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FICHAMENTO: MAX WEBER Max Weber e a Ideia de Sociologia Econômica - SWEDBERG, Richard O livro Economia e Sociedade de Weber tem como objetivo geral: mostrar de que maneira a sociologia pode ser utilizada para analisar fenômenos socioeconômicos e introduzir uma dimensão social em uma análise voltada para os interesses. O capítulo 1, “Conceitos sociológicos fundamentais”, contem uma apresentação geral da sociologia e de seus principais conceitos e, além disso, traz uma discussão sobre as diferenças entre a sociologia e a teoria econômica. Weber define sociologia como uma ciência que se interessa pela compreensão interpretativa da ação social e, por isso, por uma explanação causal de seu curso e consequências. A compreensão do agente é fundamental para a sociologia e faz parte de seu principal mecanismo explicativo. Um fenômeno social constitui-se por meio do significado que tem para o agente, e agentes diferentes podem partilhar uma interpretação desse significado. Isto se aplica também às ações sociais de natureza econômica, o elemento de significado é igualmente crucial. Assim, uma explicação adequada em sociologia é aquela que consegue explicar a ação social real por meio da compreensão do agente. O tipo de causalidade de Weber pode ser chamado de interpretativo. A unidade básica da sociologia é o indivíduo/as ações sociais do indivíduo. Ou seja, a sociologia, assim como a teoria econômica, começa sua análise com o indivíduo e o significado que o indivíduo atribui a seu comportamento. O indivíduo é movido por seus interesses, que podem ser tanto ideais quanto materiais. Os hábitos e as emoções também costumam desempenhar um papel. Porém, o que mais distingue a sociologia da teoria econômica é que a ação do indivíduo também tem que ser social. Para Weber, a ação é social na medida em que seu significado subjetivo leva em conta o comportamento dos outros, que, assim, orienta seu curso. Ou seja, a teoria econômica analisa a ação econômica em geral e a sociologia analisa apenas a ação econômica que também é orientada pelo comportamento dos outros. Há quatro tipos principais de ação social: tradicional, afetiva, racional com relação a valores (tipicamente movida por interesses ideais) e racional com relação a fins (tipicamente movida por interesses materiais). A ação social pode ser movida pelo hábito (tradição) e pelas emoções, assim como pelos interesses; talvez sendo movida, na maioria das vezes, pelos três fatores. De acordo com Weber, a teoria econômica analisa situações em que o agente é movido principalmente pelos interesses materiais e tem a utilidade como objetivo, não leva em conta o comportamento de outros atores (ação econômica). A sociologia considera tanto a ação movida pelos interesses ideais quanto pelos interesses materiais que também é orientada pelo comportamento dos outros (ação social). A sociologia econômica enfoca a ação social econômica, isto é, a ação movida principalmente pelos interesses materiais, que é voltada para a utilidade e leva outros agentes em conta. Além disso, tanto a ação social quanto a ação social econômica podem ser movidas pelo hábito e pelas emoções, combinadas com os interesses. A teoria econômica, ao contrário da sociologia, só leva em conta o comportamento racional e com objetivos puramente econômicos, já a sociologia lida, também, com a ação irracional e com a ação racional com outros objetivos além dos econômicos. A sociologia considera exclusivamente a ação social, a ação que é voltada para o comportamento dos outros. O que une sociologia e teoria econômica está relacionado com a sua área de estudo. A sociologia trata de uma variedade muito maior de ações do que a teoria econômica, mas as duas tem um tipo de ação em comum: a ação racional com objetivos exclusivamente econômicos. Embora a sociologia trate apenas da ação que é social, a ação econômica como tal não precisa ser ação social. Assim, Weber define ação social econômica: a ação econômica de um indivíduo só é social se leva em conta o comportamento de mais alguém. Em certa medida, a sociologia e a teoria econômica se sobrepõem e essa sobreposição abrange o comportamento racional com o objetivo exclusivamente econômico ou o comportamento racional com objetivos exclusivamente econômicos que também é orientado em relação a outros. A teoria economia lida tanto com a ação social quanto com a ação que não é social (não orientada pelo comportamento dos outros). Percebe-se que a racionalidade é um ponto de interesse da teoria econômica e da sociologia. Nem a teoria econômica, nem a sociologia lidam com as ações as quais o agente não atribui um significado. Outro fator que a teoria econômica e a sociologia têm em comum é que ambas estudam a ação econômica racional e utilizam a racionalidade como instrumento de análise (construção de um tipo ideal racional para a análise e individualismo metodológico). No capítulo 2, “As categorias sociológicas da ação econômica”, a ação econômica difere da ação social por causa de seu foco muito mais estreito em um determinado tipo de atividade, embora constitua o fundamento da teoria econômica e da sociologia econômica. Para Weber, uma ação é economicamente orientada quando, de acordo com seu significado subjetivo, preocupa-se com a satisfação do desejo por utilidades, isto é, a ação não tem objetivos exclusivamente econômicos. O conceito de utilidade é central no conceito de ação econômica, assim como na maior parte da teoria econômica, e abrange objetos (mercadorias) e comportamento humano (serviços). No conceito de utilidade de Weber não é tanto a qualidade inerente de um objeto que importa, e sim o uso que se pode fazer dele. Weber também afirma que é preferível utilizar o conceito de utilidade em lugar de satisfação de necessidades como base da ação econômica, pois tem um alcance maior e inclui a geração de lucros. Mais uma importante dimensão desse conceito de utilidade é a que enfatiza o elemento de oportunidade econômica e incerteza nas ações econômicas. A ação econômica é sempre mais orientada pelas oportunidades do que pelas certezas (oportunidade de utilidade – elemento de incerteza), e isso influencia seu caráter. O mesmo se pode dizer da geração de lucros e da satisfação das necessidades. A vida econômica gira em torno da apropriação e, de preferência, do monopólio dessas oportunidades. Assim, impedindo que outros as usem. Weber, no capítulo 2, também define uma “tipologia sociológica”. Há diferentes tipos de ação social econômica. A distinção mais básica entre esses tipos é a distinção entre “economia doméstica” e “geração de lucros”. A economia doméstica lida principalmente com o consumo, e a geração de lucros significa tipicamente o esforço para expandir o controle sobre novas mercadorias e serviços. Para Weber, riqueza difere de capital, assim como renda de lucro, pois a riqueza é utilizada para a satisfação das próprias necessidades e não para obter controle sobre outras mercadorias e serviços. Assim, a riqueza e a renda são categorias básicas da economia doméstica, e o capital e o lucro são da geração de lucros. Outras duas tipologias de ação econômica são: racional e tradicional, sendo que ambas se aplicam tanto à geração de lucros quanto à economia doméstica. O oiko (unidade econômica comum na Antiguidade) representa uma forma tradicional de economia doméstica; a economia doméstica moderna é mais racional, principalmente quando utiliza um orçamento. E assim como um dia existiu a troca tradicional de moedas e de serviços relacionado ao dinheiro (Exemplo: manufatura tradicional), hoje temos a atividade bancária racional (Exemplo: empresa moderna). Este é um dos grandes temas da sociologia econômica weberiana: explicar como esse tradicionalismo econômico se desintegrou e foi substituído por formas mais dinâmicas. Há ainda uma segunda tipologia de ação econômica: “ação econômica” e “ação economicamente orientada”. Ao propor essa tipologia, Weber quer destacar dois tipos de ação econômica que não se qualificam como formas integrais de açãoeconômica, mas que são de grande interesse. Tem-se as ações que não são primariamente orientadas pelas ações econômicas, mas que levem em conta considerações econômicas; e as ações que são diretamente orientadas por objetivos econômicos, mas que se utilizam da violência para alcançá-los. Essas duas categorias são chamadas de “ações economicamente orientadas”. Na ação econômica, a violência não é usada e a orientação é primariamente para finalidades econômicas. A sociologia econômica estuda a ação econômica e a ação economicamente orientada, já a teoria econômica estuda somente a ação econômica. Apesar de Weber afirmar que a violência é alheia à ação econômica normal, ele acredita que esta ação não é sempre livre e voluntária. As lutas na economia seguem sua própria dinâmica. Assim, ele introduz alguns conceitos, como o “poder de controlar e dispor”, semelhante ao poder econômico. Há também os conceitos relações “comunais” e “associativas”. As relações comunais indicam um sentimento de fazer parte de um mesmo conjunto, ao passo que as relações associativas dizem respeito a um acordo racional, que envolve interesses. Com isso, conclui-se que as ações econômicas são principalmente de natureza associativa. Porém, Weber acredita que a maior parte das relações, incluindo as associativas, tem um componente desse sentimento de fazer parte de um mesmo conjunto. Assim, a teoria econômica se interessa pelas relações associativas. Outro conceito importante é o conceito de dominação. Para Weber, dominação é a probabilidade de que uma ordem com um teor específico seja obedecida por um grupo de pessoas. Todo sistema política baseia-se, de alguma forma, na dominação e, com isso, como uma economia faz parte de um sistema político, tende a operar de acordo com o mesmo tipo de dominação política. O Estado pode estabelecer os parâmetros da economia ou dominá-la diretamente. Porém, a dominação também está presente no interior da economia, na medida em que obediência é a regra (dominação econômica). No entanto, para Weber, a dominação não está presente no mercado em si, que é onde as trocas acontecem, mas os agentes que possuem o “poder de controlar e dispor” estão em vantagem. Weber define ocasionalmente seus tipos ideais sob a forma de um mecanismo geral. Um exemplo disto é a sua análise de “relações fechadas” e “relações abertas”. Uma relação é em princípio aberta quando alguém que dela deseja participar tem permissão de fazê-lo, e é fechada, quando não tem essa permissão. “Quando os participantes esperam que a admissão de outros leve à melhoria de sua situação, terão interesse em manter as relações abertas; mas quando acham que podem melhoras sua situação por meio de táticas monopolistas, favorecerão uma relação fechada”. Uma das tarefas da sociologia econômica é estudar a evolução do comportamento econômico racional para a racionalidade econômica como parte de um movimento histórico mais amplo. Weber, no capítulo 2, traça as linhas gerais do que é racional na esfera da economia. Dois aspectos em particular do uso que Weber faz da racionalidade separam a sociologia econômica da economia contemporânea: 1) para Weber, o comportamento racional é variável, evolui historicamente; a racionalidade na esfera econômica é diferente da racionalidade nas outras esferas da vida social; 2) distinção de Weber entre “racionalidade formal” e “racionalidade substantiva”, a racionalidade formal gira em torno do cálculo e a substantiva está relacionada com valores absolutos. Nenhuma economia é cem por cento formalmente racional, há sempre um elemento de irracionalidade formal ou racionalidade substantiva. A maioria dos tipos de racionalidade formal também pressupõe a existência de certas condições sociais, que são claramente irracionais de um ponto de vista substantivo. Para explicar racionalidade econômica, Weber primeiro distingue ação econômica racional e tecnologia. A ação econômica racional orienta-se para uma situação em que há escassez de meios e envolve uma escolha prudente entre os fins. A escassez não desempenha papel algum na tecnologia, que sempre tem um determinado fim, escolha racional de meios para um fim predeterminado. Após essa distinção, esboça medidas mais básicas e típicas da ação economia racional. Essas medidas, apesar de estarem presentes desde o começo da história, só se tornam racionais na medida em que são sistematicamente aplicadas. São elas: poupança (transferência de utilidades para o futuro), estruturação do consumo em termos de preferencias, produção e comércio (comércio racional é voluntário). Um nível superior de racionalidade é alcançado imediatamente quando o dinheiro é introduzido na vida econômica. O dinheiro seria a forma mais perfeito que existe de cálculo econômico e o meio mais racional que existe de orientar a ação econômica. Quando o dinheiro é usado em todos os níveis da economia, tudo o que está vinculado à economia pode, em princípio, ser avaliado em termos de dinheiro. Além disso, o dinheiro também possibilita o surgimento da “conta de capital” ou cálculo em termos de capital, sem o qual o capitalismo não poderia existir. A racionalidade econômica formal requer previsibilidade nos cálculos econômicos, e nos organismos, juízes e autoridades governamentais. A racionalidade formal que envolve o uso de dinheiro ou de capital leva necessariamente a conflitos com a racionalidade substantiva. O responsável por grande parte do conflito entre a racionalidade formal e substantiva na economia é a desigualdade na distribuição de renda. Apesar de Weber não utilizar o termo “instituições”, toda a sua análise se inicia com vários tipos de ação social e econômica, e depois passa para versões mais complexas que, para todos os propósitos práticos, Swedberg chama de instituições. Uma delas é a propriedade: quando os membros de uma relação fechada conseguem se apropriar de algumas oportunidades econômicas, adquirem um direito, e quando esses direitos podem ser herdados, existe propriedade. Outra instituição é a organização econômica. Weber constrói seu conceito de organização econômica com base na ação econômica (social). Uma organização consiste em uma relação fechada combinada a uma equipe administrativa ou a uma pessoa que impõe as suas regulamentações. As organizações são econômicas quando orientados para a satisfação de necessidades ou para a geração de lucros. Quando essa orientação constitui seu principal objetivo são “organizações econômicas”. Quando têm um objetivo primário diferente, mas ainda assim são economicamente orientadas, então são “organizações economicamente orientadas”, como as Igrejas ou o Estado. Há também organizações como os sindicatos, chamados “grupos economicamente reguladores”, cuja principal ação é regulamentar as questões econômicas. O último tipo de organização econômica é a “organização que impõe uma ordem formal”, que providencia para que outras organizações econômicas tenham liberdade de agir e existir, como o Estado do laissez-faire. Weber dá muita importância para a divisão do trabalho, uma característica das organizações econômicas. Quando o objetivo primário da organização é garantir o lucro ou satisfazer necessidades, esse fator influenciará a divisão econômica do trabalho. A estrutura social do grupo também afetará a divisão e unificação do trabalho, que também estará vinculada ao tipo de apropriação em jogo. Para Weber, a única organização econômica realmente revolucionária é a firma ou empresa capitalista, pois ela está comprometida com um tipo contínuo de ação econômica racional orientada pela geração de lucros por meio da exploração de novas oportunidades. O que torna a forma radical é que a ideia de geração sistemática e racional de lucros choca-se com o tradicionalismo econômico e com as formas estabelecidas de explorar as oportunidades econômicas no mercado. Outra instituição econômica central é o mercado. A essência do mercado é um tipo de ação econômica, a troca, que é simultaneamente orientada em duas direções diferentes: na direção do parceiro detroca e na direção dos concorrentes. As relações sociais do mercado podem ser abertas ou fechadas, dependendo dos interesses dos agentes. Além disso, o dinheiro, comentado anteriormente, também é considerado uma instituição. Weber também apresenta, ainda no capítulo 2, alguns conceitos de sua sociologia econômica para captar o que acontece em um nível macro. Uma importante distinção sobre o nível macro é a distinção entre “economia natural” e “economia monetária”. Ao longo da história, muitas sociedades pertenceram a ambos os tipos de economia. Em uma economia monetária, o dinheiro é usado e as ações econômicas estão voltadas para o mercado com seus preços em dinheiro. Já o conceito de economia natural é mais complexo, abrange vários tipos diferentes de economia; frequentemente é usado apensas para designar uma economia em que a troca assume forma de escambo. Outro par conceitual é: “economia de mercado” e “economia planejada”. Uma economia de mercado é aquela em que as necessidades são satisfeitas por meio de trocas no mercado. Já uma economia planejada depende do cálculo em espécie, dado que sua orientação é substantiva; as ações econômicas nessa economia são orientadas pelas ações de uma equipe administrativa e são executadas de acordo com um orçamento. A tipologia mais sugestiva de Weber em um nível macros é aquela que trata dos diferentes tipos de capitalismo. Weber sugere que uma série de diferentes capitalismos se desenvolveram paralelamente uns aos outros, sendo que certas formas de capitalismo existiram muito antes da industrialização e do comércio moderno. Existem seis tipos principais e distintos de capitalismo, esses seis tipos são depois atribuídos as categorias de capitalismo racional, capitalismo político e capitalismo comercial tradicional. Esses diferentes tipos de capitalismo não evoluem de um para outro, eles coexistem. Tanto o capitalismo político quanto o capitalismo comercial tradicional existiram durante milhares de anos, o capitalismo racional é mais jovem. O capitalismo político surge, geralmente, quando eventos e processos políticos criam oportunidades para a geração de lucros capitalistas. Porém, quando uma área é pacificada e dominada por um único império, o Estado não precisa recorrer ao tipo de ações de levantamento de fundos que muitas vezes alimentam o capitalismo político, assim, levando ao declínio desse tipo de capitalismo.