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Hermenêutica bíblica 01

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Hermenêutica bíblica
Aula 1: Condição da �loso�a e primariedade da linguagem
Apresentação
Nesta aula, faremos uma visita à Grécia Antiga, mais especi�camente em Atenas – a polis do conhecimento. Em
um curso com foco na �loso�a da linguagem, obviamente não poderíamos deixar de falar dos grandes �lósofos
da Antiguidade Clássica. Atenas era palco de grandes debates acerca dos temas mais preponderantes na vida
em sociedade. Em um palco tão esclarecido, cujos cidadãos gozavam da arte do bem falar, a linguagem
ganharia também um espaço especial nos temas �losó�cos da época.
Platão (427-347 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.), destacadamente, com suas obras fundadoras em todos os
sentidos, serão especialmente trazidos como referências teóricas em nossa primeira aula. O diálogo Crátilo, de
Platão, e as obras Da interpretação e Arte poética, de Aristóteles, serão os fundamentos de um paradigma de
língua como representação do mundo externo, nomeando e classi�cando os seres e as coisas.
Veremos que as discussões sobre linguagem aqui presentes serviram de baliza teórica, por muitos e muitos
séculos, no âmbito da �loso�a da linguagem, para posteriores estudos teológicos, �losó�cos e linguísticos,
inclusive servindo de ponto de partida para as concepções gramaticais que possuímos hoje. Os gregos
deixaram um legado indelével, e é sobre ele que vamos falar hoje.
Objetivos
Identi�car nos pensamentos de Platão e Aristóteles o paradigma representacionista  de linguagem a partir
da relação com os modelos de estudos da linguagem nos dias de hoje;
Analisar em suas abordagens �losó�cas o procedimento de nomeação das coisas e a origem do ponto de
vista naturalista de linguagem, contrário ao procedimento convencional;
De�nir o conceito de metáfora fundado nos escritos de Aristóteles, originário da transferência de um
signi�cado próprio de um objeto para outro (�gurado).
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
Hermenêutica Bíblica
Meu �lho, não se esqueça da minha lei, mas guarde no coração os meus mandamentos, pois eles
prolongarão a sua vida por muitos anos e darão a você prosperidade e paz.
(Provérbios 3,1-2)
 (Fonte: Shutterstock)
Para início de re�exão, que tal se perguntar sobre a
etimologia da palavra “hermenêutica” e o signi�cado
desse conceito? Já ouviu falar do deus grego Hermes?
Essa palavra vem do nome dele. Apresentado como
um dos deuses olímpicos pela mitologia grega,
Hermes é conhecido por ser mais rápido que os
ventos, tornando-se, assim, o deus mensageiro dos
deuses .1
(Fonte: Wikipedia)
Saiba mais
Assista a um desenho animado sobre Hermes.
Nos primórdios do Catolicismo, os sacerdotes tinham uma função parecida com a do deus Hermes. A Mensagem
Divina, ou seja, a vontade de Deus, era conhecida pela transmissão deles. Cabia somente aos sacerdotes esse papel,
já que eles eram reconhecidos como representantes de Deus na terra.
No decorrer da história da Igreja (e com o desenvolvimento da hermenêutica), surgiu a necessidade de serem
criados outros critérios para interpretar os textos sagrados e tentar compreender o verdadeiro signi�cado deles.
“Antes de mais nada, saibam que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois jamais a
profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus impelidos pelo Espírito Santo.” (2
Pedro 1:20-21)
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
De�nições de Hermenêutica
Vejamos agora as possíveis de�nições da palavra “hermenêutica”:
 
http://estacio.webaula.com.br/cursos/go0123/aula1.html
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javascript:void(0);
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
Arte de interpretar os livros sagrados e os textos
antigos.

Doutrina ou ciência cujo objetivo se caracteriza na
interpretação ou compreensão dos textos de teor
religioso ou �losó�co: hermenêutica sagrada.

Interpretação ou compreensão do texto, dos sentidos
e/ou da signi�cação das palavras que o compõem.
Vários �lósofos se dedicaram à hermenêutica �losó�ca. Seu objetivo era re�etir sobre a questão da interpretação.
Podemos citar como expoentes de tal prática os �lósofos Schleiermacher, Gadamer, Paul Ricoeur e Martin
Heidegger. Também vale recordar críticos literários que desenvolveram estudos possibilitando interpretar os textos e
o momento em que o autor vivia.
Hermenêutica nas artes
Nas artes, o processo de compreensão não acontece de modo imediato: é necessário fazer um esforço para
entender o texto, assimilar a peça teatral e interpretar uma obra musical. O processo de busca de entendimento dos
textos sempre inquietou a hermenêutica. Ela não tem a pretensão de buscar ou dizer o que é a verdade. “Como todo
discurso tem uma dupla relação, com a totalidade da linguagem e com o pensar geral de seu autor: assim também
toda compreensão consiste em dois momentos, compreender o discurso enquanto extraído da linguagem e
compreendê-lo enquanto fato naquele que pensa” (SCHLEIERMACHER, 2005, p. 95)
As artes humanas também utilizam a hermenêutica para:

Entender um texto

Interpretar uma peça teatral

Executar uma peça musical

Contemplar uma pintura
"A obra de arte não é um objeto que se posta frente ao
sujeito que é por si. Antes, a obra de arte ganha seu
verdadeiro ser ao se tornar uma experiência que transforma
aquele que a experimenta [...] o ‘‘sujeito’’ da experiência da
arte, o que �ca e permanece, não é a subjetividade de quem
a experimenta, mas a própria obra de arte.”
- GADAMER, 1999, p. 155
Re�exão no conceito de hermenêutica bíblica
"A Bíblia é, em primeira linha, uma coletânea de antigos textos sagrados do Judaísmo e do Cristianismo, que
podem perfeitamente ser considerados da perspectiva da ciência da religião ou da história da literatura. Eles
se tornam Escritura quando são lidos e interpretados como textos que apresentam uma demanda atual ao
leitor ou intérprete, que deve receber uma resposta."
(KÖRTNER, 2009, p. 62)
 LEGENDA
Problemas de interpretação da Bíblia
Sobre problemas de interpretação da Bíblia, a Pontifícia Comissão Bíblica da Igreja Católica esclarece:
O problema da interpretação da Bíblia não é uma invenção moderna como algumas
vezes se quer fazer crer. A Bíblia mesma atesta que sua interpretação apresenta
di�culdades. Ao lado de textos límpidos, ela comporta passagens obscuras.
Vejamos algumas questões de interpretação dentro da própria Bíblia:
Clique nos botões para ver as informações.
Lendo certos oráculos de Jeremias, Daniel se interrogava longamente sobre o sentido deles. (Dn 9,2).
Em Daniel 
Segundo os Atos dos Apóstolos, um etíope do primeiro século encontrava-se na mesma situação a propósito
de uma passagem do livro de Isaías (Is 53,7-8) e reconhecia ter necessidade de um intérprete. (At 8,30-35).
Em Atos 
A segunda carta de Pedro declara que “nenhuma profecia da Escritura resulta de uma interpretação particular”
(2 Pd 1,20) e observa, por outro lado, que as cartas do apóstolo Paulo contêm “alguns pontos difíceis de
entender, que os ignorantes e vacilantes torcem, como fazem com as demais Escrituras, para a própria
perdição”. (2 Pd 3,16, 2019).
Em Pedro 
Composição da Epiderme. (Designua / Shutterstock)
Vale recordar que, para o Cristianismo, o Antigo e o Novo Testamento compõem a “Sagrada Escritura”.

Antigo Testamento
Apesar de o Novo Testamento ter lugar central e
essencial na composição da Bíblia, é o Antigo
Testamento que situa a história da revelação de Deus
até a aliança de�nitiva em Jesus.
“Até a minha chegada, dedique-se à leitura pública da
Escritura, à exortação e ao ensino.” (1 Timóteo 4,13).

Novo Testamento
Jesus identi�ca a primeira aliança que Deus fez com
seu povo.
"Vós sereis o meu povo, e Eu serei o vosso Deus.” (Lv
26,12; Jr 7,23; Ez 37,27).
Período intertestamentário
Calcula-se em 100 anos o período de transição entre os dois testamentos bíblicos.
O período temporal traduz um tempo histórico e literário entre o Antigo e o Novo Testamento. Esse cálculo se baseia
em duas datas:
50 a.C.: Livro da sabedoria (últimoescrito do Antigo Testamento);
50 d.C.: Primeira epístola aos tessalonicenses (primeiro escrito do Novo Testamento).
Essa lacuna é conhecida como período intertestamentário: “O termo intertestamento gera um espaço esquecido. Ele
situa a Bíblia cristã em suas raízes: raízes históricas, relativas às condições que a produziram; raízes teóricas,
relativas à estrutura original na qual ela se apoia”. (PAUL, 1981, p. 7).
O período de transição entre os dois testamentos não esteve, no entanto,
vazia de ensinamento. Ele teve um único testamento: a Torá.
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[...] a história bíblica é a Bíblia acabada vivendo na
história e, por isso, sempre começando nela.
Intertestamento signi�ca as condições de tal começo:
primeiro começo, o das origens, que foi também
último, porque houve bíblias antes da Bíblia; e último
começo, o de toda a leitura possível, o qual também foi
um primeiro começo, porque haverá bíblias depois da
Bíblia.
Intertestamento signi�ca, em resumo, uma
disponibilidade fundamental para a vida na medida em
que ela é história; em outras palavras, na medida em
que ela se a�rma como um lugar notável de relações,
de circulações e de transformações que permitem
viver. (ibid., p. 7)
 Rolo da Torá, a primeira parte da Bíblia hebraica e parte do cânone bíblico
de todas as denominações cristãs. (Fonte: Wikimedia)
Paul (1981) elucida essa questão:
Durante os dois séculos que precederam a vinda de Jesus, surgiram, desenvolveram-se e – por vezes – entraram
violentamente em choque numerosas interpretações do projeto bíblico fundadas em sua postura diante da lei. Essas
interpretações deram origem a vários grupos no seio da comunidade judaica na Terra Santa, que ainda não era
chamada de Palestina. Entre eles, destacavam-se seis:
1. Saduceus;
2. Fariseus;
3. Zelotes;
4. Sicários;
5. Essênios;
6. Qumranitas.
Não há uma forma simples de explicar a formação do cânone neotestamentário.
Mesmo que as heresias tenham levado os cristãos a selecionar os livros canônicos, elas não foram a única força
motivadora.
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 O mapa de 1759 intitulado The Holy Land ou Palestine. Fonte: Domínio
Público. (Fonte: Wikimedia
Mediante a perseguição, os cristãos tinham a
necessidade de saber por quais livros estariam
morrendo, quais deveriam ser postos à disposição das
autoridades imperiais, e, além disso, era da maior
importância de�nir com clareza quais documentos
poderiam ser usados nas igrejas e para a edi�cação
pessoal – esse desejo se intensi�cou quando os
apóstolos começaram a morrer. (BRUCE, 2010, p. 36).
A hermenêutica bíblica é o primeiro movimento que se
caracteriza como processo hermenêutico. Ela é
de�nida como ciência e arte de interpretação da Bíblia.
Pertencente ao eixo de formação fundamental da
Teologia, a hermenêutica bíblica é essencial para uma
interpretação válida da Livro Sagrado
Bíblia de Gutenberg (1455). O primeiro livro impresso no Ocidente. (Fonte:
Wikimedia.)
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Considera-se a hermenêutica como ciência porque ela tem
normas ou regras, e essas podem ser classi�cadas num
sistema ordenado. É considerada como arte porque a
comunicação é �exível, portanto uma aplicação mecânica e
rígida das regras às vezes distorcerá o verdadeiro sentido de
uma comunicação. Exige-se do bom intérprete que ele
aprenda as regras da hermenêutica, bem como a arte de
aplicá-las.”
- VIRKLER, 1987, p. 9
De forma geral, a hermenêutica teve e tem um papel muito importante na compreensão da linguagem. Várias áreas
do conhecimento necessitam – assim como o estudo da Sagrada Escritura – dela.
"[...] precisamos da hermenêutica não exatamente pelo fato de a Bíblia ser um livro divino, mas porque, além
de ser divino, é um livro humano. Estranho como possa soar aos ouvidos, essa maneira de olhar nosso
problema pode nos colocar no caminho correto. A linguagem humana, por sua própria natureza, é
grandemente equívoca, isto é, capaz de ser compreendida em mais de uma forma. Não fosse assim, nunca
duvidaríamos do que as pessoas querem dizer quando falam; se proposições pudessem signi�car somente
uma coisa, di�cilmente ouviríamos debates sobre se Johnny disse isso ou aquilo. Na prática, é claro, o
número de palavras ou sentenças que geram mal-entendidos constitui uma proporção muito pequena do
total de proposições emitidas por um determinado indivíduo em um determinado dia. O que precisamos
reconhecer, porém, é que o potencial para uma má interpretação está sempre presente. Em outras palavras,
precisamos da hermenêutica para textos além da Bíblia. Na verdade, nós precisamos de princípios de
interpretação para entender conversação.” (KAISER, 2003, p. 52)
 (Fonte: Shutterstock)
Martinho Lutero
A in�uência das correntes protestantes e o
racionalismo propiciaram a criação de uma
hermenêutica bíblica enquanto ideia de ciência e
método. Reformador, Martinho Lutero defendeu e
reproduziu a ideia de que um texto bíblico deveria ser
entendido em conjunto com o todo da Bíblia – e não
dentro de um contexto especí�co.
O ponto de vista de Lutero é mais ou menos o
seguinte: a Sagrada Escritura é sui ipsus interpres. Não
se tem a necessidade da tradição para lograr uma
compreensão adequada dela nem tampouco de uma
técnica interpretativa ao estilo da antiga doutrina do
quádruplo sentido da Escritura, já que sua literalidade
possui um sentido unívoco, que deve ser intermediado
por ela própria, o sensus literalis. (GADAMER, 1999, p.
275
Para Lutero, a única verdade está nas Escrituras, pois a
Escritura é sua própria intérprete (em latim, sui ipsus
interpres). O seu texto deve ser lido como “literal”. Não
há interpretação fora dele que possa fazer sentido.
Sobre a questão da sola scriptura, vejamos este trecho
do Antigo Testamento: “Não deixe de falar as palavras
deste Livro da Lei e de meditar nelas de dia e de noite,
para que você cumpra �elmente tudo o que nele está
escrito. Só então os seus caminhos prosperarão e
você será bem-sucedido”. (Josué 1,8)
Lutero. (Fonte: Wikipedia)
Já este excerto do Novo Testamento assim postula:
Apocalipse 22, 8-19
Declaro a todos os que ouvem as palavras da profecia deste livro: se alguém lhe acrescentar algo, Deus lhe
acrescentará as pragas descritas neste livro.
Se alguém tirar alguma palavra deste livro de profecia, Deus tirará dele a sua parte na árvore da vida e na
cidade santa, que são descritas neste livro.
 (Fonte: Shutterstock)
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Martinho Lutero quis romper com o monopólio da
Igreja Católica, que somente reconhecia como válida a
interpretação advinda dos seus representantes.
Defendeu a ideia de que todos os �éis tinham o direito
e a liberdade de examinar e interpretar as Escrituras.
Os protestantes se valeram dessa metodologia para
melhor combaterem o Catolicismo, apegando-se, para
isso, ao sentido literal das Escrituras, alegando retomar,
assim, o signi�cado original dos ensinamentos de
Jesus, deformado pelo clero romano e pela escola
�losó�ca conhecida como Escolástica. (PALMER,
1969).
O pensamento da Igreja Católica acerca da Sagrada Escritura foi rati�cado em Dei verbum, encíclica do Concílio
Vaticano II elaborada em 1965:
A Sagrada Escritura é a palavra de Deus enquanto [ela] foi escrita por inspiração  do Espírito Santo; a sagrada
tradição, por sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos apóstolos a palavra de Deus con�ada por Cristo
Senhor e pelo Espírito Santo aos apóstolos, para que eles, com a luz do espírito de verdade, a conservem, a
exponham e a difundam �elmente na sua pregação; donde resulta assim que a Igreja não tira só da Sagrada Escritura
a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas. Por isso, ambas devem ser recebidas e veneradas com igual
espírito de piedade e reverência (6).
[...] A sagrada tradição e a Sagrada Escritura constituem um só depósito sagrado da palavra de Deus con�ado à
Igreja; aderindo a este, todo o Povo santo persevera unido aos seus pastores na doutrina dos apóstolos e na
comunhão, na fração do pão e na oração (cfr. Act.2,42 gr.)
[...] Porém, o encargo de interpretar autenticamente a palavra de Deus escrita ou contida na tradição (8) foi con�ado
só ao magistério vivo da Igreja (9), cuja autoridade é exercida em nome de Jesus Cristo.
[...] É claro, portanto, que a sagrada tradição, a Sagrada Escritura e o magistério da Igreja, segundo o sapientíssimo
desígnio de Deus, de tal maneira se unem e se associam que um sem os outros não se mantém, e todos juntos,
cada um a seu modo, sob a ação do mesmo Espírito Santo, contribuem e�cazmente para a salvação das almas.
(SANTA SÉ, 1965)
2
Ao longo da história, o Cristianismo foi marcado por heresias, mas o século II foi
notadamente um período de intensas correntes heréticas.
http://estacio.webaula.com.br/cursos/go0123/aula1.html
Os padres (ou pais) da Igreja, como �caram
conhecidos os padres apostólicos e apologistas,
foram determinantes para o estabelecimento das
verdades. As heresias impulsionaram o surgimento de
muitas respostas e de�nições dos dogmas de fé, o
que também levantava questões referentes à Bíblia.
Esses padres apologistas e apostólicos tiveram a
grande e essencial missão de serem os “guardiões da
fé”. Eles também são reconhecidos como “os melhores
intérpretes da Sagrada Escritura”.
Esses padres fazem parte das duas primeiras
gerações cristãs. Em seus escritos, os apologistas
defendiam os cristãos perseguidos dos ataques
sofridos. Foi deles que nasceu o movimento da
�loso�a cristã, para a qual serviram de exemplar
fundamento.
Esse movimento foi chamado de patrística (século I ao
século VII). Segundo Isidro Lamlas, os padres
apostólicos eram “elo [...] e continuidade entre os
apóstolos e ‘aqueles que viram e ouviram’ o Senhor e
as gerações posteriores. Ou, dito de outro modo, são
as testemunhas autorizadas da transição entre o
período da Revelação e a idade da tradição”. (LAMLAS,
1965, p.12).
 O evangelista Mateus inspirado por um anjo (1661), pintura de Rembrandt.
(Fonte: Wikimedia)
Vídeo
Para saber mais o que é patrística, assista ao vídeo O que é patrística?
De acordo com Palmer (1969, p. 46), a história da hermenêutica bíblica podia traçar-se:
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através da Igreja primitiva;
dos patriarcas;
da interpretação medieval quadruplicada
da Bíblia;
da luta de Lutero contra os sistemas de
interpretação místico, dogmático,
humanístico e outros;
do aparecimento do método histórico-
crítico no século XVIII e do complexo de
forças em atuação durante esse período,
querendo remodelar a interpretação das
Escrituras;
de contributo de Scheleiermacher;
da escola da história das religiões
relativamente à interpretação;
do aparecimento da teologia dialética
dos anos de 1920;
da nova hermenêutica contemporânea.
Hermenêutica e exegese
Situa-se no Iluminismo  a diferenciação entre exegese e hermenêutica.3

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http://estacio.webaula.com.br/cursos/go0123/aula1.html
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
O deísmo postula que a única fonte capaz de assegurar a existência de Deus é a razão.
A partir dessa dicotomia, Voltaire, o grande ateu, criaria
uma religião na qual pregava que Deus arquitetou todas
as coisas, mas se retirou em seguida, deixando o
homem como o senhor da criação. Nasce o ateísmo.
Não há necessidade de Deus. Basta o homem.
A razão é exaltada como único e essencial canal de
estabelecimento da verdade.
A legitimidade cientí�ca racional tem o
“antropocentrismo” como bandeira.
No homem, pelo homem, com o homem e somente
nele está a possibilidade de progresso. Progresso que
aconteceria pela valorização exclusiva da razão.
Voltaire. (Fonte: Wikipedia)
Comentário
O �lósofo francês Voltaire (1694-1778) foi um deísta. Acreditava que, para chegar a Deus, não era preciso ir à igreja,
mas sim usar a razão.
Na encíclica Dei Verbum, o Papa Paulo VI alertou sobre as consequências ideológicas do pensamento ateísta
naqueles que forem responsáveis pelas políticas públicas:
Não se deve passar em silêncio, entre as formas atuais de ateísmo, aquela que espera a libertação do homem,
sobretudo da sua libertação econômica. A esta, dizem, opõe-se por sua natureza a religião, na medida em que,
dando ao homem a esperança duma enganosa vida futura, o afasta da construção da cidade terrena. Por isso, os
que professam essa doutrina, quando alcançam o poder, atacam violentamente a religião, difundindo o ateísmo
também por aqueles meios de pressão de que dispõe o poder público, sobretudo na educação da juventude.
(SANTA SÉ, 1965).
Sobre a relação entre hermenêutica e exegese bíblica, é importante ressaltar que a interpretação da mensagem da
Bíblia não está fundamentada na vontade humana, e sim na de Deus. Por isso, ela exige estudo, re�exão, pesquisa
e análise.
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O relato bíblico não pode ser maculado em sua originalidade. “A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes
termos: vai e grita isto aos ouvidos de Jerusalém.” (Jr 2,2).
 (Fonte: Shutterstock)
Saiba mais
Saiba mais sobre a diferença entre exegese e hermenêutica.
A hermenêutica bíblica tem tanto uma relação quanto uma sintonia estreita, indispensável e essencial com a
exegese da Bíblia . Conforme explica Esdras Costa Bentho, as disciplinas teológicas possuem uma rede de
interação e encadeamento entre si:
4
“A Teologia pode ser comparada a um edifício de cinco
andares, cada um desses com suas respectivas salas e
funções. Estas, por sua vez, dependem uma das outras numa
correspondência recíproca, formando todas o mesmo edifício.
De modo análogo a um edifício de cinco andares, a Teologia,
em sentido restrito, pode ser agrupada e classi�cada em
cinco formas usuais. Assim, na medida em que se conhece
uma disciplina teológica, esta obsequiará a compreensão da
disciplina seguinte."
- BENTHO, 2003
Esta é a ferramenta de trabalho da hermenêutica. Ensina a Bíblia:
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http://estacio.webaula.com.br/cursos/go0123/aula1.html
Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam
em seu coração. Ensine-as com persistência a seus
�lhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em
casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se
deitar e quando se levantar. Amarre-as como um sinal
nos braços e prenda-as na testa. Escreva-as nos
batentes das portas de sua casa e em seus
portões. (Dt 6,6-9)
Atenção
A exegese cuida para que não aconteça uma eisegese: a interpretação de um texto cujo leitor lhe atribua as próprias
ideias. É a prática de inserir no texto bíblico o que não faz parte dele. Assim, ele passa dizer o que ele não diz. É
como ocorre com as atuais fake news (notícias falsas, em português).
Atividade
1 - Considera-se a hermenêutica como ciência porque ela tem normas ou regras, e elas podem ser classi�cadas em
um sistema ordenado. É considerada como arte porque a comunicação é �exível; portanto, uma aplicação mecânica
e rígida das regras às vezes distorcerá o verdadeiro sentido de uma comunicação. A tarefa da hermenêutica bíblica,
de�nida como ciência e arte de interpretação da Bíblia, é manter:
a) Originalidade do texto, interpretando-o sem alterar o sentido original.
b) Múltiplas e variadas versões para o mesmo texto bíblico.
c) Aplicação do texto bíblico à realidade, refutando seu sentido original.
d) Motivar a interpretação do texto bíblico sem o rigor do contexto histórico.
e) Vontade humana como principal elemento na interpretação do texto bíblico.
2 - A hermenêutica, de uma forma geral, teve e tem um papel muito importante na compreensão da linguagem.
Várias áreas do conhecimento necessitam dela. A hermenêutica bíblica pertence ao eixo de formação fundamental
da:
a) Teologia
b) Filosofia
c) Psicologia
d) Filologia
e) Antropologia
Notas
Deus mensageiro dos deuses1
Filho de Zeus (o deus dos deuses) e Maia – além de irmão de Apolo -, Hermes interpretava e transmitia aos mortais
as comunicações divinas. Por sua sagacidade, capacidade de oratória, eloquência nos discursos e habilidades
linguísticas, foi-lhe atribuído o título de patrono de oradores, arautos,embaixadores e diplomatas – mas também dos
ladrões.
Inspiração2
A palavra "inspiração" vem do termo latino inspiratio e do verbo inspirare. Inspirare é composto pelo pre�xo in (em
português, "em") e o verbo spirare (soprar). Inspirare signi�ca "soprar em" ou "insu�ar". Já no tempo clássico do
Império Romano, inspirare recebeu a conotação de "respirar profundamente" e o sentido �gurativo de "insinuar algo
no coração de alguém". Fonte: (LEXICON, 2003)
Iluminismo3
A implantação do Iluminismo, no século XVII, buscou estabelecer a “época sem Cristianismo”, deixando
consequências complexas para a sua história a partir de então. Houve uma grande perseguição à tradição religiosa.
A Teologia, a Igreja e o Cristianismo, de uma forma geral, foram atacados. Filósofos, teólogos e cientistas católicos
ou protestantes eram ignorados – em muitos casos, até banidos. Suas grandes contribuições eram reduzidas ao
máximo. Uma das graves consequências disso foi a ruptura entre razão e fé. Onde antes havia unidade, o Iluminismo
viria fragmentar e separar em dois polos: razão e emoção (deísmo).
Exegese da bíblia4
Exegese bíblica é aquilo que o autor quis transmitir originalmente. Seu objetivo é fazer comentários e interpretações
minuciosas dos textos bíblicos ou de uma palavra, extraindo a vontade divina. São analisados:
• Versículo;
• Frase ou palavra;
• Contexto;
• Aspecto literário.
 
Referências
_______. A diferença entre exegese e hermenêutica. In: Pensando as Escrituras. 24 jan. 2017. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=GZRXnN_5gHk. Acesso em: 10 abr. 2019.
_______. A história do rei Hermes - o amor como o vento. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?
v=Vn2mWs9EgrQ. Acesso em: 10 abr. 2019.
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Próxima aula
Relação entre sujeito e texto;
Processo da prática hermenêutica;
Relação entre hermenêutica e retórica.
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História da Bíblia;
A hermenêutica e a exegese bíblica como aliadas da educação cristã;
Breve percurso histórico da hermenêutica bíblica.
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