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A HORA E A VEZ DA COMPETÊNCIA EMOCIONAL LEVANDO INTELIGÊNCIA ÀS EMOÇÕES 135 PÁGINAS Direitos reservados e protegidos. Lei n 5.988, de 14 de dezembro de 1973. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida por qualquer meio, sem autorização prévia da editora, por escrito. Autor: Antonio Pedreira Editor: Sérgio Almeida Coordenação Editorial: Deborah Moreira Capa: Nêio Mustafa Impressão: Lis Gráfica Editora Ltda. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação ( CIP ) ( Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil ) Pedreira, Antonio, 19411- A Hora e a vez da competência emocional, levando inteligência às emoções / Antonio Pedreira- Salvador, BA: CASA DA QUALIDADE, 7997. Dedicatória I Anàlise t ansacional 2 Emoções 2 Inteligência -. Quali ladr de vida I Tituli I )I-)- 1552 Aos mestres que me ensinaram sobre emoções: Jesse Accioly, Henrique Austregésilo e Vilma Cortez. Aos meus filhos: Tatiana, Renata, Victor e Vinícius, que me permitiram praticar meus conhecimentos, ao tempo em que me ensinaram sobre emoções com espontaneidade, alegria e amor incondicional. À minha esposa Elle que me possibilitou vivenciar muito amor e alegria, criando uma atmosfera de ternura, confiança, companheirismo e desprendimento para que este livro fosse gerado juntamente com o filhinho Vinícius. Indico para catalogo sistematii0. A minha gratidão, hoje e sempre. C rnpch•nca cnaxumal . Anale. ' tran',,+nunal l''.iculogia aplic ida 155.2 Prefácio Médico, educador, psicoterapeuta, professor universitário, vem agora ANTONIO PEDREIRA acrescentar a sua vasta obra científica este volume, que intitula A HORA E A VEZ DA COMPETÊNCIA EMOCIONAL, o primeiro da trilogia que cuida das emoções. Nele estuda, com proficiência e criatividade, as emoções e a sua importância para a vida mental. Nestes tempos em que impera uma lamentável fragmentação do saber, é importante ressaltar a ponte que constrói entre as neurociências e a prática clínica e terapêutica. Assim é que, num texto extremamente atualizado, onde se pode reconhecer a influência de Sifneos, Schiff, Damasio e Goleman, chega-se à operacionalização dos conceitos à luz da Análise Transacional, linha terapêutica da predileção do autor, que tanto tem expandido entre nós as contribuições de seu mestre, o sempre lembrado Jesse Accioly. Tratando-se de transações interpessoais, que se desenvolvem na intersubjetividade, foi muito feliz no roteiro escolhido na sua trilogia. Partindo sempre das Primeiras Letras do Aprendizado Emocional, seguidas de uma Gramática, chegamos a uma Aritmética das Emoções, em que se acentua o valor da comunicação na administração dos conflitos inerentes aos múltiplos papéis assumidos pelo ser humano, que, como queria Ortega, é indissociável de suas circunstâncias. Mas é, talvez, no capítulo dedicado a Os Provérbios e as Emoções que melhor se fundem as identidades do médico, do educador e do terapeuta. Com efeito, nesta era de incertezas, em que a única coisa permanente é a mudança, nada mais adequado ao trato com os jovens que alertá-los para os perigos da aceitação automática e acrítica do passado e para o potencial enriquecedor da assunção de riscos - desde que sob a égide da competência emocional. The end is where we start from (O fim é o ponto de partida), dizia T. S. Eliot. Esperamos todos que, após A HORA E A VEZ DA COMPETÊNCIA EMOCIONAL, persista Antonio Pedreira em sua brilhante trajetória editorial, para alegria e proveito de seus leitores. EDUARDO SABACK DIAS DE MORAES Professor de Psicopatologia - UFBA Presidente da Associação Psiquiátrica da Bahia Sumário AGRADECIMENTOS 13 APRESENTAÇAO 15 INTRODUÇAO 17 CAPÍTULO 1 - As primeiras letras do aprendizado emocional 21 O Alfabeto emocional 24 Os TrêsTempos da Emoção 27 Expressões das emoções 30 Disfarces semânticos 32 CAPITULO 2 - Emoções apreendidas 33 Aprendizado pedagógico dos disfarces 36 CAPITULO 3 - Compreendendo os disfarces 38 Disfarces: evolução e conceito 39 Crenças mágicas sobre os disfarces 41 História natural dos disfarces 42 Poder dos disfarces 45 Auto-justificativa para ter disfarces 46 Exemplo de disfarces 46 Disfarces do medo 47 Disfarces da raiva 48 Disfarces da tristeza e da alegria 49 CAPITULO 4 - Abandonando os disfarces 50 Roteiro para abdicar dos disfarces 50 Alfabetização Emocional: Expressando Emoções Autênticas 51 Disfarces do Afeto 52 CAPITULO 5 - Diferenciação das emoções 53 Diferenciação específicas das emoções salutares e parasitas: Medo - Raiva 54 Tristeza - Alegria 55 Afeto 56 Testes para identificação do disfarce 56 CAPITULO 6 - Como controlar "Emoções parasitas" 58 Auto-controlando as raivas parasitas 60 1° Premissa: raiva puxa raiva 60 2° Premissa: sua raiva faz mal a você 60 3° Premissa: dar razão a sua raiva faz mal a você 61 4° Premissa: é possível controlar sua raiva no nascedouro 61 5° Premissa: raiva parasita de alguém é resultante das nossas expectativas 62 6° Premissa: declarações de raiva contra o outro se referem à atitude da pessoa 62 CAPÍTULO 7 - Somatizações: Transtornos emocionais 64 Efetuadores - Efeitos somáticos emocionais 66 CAPITULO 8 - Somatizações: 0 corpo como meio de expressão 67 Níveis dos sintomas e sinais e dos conflitos 69 Dica importante 70 Correspondência psíquica dos órgãos 72 Alergia: Uma agressividade que se materializou 73 Dores dos olhos e de cabeça 74 Doenças do ouvido e da pele 75 Distúrbios do sono 75 Infecção: Um conflito que se materializou 76 Males estomacais e digestivos 76 Respiração - Assimilação da vida 76 Quatro observações importantes 77 CAPÍTULO 9 - Anátomo-Fisiologia da Emoção 79 O encéfalo humano (esquema) 79 As emoções eram negligenciadas 81 Passos da alfebetização emocional (Claude Steiner) 82 E alguém faz alguém passar bem ou mal? 85 Os quatro mitos 86 CAPITULO 10 - Modificações corporais produzidas pelas 5 emoções: Suas Implicações Evolutivas 88 Medo 88 Raiva e Tristeza 88 Alegria 90 CAPÍTULO 11 - Importância evolutivas das emoções 93 Competição pelo alimento e pela fêmea 94 Demarcação do território 95 Agressividade e ciúme 96 CAPITULO 12 - A interação mente e corpo 98 As três áreas e os quatro papéis 99 Uma experiência memorável 102 CAPITULO 13 - Analfabetismo emocional 103 CAPITULO 14 - Educando o seu sistema de sentimentos 106 Estados do eu 107 Conceitos de vida e pensamentos correspondentes 108 Exclusões 110 Contaminações 111 Diálogos internos 114 Conflitos entre estados do ego 116 "Okeidade" consciente 117 CAPITULO 15 - Inteligência: Evolução do Conceito 120 Inteligência e aprendizagem 120 Formação e evolução da inteligência 122 Inteligência e genética 122 CAPITULO 16 - 0 espectro das múltiplas inteligências 124 As Sete inteligências 124 Lógico-matemática 124 Verbal 125 Artístico-musical 125 Corporal 125 Espacial 126 Intrapessoal 126 Interpessoal 126 CAPÍTULO 17 - Inteligência Emocional 129 Autoconsciência ou Autoconhecimento Emocional 129 Grenciamento Emocional 129 Automotivação 129 Empatia ou Reconhecimento das emoções alheias 130 Habilidade em relacionamentos interpessoais 130 Alfabetização Emocional 132 BIBLIOGRAFIA 134 Agradecimentos A todas as pessoas que cooperaram para que este livro se tornasse realidade, nas diversas fases da sua elaboração até a sua conclusão. Ao Dr. Eduardo Saback, pela outorga do prefácio desta primeira edição, emprestando o seu respeitável aval de mestre consagrado, médico psiquiatra e figura humana notável, e assim valorizando sobremodo este nosso livro. A Cidália Maria Rodrigues de Carvalho, não só pelo excelente trabalho de digitação e formatação, mas também pela disponibilidade,boa vontade e prazer com que se desincumbiu desta tarefa. A sua habilidade já apareceu antes em vários livros da minha autoria que editei com a sua inestimável ajuda na composição gráfica. A Helen Lacerda Edington Fonseca, Jorge Moacyr de Carvalho e Silva e Maria José Luna Leite, revisores do Colégio Antonio Pedreira, pela acurada revisão ortográfica realizada. A professora Suzana Bastos, que gentilmente leu o manuscrito desta obra e contribuiu com valiosas sugestões. A Vanessa Gomes da Silva, pela cessão das ilustrações referentes às facetas da emocão. frutos das suas intelicências nic- tórica e criativa, que demonstram, com o número mínimo de traços, o máximo de expressão emocional. A Tatiana Valverde Pedreira, minha filha, recém graduada em Psicologia que contribuiu sobremodo lendo o original, discutindo o conteúdo e a forma "do que" e "do como" estava sendo escrito em vários capítulos do livro, funcionando com a sua competência e consciência crítica como norteadora de muitos trechos importantes. Aos meus filhos Victor e Renata pela sensibilidade, carinho e amor que me dedicaram, todo o tempo em que não me foi possível desfrutarmos juntos do lazer e companhia, em face da premência da entrega dos originais e, mesmo assim, puderam continuar crescendo, amorosos. Em especial à minha mulher, Elle Pedreira, que contribuiu para este livro de inúmeras maneiras: . sendo companheira, amiga, esposa incentivadora, confiante e confiável em todos os aspectos; . emprestando-me os seus ouvidos para a leitura de cada tópico do livro, dando-me o referencial acerca do nível de compreensão e clareza do que pretendi dizer e do que escrevi; . disponibilizando todo o tempo possível para que eu pudesse escrever, sem cobranças e com desprendimento; . sendo fonte de afeto, ternura e prazer, ao tempo em que desenvolvia lindamente a gestação do filhinho Vinícius, fruto do nosso amor. A minha gratidão e reconhecimento são ilimitados. Apresentação Jamais foi dita a última palavra acerca das emoções e das suas correlações com a inteligência. Quando o livro do Coleman sobre Inteligência Emocional surgiu no Brasil em 1995, ficamos felizes com a sua receptividade e sucesso por vários motivos. Entre eles, destaco o mérito daquele autor em divulgar o conhecimento das emoções, embasado em experimentos e pesquisas científicas. Outrossim, pela possibilidade de popularizar conhecimentos sobre emoções trazendo argumentos convincentes e exemplos ilustrativos bastante interessantes, inclusive o conceito de Q.E. (coeficente emocional) em cotejo com o clássico parâmetro de inteligência: Q.I. (coeficiente intelectual), redefinindo assim o que é ser inteligente. Para nós que compartilhamos de um campo do conhecimento que disseca as emoções e os disfarces de modo tão abrangente e pragmático, como a Análise Transacional, respaldados na obra do seu criador, Eric Berne, divulgadas mundialmente desde os anos setenta, e que tivemos na Bahia o privilégio de conviver com Jesse Accioly, um extremo conhecedor e estudioso das emoções, não houve grandes novidades no livro do Coleman. Ademais, nós próprios já temos uma experiência prática de dezessete anos aplicando a inteligência emocional para superação do stress do vestibular na área educacional e na área esportiva, num trabalho realizado com E.C.Vitória em 1989, 1990 e 1992, além de aplicações na área clínica. Recebemos o convite para escrever este livro, do editor da Casa de Qualidade, como um desafio, pelo momento atribulado, mas com a certeza que nos desincumbiríamos bem desta tarefa de injetar mais conhecimento sobre as emoções, ao alcance do grande público nacional. Buscamos uma abordagem criativa, objetivando ensejar a oportunidade do leitor enriquecer os seus conhecimentos teóricos e aplicá-los na prática. Sem a preocupação de preciosismo, mais uma vez adotamos, como nossas, as palavras do legendário Tai T'ung que, no século XIII, ao prefaciar a sua História da Escrita Chinesa declarou: "Se eu esperasse a perfeição, este livro não seria terminado nunca!" Houve, contudo, esmero, zelo científico e carinho em oferecer aos nossos leitores algo consistente e estimulante para que consigam levar mais inteligência às emoções e atinjam a desejável COMPETÊNCIA EMOCIONAL, melhorando a sua qualidade de vida. Antonio Pedreira Introdução FINAL DO SÉCULO, NÃO FINAL DOS TEMPOS Durante muito tempo deste século XX, nossos contemporâneos estiveram atormentados por uma emoção: o MEDO. MEDO DO FIM DO MUNDO! A ameaça apocalíptica de que "... a 2000, não chegará!" fez com que muita gente abrisse mão de outra emoção, essencial ao desfrute da própria vida, a ALEGRIA. No Brasil, assistimos a um progresso crescente e à chegada de bens de consumo e tecnologia atuais, que se tornaram acessíveis a todos e a cada um: fax, xerox, fornos de microondas, TV, rádio, telefone celular, carro, computador etc. Por outro lado, deparamo-nos com uma série de efeitos colaterais indesejáveis de uma sociedade competitiva, consumista e até cruel, quando se afasta dos valores humanistas, e prioriza a filosofia de vida GANHA/PERDE, ao invés de GANHA/GANHA. Assim, sob o patrocínio de uma outra emoção, a RAIVA, assistimos a uma desenfreada onda de VIOLÊNCIA, traduzida por crimes contra os indivíduos e/ou contra seus patrimônios. A escalada das drogas e vícios refletiu -se até na escola. Com efeito, há menos de três décadas os problemas mais comuns nas escolas eram: - Fumar cigarro escondido. - Jogar papel no chão, ou giz no colega. - Falar alto na sala. - Mascar chicletes e merendar durante a aula. - Fazer barulho e xingar. - Empurrar, derrubar ou bater no colega. - Correria nas escadas e corredores. - Uso incompleto de uniforme. Nos últimos 10 anos os problemas escolares passaram a incluir: - Uso de drogas (ilegais e legais) - Suicídio infanto-juvenil - Furtos e roubos - Gravidez indesejada - DST- AIDS e estupro - Agressões, lesões corporais e homicídios - Depressão, ansiedade e stress decorrentes de lares desfeitos. Mais do que nunca, precisamos refletir sobre estes sintomas e sinais de uma escalada de emoções negativas levando a uma deteriorização das relações interpessoais, que refletem diretamente na qualidade de vida e mal-estar da nossa comunidade, com as emoções de MEDO, RAIVA ou TRISTEZA. Com efeito, a quantidade de filhos que são vítimas de paternidade /maternidade inconseqüente, indesejada e incompetente é enorme e corriqueira na atualidade. São incomensuravelmente grandes os efeitos das separações conjugais sobre a mente emocional dos filhos. As crianças e adolescentes se acostumam com a instabilidade e imprevisibilidade decorrentes dos lares desfeitos, a ponto de adotarem a crença de que não há mais um referencial de segurança, estabilidade e confiabilidade em suas vidas. A insegurança e desencanto causados por tantos divórcios na atualidade, somente rivalizam com os efeitos perniciosos de outrora dos vínculos desgastados irreversivelmente, e mantidos pelas convenções sociais ou imposições religiosas. Não há dúvida de que os jovens de hoje estão mais expostos a riscos de lesões físicas, mentais e de autodestruição do que antigamente. Tudo isto, sem falar nas tentações consumistas impostas por uma mídia direcionada a um filão bilionário, representado pelos adolescentes. Assim, age a propaganda que estimula, de modo explícito ou subliminar, o impulso de consumismo, desde os carros ao cigarro, passando por outros brin quedos caros, sem deixar de impor marcas, padrões e condutas "jovens", valendo-se de todos os apelos motivacionais, inclusive o erótico e os de ilusão do poder. Mas, nem tudo está perdido! Entramos na era da COMUNICAÇAO e temos mais do que nunca acesso em tempo real às informações, agora disseminadas por todo o mundo, esta nossa "aldeiaglobal". Assim, por exemplo, considero oportuna e bem-vinda a obra de Daniel Coleman, intitulada INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, que além de sucesso editorial veio derramar luzes na escuridão, disseminando conceitos que parecem novíssimos e revolucionários, embora conhecidos para nós desde 1961 quando dos trabalhos pioneiros de ERIC BERNE, criador da Análise Transacional, e do saudoso Jesse Accioly, que foi um pioneiro neste estudo em nosso estado e no Brasil. Concordo com a receita de Coleman, para o nosso pais, diante da pressão social deste instante que provoca o afloramento dos indicadores de mal- estar emocional, revelados pelas manchetes alarmantes ou transmissões de reportagens chocantes de crimes violentos, abuso de drogas etc. Tanto em termos preventivos quanto como antídoto, para a DOENÇA COMUNAL, a saída é dar mais atenção à COMPETÊNCIA EMOCIONAL e SOCIAL DE NOSSAS CRIANÇAS" e zelar mais intensamente pela nossa parte afetiva. C A P Í T U L 0 1 As Primeiras Letras do Aprendizado Emocional "Quando os homens fracassam, o que lhes faltou não foi inteligência: foi paixão." Struther Burt Nunca se conheceu tanto sobre o sistema emocional e a mente humana quanto nesta virada de século! Nos anos 80 e 90, os progressos científicos da medicina visando superação das doenças infecto-contagiosas, correção cirúrgica de problemas outrora invencíveis e a descoberta de medicações de incrível eficácia terapêutica, inclusive sobre os males e enfermidades mentais, contrastaram com o incremento do stress (apelidado "a epidemia do século"), distúrbios do medo (angústias, ansiedade e síndrome do pânico), da raiva com seus efeitos perniciosos no sistema cárdio-vascular, e tristeza (depressões do mais amplo espectro). Pesquisas científicas recentes trouxeram novos fatos e novas idéias sobre o funcionamento do cérebro emocional, graças à combinação de revolucionário instrumental e técnicas sofisticadas, tipo ressonância magnética, tomografia, computadores de alta capacidade. Assim, a NEUROBIOLOGIA revelou dados científicos sobre a vida mental, facilitando a compreensão acerca da atuação das células nervosas (= NEURÔNIOS) e suas complexas conexões (= SINAPSES) e circuitos neurais. Eis que cientistas nos brindaram com imagens do nosso cérebro em ação e suas surpreendentes modificações durante o seu funcionamento, demonstraram as suas variações diante dos mais diversos estados de consciência: SONO, SONHO, DEVANEIOS, CHORO, EXCITAÇÃO SEXUAL, ORGASMO, ESTADOS EMOCIONAIS etc. 22 A Hora e a Vez da Competência Emocional 23 A Neurobiologia injeta ar no vácuo existente quanto ao conhecimento das emoções, desde os reveladores estudos de Darwin no seu "Tratado sobre emoções nos animais superiores e no homem". Assim, já são conhecidos os detalhes neurais e centros cerebrais envolvidos em cada uma das 5 emoções básicas: MEDO, RAIVA, TRISTEZA, ALEGRIA E AFETO. Um dos dados neurobiológicos mais notáveis é a existência de circuitos neurais capazes de permitir um controle dos nossos impulsos emocionais mais perniciosos, porque remontam a padrões dos nossos ancestrais e que foram úteis na luta pela sobrevivência. Tais padrões emocionais, internalizados e perpetuados em sobreviventes no processo de evolução das espécies, continuam úteis até hoje nos estados de emergências. 0 exemplo típico é a reação de alarme diante de situações que ameaçam a nossa vida, ou a nossa condição de vida. Todo nosso corpo pode ser modificado instantaneamente e sobrevém a mobilização de uma pronta resposta emocional tipo LUTA ou FUGA. Aí, vale tudo para preservar a vida. Em alta velocidade, as ações desencadeadas pelo nosso cérebro reptiliano (= sistema límbico - corpo amigdaliano) são de um automatismo incrível em defesa da vida. Não há tempo para o cérebro refletir. Toda a agressividade animal é mobilizada no combate. É "matar ou morrer". Os mais aptos sobreviveram e legaram aos seus descendentes, geneticamente, ao longo dos séculos, estes hábitos emocionais para defesa do território ou da prole. De repente, o homem moderno, que dispõe de armas mortíferas de fácil acesso, pode entrar em raiva numa situação banal do cotidiano e, intempestivamente, ter o seu emocional dominando o racional. Assim acontecem agressões verbais, morais e físicas entre colegas, amigos e até entre amantes, culminando com desfecho trágico. 0 pior é que, em uma grande maioria das vezes, o uso de palavras, tons, gestos e posturas, interpretados inadequadamente, podem causar sérios danos aos relacionamentos, se não à saúde e à própria vida humana, pela expressão de emoções e condutas perniciosas ou assassinas! Aprender a leitura das emoções em si próprio e nos outros é essencial. A possibilidade de refrear o IMPULSO EMOCIONAL permite ao indivíduo adquirir uma força poderosa. Como disse Maomé: "0 MAIS FORTE É AQUELE QUE É CAPAZ DE CONTER A RAIVA NA HORA DA IRA". Esta verdade traduz um dos pontos cruciais da aptidão emocional: discernir, ao sentir a emoção, qual a que convém e a que não convém expressar e atuar. Em outras palavras, a chamada "Inteligência Emocional" nos permite dominar AS EMOÇOES NOSSAS, DE CADA DIAL , ao invés de deixar que elas nos dominem. Acredito que a equação do sucesso pessoal, em termos de saúde física, psíquica e social, esteja na combinação de razão mais emoção SUCESSO = RAZAO + EMOÇAO (racionalidade) (sentimento) Investir, pois, na Alfabetização Emocional dos nossos filhos é tão importante para o futuro deles quanto todo o legado intelectual, propiciado pela educação cognitiva que as escolas habitualmente praticam. Como só usamos 10% do nosso potencial, podemos aprender a ampliá-lo no domínio do impulso emocional, e aplicar esta habilidade em nossas relações interpessoais. A chave para isto é o autoconhecimento, a capacidade que podemos adquirir - através de treinamento adequado - de entendermos os nossos próprios sentimentos mais sutis e conduzi-los para nortear as nossas condutas. De posse deste referencial interno (= INTELIGÊNCIA INTRAPESSOAL) é fundamental saber compreender as pessoas com as quais interagimos e, reciprocamente, compreender o que sentem, porquê sentem e como nos relacionarmos da melhor maneira possível. Esta capacidade de entender as suas motivações e de estabelecer uma relação cooperativa com as pessoas com as quais nos relacionamos constitui o que Gardner chamou de INTELIGÊNCIA INTERPESSOAL. 1 - "As Emoções Nossas de Cada Dia" é o título de uma palestra que o autor vem ministrando 24 A Hora e a Vez da Competência Emocional 25 A soma das duas inteligências pessoais (INTRAPESSOAL + INTERPESSOAL) constitui a essência da COMPETÊNCIA EMOCIONAL, que é a base segura para o sucesso pessoal nos papéis que desempenhamos em nossas vidas. 0 ALFABETO EMOCIONAL De acordo com Eric Berne, há cinco, e apenas cinco emoções básicas: MEDO, RAIVA, TRISTEZA, ALEGRIA e AFETO, que serão para nosso estudo consideradas como letras do alfabeto emocional. CAFET < LEGRIA Todos nós nascemos com uma programação genética para apresentar estas cinco modalidades de emoção. Cada uma delas se manifesta independentemente da outra. Acreditamos que as emoções são excludentes entre si, não ocorrendo duas ou mais de uma só vez. Conforme nosso esquema, acima, cada emoção só é detonada uma de cada vez, como se fossem 5 balas de um revólver. Na prática podemos confirmar que "uma emoção exclui a outra". Assim, se eu estou com medo, não estou com raiva; se estou com raiva, não posso estar com tristeza; se estou com tristeza, não estou com alegria etc. Às vezes, por haver um trânsito rápido de uma emoção para outra, podemos ter a impressão que estamos sentindo, simultaneamente, medo, raiva e tristeza. Na realidade, o que está ocorrendo é o seguinte trânsito em alta velocidade: Desde o genial estudo de Darwin, no seu "Tratado sobre emoçõesnos animais superiores e no homem" em que ele chamou a atenção para o poder das emoções, de induzir movimentos, conforme expressa a etimologia da palavra (EMOVERE, de Ex. = para fora; MOTION = movimento), sabemos que o MEDO tem início súbito ou lento e induz movimentos de evitação ou fuga. A RAIVA induz movimentos impetuosos de ataque ou de defesa, aumentando a força corporal significativamente. A ALEGRIA e o AFETO são aproximativos, enquanto a TRISTEZA induz à cessação dos movimentos, não dá ímpeto e tem início insidioso. 0 MEDO dá ímpeto de fuga, tendo início súbito ou insidioso. Embora, à primeira vista, pareça que existem três emoções ruins e duas boas, a verdade é que todas as cinco são importantes para a nossa vida. Por exemplo, diante de um grito súbito: INCÊNDIO!, é importante que você sinta MEDO, e não alegria ou afeto. Com medo, seu corpo é colocado repentinamente em estado de alerta para lutar contra o fogo ou fugir do fogo. Em ambas as alternativas o medo atua preservando nossas vidas. Facetas do MEDO Tímido Apavorado Medroso Horrorizado P Desconfiado Incrédulo Envergonhado Embaraçado o O -0 e ri ~ n Ansioso Culpado Surpreso Aflito /W OU O Prudente Indeciso Constrangido Modesto rói (2)0 RAIVA MEDO TRISTEZA 26 A Hora e a Vez da Competência Emocional 27 A RAIVA gera força e energia para superar os obstáculos e adversidades. Todas as vezes que houver uma ameaça a sua vida, ou à sua condição de vida, a RAIVA se apresenta como a defesa natural, uma espécie de força vital que responde à ameaça de impotência. Como não existe uma emoção chamada CORAGEM, a RAIVA é a emoção que funciona como antídoto natural contra o medo, e permite o enfrentamento da situação temida ou perigosa, ao invés simplesmente de fazer o que parece mais cômodo: A EVITAÇAO ou ESQUIVA. Convém, de pronto, ressaltar que o ego Adulto (= córtex) precisa estar ligado para que não haja confusão entre coragem e insensatez. De acordo com Bill Cornel, há circunstâncias em que a RAIVA pode ser vista com a mesma motivação do AFETO, qual seja o preenchimento da "fome" psicológica de contacto ou de relação. Ex.: - Não estou seguro desta relação, portanto utilizo a RAIVA (= como se fosse amor com o sinal trocado). Facetas da RAIVA Agressivo Crítico Irado Exasperado Histérico Rabugento Decepcionado Chocado .,,. aM:M n Invejoso Frustrado Arrogante Ciumento Agoniado Hostil Vingativo Colérico eXEE í" Ú)I kt ® ) ) 0 que ocorre, na prática, é que MEDO, RAIVA e TRISTEZA são emoções DESPRAZEROSAS ou, no jargão psiquiátrico, DISFORIZANTES, enquanto a ALEGRIA e o AFETO são emoções prazenteiras ou EUFORIZANTES, sendo que a ALEGRIA expande o ego e tende a provocar movimentos sem finalidade pragmática alguma. 0 AFETO expande a alma, engrandecendo-a de modo subjetivo. Correlaciona- se ao PRAZER, ao SEXO e ao AMOR, induzindo-nos a uma aproximação física tão grande que permite a reprodução e a proteção da prole. A tabela abaixo sumaria a essência do que foi dito, correlacionando cada emoção aos fatores causais e aos efeitos ou conseqüências condutuais delas. ESTIMULO EFEITO CONSEQÜÊNCIA (causa) (emoção) (conduta) > FUGA OU LUTA MEDO > PERIGO > AGRESSÃO/ OBSTÁCULO RAIVA SUPERAÇÃO/ DEFESA PERDA > PARALISAÇÃO / TRISTEZA RECUPERAÇÃO FOME DE CONTATO > AFETO APROXIMAÇÃO e CONJUGAÇÃO CONQUISTA > ALEGRIA > APROXIMAÇÃO e MOVIMENTOS NÃO FINALISTAS OS TRÊS TEMPOS DA EMOGAO Diante de um estímulo do meio externo, o nosso corpo reage de acordo com a circunstância, desencadeando uma das cinco emoções básicas. Desde a detonação da carga emocional no nosso tronco encefálico até o seu efeito corporal, podemos identificar três tempos: (verbal) ,. SENTIR EXPRESSAR ATUAR 28 A Hora e a Vez da Competência Emocional 29 Facetas da TRISTEZA Desesperado Triste Desgostoso Depressivo o o dd /1- l Ou Entediado Solitário Ferido Desolado Apiedado Retraído Estafado Meditativo CZD Concentrado Deprimido Melancólico Nostálgico 1° TEMPO: 0 SENTIR é um processo intrapsíquico. Todo ser humano vem programado geneticamente para sentir todas as cinco emoções básicas. É natural e normal que tanto o homem quanto a mulher sintam MEDO, RAIVA, TRISTEZA, ALEGRIA e AFETO. Embora alguns homens garantam que não sentem MEDO, isto é balela - eles sentem medo. Pode até ser que o processo educacional deles tenha sido repressor do medo, inclusive tendo ouvido, repetidas vezes, o bordão: "HOMEM NÃO TEM MEDO" OU "HOMEM NÃO CHORA". Aliás, veremos adiante que assim começam as emoções de disfarce: proibição de uma emoção autêntica e imposição para que você não sinta o que sente, e sinta o que eu quero que você sinta. mos, só os humanos têm a possibilidade de exprimir o que estão sentindo através da palavra. É o grande diferencial do homem para os demais animais: o poder da palavra. Justamente em função desta particularidade inerente ao ser humano é que dedicamos um livro, à GRAMÁTICA DAS 5 EMOÇÕES e outro às SENTENÇAS DAS EMOÇÕES: OS PROVÉRBIOS INDUTORES DE EMOÇÕES. Facetas da ALEGRIA Contente Confiante Alegre Feliz Satisfeito Animado Deslumbrado Otimista /'-- -\ Interessado d ~~ ZCJÓ Aliviado Eufórico Embriagado Espirituoso o:% ArA 11 , Sendo as palavras símbolos mentais, a expressão verbal das emoções é um fenômeno extraordinário na vida humana. A comunicação interpessoal poderá ser saudável ou patológica em função das emoções expressas de modo sutil ou explícito, de modo adequado ou indequado. As palavras têm o poder de CURAR, FAZER ADOECER e MATAR. Há palavras que alegram e as que entristecem. Pela palavra, uma pessoa pode se acalmar ou se exasperar, e ter uma acesso de ira. Há palavras que induzem medo, raiva, tristeza e outras que suprimem estas emoções. Observem os detalhes do como cada palavra colocada nos exemplos ilustrativos qualificam ou determinam certas emoções. Algumas trazem dúvida ou esperança, outras negam e outras afirmam determinados sentimentos. 2° TEMPO: 0 EXPRESSAR é traduzir a emoção por palavras. É hiimann rnnic cP trata rlp rim nrnc' n VF.RRAT. Até, nnde cahe 30 A Hora e a Vez da Competência Emocional 31 Enfim, as palavras têm substância e poder, representam o fio de ouro do pensamento, das crenças, dos sentimentos. HA PALAVRAS QUE CHORAM, E LÁGRIMAS QUE FALAM (COWLEY) 30 TEMPO: ATUAR é a expressão corporal das emoções ou seja, o modo como a emoção sentida ou verbalizada se exprime através da linguagem do corpo. Sabemos que a energia proveniente da emoção se espalha por todo corpo, atingindo determinados setores, como a nossa musculatura esquelética, a qual é composta de 501 músculos que nos dão a movimentação voluntária. Ao alcançar nossos músculos, as emoções produzem movimentos diversos: finalistas e não finalistas, com ímpeto e sem ímpeto, aproximativos e disjuntivos, espontâneas ou ritualizadas etc. Em suma, eis como OS TRÊS TEMPOS DAS EMOÇOES podem ser resumidos em três PROCESSOS: EXPRESSÕES DAS EMOCOES INTRAPSÍQUICO VERBAL (= FALA) CORPORAL (= AÇOES) ATUAR SENTIR EXPRESSAR Sinto medo digo: estou morrendo começo a tremer e fujo de medo Sinto raiva confesso que estou passo a chutar as portas com raiva Sinto tristeza falo da minha tristeza fico encolhido e choro Sinto afeto digo: te amo! beijo apaixonadamente Sinto alegria verbalizo: como estou pulo, danço e assobio alegre! Algumas pessoas preferem a expressão verbal, e outras a expressão CORPORAL DAS EMOÇOES, a depender do treinamento recebido dos pais na infância. Facetas do AFETO Apaixonado Amoroso Solidário Malicioso _r *IN 0 Deslumbrado Vidrado Saudoso Encabulado Indiferente Curioso (sexual) Enternecido Comovido O filósofo Schopenhauer (1830) declarou: "Manifestar cóleraou ódio pelas palavras é perigoso, ridículo e imprudente; não nos podemos vingar senão pelos atos. Os animais de sangue frio são os únicos venenosos." Ensinou-nos o mestre Jesse Accioly que as cinco emoções autênticas sofrem um processo terrível de repressão. Entre estas emoções, garante, a alegria é a mais boicotada. Basta você se lembrar das coisas que você ouvia, enquanto criança, quando estava alegre. Logo aparecia algum repressor e sentenciava: - Ri hoje, chora amanhã! - Muito riso é cinismo etc. Poderia também inibir a sua alegria com uma pergunta despropositada e desconcertante. - Tá adivinhando chuva? - Que alegria é essa, ganhou na Loteria? - Que assanhamento é esse? Por tudo isto, estas proibições de se sentir o que sente, e os embruxamentos à alegria e ao afeto originam emoções substitutas, ou disfarces, que veremos em outra parte deste livro. As vezes o disfarce atinge a expressão verbal da emoção, em razão da repressão sofrida no nosso processo educacional. 0 recur- 32 C A P Í T U L 0 so mais comum é aprender a expressar as emoções por meio de nomes substitutos ou EUFEMISMOS. Já catalogamos quase duas centenas de substantivos que podem servir de disfarces semânticos. 0 quadro abaixo dá uma idéia de DISFARCES SEMÂNTICOS com os quais rebuscamos as emoções autênticas. Emoções autênticas Eufemismos usuais (nomes substitutos) Nego ter: E digo: Estou com: MEDO temor, receio, ansiedade, preocupação, angústia, timidez, vergonha, fobia, inibição, respeito, etc. RAIVA sentido, indignado, frustrado, irado, chateado, revoltado, etc. TRISTEZA nostalgia, melancolia, fossa, depressão, desmoti vação, baixo-astral, etc. ALEGRIA contente, "de bom humor", "numa boa", "com sorte", "satisfeito", legal, mais ou menos, algo feliz, etc. AFETO carinhoso, excitado, doente, apaixonado, troncho, gamado, aloprado,etc. Emoções Aprendidas O aprendizado de certas emoções, por influência dos pais ou figuras significativas na infância, é uma ocorrência tão freqüente que se confunde com o próprio processo educacional. E, para dar aos filhos a melhor educação possível, os pais e educadores se incumbem de transmitir- lhes certas proibições, censuras, ordens, atribuições e diversas injunções. Tomemos um exemplo típico: a criança chega à casa com uma mordida no braço que um(a) colega deu. A mãe, prontamente, ensina-lhe: morda amanhã o colega que o mordeu, no mesmo lugar. Como a raiva é "da hora", ao chegar o dia seguinte, é óbvio que aquela criança não está mais com raiva, para morder o colega, e por isso não o morde. Mas, ao chegar à casa, a mãe logo lhe pergunta: - Mordeu o colega que lhe mordeu ontem? -NÃO. - MORDA AMANHÃ, NO MESMO LUGAR, senão você VAI APANHAR E FICAR DE CASTIGO. No dia seguinte, mesmo querendo morder o colega, falta -lhe a agressividade que a raiva dá. Quando percebe que o tempo está se esgotando, aí corre para cima do colega que o mordera, aplica-lhe uma dentada e foge. Pergunta: MORDEU COM RAIVA? A resposta óbvia é: NÃO. MORDEU com MEDO DA PUNIÇÃO que a mãe lhe daria se não cumprisse a vingança. 'CENECTI Centro Integrado de Educação 34 A Hora e a Vez da Competência Emocional 35 A partir deste ensinamento emocional, a criança pode estar começando a fixar um padrão aprendido de expressar-se dife rentemente do que sente. Outra situação comum é aquela em que uma criança pré -adolescente chega a casa contente por ter tirado uma nota boa em ciências, por exemplo. Ao anunciar alegremente à mãe a sua vitória, escuta dela: Grande coisa! Você não fez mais do que a sua obrigação. E, tem mais: seu pai não vai gostar nada dessa nota oito". Nesta altura dos acontecimentos, que se passa com aquele menino? É fácil deduzir: a ALEGRIA FOI FRUSTRADA, aparece uma RAIVA impotente que dará lugar a uma certa TRISTEZA. Poderá piorar, mais ainda, se ela acrescentar a clássica sentença: "ESPERE SEU PAI CHEGAR PARA VOCÊ VER 0 QUE VAI ACONTECER." Será que o leitor amigo já escutou esta frase, ou algo parecido, alguma vez? Mas, voltando à cabeça da criança, será que dá para saber o que é que está se passando?. Parece óbvio, agora aparece outra emoção: MEDO. Em suma, em lugar da ALEGRIA autêntica houve uma supressão dela e mudanças, na seguinte seqüência: ALEGRIA-3, RAIVA - TRISTEZA -) MEDO Imaginemos que o pai, além de reforçar esta seqüência emocional com a sua revolta pelo filho não cumprir sua (do pai) expectativa, ainda o castigue, privando-o de algo que ele goste muito ou cortando-lhe a mesada. Que acontecerá nas provas da 2a unidade, se este menino lograr tirar a nota máxima da turma, digamos, novamente oito? É fácil entender que, mesmo com toda a vibração da professora, dos colegas, este menino irá reagir a um motivo de ALEGRIA, como este, com outra emoção diferente da alegria. Provavelmente reagirá, de imediato, com RAIVA e, em seguida, com MEDO. 0 sentimento de CULPA o acompanhará até se defrontar com os pais. Lembremos aqui que CULPA é um MEDO AO CASTIGO. 0 sentimento de culpa caracteriza a pré-espera da punição, que atormenta qualquer ser humano. Em suma, a seqüência de câmbio emocional, na cabeça do menino que teve nota oito - não foi zero, nem um, foi oito! - convém observar poderá ser mais ou menos o seguinte: ALEGRIA 4 RAIVA - MEDO - CULPA y y y y (emoção autêntica supressa) (emoções substitutas) (disfarce) Digamos agora que, após as sucessivas broncas dos pais, esta criança fique desolada e chorando de TRISTEZA. A madrinha chegando de surpresa pode querer consolá-la, afagando-a e dando-lhe um chocolate. Que conclusão esta criança pode tirar de tudo isto? Talvez a seguinte: "EU ESTAVA ALEGRE, RECEBI BRONCA E FIQUEI COM MEDO. QUANDO FICO TRISTE AS PESSOAS ME DÃO MAIS ATENÇÃO E AFAGO." Pode ser que tudo isto não passe de um episódio ruim para a criança, mas ela pode tirar "conclusões de sobrevivência" e tomar "DECISOES PRECOCES" que poderão ser definitivas para toda a vida delas, a menos que se submeta a uma psicoterapia. Entre as condutas que poderá ter, é possível que apresente um MEDO estranho, toda vez que estiver alegre. - EPA! QUE ALEGRIA E ESTA QUE ESTOU SENTINDO?! VEM COISA RUIM Aí, COM CERTEZA. EU, ALEGRE ASSIM... Outra reação possível é a pessoa ocultar a alegria que sente, e fingir que está triste. Tal atitude poderá ser reforçada inúmeras vezes, pela vida afora, pois até com amigos acontece, 36 A Hora e a Vez da Competência Emocional 37 a nossa ALEGRIA pode incomodar. Enquanto isto, a TRISTEZA é mais aceita e, inclusive, consta das bem-aventuranças bíblicas: "BEM AVENTURADOS OS TRISTES PORQUE SERÃO CONSOLADOS". Eis algumas das seqüências mais comuns destas repressões de emoções autênticas que a pessoa sente, e as emoções substitutas pelas quais transita, até eleger uma emoção que "rebusca"* a legítima e que adota como DISFARCE. A tabela abaixo mostra algumas destas substituições usuais O INDIVIDUO É reprimido, e outra emoção lhe é imposta (emoção sente (emoção substituta ou REBUSQUE ou DISFARCES) autêntica) ALEGRIA MEDO - RAIVA -+ TRISTEZA 4 FALSA ALEGRIA, ex.: sorriso amarelo CULPA - (medo ao CASTIGO) MEDO RAIVA -* FALSA ALEGRIA (sarcasmo ou ironia) VERGONHA (= medo de ter medo) AFETO MEDO -3, TRISTEZA -4 Depressão TRISTEZA RAIVA 4 Falsa alegria (Rir da própria desgraça) MEDO (culpa de incomodar) RAIVA MEDO -4 Falsa alegria (Rir da desgraça alheia) (culpa) APRENDIZADO PEDAGÓGICO DAS EMOÇÕES Chega a parecer que é um fenômeno genético, mediado pelo DNA, a semelhança das emoções que os filhos apresentam, comparadas às dos seus genitores. Todavia, sem minimizarmos o peso da bagagem genética, queremos denunciar um ver dadeiro treinamento intensivo e extensivo dos filhos pelos pais ou figuras parentais substitutas, na infância. Diante das emoções autênticas, espera-se que os pais ou seussubstitutos eventuais, inclusive MESTRES, adotem as seguintes condutas, consideradas adequadas à expressão da carga emocional da Criança Natural: EMOÇÃO DO FILHO (ou ALUNO) 1 CONDUTA ADEQUADA DOS PAIS E MESTRES MEDO PROTEÇÃO RAIVA PERMITIR EXPRESSA-LA TRISTEZA PROTEÇÃO E PERMISSÃO AFETO COMPARTILHAR ALEGRIA COMPARTILHAR Entretanto, não é bem isso que se verifica na prática; cedo os pais, ou figuras representativas na infância, na intenção de "dar o melhor aos filhos" tratam de educá-los. Em outras palavras, reprimem ou proíbem a livre expressão das emoções autênticas, impondo-lhes emoções substitutas. Assim, surgem as EMOÇOES DE DISFARCE - importante conceito da A.T. já mencionado aqui e que foi desenvolvido por Fanita English. Estas emoções "REBUSQUES" são consideradas DISFARCES ou falsas emoções, aprendidas mediante treinamento, visando obtenção de afagos, reconhecimento e reforços afetivos (= carícias) bem como evitar responsabilidades. * 0 termo rebusque é inadequadamente usado em português pois o verbo correspondente é REBUÇAR (recobrir) e não W_ C A P 1 T U L 0 Compreendendo os Disfarces Eis algumas dicas para compeensão dos disfarces: • Sentimentos de disfarce surgem quando as carências biopsico- afetivas não são preenchidas. • Disfarces abrangem condutas desenvolvidas de modo intuitivo na infância diante de situações apercebidas como ameaçadores à sua homeostase, as quais dando certo, em termos dos objetivos imediatos serem atendidos, a criança como tática secreta os fixa. 0 mecanismo é similar ao de um reflexo condicionado. • Na medida em que se repete (são repetitivas, inclusive pela compulsão de repetição) internaliza-se como uma estratégia de sobrevivência, parte do arsenal de comportamentos "úteis" adquiridos. • Quanto mais alguém pratica o disfarce, mais o trajeto nervoso fica facilitado, como no aprendiz de direção de carro, até se tornar um expert ou virtuose como piloto. Assim é o disfarçador. Neste ponto alguns descobrem vocação artística para o teatro, cinema e novelas (= parte útil dos disfarces) • Os disfarçadores crônicos e inveterados, além de não viverem em plenitude, saem perdendo por se tornarem pouco confiantes e, menos ainda, confiáveis! São exemplos comuns do disfarce: • Atitudes sarcásticas, irônicas ou cínicas, repetitivas • Provocar briga na hora de amar. • Esquivar-se ao receber um abraço afetuoso. • Ficar embaraçado diante de uma anedota inocente. • Fingir que achou graça de um insulto. • Morder, em vez de beijar, beliscar em vez de afagar. • Fingir estar amando alguém, só para ter sexo. A resposta ao estímulo é desproporcional em intensidade, ou injustificada e bem diferente do habitualmente praticado e aceito como adequado, pelo senso comum. DISFARCES: EVOLUÇÃO E CONCEITO Diferente das emoções autênticas que são programadas geneticamente e se manifestam diante de estímulos no aqui-e -agora, aparecem as emoções substitutas ou "disfarces". Essa divisão e discernimento das emoções, nestes dois tipos, representa uma importante contribuição de Eric Berne, e faz parte do corpo teórico da Análise Transacional. 0 conceito de DISFARCE evoluiu bastante, desde o original de Berne, no qual declarava que "sentimentos se tornam disfarces quando o paciente aprende a explorá-los e coletá-los nos seus jogos psicológicos", até Fanita English defini-los em 1971, como sendo "EMOÇOES substitutas que se manifestam de forma repetitiva e estereotipada, e que são compensatórias de necessidades autênticas não satisfeitas, e que foram proibidas no passado". Em termos de Estados do Ego, as cinco emoções autênticas (Medo, Raiva, Tristeza, Alegria e Afeto) são expressas pelo ego Criança Natural, enquanto as emoções de disfarce são resultantes do processo educativo, através do qual os nossos pais ou substitutos nos adaptaram. Daí se falar em Criança Adaptada para as duas facetas principais do processo adaptativo - como Criança Rebelde ou como Criança Submissa. Quando uma criança decide adotar um sentimento de disfarce, geralmente antes dos oito anos de idade, decide abdicar A Hora e a Vez da Competência Emocional 39 40 A Hora e a Vez da Competência Emocional 41 de uma parte do seu eu, renunciando sentir o que verdadeiramente está sentindo e adotando aquela emoção que os pais estão a exigir dela. Tal renúncia é compensada pela fantasia de uma prêmio maior: a SOBREVIVÊNCIA. Fanita English chamou de CONCLUSOES DE SOBREVIVÊNCIA a estes conceitos devido ao que GOULDING denominou expressivamente como DECISOES PRECOCES. Sem dúvida estes dois teóricos da Análise Transacional estavam falando da mesma coisa: DISFARCES. As primeiras definições de DISFARCES foram as de Eric Berne, em 1971, que dizia se tratar de "sentimentos favoritos (CULPA, MEDO, MÁGOA, RAIVA, INADEQUAÇÃO E CONFUSÃO), aprendidos dos pais na infância, que se transformam em uma espécie de REFLEXO CONDICIONADO, podendo persistir por toda a vida". Do exposto se deduz que disfarces são emoções aprendidas dos pais ou substitutos, portanto socialmente programadas, e autoreforçadoras, em termos de que, quanto mais expressas mais facilitada será a sua manifestação (TIPO REFLEXO CONDICIONADO). Cabe um reparo à característica de serem SENTIMENTOS INAUTÊNTICOS - como muitos autores descreviam os disfarces - uma vez que todos os nossos pacientes estão sofrendo e sentindo o sofrimento, não obstante serem desnecessários, despropositados ou revelarem uma intenção manipulativa, oculta ou explícita. 0 conceito emitido por Fanita English se fortaleceu em 1974, após os dois artigos que escreveu sobre DISFARCES, definindo-os como "maus-sentimentos crônicos aprendidos na infância com os pais". Algo fácil de se verificar é que algumas famílias têm os seus tipos de disfarces prediletos, de usos geral e específico, treinando os filhos - inclusive em função do sexo e peculiaridades nas suas expressões emocionais. Ainda hoje é possível encontrar pais que treinam os meninos para não sentirem medo, e sim raiva, enquanto as meninas são treinadas para sentirem medo e não raiva, ou mesmo não sentirem raiva e sim tristeza. Em suma, os DISFARCES tanto são maus sentimentos crônicos que substituem as verdadeiras emoções que foram proibidas no passado, quanto são intenções exploradoras ou chantageantes, e comportamentos baseados em crenças distorcidas que são autoreforçadoras de um sistema perpetuador do script de vida. CRENÇAS MÁGICAS SOBRE OS DISFARCES (Holloway,1990) Em um dado momento da infância, depois de testar a eficácia dos disfarces como manifestações emocionais manipulatórias, a criança passa a ter duas fantasias: 1a) "SE EU ME SENTIR SUFICIENTEMENTE MAL, 0 TEMPO SUFICIENTE, ALGUÉM FARÁ ALGUMA COISA POR MIM." Com esta fantasia satisfeita, passa a acreditar que as suas necessidades básicas de carícias ou afagos serão preenchidas. Perpetuam assim a dependência. 2°) "SE EU ME SENTIR SUFICIENTEMENTE MAL, 0 TEMPO SUFICIENTE, ENTÃO NADA PIOR PODE ME ACONTECER." Através destas fantasias infantis, a pessoa se sente protegida contra coisas ruins ou conseqüências dolorosas. Até mesmo em gente grande, esta fantasia poderá ser verificada em viagens aéreas. Alguns passageiros passam mal a viagem inteira, exibem um repertório de disfarces de medo, se agitam, se embebedam, dão tremedeira, têm crises de pânico injustificadamente. Tudo, no fundo, no pressuposto mágico de que "se eu passar mal, a viagem toda, o avião não cai, nem nada pior me acontecerá!" É o passado "dando as cartas" no presente! Holloway, em 1990, ao analisar o conteúdo mágico destas duas fantasias infantis mencionadas, passa a incluir a adoção do disfarce como um componente relevante, do que ele denominou DECISÃO PRECOCE. E dele a declaração seguinte: "A criança inicia um disfarce crendo que é o único método garantido de conseguiro que ela quer, quando todas as demais táticas falham. Seja por persuasão, ameaça ou súplica o senti- 42 A Hora e a Vez da Competência Emocional 43 mento de DISFARCE será desesperadamente escalado, enquanto se tratar de preencher uma necessidade". Conclui dizendo que, "superficialmente, os DISFARCES parecem más- adaptações, mas no fundo são vivenciados como essenciais". Enfim, o disfarce começa com a tomada da decisão precoce, e é reforçado e estabelecido pela prática. HISTORIA NATURAL DOS DISFARCES • Geralmente os disfarces mais fortes são os que foram desenvolvidos mais cedo na vida pós-natal. • Admite-se que o primeiro trimestre de vida extra-uterina é tão crítico para as "más-formações" emocionais, quanto o primeiro trimestre de vida intra-uterina o é para as más-formações congênitas. • No 1° trimestre, após o nascimento, o bebê apenas sente o que sente (Criança da Criança) e, pela própria imaturidade do seu sistema nervoso e dos sensórios, é incapaz de perceber os seus sentimentos, quanto mais expressá-los adequadamente. • É fácil imaginar como o bebê reage aos estímulos desconfortáveis ou dolorosos: vivenciando o que chamamos de sensação de IMPOTÊNCIA, ABANDONO, REJEIÇÃO e DESVALIMENTO. A resposta mais primitiva e habitual e que as mães logo aprendem a decodificar são os choros: de frio, de sede, de fralda molhada, de mamar etc. • Atendidas com presteza e amor, geralmente por mães atentas e com todo o seu instinto maternal aguçado nesta fase a criança experiencia sensações indescritíveis de aceitação e amor incondicional. • Quando por motivos de força maior, ou menor, o recém -nascido não tem as suas carências preenchidas e seus desconfortos imediatamente aplacados, só lhe resta lançar mão do único recurso de que dispõe para protestar nestas situações: 0 CHORO PUNGENTE. • A duração e a intensidade do choro, traduzido pela altura dos sons emitidos, expressões faciais de sofrimento, lágrimas e contrações corporais servem de parâmetro para se avaliar e reconhecer as possíveis causas. • Quando o choro não foi suficiente para obter a atenção ou o devido cuidado, só resta à criança parar de chorar, valer-se de recursos próprios para se consolar: chupar o próprio lábio ou o dedo, embalar-se e dormir. • Em um estágio mais avançado, a senso-percepção vai se estabelecendo gradualmente, com a própria maturação do sistema nervoso. • Uma das opções de que a criancinha dispõe deste aprendizado do sentido de vida é a anestesia afetiva, mediante adoção de DISFARCES e FANTASIAS COMPENSATORIAS. • Juntamente com este aprendizado emocional distorcido, a criancinha vai sendo "educada" por meio de um sistema de premiações e de punições das suas condutas, pelos pais ou substitutos parentais, muitos dos quais bastante contraditórios. • Até os sete anos de idade, os conceitos ensinados de vida, passados por pais e/ou figuras substitutas vão sendo internalizadas pelas criancinhas. A adoção de tais ensinamentos será reforçada pelas emoções expressas por cada emissor. Todavia, as mensagens parentais de conteúdo emocional, que acompanham os pensamentos e sentimentos expressos, são potencializados pelas condutas do emissor. Os receptores sendo crianças, obviamente ainda imaturas, em termos de pensar e agir, tendem a incorporar em seu repertório comportamental as atitudes destes modelos significativos. E pois um processo de autêntica MODELAÇAO, ou seja, imitação dos MODELOS. • Concordamos com Fanita English quando afirma que os pais não necessariamente implantam "mensagens" no cérebro dos filhos, mas que dão estímulos que são opcionais de serem recebidos ou não. Aliás, isto pode ser facilmente verificável quando observamos o comportamento de 5 irmãos, filhos do mesmo pai e da mesma mãe - até parecem que se originaram de 5 pais e 5 mães diferentes! Com efeito, as decisões infantis inclusive as referentes ao sentir, expressar e atuar de cada uma das emoções, são modeladas pelos pais ou substitutos. 44 • Em um dado momento a criança vivencia que não é OK pensar e sentir do jeitinho como seus pais pensam e sentem. Aí vem o dilema irresolvível: 1°) Passar a fazer o que quer, mas perder o amor dos pais. 2°) Renunciar aos seus desejos e ter o amor dos pais. Com nenhuma das duas opções passará bem. Resulta em um processo único para cada pessoa e na dependência das circunstâncias vivenciadas. • Para algumas criancinhas, foram verdadeiras DECISOES DE SOBREVIVÊNCIA, tipo: - Se escapar desta, nunca mais expressarei alegria. - Se não morrer desta vez, jamais mostrarei raiva. Diante destas "vivências catastróficas" dos famosos "traumas de infância", parece natural e seguro o processo imitativo. Para que uma atitude mais segura do que aquela que os pais exibem, em circunstâncias similares? Imitar os padrões emocionais maternos e paternos garante um repertório seguro de disfarces emocionais, os quais exibidos pelos filhos, receberão o devido reforço e aprovação dos pais, dos avós e substitutos eventuais. • A validação destas mascaras ou personas2 pelos pais e educadores colabora para a criança formar uma coleção peculiar de personas, que será ao final do processo reconhecida como a PERSONALIDADE, a "marca registrada" de cada um de nós. • Como temos uma bagagem genética única transmitida pelos nossos progenitores, e a expressão desses gens depende da interação com o meio, é óbvio que cada um de nós desenvolverá um personalidade própria, que, nem mesmo através CLONAGEM, poderá dar réplicas iguais. Portanto, até mesmo os disfarces exibidos por gêmeos serão parecidos, mas nunca iguais entre si, em termos quantitativos e qualitativos. • As figuras parentais julgam as condutas e disfarces exibidos por cada pessoa, rotulando-as como personalidade: SADIA ou DOENTE, FORTE ou FRACA, MARCANTE, APAGADA ou NULA (= sem personalidade - será?) NOTÁVEL, INEXPRESSIVA, REPUGNANTE etc. 2 - Persona, em latim, é sinônimo de máscara. Na tragédia e representação cénica os atores usavam MÁSCARAS denominadas PERSONAS, dai o termo PERSONAGEM hoje utilizado na linguagem do teatro, cinema e telenovelas. Muitos destes juízos de valor sobre a PERSONALIDADE do jovem ou do adulto decorrem de expectativas de cada um, de acordo com o seu quadro de referência. Todavia, há um senso comum que reconhece os traços de personalidade que são compatíveis com o sistema de valores vigentes, alguns até se arriscando a ditar os que são "normais" e os que "não são normais". • 0 certo é que, ao nascer, cada um de nós não tem ainda persona alguma. Com o processo adaptativo às normas sociais vigentes, passamos a ensaiar algumas máscaras de alegria, de inveja, de ciúme, de zangado, de ofendido, de vingativo, de bonzinho etc. Tais personas vão sendo submetidas ao júri popular que tem figuras destaque como pais, avós, irmãos mais velhos e parentes próximos, e coadjuvantes também importantes representados por babás, professores e eventuais figuras de autoridade. 0 resultado desta série de julgamentos de cada uma destas personas, nas mais diversas circunstâncias, resultará na adoção duma coleção principal de personas (= PERSONALIDADE). Assim, a resultante final das personas ou máscaras de falsa alegria, falso afeto, falsa raiva, falso medo e falsa tristeza estará prontinha para ser submetida na adolescência à aprovação ou reprovação, e a possíveis retoques da turma, do grupo, da tribo ou "da galera". PODER DOS DISFARCES Em virtude da possibilidade de utilização dos disfarces como "um sistema fraudulento de proteger-se", pois encerram uma intenção exploradora, uma chantagem emocional ou mesmo se converte em método de manipulação da outra pessoa, há um poder em cada tipo de disfarce. Assim, vejamos o que Frank Ernst denunciou como sendo o PODER de cada disfarce sobre a outra pessoa. No fundo, quem usa disfarce - mesmo intuitivamente- se apercebe destes poderes e reluta em abandoná-los, utilizando "boas razões que os justifiquem." Eis algumas dessas fundamentações para terem EXPLOSÃO de RAIVA: A Hora e a Vez da Competência Emocional 45 46 A Hora e a Vez da Competência Emocional 47 DISFARÇADOR AÇÃO NO OUTRO Quando exibe DISFARCE de: É PARA: • ANSIEDADE Induzir apreensão nele • INDEFESO -0- Torná-lo impotente *CANSADO -0- Fatigá-lo • CONFUSO Atordoá-lo • CHORO Tiranizá-lo • IRA (EXPLOSOES DE RAIVA) --No- Provocar-lhe a raiva máxima • CULPA Culpabilizá-lo e remetê-lo imediata mente à sua vala de culpa. • DESESPERO Estilhaçar-lhe a calma, deixando-o desesperado (ou responsável por sua vida) AUTO-JUSTIFICATIVAS PARA TER DISFARCES FUNDAMENTAÇÃO EXEMPLO DE AUTO-JUSTIFICATIVAS PARA TEREM RAIVAS IRRACIONAIS 1) CIRCUNSTANCIAL "0 trânsito me deixou louco!" 2) GENÉTICA "Todos na minha família se zangam com facili dade! Isto é porque somos RUIVOS!" ou deve ser a minha descendência de italiano. 3) COSMOPOLITA "A atual conjuntura mundial e nacional me dei xa com RAIVA". 4) PSEUDO-FREUDIANA "Tenho muita hostilidade inconsciente". EM SUMA: TAIS AUTO-JUSTIFICATIVAS PARA TER E CONTINUAR TENDO DISFARCES SÃO RECUSAS PARA ASSUMIREM A SUA RESPONSABILIDADE SOBRE SI MESMO, E EXERCITAREM A SUA AUTONOMIA. EXEMPLOS DE DISFARCES Muitos são os tipos de manifestações emocionais substitutas resultantes da supressão de cada uma dada emoção autêntica. Estas exteriorizações estilizadas dos sentimentos que no pas sado foram permitidos e bem recebidos, no fundo escondem uma emoção autêntica. Eis os principais disfarces que se estabelecem pela proibição de uma das cinco emoções básicas. DISFARCES DO MEDO • FALSA ALEGRIA (ex.: frouxos de risos) é um dos disfarces mais freqüentes. Entre as possíveis situações familiares geradoras, destaca-se aquela de ser induzido a rir do perigo e de se machucar. Na atualidade, descendo uma montanha-russa disfarça o enorme medo subjacente com frouxos de risos. • ANSIEDADE - é um medo antecipatório cujo estímulo não está no aqui-e- agora. Enquanto criança, foi exortado(a) a não viver o presente, mas ficar de olho no futuro, no porvir, no dia de amanhã, fazer poupança etc. Pode também ter tido um modelo em um dos pais, ou de ambos, com a expressão facial de PREOCUPAÇAO. A ansiedade poderia também ser inspirada em figuras parentais que exibiam o disfarce de inadequação, sentindo-se "um peixe fora d'água" em certos ambientes e verbalizando isso com ênfase. • CULPA - é um disfarce de medo por algo que fez errado, ou não de acordo com as normas vigentes ou preceitos religiosos. Pode ter sido incutido este disfarce de medo (ao castigo) com o aprendizado da noção de pecado. A solução da culpa pelo pecado cometido está na penitência que teria que ser feita para expiação da falta cometida. Daí o mau-sentimento que acompanha o disfarce de culpa, remoendo na cabeça um diálogo interno em que o binômio erro-punição ou crime-castigo converte-se em conteúdo temático do pensamento desta pessoa. • VERGONHA - embora possa ser entendida como um sentimento primário, freqüentemente utilizado para ensinar às crianças hábitos higiênicos, sociais ou de interesse para a sobrevivência pessoal - como os esquimós envergonham as crianças que caem ao andar na neve com aqueles sapatos parecendo raquete - a vergonha em muitos casos pode ser um disfarce de medo. 48 De fato, a vergonha ou o acanhamento podem ser decodificados como MEDO À CENSURA. DISFARCES DA RAIVA • FALSA ALEGRIA - ex.: Gozações e pirraças, além de tentativas de ridicularizar o outro. Entre as possíveis situações familiares que podem gerar este disfarce da raiva, estão as situações em que o menino "ficou na berlinda"sendo alvo de gozação dos outros garotos. Outrossim, os pais ou figuras representativas davam risada quando estavam ressentidos ou quando ele se ressentia. • FALSA TRISTEZA E CULPA ex.: Fossa, desespero, fracasso, solidão, etc. Foram reprimidos ao mostrar raiva, acusados de serem "grossos" ou "pessoas de má índole". Não aprenderam a distinguir os tempos da emoção e quando "sentiam" raiva confundiam com "expressar raiva corporalmente", ou ATUAR. Assim, todas as vezes que mostrassem raiva, culpavam-no e se queixavam. Ademais, descobriram bem cedo na vida o poder chantageante da tristeza ou da depressão. Se um dos pais tivesse períodos depressivos, seria um modelo inspirador a imitar. Com efeito, por debaixo dessa falsa tristeza, da máscara depressiva, há muita raiva sentida e não expressa. • FALSA RAIVA ex.: Ciúme, inveja, rivalidade, vingança, ódio, prepotência etc. Uma das possíveis situações familiares que podem gerar falsa - raiva é um ambiente com muito criticismo e disputas pelo poder, sendo freqüentes as expressões de raiva entre irmãos, entre pais e filhos e dos pais entre si. Atitude prepotente e explosões raivosas dos pais, pelos mínimos estímulos, podem ser decorrentes de expectativas frustradas. Inveja e ciúme podem fazer parte da cultura do grupo familiar, bem como freqüentes ressentimentos e idéias revanchistas por motivos triviais. . ANSIEDADE ex.: nervosismo injustificado dos pais, com atritos constantes, deixam os filhos tensos e com disfarce de ansiedade, no lugar da raiva autêntica. Se alguém fica ressentido, o filho pode ficar ansioso e até mesmo com medo de que fosse capaz de matar alguma pessoa. DISFARCES DE TRISTEZA • FALSA ALEGRIA ex.. "Sorriso-da-forca". Tristes com algo desolador e fingindo sorrir como disfarce, para ocultar que está mal. • FALSA RAIVA ex.: ressentimentos, resultantes de pirraças, gozações todas as vezes que estavam tristes. • ANSIEDADE ex.: Medo de não controlar a tristeza, e entristecer as demais pessoas. Além disso, outro familiar "escalava" tristeza. DISFARCES DA ALEGRIA • FALSO MEDO - ex.: "Chorar de alegria". Este disfarce implica na supressão da alegria autêntica em razão de mensagens bruxas resultantes de - todas as vezes que estavam alegres - ameaçarem de punição ou castigarem. • CULPA - ex.: Medo de ficar alegre. Este tipo de disfarce pode ser desenvolvido em um ambiente familiar repressor da alegria autêntica. Não podia estar alegre se todos não estivessem alegres, ou podiam criticá-lo por estar alegre ou o incomodavam a ponto de apresentar ansiedade. • FALSA TRISTEZA - ex.: Choro (em vez de riso). Neste disfarce, a família com medo de demonstrar abertamente a alegria, desenvolve como antídoto contra algo de ruim, o "pranto mágico" (= aquele choro súbito que resolve tudo). A Hora e a Vez da Competência Emocional 49 C A P I T U L 0 Abandonando os Disfarces Ciente de que os disfarces são substitutos para outros sentimentos e que muitas vezes só estão rebuçando os sentimentos mais legítimos, durante muito tempo se designava com o nome de EMOÇOES "REBUSQUES", (adaptação da tradução portenha do termo inglês: RACKET, criado por Eric Berne). Todavia, quer sejam emoções genuínas ou rebusques, o indivíduo vai estar sentindo e sofrendo do mesmo jeito. Como as conseqüências a médio ou longo prazo são perniciosas para a saúde física e mental do "disfarçador", pois estas emoções são auto-lesivas e tendem à automatização, e a serem perpetuadas cada vez que são expressas, convém e devem ser abandonadas. 0 roteiro abaixo é uma sugestão de como abdicar dos disfarces. ROTEIRO PARA ABDICAR DOS DISFARCES 1°) Identificá-los. 2°) Reconhecer "como" perpetua. 3°) Interromper a sua expressão. 4°) Passar a contactar com a emoção autêntica subjacente e ir fundo nela. 5°) Monitorizar-se, para evitar recaídas. Uma questão de ordem pragmática, e que precisa ser observada por todos, principalmente em uma psicoterapia, é que os disfarces foram adotados no passado entre os seis e os dez anos de idade, como uma tática desobrevivência, e, bem ou mal, dão suporte à vida presente do "disfarçador". Retirá-los pura e simplesmente acarreta um vazio existencial que carece de ser preenchido. Para suprimir esta lacuna nada melhor que usar a máxima de Jesse Accioly: "DESAPRENDER 0 APRENDIDO, E REAPRENDER 0 DESAPRENDIDO". Em outras palavras, desaprender as emoções aprendidas (= DISFARCES) e reaprender as emoções genuínas, as quais foram desaprendidas. Assim, prevalece o bom senso e tomamos como base o conceito clássico de Fanita English ao descrever o "fator de substituição" - em que declarava haver, por trás de cada disfarce, sentimentos reais que o indivíduo não percebe, ou não se permite perceber hoje, porque foram proibidos no passado. A repressão e supressão das emoções convencem-no a abandonar as emoções genuínas, as quais, agora, é possível, de modo consciente e deliberado, resgatar e voltar a praticá-las. Eis uma proposta de ALFABETIZAÇAO EMOCIONAL para expressá-las. ALFABETIZAM EMOCIONAL: Expressando Emoções Autênticas MEDO Expresse-o sem bloquear-se e busque proteção em lugar seguro ou apoio, se necessário. RAIVA Expresse-a no aqui-e-agora sem engulir, descaregando-a de forma autêntica verbalmente ou corporalmente. Livre da sua carga perniciosa, permitase sentir-se leve e próximo. TRISTEZA Expresse-a por palavras e gestos. Contacte com o sentimento e permita-se chorar ou recolher-se. É OK você precisar deste tempo para recuperar a energia perdida, e avaliar a extensão da perda. A Hora e a Vez da Competência Emocional 51 52 ALEGRIA Verbalize a sua alegria, e expresse-a rindo, gargalhando, cantando, cantarolando, assobiando, dançando. Compartilhe com alguém a sua alegria. AFETO Expresse por palavras a sua afetividade por alguém que ama. Declare sem vergonha o que sentiu e sente. É OK ATUAR 0 AFETO: Beijando, abraçando, afagando o seu objeto de amor. Enalteça suas qualidades também, pois é OK ter auto-estima, amar e ser amado. Permita-se receber afeto além do seu limite habitual sem barreiras nem disfarces de proteção contra "perigos" imaginários. Em particular evite cair nas três armadilhas que são disfarces comuns de afeto, denunciadas a seguir. DISFARCES DO AFETO • INADEQUAÇÃO - ex.: Sensação desconfortável de estar sendo inconveniente. Uma das possíveis situações familiares, para originar este disfarce, decorre da repressão ao afeto demonstrado pelo(s) filho(s). Eram rejeitados ou desqualificados. • FALSA RAIVA - ex.: "Rusgas de amor" (para evitar intimidade). Alguns casais chegam a provocar estas briguinhas ou mesmo "bate-boca" caloroso, para desfrutarem de excitação sexual maior, após fazerem as pazes. • CIÚMES - ex.: "Medo ao abandono" ou à rejeição. É muito comum este disfarce, que assume o aspecto de zelo amoroso ou receio da perda do objeto amado, em famílias nas quais não havia suficientes carícias ou afagos para todos. Diferenciação das Emoções Na prática, uma das grandes dificuldades encontradas é como diferenciar a emoção inata das emoções de disfarce. Principalmente porque as inatas são salutares e defensivas, enquanto as emoções de DISFARCE são "parasitas" do bem -estar e da saúde. Sabemos que as emoções inatas vêm programadas em código genético e são funcionais, ao passo que as emoções de DISFARCE são aprendidas mediante treinamento na infância com os pais ou substitutos. Além disso, as emoções de disfarce são causadoras de lesões ao organismo como veremos no tópico SOMATIZAÇÕES deste capítulo. Todos estes critérios de diferenciação são corretos, porém o modo mais prático que achamos é aquele apontado por Robert Kerstész, e que se baseia nos tópicos: ESTÍMULO, DURAÇÃO, TIPO DE REAÇÃO E INTENSIDADE. Utilizando-se estes quatro itens, é possível reconhecer se aquela emoção sentida é medo, raiva, tristeza, alegria ou afeto do tipo que é inato e saudável, ou se é adquirida e do tipo "parasita" do bem-estar e da saúde. Assim, é fácil identificar as emoções inatas e naturais, pelos fatos seguintes: C A P Í T U L 0 54 A Hora e a Vez da Competência Emocional 55 • Originam-se a partir de ESTIMULOS no aqui-e-agora. • São breves e fugazes em sua duração. • Produzem "reação em pico". • Sua intensidade é proporcional ao estímulo. • Costumam ser contagiantes. As emoções de DISFARCE, sendo resultantes de programação parental, são identificadas assim: • Foram programadas através de estímulos no passado. • São de longa duração, persistentes e repetitivas Intensidade • Produzem reação em platô. -- 1 1 1 1 1 I Tempo (m seg) • Sua intensidade não guarda proporção com o estímulo. • Não costumam contagiar (exceto com grandes atores) UIFEBEHCIAgÁO ESPECIFICA DAS EI~OCOES SALUTARES E PARASITAS MEDO SALUTAR: comparece diante de perigos reais de perder a vida ou a condição de vida, no aqui-e-agora. PARASITA: desencadeado por perigos imaginários fantasiados ou evocados. Pode resultar de expectativas não cumpridas. Há ainda, neste grupo, os medos irracionais simbólicos que equivalem às fobias, e os medos que se convertem em SINTOMAS (= SOMATIZAÇOES). Também os medos aprendidos pela imitação dos pais. Ex.: medo de barata e medo de doença (hipocondria) etc. RAIVA SALUTAR: serve para defender a nossa vida ou a nossa condição de vida, no aqui-e-agora. Ajuda-nos a superar obstáculos reais, na auto-afirmação e a evitar danos morais. PARASITA: Toda raiva resultante de EXPECTATIVAS NÃO CUMPRIDAS. Muito freqüentemente, é acompanhada de pensamentos VINGATIVOS, CRITICOS ou REBELDES, juntamente com expressões verbais agressivas e condutas prepotentes. Há ainda as raivas que se convertem em sintomas físicos: as SOMATIZAÇOES. TRISTEZA SALUTAR: é desencadeada por perdas reais, no aqui-e-agora, ou em passado recente. Ex.: - Morte de ente querido - Perda de patrimônio valioso - Perda de objeto de estimação A sua intensidade é proporcional ao APEGO. PARASITA: é toda tristeza por perdas imaginárias ou resultante de perda real e significativa em um passado distante. Ex.. - Separações de casais sem morte de um dos cônjuges. - Perdas de objetos sem valor, ou descartáveis. A sua intensidade é desproporcional ao apego. A pessoa fica encalhada no passado e perde as apetências e gosto de viver, como nas depressões (aqui há muita raiva acumulada) ALEGRIA SALUTAR: - A alegria para desfrutar a vida. - A alegria compartilhada com entes queridos e amigos. - A alegria por suas vitórias, seus feitos, e suas realizações e pelos prazeres, inclusive sexuais, alimentares e espirituais. PARASITA: - Todas as modalidades de falsa-alegria, inclusive rir-se da desgraça alheia, ou da própria. - Aqui entram os disfarces da alegria despropositada ou despro porcionais aos estímulos. - São parasitas as alegrias derivadas do uso de bebidas alcoóli cas e drogas. - Qualquer situação que exponha a si próprio ou o outro ao Tempo (m beg) 56 A Hora e a Vez da Competência Emocional 57 RIDÍCULO, A IRONIA, AO SARCASMO, AO HUMOR NEGRO. AFETO SALUTAR: - Todas as formas de amor incondicional. Ex.: Amor de mãe. - Todos os relacionamentos afetivos entre amantes, amigos e parentes sem interesses materiais. - 0 amor à vida e à natureza. - Os comemorativos físicos dos vínculos espontâneos. - O ALTRUÍSMO e a AUTO-ESTIMA. PARASITA: - As formas de amor condicional (ex.: Só gosto de você se...). - Os VINCULOS SIMBIÓTICOS de qualquer área (casal, família ou profissional). - Os comemorativos físicos mercenários, manipulativos e por agressão. - O EGOÍSMO e o NARCISISMO. TESTE PARA IDENTIFICAÇÃO DO DISFARCE Como você vivenciaria este estresse? De olhos fechados, respire fundo e lentamente, três vezes consecutivas, procure uma posição bem confortável, relaxe e fantasie que você é um adolescente vestibulando. Lembre-se de quando você tinha 18 a 20 anos. BEM RELAXADO, AGORA DE OLHOSABERTOS: • Vista a pele de um vestibulando. • E chegado o dia do Vestibular. • Você acordou cedo - veja-se acordando, caprichando na higiene pessoal, vestuário etc. • Você está pronto para sair de casa - veja-se saindo de casa, pegando o veículo que o leva ao local do vestibular. • Você confere o seu relógio. Surpresa: já são quase 7h30! Você corre e chega em tempo. • Na hora de entrar, você descobre que se esqueceu da identidade. • 0 porteiro barrou a sua entrada, e o supervisor chamado foi irredutível a todos os seus apelos e argumentos. • Dê o máximo de realismo a esta representação hipotética, imaginando-se no lugar deste vestibulando, e responda: 1) Como se sente? 2) Que SENTIMENTO VOCÊ DETECTA EM VOCÊ? Impotência? Prepotência? Pânico? Desespero? Ódio? Angústia? Agitação? Onipotência? Frouxos de riso? Tristeza? Compare o sentimento detectado e confira com outra situação de estresse recente, da sua própria vida, e identificará o seu disfarce predileto. A Hora e a Vez da Competência Emocional 59 Como Controlar "Emoções Parasitas" Quando se fala em controlar as emoções, é preciso que não se pegue a noção errada, confundindo o desejável controle emocional - o que impede que haja uma escalada - com ficar isento de emoção. E quase impossível alguém normal conseguir não se mobilizar emocionalmente diante de um estímulo de média ou alta intensidade. Todavia, às custas de uma educação emocional adequada, mediante treinamento praticado com este objetivo, é possível refrear a expressão verbal e/ou corporal. Vimos que desaprendemos as emoções inatas ou autênticas, e acabamos por aprender uma série de expressões emocionais substitutas ou DISFARCES. Tais manifestações, copiadas de nossos pais e educadores na infância, aprovadas e estimuladas que são até a adolescência, acabam se tornando "EMOÇOES PARASITAS": sugam energia vital e prejudicam -nos a saúde. Além do mais, ganham um automatismo de repetição tal, que parecem um reflexo condicionado quase impossível de sofrer qualquer interferência da mente racional, esmagada que fica pela rapidez e intensidade do processo emocional. Como é sempre possível, através de treinamento, haver um descondicionamento da emoção sentida, da sua expressão verbal e corporal (como veremos no nosso livro: ARITMETICA DAS EMOÇOES - a SUBTRAÇÃO e a DIVISÃO DAS EMOÇÕES), tudo começa com o DESEJO de CONTROLAR-SE, evitando inclusive a adoção de atitudes não pensadas, às vezes violentas e até fatais. Na maioria das vezes, as decisões tomadas sob o impacto emocional - que inunda o cérebro racional - uma vez cessadas, são motivos de arrependimento, vergonha e prejuízos mais ou menos graves. Identificando os tipos de emoções parasitas que praticamos habitualmente (releia o tópico DISFARCES, deste capítulo, pelo menos uma vez) procure resgatar, dentro da Criança Natural que existe em você, as emoções autênticas e, voluntariamente, decida abandonar os disfarces. A chave deste reaprendizado emocional é praticar o treinamento de educação emocional, com a certeza de que e possível obter o controle desejável, rejeitando as atitudes mentais viciosas: de fatalismo, de inevitabilidade, de insolubilidade. Em outras palavras, evitar desqualificar a sua capacidade mental de autocontrole emocional, e parar de fazer uma grandiosidade das emoções parasitas, através de expressões verbais do tipo: "0 MEDO FOI TÃO GRANDE, QUE FIQUEI SEM AÇÃO." I 1 1 I 2 GRANDIOSIDADE DESQUALIFICAÇÃO Em 1 está a GRANDIOSIDADE do MEDO, e em 2 a DESQUALIFICAÇÃO da sua capacidade mental. Outro exemplo, agora com a RAIVA PARASITA - "A DECEPÇÃO FOI TAO GRANDE, QUE A RAIVA ME DOMINOU." De novo é feita a grandiosidade da RAIVA e da DECEPÇÃO (leia-se: expectativas não cumpridas), com a idéia implícita de DESQUALIFICAÇÃO da sua capacidade de lidar com frustrações, ou de ter qualquer interferência sobre a sua expressão verbal ou não verbal. Atento para a importância de levar inteligência às emoções e adquirir a desejável COMPETÊNCIA EMOCIONAL, como é o 60 A Hora e a Vez da Competência Emocional 61 escopo deste livro, vejamos como é possível controlar as "RAIVAS PARASITAS", uma das questões mais requeridas na psicoterapia ou nos cursos específicos. AUTO-CONTROLANDO AS RAIVAS PARASITAS Vamos partir de algumas premissas, facilmente constatáveis sobre as raivas parasitas. Atenção para não haver confusão com a raiva autêntica, que é útil para defender a sua vida, ou a sua condição de vida, a "santa raiva" que não convém, nem deve ser refreada, na maioria das vezes. Reveja os disfarces da raiva, se tiver dúvida, ainda. 0 essencial é que se tome consciência da "raiva parasita" logo que a sentir, em tempo hábil de impedir ser arrebatado pelo sentimento raivoso. Lembre-se de que o controle das emoções parasitas perturbadoras, como a raiva, é a chave de qualquer atitude na direção do bem-estar biopsíquico e relacional. 1 a PREMISSA: RAIVA PUXA RAIVA Quanto mais raiva você sentir e expressar, mais favorecerá ao encaminhamento de novos episódios raivosos. Na MULTIPLICAÇÃO DAS EMOÇOES, vemos como a raiva é contagiante. Outrossim, quando o corpo está sob efeito da raiva, manifestando sinais de irritabilidade, um novo estímulo de raiva seqüestra a mente consciente e a emoção domina a razão. 2a PREMISSA: SUA RAIVA FAZ MAL A VOCÊ Quanto mais você sentir ou expressar RAIVAS PARASITAS, mais sua saúde física e mental fica vulnerável. É da sabedoria milenar de Confúcio a seguinte máxima, referindo-se certamente à raiva parasita: "UMA PESSOA ENRAIVECIDA ESTÁ CHEIA DE VENENO. SE NÃO ENCONTRAR ONDE DERRAMÁ-LO, IRÁ DERRAMÁ-LO DENTRO DE SI MESMO." 3a PREMISSA: DAR RAZÃO A SUA RAIVA, FACILITA TÊ-LA Se você continuar a fundamentar sua raiva parasita com uma boa razão para tê-la, está se candidatando a perpetuá-la. Quanto mais você a perpetua, maior o risco de uma escalada, podendo atingir limites da ira letal, inclusive para você próprio. Lembre-se, se você tem razão, aí é que não deve se precipitar ou morrer. 4a PREMISSA: É POSSÍVEL CONTROLAR A RAIVA NO NASCEDOURO 0 pensamento por trás de cada raiva é que retroalimenta a sua (dela) progressão de raiva. Se você refrear o seu sistema do pensamento indutor da raiva, antes que passe para um segundo pensamento hostil, ou impedir que se acrescente um terceiro pensamento, a sua chance de matar no nascedouro a raiva é enorme. Observe que os temas destes pensamentos raivosos incluem criticismo exacerbado, vingança e represálias indiferentes às conseqüências, numa fantasia grandiosa de invulnerabilidade e poder sem limites. A gravura a seguir serve como ilustração do mecanismo de propagação da raiva, aqui comparada à chama que está passando de um palito para o outro. Caso você considere cada palito como sendo os pensamentos que retroalimentam a raiva, a chave será não deixar que se acenda o palito subseqüente. A Hora e a Vez da í_ompetência Emocional 63 62 Uma dica importante é, ao sentir o primeiro sinal de raiva, respirar bem fundo, contar até 10 e modificar o conteúdo e fluxo do seu pensamento gerador da raiva. Pode, por exemplo, trocar voluntária e deliberadamente o conteúdo do pensamento raivoso para racional, impedindo o fluxo do pensamento hostil. Neste ponto, uma contestação que você levante contra as idéias detonadoras daquela raiva tem o poder de freio instantâneo, principalmente se você passa a avaliar o custo-beneficio dela. A prática demonstra que, quanto mais rápido e mais cedo for esta frenação, mais efetivamente você poderá segurar a raiva. Dê uma chance a você próprio, vamos! 5a PREMISSA: A MAIOR PARTE DA RAIVA PARASITA QUE TEMOS DE ALGUÉM É RESULTANTE DAS NOSSAS EXPECTATIVAS Passe a observar esta verdade singela e profunda: na maioria das vezes, quando passamos mal com raiva de alguém nos nossos relacionamentos interpessoais,
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