleições de 1930, quando estes dois estados entraram em desacordo quanto a escolha de seu candidato à presidência. Foi lançada pela Aliança Liberal a candidatura de Getúlio Vargas, fruto da aliança entre os estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba. Ao perderem as eleições acusaram os paulistas de fraude o que desencadeou a Revolução, que contou com o apoio de parte da aristocracia cafeeira, os militares, em particular os tenentes, e uma aceitação passiva da classe média. (SKIDMORE, 1982). Ribeiro (2000) pode ajudar a compreender como foi possível esse rearranjo das forças políticas ao comentar as razões do que Sodré (1973) designou como “declínio das oligarquias”. A autora sustenta a existência de novas forças sociais decorrentes de modificações: 8 Este termo é aqui utilizado para designar o modelo escolar criado pela administração do Primeiro Governo Vargas. 6 A modificação básica é representada pelo impulso sofrido pelo parque manufatureiro que, apesar de débil, passa a ter papel indispensável no conjunto da economia brasileira. Se em 1907 existiam no Brasil 3.258 estabelecimentos industriais, 150.000 operários e um capital de 666.000 contos de réis, em 1920 estes números haviam aumentado para 13.336, 276.000 e 1.816.000, respectivamente. (SODRÉ, 1973 apud RIBEIRO, 2000: 96). Romanelli (2014) complementa: A Revolução de 1930, resultado de uma crise que vinha de longe destruindo o monopólio de poder pelas velhas oligarquias, favorecendo a criação de algumas condições básicas para a implantação definitiva do capitalismo industrial no Brasil, acabou, portanto, criando condições para que se modificassem o horizonte cultural e o nível de aspirações de parte da população brasileira, sobretudo nas áreas atingidas pela industrialização. (p. 64). No entanto, os políticos da década de 1920 ignoraram o significado dessas mudanças o que “socialmente representava a consolidação de dois componentes: a burguesia industrial e o operariado”. (RIBEIRO, 2000, p. 96). A década que antecede a Revolução de 1930 conta com a criação do Partido Comunista Brasileiro (1922) e também ao tenentismo, que pode ser interpretado como um movimento que corresponde aos anseios da crescente e insatisfeita classe média, ao qual Basbaum (1962) chamou setor médio da população composto: “da pequena burguesia das cidades, por uma grande massa de funcionários públicos, empregados do comércio, as chamadas classes liberaise intelectuais e, por fim, os militares cuja origem social era agora a própria classe média”. (BASBAUM, 1962 apud RIBEIRO, 2000: 97). Quanto à generalização da última afirmação é necessário tomar certo cuidado, mas tampouco pode ser desprezada a forte penetração da classe média nos quadros militares. E é do interior desses quadros militares que irrompem a Coluna Prestes (1924-27) maior símbolo do movimento tenentista. Tal era o ambiente de agitação, de contestação de ideias e práticas estabelecidas. Esperava-se por uma modernização do sistema. Nasceu uma espécie de “entusiasmo pela educação”9 que gradualmente assimila o modelo de escolarização escolanovista. Esse processo foi habilmente acompanhado pela administração do Governo Vargas. Ribeiro (2000) aponta duas causas básicas reconhecidas para o subdesenvolvimento e do atraso do Brasil em relação aos países tidos como desenvolvidos: a condição de economia agroexportadora e a dependência da economia brasileira em relação à economia externa. A 9 Relacionado com o conceito de otimismo pedagógico de Jorge Nagle que será tratado mais adiante no capítulo dois. 7 autora apresenta as saídas encontradas pelo setor industrial brasileiro proveniente do choque entre os dois grupos da classe dominante – os ligados a exportação e os dela desligados – e a supremacia destes últimos estabelece as condições necessárias à organização de um modelo econômico e político ao derrubar do poder o setor agrário-comercial exportador “Desta forma tem origem, mesmo que de maneira um pouco confusa de início, a ideologia política – o nacional-desenvolvimentismo – e o modelo econômico compatível – a substituição de importações”. (RIBEIRO, 2000, p. 103). Essa expansão capitalista veio acompanhada da luta de classes que trouxe, por conseguinte, uma expansão escolar que oscilou entre as tensões do desenvolvimento das relações capitalistas e as necessidades sociais daí advindas. Romanelli (2014) comenta: Essa luta assumiu no terreno educacional características assaz contraditórias, uma vez que o sistema escolar, a contar de então, passou a sofrer, de um lado, a pressão social de educação, e, de outro lado, o controle das elites mantidas no poder, que buscavam, por todos os meios disponíveis, conter a pressão popular, pela distribuição limitada de escolas, e, através da legislação de ensino, manter o seu caráter ‘elitizante’. (p. 64-65). Ao obter a vitória, Vargas assume o Governo Provisório e começa a tomar conta dos postos-chave dos governos estaduais, inclusive nomeando interventores à maioria dos estados (muitos deles tenentes), e prometendo a convocação de uma Assembleia Constituinte. No entanto, dois anos após a Revolução nada havia sido feito nesse sentido. Os paulistas, ansiosos para voltar aos quadros do poder ou obter concessões vantajosas, clamam por uma constituinte, esse movimento culminou na Revolução Constitucionalista de 1932, que embora derrotada pelas forças federais conseguiu precipitar a convocação da constituinte. Sobre as causas da Revolução, Ribeiro (2000) complementa: Dir-se-ia que não havia nestes primeiros tempos um plano de governo, por dois motivos básicos: a multiplicidade de grupos e interesses e o esquecimento do programa da Aliança Liberal. Desta forma o plano vai-se delineando, mais propriamente, ditado pelas circunstâncias. Essa falta de medidas imediatas, essa hesitação inicial, essa decretação ao sabor das circunstâncias, como se acabou de assinalar, teve como consequência a queda do entusiasmo dos setores populares, principalmente urbanos, o descontentamento do próprio setor paulista. (p. 106). Vargas rapidamente mobilizou seus apoiadores e tratou de colocá-los em posições favoráveis durante a organização e convocação da constituinte que se prolongou de 1933 a 1934. Ao fim de árduas negociações, Vargas conseguiu por meio de eleições indiretas manter- se no poder. 8 Contudo, nem todos os grupos políticos tinham estado na confecção da Constituição de 1934. Desde a crise de 1929 o mundo capitalista buscava soluções para a crise e a ameaça comunista, representada pela União Soviética. Na Europa surgiram respostas de extrema direita a esses problemas: o nazismo e o fascismo. O Brasil não ficou alheio a esse contexto. A partir de 1934 surgiram dois partidos análogos a essa conjuntura. De um lado, com tendências comunistas, a Aliança Nacional Libertadora (ANL), de outro, a Ação Integralista Brasileira (AIB). Na conjuntura da crise das democracias liberais e do fortalecimento dos regimes totalitários, não demorou muito para que a ANL incomodasse as novas classes dirigentes e, em 1935, Vargas anteviu a tentativa de um levante incitado por Luís Carlos Prestes, conhecido comunista brasileiro, e alguns associados que gozavam de considerável influência na ANL, não demorou a agir e decretou (com o aval do Congresso) estado de sítio o que permitiu uma rápida repressão da esquerda. Sobre a ANL, Ribeiro (2000) comenta: “era formada por ex-tenentes reformistas e politicamente mais à esquerda, comunistas, socialistas, líderes sindicais e mesmo de liberais fora do esquema governamental”. (p. 114). Assim rompia com os esquemas partidários estaduais e constituía o primeiro movimento nacional de massas. Isso pode facilitar o entendimento das razões do apoio oferecido pela Ação Integralista cujo lema “Deus, Pátria e Família”. Segundo Ribeiro (2000): sintetiza a natureza conservadora dos princípios defendidos por essa tendência política. Princípios estes relativos a um Estado autoritário, nacionalista e anticomunista, dirigido por ‘elites esclarecidas’ que tinham por função principal ‘conciliar’ os conflitos de classe através de um controle autoritário das práticas de classes sociais. (p. 114). Em 1937, quando se aproximava o período de eleições, previstas para 1938, a Ação Integralista preparava seu candidato, Plínio Salgado, assim como antigos líderes da Aliança Liberal preparavam seu, o pernambucano José Américo10. Vargas manteve uma postura dúbia em relação a quem daria seu apoio, manteve os preparativos para eleição e, simultaneamente, trabalhou para isolar seus adversários políticos. Apressou-se em garantir o apoio dos militares influentes – nos quais tinha confiança – e libertou vários presos políticos. Em novembro de 1937, o governo divulgou a existência de um plano comunista que pretendia deflagrar uma revolução socialista e conseguiu novamente declarar estado sítio, mas dessa vez sem um prazo específico para seu término. Vargas logo tratou de outorgar a Constituição do Estado Novo que garantia amplos poderes ao governo federal. Ainda em dezembro, alegando um ataque a sua pessoa orquestrado pela Ação Integralista, pôs fim a suas atividades. 10 Antigo ministro de viação e obras públicas e membro do Partido Republicano Paulista (PRP). 9 (SKIDMORE, 1982). Em relação às forças econômico-sociais do Estado Novo, Ribeiro (2000) disse: são às vinculadas as atividades urbano-industriais propriamente ditas. E, sobre este prisma, a opção ditatorial (1937-45) se explica como a condição possível, dadas as circunstâncias do momento externo e, especialmente, interno, de desenvolvimento do modelo capitalista-industrial, mesmo que ainda dependente. (p. 128). Durante o Estado Novo Vargas tomou várias medidas no sentido de conseguir o apoio dos trabalhadores e de diversificar a economia subordinando-a ao Estado. Durante a Segunda Guerra Mundial entrou ao lado dos Estados Unidos garantindo o apoio deste para a criação de uma indústria de base no Brasil. Ao analisar a parte do texto constitucional referente à educação, Ribeiro (2000) comenta: Já por este texto fica explicitada a orientação político-educacional capitalista de preparação de um maior contingente de mão-de-obra para as novasfunções abertas pelo mercado. No entanto, fica também explicitado que tal orientação não visa contribuir diretamente para a superação da dicotomia entre trabalho intelectual e manual, uma vez que se destina ‘às classes menos favorecidas’. (p. 129). Ao aproximar-se do fim da guerra ficava evidente a contradição da posição do governo brasileiro, um governo autoritário que lutava pela democracia. Tendo isso em vista Vargas passou a preparar o cenário para o retorno à democracia. Deixou o poder em 1945 sendo figura influente na criação de dois partidos o PSD (Partido Social Democrata) e o PTB (Partido dos Trabalhadores Brasileiros). Foi escolhido para a presidência o candidato do PSD, Eurico Gaspar Dutra, que gozava do apoio de Vargas, sendo um dos generais de sua confiança. 2.2. A Legislação Educacional Do ponto de vista educacional houve várias mudanças no período abrangido por este estudo. Antes de discorrer sobre as ideias pedagógicas da década de 1930 cabe uma pequena revisão dessas mudanças, principalmente no campo legislativo ponto focal desta pesquisa. A Revolução de 1930 produziu importantes transformações no campo educacional. A educação passou a articular-se como um sistema: foi criado o Ministério da Educação e a Constituição de 1934 ganhou um capítulo específico para o tema. Daí em diante o governo federal passou a assumir novas atribuições, tais como: promover a integração e o planejamento global da educação; criar uma normatização para todo o Brasil e todos os níveis educacionais; prover supletivo de estímulo e assistência técnica; controlar supervisionar e 10 fiscalizar assuntos referentes a educação. (PILETTI e PILETTI, 2009). Ghiraldelli Jr. (2005) comenta sobre a origem da demanda educacional: Durante a década de 1930, o Brasil continuou se industrializando e se urbanizando. A produção industrial foi superior ao valor da produção agrícola em 1933 [...] quanto mais urbano se torna uma país, mais cresce os setores de serviços, menos as pessoas querem se submeter ao trabalho braçal e, então, mais os setores médios ou os aspirantes a tal exigem educação e escolas. Foi o que ocorreu. (p. 39). O governo federal passou a regulamentar o ensino primário em 1946. Foram revistos os objetivos do ensino secundário que passaram a ser a formação geral e a preparação para o ensino superior, nas reformas de 1931 e 1942. O ensino secundário passou a dividir-se em dois ciclos: o fundamental e elementar (1931), e, a partir de 1942, ginasial e colegial. O ensino técnico-profissional só ganhou legislação nacional, a partir de 1942, e promulgaram-se os Estatutos das Universidades Brasileiras (1931) e fundou-se a Universidade de São Paulo (1934). Muitas dessas medidas foram tomadas nas reformas de Francisco Campos (1931) e Gustavo Capanema (1937-46). Sobre a reforma de Campos (assunto que será abordado com mais profundidade no capítulo três), Aranha (2006) aponta: “A falta de articulação entre o curso secundário e o comercial evidencia a rigidez do sistema, enquanto o enciclopedismo dos programas de estudo, ao lado de uma rigorosa avaliação, tornou o ensino altamente seletivo e elitizante”. (ARANHA, 2006, p. 305). Romanelli (2014) conclui: a legislação acabou criando condições para que a demanda social da educação se diversificasse apenas em dois tipos de componentes: os componentes dos estratos médios e altos que continuaram a fazer opção pelas escolas que ‘classificavam’ socialmente, e os componentes dos estratos populares que passaram a fazer opção pelas escolas que preparavam mais rapidamente para o trabalho. Isso, evidentemente, transformava o sistema educacional, de modo geral, em um sistema de discriminação social. (p. 174). Visto isso vamos as propostas ideológicas que marcaram os anos 1930. 2.3. Os Ideários do Período Para Ghiraldelli Jr. (2005) o Brasil teve quatro grandes conjuntos de ideais quanto a educação: são os ideários liberal, católico, integralista e comunista. O primeiro desses ideais, o liberal, tem suas origens na doutrina do liberalismo de caráter econômico e político, calcada na ideia de liberdade individual. Do ponto de vista econômico consiste na defesa da liberdade de vender e comprar bens e serviços, enquanto do político nasceu da necessidade de 11 salvaguardar as liberdades individuais do poder do Estado Absolutista, isto é, da intervenção arbitrária do Estado. Sobre este ideal, Fausto (1995) afirma: Os educadores liberais sustentavam o papel primordial do ensino público e gratuito, sem distinção de sexo. Propunham o corte de subvenção do Estado a escolas religiosas e a restrição do ensino religioso a entidades privadas mantidas pelas diferentes confissões. O ponto de vista dos reformadores liberais foi expresso no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, lançado em março de 1933. Seu principal redator foi Fernando de Azevedo, destacando-se também os nomes de Anísio Teixeira e Lourenço Filho, entre outros. O manifesto constava a inexistência no Brasil de uma ‘cultura própria’ ou mesmo de uma ‘cultura geral’. [...] A partir de uma análise das finalidades da educação, propunha a adoção do princípio de ‘escola única’, concretizado, em uma primeira fase, em uma escola pública e gratuita, aberta a meninos e meninas de sete a quinze anos, onde todos teriam uma educação igual e comum. (p. 339-340). O ideário liberal foi segundo Ghiraldelli Jr. (2005): “responsável pela motivação de determinados setores de nossa sociedade no sentido de buscar na educação possibilidades de ascensão social – daí o papel do ideário liberal no sentido de legitimar as reivindicações pela expansão da rede escolar e pela qualidade do ensino”. (p. 53). O ideário liberal, em função de sua ligação histórica com a democracia, foi, frequentemente, usado por figuras dos quadros públicos, principalmente durante o Governo Provisório, como no caso de Francisco Campos enquanto Ministro da Educação defendeu em seus pronunciamentos a educação crítica, capaz de salvaguardar os indivíduos frente aos modernos processos de manipulação, embora nunca tenha sido um ardoroso defensor desses princípios. Esse ideal chega ao Brasil por intermédio de Anísio Teixeira – que o trouxe dos Estados Unidos, mais especificamente de seu contato com a obra de John Dewey – e que contou com outros dois grandes defensores no âmbito federal: Fernando de Azevedo e Lourenço Filho que tentaram adaptar, já na década de vinte, o escolanovismo à pedagogia brasileira. Ghiraldelli Jr. (2005) sintetiza o ideário liberal em educação da seguinte forma: caracterizou-se por quatro aspectos: a igualdade de oportunidades e democratização da sociedade via escola; a noção de escola ativa (com a ideia de atividade pensada tanto de modo amplo como de modo estreito, voltada para orientação vocacional-profissional); a distribuição hierárquica dos jovens no mercado de trabalho por meio de uma hierarquia de competências e não por outro mecanismo qualquer; e, por fim, a proposta de escola como posto de assistência social. (p. 55-56). Loureço Filho, em seus estudos psicológicos, complementados por Fernando de Azevedo, contribuiu com a teoria sobre a necessidade de a escola dirigir a orientação profissional e a vocação, colaborando com a divisão do trabalho e a harmonização da 12 sociedade. Ou seja, buscavam um mecanismo mais apropriado para o funcionamento harmônico do “organismo social”11. Ribeiro (2000) comenta que os educares que eram influenciados pelas ideias novas “defendiam a laicidade, a coeducação, a gratuidade, a responsabilidade pública em educação” (p. 111) e que isso, em particular o fato de os poderes públicos assumirem mais efetivamente a responsabilidade educacional, aproximava os educadores escolanovistas dos comunistas. O ideário católico começou a mostrar uma inclinação sócio-político-pedagógica na busca de reverter o quadro de separação formal entre Igrejae Estado (1981), na década de trinta a Igreja procurou – por meio do Instituto Católico de Estudos Superiores (1932), da Confederação Católica Brasileira de Educação (1935) e Ação Católica (1935) – incentivar uma série de iniciativas culturais, organizativas e políticas ligadas a Igreja. Obtiveram de Francisco Campos, em 1931, a institucionalização do ensino facultativo de religião na rede escolar pública. Em relação ao ideário católico Fausto (1995) comenta: A Igreja Católica enfatiza o papel da escola privada, defendia o ensino religioso tanto na escola privada quanto na pública – neste último caso em caráter facultativo e diferenciado segundo o sexo. Sob esse aspecto, o pressuposto era de que meninos e meninas deviam receber educação diferente, pois destinavam-se a cumprir tarefas diversas, na esfera do trabalho e do lar. (p. 339). Ghiraldelli Jr. (2005) aponta que “A oposição católica em relação ao movimento escolanovista em nosso país foi muito contundente nos anos trinta: crítica dura, competente e erudita, acompanhada de um processo crescente de auto-reformulação”. (p. 60). No entanto, o ataque dos intelectuais católicos não atuou sem objetivos bem definidos. Sobre os princípios dos educadores católicos, Ribeiro (2000) complementa “defendiam a educação subordinada à doutrina religiosa (católica), a educação em separado e, portanto, diferenciada para os sexos masculino e feminino, o ensino particular, a responsabilidade da família quanto à educação, etc.”. (RIBEIRO, 2000, p. 111). O ideário integralista, por sua vez, distinguia-se do católico, embora ambos fossem conservadores e houvesse uma certa simpatia12, por seu caráter radical e autoritário. A fundação da ação Integralista Brasileira, em 1932, clareou e radicalizou o quadro político levando as ideias de direita a novos extremos no Brasil. A pedagogia integralista se não obteve grandes vitórias na constituinte de 1933-34 teve sua revanche na Constituição de 1937 (mesmo ante o fim da Ação Integralista). Sobre o integralismo Ghiraldelli Jr. (2005) aponta: 11 Referência a ideias durkheimianas. 12 A Igreja Católica chegou a utilizar a Ação Integralista Brasileira para sua pregação anticomunista até mais ou menos 1937, quando optou por associar-se definitivamente aos governantes. 13 Na visão do integralismo – que buscou a concretização do chamado Estado Corporativo, que se formaria pelos grupos naturais, como a família, as sociedades científicas, religiosas e artísticas e os sindicatos profissionais, com a exclusão dos partidos políticos porque eles seriam ‘artificiais e fracionadores da nação’ – os sindicatos profissionais deveriam ser reconhecidos pelo Estado, e, ao serem reconhecidos, ganhariam direitos e deveres. (p. 65). Esses sindicatos teriam quatro funções: a política, que seria responsabilizar-se pela indicação dos representantes aos Conselhos Municipais, aos Conselhos Econômicos Provinciais e à Câmara Corporativa Nacional (órgãos criados pelo Estado Integralista, inexistentes em uma democracia liberal); a econômica, que levaria os sindicatos, por meio de seus órgãos superiores, a participar na solução dos problemas da economia e na estipulação de contratos coletivos; a função moral, pela qual o sindicato resolveria conflitos surgidos na produção; e a função cultural, na qual os sindicatos profissionais se tornaria a peça chave na política educacional. Segundo Ghiraldelli Jr. (2005): O Estado Integralista se identificaria com a nação [...] e colocaria a sociedade entre trabalhadores da inteligência, do braço e do capital formada espontaneamente e naturalmente de maneira organizada e hierarquizada [...] O ensino seria gratuito em seu grau primário com obrigatoriedade de matrícula e frequência; todavia, o secundário e a universidade só deveriam ser frequentados gratuitamente pelos estudantes que mostrarem capacidade. (p. 66). A pedagogia integralista acentuou em sua proposta de política educacional a necessidade da escola profissional voltada para o desenvolvimento industrial por meio da perpetuação da hierarquia social sobre a base da perpetuação da propriedade privada. Além disso, Ghiraldelli Jr. (2005) aponta que “o integralismo passou a advogar uma educação feminina, no sentido de secundarizar a mulher e valorizar a mãe”. (p. 68). E, por fim, o ideário comunista, que tem como precursor no Brasil o educador José Neves. Para Neves, o escolanovismo tinha pontos comuns com o fascismo ao afirmar que a escola poderia ser usada para promover os interesses gerais da sociedade, o que não passa de um engodo, segundo ele. Para Ghiraldelli Jr. (2005), na visão de Neves, “a pedagogia marxista [...] deveria integrar o conhecimento científico da realidade com a formação de pessoas aptas para o trabalho militante no sentido da revolução social”. (p. 71). Assim podemos identificar a inequívoca importância que o debate sobre o campo educacional atingiu no Brasil durante a década de 1930. Seus reflexos são visíveis na legislação educacional do período, particularmente o dos ideários liberal (que mais influencia o pensamento escolanovista) e católico. Dada a base contextual poderemos agora partir para o plano teórico-conceitual, que será tratado mais adiante, e se concentrará no entendimento da 14 corrente teórica da História Social e em como esta se aplica ao objeto desta pesquisa: as relações entre as concepções pedagógicas dos anos 1930, a legislação educacional da Era Vargas e a sociedade brasileira. Além disso, abordará os conceitos e noções essenciais para a compreensão deste trabalho em toda sua amplitude. 3. LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL E SOCIEDADE (1930-1937): AS FONTES A partir da Revolução de Outubro de 1930, diante de uma alta demanda modernizadora e da pressão ocasionada pela necessidade de mão de obra qualificada para o campo industrial em expansão, a atenção do governo e dos demais grupos envolvidos na educação brasileira voltou-se a uma possível adaptação do deficiente sistema educacional brasileiro – há quem diga inexistente – a atual conjuntara do desenvolvimento econômico. Naturalmente nem todos concordavam quanto ao como deveria dar-se essa adaptação. Destacavam-se duas correntes de pensamento que disputavam a primazia na orientação dessas mudanças: a católica e a liberal. Nesse sentido, segundo Romanelli (2014), a legislação do ensino evoluiu de forma contraditória, ora conciliando as duas correntes, ora favorecendo a uma delas. Porém a autora aponta que a balança tendeu mais a favor de tendências conservadores, evidentemente associadas a ideologia católica. Assim, a mudança pode ser orientada de forma a possibilitar maior controle, pelas elites no poder, quanto à expansão escolar uma vez que dessa forma lhe era concedido o controle quantitativo, por meio dos dispositivos legais que tornavam a estrutura do ensino rígida e socialmente discriminadora, e a orientação dos rumos dessa expansão que favoreciam o ensino acadêmico em relação ao técnico profissional. Essa fase (1930-37) será marcada pela atuação do Governo Provisório e as lutas ideológicas sobre a forma que o regime deveria assumir no campo político, econômico e no setor educacional ilustrada pelas reformas promovidas por Francisco Campos e a paralela luta ideológica entre “pioneiros” e conservadores. Portanto, discutiremos os aspectos relativos a educação mediante uma descrição e análise da Reforma Francisco Campos e do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, além da Carta Constitucional de 1934 e a instauração do Estado Novo. 3.1. Ansiando por mudanças (1930 a 1934): o Manifesto e a Reforma de Campos Pode-se dizer que o movimento renovador, de forma organizada e relativamente integrada, iniciou-se fora do nosso período, em 1924, com a criação da Associação Brasileira de Educação, no Rio de Janeiro – então capital federal. Talassociação estava empenhada na implantação de novas ideias do ensino na educação brasileira. Seguiram-se durante a década 15 de 1920 várias reformas educacionais estaduais. O fruto de toda a experiência proveniente dessas articulações entre os “pioneiros” foi o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, escrito em 1932, partindo das mais famosas Conferências Nacionais de Educação – IV e V – organizadas pela ABE em 1927 (Curitiba). Essas conferências debateram de forma acirrada questões cruciais: gratuidade e obrigatoriedade do ensino, a laicidade, a coeducação e a elaboração de um Plano Nacional de Educação. O Manifesto foi redigido por Fernando de Azevedo e assinado por 24 educadores brasileiros tidos como líderes do movimento de renovação educacional. Quanto ao seu conteúdo o documento trata logo em seu início de enfatizar a importância da educação para o desenvolvimento da nação e o histórico descaso do governo quanto a isso: Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade o da educação. Nem mesmo os de caráter econômico lhe podem disputar a primazia nos planos de reconstrução nacional. Pois, se a evolução orgânica do sistema cultural de um país depende de suas condições econômicas, é impossível desenvolver as forças econômicas ou de produção, sem o preparo intensivo das forças culturais e o desenvolvimento das aptidões à invenção e à iniciativa que são os fatores fundamentais do acréscimo de riqueza de uma sociedade. No entanto, se depois de 43 anos de regime republicano, se der um balanço ao estado atual da educação pública, no Brasil, se verificará que, dissociadas sempre as reformas econômicas e educacionais, que era indispensável entrelaçar e encadear, dirigindo-as no mesmo sentido, todos os nossos esforços, sem unidade de plano e sem espírito de continuidade, não lograram ainda criar um sistema de organização escolar, à altura das necessidades modernas e das necessidades do país. Tudo fragmentado e desarticulado. A situação atual, criada pela sucessão periódica de reformas parciais e frequentemente arbitrárias, lançadas sem solidez econômica e sem uma visão global do problema. (AZEVEDO, 2010, p. 33). O Manifesto representa a ideologia dos renovadores. É a afirmação de sua tomada de consciência e compromisso com os problemas do Brasil. Da mesma maneira o manifesto também apresenta suas próprias incoerências, assim como as do período de sua elaboração. Um exemplo disso é o tratamento dado a adoção das novas ideias que segundo o Manifesto deveriam ser incorporadas em um trabalho conjunto, mediante a aplicação do método científico de um sistema educacional, mas os signatários do Manifesto preferem abordar o assunto de maneira a preconizar o trabalho isolado do educador: Certo, um educador pode bem ser um filósofo e deve ter sua filosofia de educação; mas, trabalhando cientificamente nesse terreno, ele deve estar tão interessado na determinação dos fins de educação quanto também dos meios de realizá-los. O físico e o químico não terão necessidade de saber o que está e se passa além da janela de seu laboratório. Mas o educador, como o sociólogo, tem necessidade de uma cultura múltipla e bem diversa [...] se tiver um espírito científico, empregará os métodos comuns a todo gênero de 16 investigação científica, podendo recorrer a técnicas mais ou menos elaboradas e dominar a situação, realizando experiências e medindo os resultados de toda e qualquer modificação nos processos e nas técnicas, que se desenvolveram sob o impulso dos trabalhos científicos na administração dos serviços escolares. (AZEVEDO, 2010, p. 34-35). Como pode ser observado o Manifesto fala destacadamente da figura do educador no exercício de sua função, mas pouco articula esse trabalho as relações entre professor e o sistema de ensino, ou seja, a burocracia que organizaria e daria suporte externo ao trabalho do educador. Em relação às suas reivindicações pode ser destacada a participação mais objetiva do Estado, principalmente com a adoção de um sistema público de ensino cabendo a este proporcioná-la de forma geral, comum e igual. Quanto ao estabelecimento da escola única o Manifesto disse: Em nosso regime político, o Estado não poderá, decerto, impedir que, graças à organização de escolas privadas de tipos diferentes, as classes mais privilegiadas assegurem a seus filhos uma educação de classe determinada; mas está no dever indeclinável de não admitir, dentro do sistema escolar do Estado, quaisquer classes ou escolas, a que só tenha acesso uma minoria, por um privilégio exclusivamente econômico. Afastada a ideia do monopólio da educação pelo Estado, num país em que o Estado, pela sua situação financeira não está ainda em condições de assumir sua responsabilidade exclusiva, e em que, portanto, se torna necessário estimular, sob sua vigilância, as instituições privadas idôneas, a ‘escola única’ se entenderá, entre nós, não como ‘uma conscrição precoce’, arrolando, da escola infantil a universidade, todos os brasileiros, e submetendo-os durante o maior tempo possível a uma formação idêntica, para ramificações posteriores em vista de destinos diversos, mas antes como a escola oficial, única, em que todas as crianças, de 7 a 15, todas ao menos que, nessa idade, sejam confiadas pelos pais à escola pública, tenham uma educação comum, igual para todos. (AZEVEDO, 2010, p. 44). Outro ponto amplamente discutido são as finalidades as quais se deve dedicar o processo educacional que passam a centrar-se nas questões da unidade, autonomia e descentralização. Quanto a unidade da função educacional podemos destacar o posicionamento do documento: A seleção dos alunos nas suas aptidões naturais, a supressão de instituições criadoras de diferenças sobre base econômica, a incorporação dos estudos do magistério à universidade, a equiparação de mestres e professores em remuneração e trabalho, a correlação e a continuidade do ensino em todos seus graus e a reação contra tudo que lhe quebra a coerência interna e a unidade vital, constituem o programa de uma política educacional, fundada sobre a aplicação do princípio unificador, que modifica profundamente a estrutura íntima e a organização dos elementos constitutivos do ensino e dos sistemas escolares. (AZEVEDO, 2010, p. 46). 17 Quanto a autonomia da junção escolar: Toda a impotência manifesta do sistema escolar atual e a insuficiência das soluções dadas às questões de caráter educativo não provam senão o desastre irreparável que resulta, para a educação pública, de influências e intervenções estranhas que conseguiram sujeitá-la a seus ideais secundários e interesses subalternos. Daí decorre a necessidade de uma ampla autonomia técnica, administrativa e econômica, com que os técnicos e educadores, que têm a responsabilidade e devem ter, por isso, a direção e administração da função educacional, tenham assegurados os meios materiais para poderem realizá-la. [...] A autonomia econômica não se poderá realizar, a não ser pela instituição de um ‘fundo especial ou escolar’, que, constituído de patrimônios, impostos e rendas próprias, seja administrado e aplicado exclusivamente no desenvolvimento da obra educacional, pelos próprios órgãos do ensino, incumbidos de sua direção. (AZEVEDO, 2010, p. 47). Por fim, quanto a descentralização: A União, na capital, e aos estados nos seus respectivos territórios, é que deve competir a educação em todos os graus, dentro dos princípios gerais fixados na nova constituição, que deve conter, com a definição de atribuições e deveres, os fundamentos da educação nacional. Ao governo central, pelo Ministério da Educação, caberá vigiar sobre a obediência a esses princípios, fazendo executar as orientações e os rumos gerais da função educacional, estabelecidos na carta constitucional e em leis ordinárias, socorrendo onde haja deficiência de meios, facilitando o intercâmbio pedagógicoe cultural dos Estados e intensificando por todas as formas suas relações espirituais. A unidade educativa – essa obra imensa que a União terá de realizar sob pena de perecer como nacionalidade, se manifestará então como uma força viva, um espírito comum, um estado de ânimo nacional, nesse regime livre de intercâmbio, solidariedade e cooperação que, levando os Estados a evitar todo o desperdício nas suas despesas escolares afim de produzir os maiores resultados com as menores despesas, abrirá margem a uma sucessão ininterrupta de esforços fecundos em criações e iniciativas. (AZEVEDO, 2010, p. 48). Neste último ponto é notável o desencontro com os interesses do governo que tinha uma postura centralizadora, sobretudo com a Reforma Francisco Campos. Esta se instituiu por meio de uma série de decretos que podem ser descritos da seguinte forma: 1. Decreto 19.850 – de 11 de abril de 1931: Cria o Conselho Nacional de Educação. Quanto a criação do CNE é interessante notar o caráter centralizador de seus artigos, indo de encontro ao princípio de descentralização renovador, subordinando-o e tirando seu peso decisório como evidenciam os seguintes artigos: Art. 1º Fica instituído o Conselho Nacional de Educação, que será o órgão consultivo do ministro da Educação e Saúde Pública nos assuntos relativos ao ensino. Art. 4º O Conselho Nacional de Educação não terá atribuições de ordem administrativa, mas opinará em última instância sobre assuntos técnicos e didáticos e emitirá parecer sobre as questões administrativas correlatas atendidos os dispositivos dos estatutos das universidades e dos regulamentos 18 institutos singulares de ensino superior. [Grifos do autor] (BRASIL, DECRETO Nº 19.850 DE 11 DE ABRIL DE 1931). 2. Decreto 19.851 – de 11 de abril de 1931: Dispõe sobre a organização do ensino superior no Brasil e adota o regime universitário. Ao que tange o ensino superior pode-se detectar algumas concessões do Estado a descentralização: Art. 3º O regime universitário no Brasil obedecerá aos preceitos gerais instituídos no presente decreto, podendo, entretanto, admitir variantes regionais no que respeita à administração e aos modelos didáticos. [Grifos do autor] (BRASIL, DECRETO Nº 19.851 DE 11 DE ABRIL DE 1931). Porém, pode ser observada uma rigidez na escolha da direção universitária como mostra o Art. 16º e o 17º referente a escolha do reitor: Art. 16. O Reitor, nas universidades federais e estaduais, será de nomeação dos respectivos governos , devendo a escolha recair em nome constante de uma lista tríplice, organizada em votação uni-nominal pelo Conselho Universitário. Parágrafo único. O Reitor será nomeado pelo prazo de três anos, podendo ser reconduzido desde que seja incluído novamente na lista tríplice. Art. 17. A escolha do Reitor nas universidades equiparadas será regulada nos seus estatutos, dependendo, porém, a posse efetiva no cargo de prévio assentimento do ministro da Educação e Saúde Pública, que poderá vetar a nomeação quando o candidato não oferecer garantias ao desempenho de tão altas funções. [Grifos do autor] (BRASIL, DECRETO Nº 19.851 DE 11 DE ABRIL DE 1931). Em relação a organização didática há uma concordância considerável em relação ao Manifesto como é expresso no Art. 32: Art. 32. Na organização didática e nos métodos pedagógicos adotados nos institutos universitários será atendido, a um tempo, o duplo objetivo de ministrar ensino eficiente dos conhecimentos humanos adquiridos e de estimular o espírito da investigação original, indispensável ao progresso das ciências. (BRASIL, DECRETO Nº 19.851 DE 11 DE ABRIL DE 1931). Assim como incentivo a atividade científica: Art. 46. Além dos cursos destinados a transmitir o ensino de conhecimento já adquiridos, os institutos universitários deverão organizar e facilitar os meios para a realização de pesquisas originais que aproveitem aptidões e inclinações, não só do corpo docente e discente, como de quaisquer outros pesquisadores estranhos à própria Universidade. (BRASIL, DECRETO Nº 19.851 DE 11 DE ABRIL DE 1931). Vale destacar também o forte impulso que se buscou dar ao meio universitário ao incentivar a formação de grupos, conselhos, associações de docentes e discentes a fim de dinamizar as relações sociais entre o meio universitário, aumentando dessa forma as 19 possibilidades de trocas de conhecimento e o proveniente enriquecimento cultural. Podemos notar também uma particular atenção ao ensino superior que como vermos mais adiante não é dada a outros níveis do ensino. Essas medidas podem ser vistas nos 11 artigos (99 ao 110) que compõe o Título XIII do Estatuto Universitário que versa sobre a Vida Social Universitária. 3. Decreto 19.852 – de 11 de abril de 1931: Dispõe sobre a organização da Universidade do Rio de Janeiro. A criação da Universidade do Rio de Janeiro foi muito importante para regularização do ensino superior na capital federal reunindo várias instituições e potencializando o ensino e os recursos nas instituições ao promover maior integração entre as mesmas. São organizadas as estruturas dos cursos das Faculdades de Direito, Medicina, Engenharia, da Faculdade de Educação, Ciências e Letras. Assim como dos cursos de Farmácia, Odontologia, Ensino Artístico e do Instituto de Música. É interessante notar a tabela de taxas ratificada pelo decreto 22.784 de 1933 onde eram cobrados serviços tais como: matrícula para exames; matrícula anual ou de frequência; elaboração de certificados, títulos e certidões. Os valores variavam entre 5$0 (cinco mil-réis) a 2:000$0 (dois contos de réis)13. 4. Decreto 19.890 – de 18 de abril de 1931: Dispõe sobre a organização do ensino secundário. É reconhecido oficialmente o ensino secundário (Art. 1º) e subdividido em fundamental e complementar (Art. 2º), composto de 5 anos e disposto da seguinte forma (Art. 3º): 1ª série: Português – Francês – História da Civilização – Geografia – Matemática – Ciências Físicas e Naturais – Desenho – Música (canto orfeônico). 2ª série: Português – Francês – Inglês – História da Civilização – Geografia – Matemática – Ciências Físicas e Naturais – Desenho – Música (canto orfeônico). 3ª série: Português – Francês – Inglês – História da Civilização – Geografia – Matemática – Física – Química – História Natural – Desenho – Música (canto orfeônico). 4ª série: Português – Francês – Inglês – Latim – Alemão (facultativo) – História da Civilização – Geografia – Matemática – Física – Química – História Natural – Desenho. 13 Já popularmente adotada como unidade monetária brasileira, o mil-réis foi oficializado em 08/10/1833 através da Lei 59, assinada no 2°. Império, pela Regência Trina durante a menoridade de D. Pedro II. Essa Lei reorganizou, sob vários aspectos, o Sistema Monetário Brasileiro. O mil-réis passou a designar a unidade monetária e réis os valores divisionários. Assim, o conto de réis, trata-se do montante equivalente a 1 milhão de réis, ou mil mil-réis. Ex: 1:000$000 = 1 conto de réis = 1000 mil-réis = 1 milhão de réis. 20 5ª série: Português – Latim – Alemão (facultativo) – História da Civilização – Geografia – Matemática – Física – Química – História Natural – Desenho. (BRASIL, DECRETO Nº 19.890 DE 18 DE ABRIL DE 1931). O curso complementar funciona como uma preparação direta para algum curso específico do ensino superior, com duração de 2 anos, constitui as seguintes matérias: Alemão ou Inglês, Latim, Literatura, Geografia, Geofísica e Cosmografia, História da Civilização, Matemática, Física, Química, História Natural, Biologia Geral, Higiene, Psicologia e Lógica, Sociologia, Noções de Economia e Estatística, História da Filosofia e Desenho (Art. 4º). Variando a distribuição dessas matérias segundo o curso superior almejado como disposto nos artigos 5º (Curso Jurídico), 6º (Cursos de Medicina, Farmácia e Odontologia)7º (Cursos de Engenharia ou Arquitetura) e 8º (cursos referentes a Faculdade de Educação, Ciências e Letras). São ainda estabelecidas diretrizes para programas e métodos orientados pelo Colégio Pedro II, tido como referência nacional para o ensino secundário, e o Ministério da Educação e Saúde Pública, assim como a discussão sobre as rendas das instituições e a remuneração dos funcionários. O capítulo II versa sobre a organização do Colégio Pedro II, que serve como modelo para as demais instituições de ensino secundário, o capítulo III trata das admissões ao curso e o capítulo IV do regime escolar. É ainda definida a inspeção do ensino secundário (Título II), com função, segundo o Art. 54 de: Art. 54. Incumbe à inspeção velar pela fiel observância das disposições deste Decreto, que forem aplicáveis aos estabelecimentos de ensino sob o regime de inspeção preliminar ou permanente bem como das disposições dos respectivos regulamentos. (BRASIL, DECRETO Nº 19.890 DE 18 DE ABRIL DE 1931). Segundo o artigo 57 compete ainda aos inspetores “fiscalizar os exercícios de educação física e as aulas de música, bem como verificar as condições das instalações materiais e didáticos do estabelecimento”. (BRASIL, DECRETO Nº 19.890 DE 18 DE ABRIL DE 1931). A lei trata ainda da regulamentação do registro de professores e das disposições gerais e transitórias. 5. Decreto 20.158 – de 30 de junho de 1931: Organiza o ensino comercial, regulamenta a profissão de contador e dá outras providências. A lei dispõe sobre a regulamentação do ensino comercial (Art. 1º) e o artigo 2º estabelece “um curso propedêutico e dos seguintes cursos técnicos: de secretário, guarda- livros, administrador-vendedor, atuário e de perito-contador e, ainda, de um curso superior de 21 administração e finanças e de um curso elementar de auxiliar do comércio” (BRASIL, DECRETO Nº 20.158 DE 30 DE JUNHO DE 1931). São ainda especificadas as disciplinas que compõe cada curso e a configuração de cada um destes. Pode-se conjecturar por essas medidas o aumento da demanda de pessoal no setor comercial brasileiro e a preocupação governamental em atender tal necessidade por meio da referida lei. Além disso, é criada a Superintendência do Ensino Comercial (Título II) que tem sua instituição e objetivo dispostos, respectivamente, nos artigos 34 e 35: Art. 34. A Superintendência de Fiscalização dos Estabelecimentos do Ensino Comercial passa a denominar-se Superintendência do Ensino Comercial, subordinada diretamente ao Ministro da Educação e Saúde Pública, e terá ao seu cargo a fiscalização dos estabelecimentos de ensino comercial, reconhecidos ou em período de fiscalização prévia, e a direção de todos os instituídos ou escolas de comércio, ciências econômicas e administração, mantidos ou dependentes da União, e bem assim o registro dos diplomas das escolas de comércio, de ciências econômicas e administração e dos títulos de habilitação previstos neste decreto. Art. 35. Todos os estabelecimentos de ensino comercial, de ciências econômicas e de administração, pertencentes a fundações, sociedades particulares, estados e municípios, para que gozem dos favores legais, devem ser equiparados ao padrão federal, requerendo fiscalização e reconhecimento pela Superintendência do Ensino Comercial. (BRASIL, DECRETO Nº 20.158 DE 30 DE JUNHO DE 1931). São ainda determinadas as novas formas de organização administrativa da Superintendência e, no Título III, é regulamentada a profissão de contador e suas regalias, desde que em acordo com a supervisão da Superintendência, sendo em caso contrário passível de multa até a regulamentação de sua situação. 6. Decreto 21.241 – de 14 de abril de 1932: Consolida as disposições sobre a organização do Ensino Secundário. A lei faz uma atualização do decreto 19.890 de 18 de abril de 1931. São alterados os artigos 12, 22, 42, 66, o item II do artigo 67 e o artigo 95. Quanto ao artigo 12, permitia que fosse ministrado o curso complementar em estabelecimentos oficiais de ensino secundário ou sob regime de inspeção enquanto não houvesse número suficiente de licenciados ou ainda quando os programas de ensino fossem idênticos ao do Colégio Pedro II. Com a atualização passam a ter preferência, “de acordo com as suas habilitações, professores e docentes livres do mesmo [instituto superior], anualmente designados pelo respectivo Conselho técnico-administrativo”. (BRASIL, DECRETO Nº 21.241 DE 4 DE ABRIL DE 1932). O artigo 22 que se referia aos conteúdos cobrados no exame de admissão é substituído pela proibição de inscrição para exame em mais de um estabelecimento de ensino secundário, 22 acarretando anulação dos exames em caso de transgressão. O artigo 42 não mais dispõe sobre aqueles habilitados para os exames de segunda época, mas apenas sobre a previsão de data dos exames. O artigo 66, antes versava sobre a obrigatoriedade de residência na sede do distrito exercício, passa agora sobre o preenchimento dos cargos de inspeção e sua distribuição em variadas seções. Por sua vez, o item II do artigo 67, antes inciso 2º, tratava da nomeação de inspetores e passou a tratar da função do cargo. Por fim, o artigo 95 é acrescido, e trata da determinação dos documentos necessários a alunos de colégios militares para o ingresso em instituições de ensino secundário. Podemos ver que tanto o Manifesto quanto a Reforma Francisco Campos tiveram algum impacto na sociedade da época, a própria reforma já atende alguns anseios organizacionais dos pioneiros com a criação do CNE e a organização do ensino superior e secundário, assim como do ensino comercial. No entanto ainda está longe dos princípios de gratuidade e obrigatoriedade, e, acessibilidade do ensino, além da ausência de medidas em relação ao ensino primário. Houve, porém, avanços em termos quantitativos, um crescimento real dos recursos financeiros destinados à educação. A rede escolar já vinha crescendo desde o início dos movimentos de reforma educacional dos estados, assim como o crescimento do número de matrículas e de professores como mostram as tabelas a seguir. TABELA 1 – CRESCIMENTO REAL DA REDE ESCOLAR 1923 1932 N.os índices 1923 1932 População total 32.734.642 39.152.523 100 120 Unidades escolares 22.922 29.948 100 130 1932 1936 N.os índices 1932 1936 População total 39.152.523 42.395.151 100 108 Unidades escolares 29.948 39.104 100 131 FONTE 1: RIBEIRO, 2000 APUD BRASIL, INEP, O ENSINO NO BRASIL NO QUINQUÊNIO 1932-36, 1939: 13 TABELA 2 – CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO TOTAL DO PAÍS E DA MATRÍCULA GERAL 1932 1936 23 População total 39.152.523 42.395.151 N.os índices 100 108 Matrícula geral 2.274.213 3.064.446 N.os índices 100 135 FONTE 2: RIBEIRO, 2000 APUD BRASIL, INEP, O ENSINO NO BRASIL NO QUINQUÊNIO 1932-36, 1939: 24. TABELA 3 – CRESCIMENTO DO PROFESSORADO Anos N.º de professores N.os índices 1932 76.025 100 1936 96.161 127 FONTE 3: RIBEIRO, 2000 APUD BRASIL, INEP, O ENSINO NO BRASIL NO QUINQUÊNIO 1932-36, 1939: 37. Naturalmente, tal crescimento propicia certo grau de aperfeiçoamento no âmbito administrativo, como aponta a própria Ribeiro (2000 apud INEP, 1939): A variação de matrícula superior à de unidades escolares evidencia que o aparelho de ensino não se desenvolveu apenas em extensão, ou formalmente, mas em capacidade real [...]. Maior proporção de matrícula para cada unidade significa, de um lado, maior procura de lugares por parte da população: de outro, melhora de organização, pois maior número de alunos em cada posto de ensino traz a possibilidade de adoção de medidas de coordenação e controle, como as de graduação dos alunos e de mais efetiva direção técnica (p. 24). Há também melhores resultados do trabalho escolar o que pode ser conferido no aumento de aprovação no ensino primário e secundário. TABELA 4 – VARIAÇÃO DE APROVAÇÃO Anos Matrícula AprovaçõesTaxa Graus 1932 2.071.437 831.223 40% Elementar 1936 2.750.014 1.153.212 42% 1932 56.208 40.000 72% Médio 1936 107.649 85.103 79% 1932 21.526 19.876 92% Superior 1936 26.732 22.439 84% FONTE 4: RIBEIRO, 2000 APUD BRASIL, INEP, O ENSINO NO BRASIL NO QUINQUÊNIO 1932-36, 1939: 33-4. Havia uma expectativa enorme de melhoras na educação entre a década de 1920 e o Governo Provisório de Vargas, uma grande movimentação girou em torno da Constituição de 1934 e é o resultado disso que será alisado a seguir. 24 3.2. A incerteza (1934 a 1937): a Constituição e as “novas” possibilidades Do ponto de vista educacional pode se dizer que o processo da Constituinte de 1933- 34 foi um confronto entre a tradição e a modernidade (ROCHA, 2001), as velhas e as novas tendências. Conservam-se muito fortes os padrões patrimonialistas na sociedade brasileira o que, de certa forma, faz com que a ordem pública seja tratada como privada. Acrescenta-se, formalmente, a essa orientação, a exigência de um ensino para o povo, elementar e profissional, separando as formas de ensino vinculadas aos grupos mais elitizados, e dando- lhes um caráter quase que privado, na forma do ensino secundário e do superior. Esse padrão dualista da educação que começa a ser traçado no final do Império permanece ainda no Brasil republicano e sobrevive a Revolução de 1930. Marlon Bessa Mendes da Rocha (2001) sintetiza: As reformas de ensino introduzidas pela Revolução de 1930 restringiram-se ao nível do ensino para as elites: o secundário e o superior. O Estado Novo, em educação, não é outa coisa senão a velha tradição patrimonialista contra as inovações modernizantes que vinham se introduzindo na sociedade brasileira desde os anos 1920 até a primeira metade dos anos 1930. (p. 120). A universalidade e a individualidade estão no ceio do que chamamos sociedade civil moderna, o que remete a condição de sujeito privado livre para expressar sua subjetividade. Assim podemos associar o ator político-educacional moderno, no contexto da constituinte, ao movimento renovador da educação (escolanovismo). Esse movimento critica o modelo escolar existente caracterizado pela seletividade social, formação por conteúdos pedagógicos de caráter formalista, pela separação entre atividades humanas e ensino propondo em vista disso: a escola única (contra a seletividade social), compreensão do papel da escola na constituição da sociabilidade, pedagogia centrada no educando e na consciência de ser social e o caráter público e gratuito da educação, respeitando a diversidade educacional (a multiplicidade). Todas essas ideias estavam presentes no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932 e também no anteprojeto constitucional da 5ª Conferência Nacional da Associação Brasileira de Educação. Cinco temas referentes a questão educacional foram inseridos na pauta desse anteprojeto: a) a participação da união em todos os ramos e níveis do ensino; b) o direito a educação; c) a ação supletiva da União aos estados e municípios; d) a aplicação dos recursos públicos em educação; e) e o ensino religioso. Isto posto podemos analisar os 11 artigos que compõe o “Capítulo II – Da Educação e da Cultura” do Título V da constituição brasileira de 1934. Partindo do artigo 148 vemos que 25 o mesmo coloca a educação como ponto de importância e reconhece o papel do poder público no estímulo a educação: Art. 148 Cabe à União, aos Estados e aos Municípios favorecer e animar o desenvolvimento das ciências, das artes, das letras e da cultura em geral, proteger os objetos de interesse histórico e o patrimônio artístico do País, bem como prestar assistência ao trabalhador intelectual. (FÁVERO, 2001, p. 304-305). Atendendo a demanda dos renovadores, mas não totalmente, o artigo seguinte (149) reconhece que “A educação é direito de todos e deve ser ministrada, pela família [grifos do autor] e pelos Poderes Públicos” (FÁVERO, 2001, p. 305). A função educativa é primeiramente da família que dividi o ônus com os poderes públicos. No artigo 150, são fixadas as competências da União: a) fixar o plano nacional de educação, compreensivo do ensino de todos os graus e ramos, comuns e especializados; e coordenar e fiscalizar a sua execução, em todo o território do País; b) determinar as condições de reconhecimento oficial dos estabelecimentos de ensino secundário e complementar deste e dos institutos de ensino superior, exercendo sobre eles a necessária fiscalização; c) organizar e manter, nos Territórios, sistemas educativos apropriados aos mesmos; d) manter no Distrito Federal ensino secundário e complementar deste, superior e universitário; e) exercer ação supletiva, onde se faça necessária, por deficiência de iniciativa ou de recursos e estimular a obra educativa em todo o País, por meio de estudos, inquéritos, demonstrações e subvenções. (FÁVERO, 2001, p. 305). O parágrafo subsequente sobre as normas para confecção do Plano Nacional de Educação possibilita a não gratuidade e obrigatoriedade do ensino público em todos os seus níveis ao dizer no item “b) tendência a gratuidade do ensino ulterior ao primário, afim de o tornas mais acessível” [Grifo do autor]. (FÁVERO, 2001, p. 305). Os artigos 151 e 152 determinam as competências, respectivamente, dos Estados e Distrito Federal e do Conselho Nacional de Educação. É admitido o ensino religioso nas escolas públicas primárias, secundárias, profissionais e normais (Art. 153), mesmo que em caráter facultativo o que, naturalmente, opõe-se ao caráter laico da educação apregoado pelos renovadores. O artigo 154 favorece a criação de escolas privadas gratuitas garantindo a estas a isenção de tributo e o 155 garante a liberdade de cátedra. É estabelecido o mínimo de aplicação das verbas provenientes de impostos para manutenção e desenvolvimento dos sistemas educativos de 10% para a União (em caso de zonas rurais 20%) e 20% aos Estados e o Distrito Federal. Vale lembrar que tais 26 determinações não foram aplicadas de forma plena, mesmo nos dias atuais tais níveis de investimento não ocorrem (a despeito da atual Constituição). Além disso, também deverão ser garantidos parte de seus patrimônios territoriais para formação de respectivos fundos educacionais (Art. 157). Rocha (2001) atesta: Não foram poucos os trabalhos elaborados por órgão do próprio aparelho governamental [...] que demonstravam o crescimento da defasagem entre a demanda do ensino básico e o público escolarizado [...]. Não obstante, a aplicação de verba federal no ensino elementar foi quase sempre irrisória, tanto no período de vigência legal da Carta de 1934, como no período do Estado Novo, com alguma exceção em áreas de colonização estrangeira problemática. (p. 132-133). O artigo 158, busca tomar medidas para garantir a competência do pessoal que venha a compor os cargos públicos da carreira magistério determinando o concurso de títulos e provas no provimento de cargos de docência. Em suma, pode-se dizer que a Constituição de 1934 é ambígua em relação ao confronto entre a tradição, aqui identificada com a concepção católica de educação – mais conservadora – e a concepção escolanovista, defensora da modernização da educação. Percebe-se pela análise do segundo (direito a educação), quarto (aplicação dos recursos públicos em educação) e quinto (ensino religioso) dos 5 temas discutidos pela ABE que o direito à educação, formulado pela referida constituição, não se fez de pleno direito. Assim o sistema educacional que se desenvolveu o fez diante da contradição destes elementos tradicionais e modernizadores que na figura dos ideais de educação católicas e liberal se digladiaram para orientar o desenvolvimento educacional do país com maior ou menor grau de mudança. A Constituição de 1934 vem como síntese dessa disputa, tendo os elementos do governo como árbitros que buscavam equilibrar ambas as tendênciassegundo seus próprios interesses. Pode-se verificar que embora o índice de aprovações tenha aumentado o de reprovações e análogos também aumentaram, ou seja, o que houve não foi um aumento da qualidade do ensino, mas sim da quantidade de pessoas por ele supridas. Os efeitos das legislações educacionais desse período foram de início animadoras, mas não foi suficiente para melhora dos trabalhos escolares num nível realmente significativo, pois em números absolutos mais alunos continuaram sendo reprovados. O resultado foi análogo em relação ao aperfeiçoamento administrativo, permaneceu o alto grau de seletividade característico da organização escolar brasileira uma vez que a bifurcação dos caminhos escolares após o primário permaneceu: de um lado, a via do “povo” (escolas profissionais) e, do outro, a via da “elite” (escolas secundárias). 27 Compactuam com essas reflexões os dados dos números absolutos de reprovação e de conclusão dos graus de ensino. Veja as tabelas: TABELA 5 – REPROVAÇÕES EM NÚMEROS ABSOLUTOS FONTE 5: CÁLCULO FEITO A PARTIR DA TABELA 4. TABELA 6 – CONCLUSÃO DE CURSO SEGUNDO OS GRAUS DE ENSINO 1932 1936 Ensino Elementar 127.784 195.475 N. os índices 100 153 Ensino Médio 16.459 26.561 N. os índices 100 161 Ensino Superior 4.202 6.617 N. os índices 100 157 Total 148.445 228.653 N. os índices 100 154 FONTE 6: RIBEIRO, 2000 APUD BRASIL, INEP, O ENSINO NO BRASIL NO QUINQUÊNIO 1932-36, 1939: 35. TABELA 7 – QUANTIDADE DE PESSOAS QUE DEIXAM DE COMPLETAR OS OUTROS GRAUS EM RELAÇÃO AO ELEMENTAR Grau Diferença na conclusão de curso 1932 1936 Acréscimo Elementar para médio 111.325 168.414 57.589 Elementar para superior 123.582 188.858 65.276 FONTE 7: CÁLCULO FEITO A PARTIR DA TABELA 6 Quanto ao dualismo educacional Romanelli (2014) frisa que: as camadas médias e superiores procuravam sobretudo o ensino secundário e superior como meio de acrescentar prestígio a um status adquirido ou, ainda, como meio de adquirir status. A expansão do ensino médio, mais acentuada no ramo secundário, demonstrou que foram aquelas camadas as mais Graus Anos Reprovações Elementar 1932 1.240.214 1936 1.596.802 +356.588 Secundário 1932 16.208 1936 22.546 +6.338 28 atingidas pelo sistema educacional, já que esse ramo do ensino era o ramo de sua preferência. Por outro lado, as camadas populares passaram a procurar as escolas primárias e as escolas profissionais. O ensino profissional [...] passou a ministrar cursos de formação, de duração semelhante à do ensino secundário, e cursos de aprendizagem, de preparo rápido, além dos cursos de especialização e aperfeiçoamento, de duração variável. (p. 172-173). Andreotti (2008) concorda e aponta para a escolarização como projeto de ascensão social: É por meio da escola que a inserção pretendida se realiza, tema muito frequente nos escritos do jornal [A Voz], traduzido nas matérias que evocam a escola como instrumento de resolução dos problemas sociais e meio para encaminhar o progresso do país. (p. 22). A autora ainda contextualiza o grupo que melhor se ajustou a essa condição: A expansão das camadas médias da população vincula-se à recente modernização capitalista que se anunciava no Brasil, trazendo novos atores, novas possibilidades de colocação no processo produtivo e a crise de hegemonia da oligarquia agrária, segmento que se fortaleceu na Primeira República. De uma forma simplificada, no processo desencadeado na década de 1930, a sociedade brasileira apresentava uma recente burguesia industrial e trabalhadores da indústria, aspecto eminentemente urbano e localizado, uma oligarquia agrária e trabalhadores do campo. A classe média encontrava-se na nova configuração de incremento do comércio, do setor de serviços e de trabalhadores autônomos, advinda da industrialização e da urbanização, processos concomitantes porque dependentes e que abriram possibilidades de mobilidade social na estrutura de classes da sociedade brasileira, com a ampliação do mercado de trabalho voltado aos setores administrativos e financeiros, como também o alargamento do mercado consumidor. (ANDREOTTI, 2008, p. 24). O acirramento das disputas políticas com a projeção de grupos pouco considerados no acordo constitucional – a Aliança Nacional Libertadora e a Ação Integralista Brasileira –, por serem movimentos que tendem, respectivamente, para estrema esquerda e direita, possibilitarão que o governo Vargas mantenha o poder e determine mais claramente a orientação educacional que melhor lhe convenha. 3.3. As novas diretrizes da Educação e a Centralização do Estado: a Constituição de 1937 e o papel do DIP na Educação Seguem os 13 artigos que tratam o tema da educação na Constituição de 1937, sendo estes os itens IX (Art. 15) e XXIV (Art. 16), os artigos 124-127 (Da Família) e 128-134 (Da educação e da Cultura). No item IX do artigo 15 a União se incube privativamente de “fixar as bases e determinar os quadros da educação nacional, traçando as diretrizes a que deve obedecer a 29 formação física, intelectual e moral da infância e da juventude”. (FÁVERO, 2001, p. 307)14. Percebe-se aí o interesse particular do governo Vargas sobre a educação da juventude, ênfase ausente na Constituição de 1934. Diferentemente da dúbia declaração da Constituição de 1934, sobre a família, está disposto que: Art. 125 - A educação integral da prole é o primeiro dever e o direito natural dos pais. O Estado não será estranho a esse dever, colaborando, de maneira principal ou subsidiária, para facilitar a sua execução ou suprir as deficiências e lacunas da educação particular. (FÁVERO, 2001, p. 308). É claro o caráter secundário no qual o Estado se coloca. No entanto, o Estado parece dar muita importância ao caráter dessa educação enfatizando sempre o interesse no caráter físico e moral da mesma como mostra o artigo 127: Art. 127 - A infância e a juventude devem ser objeto de cuidados e garantias especiais por parte do Estado, que tomará todas as medidas destinadas a assegurar-lhes condições físicas e morais de vida sã e de harmonioso desenvolvimento das suas faculdades. O abandono moral, intelectual ou físico da infância e da juventude importará falta grave dos responsáveis por sua guarda e educação, e cria ao Estado o dever de provê-las do conforto e dos cuidados indispensáveis à preservação física e moral. (FÁVERO, 2001, p. 308). No artigo 128 o Estado abre mão de qualquer obrigação para com a criação, sustentação e ampliação de um sistema público de ensino: Art. 128 - A arte, a ciência e o ensino são livres à iniciativa individual e a de associações ou pessoas coletivas públicas e particulares. É dever do Estado contribuir, direta e indiretamente, para o estímulo e desenvolvimento de umas e de outro, favorecendo ou fundando instituições artísticas, científicas e de ensino. (FÁVERO, 2001, p. 308). O Estado é categórico em apoiar a iniciativa privada a tomar conta do ensino, isso fica evidente no seguinte trecho do artigo 129: É dever das indústrias e dos sindicatos econômicos criar, na esfera da sua especialidade, escolas de aprendizes, destinadas aos filhos de seus operários ou de seus associados. A lei regulará o cumprimento desse dever e os poderes que caberão ao Estado, sobre essas escolas, bem como os auxílios, facilidades e subsídios a lhes serem concedidos pelo Poder Público. (FÁVERO, 2001, p. 309). Mesmo o artigo 130, mostra-se inclinado para o patrimonialismo e desoneração do Estado: Art. 130 - O ensino primário é obrigatório e gratuito. A gratuidade, porém, não exclui o dever de solidariedade dos menos para com os mais 14 Para consultar os artigos referentes a educação na Constituição de 1937 basta consultar o Anexo II. 30 necessitados; assim, por ocasião da matrícula, será exigida aos que não alegarem, ou notoriamente
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