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Procedimentos Especiais
Proteção Possessória 
⇨ Legítima defesa da posse
⇨ Tutela jurisdicional da posse
⇨ Interditos possessórios
⇨ Ações possessórias
Prof. Manoel Guedes - UNISUAM - Direito 1
A PROTEÇÃO POSSESSÓRIA é uma das consequências jurídicas, que advêm da 
posse, de maior importância. Trata-se, na verdade, do estudo dos mecanismos de que 
se pode valer o possuidor para defender sua posse diante de agressões praticadas por 
terceiros.
LEGÍTIMA DEFESA DA POSSE: o nosso ordenamento jurídico permite ao 
possuidor molestado defender sua posse mediante desforço físico.
Art. 1.210. § 1º - O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou 
restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de 
defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, 
ou restituição da posse.
A legítima defesa da posse é uma das raras hipóteses de consagração da 
AUTOTUTELA, enquanto via alternativa de pacificação social, a qual – em regra – 
é repudiada como meio ordinário para a solução dos conflitos de interesse (justiça 
com as próprias mãos).
Sendo uma medida excepcional, a norma exige a presença de dois requisitos:
⇨ imediatidade da reação
⇨ moderação dos atos de desforço físico
A legítima defesa da posse somente poderá ser invocada se ainda não houver sido 
despojado o possuidor da coisa ou consolidada a turbação. 
Caso já tenha ocorrido, deverá o possuidor molestado socorrer-se dos interditos 
possessórios, que veremos a seguir.
Para que não descaracterize a legítima defesa da posse é necessário, também, que os 
atos de desforço sejam aqueles necessários à repulsa da agressão à posse, sem 
excessos.
Devemos destacar que a Legítima Defesa da Posse independe da qualidade da posse, 
ou seja, se ela justa ou injusta, se de boa-fé ou de má-fé. O proprietário, ou melhor 
possuidor, deverá tentar recuperar a coisa, ou seja, obter seu direito sobre a coisa, por 
intermédio do remédio processual adequado, não podendo fazer uso do desforço 
físico.
Também é necessário ressaltar que não cabe invocar a Legítima Defesa da Posse 
quando se trata de cumprimento de ordem judicial (penhora, arresto, sequestro etc.).
Conforme a unanimidade da doutrina, a lei está a autorizar que o possuidor, que faz 
uso da autotutela, utilize o apoio de empregados ou prepostos, eis que o artigo 1.210 
do código civil, em seu parágrafo primeiro, menciona o termo “força própria”, no 
qual está incluído o auxílio de terceiros com quem mantém vínculos.
Assim, sendo reconhecida essa possibilidade, é importante concluir que se o preposto, 
empregado ou serviçal, na defesa dessa posse e seguindo as ordens do possuidor, 
causar dano a outrem, responderá o comitente, empregador ou senhorio, nos termos 
dos artigos 932 e 933 do Código Civil.
A responsabilidade do possuidor é objetiva (independe de culpa), desde que 
comprovada a culpa daquele por quem se é responsável (responsabilidade objetiva 
indireta, ou por ato de outrem).
O possuidor molestado poderá defender seu direito sobre a coisa por intermédio da 
atividade jurisdicional prestada pelo Estado.
Vários são os instrumentos processuais que podem ser utilizados para a proteção da 
posse. São as chamadas AÇÕES POSSESSÓRIAS, também designadas de 
INTERDIDOS POSSESSÓRIOS.
Necessário destacar a diferença existente entre o “direito de posse” e o “direito à 
posse”, este último resultante do direito de propriedade.
Quem tem o direito de posse exercitará o ius possessionis, e aquele quem direito à 
posse exercitará o denominado “ius possidendi”.
⇨ IUS POSSIDENDI: direito à posse que decorre de propriedade, 
ou seja, há uma posse com título, estribada na propriedade.
⇨ IUS POSSESSIONIS: é o direito que decorre exclusivamente 
da posse, ou seja, há uma posse sem título, que existe por si só.
Desta distinção entre direito de posse (ius possessionis) e direito à posse (ius 
possidendi) resulta que os interditos possessórios são instrumentos de tutela do 
direito de posse, bastando, para tanto, a condição de possuidor agredido em sua 
posse.
Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de 
turbação e reintegrado no de esbulho. (CPC)
Lembrem-se: o detentor, por não ser possuidor, não tem essa faculdade!
AÇÃO DE 
REINTEGRAÇÃ
O
DE POSSE
INTERDITO
PROIBITÓRI
O
AÇÃO DE 
MANUTENÇÃO
DE POSSE
As ações possessórias, consideradas em sentido estrito, são três: ação de 
reintegração de posse (ou ação de força espoliativa), ação de manutenção de posse 
(ou ação de força turbativa), e interdito proibitório (ou ação de preceito 
cominatório, ou de força iminente).
Diante da prática de um ESBULHO, ofensa à posse de maior gravidade, já que 
despojado o possuidor do bem possuído, surge como remédio processual adequado a 
AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE.
Interessa ao possuidor esbulhado, para a defesa efetiva do seu direito, um provimento 
jurisdicional que lhe restitua a disposição física sobre a coisa, condenando o réu à 
entrega da coisa então possuída.
É o que acontece, por exemplo, quando se invade determinada residência e, mediante 
violência, expulsa-se o seu morador. Interessa-lhe, no caso, um provimento que o 
reintegre na posse esbulhada.
Já no caso de TURBAÇÃO – menor intensidade da ofensa em relação ao esbulho – o 
possuidor não perde a disposição física da coisa, mas o exercício da posse é 
dificultado pela prática de atos materiais do ofensor.
Não sendo necessária a reintegração da posse, satisfaz-se o possuidor com a 
manutenção da mesma, o que se obtém por intermédio de um provimento 
jurisdicional que faça cessar o ato turbativo. Tem-se, então, a AÇÃO DE 
MANUTEÇÃO DA POSSE.
Como exemplo, tem-se a hipótese em que determinado morador é molestado por 
vizinho que ora derruba a cerca que divide terrenos, ora arremessa detritos em seu 
solo, ou, então, solta animais para destruir sua plantação.
Interessa ao possuidor a intervenção do Judiciário para fazer cessar os atos turbativos, 
impondo, de plano, uma obrigação de não fazer ao turbador.
Por fim, ainda menos grave que o esbulho e a turbação, surge a AMEAÇA de 
turbação ou de esbulho. Embora não tenham sido praticados atos materiais turbativos 
ou espoliativos, o ofensor está na iminência de praticá-los.
Basta ao possuidor o provimento jurisdicional que impeça o ofensor de cumprir com 
o mal prometido. Impõe-se, também, uma obrigação de não fazer, cominando-se pena 
para o caso de descumprimento da obrigação (transgressão).
Completa-se a proteção possessória com o INTERDITO PROIBITÓRIO. Como 
exemplo, imaginemos a hipótese de pessoas que, sob o pretexto de se concretizar a 
reforma agrária prometida pelo Estado, cercam determinada fazenda com a promessa 
de invadi-la. Neste caso interessa ao possuidor uma “tutela inibitória”, onde o Poder 
Judiciário constranja os possíveis invasores a não cumprir com a ameaça prometida.
Fungível ⇨ Do latim fungibile, juridicamente, refere-se a tudo que possa ser 
substituído, trocado.
O Princípio da Fungibilidade, também chamado de “Reversibilidade das Ações 
Possessórias”, é aplicável nos interditos possessórios:
CPC -. Art. 277. Quando a lei prescrever determinada forma, o juiz 
considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar 
a finalidade.
CPC - Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de 
outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a 
proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam 
provados.
A aplicação do princípio da fungibilidade, nas ações possessórias, parte da premissa 
de que o possuidor, molestado em sua posse – independentemente da intensidade da 
ofensa, ou seja, se de esbulho, turbação ou ameaça – necessita do Poder Judiciário a 
outorga de um provimento que proteja seu direito, sendo irrelevante o rótulo dado ao 
interdito possessório invocado.
Assim sendo, se o autor ajuíza demanda de manutenção de posse (turbação), e 
durante a instrução processual constata-seque na verdade houve um esbulho, e não 
uma turbação, estará o julgador autorizado a reintegrá-lo na posse, já que de nada 
adiantaria uma decisão que simplesmente determinasse que o ofensor cessa-se os atos 
turbativos.
Nestas situações não há que se falar em sentença extra ou ultra petita, .
Todavia, a fungibilidade somente será observada se a propositura da ação equivocada 
tiver por objeto o pedido de proteção possessória. 
Ou seja: a fungibilidade existe tão somente entre as ações possessórias (reintegração 
de posse, manutenção de posse e interdito possessório)
Como exceção à regra de que a relação jurídica processual mantém uma polaridade 
bem definida, de modo que o autor é aquele que pede para si determinado “bem da 
vida” e o réu, aquele em face de quem é deduzido tal pedido e, portanto, nada pede 
além da improcedência da demanda, possibilitou o legislador ao réu nas ações 
possessórias específicas, deduzir, na própria contestação, pedido contra o autor.
Art. 556. É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido 
em sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização 
pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo 
autor.
Desta forma, percebe-se que há a possibilidade do réu elaborar pedido em face do 
autor, independentemente de RECONVENÇÃO (Art. 343 do CPC).
Reconvenção: técnica procedimental por intermédio da qual pode o réu 
deduzir contra-ataque, desde que haja conexão com a ação principal ou 
com o fundamento da defesa. 
O caráter dúplice não é exclusividade das ações possessórias, já que também está 
presente nas ações de prestações de contas, renovatória de locação e demarcatória, 
por exemplo. Nos Juizados Especiais (Lei nº 9.099/90) temos os chamados “pedidos 
contrapostos”.
Exemplo: se o réu, em ação de reintegração de posse (esbulho), contesta afirmando 
ser o efetivo possuidor e que, por sua vez, está sendo turbado em sua posse pelo 
autor, na condição de titular desse direito está legitimado a pedir proteção possessória 
na própria contestação, sem necessidade de reconvenção.
Outra importante característica das ações possessórias é a força executiva e 
mandamental de que são dotadas as sentenças ali proferidas. Vicente Greco Filho 
leciona:
“execução da sentença se faz por mandado, ordem do juiz, 
independentemente de processo de execução, porque a sentença tem força 
executiva, salvo a condenação em perdas e danos, que se executa como 
execução por quantia, após a liquidação.”
Buscando proporcionar uma efetiva tutela jurisdicional à posse, o legislador 
dispensou a necessidade de um processo de execução autônomo. 
A execução se faz mediante a expedição de mandado específico. O réu não é citado 
para entregar a coisa no prazo de 10 dias, como ocorre nas execuções para entrega de 
coisa certa fundada em título executivo extrajudicial.
O juiz emite uma ordem para que o oficial de justiça expulse imediatamente o 
esbulhador e reintegre na posse o esbulhado, pois a possessória tem força executiva, 
como também ocorre com a ação de despejo. Ou seja: não há uma instância 
executória.
Embora o CPC permita a cumulação de pedidos pelo autor na petição inicial, 
quando se trata de interdito possessório o legislador permitiu, expressamente, além 
da proteção possessória, que o autor cumule os seguintes pedidos:
1. condenação do réu em perdas e danos;
2. cominação de pena para o caso de nova turbação ou esbulho, visando constranger 
o agressor a não reiterar a agressão já consumada;
3. desfazimento de construção ou plantação feita em detrimento de sua posse, 
obrigando o agressor a restabelecer a situação fática da coisa anterior à molestação; 
pode vir, também, acrescida da cominação de pena pecuniária diária para forçar o 
fiel cumprimento da obrigação de fazer imposta.
Porém, há que se ressaltar que os pedidos feitos cumulativamente ao de proteção 
possessória não são dotados da característica da executividade, como vimos há pouco, 
e desta forma a satisfação dos pedidos cumulativos dependerá de um processo de 
execução.
Para obtenção da proteção possessória, a parte terá que provar, nos termos do Art. 
560 e 561 do CPC:
Art. 561. Incumbe ao autor provar:
I - a sua posse;
II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III - a data da turbação ou do esbulho;
IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção; a perda 
da posse, na ação de reintegração.
Tem que provar a posse, primeiramente, como premissa básica para invocar o direito 
de posse (ius possessionis). De se ressaltar, ainda, que a competência jurisdicional é o 
do foro da situação da coisa, tratando-se de competência absoluta.
Nas ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro da 
situação da coisa. 
Deverá o autor provar, também, a turbação ou o esbulho praticado pelo réu, 
e a data em que se consumou a agressão, para definir se a ação será de força 
nova ou não.
Também é essencial a prova de que houve a continuação da posse, embora turbada 
(para as ações de manutenção da posse), e a prova de que houve a perda da posse para 
as ações de reintegração.
As ações possessórias, de força nova, seguem um rito especial. Ovídio Batista da 
Silva afirma:
“as ações possessórias, ditas interditais, tornam-se especiais por ensejarem 
a emissão de sentenças liminares antecipatórias de certos efeitos da 
correspondente sentença final de procedência. Essa antecipação de 
eficácias, de modo que o resultado que o autor pretendia obter com a 
demanda lhe seja oferecido desde o início do processo, importa, no caso das 
ações possessórias, na antecipação daquilo que, se a ação fosse 
condenatória, seria a futura ação de execução.”
Uma vez convencido da presença dos requisitos do artigo 562 do CPC, poderá o juiz, 
liminarmente, antecipar o provimento jurisdicional reintegrando ou mantendo o 
possuidor esbulhado ou turbado, mesmo sem a oitiva da parte contrária, ou até 
mesmo após a audiência de justificação prévia, para a qual deverá o réu ser citado.
Porém, se a ação é de força velha – não ajuizada dentro do prazo de ano e dia da data 
da ofensa – ainda assim mantém-se o caráter possessório da demanda, todavia por 
meio do procedimento ordinário .Sobre isso, assim se manifestou Pontes de 
Miranda:
“A ação de força velha passa a ter o rito ordinário e não mais há a 
cognição inicial, superficial, em que se fundaria a decisão do juiz, para em 
‘limine’ manter ou reintegrar. Não há qualquer adiantamento de execução. 
Em todo o caso, a diferença é só no plano do direito processual; no plano 
do direito material, a ação continua mandamental, se ação de manutenção, 
ou executiva, se de reintegração.”
Todavia, se não há – na ação de força velha – a possibilidade de concessão de liminar, 
tem-se atualmente a possibilidade de “antecipação de tutela”, aplicando-se o Art. 
2562do Código de Processo Civil.
“hoje é possível a concessão de liminar ‘initio litis’, mesmo em se tratando de 
possessória de força velha. Só que os requisitos a serem obedecidos para a obtenção 
da liminar antecipatória são os do CPC 562 e não os do sistema da ação possessória 
sob o procedimento especial do CPC 920 e seguintes”.
Reza o Código de Processo Civil:
Art. 562. Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem 
ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de 
reintegração, caso contrário, determinará que o autor justifique previamente o 
alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência que for designada.
Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público não será 
deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos 
respectivos representantes judiciais.
Diversamente do que acontece com os demais interditos possessórios, a agressão à posse ainda 
não se consubstanciou em atos materiais, restringindo-se, ainda, à esfera da AMEAÇA de 
turbação ou de esbulho.
O interdito proibitório assemelha-se a uma ação cominatória,ou seja, cabe ao Poder Judiciário, 
para proteger a posse, impor ao réu uma obrigação de não fazer – abster-se de cumprir com o 
mal prometido –, cominando-lhe uma pena pecuniária, arbitrada de forma eficaz pelo 
magistrado para o caso de transgressão.
Art. 567. O possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de ser molestado na 
posse poderá requerer ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente, 
mediante mandado proibitório em que se comine ao réu determinada pena pecuniária 
caso transgrida o preceito.
⇨ Exige-se a condição de possuidor para a propositura dos interditos possessórios, 
mesmo que não tenha título;
⇨ O detentor, por não ser possuidor, não tem legitimidade para a propositura de ações 
possessórias;
⇨ Quando o proprietário tem apenas o direito sobre a coisa, mas não a posse, não 
poderá utilizar-se dos interditos possessórios, mas sim valer-se da via petitória;
⇨ Possuidores diretos têm ação possessória contra terceiros, e também contra os 
possuidores indiretos;
⇨ A legitimidade passiva nas ações possessórias é do autor da ameaça, turbação ou 
esbulho, assim como do terceiro que recebeu a coisa esbulhada de má-fé. Se o 
terceiro é de boa-fé, o esbulhado terá direito à ação petitória;
⇨ A ação pode ser proposta tanto contra o autor do ato molestador como contra quem 
ordenou a sua prática, ou contra ambos;
⇨ Legitimada passiva para a ação é a pessoa jurídica de direito privado, autora do ato 
molestador, e não o seu gerente, seu administrador ou diretor;
⇨ As pessoas jurídicas de direito público também poderão ocupar o pólo passivo nas 
demandas possessórias. Exemplo: quando o poder público desapossa alguém sem o 
prévio e necessário processo de desapropriação também estará cometendo um esbulho 
possessório.

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