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1. O CRÉDITO E A CIRCULAÇÃO DOS DIREITOS DE CRÉDITO
O crédito, ou seja, a confiança que uma pessoa inspira a outra de cumprir, no futuro, obrigação atualmente assumida, veio facilitar grandemente as operações comerciais, marcando um passo avantajado para o desenvolvimento das mesmas.
De fato, no que diz respeito às obrigações de ordem pecuniária, com a utilização do crédito as transações se tornaram mais rápidas e mais amplas, principalmente pela possibilidade de uma pessoa gozar, hoje, de dinheiro cujo pagamento será feito posteriormente (dinheiro presente por dinheiro futuro). Isso, melhor explicado, significa que, com a utilização do crédito, pode alguém, hoje, ser suprido de determinada importância, empregá-la no seu interesse, fazê-la produzir em proveito próprio desde que tenha assumido a obrigação de, em época futura, retornar a quem lhe forneceu a importância de que se utilizou. Inegavelmente, nas atividades comerciais, em que o capital é sempre necessário para que os comerciantes possam realizar operações lucrativas com maior amplitude, a utilização do crédito veio aumentar consideravelmente essas transações, trazendo benefícios para o comércio e maiores possibilidades de desenvolvimento do mesmo. Até no que diz respeito a operações não comerciais, o crédito, de modo indiscutível, serve para facilitá-las, dando maiores oportunidades aos que, em certas ocasiões, não dispõem de recursos pecuniários suficientes para as suas necessidades presentes, muito embora possam contar com os mesmos em época futura.
Surgiu, assim, o crédito como elemento novo a facilitar a vida dos indivíduos e, consequentemente, o progresso dos povos. Mas, desde o início foi evidenciado um problema relativo à circulação dos direitos creditórios, problema que, de fato, só veio a ser solucionado com o aparecimento dos títulos de crédito.
2. CONCEITO DE TÍTULO DE CRÉDITO: “Título de Crédito é o documento necessário para o exercício do direito, literal e autônomo, nele mencionado.”
2.1. Títulos escriturais
Reza o dispositivo do art. 889, § 3°: “O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente, observados os requisitos mínimos previstos neste artigo”.
Os títulos escriturais são títulos que não têm cártula, nascem e atuam por via de computador, por e-mail, por internet. Eles não contêm assinatura usual, embora, para alguns, haja assinatura digital, representada por uma transformação criptográfica, conjunto de dados do título consubstanciado na memória do sistema eletrônico. Nada impede, contudo, os sistemas eletrônicos permitam a remessa de mensagens por meio de proposta e aceitação pela troca de dados eletrônicos e celebração de outros contratos.
2.2. Espécies de títulos escriturais
Entre alguns exemplos podemos citar as ações escriturais, a duplicata virtual, na qual o vendedor saca a duplicata e a envia ao banco por meio magnético, realizando a operação de desconto, ao creditar o valor correspondente ao sacado, expedindo em seguida guia de compensação bancária que, por correio, é enviada ao devedor da duplicata virtual para que o sacado, de posse do boleto, proceda ao pagamento em agência bancária.
A duplicata pode ser protestada de forma virtual, no vencimento, ao receber, por meio magnético, os dados pertinentes à duplicata virtual, o Cartório efetuará o competente protesto. O protesto é regulado pela Lei nº 9.492 de 1997, art. 8°, parágrafo único. Nada impede, contudo, que o credor promova a execução por título extrajudicial da duplicata virtual.
Lei nº 9.800, de 1999
Através da Lei nº 9.800, de 1999, em processo judicial, podem a parte, o representante do ministério público, o assistente, o litisconsorte apresentar ao juiz suas petições e documentos pela via de fac-símile (fax).
Entendemos ser viável a extensão ao e-mail, ao correio eletrônico ou à internet a aplicação da citada Lei nº 9.800/99, desde que o juiz possua elementos necessários à transmissão devidamente autorizados.
Qualquer documento pode ser transmitido, exceto os atos judiciais relativos à oralidade, pela necessidade da presença do juiz, prática caída em desuso pela aplicação da vídeo-conferência. Aliás, os próprios Tribunais Superiores já vêm utilizando o sistema eletrônico em quase todos os seus atos judiciais.
Problema de transferência do título escritural
Usa-se um meio ágil para transferir um título e adota-se procedimento fundado em simples ordens a serem lançadas em um sistema eletrônico de registro e transferência. Já o endosso do título escritural envolve dificuldade por falta de cártula comum, porém, utiliza-se a carta eletrônica representada por um conjunto de dados do título consubstanciado na memória do registro magnético de um sistema de computação.
Assinatura digital
A assinatura nos contratos eletrônicos realiza-se através de código ou por senha. Os contratos eletrônicos fazem-se por meio de mensagens eletrônicas. Aceita a proposta, o contrato prossegue pela troca de dados eletrônicos e o pagamento pelo mesmo sistema eletrônico. A denominada assinatura digital não é uma assinatura comum, pelo fato de haver uma transformação criptográfica de comunicação criada por um computador, sendo que a mensagem criptográfica contém duas chaves: a chave pública de algarismos e a chave particular do emitente.
3. CARACTERÍSTICAS DO TÍTULO DE CRÉDITO COMO INSTRUMENTO PARA A CIRCULAÇÃO DE DIREITOS
É, assim, o título um perfeito instrumento para a circulação dos direitos de crédito, facilitando, grandemente, as atividades econômicas e mobilizando o crédito de modo a possibilitar o seu uso por grande número de pessoas. Isso, entretanto, só foi possível com a admissão de certos princípios a revestirem esses títulos, princípios que se incorporaram à natureza dos mesmos e que, por tal razão, hoje os caracterizam. Esses princípios, indispensáveis para que os títulos promovam a circulação dos direitos de crédito, são:
3.1. Literalidade
Já acima mencionamos em que consiste a literalidade, ou seja, o fato de valer nos títulos apenas o que neles está escrito. Sendo o título de crédito um documento necessário para o exercício de direitos, é indispensável que em dito documento estejam expressos esses direitos. Mas o princípio da literalidade vai mais além: significa que tudo o que está escrito no título tem valor e, consequentemente, o que nele não está escrito não pode ser alegado. Assim se, por acaso, por mero favor, apenas por vaidade, lanço minha assinatura em um desses títulos, declarando que o pagarei se o obrigado principal não o pagar, não poderei, na época oportuna, escusar-me de fazer esse pagamento porque, ao lançar minha assinatura no documento, essa aderiu ao mesmo e dele não se separará por simples alegações de que o assinei sem a intenção de obrigar-me. Por outro lado, se prometo ao portador de um desses títulos pagá-lo se o obrigado principal não pagar, mas essa minha obrigação não constar do documento, não poderei depois ser compelido judicialmente a efetuar o pagamento se aquele obrigado não cumpriu sua obrigação, pois minha declaração não consta do documento. Literalidade é, assim, o que está escrito no título, limitando os direitos nele incorporados.
3.2. Autonomia
O segundo princípio que caracteriza os títulos de crédito é o da autonomia das obrigações assumidas, capaz de promover, com segurança, a circulação dos direitos emergentes dos títulos. Significa a autonomia o fato de não estar o cumprimento das obrigações assumidas por alguém no título vinculado a outra obrigação qualquer, mesmo ao negócio que deu lugar ao nascimento do título. Isso se justifica porque a obrigação, em princípio, tem a sua origem nos verdadeiros títulos de crédito, em um ato unilateral da vontade de quem se obriga; aquele que assim o faz não subordina sua obrigação a qualquer outra por acaso já existente no título. 
A autonomia das obrigações assumidas é uma das maiores garantias dos títulos de crédito, dando ao portador a segurança do cumprimento dessas obrigações por qualqueruma das pessoas que tenham lançado suas assinaturas nos mesmos. Assim, quanto mais o título circule, recebendo assinaturas, tanto mais segurança terá o portador de que, no momento aprazado, poderá reembolsar-se da importância mencionada no documento, facultando-lhe a lei recebê-la não apenas do obrigado principal mas, na falta desse, de qualquer dos que lançaram as suas assinaturas no título e, assim, assumiram a obrigação de pagá-lo, se a isso forem justamente chamados.
Desse modo, ao falar-se em autonomia deve-se entender que autônomas são as obrigações resultantes do título, o que significa que uma obrigação não fica a depender de outra para ter validade.
3.3. Abstração
Outro princípio característico dos títulos de crédito é a abstração. Significa isso que os direitos decorrentes do título são abstratos, não dependentes do negócio que deu lugar ao nascimento do título. A abstração às vezes tem sido confundida com a autonomia mas, na realidade, são coisas diferentes. Abstratos são os direitos porque independem do negócio que deu origem ao título. Uma vez o título emitido, liberta-se de sua causa, e, assim, a mesma (que tem sido chamada de relação fundamental ou negócio fundamental) não poderá ser alegada futuramente para invalidar as obrigações decorrentes do título, pois esse, uma vez emitido, passa a conter direitos abstratos, não cabendo, de tal modo, a exigência de contraprestação para poder ser satisfeita a obrigação.
A abstração do direito emergente do título significa que esse direito, ao ser formalizado o título, se desprende de sua causa, dela ficando inteiramente separado. Se o título é um documento, portanto concreto, real, o direito que ele encerra é considerado abstrato, tendo validade, assim, independentemente de sua causa.
4. ELEMENTO PREPONDERANTE PARA A EXISTÊNCIA DO TÍTULO DE CRÉDITO: FORMALISMO
Não são apenas os princípios acima enunciados que caracterizam os títulos de crédito. Indispensável se torna que o documento se revista de certas exigências impostas pela lei para que tenha a natureza de título de crédito e assegure ao portador os direitos incorporados no mesmo.
É, assim, o formalismo o fator preponderante para a existência do título e sem ele não terão eficácia os demais princípios próprios dos títulos de crédito. Tanto a autonomia das obrigações como a literalidade e a abstração só poderão ser invocadas se o título estiver legalmente formalizado, donde dizerem as leis que não terão o valor de título de crédito os documentos que não se revestirem das formalidades exigidas por ditas leis.
Cada espécie de título possui, assim, uma forma própria. Isso se obtém através do cumprimento de requisitos, expressamente enumerados na lei. Devem, desse modo, tais requisitos constar obrigatoriamente dos títulos, e do modo preconizado na lei. Porque, assumindo as pessoas, nos títulos de crédito, obrigações mediante o lançamento de suas assinaturas nos documentos, a simples aposição dessas assinaturas no documento pode acarretar diversidade no cumprimento da obrigação assumida. Os requisitos que devem figurar nos títulos são enumerados de acordo com as espécies dos mesmos; em regra, se faltar no documento ao menos um daqueles requisitos considerados essenciais, o escrito não terá o valor de título de crédito, não se beneficiando, assim, do direito especial que ampara esses títulos.
É, assim, o rigor formal o elemento principal para que o documento seja considerado um título de crédito. Na parte do direito creditório relativa às letras de câmbio e notas promissórias chama-se a essa exigência de rigor cambiário. E é graças a esse apego à forma que os títulos de crédito inspiram confiança, atendendo com facilidade aos interesses da coletividade. Ficasse a critério de cada um o preenchimento do texto desses escritos, teríamos com certeza milhares de válvulas abertas à exploração de terceiros e à utilização da má-fé. O formalismo dá a natureza do título, transformando o escrito de um simples documento de crédito em um título que se abstrai de sua causa, que vale por si mesmo, é per se stante. E isso traz segurança para todos quantos se utilizam desse importante instrumento de mobilização do crédito.
5. INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES
Decorrência do princípio da autonomia das obrigações cambiárias (cada obrigação é autônoma e independente, não ficando sua validade subordinada a uma outra obrigação – donde se concluir que cada obrigado se obriga não apenas com a pessoa a quem transfere o título mas com o portador do mesmo, seja ele quem for), surgiu a regra chamada da inoponibilidade das exceções. Por essa regra, consagrada no art. 17 da Lei Uniforme, o obrigado em uma letra não pode recusar o pagamento ao portador alegando suas relações pessoais com o sacador ou outros obrigados anteriores do título (por exemplo, não pode o obrigado recusar o pagamento alegando que é credor do sacador). Tais exceções ou defesas são inoponíveis ao portador, que fica, sempre, assegurado quanto ao cumprimento da obrigação pelo obrigado.
Certamente, há exceções oponíveis: assim, havendo defeito de forma do título (faltando, por exemplo, um requisito essencial), pode o obrigado escusar-se do pagamento ao portador porque não foi observado o rigor cambiário. Mas essa não é uma exceção baseada nas relações pessoais do devedor com os obrigados anteriores, em que se baseia o princípio da inoponibilidade. O fundamento desta é que, num título de crédito, as obrigações são independentes umas das outras e por tal razão o devedor não se pode escusar de cumprir a obrigação assumida alegando ao portador suas relações com qualquer obrigado anterior. Naturalmente, se há relações pessoais entre o portador e o devedor, este pode alegá-las, opondo-se ao pagamento.
Apenas uma exceção comporta a regra: quando há má-fé, por parte do portador, ao adquirir o título, com a finalidade de prejudicar o devedor. Daí dizer a lei que a regra vigora “a menos que o portador, ao adquirir a letra, tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor” (art. 17). Note-se que, nesse caso, para ser oponível a exceção, é necessário que o portador do título, ao adquiri-lo, tenha agido de má-fé, com a finalidade de prejudicar o devedor. Assim, se o portador sabia que ao seu antecessor seriam oponíveis exceções pessoais pelo devedor, e com a finalidade de prejudicar a este recebeu o título, o devedor pode opor as exceções que teria contra o portador anterior, demonstrado que seja que a aquisição do título teve por finalidade prejudicar o devedor.
A má-fé do portador é caracterizada pelo fato de haver ele agido “conscientemente” em prejuízo do devedor; desse modo, o simples conhecimento da exceção por parte do portador não é suficiente para demonstrar sua má-fé. É esse o princípio dominante na doutrina.
6. CIRCULAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO
O grande valor dos títulos de crédito é fazer com que facilmente circulem os direitos neles incorporados. Naturalmente, não seria o crédito mobilizado se o título não pudesse passar de mãos em mãos, antes de se efetivar a obrigação que ele contém. Havia, sem dúvida, uma utilização do crédito, mas uma utilização apenas estática, não dinâmica. E para esses casos existem instrumentos apropriados, os simples documentos de crédito ou quirógrafos, segundo os quais o credor, e só ele, tem um direito de crédito contra um devedor determinado.
Já nos títulos de crédito, as ordens ou promessas de pagamento não são feitas exclusivamente para benefício de uma pessoa certa, mas de quaisquer outras que, legitimamente, se tornem proprietárias dos títulos. Ainda mesmo quando vem discriminado o nome da pessoa a quem o título beneficiará, poderá essa pessoa transferi-lo facilmente a outra, passando a essa, com a transferência do documento, os direitos no mesmo mencionados. O título, incorporando direitos, faz com que esses fiquem vinculados ao documento. E quem está de posse do documento tem, normalmente, a propriedade dos direitos que ele encerra. Daí a razão de só poderem circular os direitos com o documento; daí, também, o motivoque faz do título de crédito um título de apresentação – quem se declarar sujeito ativo dos direitos deve exibir o documento para gozar desses direitos.
É, assim, o título de crédito destinado, sobretudo, à circulação. E essa se faz de modos diferentes, de acordo com o que vier explicitado no título. As modalidades que tomam esses títulos, quanto à circulação, são as de títulos nominativos, à ordem e ao portador. A circulação é a característica pela qual o título é transferido. Os títulos nominativos transferem-se mediante registro no registro de títulos nominativos. É o caso das ações nominativas cuja transferência se realiza por meio de registro no livro de registro de ações nominativas. Os títulos à ordem transferem-se de forma regular mediante endosso (em preto ou em branco) por formas anômalas, por cessão de direitos, pela venda do título, pelo endosso aposto depois do protesto. Os títulos ao portador circulam mediante tradição.
6.1. Títulos nominativos
Nominativos são os títulos cuja circulação se faz mediante um termo de cessão ou de transferência. Trazem esses títulos, sempre, no contexto, o nome da pessoa indicada como beneficiária da prestação a ser realizada. Algumas vezes, os nomes dos beneficiários dos títulos nominativos devem constar de registro da pessoa que os emitiu, como no caso das ações das sociedades anônimas. O dispositivo do art. 921 conceituou o título nominativo como sendo o emitido em favor de pessoa cujo nome conste no registro do emitente.
A transferência do título nominativo se faz mediante termo, em registro do emitente, assinado pelo proprietário e pelo adquirente (art. 922); a exemplo das ações nominativas nas sociedades anônimas, cuja transferência se faz mediante o registro de transferência de ações nominativas.
6.2. Omissão de requisito legal
O Código Civil de 2002, no seu art. 888, estatui que “a omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a sua validade como título de crédito, não implica a invalidade do negócio jurídico que lhe deu origem.”
Se alguém emite uma nota promissória para pagamento de um mútuo, a nulidade do título não invalida a sua causa, ou seja, o mútuo. Sendo esses títulos quase sempre impróprios, isto é, não caracterizando uma verdadeira operação de crédito, vários autores negam aos mesmos a natureza de títulos de crédito. Muitas vezes os títulos nominativos são confundidos com os títulos à ordem, que são também nominativos pelo fato de trazerem no contexto o nome do beneficiário, mas podem ser transferidos por simples endosso, constante da assinatura do beneficiário no verso ou no anverso do título, com a indicação ou não da pessoa a quem o mesmo é transferido (endosso em preto ou em branco). A circulação dos títulos nominativos, por necessitar de um termo de transferência, é sempre mais difícil que a dos títulos à ordem, operada simplesmente através do endosso.
6.3. Títulos à ordem
Uma segunda modalidade de títulos, quanto ao mecanismo de sua circulação, são os títulos nominativos à ordem. Em tal caso, trazem eles os nomes dos beneficiários e, junta a esses, uma cláusula esclarecendo que o direito à prestação pode ser transferido pelo beneficiário a outra pessoa (“Pague ao sr. F., ou à sua ordem...”).
6.3.1. Título dilacerado
A questão envolve a interpretação do art. 908 do Código Civil, de caráter polêmico, por se tratar de matéria de prova, tanto assim que o título dilacerado pode, por muitos, ser considerado inutilizado, tanto assim que os bancos normalmente não aceitam cheques com rasuras ou rasgões, com erros de data e outras quebras do aspecto formal da cártula.
6.3.2. Caso de destruição parcial
O art. 912 do Código de Processo Civil de 1973 determinava que o portador, exibindo o que restar do título, pedisse a citação do devedor para, em dez dias, substituí-lo ou contestar a ação. O parágrafo único estatuía que, em não havendo contestação, o juiz poderia proferir, desde logo, a sentença que mandava seguir o rito ordinário. 
6.4. Títulos ao portador
Por último, existem títulos de crédito em que não é expressamente mencionado o nome do beneficiário da prestação – são os chamados títulos ao portador. Nessas condições será considerada titular dos direitos incorporados no documento a pessoa que com ele se apresentar. Justifica-se a existência dos títulos ao portador porque as obrigações assumidas pelos que participam dos títulos de crédito em regra não visam apenas uma pessoa determinada, mas a coletividade de pessoas que, futuramente, venham a participar dos mesmos ou as que legitimamente se tornarem seus proprietários e, assim, sujeitos ativos dos direitos neles mencionados. De fato, quando emite um título de crédito, o emitente não se obriga apenas com o beneficiário imediato, pois esses títulos são destinados à circulação. E enquanto circulam, os direitos incorporados no documento vão-se transmitindo, cada legítimo proprietário do título sendo considerado o sujeito ativo desses direitos. De tal forma, ao criar e emitir um título, o sacador não sabe, de fato, a favor de quem está se obrigando, apesar de, em muitos casos, conhecer a primeira pessoa que será beneficiária da prestação, no caso o tomador. Isso quando o título traz, inicialmente, o nome do tomador, ou seja, nos títulos nominativos e à ordem. Mas, pelo mesmo motivo que esses títulos podem ser transferidos pelo tomador a pessoas outras, determinadas ou indeterminadas, passando essas outras pessoas a ser desconhecidas do sacador ou emitente – de igual modo podem alguns deles, mesmo na sua origem, não trazer o nome do beneficiário ou tomador, inserindo-se em seu lugar a declaração ou cláusula ao portador. Em qualquer circunstância o princípio foi mantido: obrigando-se o sacador não para com uma só pessoa mas para com todos quantos venham a ser proprietários do título e, consequentemente, sujeitos ativos dos direitos nele mencionados, o emitente pode passar um título sem que inicialmente seja declarado o nome do beneficiário, do mesmo modo que qualquer dos proprietários posteriores poderá transformar um título de título com proprietário determinado – nominativo à ordem – em título de proprietário indeterminado, isto é, ao portador.
6.5. Títulos não à ordem
A cláusula não à ordem, pela grande alteração que traz na função normal dos títulos de crédito, só é usada em casos limitados e quando a lei o permite. Em certos títulos a lei expressamente determina que eles conterão, subentendida, a cláusula à ordem, para impedir a paralisação de sua circulação. Em algumas circunstâncias, a lei obriga a inserção da cláusula à ordem, como acontece, por exemplo, com a nota promissória que, por disposição legal, não trouxer o nome do título; em tal caso, ela deve conter a indicação expressa de que é sempre à ordem (Convenção de Genebra, Anexo II, art. 19).
7. CATEGORIAS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO
7.1. Títulos de crédito próprios
São chamados títulos de crédito próprios aqueles que encerram uma verdadeira operação de crédito, subordinada a sua existência à confiança que inspiram os que deles participam. São esses os genuínos e mais puros títulos de crédito; neles é preponderante o elemento pessoal, já que é baseada na confiança que merecem os que deles participam que a sua circulação se faz com maior ou menor facilidade.
Exemplos de títulos de crédito próprios são a letra de câmbio e a nota promissória. Ordem e promessa de pagamento, respectivamente, de uma importância certa a uma pessoa determinada ou à sua ordem, a circulação de tais títulos se faz levando-se em conta os que neles se obrigam. É arrimado nessa consideração que o terceiro recebe esses títulos e os transfere a outros, muitas vezes coobrigando-se pelo seu pagamento. São os títulos de crédito próprios os mais perfeitos desses papéis.
7.2. Títulos de crédito impróprios ou cambiariformes
Impróprios são os títulos que não representam uma verdadeira operação de crédito mas que, revestidos de certos requisitos dos títulos de crédito propriamente ditos, circulam com as garantias que caracterizam esses papéis. É o caso, por exemplo,do cheque, ordem de pagamento à vista, em favor do subscritor ou de outra pessoa, que, por ter requisitos dos títulos de crédito propriamente ditos, circula como esses e tem garantias semelhantes ou bastante aproximadas dos títulos de crédito próprios. No entanto, só serão legitimamente emitidos cheques quando os emitentes possuírem provisão, isto é, depósito em mãos do sacado, no caso a instituição financeira contra a qual os cheques são sacados.
Os títulos de crédito impróprios, apesar de não expressarem uma autêntica operação de crédito, são bastante difundidos, com larga aceitação. Isso se deve sobretudo às garantias que os revestem, com a aplicação aos mesmos de vários princípios inerentes aos títulos de crédito próprios, dando ao portador uma relativa segurança quanto aos seus direitos.
Os títulos cambiariformes, além de não representarem substituição de moeda, são aqueles que contém alguns dos requisitos dos títulos de crédito próprio (letra de câmbio e nota promissória).
7.3. Títulos de legitimação
Por muitos incluídos entre os títulos de crédito impróprios, e, assim, não tratados isoladamente mas dentro dessa categoria, os títulos de legitimação são aqueles que dão ao portador não um direito de crédito propriamente dito, mas o de receber uma prestação de coisas ou de serviços. É o caso dos bilhetes de espetáculos públicos, de passagens, conhecimentos de frete ou de depósito e outros que tais, com os quais o portador tem o direito de exigir a prestação de uma coisa ou de um serviço.
Dada a sua grande difusão, os títulos de legitimação merecem fazer parte de uma categoria especial. Não são, de fato, verdadeiros títulos de crédito; mas, já que a prestação a ser feita é futura, absorvem eles certas qualidades dos títulos de crédito, sendo, por isso, amparados por muitos dos princípios desses.
7.4. Títulos de participação
Por último, constituem uma categoria especial dos títulos de crédito aqueles papéis que dão ao portador um direito de participação. É o caso, por exemplo, das ações das sociedades anônimas. O portador de um desses papéis tem o direito assegurado de participar dos interesses sociais, não só na fiscalização como nos resultados financeiros obtidos pelas sociedades. Revestindo-se, em regra, de forma especial, esses documentos tomam a natureza de títulos de crédito, podendo, inclusive, circular mediante endosso (ações endossáveis) ou simples tradição manual (ações ao portador).
Com o desenvolvimento do chamado mercado de capitais, os títulos de participação tiveram grande incremento, sobretudo em virtude de sua fácil negociação nas Bolsas de Valores. Inscrevem-se eles, na realidade, entre os “valores mobiliários”, como as debêntures e as partes beneficiárias.
8. TÍTULOS ABSTRATOS E CAUSAIS
Quanto à natureza dos direitos incorporados nos títulos, são esses em regra classificados em abstratos e causais.
Abstratos são os direitos incorporados no título que não se ligam ou dependem do negócio que deu lugar ao nascimento do mesmo título. Natural é que, para ser criado um título de crédito, haja anteriormente um negócio jurídico, a que no direito creditório se dá também o nome de relação fundamental. Mas, em certas espécies de títulos, esse negócio ou relação fundamental se desprende do documento que, uma vez criado e posto em circulação, passa a valer por si mesmo. Diz-se então que os direitos que o título incorpora são abstratos, não dependendo o seu exercício, uma vez criado e emitido o título, da causa ou relação fundamental que motivou o aparecimento deste. Assim, ao portador ou qualquer obrigado não é permitido inquirir a causa do título, já que esse vale por si mesmo, é per se stante, sendo os direitos nele incorporados limitados apenas pela literalidade, isto é, valendo no título o que nele está escrito, nem mais nem menos. Exemplos de títulos abstratos são a letra de câmbio e a nota promissória.
Já os títulos causais têm uma causa necessária, isto é, só existem em função de um determinado negócio fundamental, e esse negócio especial influencia a sua existência, trazendo, assim, os documentos, nas declarações literais que contêm, referência ao mesmo. É o que acontece com as duplicatas que, para serem emitidas, necessitam que tenha havido uma venda de mercadorias, a prazo, em território nacional.
Os títulos causais são, em regra, títulos de crédito impróprios. Mas a sua proliferação é muito grande, com o crescente desenvolvimento das atividades econômicas, e estão eles garantidos por muitos dos princípios dos títulos de crédito próprios.
8.1. Títulos atípicos ou inominados
A redação do art. 903 do Código Civil cuida dos denominados títulos atípicos ou inominados (redação do Professor Mauro Brandão Lopes). Conforme já referido no item 1.1, tal dispositivo choca-se com os princípios gerais contidos nas diversas legislações sobre títulos de crédito e com a mais abalizada doutrina brasileira.
9. ESPÉCIES DE TÍTULOS DE CRÉDITO
Grande é o número de espécies de títulos de crédito, nas suas diversas categorias, e tudo indica que, com o passar dos tempos, com o natural desenvolvimento das atividades econômicas, novas espécies surjam para atender às necessidades da coletividade, enquanto outras possam modificar sua estrutura ou mesmo desaparecer. Dentre as mais importantes espécies de títulos de crédito, no direito brasileiro, podem ser mencionados:
a) Letra de câmbio;
b) Nota promissória;
c) Cheque;
d) Duplicatas – mercantil e de serviço;
e) Conhecimento de transporte (e o Conhecimento de transporte multimodal); f) Conhecimento de depósito (e o Cerificado de depósito agropecuário);
f) Warrant (e o Warrant agropecuário);
g) Títulos de crédito rural (cédula rural pignoratícia, cédula rural hipotecária, cédula rural pignoratícia e hipotecária, nota de crédito rural, nota promissória rural, duplicata rural, cédula de produto rural, bilhete de mercadorias);
h) Títulos de crédito industrial (cédula de crédito industrial e nota de crédito industrial);
i) Títulos de financiamento comercial (letra de câmbio financeira, certificados de depósito bancário, cédula de crédito comercial e nota de crédito comercial);
j) l) Títulos de garantia imobiliária (letra hipotecária, letra imobiliária, cédula hipotecária).
Como valores mobiliários, destacam-se, no direito brasileiro, as ações, debêntures, cédulas pignoratícias de debêntures, partes beneficiárias, bônus de subscrição, opções de compras de ações e certificados de depósitos de ações.
10. IMPORTÂNCIA DA LETRA DE CÂMBIO
No estudo dos títulos de crédito em geral a letra de câmbio merece atenção especial porque é no estatuto legal da mesma que se encontram os princípios norteadores do instituto, aplicáveis, em regra geral (salvo as características próprias de cada título), aos demais. Assim, os princípios fundamentais sobre o formalismo, endosso, aceite, aval e protesto, e as noções teóricas sobre literalidade, abstração, autonomia, inoponibilidade das exceções, são encontrados, em regra, na lei reguladora das letras de câmbio, posteriormente aceitos e adaptados aos demais títulos. Pode-se dizer que a lei cambiária encerra as regras fundamentais dos títulos de crédito; as leis reguladoras dos demais títulos aproveitam algumas dessas regras gerais, adaptando-as às peculiaridades de cada um.
Deve-se isso ao fato de ter sido a letra de câmbio, historicamente, se não o primeiro (a nota promissória a antecedeu) mas o mais importante dos títulos criados para a mobilização do crédito. O seu uso em larga escala fez com que sobre ela se concentrassem as atenções do legislador, de modo a transformá-la em um título padrão dos outros títulos.
Ainda hoje a letra de câmbio possui essa supremacia. No Brasil, entretanto, o seu uso é suplantado pelo da duplicata, título criado pelo direito brasileiro para atender a problemas econômicos e principalmente fiscais de interesse nacional. Mas apesar de, entre nós, as duplicatas serem utilizadas em quantidade superior à das letras de câmbio, deve-se levar em consideração que os princípios normativos daquelas são oriundos dasregras das letras de câmbio, com as necessárias adaptações.
Por essa razão, é fundamental o conhecimento da lei cambiária para melhor compreensão dos títulos de crédito em geral. Esse o motivo pelo qual estudamos neste livro, com maiores detalhes, a letra de câmbio, cujos princípios fundamentais serão aplicados aos demais títulos.
NOTA PROMISSÓRIA
CONCEITO
Entende-se por nota promissória a promessa de pagamento de certa soma em dinheiro, feita, por escrito, por uma pessoa, em favor de outra ou à sua ordem. Aquele que promete pagar, emitindo o escrito, tem o nome de sacador, emitente, ou segundo a Lei Uniforme, subscritor; a pessoa em favor de quem a promessa é feita denomina-se beneficiário ou tomador. Na nota promissória, como se vê, figuram, inicialmente, apenas dois elementos pessoais, o emitente e o tomador, ao contrário do que acontece com a letra de câmbio, para cuja emissão são indispensáveis três pessoas, o sacador que dá a ordem, o tomador, beneficiário da mesma, e o sacado, pessoa designada para cumpri-la. Deve-se essa divergência ao fato de, na nota promissória, haver uma promessa de pagamento, já se sabendo, assim, que o emitente será o responsável principal por esse pagamento, enquanto que na letra de câmbio, sendo uma ordem de pagamento, não se tem a certeza, na emissão, se o sacado cumprirá ou não essa determinação do sacador.
HISTÓRICO. A NOTA PROMISSÓRIA NO DIREITO BRASILEIRO E NO DIREITO UNIFORME
A nota promissória surgiu ao mesmo tempo em que a letra de câmbio passou a ser utilizada em transações comerciais, ou seja, nos fins da Idade Média. No chamado período italiano do desenvolvimento da letra de câmbio, quando os banqueiros recebiam dos mercadores certas importâncias em depósito, emitiam documentos (quirógrafos) em que prometiam pagar a soma depositada, ao depositante ou a um seu representante, quando reclamada. Os autores veem nessa promessa de pagamento dos antigos banqueiros italianos da Idade Média a origem da nota promissória que, desse modo, antecedeu a letra de câmbio.
O FORMALISMO DA NOTA PROMISSÓRIA
Do mesmo modo que a letra de câmbio, a nota promissória é um título formal. O chamado rigor cambiário, que dá uma garantia especial à letra de câmbio, fazendo com que nela predomine o princípio da literalidade, também se observa na nota promissória, que deverá conter determinados requisitos para que o escrito possua valor cambial. Daí dizer o art. 76, 1ª al., da Lei Uniforme, equivalente ao parágrafo 4º do art. 54 da lei brasileira, que “o título em que faltar algum dos requisitos indicados no artigo anterior não produzirá efeito como nota promissória”, enumerando, a seguir, as exceções a essa regra geral.
Título formal, dele decorrem direitos que são protegidos de modo especial para a garantia do credor. Mobilizando o crédito facilmente, a nota promissória, muitas vezes fazendo o papel da moeda, baseia-se, sobretudo, no seu formalismo que é o sustentáculo do título.
EMISSÃO DA NOTA PROMISSÓRIA
Apesar de ser uma promessa de pagamento, contendo, assim, uma obrigação direta do emitente para com o tomador, a criação da nota promissória não fica vinculada ao negócio subjacente que porventura tenha motivado o seu aparecimento. É, assim, como a letra de câmbio, um ato unilateral da vontade do emissor que faz nascer a nota promissória. E por tal razão, as obrigações assumidas no título são autônomas e independentes, cada obrigado respondendo pela obrigação assumida para maior garantia do portador.
REQUISITOS ESSENCIAIS À NOTA PROMISSÓRIA
Como acontece com a letra de câmbio (e com os títulos de crédito em geral), a nota promissória deverá constar de um escrito. Tem, assim, a vontade do subscritor, e de quantos nela participarem, que manifestar-se não apenas expressamente mas de uma forma adequada, ou seja, por escrito. Pode o documento ser manuscrito, impresso ou datilografado, desde que as assinaturas dos que nele se obrigam sejam autênticas ou de mandatários com poderes especiais. De qualquer modo, deve a promessa de pagamento constituir um documento escrito, cuja posse e apresentação serão necessárias para o exercício dos direitos nele mencionados.
Não é apenas suficiente, entretanto, que a promessa de pagamento seja feita por escrito para que o documento tenha o valor de nota promissória. Indispensável se torna estejam no mesmo contidos certos requisitos, na lei expressamente enumerados. É a observância de tais requisitos que constitui o rigor cambiário, donde dizer a lei (Lei Uniforme, art. 76) que não produzirá efeito de nota promissória o escrito a que faltar qualquer deles.
Do mesmo modo que acontece com a letra de câmbio, os requisitos essenciais da nota promissória devem ser lançados no contexto. Tais são os requisitos essenciais ao título:
A denominação “Nota Promissória”, expressa na língua empregada para a redação do título
Essa é a chamada cláusula cambiária, semelhante à que deve conter a letra de câmbio. Serve para identificar o título, mostrando que a sua natureza diverge da de qualquer outro título de crédito, cambial ou não. Por tal razão, deve o nome completo do título vir expresso no contexto, não sendo admitido que se use apenas uma palavra, como, por exemplo, “promissória”. Essa norma identificadora da nota promissória está contida no nº 1 do art. 75 da Lei Uniforme, que reza deva ser mencionada “a denominação Nota Promissória inserta no próprio texto do título e expressa na língua empregada para a redação desse título”.
A promessa pura e simples de pagar uma quantia determinada
Sendo a nota promissória uma promessa de pagamento, deve essa promessa incondicionada figurar no contexto, juntamente com a importância a ser paga. Essa importância deve ser determinada, isto é, certa, exata e pode figurar no contexto quer por extenso, quer em algarismos, sendo de observar-se a regra do art. 6º da Lei Uniforme segundo a qual, estando escrita mais de uma vez, por extenso e em algarismos, havendo divergência valerá a importância escrita por extenso. Se a importância estiver escrita mais de uma vez, apenas por extenso ou apenas em algarismos, havendo divergência, valerá a importância menor. Esse dispositivo da Lei Uniforme modifica o que era estabelecido na lei brasileira, segundo a qual “...diversificando as indicações da soma de dinheiro no contexto, o título não será letra de câmbio”(Lei nº 2.044, art. 5º, in fine).
O nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga
Na nota promissória o emitente cria uma obrigação direta para com o tomador, prometendo pagar determinada importância em dinheiro. Assim sendo, do título deve constar expressamente o nome do credor, não se admitindo nota promissória ao portador. Se bem que, na prática, muitas vezes circulem notas promissórias sem que esteja expressamente mencionado o nome do tomador (promissórias em branco), essa circulação é irregular e, por ocasião de se tornarem exequíveis as obrigações contidas no título, a nota promissória só terá validade legal se dela constar o nome do tomador. A menção do tomador constará do seu nome civil ou comercial, ou seja, será o nome sob o qual o beneficiário poderá assumir obrigações ou exercer direitos.
Nota-se, contudo, que, por se tratar de um título à ordem (daí dizer a lei “o nome da pessoa a quem, ou à ordem de quem deve ser paga” – art. 75, nº 4), a promessa de pagamento não é feita apenas ao tomador mas a esse ou a qualquer futuro proprietário do título, desde que legitimado na posse. A indicação do tomador identifica a primeira pessoa a quem a promessa generalizada de pagar é feita. Contudo, sendo a nota promissória, por natureza, um título à ordem (o art. 19 do Anexo II da Convenção de Genebra estatui que “qualquer das Altas Partes Contratantes pode determinar o nome a dar nas leis nacionais aos títulos a que se refere o art. 75 da Lei Uniforme, ou dispensar esses títulos de qualquer denominação especial, uma vez que contenham a indicação expressa de que são à ordem”), destinada, portanto, a circular, a promessa do emitente o obriga em relação aos que futuramente se tornaremtitulares dos direitos de crédito emergentes do título.
Indicação da data em que é passada
À semelhança da letra de câmbio, a nota promissória deve trazer, obrigatoriamente, segundo a Lei Uniforme, a indicação da data em que é passada, sob pena de não ter efeito como promissória o título que não a contiver, já que a Lei de Genebra, ao contrário do que acontecia com a brasileira (Decreto nº 2.044, art. 54, § 1º), não deu ao portador mandato presumido para, à falta de data, inseri-la no título. A data deve constar de dia, mês e ano, não sendo permitido inserir o mês pelo algarismo correspondente ao mês do ano, já que a prática de se substituir o nome do mês por um número, oriunda, sem dúvida, da má redação do item c, do art. 2º do Decreto nº 2.591, de 1.912 (regulando a emissão e circulação do cheque) que mandava que o cheque deveria conter “data compreendendo o lugar, dia, mês e ano da emissão, sendo o dia e o mês por extenso”, não tem justificativa, uma vez que não há equiparação legal entre o número correspondente ao mês, contando-se o início do ano como 1, e o nome desse mês. Já o dia e o ano, por serem números, tanto podem ser escritos por extenso como em algarismos, sendo mais comum o uso em algarismos.
A assinatura do emitente
Deverá a nota promissória trazer, também, obrigatoriamente, a assinatura do subscritor ou emitente. Essa assinatura deve ser de próprio punho, admitindo-se, entretanto, sua substituição pela de mandatário com poderes especiais. É essa assinatura que obriga o subscritor, tornando-o devedor principal do título, já que, sendo esse uma promessa de pagamento, não está sujeito a aceite (Lei Uniforme, art. 78, correspondente ao art. 56, 2ª al., da lei brasileira). Poderá, como foi dito, o emitente obrigar-se através de mandatário, mas, para isso, necessário se torna que esse esteja munido de poderes especiais. Se assim for, a assinatura do mandatário não obriga mas ao mandante, de acordo com as normas comuns do mandato.
Apesar de não dizer a lei expressamente, a assinatura do emitente deverá figurar no anverso da nota promissória, podendo, entretanto, constar em qualquer parte do contexto, visto nenhum dispositivo da lei determinar que o mesmo venha sempre abaixo do contexto, como expressamente dispunha a lei brasileira (art. 1º, nº V).
Pode obrigar-se, como emitente, quem tiver capacidade civil ou comercial, devendo o nome firmado no título ser aquele com que a pessoa está capacitada a exercer direitos e assumir obrigações. Em se tratando de uma pessoa física, o nome com que emite o título deverá ser o seu nome civil, usado de modo a poder identificá-lo (nada impede, contudo, que o nome seja abreviado, contanto que identifique a pessoa, como, por exemplo, Fran Martins em vez de Francisco Martins); se o emitente for uma pessoa jurídica, será usado o seu nome legal, firma ou denominação, em se tratando de sociedades comerciais, ou denominação, sendo uma sociedade civil. Nesses últimos casos, assinarão pela pessoa jurídica aquelas pessoas que são órgãos sociais, hipótese em que, naturalmente, não necessitam incluir antes da assinatura a cláusula de mandato (P.P. ou por procuração), o que não acontecerá se, não sendo órgão social, quem assina pela entidade é um simples mandatário da mesma. Deve, entretanto, o mandato incluir poderes especiais para o mandatário emitir notas promissórias, pois, assim não acontecendo, ficará quem assina obrigado pessoalmente, nos termos do art. 8º da Lei Uniforme, correspondente ao art. 46 da lei brasileira.
ÉPOCA E LUGAR DO PAGAMENTO. LUGAR DA EMISSÃO
À maneira do que acontece com a letra de câmbio, a Lei Uniforme mencionou, também, como requisitos necessários à emissão da nota promissória, a época do pagamento, o lugar em que o mesmo deve ser efetuado e o lugar da emissão do título (art. 75). Entretanto, admitiu (art. 76) sejam criados e tenham validade títulos sem esses requisitos, estabelecendo que a nota promissória que não indique a época de pagamento será pagável à vista; a em que falte indicação do lugar onde foi passada, considera-se como tendo sido emitida no lugar designado ao lado do nome do subscritor. Finalmente, na falta de indicação especial, o lugar onde o título foi passado considera-se como sendo o lugar do pagamento e, ao mesmo tempo, o lugar do domicílio do subscritor da nota promissória.
APLICAÇÃO DAS NORMAS SOBRE A LETRA DE CÂMBIO ÀS NOTAS PROMISSÓRIAS
A exemplo do disposto na lei brasileira (art. 56), a Lei Uniforme manda sejam aplicáveis às notas promissórias, nas partes que não contrariem a natureza desses títulos, as disposições relativas às letras de câmbio e concernentes ao endosso, vencimento, pagamento, direito de ação por falta de pagamento, pagamento por intervenção, cópias, alterações, prescrição, dias feriados, contagem de prazo e dias de perdão. Também se aplicam às promissórias as disposições relativas ao pagamento no domicílio de terceiros ou numa localidade diversa da do domicílio do sacado, a estipulação de juros, as divergências das indicações da quantia a pagar, as responsabilidades dos que assinam nos títulos que contêm assinaturas de incapazes, assinaturas falsas ou de pessoas fictícias e assinaturas de pessoas que figuram como mandatários sem que o sejam ou que excedam os poderes do mandato. Por último, também são aplicáveis às notas promissórias as normas relativas ao aval, sendo de notar que, não indicando o aval a pessoa em favor de quem é dado, entende-se ter sido pelo emitente ou subscritor (art. 77). Esse emitente ou subscritor é responsável da mesma forma que o aceitante de uma letra de câmbio (art. 78, 1ª al.).
Examinando-se esses dispositivos de letra de câmbio aplicáveis às notas promissórias pela Lei Uniforme, verifica-se que os mesmos, em quase tudo, coincidem com o que, a respeito, dispunha a lei brasileira, que também sujeitou as promissórias às normas das letras de câmbio, exceto as que se referissem ao aceite e às duplicatas (art. 56). No entanto, como se viu na parte anterior, a Lei Uniforme tratou de assuntos que não eram regulados pela Lei brasileira e essas novas normas, assim, serão aplicáveis às notas promissórias, desde que não contrariem a natureza desses títulos e estejam compreendidas na disposição da lei que as manda adotar (art. 77). Desse modo, as notas promissórias ficam sujeitas às regras relativas às letras de câmbio sobre cópias e alterações (arts. 67 a 69 da Lei Uniforme), mas não às sobre duplicatas (arts. 64 a 66), que não foram contempladas na permissão legal, como, por dispositivo expresso (art. 56), não o eram na lei brasileira.
Igualmente, se aplicam às notas promissórias as disposições sobre o pagamento do título em lugar diverso do lugar do domicílio do emitente, indicando este a pessoa que deve efetuar o pagamento ou, não havendo essa indicação, o próprio emitente devendo realizá-lo. Esse é um dispositivo que não existia claramente na lei brasileira mas que poderia ter aplicação combinando-se o art. 56 com o § 1º do art. 20 do Decreto nº 2.044. A Lei Uniforme foi expressa a respeito, mandando fossem adotadas pelas notas promissórias as regras dos arts. 4º e 27, este último esclarecendo que, não indicada a pessoa que deve efetuar o pagamento em domicílio diverso do emitente, será esse quem o efetuará. Donde logicamente se conclui que, apesar de ser a nota promissória uma promessa de pagamento, obrigando-se o emitente a realizar esse pagamento, já que se equipara ao aceitante da letra de câmbio, pode a obrigação ser cumprida em lugar diverso do domicílio do emitente e também por pessoa diversa do obrigado principal. Aparentemente, esse fato parece desnaturar o título, confundindo-se o emitente da nota promissória com o sacador da letra de câmbio e o terceiro indicado para pagar com o sacado da mesma letra. Tal entendimento, entretanto, é errôneo, pois o obrigado principal é o emitente da nota promissória como também o é aceitante da letra de câmbio que indicou um terceiro para efetuar o pagamento. Esse terceiro agirá, no caso, apenas como mandatário do emitenteda nota promissória ou do aceitante da letra de câmbio, não tendo, assim, a obrigação originária de pagar. Tanto que, se o título não for por ele pago, poderá ser protestado, mas os efeitos desse protesto se refletem no aceitante da letra de câmbio ou no emitente da nota promissória, que são, de direito, os responsáveis pelo pagamento. Se, entretanto, o mandatário não efetuou o pagamento, descumprindo os poderes que lhe foram outorgados, podem aceitante ou emitente agir contra ele mas por ação comum e não cambial.
NOTA PROMISSÓRIA A CERTO TERMO DA VISTA
Acima mencionamos que a Lei Uniforme admitiu, não apenas indireta mas diretamente, a nota promissória a certo termo da vista. Indiretamente, ao mandar aplicar às notas promissórias os dispositivos dos arts. 33 a 37, sobre o vencimento, dispondo o art. 33 que “uma letra pode ser sacada; à vista; a um certo termo da vista; a um certo termo de data; pagável num dia fixado” (a lei brasileira que, no art. 6º, declarava poder a letra de câmbio ser passada com iguais prazos para vencimento, ao tratar da nota promissória reproduzia, no art. 55, os prazos do vencimento, excluindo, entretanto, as letras a certo termo da vista). E diretamente, quando dispõe, na 2ª al. do art. 78, que “as notas promissórias pagáveis a um certo termo de vista devem ser presentes ao visto dos subscritores nos prazos fixados no art. 23 (um ano a partir de suas datas, se prazo maior ou menor não for fixado pelo sacador, ou se esses prazos não forem reduzidos por um endossante). O termo de vista conta-se da data do visto dado pelo subscritor. A recusa do subscritor a dar o seu visto é comprovada por um protesto, cuja data serve de início do termo de vista”.
Introduziu, assim, a Lei Uniforme, no direito brasileiro, as notas promissórias a um certo tempo da vista, modalidade que não tem sido bem aceita por comercialistas e por pessoas outras para quem elas não se justificam.
Já tivemos oportunidade de nos manifestar a respeito desse assunto, e na nossa opinião existem razões capazes de justificar essa modalidade de promissórias, expressamente permitida pela 2ª al. do art. 78 da Lei Uniforme e já introduzida em outros sistemas jurídicos que adotaram as normas da Lei Uniforme. A estranheza que nos causa essa modalidade de vencimento da nota promissória se deve ao fato de, na letra de câmbio a certo tempo da vista, o aceite do sacado englobar o visto, dispensando-o. Mas, na realidade, aceite e visto são dois atos de natureza diversa, o primeiro significando a disposição do sacado de cumprir a ordem que lhe é dada pelo sacador, tornando-se, com a sua assinatura, o obrigado principal pelo pagamento do título, e o segundo dizendo respeito ao início do prazo findo o qual a obrigação assumida com o aceite deve ser cumprida, ou seja, esgotado o qual o título deve ser pago. Em resumo: o aceite representa a assunção da obrigação de pagar por parte do sacado; o visto marca o início do prazo, terminado o qual aquela obrigação deve ser cumprida.
Dando-se, assim, ao aceite o seu real significado, que é o da assunção da obrigação de pagar, resta saber em que momento o aceitante deve cumprir a obrigação assumida. Esse momento é, em regra, fixado pelo sacador, ao emitir a letra, já que essa deve trazer a época do pagamento, sendo considerada pagável à vista a letra em que não vier expresso esse requisito (Lei Uniforme, arts. 1º, nº 4, e 2º, 2ª al.). Assim, quando a letra é apresentada ao sacado para que este, querendo, assuma a obrigação de pagar, já traz certa a época em que essa obrigação deve ser cumprida. Se, por acaso, aceitar a letra, o sacado, então transformado em aceitante, assume aquela obrigação principal nas condições que lhe foram impostas pelo sacador quanto à época em que deve cumpri-la.
PROMISSÓRIA LIGADA A UM CONTRATO. AÇÃO CAUSAL
A nota promissória encerra, por natureza, um direito abstrato. Assim sendo, o título se desprende da causa que lhe deu origem e por tal razão pode, vencido e não pago, o portador executar o emitente baseado apenas no título. Acontece, entretanto, que, muitas vezes, a emissão de notas promissórias é uma condição de um contrato original. A existência do título fica, assim, presa ao cumprimento do contrato, de que resultou a promissória como uma condição para a perfeição daquele.
Em tais casos é admissível a oposição do devedor ao pagamento pelo não cumprimento do contrato original. A defesa se enquadra no princípio de que o réu tem direito pessoal contra o autor, conforme o disposto no art. 51 da lei brasileira. Para comprovar esse direito poderá o réu invocar a causa da obrigação, ou seja, o contrato de que a emissão do título era condição. Se tal contrato não foi cumprido, naturalmente ao emissor não caberá atender ao pagamento, pois, se assim o fizer, provocará um enriquecimento indevido por parte do credor.
Nota promissória pro soluto e nota promissória pro solvendo
A nota promissória pro soluto é um título abstrato de uso diuturno, é promissória comum desligada de sua causa na qual o devedor não pode utilizar a causa como meio de defesa, exceção para não pagar o título.
A sua característica principal é a de que ao ser cobrada estará impedindo o devedor de invocar as exceções da causa. Por exemplo: no caso do mútuo como causa debendi, não pode o alegar o devedor, como exceção, para não pagar o débito não ter recebido o valor emprestado.
A nota promissória pro solvendo é aquela em que o título está ligado a um contrato bilateral do qual faz parte. Assim, se em um contrato consta cláusula na qual é consignado que o pagamento do débito de dez reais a ser efetuado em dez prestações consecutivas, cada uma correspondente a uma nota promissória no valor de um real, o devedor pode alegar como forma para não pagar o título a exceção non adimpleti contractus, caso a outra parte não cumpra a sua prestação.
CHEQUE
CONCEITO
O cheque é um instrumento de natureza e de função dúplices. Por um ângulo, constitui uma ordem de pagamento a vista (ordem incondicional de pagamento imediato) de valor determinado, sendo formulada pelo titular de uma conta bancária contra a instituição financeira responsável. Por meio do cheque, o correntista determina a retirada de valores que deverão ser entregues, conforme o que se apure na cártula, (1) ao portador ou (2) ao beneficiário nomeado na cártula ou (3) a endossatário por ele indicado. Sua compreensão como título de crédito poderia ser posta em dúvida, já que a condição de ordem de pagamento a vista não implicaria a criação de uma obrigação futura de pagar (crédito). Contudo, ainda que a vista, e não futuro, cuida-se, sim, de crédito: há, na emissão do cheque, a declaração de um crédito a ser satisfeito pelo sacado ou, se recusado, pelo sacador, extrajudicial ou judicialmente (execução).
Portanto, a emissão de um cheque é, simultaneamente, uma ordem de pagamento, contra o sacado, e uma declaração de crédito, assumida pelo sacador. Presume-se que o sacador tenha fundos disponíveis em poder do sacado para o atendimento da ordem; a ausência desses fundos, contudo, não prejudica a validade do título como cheque (artigo 4o da Lei no 7.357/85). O emitente garante o pagamento, considerando-se não escrita a declaração pela qual se exima dessa garantia (artigo 15).
O beneficiário (ou tomador) do cheque pode ser o próprio emitente ou um terceiro; a emissão pode fazer-se a beneficiário nomeado, com a cláusula à ordem (permitindo o endosso) ou ao portador, embora possa haver restrições de outra ordem (nomeadamente fiscais) à emissão ao portador. O tomador e endossatários só mantém relações jurídicas diretas com o emitente (sacador), nunca com o sacado. A instituição financeira sacada mantém relações jurídicas diretas apenas com o emitente e, desta forma, embora seja a sacada, não é partícipe da relação cambiária, não sendo garantidora do pagamento (embora possa assumir a obrigação de pagar, por período determinado, pela via do cheque visado). Não pode ser protestada ou executada. O tomador não é credor da instituição sacada; é credor apenas doemitente e, eventualmente, de seus avalistas.
As relações jurídicas mantidas entre a instituição financeira sacada e o tomador, endossatários, avalistas e, até, terceiros estranhos ao título, são extracontratuais e extracambiárias. Vale dizer, não resultam do contrato, nem resultam do direito cambiário, já que não há relação contratual ou cambiária entre si. Quando muito, afirmam-se no plano geral das relações jurídicas, a exemplo da responsabilidade civil por atos dolosos ou culposos, bem como por atos que caracterizem abuso de direito, aplicados os artigos 186, 187 e 927 do Código Civil.
CONTA BANCÁRIA
Para que haja regular emissão do cheque, é requisito essencial a existência de uma conta bancária e, assim, de um contrato a instituição financeira sacada e o emitente, vez que o saque se faz sobre os depósitos havidos ou sobre crédito disponível no âmbito do sacado. Na letra de câmbio a posição jurídica de sacado pode ser ocupada por qualquer pessoa capaz; no cheque, pelo contrário, o sacado não apenas ocupa uma posição cambiária, como também deve ter uma qualidade pessoal específica: ser uma instituição financeira, ente que compõe o Sistema Financeiro Nacional, nos moldes do artigo 192 da Constituição da República. Como se não bastasse, deve-se destacar a sua submissão a um controle específico do Conselho Monetário Nacional e do Banco Central do Brasil. Somente quando autorizada a operar nesse tipo de mercado, pode a instituição financeira passar a emitir formulários para a emissão de cheque, ou seja, a imprimir e entregar a seus clientes talonários apropriados ao saque. A padronização desses formulários – e a certeza do controle governamental da atividade bancária – é um dos fatores inequívocos para se explicar o expressivo movimento de cheques no país.
A conta bancária pode ser movimentada por mais de uma pessoa. São as chamadas contas conjuntas, isto é, situações de cotitularidade da conta, dos fundos e dos créditos a ela referentes; aliás, pluralidade, também, num dos polos da relação jurídica bancária, já que não há um único correntista, mas dois. Essa cotitularidade implica direitos comuns sobre o montante depositado, devendo os correntistas ajustar entre si eventuais participações diferenciadas. Juridicamente falando, excetuada a estipulação da necessidade de assinatura conjunta para o saque, qualquer um dos dois correntistas tem o direito e a liberdade para a emissão de títulos, devendo a instituição bancária acatar a ordem de pagamento.
Nessas contas conjuntas, embora ambos os correntistas possam emitir ordem de pagamento (cheque), apenas um deles a criou. Se a ordem não é acatada, é somente dele, o emissor, a condição de devedor e, via de consequência, sujeito passivo da exigência judicial do crédito. Afinal, a discussão não mais se situa no plano da conta e dos fundos em comum, mas do título de crédito que não foi acatado pelo sacado e, destarte, pode ser judicialmente exigido do sacador e, eventualmente, daqueles que a ele se equiparam em virtude de lei, isto é, seus avalistas. A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, examinando os Embargos Declaratórios no Agravo Regimental no Recurso Especial 1.490.576/SP o afirmou: “O cotitular de conta conjunta detém apenas solidariedade ativa dos créditos para com a instituição financeira, não se tornando responsável pelos cheques emitidos pelo outro correntista.”
Não se deve confundir fundos disponíveis com o montante depositado pelo correntista em sua conta, incluindo mesmo eventual crédito contratado (cheque especial, diz-se). Se não há fundos, o banco deve recusar o pagamento e fazer a inclusão da ocorrência no Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF). A devolução indevida de cheque é ato ilícito civil, pelo qual responde a instituição bancária, devendo indenizar os danos econômicos e morais eventualmente experimentados pelo correntista (se houver). Pelo ângulo oposto, a emissão de cheque sobre conta sem fundos suficientes, quando há intenção (dolo) de obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, constitui crime de estelionato (artigo 171, § 2o, VI, do Código Penal). O mesmo quando há indevida frustração do pagamento de um cheque (sustação indevida).
REQUISITOS DO CHEQUE
Os formulários de cheques, impressos pelas instituições financeiras, em conformidade com as normas do Banco Central, são forma necessária para o saque. Isso determina, perante a sociedade e o mercado, um reconhecimento de estruturas gráficas. O formulário de cheque é, na prática dos negócios, uma pré-afirmação de validade, razão pela qual há todo um controle em sua impressão e em sua entrega aos correntistas ou representantes. É vedada a entrega de talonário de cheque se o correntista ou seu procurador figurar no cadastro de emitentes de cheques sem fundos (CCF). Permite-se, ainda, que o estabelecimento bancário, a seu critério, suspenda a entrega do talonário quando o correntista ou seu procurador tiverem restrição cadastral. Isso não traduz, por óbvio, impossibilidade de movimentação da conta, o que traduziria indevido cerceamento do direito de propriedade sobre eventuais valores depositados na instituição; permite-se que, antes do fornecimento do primeiro talão de cheques ou, quando por qualquer motivo, o titular for impedido de recebê-lo, a conta seja movimentada por meio de cheque avulso, nominativo ao próprio emitente (o correntista), sem que haja ônus para ele. A movimentação, ademais, poderá ser feita pelos meios eletrônicos de pagamento, designadamente pelo uso de cartão magnético.
Existindo relação jurídica entre o banco sacado e o emitente do título, há base jurídica para a emissão de cheque, ou seja, para o saque. Também o cheque deve atender a requisitos para que seja válido (artigo 2o da Lei no 7.357/85). No entanto, também o cheque emitido com partes em branco pode ser completado pelo portador, em conformidade com o convencionado pelas partes (artigo 16). O primeiro dos requisitos é a denominação cheque inscrita no contexto do título e expressa na língua em que este é redigido (artigo 1o, I). Dessa maneira, a emissão se torna inequívoca, para emitente e terceiros, incluindo-a quanto aos efeitos legais. Segue-se a exigência de que o cheque contenha uma ordem incondicional de pagar quantia determinada. O valor deve ser certo e líquido, expressado em moeda corrente. Essa indicação será feita pelo menos duas vezes: uma em algarismos, outra, por extenso. Se há divergência entre a quantia em algarismos e por extenso, prevalece esta última; ademais, se porventura for indicada a quantia mais de uma vez, quer por extenso, quer por algarismos, prevalece, no caso de divergência, a indicação da menor quantia (artigo 12). Não há falar em juros, correção monetária ou outro acessório financeira. Sua estipulação deve ser considerada não escrita (artigo 10 da Lei no 7.357/85) para fins cambiários.
O cheque, ao contrário da letra de câmbio, não admite a figura do aceite, devendo ser considerada não escrita qualquer declaração com esse sentido (artigo 6o). O banco não aceita: ou paga ou recusa motivadamente o pagamento. Ademais, a ordem não comporta condição para ser eficaz. O cheque não comporta condicionamento de qualquer espécie, a exemplo de cláusulas que vinculem o pagamento à entrega de bem ou prestação de serviço, entre outras. Não é que tais observações, se anotadas na cártula, devam ser consideradas nulas ou inexistentes; simplesmente não possuem validade cambial, e em nada interferem no trâmite legal da operação bancária. Se forem lançadas condições na cártula, o banco sacado as deve desconhecer e, quando muito, poderão servir às partes para ajustes não cambiais, examinados em procedimentos ordinários e à luz do Direito Comum. A anotação, destarte, é ato jurídico não cambial que usa a base física da cambial para fins extracambiais.
Deve estar indicado o nome do sacado, isto é, o banco ou instituição financeira a quem se ordena o pagamento; o cheque é emitido contra banco, ou instituição financeira que lhe seja equiparada, sobpena de não valer como cheque (artigo 3o da Lei no 7.357/85). Banco, porém, em sentido largo, a designar também a instituição financeira contra a qual a lei admita a emissão de cheque (artigo 67), a exemplo das cooperativas de crédito. Tem-se, portanto, uma condição específica para ser sacado. Não qualquer banco, aliás, mas aquele no qual o emitente mantém conta bancária em que haja fundos disponíveis para satisfazer ao crédito constante do saque. Detalhe: o saque é feito contra o banco e não contra sua agência, embora seja lícito definir lugar para o pagamento, identificando-o com o endereço de determinada agência bancária.
Ademais, a folha de cheque deve indicar o lugar de pagamento, ou seja, a sede da instituição financeira sacada, da agência ou do posto de atendimento bancário no qual o legítimo portador poderá apresentar o cheque e obter o pagamento ali ordenado. Na falta de indicação especial, é considerado lugar de pagamento aquele designado junto ao nome do sacado; se designados vários lugares, o cheque é pagável no primeiro deles; não existindo qualquer indicação, o cheque é pagável no local de sua emissão (artigo 2o, I). O cheque pode ser pagável no domicílio de terceiro, quer na localidade em que o sacado tenha domicílio, quer em outra, desde que o terceiro seja banco (artigo 11); portanto, a lei permite que, no saque, o emitente domicilie o cheque, isto é, vincule seu pagamento a determinada praça, aí indicando sede ou agência de um banco; cria, assim, para o portador, a obrigação de se dirigir àquele lugar caso deseje apresentar o cheque para o pagamento no caixa, mas não lhe retira o direito de simplesmente depositá-lo e, assim, fazer com que chegue à câmara de compensação.
A cártula ainda deverá trazer o lugar e a data em que foi emitida (artigo 1o, V), mas se não indica o lugar de emissão, considera-se emitido o cheque no lugar indicado junto ao nome do emitente (artigo 2o, II). No cheque, a combinação de data e local de emissão com o local de pagamento define o prazo para apresentação da cártula: o cheque deve ser apresentado para pagamento, no prazo de 30 dias, contados do dia da emissão, quando emitido no lugar onde houver de ser pago; se emitido em outro lugar do país ou no exterior, o prazo é de 60 dias (artigo 33 da Lei no 7.357/85). É comum aceitarem-se abreviaturas, desde que deixem inequívoco o lugar em que houve a emissão, mas não se aceita a ausência de lugar de emissão. O lugar é o município, nunca uma região menor (bairro, zona rural que possua denominação própria etc.), nem um Estado. A menção a distrito municipal, contudo, atende ao requisito legal, mormente se considerarmos que tais populações são, em muitas oportunidades, ciosas de sua identidade. A menção incompreensível ao lugar de emissão equivale à ausência de indicação, da mesma forma que invalida o título a utilização de lugar fictício (a exemplo de Terra do Nunca ou Neverland) ou absurdo (a exemplo de Xangai, para um título que, visivelmente, foi emitido no Brasil e para pagamento no Brasil).
É lícito ao sacador pós-datar o título, isto é, lançar data posterior àquela em que efetivamente se dá a emissão. Em termos cambiais, a única consequência deste ato é prolongar o prazo de apresentação, que passa a contar da data constante no documento. A pós-datação não impede que a apresentação se dê antes da data expressada, exigindo-se o pagamento correspondente. A permissão de data futura, contudo, não cria uma regra de desrespeito amplo ao requisito do preenchimento da data no título. Assim, ainda que se trate de data futura, é indispensável que haja seriedade e adequação no preenchimento, e que considere inválidas as datas: (1) inexistentes, como 35 de setembro; (2) incompletas, como outubro de 2002 (sem o dia); (3) expressas em calendário que não o oficial do país, para emissões feitas no Brasil e para pagamento no Brasil, a exemplo de dia 2 do mês do ramadã (calendário muçulmano); (4) absurdas, ainda que futuras, a exemplo de 2 de julho de 3750 (o que teria por efeito não jurídico tornar o cheque imprescritível).
Por fim, exige-se que a folha de cheque seja assinada pelo emitente (o sacador). A regulamentação do Banco Central do Brasil aceita a assinatura por chancela mecânica ou processo equivalente, reproduzindo a assinatura de próprio punho, resguardada por características técnicas, devendo a chancela ser registrada em Cartório de Títulos e Documentos e ajustada previamente com a instituição financeira sacada. É dever do banco sacado conferir a autenticidade da assinatura lançada nos cheques, respondendo pelo prejuízo advindo do pagamento de cártula com assinatura falsa. Essa responsabilidade, aliás, não se elide com o argumento de que era obrigação do correntista cancelar o talão subtraído ou perdido, já que a assinatura é requisito legal que deve ser conferido pelo sacado.
O cheque pode ser assinado pelo mandatário com poderes especiais para tanto (artigo 1o, VI); a condição de mandatário deve ser devidamente reconhecida pelo banco sacado; do contrário, o título será devolvido e estará ele pessoalmente obrigado ao pagamento, ainda que, pagando o cheque, tenha os mesmos direitos daquele em cujo nome assinou (artigo 14 da Lei no 7.357/85). Ainda que a assinatura seja do procurador, o saque sempre é feito pelo correntista e somente ele ocupa a posição de emitente jurídico do cheque: o ato físico é do mandatário, mas ato jurídico é concretizado pelo representado/mandante; o mandante é o emitente do título, ainda que outrem (o mandatário) seja o seu criador.
TIPOLOGIA DO CHEQUE
O cheque pode assumir uma tipologia diversa, considerando-se as declarações que são lançadas na cártula ou, mesmo, o seu histórico de emissão. Esses tipos exsurgem da própria Lei no 7.357/85, sendo de todo proveitoso estudá-los:
1) Cheque ao portador. Se no ato de criação o sacador preenche o espaço destinado ao beneficiário com a expressão ao portador, ou equivalente, ou simplesmente deixa em branco o espaço, abrindo mão do direito de indicar quem é o beneficiário da emissão, tem-se um título ao portador (artigo 8o, III, e parágrafo único, da Lei no 7.357/85). Assim, haverá circulação por mera tradição (artigos 907 e seguintes do Código Civil). Essa dinâmica, contudo, foi alterada pela Lei no 8.021/90, que vedou o pagamento ou resgate de qualquer título ou aplicação a beneficiário não identificado. A norma, de caráter fiscal, não extinguiu a figura do cheque ao portador, creio. Não se proibiu a emissão do título sem a indicação do beneficiário; apenas exige que, para o pagamento da cártula, o campo do beneficiário esteja devidamente preenchido, identificando-se o beneficiário do pagamento; tal requisito deverá ser apurado na apresentação, sendo lícito ao portador, até então, preencher o campo que se encontrava vazio.
2) Cheque à ordem. O cheque à ordem traz o nome do beneficiário, mas permite que este o endosse a outrem (artigos 910 e seguintes do Código Civil). Não é necessário que a cártula contenha a cláusula à ordem expressa, pressupondo-a na ausência da cláusula não à ordem (artigo 8o, I, da Lei no 7.357/85). Em oposição, caso o título traga expressada a cláusula não à ordem, não se lhe permitirá o endosso, embora seja lícito sua transferência pelo procedimento mais complexo da cessão de crédito. A indicação do beneficiário deve ser precisa, ou seja, permitir a sua identificação, o que se faz enunciando o nome da pessoa natural ou jurídica a quem o cheque deverá ser pago. Contudo, pequenas discrepâncias e erros, quando não criem dúvidas sobre a pessoa do beneficiário, não afastam a legitimidade do credor, como decidiu a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (Recurso 336.632/ ES). No caso, nomeou-se como beneficiário do cheque Nico Atacado, embora o nome empresarial fosse Nico Atacadista Ltda. Podem ser indicados mais de um beneficiário, conjunta ou alternativamente. Indicados A, B e C, haverá indicação conjunta e os três beneficiários devem apresentar-se para o recebimento; indicados A, B ou C, qualquer um dos nomeados poderáapresentar a cártula, mesmo sozinho, para o recebimento. Também é possível a à ordem do próprio sacador (artigo 9o da Lei no 7.357/85), caso que serve à retirada de fundos depositados, embora possa ainda sirva à criação de crédito, já que o título poderá ser endossado.
3) Cheque nominativo. Cártula sacada em favor de pessoa nomeada, trazendo a cláusula não à ordem ou outra expressão equivalente. Assim, além de ser nomeado o beneficiário, retira-se o cheque do regime de transferência cambial (por mero endosso). A cláusula não à ordem não impede a transferência do crédito; apenas impede que se faça pela forma simplificada, isto é, por mero endosso, exigindo das partes interessadas na transmissão que recorram ao procedimento da cessão de crédito.
4) Cheque por conta de terceiro. O artigo 9o, II, da Lei do Cheque, aceita que o sacador emita a ordem de pagamento por conta de um terceiro, isto é, determinando que o pagamento seja feito utilizando-se os fundos disponíveis na conta de um terceiro; expressa-se pela fórmula pague por este cheque, por conta de Fulano de Tal, a quantia de tantos reais, ou expressão equivalente. No saque por conta de terceiro, é preciso que o emitente esteja autorizado a criar o cheque, pressupondo prévio ajuste com a instituição financeira, a implicar arquivamento de sua assinatura. Se não está autorizado a fazê-lo, tem-se no saque um ilícito civil, pelo qual responderá apenas aquele que, sem poderes para tanto, ordenou o pagamento sobre conta alheia. Eventualmente, dependendo da intenção que se apure como motora da emissão, ter-se-á a tipificação da conduta do estelionato (artigo 171 do Código Penal).
Havendo autorização do terceiro para o saque, e estando acorde o banco sacado (requisito indispensável para a validade da emissão), a emissão é regular. O interessante na emissão por conta de terceiro é a desvinculação dos ônus da emissão, compreendida (1) como ordem de pagamento, que se faz sobre a conta do terceiro, e (2) como declaração (assunção) da obrigação de pagar a quantia sacada, que se faz sobre o patrimônio do emitente. Portanto, se a ordem de pagamento é acatada pelo sacado, os ônus da emissão se farão sentir na conta bancária do terceiro, à conta de quem foi feita a emissão. Em contraste, se o cheque foi devolvido, o título de crédito deverá ser cobrado do emitente, pois foi ele que declarou a existência do crédito e, assim, assumiu a obrigação de saldá-lo. Não é, de forma alguma, o terceiro à conta de quem foi feito o saque, já que ele não declarou a existência do crédito, não o criou com a emissão, não assumiu, com o saque da cártula, a obrigação incondicional de pagar a quantia certa especificada no papel.
A autorização para o saque por terceiro sobre a própria conta bancária não caracteriza, juridicamente, aceite. Tem natureza jurídica mais próxima à da representação, devendo a instituição bancária entregar ao terceiro autorizado talonário da conta do autorizante, somando-se à ficha de assinaturas a firma do terceiro autorizado à emissão.
5) Cheque administrativo. Chama-se de cheque administrativo, cheque bancário, cheque comprado ou cheque de caixa, aquele que é emitido pelo próprio banco contra seu caixa: um mesmo banco ocupa a posição de emitente e de sacado, o que é lícito, desde que o cheque não se apresente ao portador (artigo 9o, III, da Lei no 7.357/85). A emissão do cheque pelo banco, ordenando-se a pagar ao beneficiário nomeado determinada importância é vista como uma estratégia de segurança, supondo o mercado serem menores as chances de inadimplência. Daí a expressão cheque comprado: paga-se ao banco para que faça o saque de cheque administrativo, usando-o em algum negócio, prática que se reduziu após a popularização das transferências eletrônicas.
6) Cheque visado. O banco sacado, a pedido do emitente ou mesmo do beneficiário nomeado na cártula, pode lançar no verso do cheque, certificação ou declaração equivalente, datada e assinada, por quantia igual à indicada no título (artigo 7o da Lei no 7.357/85). Essa certificação ou visto, seja lançada como tal, seja lançada utilizando-se qualquer outro texto equivalente (isto é, que transmita a mesma ideia), obriga o banco sacado a debitar à conta do emitente a quantia indicada no cheque e a reservá-la em benefício do portador legitimado, durante o prazo de apresentação (artigo 7o, § 1o). Tem-se, assim, o chamado cheque visado, figura apreciada pela segurança, já que afirma a existência do saldo e declara que o valor estará separado para fazer frente àquela ordem de pagamento.
7) Cheque cruzado. Cruzando-se o cheque, o pagamento só poderá ser feito por meio de crédito em conta, vale dizer, o portador não poderá apresentá-lo ao caixa do banco e retirar o dinheiro. O cruzamento pode ser feito pelo emitente ou pelo portador; não é exclusividade do emitente. Mesmo o banco a quem o cheque foi apresentado pode cruzá-lo, o que é usual (artigos 44 e 45 da Lei no 7.357/85).
8) Cheque para ser creditado em conta. O emitente ou o portador pode proibir que o cheque seja pago em dinheiro, exigindo que o mesmo seja obrigatoriamente creditado em conta (artigo 46 da Lei no 7.357/85). Para tanto, basta que se lance na face (o anverso) da cártula, em posição transversal, a cláusula para ser creditado em conta, ou outra equivalente. Diante dessa cláusula, o banco sacado só poderá proceder a lançamento contábil (crédito em conta, transferência ou compensação), sendo-lhe vedado pagar em papel-moeda. Se desrespeita a cláusula, responde pelo dano, até a concorrência do montante do cheque. O crédito em conta, transferência ou compensação, em suma, o lançamento contábil, em tal hipótese, vale como pagamento. Ademais, se o cheque é depositado na conta de seu beneficiário, dispensa o respectivo endosso.
AUTONOMIA, ABSTRAÇÃO E INDEPENDÊNCIA
No entanto, também em relação ao cheque é preciso temperar os princípios da autonomia, independência e abstração com os princípios da socialidade, eticidade e moralidade. Exemplo são as situações nas quais o cheque traz, em seu corpo (escrito na cártula), vinculação a outro negócio. Não é raro (e – mais – a prática jurídica recomenda) que o cheque traga em seu verso menção ao negócio de base, quando há nestes particularidades específicas, como a contratação de prazo para apresentação. Por exemplo: Cheque em garantia de pagamento, pela aquisição de um veículo tal, em três parcelas, com depósito ajustado para 24 de maio de 2006. Os efeitos dessa cláusula não alcançam a instituição financeira sacada, se esta não participou do negócio fundamental ou mesmo de negócio posterior (a exemplo do desconto de títulos). Assim, se o cheque, mesmo contendo cláusulas que o vinculem ao negócio de base ou que ajustem condições ou tempo futuro para o pagamento, for apresentado ao caixa ou à compensação, tais escritos devem ser considerados, pelo sacado, como não escritos.
Mas se não vinculam o sacado, tais cláusulas têm efeito sobre terceiros, deles exigindo atenção para o negócio de base. Exemplo é a instituição financeira (ou a faturizadora) que procede ao desconto de títulos pós-datados, não podendo pretender que sua situação terceiro (endossatário) lhe permite apresentar o cheque antes do prazo contratado e expresso na cártula. Autonomia e a independência das obrigações cambiárias interpretam-se tendo em vista o princípio da segurança cambiária, ou seja, aplicam-se sempre para preservar terceiros de boa-fé. Se há elementos para afastar essa boa-fé, não se aplicam aqueles princípios. Mas é preciso que a previsão de apresentação futura esteja inscrita na cártula, sendo ineficaz, em relação a terceiros, a pactuação extracartular da pós-datação do cheque (conferir o Recurso Especial 1.068.513-DF). Examinando o Recurso Especial 1423464/SC, sob a sistemática da repetitividade, o Superior Tribunal de Justiça entendeu que “a pactuação da pós-datação de cheque, para que seja hábil a ampliar o prazo de apresentação à instituição financeira sacada, deve espelhar a data de emissão estampada no campo específico da cártula.”

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