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Desenvolvimento Cognitivo: abordagem de Piaget Dada a complexidade do estudo do desenvolvimento cognitivo do ser humano, este apresenta diferentes abordagens de inúmeros autores. Uma das principais abordagens do estudo do desenvolvimento cognitivo deve-se à teoria de Jean Piaget e ao seu interesse pelos processos mentais internos. · Segundo Piaget, o desenvolvimento cognitivo está organizado em quatro estádios de desenvolvimento distintos. · Em cada estádio, a criança desenvolve uma nova forma de operar, de pensar, de compreender e responder ao meio ambiente que a rodeia. · Um estádio é qualitativamente diferente do estádio anterior, pelo que representa um sistema de organização novo e mais compreensivo. · A idade em que cada criança atinge cada estádio varia, embora Piaget tenha apresentado idades médias para se passar de um estádio para o outro. Segundo Piaget, os quatro estádios do desenvolvimento intelectual são: · Estádio sensório-motor (do nascimento aos 2 anos) · Estádio pré-operacional (dos 2 anos aos 7 anos) · Estádio das operações concretas (dos 7 aos 12 anos) · Estádio das operações formais (a partir dos 12 anos) Destes quatro estádios, é fundamental caracterizar o primeiro que, de um modo geral, ocorre desde o nascimento até aos 24 meses de vida: o estádio sensório-motor. Estádio Sensório-Motor, na perspetiva de Piaget (do nascimento aos 2 anos) Na teoria de Piaget, o estádio sensório-motor é o primeiro estádio de desenvolvimento cognitivo, durante o qual os bebés (desde o nascimento até aproximadamente os 24 meses de idade) aprendem sobre si mesmos e sobre o seu ambiente, e desenvolvem ainda as suas competências, essencialmente, através da atividade sensorial (o bebé capta todas as informações que recebe através dos sentidos) e motora (o bebé exprime-se através de movimentos). Para compreender de forma completa este estádio, é necessário ter em conta quatro conceitos fundamentais, presentes na teoria de Piaget: · os subestádios; · as reações circulares; · a representação simbólica; · e a permanência do objeto. Segundo Piaget, o estádio sensório-motor é composto por seis subestádios que avançam de um para o outro à medida que os esquemas do bebé, isto é, os seus padrões organizados de comportamento, se tornam mais complexos. Por outras palavras, isto significa que o bebé vai construindo progressivamente novos meios que lhe permitem explorar o ambiente, agindo sobre ele. Deste modo, é através dos esquemas sensório-motores que se processa a adaptação ao meio. O esquema a baixo representa os 6 subestádios que integram o estádio de desenvolvimento sensório-motor, segundo a abordagem piagetiana: Subestádio 1 (nascimento até ao 1.º mês) Uso de Reflexos Subestádio 6 (18.º ao 24 .º mês) Subestádio 5 (12.º ao 18.º mês) Reações circulares terciárias Os 6 Subestádios do Estádio de Desenvolvimento Sensório-Motor Subestádio 2 (1.º ao 4.º mês) Reações circulares primárias Subestádio 4 (8.º ao 12.º mês) Coordenação dos esquemas secundários Subestádio 3 (4.º ao 8.º mês) Reações circulares secundárias Subestádio 1 No primeiro subestádio, os recém-nascidos, mais ou menos até ao primeiro mês de vida, aprendem a exercitar os seus reflexos inatos e começam a ganhar um determinado controlo sobre os mesmos. Nesta fase, estes apresentam um determinado comportamento mesmo quando o estímulo que normalmente o provoca está ausente. Deste modo, os recém-nascidos ainda não são capazes de coordenar informações dos sentidos. Subestádio 2 O desenvolvimento cognitivo inicial, visível neste subestádio, decorre geralmente de reações circulares primárias. Na terminologia de Piaget, as reações circulares são processos pelos quais um dado bebé aprende a reproduzir determinados eventos agradáveis, descobertos ocasionalmente. Para além disso, este começa a demonstrar capacidade em coordenar algumas informações sensoriais, como a visão e a audição. Por exemplo, um bebé ao colocar acidentalmente a chupeta na boca, vai obter uma sensação agradável, pelo que o mesmo comportamento tende a ser repetido e aprendido. Subestádio 3 Neste subestádio, no qual estão presentes as reações circulares secundárias, o bebé começa a manifestar interesse pelo meio ambiente que o rodeia, particularmente o interesse em manipular objetos e aprender sobre as suas características. Trata-se de ações repetidas e intencionais. Subestádio 4 Este subestádio, que corresponde à coordenação dos esquemas secundários, marca o início do comportamento intencional do bebé. Nesta altura, o bebé começa a aprender a generalizar experiências e/ou comportamentos passados com a finalidade de resolver os seus problemas e atingir os seus objetivos. Por exemplo, o bebé começa a perceber que para alcançar um determinado objeto tem de engatinhar até ele. Subestádio 5 No quinto estádio (reações circulares terciárias), os bebés começam a demonstrar curiosidade em experimentar novos comportamentos e atividades para ver o que acontece. A partir do momento em que começam a andar, os bebés já conseguem explorar mais facilmente o meio. Começam, assim, a demonstrar alguma originalidade na resolução de problemas. Utilizam o método de tentativa e erro para alcançar um certo objetivo. Subestádio 6 No último estádio, que termina geralmente nos 24 meses, ocorre uma transição para o estádio de desenvolvimento pré-operacional (dos 2 aos 7 anos). Nesta fase, a criança começa a demonstrar compreensão e desenvolve a capacidade representacional, ou seja, começa a conseguir representar mentalmente objetos e ações, principalmente através de um pensamento simbólico, como gestos, palavras e números. Para além disto, apresentam uma imitação diferida, isto é, a capacidade em imitar ações ou palavras já executadas anteriormente. Surge, também, o “faz de conta”, onde a criança tem a capacidade de reproduzir algo, quando na verdade não está. Por exemplo, uma criança é capaz de fazer de conta que está a cozinhar verdadeiramente para os outros, utilizando objetos de brincar. Permanência do objeto na teoria de Piaget O conceito de objeto é a base para que as crianças tenham consciência de que elas mesmas existem separadamente dos objetos e das outras pessoas. O conceito de objeto apresenta um aspeto fundamental na perspetiva do desenvolvimento cognitivo defendido por Piaget: a permanência do objeto. Esta corresponde à compreensão de que um objeto ou uma pessoa continua a existir mesmo quando se encontra ausente. A permanência do objeto desenvolve-se gradualmente ao longo do estádio sensório-motor. Quando a permanência do objeto está plenamente estabelecida por volta dos 18 aos 24 meses, esta transmite ao bebé um sentimento de segurança mesmo com a ausência dos pais, pois sabe que os mesmos continuam a existir e voltarão. Pode-se, por isso, considerar que o bebé já consegue ter uma representação mental tanto de pessoas como objetos. Começa-se, ainda, a estabelecer um vínculo entre o bebé e os seus cuidadores mais próximos. Piaget, na sua teoria, aborda ainda o erro A, não-B. Este erro, notado pelo autor, diz respeito à tendência de um bebé de oito a doze meses de idade procurar um objeto onde o encontraram anteriormente, em vez de no lugar onde eles mais recentemente o viram ser escondido.
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