Buscar

Antonio-Pedreira-A-Hora-e-a-Vez - Desconhecido

Prévia do material em texto

A HORA E A VEZ DA COMPETÊNCIA EMOCIONAL LEVANDO INTELIGÊNCIA ÀS EMOÇÕES 
 
135 PÁGINAS 
 
Direitos reservados e protegidos. Lei n 5.988, de 14 de dezembro de 1973. 
Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida por qualquer meio, sem 
autorização prévia da editora, por escrito. 
Autor: Antonio Pedreira Editor: Sérgio Almeida Coordenação Editorial: 
Deborah Moreira Capa: Nêio Mustafa Impressão: Lis Gráfica Editora Ltda. 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação ( CIP ) ( Câmara 
Brasileira do Livro, SP, Brasil ) 
Pedreira, Antonio, 19411- 
A Hora e a vez da competência emocional, levando inteligência às emoções 
/ Antonio Pedreira- Salvador, BA: CASA DA QUALIDADE, 7997. 
 
Dedicatória 
 
I Anàlise t ansacional 2 Emoções 2 Inteligência -. Quali ladr de vida I 
Tituli 
I )I-)- 1552 
Aos mestres que me ensinaram sobre emoções: Jesse Accioly, Henrique 
Austregésilo e Vilma Cortez. 
Aos meus filhos: Tatiana, Renata, Victor e Vinícius, que me permitiram 
praticar meus conhecimentos, ao tempo em que me ensinaram sobre emoções 
com espontaneidade, alegria e amor incondicional. À minha esposa Elle que 
me possibilitou vivenciar muito amor e alegria, criando uma atmosfera de 
ternura, confiança, companheirismo e desprendimento para que este livro 
fosse gerado juntamente com o filhinho Vinícius. 
Indico para catalogo sistematii0. 
A minha gratidão, hoje e sempre. 
C rnpch•nca cnaxumal . Anale. ' tran',,+nunal l''.iculogia aplic ida 
155.2 
Prefácio 
Médico, educador, psicoterapeuta, professor universitário, vem agora 
ANTONIO PEDREIRA acrescentar a sua vasta obra científica este volume, que 
intitula A HORA E A VEZ DA COMPETÊNCIA EMOCIONAL, o primeiro da trilogia 
que cuida das emoções. 
 
Nele estuda, com proficiência e criatividade, as emoções e a sua 
importância para a vida mental. Nestes tempos em que impera uma 
lamentável fragmentação do saber, é importante ressaltar a ponte que 
constrói entre as neurociências e a prática clínica e terapêutica. Assim 
é que, num texto extremamente atualizado, onde se pode reconhecer a 
influência de Sifneos, Schiff, Damasio e Goleman, chega-se à 
operacionalização dos conceitos à luz da Análise Transacional, linha 
terapêutica da predileção do autor, que tanto tem expandido entre nós as 
contribuições de seu mestre, o sempre lembrado Jesse Accioly. 
 
Tratando-se de transações interpessoais, que se desenvolvem na 
intersubjetividade, foi muito feliz no roteiro escolhido na sua trilogia. 
Partindo sempre das Primeiras Letras do Aprendizado Emocional, seguidas 
de uma Gramática, chegamos a uma Aritmética das Emoções, em que se 
acentua o valor da comunicação na administração dos conflitos inerentes 
aos múltiplos papéis assumidos pelo ser humano, que, como queria Ortega, 
é indissociável de suas circunstâncias. 
Mas é, talvez, no capítulo dedicado a Os Provérbios e as Emoções que 
melhor se fundem as identidades do médico, do educador e do terapeuta. 
Com efeito, nesta era de incertezas, em que a única coisa permanente é a 
mudança, nada mais adequado ao trato com os jovens que alertá-los para os 
perigos da aceitação automática e acrítica do passado e para o potencial 
enriquecedor da assunção de riscos - desde que sob a égide da competência 
emocional. 
 
The end is where we start from (O fim é o ponto de partida), dizia T. S. 
Eliot. Esperamos todos que, após A HORA E A VEZ DA COMPETÊNCIA EMOCIONAL, 
persista Antonio Pedreira em sua brilhante trajetória editorial, para 
alegria e proveito de seus leitores. 
 
 
EDUARDO SABACK DIAS DE MORAES Professor de Psicopatologia - UFBA 
Presidente da Associação Psiquiátrica da Bahia 
Sumário 
AGRADECIMENTOS 13 
APRESENTAÇAO 15 
INTRODUÇAO 17 
CAPÍTULO 1 - As primeiras letras do aprendizado emocional 21 
O Alfabeto emocional 24 
Os TrêsTempos da Emoção 27 
Expressões das emoções 30 
Disfarces semânticos 32 
 
CAPITULO 2 - Emoções apreendidas 33 
Aprendizado pedagógico dos disfarces 36 
 
CAPITULO 3 - Compreendendo os disfarces 38 
Disfarces: evolução e conceito 39 
Crenças mágicas sobre os disfarces 41 
História natural dos disfarces 42 
Poder dos disfarces 45 
Auto-justificativa para ter disfarces 46 
Exemplo de disfarces 46 
Disfarces do medo 47 
Disfarces da raiva 48 
Disfarces da tristeza e da alegria 49 
 
CAPITULO 4 - Abandonando os disfarces 50 
Roteiro para abdicar dos disfarces 50 
Alfabetização Emocional: Expressando Emoções Autênticas 51 
Disfarces do Afeto 52 
CAPITULO 5 - Diferenciação das emoções 53 
Diferenciação específicas das emoções salutares e parasitas: Medo - Raiva 
 54 
Tristeza - Alegria 55 
Afeto 56 
Testes para identificação do disfarce 56 
 
CAPITULO 6 - Como controlar "Emoções parasitas" 58 
Auto-controlando as raivas parasitas 60 
1° Premissa: raiva puxa raiva 60 
2° Premissa: sua raiva faz mal a você 60 
3° Premissa: dar razão a sua raiva faz mal a você 61 
4° Premissa: é possível controlar sua raiva no nascedouro 61 
5° Premissa: raiva parasita de alguém é resultante das nossas 
expectativas 62 
6° Premissa: declarações de raiva contra o outro se referem à atitude da 
pessoa 62 
 
CAPÍTULO 7 - Somatizações: Transtornos emocionais 64 
Efetuadores - Efeitos somáticos emocionais 66 
 
CAPITULO 8 - Somatizações: 0 corpo como meio de expressão 67 
Níveis dos sintomas e sinais e dos conflitos 69 
Dica importante 70 
Correspondência psíquica dos órgãos 72 
Alergia: Uma agressividade que se materializou 73 
Dores dos olhos e de cabeça 74 
Doenças do ouvido e da pele 75 
Distúrbios do sono 75 
Infecção: Um conflito que se materializou 76 
Males estomacais e digestivos 76 
Respiração - Assimilação da vida 76 
Quatro observações importantes 77 
 
CAPÍTULO 9 - Anátomo-Fisiologia da Emoção 79 
O encéfalo humano (esquema) 79 
As emoções eram negligenciadas 81 
Passos da alfebetização emocional (Claude Steiner) 82 
E alguém faz alguém passar bem ou mal? 85 
Os quatro mitos 86 
 
CAPITULO 10 - Modificações corporais produzidas pelas 5 emoções: 
Suas Implicações Evolutivas 88 
Medo 88 
Raiva e Tristeza 88 
Alegria 90 
 
CAPÍTULO 11 - Importância evolutivas das emoções 93 
Competição pelo alimento e pela fêmea 94 
Demarcação do território 95 
Agressividade e ciúme 96 
CAPITULO 12 - A interação mente e corpo 98 
As três áreas e os quatro papéis 99 
Uma experiência memorável 102 
 
CAPITULO 13 - Analfabetismo emocional 103 
 
CAPITULO 14 - Educando o seu sistema de sentimentos 106 
Estados do eu 107 
Conceitos de vida e pensamentos correspondentes 108 
Exclusões 110 
Contaminações 111 
Diálogos internos 114 
Conflitos entre estados do ego 116 
"Okeidade" consciente 117 
 
CAPITULO 15 - Inteligência: Evolução do Conceito 120 
Inteligência e aprendizagem 120 
Formação e evolução da inteligência 122 
Inteligência e genética 122 
 
CAPITULO 16 - 0 espectro das múltiplas inteligências 124 
As Sete inteligências 124 
Lógico-matemática 124 
Verbal 125 
Artístico-musical 125 
Corporal 125 
Espacial 126 
Intrapessoal 126 
Interpessoal 126 
 
 
CAPÍTULO 17 - Inteligência Emocional 129 
Autoconsciência ou Autoconhecimento Emocional 129 
Grenciamento Emocional 129 
Automotivação 129 
Empatia ou Reconhecimento das emoções alheias 130 
Habilidade em relacionamentos interpessoais 130 
Alfabetização Emocional 132 
 
BIBLIOGRAFIA 134 
Agradecimentos 
A todas as pessoas que cooperaram para que este livro se tornasse 
realidade, nas diversas fases da sua elaboração até a sua conclusão. 
 
Ao Dr. Eduardo Saback, pela outorga do prefácio desta primeira edição, 
emprestando o seu respeitável aval de mestre consagrado, médico 
psiquiatra e figura humana notável, e assim valorizando sobremodo este 
nosso livro. 
 
A Cidália Maria Rodrigues de Carvalho, não só pelo excelente trabalho de 
digitação e formatação, mas também pela disponibilidade,boa vontade e 
prazer com que se desincumbiu desta tarefa. A sua habilidade já apareceu 
antes em vários livros da minha autoria que editei com a sua inestimável 
ajuda na composição gráfica. 
 
A Helen Lacerda Edington Fonseca, Jorge Moacyr de Carvalho e Silva e 
Maria José Luna Leite, revisores do Colégio Antonio Pedreira, pela 
acurada revisão ortográfica realizada. 
 
 
A professora Suzana Bastos, que gentilmente leu o manuscrito desta obra e 
contribuiu com valiosas sugestões. 
 
A Vanessa Gomes da Silva, pela cessão das ilustrações referentes às 
facetas da emocão. frutos das suas intelicências nic- 
tórica e criativa, que demonstram, com o número mínimo de traços, o 
máximo de expressão emocional. 
 
A Tatiana Valverde Pedreira, minha filha, recém graduada em Psicologia 
que contribuiu sobremodo lendo o original, discutindo o conteúdo e a 
forma "do que" e "do como" estava sendo escrito em vários capítulos do 
livro, funcionando com a sua competência e consciência crítica como 
norteadora de muitos trechos importantes. 
 
Aos meus filhos Victor e Renata pela sensibilidade, carinho e amor que me 
dedicaram, todo o tempo em que não me foi possível desfrutarmos juntos do 
lazer e companhia, em face da premência da entrega dos originais e, mesmo 
assim, puderam continuar crescendo, amorosos. 
 
Em especial à minha mulher, Elle Pedreira, que contribuiu para este livro 
de inúmeras maneiras: 
. sendo companheira, amiga, esposa incentivadora, confiante e confiável 
em todos os aspectos; 
. emprestando-me os seus ouvidos para a leitura de cada tópico do livro, 
dando-me o referencial acerca do nível de compreensão e clareza do que 
pretendi dizer e do que escrevi; 
. disponibilizando todo o tempo possível para que eu pudesse escrever, 
sem cobranças e com desprendimento; 
. sendo fonte de afeto, ternura e prazer, ao tempo em que desenvolvia 
lindamente a gestação do filhinho Vinícius, fruto do nosso amor. 
 
A minha gratidão e reconhecimento são ilimitados. 
Apresentação 
Jamais foi dita a última palavra acerca das emoções e das suas 
correlações com a inteligência. 
Quando o livro do Coleman sobre Inteligência Emocional surgiu no Brasil 
em 1995, ficamos felizes com a sua receptividade e sucesso por vários 
motivos. Entre eles, destaco o mérito daquele autor em divulgar o 
conhecimento das emoções, embasado em experimentos e pesquisas 
científicas. Outrossim, pela possibilidade de popularizar conhecimentos 
sobre emoções trazendo argumentos convincentes e exemplos ilustrativos 
bastante interessantes, inclusive o conceito de Q.E. (coeficente 
emocional) em cotejo com o clássico parâmetro de inteligência: Q.I. 
(coeficiente intelectual), redefinindo assim o que é ser inteligente. 
Para nós que compartilhamos de um campo do conhecimento que disseca as 
emoções e os disfarces de modo tão abrangente e pragmático, como a 
Análise Transacional, respaldados na obra do seu criador, Eric Berne, 
divulgadas mundialmente desde os anos setenta, e que tivemos na Bahia o 
privilégio de conviver com Jesse Accioly, um extremo conhecedor e 
estudioso das emoções, não houve grandes novidades no livro do Coleman. 
Ademais, nós próprios já temos uma experiência prática de dezessete anos 
aplicando a inteligência emocional para superação do stress do vestibular 
na área educacional e na área esportiva, num trabalho realizado com 
E.C.Vitória em 1989, 1990 e 1992, além de aplicações na área clínica. 
Recebemos o convite para escrever este livro, do editor da Casa de 
Qualidade, como um desafio, pelo momento atribulado, mas com a certeza 
que nos desincumbiríamos bem desta tarefa de injetar mais conhecimento 
sobre as emoções, ao alcance do grande público nacional. 
Buscamos uma abordagem criativa, objetivando ensejar a oportunidade do 
leitor enriquecer os seus conhecimentos teóricos e aplicá-los na prática. 
Sem a preocupação de preciosismo, mais uma vez adotamos, como nossas, as 
palavras do legendário Tai T'ung que, no século XIII, ao prefaciar a sua 
História da Escrita Chinesa declarou: "Se eu esperasse a perfeição, este 
livro não seria terminado nunca!" 
Houve, contudo, esmero, zelo científico e carinho em oferecer aos nossos 
leitores algo consistente e estimulante para que consigam levar mais 
inteligência às emoções e atinjam a desejável COMPETÊNCIA EMOCIONAL, 
melhorando a sua qualidade de vida. 
Antonio Pedreira 
Introdução 
FINAL DO SÉCULO, NÃO FINAL DOS TEMPOS 
Durante muito tempo deste século XX, nossos contemporâneos estiveram 
atormentados por uma emoção: o MEDO. MEDO DO FIM DO MUNDO! A ameaça 
apocalíptica de que "... a 2000, não chegará!" fez com que muita gente 
abrisse mão de outra emoção, essencial ao desfrute da própria vida, a 
ALEGRIA. 
No Brasil, assistimos a um progresso crescente e à chegada de bens de 
consumo e tecnologia atuais, que se tornaram acessíveis a todos e a cada 
um: fax, xerox, fornos de microondas, TV, rádio, telefone celular, carro, 
computador etc. Por outro lado, deparamo-nos com uma série de efeitos 
colaterais indesejáveis de uma sociedade competitiva, consumista e até 
cruel, quando se afasta dos valores humanistas, e prioriza a filosofia de 
vida GANHA/PERDE, ao invés de GANHA/GANHA. Assim, sob o patrocínio de uma 
outra emoção, a RAIVA, assistimos a uma desenfreada onda de VIOLÊNCIA, 
traduzida por crimes contra os indivíduos e/ou contra seus patrimônios. A 
escalada das drogas e vícios refletiu -se até na escola. Com efeito, há 
menos de três décadas os problemas mais comuns nas escolas eram: 
- Fumar cigarro escondido. 
- Jogar papel no chão, ou giz no colega. - Falar alto na sala. 
- Mascar chicletes e merendar durante a aula. - Fazer barulho e xingar. 
- Empurrar, derrubar ou bater no colega. - Correria nas escadas e 
corredores. - Uso incompleto de uniforme. 
Nos últimos 10 anos os problemas escolares passaram a incluir: 
- Uso de drogas (ilegais e legais) 
- Suicídio infanto-juvenil - Furtos e roubos - Gravidez indesejada - DST-
AIDS e estupro 
- Agressões, lesões corporais e homicídios 
- Depressão, ansiedade e stress decorrentes de lares 
desfeitos. 
Mais do que nunca, precisamos refletir sobre estes sintomas e sinais de 
uma escalada de emoções negativas levando a uma deteriorização das 
relações interpessoais, que refletem diretamente na qualidade de vida e 
mal-estar da nossa comunidade, com as emoções de MEDO, RAIVA ou TRISTEZA. 
Com efeito, a quantidade de filhos que são vítimas de paternidade 
/maternidade inconseqüente, indesejada e incompetente é enorme e 
corriqueira na atualidade. São incomensuravelmente grandes os efeitos das 
separações conjugais sobre a mente emocional dos filhos. As crianças e 
adolescentes se acostumam com a instabilidade e imprevisibilidade 
decorrentes dos lares desfeitos, a ponto de adotarem a crença de que não 
há mais um referencial de segurança, estabilidade e confiabilidade em 
suas vidas. A insegurança e desencanto causados por tantos divórcios na 
atualidade, somente rivalizam com os efeitos perniciosos de outrora dos 
vínculos desgastados irreversivelmente, e mantidos pelas convenções 
sociais ou imposições religiosas. 
Não há dúvida de que os jovens de hoje estão mais expostos a riscos de 
lesões físicas, mentais e de autodestruição do que antigamente. Tudo 
isto, sem falar nas tentações consumistas impostas por uma mídia 
direcionada a um filão bilionário, representado pelos adolescentes. 
Assim, age a propaganda que estimula, de modo explícito ou subliminar, o 
impulso de consumismo, desde os carros ao cigarro, passando por outros 
brin 
quedos caros, sem deixar de impor marcas, padrões e condutas "jovens", 
valendo-se de todos os apelos motivacionais, inclusive o erótico e os de 
ilusão do poder. 
Mas, nem tudo está perdido! 
Entramos na era da COMUNICAÇAO e temos mais do que nunca acesso em tempo 
real às informações, agora disseminadas por todo o mundo, esta nossa 
"aldeiaglobal". Assim, por exemplo, considero oportuna e bem-vinda a 
obra de Daniel Coleman, intitulada INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, que além de 
sucesso editorial veio derramar luzes na escuridão, disseminando 
conceitos que parecem novíssimos e revolucionários, embora conhecidos 
para nós desde 1961 quando dos trabalhos pioneiros de ERIC BERNE, criador 
da Análise Transacional, e do saudoso Jesse Accioly, que foi um pioneiro 
neste estudo em nosso estado e no Brasil. 
Concordo com a receita de Coleman, para o nosso pais, diante da pressão 
social deste instante que provoca o afloramento dos indicadores de mal-
estar emocional, revelados pelas manchetes alarmantes ou transmissões de 
reportagens chocantes de crimes violentos, abuso de drogas etc. Tanto em 
termos preventivos quanto como antídoto, para a DOENÇA COMUNAL, a saída é 
dar mais atenção à COMPETÊNCIA EMOCIONAL e SOCIAL DE NOSSAS CRIANÇAS" e 
zelar mais intensamente pela nossa parte afetiva. 
C A P Í T U L 0 
1 
As Primeiras Letras 
do Aprendizado Emocional 
"Quando os homens fracassam, o que lhes faltou não foi inteligência: foi 
paixão." Struther Burt 
Nunca se conheceu tanto sobre o sistema emocional e a mente humana quanto 
nesta virada de século! 
Nos anos 80 e 90, os progressos científicos da medicina visando superação 
das doenças infecto-contagiosas, correção cirúrgica de problemas outrora 
invencíveis e a descoberta de medicações de incrível eficácia 
terapêutica, inclusive sobre os males e enfermidades mentais, 
contrastaram com o incremento do stress (apelidado "a epidemia do 
século"), distúrbios do medo (angústias, ansiedade e síndrome do pânico), 
da raiva com seus efeitos perniciosos no sistema cárdio-vascular, e 
tristeza (depressões do mais amplo espectro). 
Pesquisas científicas recentes trouxeram novos fatos e novas idéias sobre 
o funcionamento do cérebro emocional, graças à combinação de 
revolucionário instrumental e técnicas sofisticadas, tipo ressonância 
magnética, tomografia, computadores de alta capacidade. Assim, a 
NEUROBIOLOGIA revelou dados científicos sobre a vida mental, facilitando 
a compreensão acerca da atuação das células nervosas (= NEURÔNIOS) e suas 
complexas conexões (= SINAPSES) e circuitos neurais. Eis que cientistas 
nos brindaram com imagens do nosso cérebro em ação e suas surpreendentes 
modificações durante o seu funcionamento, demonstraram as suas variações 
diante dos mais diversos estados de consciência: SONO, SONHO, DEVANEIOS, 
CHORO, EXCITAÇÃO SEXUAL, ORGASMO, ESTADOS EMOCIONAIS etc. 
22 
A Hora e a Vez da Competência Emocional 23 
A Neurobiologia injeta ar no vácuo existente quanto ao conhecimento das 
emoções, desde os reveladores estudos de Darwin no seu "Tratado sobre 
emoções nos animais superiores e no homem". Assim, já são conhecidos os 
detalhes neurais e centros cerebrais envolvidos em cada uma das 5 emoções 
básicas: MEDO, RAIVA, TRISTEZA, ALEGRIA E AFETO. 
Um dos dados neurobiológicos mais notáveis é a existência de circuitos 
neurais capazes de permitir um controle dos nossos impulsos emocionais 
mais perniciosos, porque remontam a padrões dos nossos ancestrais e que 
foram úteis na luta pela sobrevivência. Tais padrões emocionais, 
internalizados e perpetuados em sobreviventes no processo de evolução das 
espécies, continuam úteis até hoje nos estados de emergências. 0 exemplo 
típico é a reação de alarme diante de situações que ameaçam a nossa vida, 
ou a nossa condição de vida. Todo nosso corpo pode ser modificado 
instantaneamente e sobrevém a mobilização de uma pronta resposta 
emocional tipo LUTA ou FUGA. Aí, vale tudo para preservar a vida. 
Em alta velocidade, as ações desencadeadas pelo nosso cérebro reptiliano 
(= sistema límbico - corpo amigdaliano) são de um automatismo incrível em 
defesa da vida. Não há tempo para o cérebro refletir. Toda a 
agressividade animal é mobilizada no combate. É "matar ou morrer". Os 
mais aptos sobreviveram e legaram aos seus descendentes, geneticamente, 
ao longo dos séculos, estes hábitos emocionais para defesa do território 
ou da prole. 
De repente, o homem moderno, que dispõe de armas mortíferas de fácil 
acesso, pode entrar em raiva numa situação banal do cotidiano e, 
intempestivamente, ter o seu emocional dominando o racional. Assim 
acontecem agressões verbais, morais e físicas entre colegas, amigos e até 
entre amantes, culminando com desfecho trágico. 0 pior é que, em uma 
grande maioria das vezes, o uso de palavras, tons, gestos e posturas, 
interpretados inadequadamente, podem causar sérios danos aos 
relacionamentos, se não à saúde e à própria vida humana, pela expressão 
de emoções e condutas perniciosas ou assassinas! 
Aprender a leitura das emoções em si próprio e nos outros é essencial. A 
possibilidade de refrear o IMPULSO EMOCIONAL permite ao indivíduo 
adquirir uma força poderosa. Como disse Maomé: 
"0 MAIS FORTE É AQUELE QUE É CAPAZ DE CONTER A RAIVA NA HORA DA IRA". 
Esta verdade traduz um dos pontos cruciais da aptidão emocional: 
discernir, ao sentir a emoção, qual a que convém e a que não convém 
expressar e atuar. Em outras palavras, a chamada "Inteligência Emocional" 
nos permite dominar AS EMOÇOES NOSSAS, DE CADA DIAL , ao invés de deixar 
que elas nos dominem. 
Acredito que a equação do sucesso pessoal, em termos de saúde física, 
psíquica e social, esteja na combinação de razão mais emoção 
SUCESSO = RAZAO + EMOÇAO (racionalidade) (sentimento) 
Investir, pois, na Alfabetização Emocional dos nossos filhos é tão 
importante para o futuro deles quanto todo o legado intelectual, 
propiciado pela educação cognitiva que as escolas habitualmente praticam. 
Como só usamos 10% do nosso potencial, podemos aprender a ampliá-lo no 
domínio do impulso emocional, e aplicar esta habilidade em nossas 
relações interpessoais. A chave para isto é o autoconhecimento, a 
capacidade que podemos adquirir - através de treinamento adequado - de 
entendermos os nossos próprios sentimentos mais sutis e conduzi-los para 
nortear as nossas condutas. De posse deste referencial interno (= 
INTELIGÊNCIA INTRAPESSOAL) é fundamental saber compreender as pessoas com 
as quais interagimos e, reciprocamente, compreender o que sentem, porquê 
sentem e como nos relacionarmos da melhor maneira possível. Esta 
capacidade de entender as suas motivações e de estabelecer uma relação 
cooperativa com as pessoas com as quais nos relacionamos constitui o que 
Gardner chamou de INTELIGÊNCIA INTERPESSOAL. 
1 - "As Emoções Nossas de Cada Dia" é o título de uma palestra que o 
autor vem ministrando 
24 
A Hora e a Vez da Competência Emocional 25 
A soma das duas inteligências pessoais (INTRAPESSOAL + INTERPESSOAL) 
constitui a essência da COMPETÊNCIA EMOCIONAL, que é a base segura para o 
sucesso pessoal nos papéis que desempenhamos em nossas vidas. 
0 ALFABETO EMOCIONAL 
De acordo com Eric Berne, há cinco, e apenas cinco emoções básicas: MEDO, 
RAIVA, TRISTEZA, ALEGRIA e AFETO, que serão para nosso estudo 
consideradas como letras do alfabeto emocional. 
CAFET < LEGRIA 
Todos nós nascemos com uma programação genética para apresentar estas 
cinco modalidades de emoção. Cada uma delas se manifesta 
independentemente da outra. Acreditamos que as emoções são excludentes 
entre si, não ocorrendo duas ou mais de uma só vez. Conforme nosso 
esquema, acima, cada emoção só é detonada uma de cada vez, como se fossem 
5 balas de um revólver. Na prática podemos confirmar que "uma emoção 
exclui a outra". Assim, se eu estou com medo, não estou com raiva; se 
estou com raiva, não posso estar com tristeza; se estou com tristeza, não 
estou com alegria etc. Às vezes, por haver um trânsito rápido de uma 
emoção para outra, podemos ter a impressão que estamos sentindo, 
simultaneamente, medo, raiva e tristeza. Na realidade, o que está 
ocorrendo é o seguinte trânsito em alta velocidade: 
Desde o genial estudo de Darwin, no seu "Tratado sobre emoçõesnos 
animais superiores e no homem" em que ele chamou a atenção para o poder 
das emoções, de induzir movimentos, conforme expressa a etimologia da 
palavra (EMOVERE, de Ex. = para fora; MOTION = movimento), sabemos que o 
MEDO tem início súbito ou lento e induz movimentos de evitação ou fuga. A 
RAIVA induz movimentos impetuosos de ataque ou de defesa, aumentando a 
força corporal significativamente. A ALEGRIA e o AFETO são aproximativos, 
enquanto a TRISTEZA induz à cessação dos movimentos, não dá ímpeto e tem 
início insidioso. 0 MEDO dá ímpeto de fuga, tendo início súbito ou 
insidioso. Embora, à primeira vista, pareça que existem três emoções 
ruins e duas boas, a verdade é que todas as cinco são importantes para a 
nossa vida. Por exemplo, diante de um grito súbito: INCÊNDIO!, é 
importante que você sinta MEDO, e não alegria ou afeto. Com medo, seu 
corpo é colocado repentinamente em estado de alerta para lutar contra o 
fogo ou fugir do fogo. Em ambas as alternativas o medo atua preservando 
nossas vidas. 
Facetas do MEDO 
Tímido Apavorado Medroso Horrorizado 
 P 
Desconfiado Incrédulo Envergonhado Embaraçado 
o O -0 e 
ri ~ n 
Ansioso Culpado Surpreso Aflito 
 /W OU 
 O 
Prudente Indeciso Constrangido Modesto 
 rói (2)0 
RAIVA 
MEDO 
TRISTEZA 
26 
A Hora e a Vez da Competência Emocional 27 
A RAIVA gera força e energia para superar os obstáculos e adversidades. 
Todas as vezes que houver uma ameaça a sua vida, ou à sua condição de 
vida, a RAIVA se apresenta como a defesa natural, uma espécie de força 
vital que responde à ameaça de impotência. Como não existe uma emoção 
chamada CORAGEM, a RAIVA é a emoção que funciona como antídoto natural 
contra o medo, e permite o enfrentamento da situação temida ou perigosa, 
ao invés simplesmente de fazer o que parece mais cômodo: A EVITAÇAO ou 
ESQUIVA. Convém, de pronto, ressaltar que o ego Adulto (= córtex) precisa 
estar ligado para que não haja confusão entre coragem e insensatez. 
De acordo com Bill Cornel, há circunstâncias em que a RAIVA pode ser 
vista com a mesma motivação do AFETO, qual seja o preenchimento da "fome" 
psicológica de contacto ou de relação. Ex.: - Não estou seguro desta 
relação, portanto utilizo a RAIVA (= como se fosse amor com o sinal 
trocado). 
Facetas da RAIVA 
Agressivo Crítico Irado Exasperado 
Histérico Rabugento Decepcionado Chocado 
.,,. aM:M n 
Invejoso Frustrado Arrogante Ciumento 
 
Agoniado Hostil Vingativo Colérico 
eXEE í" Ú)I 
 kt ® ) ) 
0 que ocorre, na prática, é que MEDO, RAIVA e TRISTEZA são emoções 
DESPRAZEROSAS ou, no jargão psiquiátrico, DISFORIZANTES, enquanto a 
ALEGRIA e o AFETO são emoções prazenteiras ou EUFORIZANTES, sendo que a 
ALEGRIA expande o ego e tende a provocar movimentos sem finalidade 
pragmática alguma. 
0 AFETO expande a alma, engrandecendo-a de modo subjetivo. Correlaciona-
se ao PRAZER, ao SEXO e ao AMOR, induzindo-nos a uma aproximação física 
tão grande que permite a reprodução e a proteção da prole. 
A tabela abaixo sumaria a essência do que foi dito, correlacionando cada 
emoção aos fatores causais e aos efeitos ou conseqüências condutuais 
delas. 
ESTIMULO EFEITO CONSEQÜÊNCIA 
(causa) (emoção) (conduta) 
> FUGA OU LUTA 
 MEDO > 
PERIGO 
> AGRESSÃO/ 
OBSTÁCULO 
 RAIVA 
 
 SUPERAÇÃO/ 
 DEFESA 
PERDA > PARALISAÇÃO / 
 TRISTEZA 
 
 
 RECUPERAÇÃO 
FOME DE CONTATO > AFETO APROXIMAÇÃO 
 
 
 e CONJUGAÇÃO 
CONQUISTA > ALEGRIA > APROXIMAÇÃO e 
 
 
 MOVIMENTOS 
 NÃO FINALISTAS 
OS TRÊS TEMPOS DA EMOGAO 
Diante de um estímulo do meio externo, o nosso corpo reage de acordo com 
a circunstância, desencadeando uma das cinco emoções básicas. Desde a 
detonação da carga emocional no nosso tronco encefálico até o seu efeito 
corporal, podemos identificar três tempos: 
(verbal) 
 ,. 
SENTIR 
EXPRESSAR 
ATUAR 
28 
A Hora e a Vez da Competência Emocional 29 
Facetas da TRISTEZA 
Desesperado Triste Desgostoso Depressivo 
o o dd /1- l 
 Ou 
Entediado Solitário Ferido Desolado 
Apiedado Retraído Estafado Meditativo 
 CZD 
Concentrado Deprimido Melancólico Nostálgico 
1° TEMPO: 0 SENTIR é um processo intrapsíquico. Todo ser humano vem 
programado geneticamente para sentir todas as cinco emoções básicas. É 
natural e normal que tanto o homem quanto a mulher sintam MEDO, RAIVA, 
TRISTEZA, ALEGRIA e AFETO. Embora alguns homens garantam que não sentem 
MEDO, isto é balela - eles sentem medo. Pode até ser que o processo 
educacional deles tenha sido repressor do medo, inclusive tendo ouvido, 
repetidas vezes, o bordão: 
"HOMEM NÃO TEM MEDO" OU "HOMEM NÃO CHORA". 
Aliás, veremos adiante que assim começam as emoções de disfarce: 
proibição de uma emoção autêntica e imposição para que você não sinta o 
que sente, e sinta o que eu quero que você sinta. 
mos, só os humanos têm a possibilidade de exprimir o que estão sentindo 
através da palavra. É o grande diferencial do homem para os demais 
animais: o poder da palavra. 
Justamente em função desta particularidade inerente ao ser humano é que 
dedicamos um livro, à GRAMÁTICA DAS 5 EMOÇÕES e outro às SENTENÇAS DAS 
EMOÇÕES: OS PROVÉRBIOS INDUTORES DE EMOÇÕES. 
Facetas da ALEGRIA 
Contente Confiante Alegre Feliz 
Satisfeito Animado Deslumbrado Otimista 
/'-- -\ Interessado d 
~~ ZCJÓ 
Aliviado Eufórico Embriagado Espirituoso 
 o:% ArA 11 , 
Sendo as palavras símbolos mentais, a expressão verbal das emoções é um 
fenômeno extraordinário na vida humana. A comunicação interpessoal poderá 
ser saudável ou patológica em função das emoções expressas de modo sutil 
ou explícito, de modo adequado ou indequado. As palavras têm o poder de 
CURAR, FAZER ADOECER e MATAR. Há palavras que alegram e as que 
entristecem. Pela palavra, uma pessoa pode se acalmar ou se exasperar, e 
ter uma acesso de ira. Há palavras que induzem medo, raiva, tristeza e 
outras que suprimem estas emoções. Observem os detalhes do como cada 
palavra colocada nos exemplos ilustrativos qualificam ou determinam 
certas emoções. 
Algumas trazem dúvida ou esperança, outras negam e outras afirmam 
determinados sentimentos. 
2° TEMPO: 0 EXPRESSAR é traduzir a emoção por palavras. É 
hiimann rnnic cP trata rlp rim nrnc' n VF.RRAT. Até, nnde cahe 
30 
A Hora e a Vez da Competência Emocional 31 
Enfim, as palavras têm substância e poder, representam o fio de ouro do 
pensamento, das crenças, dos sentimentos. 
HA PALAVRAS QUE CHORAM, E LÁGRIMAS QUE FALAM (COWLEY) 
30 TEMPO: ATUAR é a expressão corporal das emoções ou seja, o modo como a 
emoção sentida ou verbalizada se exprime através da linguagem do corpo. 
Sabemos que a energia proveniente da emoção se espalha por todo corpo, 
atingindo determinados setores, como a nossa musculatura esquelética, a 
qual é composta de 501 músculos que nos dão a movimentação voluntária. Ao 
alcançar nossos músculos, as emoções produzem movimentos diversos: 
finalistas e não finalistas, com ímpeto e sem ímpeto, aproximativos e 
disjuntivos, espontâneas ou ritualizadas etc. 
Em suma, eis como OS TRÊS TEMPOS DAS EMOÇOES podem ser resumidos em três 
PROCESSOS: 
EXPRESSÕES DAS EMOCOES 
INTRAPSÍQUICO VERBAL (= FALA) CORPORAL (= AÇOES) 
 ATUAR 
SENTIR EXPRESSAR 
Sinto medo digo: estou morrendo começo a tremer e fujo 
 de medo 
Sinto raiva confesso que estou passo a chutar as portas 
 com raiva 
Sinto tristeza falo da minha tristeza fico encolhido e choro 
Sinto afeto digo: te amo! beijo apaixonadamente 
Sinto alegria verbalizo: como estou pulo, danço e assobio 
 alegre! 
Algumas pessoas preferem a expressão verbal, e outras a expressão 
CORPORAL DAS EMOÇOES, a depender do treinamento recebido dos pais na 
infância. 
Facetas do AFETO 
Apaixonado Amoroso Solidário Malicioso 
 _r *IN 0 
Deslumbrado Vidrado Saudoso Encabulado 
Indiferente Curioso (sexual) Enternecido Comovido 
O filósofo Schopenhauer (1830) declarou: 
"Manifestar cóleraou ódio pelas palavras é perigoso, ridículo e 
imprudente; não nos podemos vingar senão pelos atos. Os animais de sangue 
frio são os únicos venenosos." 
Ensinou-nos o mestre Jesse Accioly que as cinco emoções autênticas sofrem 
um processo terrível de repressão. Entre estas emoções, garante, a 
alegria é a mais boicotada. Basta você se lembrar das coisas que você 
ouvia, enquanto criança, quando estava alegre. Logo aparecia algum 
repressor e sentenciava: 
- Ri hoje, chora amanhã! 
- Muito riso é cinismo etc. 
Poderia também inibir a sua alegria com uma pergunta despropositada e 
desconcertante. 
- Tá adivinhando chuva? 
- Que alegria é essa, ganhou na Loteria? - Que assanhamento é esse? 
Por tudo isto, estas proibições de se sentir o que sente, e os 
embruxamentos à alegria e ao afeto originam emoções substitutas, ou 
disfarces, que veremos em outra parte deste livro. 
As vezes o disfarce atinge a expressão verbal da emoção, em razão da 
repressão sofrida no nosso processo educacional. 0 recur- 
32 
C A P Í T U L 0 
so mais comum é aprender a expressar as emoções por meio de nomes 
substitutos ou EUFEMISMOS. Já catalogamos quase duas centenas de 
substantivos que podem servir de disfarces semânticos. 
0 quadro abaixo dá uma idéia de DISFARCES SEMÂNTICOS com os quais 
rebuscamos as emoções autênticas. 
Emoções autênticas Eufemismos usuais (nomes substitutos) 
Nego ter: E digo: Estou com: 
MEDO temor, receio, ansiedade, preocupação, angústia, 
 timidez, vergonha, fobia, inibição, respeito, etc. 
RAIVA sentido, indignado, frustrado, irado, chateado, 
 revoltado, etc. 
TRISTEZA nostalgia, melancolia, fossa, depressão, desmoti 
 
 vação, baixo-astral, etc. 
ALEGRIA contente, "de bom humor", "numa boa", "com sorte", 
 "satisfeito", legal, mais ou menos, algo feliz, etc. 
AFETO carinhoso, excitado, doente, apaixonado, troncho, 
 gamado, aloprado,etc. 
Emoções Aprendidas 
O aprendizado de certas emoções, por influência dos pais ou figuras 
significativas na infância, é uma ocorrência tão freqüente que se 
confunde com o próprio processo educacional. E, para dar aos filhos a 
melhor educação possível, os pais e educadores se incumbem de transmitir-
lhes certas proibições, censuras, ordens, atribuições e diversas 
injunções. Tomemos um exemplo típico: a criança chega à casa com uma 
mordida no braço que um(a) colega deu. A mãe, prontamente, ensina-lhe: 
morda amanhã o colega que o mordeu, no mesmo lugar. Como a raiva é "da 
hora", ao chegar o dia seguinte, é óbvio que aquela criança não está mais 
com raiva, para morder o colega, e por isso não o morde. Mas, ao chegar à 
casa, a mãe logo lhe pergunta: 
- Mordeu o colega que lhe mordeu ontem? -NÃO. 
- MORDA AMANHÃ, NO MESMO LUGAR, senão você VAI APANHAR E FICAR DE 
CASTIGO. 
No dia seguinte, mesmo querendo morder o colega, falta -lhe a 
agressividade que a raiva dá. Quando percebe que o tempo está se 
esgotando, aí corre para cima do colega que o mordera, aplica-lhe uma 
dentada e foge. 
Pergunta: MORDEU COM RAIVA? A resposta óbvia é: NÃO. MORDEU com MEDO DA 
PUNIÇÃO que a mãe lhe daria se não cumprisse a vingança. 
'CENECTI 
Centro Integrado de Educação 
34 
A Hora e a Vez da Competência Emocional 35 
A partir deste ensinamento emocional, a criança pode estar começando a 
fixar um padrão aprendido de expressar-se dife 
rentemente do que sente. 
 
 
Outra situação comum é aquela em que uma criança pré -adolescente chega a 
casa contente por ter tirado uma nota boa em ciências, por exemplo. Ao 
anunciar alegremente à mãe a sua vitória, escuta dela: 
Grande coisa! Você não fez mais do que a sua obrigação. E, tem mais: seu 
pai não vai gostar nada dessa nota oito". 
Nesta altura dos acontecimentos, que se passa com aquele menino? 
É fácil deduzir: a ALEGRIA FOI FRUSTRADA, aparece uma RAIVA impotente que 
dará lugar a uma certa TRISTEZA. Poderá piorar, mais ainda, se ela 
acrescentar a clássica sentença: 
"ESPERE SEU PAI CHEGAR PARA VOCÊ VER 0 QUE VAI ACONTECER." 
Será que o leitor amigo já escutou esta frase, ou algo parecido, alguma 
vez? 
Mas, voltando à cabeça da criança, será que dá para saber o que é que 
está se passando?. Parece óbvio, agora aparece outra emoção: MEDO. Em 
suma, em lugar da ALEGRIA autêntica houve uma supressão dela e mudanças, 
na seguinte seqüência: 
ALEGRIA-3, RAIVA - TRISTEZA -) MEDO 
 
Imaginemos que o pai, além de reforçar esta seqüência emocional com a sua 
revolta pelo filho não cumprir sua (do pai) expectativa, ainda o 
castigue, privando-o de algo que ele goste muito ou cortando-lhe a 
mesada. Que acontecerá nas provas da 2a unidade, se este menino lograr 
tirar a nota máxima da turma, digamos, novamente oito? É fácil entender 
que, mesmo com toda a vibração da professora, dos colegas, este menino 
irá reagir a um motivo de ALEGRIA, como este, com outra emoção diferente 
da alegria. Provavelmente reagirá, de imediato, com RAIVA e, 
em seguida, com MEDO. 0 sentimento de CULPA o acompanhará até se 
defrontar com os pais. Lembremos aqui que CULPA é um MEDO AO CASTIGO. 0 
sentimento de culpa caracteriza a pré-espera da punição, que atormenta 
qualquer ser humano. 
Em suma, a seqüência de câmbio emocional, na cabeça do menino que teve 
nota oito - não foi zero, nem um, foi oito! - convém observar poderá ser 
mais ou menos o seguinte: 
ALEGRIA 4 RAIVA - MEDO - CULPA y y y y 
(emoção autêntica supressa) (emoções substitutas) (disfarce) 
Digamos agora que, após as sucessivas broncas dos pais, esta criança 
fique desolada e chorando de TRISTEZA. A madrinha chegando de surpresa 
pode querer consolá-la, afagando-a e dando-lhe um chocolate. Que 
conclusão esta criança pode tirar de tudo isto? Talvez a seguinte: 
"EU ESTAVA ALEGRE, RECEBI BRONCA E FIQUEI COM MEDO. QUANDO FICO TRISTE AS 
PESSOAS ME DÃO MAIS ATENÇÃO E AFAGO." 
Pode ser que tudo isto não passe de um episódio ruim para a criança, mas 
ela pode tirar "conclusões de sobrevivência" e tomar "DECISOES PRECOCES" 
que poderão ser definitivas para toda a vida delas, a menos que se 
submeta a uma psicoterapia. Entre as condutas que poderá ter, é possível 
que apresente um MEDO estranho, toda vez que estiver alegre. 
- EPA! QUE ALEGRIA E ESTA QUE ESTOU SENTINDO?! VEM COISA RUIM Aí, COM 
CERTEZA. EU, ALEGRE ASSIM... 
Outra reação possível é a pessoa ocultar a alegria que sente, e fingir 
que está triste. Tal atitude poderá ser reforçada inúmeras vezes, pela 
vida afora, pois até com amigos acontece, 
36 
A Hora e a Vez da Competência Emocional 37 
a nossa ALEGRIA pode incomodar. Enquanto isto, a TRISTEZA é mais aceita 
e, inclusive, consta das bem-aventuranças bíblicas: 
"BEM AVENTURADOS OS TRISTES PORQUE SERÃO CONSOLADOS". 
Eis algumas das seqüências mais comuns destas repressões de emoções 
autênticas que a pessoa sente, e as emoções substitutas pelas quais 
transita, até eleger uma emoção que "rebusca"* a legítima e que adota 
como DISFARCE. 
A tabela abaixo mostra algumas destas substituições usuais 
O INDIVIDUO É reprimido, e outra emoção lhe é imposta (emoção 
sente (emoção substituta ou REBUSQUE ou DISFARCES) 
autêntica) 
ALEGRIA MEDO - RAIVA -+ TRISTEZA 4 FALSA ALEGRIA, 
 ex.: sorriso amarelo 
 CULPA - (medo ao CASTIGO) 
MEDO RAIVA -* FALSA ALEGRIA (sarcasmo ou ironia) 
 VERGONHA (= medo de ter medo) 
AFETO MEDO -3, TRISTEZA -4 Depressão 
TRISTEZA RAIVA 4 Falsa alegria (Rir da própria desgraça) 
 MEDO (culpa de incomodar) 
RAIVA MEDO -4 Falsa alegria (Rir da desgraça alheia) 
 (culpa) 
APRENDIZADO PEDAGÓGICO DAS EMOÇÕES 
Chega a parecer que é um fenômeno genético, mediado pelo DNA, a 
semelhança das emoções que os filhos apresentam, comparadas às dos seus 
genitores. Todavia, sem minimizarmos o peso da bagagem genética, queremos 
denunciar um ver 
dadeiro treinamento intensivo e extensivo dos filhos pelos pais ou 
figuras parentais substitutas, na infância. Diante das emoções 
autênticas, espera-se que os pais ou seussubstitutos eventuais, 
inclusive MESTRES, adotem as seguintes condutas, consideradas adequadas à 
expressão da carga emocional da Criança Natural: 
EMOÇÃO DO FILHO (ou ALUNO) 1 CONDUTA ADEQUADA DOS 
 PAIS E MESTRES 
MEDO PROTEÇÃO 
RAIVA PERMITIR EXPRESSA-LA 
TRISTEZA PROTEÇÃO E PERMISSÃO 
AFETO COMPARTILHAR 
ALEGRIA COMPARTILHAR 
Entretanto, não é bem isso que se verifica na prática; cedo os pais, ou 
figuras representativas na infância, na intenção de "dar o melhor aos 
filhos" tratam de educá-los. Em outras palavras, reprimem ou proíbem a 
livre expressão das emoções autênticas, impondo-lhes emoções substitutas. 
Assim, surgem as EMOÇOES DE DISFARCE - importante conceito da A.T. já 
mencionado aqui e que foi desenvolvido por Fanita English. Estas emoções 
"REBUSQUES" são consideradas DISFARCES ou falsas emoções, aprendidas 
mediante treinamento, visando obtenção de afagos, reconhecimento e 
reforços afetivos (= carícias) bem como evitar responsabilidades. 
* 0 termo rebusque é inadequadamente usado em português pois o verbo 
correspondente é REBUÇAR (recobrir) e não 
W_ 
C A P 1 T U L 0 
Compreendendo os Disfarces 
Eis algumas dicas para compeensão dos disfarces: 
 
• Sentimentos de disfarce surgem quando as carências biopsico-
afetivas não são preenchidas. 
• Disfarces abrangem condutas desenvolvidas de modo intuitivo na infância 
diante de situações apercebidas como ameaçadores à sua homeostase, as 
quais dando certo, em termos dos objetivos imediatos serem atendidos, a 
criança como tática secreta os fixa. 0 mecanismo é similar ao de um 
reflexo condicionado. 
• Na medida em que se repete (são repetitivas, inclusive pela compulsão 
de repetição) internaliza-se como uma estratégia de sobrevivência, parte 
do arsenal de comportamentos "úteis" adquiridos. 
• Quanto mais alguém pratica o disfarce, mais o trajeto nervoso fica 
facilitado, como no aprendiz de direção de carro, até se tornar um expert 
ou virtuose como piloto. Assim é o disfarçador. Neste ponto alguns 
descobrem vocação artística para o teatro, cinema e novelas (= parte útil 
dos disfarces) 
• Os disfarçadores crônicos e inveterados, além de não viverem em 
plenitude, saem perdendo por se tornarem pouco confiantes e, menos ainda, 
confiáveis! 
São exemplos comuns do disfarce: 
• Atitudes sarcásticas, irônicas ou cínicas, repetitivas 
• Provocar briga na hora de amar. 
• Esquivar-se ao receber um abraço afetuoso. 
• Ficar embaraçado diante de uma anedota inocente. 
• Fingir que achou graça de um insulto. 
• Morder, em vez de beijar, beliscar em vez de afagar. 
• Fingir estar amando alguém, só para ter sexo. 
A resposta ao estímulo é desproporcional em intensidade, ou injustificada 
e bem diferente do habitualmente praticado e aceito como adequado, pelo 
senso comum. 
DISFARCES: EVOLUÇÃO E CONCEITO 
Diferente das emoções autênticas que são programadas geneticamente e se 
manifestam diante de estímulos no aqui-e -agora, aparecem as emoções 
substitutas ou "disfarces". Essa divisão e discernimento das emoções, 
nestes dois tipos, representa uma importante contribuição de Eric Berne, 
e faz parte do corpo teórico da Análise Transacional. 
0 conceito de DISFARCE evoluiu bastante, desde o original de Berne, no 
qual declarava que "sentimentos se tornam disfarces quando o paciente 
aprende a explorá-los e coletá-los nos seus jogos psicológicos", até 
Fanita English defini-los em 1971, como sendo "EMOÇOES substitutas que se 
manifestam de forma repetitiva e estereotipada, e que são compensatórias 
de necessidades autênticas não satisfeitas, e que foram proibidas no 
passado". 
Em termos de Estados do Ego, as cinco emoções autênticas (Medo, Raiva, 
Tristeza, Alegria e Afeto) são expressas pelo ego Criança Natural, 
enquanto as emoções de disfarce são resultantes do processo educativo, 
através do qual os nossos pais ou substitutos nos adaptaram. Daí se falar 
em Criança Adaptada para as duas facetas principais do processo 
adaptativo - como Criança Rebelde ou como Criança Submissa. 
Quando uma criança decide adotar um sentimento de disfarce, geralmente 
antes dos oito anos de idade, decide abdicar 
A Hora e a Vez da Competência Emocional 39 
40 
A Hora e a Vez da Competência Emocional 41 
de uma parte do seu eu, renunciando sentir o que verdadeiramente está 
sentindo e adotando aquela emoção que os pais estão a exigir dela. Tal 
renúncia é compensada pela fantasia de uma prêmio maior: a SOBREVIVÊNCIA. 
Fanita English chamou de CONCLUSOES DE SOBREVIVÊNCIA a estes conceitos 
devido ao que GOULDING denominou expressivamente como DECISOES PRECOCES. 
Sem dúvida estes dois teóricos da Análise Transacional estavam falando da 
mesma coisa: DISFARCES. 
As primeiras definições de DISFARCES foram as de Eric Berne, em 1971, que 
dizia se tratar de "sentimentos favoritos (CULPA, MEDO, MÁGOA, RAIVA, 
INADEQUAÇÃO E CONFUSÃO), aprendidos dos pais na infância, que se 
transformam em uma espécie de REFLEXO CONDICIONADO, podendo persistir por 
toda a vida". 
Do exposto se deduz que disfarces são emoções aprendidas dos pais ou 
substitutos, portanto socialmente programadas, e autoreforçadoras, em 
termos de que, quanto mais expressas mais facilitada será a sua 
manifestação (TIPO REFLEXO CONDICIONADO). Cabe um reparo à característica 
de serem SENTIMENTOS INAUTÊNTICOS - como muitos autores descreviam os 
disfarces - uma vez que todos os nossos pacientes estão sofrendo e 
sentindo o sofrimento, não obstante serem desnecessários, despropositados 
ou revelarem uma intenção manipulativa, oculta ou explícita. 
0 conceito emitido por Fanita English se fortaleceu em 1974, após os dois 
artigos que escreveu sobre DISFARCES, definindo-os como "maus-sentimentos 
crônicos aprendidos na infância com os pais". 
Algo fácil de se verificar é que algumas famílias têm os seus tipos de 
disfarces prediletos, de usos geral e específico, treinando os filhos - 
inclusive em função do sexo e peculiaridades nas suas expressões 
emocionais. Ainda hoje é possível encontrar pais que treinam os meninos 
para não sentirem medo, e sim raiva, enquanto as meninas são treinadas 
para sentirem medo e não raiva, ou mesmo não sentirem raiva e sim 
tristeza. Em suma, os DISFARCES tanto são maus sentimentos crônicos que 
substituem as verdadeiras emoções que foram proibidas no passado, quanto 
são intenções exploradoras ou chantageantes, e comportamentos baseados em 
crenças distorcidas que são autoreforçadoras de um sistema perpetuador do 
script de vida. 
CRENÇAS MÁGICAS SOBRE OS DISFARCES (Holloway,1990) 
Em um dado momento da infância, depois de testar a eficácia dos disfarces 
como manifestações emocionais manipulatórias, a criança passa a ter duas 
fantasias: 
1a) "SE EU ME SENTIR SUFICIENTEMENTE MAL, 0 TEMPO SUFICIENTE, ALGUÉM FARÁ 
ALGUMA COISA POR MIM." 
Com esta fantasia satisfeita, passa a acreditar que as suas necessidades 
básicas de carícias ou afagos serão preenchidas. Perpetuam assim a 
dependência. 
2°) "SE EU ME SENTIR SUFICIENTEMENTE MAL, 0 TEMPO SUFICIENTE, ENTÃO NADA 
PIOR PODE ME ACONTECER." 
Através destas fantasias infantis, a pessoa se sente protegida contra 
coisas ruins ou conseqüências dolorosas. Até mesmo em gente grande, esta 
fantasia poderá ser verificada em viagens aéreas. Alguns passageiros 
passam mal a viagem inteira, exibem um repertório de disfarces de medo, 
se agitam, se embebedam, dão tremedeira, têm crises de pânico 
injustificadamente. Tudo, no fundo, no pressuposto mágico de que "se eu 
passar mal, a viagem toda, o avião não cai, nem nada pior me acontecerá!" 
É o passado "dando as cartas" no presente! 
Holloway, em 1990, ao analisar o conteúdo mágico destas duas fantasias 
infantis mencionadas, passa a incluir a adoção do disfarce como um 
componente relevante, do que ele denominou DECISÃO PRECOCE. E dele a 
declaração seguinte: 
"A criança inicia um disfarce crendo que é o único método garantido de 
conseguiro que ela quer, quando todas as demais táticas falham. Seja por 
persuasão, ameaça ou súplica o senti- 
42 
A Hora e a Vez da Competência Emocional 43 
mento de DISFARCE será desesperadamente escalado, enquanto se tratar de 
preencher uma necessidade". 
Conclui dizendo que, "superficialmente, os DISFARCES parecem más-
adaptações, mas no fundo são vivenciados como essenciais". 
Enfim, o disfarce começa com a tomada da decisão precoce, e é reforçado e 
estabelecido pela prática. 
HISTORIA NATURAL DOS DISFARCES 
• Geralmente os disfarces mais fortes são os que foram desenvolvidos 
mais cedo na vida pós-natal. 
• Admite-se que o primeiro trimestre de vida extra-uterina é tão crítico 
para as "más-formações" emocionais, quanto o primeiro trimestre de vida 
intra-uterina o é para as más-formações congênitas. 
• No 1° trimestre, após o nascimento, o bebê apenas sente o que sente 
(Criança da Criança) e, pela própria imaturidade do seu sistema nervoso e 
dos sensórios, é incapaz de perceber os seus sentimentos, quanto mais 
expressá-los adequadamente. 
• É fácil imaginar como o bebê reage aos estímulos desconfortáveis ou 
dolorosos: vivenciando o que chamamos de sensação de IMPOTÊNCIA, 
ABANDONO, REJEIÇÃO e DESVALIMENTO. A resposta mais primitiva e habitual e 
que as mães logo aprendem a decodificar são os choros: de frio, de sede, 
de fralda molhada, de mamar etc. 
• Atendidas com presteza e amor, geralmente por mães atentas e com todo o 
seu instinto maternal aguçado nesta fase a criança experiencia sensações 
indescritíveis de aceitação e amor incondicional. 
• Quando por motivos de força maior, ou menor, o recém -nascido não tem 
as suas carências preenchidas e seus desconfortos imediatamente 
aplacados, só lhe resta lançar mão do único recurso de que dispõe para 
protestar nestas situações: 0 CHORO PUNGENTE. 
• A duração e a intensidade do choro, traduzido pela altura dos sons 
emitidos, expressões faciais de sofrimento, lágrimas e contrações 
corporais servem de parâmetro para se avaliar e reconhecer as possíveis 
causas. 
• Quando o choro não foi suficiente para obter a atenção ou o devido 
cuidado, só resta à criança parar de chorar, valer-se de recursos 
próprios para se consolar: chupar o próprio lábio ou o dedo, embalar-se e 
dormir. 
• Em um estágio mais avançado, a senso-percepção vai se estabelecendo 
gradualmente, com a própria maturação do sistema nervoso. 
• Uma das opções de que a criancinha dispõe deste aprendizado do sentido 
de vida é a anestesia afetiva, mediante adoção de DISFARCES e FANTASIAS 
COMPENSATORIAS. 
• Juntamente com este aprendizado emocional distorcido, a criancinha vai 
sendo "educada" por meio de um sistema de premiações e de punições das 
suas condutas, pelos pais ou substitutos parentais, muitos dos quais 
bastante contraditórios. 
• Até os sete anos de idade, os conceitos ensinados de vida, passados por 
pais e/ou figuras substitutas vão sendo internalizadas pelas criancinhas. 
A adoção de tais ensinamentos será reforçada pelas emoções expressas por 
cada emissor. Todavia, as mensagens parentais de conteúdo emocional, que 
acompanham os pensamentos e sentimentos expressos, são potencializados 
pelas condutas do emissor. Os receptores sendo crianças, obviamente ainda 
imaturas, em termos de pensar e agir, tendem a incorporar em seu 
repertório comportamental as atitudes destes modelos significativos. E 
pois um processo de autêntica MODELAÇAO, ou seja, imitação dos MODELOS. 
• Concordamos com Fanita English quando afirma que os pais não 
necessariamente implantam "mensagens" no cérebro dos filhos, mas que dão 
estímulos que são opcionais de serem recebidos ou não. Aliás, isto pode 
ser facilmente verificável quando observamos o comportamento de 5 irmãos, 
filhos do mesmo pai e da mesma mãe - até parecem que se originaram de 5 
pais e 5 mães diferentes! Com efeito, as decisões infantis inclusive as 
referentes ao sentir, expressar e atuar de cada uma das emoções, são 
modeladas pelos pais ou substitutos. 
44 
• Em um dado momento a criança vivencia que não é OK pensar e sentir do 
jeitinho como seus pais pensam e sentem. Aí vem o dilema irresolvível: 
1°) Passar a fazer o que quer, mas perder o amor dos pais. 2°) Renunciar 
aos seus desejos e ter o amor dos pais. Com nenhuma das duas opções 
passará bem. Resulta em um processo único para cada pessoa e na 
dependência das circunstâncias vivenciadas. 
• Para algumas criancinhas, foram verdadeiras DECISOES DE 
SOBREVIVÊNCIA, tipo: 
- Se escapar desta, nunca mais expressarei alegria. - Se não morrer desta 
vez, jamais mostrarei raiva. 
Diante destas "vivências catastróficas" dos famosos "traumas de 
infância", parece natural e seguro o processo imitativo. Para que uma 
atitude mais segura do que aquela que os pais exibem, em circunstâncias 
similares? Imitar os padrões emocionais maternos e paternos garante um 
repertório seguro de disfarces emocionais, os quais exibidos pelos 
filhos, receberão o devido reforço e aprovação dos pais, dos avós e 
substitutos eventuais. 
• A validação destas mascaras ou personas2 pelos pais e educadores 
colabora para a criança formar uma coleção peculiar de personas, que será 
ao final do processo reconhecida como a PERSONALIDADE, a "marca 
registrada" de cada um de nós. 
 
 
• Como temos uma bagagem genética única transmitida pelos nossos 
progenitores, e a expressão desses gens depende da interação com o meio, 
é óbvio que cada um de nós desenvolverá um personalidade própria, que, 
nem mesmo através CLONAGEM, poderá dar réplicas iguais. 
Portanto, até mesmo os disfarces exibidos por gêmeos serão parecidos, mas 
nunca iguais entre si, em termos quantitativos e qualitativos. 
• As figuras parentais julgam as condutas e disfarces exibidos por cada 
pessoa, rotulando-as como personalidade: SADIA ou DOENTE, FORTE ou FRACA, 
MARCANTE, APAGADA ou NULA (= sem personalidade - será?) NOTÁVEL, 
INEXPRESSIVA, REPUGNANTE etc. 
2 - Persona, em latim, é sinônimo de máscara. Na tragédia e representação 
cénica os atores usavam MÁSCARAS denominadas PERSONAS, dai o termo 
PERSONAGEM hoje utilizado na linguagem do teatro, cinema e telenovelas. 
Muitos destes juízos de valor sobre a PERSONALIDADE do jovem ou do adulto 
decorrem de expectativas de cada um, de acordo com o seu quadro de 
referência. Todavia, há um senso comum que reconhece os traços de 
personalidade que são compatíveis com o sistema de valores vigentes, 
alguns até se arriscando a ditar os que são "normais" e os que "não são 
normais". 
• 0 certo é que, ao nascer, cada um de nós não tem ainda persona alguma. 
Com o processo adaptativo às normas sociais vigentes, passamos a ensaiar 
algumas máscaras de alegria, de inveja, de ciúme, de zangado, de 
ofendido, de vingativo, de bonzinho etc. Tais personas vão sendo 
submetidas ao júri popular que tem figuras destaque como pais, avós, 
irmãos mais velhos e parentes próximos, e coadjuvantes também importantes 
representados por babás, professores e eventuais figuras de autoridade. 0 
resultado desta série de julgamentos de cada uma destas personas, nas 
mais diversas circunstâncias, resultará na adoção duma coleção principal 
de personas (= PERSONALIDADE). Assim, a resultante final das personas ou 
máscaras de falsa alegria, falso afeto, falsa raiva, falso medo e falsa 
tristeza estará prontinha para ser submetida na adolescência à aprovação 
ou reprovação, e a possíveis retoques da turma, do grupo, da tribo ou "da 
galera". 
PODER DOS DISFARCES 
Em virtude da possibilidade de utilização dos disfarces como "um sistema 
fraudulento de proteger-se", pois encerram uma intenção exploradora, uma 
chantagem emocional ou mesmo se converte em método de manipulação da 
outra pessoa, há um poder em cada tipo de disfarce. Assim, vejamos o que 
Frank Ernst denunciou como sendo o PODER de cada disfarce sobre a outra 
pessoa. 
No fundo, quem usa disfarce - mesmo intuitivamente- se apercebe destes 
poderes e reluta em abandoná-los, utilizando "boas razões que os 
justifiquem." Eis algumas dessas fundamentações para terem EXPLOSÃO de 
RAIVA: 
A Hora e a Vez da Competência Emocional 45 
46 
A Hora e a Vez da Competência Emocional 47 
DISFARÇADOR AÇÃO NO OUTRO 
Quando exibe DISFARCE de: É PARA: 
• ANSIEDADE Induzir apreensão nele 
• INDEFESO -0- Torná-lo impotente 
*CANSADO -0- Fatigá-lo 
• CONFUSO Atordoá-lo 
• CHORO Tiranizá-lo 
• IRA (EXPLOSOES DE RAIVA) --No- Provocar-lhe a raiva máxima 
• CULPA Culpabilizá-lo e remetê-lo imediata 
 
 mente à sua vala de culpa. 
• DESESPERO Estilhaçar-lhe a calma, deixando-o 
 desesperado (ou responsável por 
 sua vida) 
AUTO-JUSTIFICATIVAS PARA TER DISFARCES 
FUNDAMENTAÇÃO EXEMPLO DE AUTO-JUSTIFICATIVAS PARA 
 TEREM RAIVAS IRRACIONAIS 
1) CIRCUNSTANCIAL "0 trânsito me deixou louco!" 
2) GENÉTICA "Todos na minha família se zangam com facili 
 
 dade! Isto é porque somos RUIVOS!" ou deve ser 
 a minha descendência de italiano. 
3) COSMOPOLITA "A atual conjuntura mundial e nacional me dei 
 
 xa com RAIVA". 
4) PSEUDO-FREUDIANA "Tenho muita hostilidade inconsciente". 
EM SUMA: 
 
TAIS AUTO-JUSTIFICATIVAS PARA TER E CONTINUAR TENDO DISFARCES SÃO RECUSAS 
PARA ASSUMIREM A 
SUA RESPONSABILIDADE SOBRE SI MESMO, 
E EXERCITAREM A SUA AUTONOMIA. 
EXEMPLOS DE DISFARCES 
 
Muitos são os tipos de manifestações emocionais substitutas resultantes 
da supressão de cada uma dada emoção autêntica. Estas exteriorizações 
estilizadas dos sentimentos que no pas 
sado foram permitidos e bem recebidos, no fundo escondem uma emoção 
autêntica. 
Eis os principais disfarces que se estabelecem pela proibição de uma das 
cinco emoções básicas. 
 
 
DISFARCES DO MEDO 
• FALSA ALEGRIA (ex.: frouxos de risos) é um dos disfarces mais 
freqüentes. Entre as possíveis situações familiares geradoras, destaca-se 
aquela de ser induzido a rir do perigo e de se machucar. 
Na atualidade, descendo uma montanha-russa disfarça o enorme medo 
subjacente com frouxos de risos. 
• ANSIEDADE - é um medo antecipatório cujo estímulo não está no aqui-e-
agora. Enquanto criança, foi exortado(a) a não viver o presente, mas 
ficar de olho no futuro, no porvir, no dia de amanhã, fazer poupança etc. 
Pode também ter tido um modelo em um dos pais, ou de ambos, com a 
expressão facial de PREOCUPAÇAO. A ansiedade poderia também ser inspirada 
em figuras parentais que exibiam o disfarce de inadequação, sentindo-se 
"um peixe fora d'água" em certos ambientes e verbalizando isso com 
ênfase. 
• CULPA - é um disfarce de medo por algo que fez errado, ou não de acordo 
com as normas vigentes ou preceitos religiosos. Pode ter sido incutido 
este disfarce de medo (ao castigo) com o aprendizado da noção de pecado. 
A solução da culpa pelo pecado cometido está na penitência que teria que 
ser feita para expiação da falta cometida. Daí o mau-sentimento que 
acompanha o disfarce de culpa, remoendo na cabeça um diálogo interno em 
que o binômio erro-punição ou crime-castigo converte-se em conteúdo 
temático do pensamento desta pessoa. 
• VERGONHA - embora possa ser entendida como um sentimento primário, 
freqüentemente utilizado para ensinar às crianças hábitos higiênicos, 
sociais ou de interesse para a sobrevivência pessoal - como os esquimós 
envergonham as crianças que caem ao andar na neve com aqueles sapatos 
parecendo raquete - a vergonha em muitos casos pode ser um disfarce de 
medo. 
48 
De fato, a vergonha ou o acanhamento podem ser decodificados como MEDO À 
CENSURA. 
DISFARCES DA RAIVA 
• FALSA ALEGRIA - ex.: Gozações e pirraças, além de tentativas de 
ridicularizar o outro. Entre as possíveis situações familiares que podem 
gerar este disfarce da raiva, estão as situações em que o menino "ficou 
na berlinda"sendo alvo de gozação dos outros garotos. Outrossim, os pais 
ou figuras representativas davam risada quando estavam ressentidos ou 
quando ele se ressentia. 
 
• FALSA TRISTEZA E CULPA ex.: Fossa, desespero, fracasso, solidão, etc. 
Foram reprimidos ao mostrar raiva, acusados de serem "grossos" ou 
"pessoas de má índole". Não aprenderam a distinguir os tempos da emoção e 
quando "sentiam" raiva confundiam com "expressar raiva corporalmente", ou 
ATUAR. Assim, todas as vezes que mostrassem raiva, culpavam-no e se 
queixavam. Ademais, descobriram bem cedo na vida o poder chantageante da 
tristeza ou da depressão. 
Se um dos pais tivesse períodos depressivos, seria um modelo inspirador a 
imitar. Com efeito, por debaixo dessa falsa tristeza, da máscara 
depressiva, há muita raiva sentida e não expressa. 
 
• FALSA RAIVA ex.: Ciúme, inveja, rivalidade, vingança, ódio, 
prepotência etc. 
Uma das possíveis situações familiares que podem gerar falsa - raiva é um 
ambiente com muito criticismo e disputas pelo poder, sendo freqüentes as 
expressões de raiva entre irmãos, entre pais e filhos e dos pais entre 
si. Atitude prepotente e explosões raivosas dos pais, pelos mínimos 
estímulos, podem ser decorrentes de expectativas frustradas. Inveja e 
ciúme podem fazer parte da cultura do grupo familiar, bem como freqüentes 
ressentimentos e idéias revanchistas por motivos triviais. 
. ANSIEDADE ex.: nervosismo injustificado dos pais, com atritos 
constantes, deixam os filhos tensos e com disfarce de ansiedade, no lugar 
da raiva autêntica. 
Se alguém fica ressentido, o filho pode ficar ansioso e até mesmo com 
medo de que fosse capaz de matar alguma pessoa. 
DISFARCES DE TRISTEZA 
• FALSA ALEGRIA ex.. "Sorriso-da-forca". Tristes com algo desolador e 
fingindo sorrir como disfarce, para ocultar que está mal. 
• FALSA RAIVA ex.: ressentimentos, resultantes de pirraças, gozações 
todas as vezes que estavam tristes. 
• ANSIEDADE ex.: Medo de não controlar a tristeza, e entristecer as 
demais pessoas. Além disso, outro familiar "escalava" tristeza. 
DISFARCES DA ALEGRIA 
• FALSO MEDO - ex.: "Chorar de alegria". Este disfarce implica na 
supressão da alegria autêntica em razão de mensagens bruxas resultantes 
de - todas as vezes que estavam alegres - ameaçarem de punição ou 
castigarem. 
• CULPA - ex.: Medo de ficar alegre. 
Este tipo de disfarce pode ser desenvolvido em um ambiente familiar 
repressor da alegria autêntica. Não podia estar alegre se todos não 
estivessem alegres, ou podiam criticá-lo por estar alegre ou o 
incomodavam a ponto de apresentar ansiedade. 
• FALSA TRISTEZA - ex.: Choro (em vez de riso). 
Neste disfarce, a família com medo de demonstrar abertamente a alegria, 
desenvolve como antídoto contra algo de ruim, o "pranto mágico" (= aquele 
choro súbito que resolve tudo). 
A Hora e a Vez da Competência Emocional 49 
C A P I T U L 0 
Abandonando os Disfarces 
Ciente de que os disfarces são substitutos para outros sentimentos e que 
muitas vezes só estão rebuçando os sentimentos mais legítimos, durante 
muito tempo se designava com o nome de EMOÇOES "REBUSQUES", (adaptação da 
tradução portenha do termo inglês: RACKET, criado por Eric Berne). 
Todavia, quer sejam emoções genuínas ou rebusques, o indivíduo vai estar 
sentindo e sofrendo do mesmo jeito. Como as conseqüências a médio ou 
longo prazo são perniciosas para a saúde física e mental do 
"disfarçador", pois estas emoções são auto-lesivas e tendem à 
automatização, e a serem perpetuadas cada vez que são expressas, convém e 
devem ser abandonadas. 0 roteiro abaixo é uma sugestão de como abdicar 
dos disfarces. 
ROTEIRO PARA ABDICAR DOS DISFARCES 
1°) Identificá-los. 
2°) Reconhecer "como" perpetua. 3°) Interromper a sua expressão. 
4°) Passar a contactar com a emoção autêntica subjacente e ir fundo nela. 
5°) Monitorizar-se, para evitar recaídas. 
Uma questão de ordem pragmática, e que precisa ser observada por todos, 
principalmente em uma psicoterapia, é que os disfarces foram adotados no 
passado entre os seis e os dez anos de idade, como uma tática desobrevivência, e, bem ou mal, dão suporte à vida presente do 
"disfarçador". Retirá-los pura e simplesmente acarreta um vazio 
existencial que carece de ser preenchido. 
Para suprimir esta lacuna nada melhor que usar a máxima de Jesse Accioly: 
"DESAPRENDER 0 APRENDIDO, E REAPRENDER 0 DESAPRENDIDO". Em outras 
palavras, desaprender as emoções aprendidas (= DISFARCES) e reaprender as 
emoções genuínas, as quais foram desaprendidas. Assim, prevalece o bom 
senso e tomamos como base o conceito clássico de Fanita English ao 
descrever o "fator de substituição" - em que declarava haver, por trás de 
cada disfarce, sentimentos reais que o indivíduo não percebe, ou não se 
permite perceber hoje, porque foram proibidos no passado. A repressão e 
supressão das emoções convencem-no a abandonar as emoções genuínas, as 
quais, agora, é possível, de modo consciente e deliberado, resgatar e 
voltar a praticá-las. 
Eis uma proposta de ALFABETIZAÇAO EMOCIONAL para expressá-las. 
ALFABETIZAM EMOCIONAL: Expressando Emoções Autênticas 
MEDO Expresse-o sem bloquear-se e busque proteção em lugar seguro ou 
apoio, se necessário. 
 
RAIVA Expresse-a no aqui-e-agora sem engulir, descaregando-a de forma 
autêntica verbalmente ou corporalmente. Livre da sua carga perniciosa, 
permitase sentir-se leve e próximo. 
 
TRISTEZA Expresse-a por palavras e gestos. Contacte com o sentimento e 
permita-se chorar ou recolher-se. É OK você precisar deste tempo para 
recuperar a energia perdida, e avaliar a extensão da perda. 
A Hora e a Vez da Competência Emocional 51 
52 
ALEGRIA Verbalize a sua alegria, e expresse-a rindo, gargalhando, 
cantando, cantarolando, assobiando, dançando. Compartilhe com alguém a 
sua alegria. 
AFETO Expresse por palavras a sua afetividade por alguém que ama. Declare 
sem vergonha o que sentiu e sente. É OK ATUAR 0 AFETO: Beijando, 
abraçando, afagando o seu objeto de amor. Enalteça suas qualidades 
também, pois é OK ter auto-estima, amar e ser amado. Permita-se receber 
afeto além do seu limite habitual sem barreiras nem disfarces de proteção 
contra "perigos" imaginários. Em particular evite cair nas três 
armadilhas que são disfarces comuns de afeto, denunciadas a seguir. 
DISFARCES DO AFETO 
• INADEQUAÇÃO - ex.: Sensação desconfortável de estar sendo 
inconveniente. 
Uma das possíveis situações familiares, para originar este disfarce, 
decorre da repressão ao afeto demonstrado pelo(s) filho(s). Eram 
rejeitados ou desqualificados. 
• FALSA RAIVA - ex.: "Rusgas de amor" (para evitar intimidade). 
Alguns casais chegam a provocar estas briguinhas ou mesmo "bate-boca" 
caloroso, para desfrutarem de excitação sexual maior, após fazerem as 
pazes. 
• CIÚMES - ex.: "Medo ao abandono" ou à rejeição. 
É muito comum este disfarce, que assume o aspecto de zelo amoroso ou 
receio da perda do objeto amado, em famílias nas quais não havia 
suficientes carícias ou afagos para todos. 
Diferenciação das Emoções 
Na prática, uma das grandes dificuldades encontradas é como diferenciar a 
emoção inata das emoções de disfarce. Principalmente porque as inatas são 
salutares e defensivas, enquanto as emoções de DISFARCE são "parasitas" 
do bem -estar e da saúde. 
Sabemos que as emoções inatas vêm programadas em código genético e são 
funcionais, ao passo que as emoções de DISFARCE são aprendidas mediante 
treinamento na infância com os pais ou substitutos. Além disso, as 
emoções de disfarce são causadoras de lesões ao organismo como veremos no 
tópico SOMATIZAÇÕES deste capítulo. Todos estes critérios de 
diferenciação são corretos, porém o modo mais prático que achamos é 
aquele apontado por Robert Kerstész, e que se baseia nos tópicos: 
ESTÍMULO, DURAÇÃO, TIPO DE REAÇÃO E INTENSIDADE. 
 
Utilizando-se estes quatro itens, é possível reconhecer se aquela emoção 
sentida é medo, raiva, tristeza, alegria ou afeto do tipo que é inato e 
saudável, ou se é adquirida e do tipo "parasita" do bem-estar e da saúde. 
Assim, é fácil identificar as emoções inatas e naturais, pelos fatos 
seguintes: 
C A P Í T U L 0 
54 
A Hora e a Vez da Competência Emocional 55 
• Originam-se a partir de ESTIMULOS no aqui-e-agora. 
• São breves e fugazes em sua duração. 
• Produzem "reação em pico". 
• Sua intensidade é proporcional ao estímulo. 
• Costumam ser contagiantes. 
As emoções de DISFARCE, sendo resultantes de programação parental, são 
identificadas assim: 
• Foram programadas através de estímulos no passado. 
• São de longa duração, persistentes e repetitivas 
Intensidade 
• Produzem reação em platô. -- 1 1 1 1 1 I 
Tempo (m seg) 
• Sua intensidade não guarda proporção com o estímulo. 
• Não costumam contagiar (exceto com grandes atores) 
UIFEBEHCIAgÁO ESPECIFICA DAS EI~OCOES SALUTARES E PARASITAS 
MEDO 
SALUTAR: comparece diante de perigos reais de perder a vida ou a condição 
de vida, no aqui-e-agora. 
PARASITA: desencadeado por perigos imaginários fantasiados ou evocados. 
Pode resultar de expectativas não cumpridas. 
Há ainda, neste grupo, os medos irracionais simbólicos que equivalem às 
fobias, e os medos que se convertem em SINTOMAS (= SOMATIZAÇOES). Também 
os medos aprendidos pela imitação dos pais. Ex.: medo de barata e medo de 
doença (hipocondria) etc. 
RAIVA 
SALUTAR: serve para defender a nossa vida ou a nossa condição de vida, no 
aqui-e-agora. Ajuda-nos a superar obstáculos reais, na auto-afirmação e a 
evitar danos morais. 
PARASITA: Toda raiva resultante de EXPECTATIVAS NÃO CUMPRIDAS. 
Muito freqüentemente, é acompanhada de pensamentos VINGATIVOS, CRITICOS 
ou REBELDES, juntamente com expressões verbais agressivas e condutas 
prepotentes. 
Há ainda as raivas que se convertem em sintomas físicos: as SOMATIZAÇOES. 
 
 
TRISTEZA 
SALUTAR: é desencadeada por perdas reais, no aqui-e-agora, ou em passado 
recente. 
Ex.: - Morte de ente querido 
- Perda de patrimônio valioso - Perda de objeto de estimação 
A sua intensidade é proporcional ao APEGO. 
PARASITA: é toda tristeza por perdas imaginárias ou resultante de perda 
real e significativa em um passado distante. 
Ex.. - Separações de casais sem morte de um dos cônjuges. - Perdas de 
objetos sem valor, ou descartáveis. 
A sua intensidade é desproporcional ao apego. A pessoa fica encalhada no 
passado e perde as apetências e gosto de viver, como nas depressões (aqui 
há muita raiva acumulada) 
ALEGRIA 
SALUTAR: - A alegria para desfrutar a vida. 
- A alegria compartilhada com entes queridos e amigos. 
- A alegria por suas vitórias, seus feitos, e suas realizações e pelos 
prazeres, inclusive sexuais, alimentares e espirituais. 
PARASITA: - Todas as modalidades de falsa-alegria, inclusive 
rir-se da desgraça alheia, ou da própria. 
- Aqui entram os disfarces da alegria despropositada ou despro 
porcionais aos estímulos. 
- São parasitas as alegrias derivadas do uso de bebidas alcoóli 
cas e drogas. 
- Qualquer situação que exponha a si próprio ou o outro ao 
Tempo (m beg) 
56 
A Hora e a Vez da Competência Emocional 57 
RIDÍCULO, A IRONIA, AO SARCASMO, AO HUMOR NEGRO. 
AFETO 
SALUTAR: - Todas as formas de amor incondicional. Ex.: Amor de mãe. 
- Todos os relacionamentos afetivos entre amantes, amigos e parentes sem 
interesses materiais. 
- 0 amor à vida e à natureza. 
- Os comemorativos físicos dos vínculos espontâneos. - O ALTRUÍSMO e a 
AUTO-ESTIMA. 
PARASITA: - As formas de amor condicional (ex.: Só gosto de você se...). 
- Os VINCULOS SIMBIÓTICOS de qualquer área (casal, família ou 
profissional). 
- Os comemorativos físicos mercenários, manipulativos e por agressão. 
- O EGOÍSMO e o NARCISISMO. 
TESTE PARA IDENTIFICAÇÃO DO DISFARCE 
Como você vivenciaria este estresse? 
De olhos fechados, respire fundo e lentamente, três vezes consecutivas, 
procure uma posição bem confortável, relaxe e fantasie que você é um 
adolescente vestibulando. Lembre-se de quando você tinha 18 a 20 anos. 
BEM RELAXADO, AGORA DE OLHOSABERTOS: 
• Vista a pele de um vestibulando. 
• E chegado o dia do Vestibular. 
• Você acordou cedo - veja-se acordando, caprichando na higiene 
pessoal, vestuário etc. 
• Você está pronto para sair de casa - veja-se saindo de casa, 
pegando o veículo que o leva ao local do vestibular. 
• Você confere o seu relógio. Surpresa: já são quase 7h30! 
Você corre e chega em tempo. 
• Na hora de entrar, você descobre que se esqueceu da identidade. 
• 0 porteiro barrou a sua entrada, e o supervisor chamado foi 
irredutível a todos os seus apelos e argumentos. 
• Dê o máximo de realismo a esta representação hipotética, 
imaginando-se no lugar deste vestibulando, e responda: 
1) Como se sente? 
2) Que SENTIMENTO VOCÊ DETECTA EM VOCÊ? 
Impotência? Prepotência? Pânico? Desespero? Ódio? Angústia? Agitação? 
Onipotência? Frouxos de riso? Tristeza? 
Compare o sentimento detectado e confira com outra situação de estresse 
recente, da sua própria vida, e identificará o seu disfarce predileto. 
A Hora e a Vez da Competência Emocional 59 
Como Controlar 
"Emoções Parasitas" 
Quando se fala em controlar as emoções, é preciso que não se pegue a 
noção errada, confundindo o desejável controle emocional - o que impede 
que haja uma escalada - com ficar isento de emoção. 
E quase impossível alguém normal conseguir não se mobilizar 
emocionalmente diante de um estímulo de média ou alta intensidade. 
Todavia, às custas de uma educação emocional adequada, mediante 
treinamento praticado com este objetivo, é possível refrear a expressão 
verbal e/ou corporal. 
Vimos que desaprendemos as emoções inatas ou autênticas, e acabamos por 
aprender uma série de expressões emocionais substitutas ou DISFARCES. 
Tais manifestações, copiadas de nossos pais e educadores na infância, 
aprovadas e estimuladas que são até a adolescência, acabam se tornando 
"EMOÇOES PARASITAS": sugam energia vital e prejudicam -nos a saúde. Além 
do mais, ganham um automatismo de repetição tal, que parecem um reflexo 
condicionado quase impossível de sofrer qualquer interferência da mente 
racional, esmagada que fica pela rapidez e intensidade do processo 
emocional. 
Como é sempre possível, através de treinamento, haver um 
descondicionamento da emoção sentida, da sua expressão verbal e corporal 
(como veremos no nosso livro: ARITMETICA DAS EMOÇOES - a SUBTRAÇÃO e a 
DIVISÃO DAS EMOÇÕES), tudo começa com o DESEJO de CONTROLAR-SE, evitando 
inclusive a adoção de atitudes não pensadas, às vezes 
violentas e até fatais. Na maioria das vezes, as decisões tomadas sob o 
impacto emocional - que inunda o cérebro racional - uma vez cessadas, são 
motivos de arrependimento, vergonha e prejuízos mais ou menos graves. 
Identificando os tipos de emoções parasitas que praticamos habitualmente 
(releia o tópico DISFARCES, deste capítulo, pelo menos uma vez) procure 
resgatar, dentro da Criança Natural que existe em você, as emoções 
autênticas e, voluntariamente, decida abandonar os disfarces. 
A chave deste reaprendizado emocional é praticar o treinamento de 
educação emocional, com a certeza de que e possível obter o controle 
desejável, rejeitando as atitudes mentais viciosas: de fatalismo, de 
inevitabilidade, de insolubilidade. Em outras palavras, evitar 
desqualificar a sua capacidade mental de autocontrole emocional, e parar 
de fazer uma grandiosidade das emoções parasitas, através de expressões 
verbais do tipo: 
"0 MEDO FOI TÃO GRANDE, QUE FIQUEI SEM AÇÃO." I 1 1 I 2 
GRANDIOSIDADE DESQUALIFICAÇÃO 
 
 
Em 1 está a GRANDIOSIDADE do MEDO, e em 2 a DESQUALIFICAÇÃO da sua 
capacidade mental. 
Outro exemplo, agora com a RAIVA PARASITA 
- "A DECEPÇÃO FOI TAO GRANDE, QUE A RAIVA ME DOMINOU." 
De novo é feita a grandiosidade da RAIVA e da DECEPÇÃO (leia-se: 
expectativas não cumpridas), com a idéia implícita de DESQUALIFICAÇÃO da 
sua capacidade de lidar com frustrações, ou de ter qualquer interferência 
sobre a sua expressão verbal ou não verbal. 
Atento para a importância de levar inteligência às emoções e adquirir a 
desejável COMPETÊNCIA EMOCIONAL, como é o 
60 
A Hora e a Vez da Competência Emocional 61 
escopo deste livro, vejamos como é possível controlar as "RAIVAS 
PARASITAS", uma das questões mais requeridas na psicoterapia ou nos 
cursos específicos. 
AUTO-CONTROLANDO AS RAIVAS PARASITAS 
Vamos partir de algumas premissas, facilmente constatáveis sobre as 
raivas parasitas. Atenção para não haver confusão com a raiva autêntica, 
que é útil para defender a sua vida, ou a sua condição de vida, a "santa 
raiva" que não convém, nem deve ser refreada, na maioria das vezes. 
Reveja os disfarces da raiva, se tiver dúvida, ainda. 0 essencial é que 
se tome consciência da "raiva parasita" logo que a sentir, em tempo hábil 
de impedir ser arrebatado pelo sentimento raivoso. 
Lembre-se de que o controle das emoções parasitas perturbadoras, como a 
raiva, é a chave de qualquer atitude na direção do bem-estar biopsíquico 
e relacional. 
1 a PREMISSA: RAIVA PUXA RAIVA 
Quanto mais raiva você sentir e expressar, mais favorecerá ao 
encaminhamento de novos episódios raivosos. Na MULTIPLICAÇÃO DAS EMOÇOES, 
vemos como a raiva é contagiante. Outrossim, quando o corpo está sob 
efeito da raiva, manifestando sinais de irritabilidade, um novo estímulo 
de raiva seqüestra a mente consciente e a emoção domina a razão. 
2a PREMISSA: SUA RAIVA FAZ MAL A VOCÊ 
Quanto mais você sentir ou expressar RAIVAS PARASITAS, mais sua saúde 
física e mental fica vulnerável. É da sabedoria milenar de Confúcio a 
seguinte máxima, referindo-se certamente à raiva parasita: 
"UMA PESSOA ENRAIVECIDA ESTÁ CHEIA DE VENENO. SE NÃO ENCONTRAR ONDE 
DERRAMÁ-LO, IRÁ DERRAMÁ-LO DENTRO DE SI MESMO." 
3a PREMISSA: DAR RAZÃO A SUA RAIVA, FACILITA TÊ-LA 
Se você continuar a fundamentar sua raiva parasita com uma boa razão para 
tê-la, está se candidatando a perpetuá-la. Quanto mais você a perpetua, 
maior o risco de uma escalada, podendo atingir limites da ira letal, 
inclusive para você próprio. Lembre-se, se você tem razão, aí é que não 
deve se precipitar ou morrer. 
4a PREMISSA: É POSSÍVEL CONTROLAR A RAIVA NO NASCEDOURO 
0 pensamento por trás de cada raiva é que retroalimenta a sua (dela) 
progressão de raiva. Se você refrear o seu sistema do pensamento indutor 
da raiva, antes que passe para um segundo pensamento hostil, ou impedir 
que se acrescente um terceiro pensamento, a sua chance de matar no 
nascedouro a raiva é enorme. Observe que os temas destes pensamentos 
raivosos incluem criticismo exacerbado, vingança e represálias 
indiferentes às conseqüências, numa fantasia grandiosa de 
invulnerabilidade e poder sem limites. 
A gravura a seguir serve como ilustração do mecanismo de propagação da 
raiva, aqui comparada à chama que está passando de um palito para o 
outro. Caso você considere cada palito como sendo os pensamentos que 
retroalimentam a raiva, a chave será não deixar que se acenda o palito 
subseqüente. 
A Hora e a Vez da í_ompetência Emocional 63 
62 
Uma dica importante é, ao sentir o primeiro sinal de raiva, respirar bem 
fundo, contar até 10 e modificar o conteúdo e fluxo do seu pensamento 
gerador da raiva. 
Pode, por exemplo, trocar voluntária e deliberadamente o conteúdo do 
pensamento raivoso para racional, impedindo o fluxo do pensamento hostil. 
Neste ponto, uma contestação que você levante contra as idéias 
detonadoras daquela raiva tem o poder de freio instantâneo, 
principalmente se você passa a avaliar o custo-beneficio dela. 
A prática demonstra que, quanto mais rápido e mais cedo for esta 
frenação, mais efetivamente você poderá segurar a raiva. Dê uma chance a 
você próprio, vamos! 
5a PREMISSA: A MAIOR PARTE DA RAIVA PARASITA QUE TEMOS DE 
ALGUÉM É RESULTANTE DAS NOSSAS EXPECTATIVAS 
Passe a observar esta verdade singela e profunda: na maioria das vezes, 
quando passamos mal com raiva de alguém nos nossos relacionamentos 
interpessoais,

Continue navegando