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SANTA CRUZ DO SUL - RS LINGUAGEM E PSICOMOTRICIDADE CURSO DE CAPACITAÇÃO FAVENI – FACULDADE DE VENDA NOVA DO IMIGRANTE 1 SUMÁRIO 1 PSICOMOTRICIDADE ................................................................................ 2 1.1 O Que é Psicomotricidade? .................................................................. 3 2 ELEMENTOS BÁSICOS DA PSICOMOTRICIDADE .................................. 6 2.1 Percepção e controle do corpo ............................................................. 7 3 APRENDIZAGEM E PSICOMOTRICIDADE ............................................. 11 4 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 20 5 LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................... 23 6 REFERÊNCIAS ........................................................................................ 36 7 ARTIGO PARA REFLEXÃO 2 .................................................................. 39 2 1 PSICOMOTRICIDADE Fonte: blog.tricae.com.br “Psicomotricidade é a ciência do Homem em movimento, das relações consigo e com o mundo, com o corpo, através do corpo e de sua corporeidade” – Freinet. O estudo da psicomotricidade permite compreender a forma como a criança toma consciência do seu corpo e das possibilidades de se expressar por meio desse corpo, é um dos aspectos que o trabalho psicomotor assumirá durante o período escolar será, precisamente, o de fazer com que a criança passe da etapa perspectiva à fase da representação mental de um espaço orientado tanto no espaço como no tempo. Ao estudarmos o comportamento de uma criança, percebemos como é o seu desenvolvimento. O comportamento e a conduta são termos adequados para todas as suas reações, sejam elas reflexas, voluntárias e espontâneas, ou aprendidas. Assim como o corpo cresce, o comportamento evolui. No processo de desenvolvimento a criança evolui tanto física, quanto intelectual e emocionalmente. As primeiras evidências de um desenvolvimento normal mental são as manifestações motoras. À medida que ocorre a maturação do sistema nervoso, o comportamento se diferencia e também se modifica. Inicialmente a criança apresenta uma coordenação global ampla, que são realizadas por grandes feixes de músculos. À medida que os feixes de músculos mais específicos são usados, a criança desenvolve sua coordenação fina. 3 Para que ocorra um desenvolvimento motor adequado, é necessário um amadurecimento neural, ósseo, muscular, além de crescimento físico, juntamente com o aprendizado. O desenvolvimento motor percentual se completa ao redor de 07 anos, ocorrendo, posteriormente, um refinamento da integração perceptiva-motora com o desenvolvimento do processo intelectual propriamente dito. 1.1 O Que é Psicomotricidade? Fonte: www.fundacaoaprender.org.br É o controle mental sobre a expressão motora. Objetiva obter uma organização que pode atender, de forma consciente e constante, às necessidades do desenvolvimento do corpo. Esse tipo de Educação é justificado quando qualquer defeito localiza o indivíduo à margem das normas mentais, fisiológicas, neurológicas ou afetivas. É a percepção de um estímulo, a interpretação da elaboração de uma resposta adequada. É uma harmonia de movimentos, um bom controle motor, uma boa adaptação temporal, espacial, boa coordenação viso-motora, boa atenção e um esquema corporal bem estruturado. Psicomotricidade é a ciência da educação que educa o movimento ao mesmo tempo em que põe em jogo as funções da inteligência. Movimento é o deslocamento 4 de qualquer objeto, mas a ação corporal em si, a mesma unidade bio-psicomotora em ação. A psicomotricidade está associada à afetividade e à personalidade, porque o indivíduo utiliza o seu corpo para demonstrar o que sente, e uma pessoa com problemas motores passa a ter problemas de expressão. A reeducação psicomotora lida com a pessoa como um todo, porém, com um enfoque maior na motricidade. A reeducação psicomotora deverá ser efetuada por um psicólogo com especialização em psicomotricidade (psicomotrista), pois não será apenas uma mera aplicação de exercícios, mas será desenvolvida uma adaptação de toda a personalidade da criança. Como se estrutura? _ No desenvolvimento do seu “eu” corporal; _. Na sua localização e orientação no espaço; _. Na sua orientação temporal. Como se fundamenta? Em Atividades: _ Motoras - São as atividades globais de todo o corpo. _ Sensório-motoras - É a percepção de diversas lições através da manipulação dos objetos. _ Percepto-motoras – É uma análise profunda das funções intelectuais, motoras, tais como a análise perceptiva, a precessão de representação mental, determinação de pontos de referência. Destaca-se: percepção visual. Objetivos Da Psicomotricidade As atividades psicomotoras visam propiciar a ativação dos seguintes processos: _. Vivenciar estímulos sensoriais para discriminar as partes do próprio corpo e exercer um controle sobre elas; _ Vivenciar, através da percepção do próprio corpo em relação aos objetos, a organização espacial e temporal; _. Vivenciar situações que levem a aquisição dos pré-requisitos necessários para aprendizagem da leitura escrita. 5 Para entender tais objetivos, é necessário considerar que durante a primeira infância, motricidade e psiquismo estão estreitamente ligados, da mesma forma como sabemos que o desenvolvimento motor, o afetivo e o intelectual encontram-se inseparáveis no homem. A educação psicomotora, antes utilizada somente como recurso ré educativo, atualmente é parte integrada de toda a atuação passiva do aluno, frente à atitude expositiva e controladora do professor. A psicomotricidade tem como ponto de partida o desenvolvimento psicobiológico da criança, na medida em que acompanha as leis do amadurecimento do sistema nervoso através da mielinização. Fonte: alunoon.com.br A psicomotricidade não deve ser considerada como uma matéria entre outras. Isto é, não deve dispor apenas de um momento ou um ambiente específico na programação escolar. Qualquer que seja a atividade ou tema utilizado, a psicomotricidade vai estar presente. O pensamento se constrói a partir da atividade motora que permite à criança a exploração do ambiente externo, proporcionando-lhe experiências concretas indispensáveis ao seu desenvolvimento intelectual. A liberdade deve explorar e conhecer o espaço físico e o mundo é muito importante para o seu desenvolvimento afetivo. Como fazer para oferecer condições que permitiam esse desenvolvimento? 6 Antes de tudo a criança precisa ter um conhecimento adequado de seu corpo, porque é o corpo o intermediário obrigatório entre a criança e o mundo. Esse conhecimento abrange três aspectos que são: a imagem do corpo, o conceito do corpo e a elaboração do esquema corporal. 2 ELEMENTOS BÁSICOS DA PSICOMOTRICIDADE Fonte: www.pragentemiuda.org A imagem do corpo é a própria experiência que a pessoa tem de seu corpo e se revela frequentemente através do desenho, da modelagem e que demonstra o nível de elaboração do esquema corporal; O conceito do corpo desenvolve-se posteriormente à imagem do corpo, sendo mais o conhecimento intelectual dele e de cada função de seus órgãos. O esquema corporal, segundo Pierre Vayer, é definido como organização das sensações relativas aos dados do mundo exterior, notando-se aí dois sentidos na atividade motora cinética, dirigida para o mundo exterior. A construção do Esquema Corporal elabora-se progressivamente com o desenvolvimento e o amadurecimento do Sistema Nervoso e é, ao mesmo tempo, paralela à evolução sensória motora. A educação do Esquema Corporal é, então, o 7 posto-chave de toda prática educativa. Dos 02 aos 05 anos, toda educação é uma E.P.M.baseada na estrutura do Esquema Corporal. Dos 05 aos 07 anos a psicomotricidade passa a ser a base sobre a qual se constroem as primeiras relações lógicas e a decorrente aprendizagem escolar. Toda aprendizagem deve ser feita através de experiências concretas e vivenciadas com o corpo inteiro. Voltando ao primeiro objetivo, temos que trabalhar os seguintes aspectos: _ Percepção e controle do corpo; _ Equilíbrio; _ Lateralidade; _ Independência dos membros em relação ao tronco e entre si; _ Controle muscular; _ Controle de respiração. 2.1 Percepção e controle do corpo Fonte: institutolafontaine.blogspot.com.br A criança adquire primeiro a sensação, depois o uso, e finalmente, o controle de seu corpo. Ponto de partida o conhecimento do corpo, partes do corpo, através de 8 estímulos sensoriais – superfície, temperatura, unidade, peso etc. – referenciará as partes do corpo e suas sensibilidades. Numa segunda etapa fará uso e controlará as partes independentemente uma das outras. Como? Brincando com água, tinta, areia, barro, blocos, sucata; usando determinadas partes do corpo em jogos ou em movimentos propostos; dramatizando. O equilíbrio É condição indispensável para qualquer ação diferenciada. As ações serão tanto coordenadas quanto mais a criança conseguir em posição ereta, sem precisar esforçar-se ou ficar tensa. A sensibilidade da planta do pé é muito importante para desenvolver qualquer equilíbrio, por isso é essencial que as crianças se movimentem e brinquem, tanto na areia como na sala de aula, de pé no chão. O contato do corpo com o chão deve estender-se a todo o corpo, rolando, deitando, sentando, rastejando, ajoelhando. Em movimentos de repouso a criança deverá, sempre que possível, relaxar seu corpo em direto contato com o chão que oferece sensação de segurança. Como? – Andar sobre linhas de várias maneiras, sobre beiradas de canteiros, bancos de diferentes alturas, trilhos de madeira, tijolos. Imitar animais e posições estáticas. Lançar e receber a bola. Fonte: crechecarmen.blogspot.com.br 9 Lateralidade O homem, por natureza, tem um lado do corpo dominante. Quer dizer que usa melhores olhos, ouvidos, pé e mão de um determinado lado. Normalmente, a lateralidade se define entre os 05 e os 07 anos. As crianças que, a partir dessa idade apresentam uma lateralidade não definida ou cruzada, facilmente encontrarão dificuldades na aprendizagem escolar. Como? – Atividade que exijam o uso de todo corpo com objetos grandes (pneus, bolas, caixas, blocos) e pequenos, desenvolvendo a coordenação funcional da mão e dos dedos (contas, sementes, pinos, clips, tampinhas, pregadores, cartas). Atividades em que ordena a mão a ser usada (com bolas, saquinhos de areia/feijão). Fonte: www.pragentemiuda.org Independência dos membros em relação ao tronco e entre si Para a criança é mais fácil fazer movimentos simétricos e simultâneos, pois só numa segunda etapa é que ela virá a movimentar os membros separadamente um do outro. 10 Como? – Macaco mandou – de início pedindo movimentos simétricos, aumentando a dificuldade, na medida em que as crianças puderem realizar naturalmente, movimentos assimétricos e não simultâneos. Controle muscular É muito difícil para uma criança interromper um movimento, mas esse controle da inibição é indispensável para que ela venha a adquirir, mais tarde, não só uma caligrafia, mas também a concentração necessária para a aprendizagem escolar. Como? – Inibição dos movimentos globais que envolvem todo o corpo como o andar, o correr – “Batatinha Frita”. Recreação com o uso de música. Trabalhar os “movimentos segmentários – jogos cantados “O meu chapéu tem 03 pontas”, “A galinha e o seu Kara Kara”, jogo de estátua. Controle da respiração Fonte: www.xalingo.com.br O controle respiratório contribui na formação de hábitos de se concentrar, relaxar, se acalmar. Como? – Bolhas de sabão, bolas de encher, pintura com canudo de soprar, corridas de soprar. Dramatização de aspirar e soprar. Relaxamento sentido o próprio corpo ou do companheiro. 11 3 APRENDIZAGEM E PSICOMOTRICIDADE O ser humano comunica-se por meio da linguagem verbal e corporal. A criança nos primeiros dias de vida até o início da linguagem verbal se faz entender por meio de gestos, pois os movimentos constituem a expressão global de suas necessidades. O movimento é importante no desenvolvimento da criança porque está ligado às emoções e por ser um veículo de transmissão do equilíbrio do estado interior do recém-nascido. Esse movimento possibilita o relacionamento da criança com o mundo e com as demais características inerentes da condição humana. Conforme a criança cresce, vai organizando sua capacidade motora de acordo com sua maturidade nervosa e com os estímulos do meio que a rodeiam. De acordo com Fávero (2004), a organização motora é fundamental para o desenvolvimento das funções cognitivas, das percepções e dos esquemas sensório-motores da criança. Segundo Colello (1995), a falta de atenção da escola ao movimento dos indivíduos se fundamenta na concepção dualista do homem, segundo a qual a mente predomina sobre o corpo. Apesar dos vários estudos mostrarem a importância desta área, as escolas continuam deixando em segundo plano a prática psicomotora, pois pensam no ato de escrever como sendo um ato motor que, repetido várias vezes, por meio de movimentos mecânicos e sem sentido, pode ser fixado. Portanto, a grande preocupação dos educadores durante o processo de aprendizagem limita-se ao treinamento das habilidades responsáveis pelos aspectos figurativos da escrita, como coordenação motora, discriminação visual e organização espacial. No entanto, o autor considera a escrita um ato essencialmente motor, destacado de qualquer outra esfera do desenvolvimento, seja afetiva, cognitiva ou social. De acordo com Negrine (1980), as aprendizagens escolares básicas devem ser os exercícios psicomotores, e sua evolução é determinante para a aprendizagem da escrita e da leitura. Fávero (2004) realizou um levantamento dos estudos que mostram a importância do desenvolvimento psicomotor para as aprendizagens escolares como os de Furtado (1998), Nina (1999), Cunha (1990), Oliveira (1992) e Petry (1988). Para Furtado (1998), provocando-se o aumento do potencial psicomotor da criança, amplia- se também as condições básicas para as diversas aprendizagens escolares. Em um 12 estudo sobre o grau de influência dos aspectos psicomotores sobre prontidão para ler e escrever em escolas de classes de alfabetização do ensino infantil, Nina (1999) destaca a necessidade de, desde o ensino pré-escolar, serem oferecidas atividades motoras direcionadas para o fortalecimento e consolidação das funções psicomotoras, fundamentais para o êxito nas atividades do bom aprendizado da leitura e escrita. Estudos anteriores realizados por Cunha (1990) mostraram a importância do desenvolvimento psicomotor e cognitivo. Além disso, a autora constatou que as crianças com nível mais alto de desenvolvimento psicomotor e conceitual são as que apresentam os melhores resultados escolares. Em outra pesquisa, Oliveira (1992) identificou entre as dificuldades de aprendizagem às que são relacionadas ao desenvolvimento psicomotor e, a partir disso, desenvolveu uma investigação mostrando como o desenvolvimento adequado da psicomotricidade pode auxiliar para que alguns dos pré-requisitos para a escrita sejam alcançados. Petry (1988) reafirma a importância do desenvolvimento dos conceitos psicomotores, ressaltando que as dificuldades de aprendizagem em crianças de inteligência média podem se manifestar quanto à caracterização de letras simétricas ela inversão do “sentido direita-esquerda”, como, por exemplo, b, p, q ou por inversão do “sentido em cima em baixo”, d, p, n, u, ou aindapor inversão das letras oar, ora, aro. De acordo com a autora, a compreensão de conceitos como perto, longe, dentro, fora, mais perto, bem longe, atrás, embaixo, alto, mais alta será facilitada com série de ações no espaço, com o corpo em movimento. 13 Fonte: psicopedagogialudica.blogspot.com.br Os estudos citados acima mostram a importância de se estimular o desenvolvimento psicomotor das crianças, pelo fato deste ser fundamental para a facilitação das aprendizagens escolares, pois é por meio da consciência dos movimentos corporais e da expressão de suas emoções que a criança poderá desenvolver os aspectos motor, intelectual e soco emocional. Segundo Fávero (2004), para escrever é preciso que se tenha orientação espacial suficiente para situar as letras no papel, para adequá-las em tamanho e forma ao espaço de que se dispõe. E, além disso, precisa-se dirigir o traçado da esquerda para a direita, de cima para baixo, controlando os movimentos de maneira a não segurar o lápis nem com muita força nem com pouca força, é necessário que a escola ofereça condições para a criança vivenciar situações que estimulem o desenvolvimento dos conceitos psicomotores. Essas restrições podem levar a criança a dificuldades de aprendizagem, repercutindo no desempenho escolar. Neste sentido, Negrine (1986, p. 61) afirma que as dificuldades de aprendizagem vivenciadas pelas crianças “são decorrentes de todo um todo vivido com seu próprio corpo, e não apenas problemas específicos de aprendizagem de leitura, escrita, etc.” Assim, os aspectos psicomotores exercem grande influência na aprendizagem, pois as limitações apresentadas pelas crianças 14 na orientação espacial podem tornar-se um fator determinante nas dificuldades de aprendizagem. Para Ajuriaguerra (1988), a escrita é uma atividade que obedece a exigências precisas de estruturação espacial, pois a criança deve compor sinais orientados e reunidos de acordo com as leis, depois deve respeitar essas leis de sucessão que fazem destes sinais palavras e frases tornando a escrita uma atividade espaço- temporal. Para Fonseca (1995), um objeto situado a determinada distância e direção é percebido porque as experiências anteriores da criança levam-na a analisar as percepções visuais que lhe permitem tocar o objeto. É por meio dessas que resultam as noções de distância e orientação de um objeto com relação a outro, e assim a criança começa a transpor essas noções gerais a um plano mais reduzido, que será de extrema importância quando na fase do grafismo. Fonseca (1983) destaca que na aprendizagem da leitura e escrita a criança deverá obedecer ao tempo de sucessão das letras, dos sons e das palavras, fato este que destaca a influência da estruturação temporal para a adaptação escolar e para a aprendizagem. Fonte: terapeutadafala-porto.blogspot.com.br Colello (1995) afirma que, além dessas dificuldades inerentes ao ato de escrita, existe ainda a dificuldade que os professores têm em diagnosticar as dificuldades de aprendizagem e relacioná-las ao desenvolvimento psicomotor. Em sala de aula, os professores trabalham a motricidade infantil como uma atividade mecanizada do 15 movimento das mãos e as aulas de educação física parecem se restringir a atividades de recreação nas quais o movimento parece ter um fim em si mesmo. Para o autor, até mesmo os professores de Educação Física têm mostrado dificuldades em perceber a importância do movimento para o desenvolvimento integral da criança. Segundo Tomazinho (2002, p. 50), o desenvolvimento corporal é possível graças a ações, experiências, linguagens, movimentos, percepções, expressões e brincadeiras corporais dos indivíduos. As experiências e brincadeiras corporais assumem um papel fundamental no desenvolvimento infantil, pois enfatizam a valorização do corpo na constituição do sujeito e da aprendizagem, assim a “[...] pré- escola necessita priorizar, não só atividades intelectuais e pedagógicas, mas também atividades que propiciem seu desenvolvimento pleno”. De acordo com Oliveira (1996, p. 182), a psicomotricidade contribui para o processo de alfabetização à medida que procura proporcionar ao aluno as condições necessárias para um bom desempenho escolar, permitindo ao homem que se assume como realidade corporal e possibilitando-lhe a livre expressão. A psicomotricidade caracteriza-se como uma educação que se utiliza do movimento para promover aquisições intelectuais. Para a autora, a inteligência pode ser considerada uma adaptação ao meio ambiente e para que esta aconteça é necessário que o indivíduo apresente uma manipulação adequada dos objetos existentes ao seu redor, “[...] esta educação deve começar antes mesmo que a criança pegue um lápis na mão [...]”. Fonte: www.fonoterapia.com.br 16 O ponto de referência que os seres humanos têm para conhecer e interagir com o mundo é o corpo. Este elemento serve como base para o desenvolvimento cognitivo e conceitual, incluindo os presentes para a aprendizagem de conceitos na atividade de alfabetização. Por essa razão, o desenvolvimento do movimento por meio da psicomotricidade auxilia a criança a adquirir o conhecimento do mundo que as rodeia. Fávero (2004) ressalta que o desenvolvimento psicomotor não é o único fator responsável pelas dificuldades de aprendizagem, mas um dos que podem desencadear ou agravar o problema. As dificuldades de aprendizagem relacionadas à escrita alteram o rendimento escolar. Crianças com dificuldades de escrita podem apresentar disfunção nas habilidades necessárias para uma aprendizagem escolar efetiva, e estes fatores podem ser acentuados pelos déficits psicomotores. Sabe-se que atualmente condições socioculturais fazem com que as crianças sejam privadas do movimento, como bem lembra Fávero (2004, p. 55) “[...] a escola, como responsável pela educação global deveria proporcionar através das suas aulas atividades que levassem à criança condições para um desenvolvimento harmonioso em termos psicomotores”. A escrita exige o desenvolvimento de habilidades específicas e um esforço intelectual proporcionalmente superior às aprendizagens anteriores da criança. Na escrita ocorre a comunicação por meio de códigos que variam de acordo com a cultura, e sua aprendizagem se dá pela realização da cópia, do ditado e na escrita espontânea. Fonte: www.fonoterapia.com.br 17 Segundo Fávero (2004), a escrita espontânea envolve um grau maior de dificuldade, pois o modelo visual e auditivo está ausente e envolve a tomada de decisões acerca do que vai ser escrito e como será escrito. Antes de se escrever algo é preciso gerar uma informação, organizá-la de forma coerente para posteriormente escrevê-la e revisar o que foi escrito. É preciso diferenciar as letras dos demais signos e determinar quais são as letras que devem ser empregadas, além disso, a escrita pressupõe um desenvolvimento motor adequado, pois certas habilidades são essenciais para que a atividade ocorra de maneira satisfatória. Ajuriguerra (1988), Ferreiro (1985) e Cagliari (2000), ao estudarem a aquisição da escrita, constataram que esta aquisição não deve ser restrita a simples decodificação de símbolos ou signos, pois o processo de aquisição da língua escrita é complexo e anterior ao que se aprende na escola. A grande dificuldade que os educadores enfrentam está em compreender os fatores que diferenciam as crianças que conseguem dominar a linguagem escrita das que não conseguem. Segundo Escoriza Nieto (1998), foi somente a partir da década de 1970 que as pesquisas começaram a buscar explicar os processos cognitivos envolvidos na atividade escrita. Fonte: comoeducarseusfilhos.com.br Para Gregg (1992 apud GARCIA, 1998) as dificuldades encontradas no processo de alfabetização vão desde o desenvolvimento das habilidades de escrita (disgrafia)e erros de soletração até erros na sintaxe, estruturação e pontuação das 18 frases, bem como a organização de parágrafos. No começo do processo de alfabetização o que mais se observa são: confusão de letras, lentidão na percepção visual, inversão de letras, transposição de letras, substituição de letras, erros na conversão símbolo-som e ordem de sílabas alteradas, essas dificuldades podem se manifestar ao se soletrar ou escrever uma palavra ditada ou copiada. É possível encontrar crianças com boa capacidade de expressão oral, mas com dificuldades para escrever, alunos que se expressam oralmente com dificuldade e escrevem as palavras mal e sujeitas que escrevem bem as palavras, mas se expressam mal. Essas dificuldades, se consolidadas ao longo da infância, tornam-se mais evidentes no ambiente escolar, onde o processo de aprendizagem é institucionalizado. Ajuriaguerra (1988) destaca que a escrita envolve, além de habilidades cognitivas, as habilidades psicomotoras, pois o ato de escrever está impregnado pela ação motora de traçar corretamente cada letra e constituir a palavra. Quando se coloca em questão o desenvolvimento motor, é necessário, além da maturação do sistema nervoso, a promoção do desenvolvimento psicomotor, objetivando o controle, o sustento tônico e a coordenação dos movimentos envolvidos no desempenho da escrita. Fonte: dreamygirlofficial.blogspot.com.br 19 Segundo Ferreira (1993, p.18), não existe aprendizagem sem que seja registrada no corpo. Para a autora, a participação do corpo no processo de aprendizagem se dá pela ação do sujeito e pela representação do mundo. Todo conhecimento apresenta um nível de ação (fazer os movimentos) e um nível figurativo (dado pela imagem pela configuração) que se inscreve no corpo. Pensando no desenvolvimento da criança de forma integrada e buscando entender aspectos físicos, afetivos, cognitivos e sociais, é necessário o estudo do desenvolvimento psicomotor. Fonte: www.dicasfree.com Estudos (SISTO et al, 1994; FINI et al, 1994) partem do pressuposto de que o baixo rendimento escolar pode ser compreendido como uma manifestação das dificuldades de aprendizagem. Mais especificamente, os estudos de Tomazinho (2002), Oliveira (1992) e Fávero (2004) mostram a procedência de identificar entre as dificuldades de aprendizagem às que são relacionadas ao desenvolvimento psicomotor e, a partir desses dados, mostrar a necessidade de se abordar os esquemas motores nas primeiras séries como prevenção à dificuldade de aprendizagem de escrita. 20 4 BIBLIOGRAFIA AJURIAGUERRA, J. A Escrita Infantil – Evolução e Dificuldades. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988. CAGLIARI, L. C. Alfabetização e Linguística. 10ª ed. São Paulo: Scipione, 2000. COLLELO, S. M. G. Alfabetização em questão. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. CUNHA, M.F.C. Desenvolvimento psicomotor e cognitivo: influência na alfabetização de criança de baixa renda. 1990. 250 f. Tese (Doutorado) – Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo. São Paulo, 1990. ESCORIZA NIETO, J. Dificultades em el proceso de composición del discurso escrito. In: BERMEJO, V. S. e LLERA, J. A. B. Dificultades de aprendizaje. Madrid: Editorial Sntesis, 1998. FÁVERO, Maria Tereza M. Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem da escrita. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de Maringá, 2004. FERREIRA, Isabel Neves. Caminhos do aprender: uma alternativa educacional para criança portadora de deficiência mental. Brasília: Coordenação nacional para interação da pessoa portadora de deficiência, 1993. FERREIRO, E. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez, 1985. FINI, L.; OLIVEIRA G.; SISTO F.; SOUZA M.; BRENELLI R. Avaliação escrita de matemática: em busca de explicação. Zetetiké, Campinas, v.4, n.6, p. 25-43, 1994. FONSECA, V. da. Psicomotricidade. São Paulo: Martins Fonte, 1983. ____ Introdução as Dificuldades de Aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995 21 FURTADO, V. Q. Relação entre Desempenho Psicomotor e aprendizagem da Leitura e Escrita. 1998. 95 f. Dissertação (mestrado) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1998. GARCIA, J. N. Manual de Dificuldades de Aprendizagem – Linguagem, leitura, escrita e matemática. Ed. Artes Médicas, Porto Alegre, 1998. INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Disponível em: < www.inep.gov.br> 2012. INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Disponível em: < www.inep.gov.br> 20009. Instituto Paulo Montenegro. Disponível em: < www.inep.gov.br> 2012. NEGRINE, A. A Educação Física e a Educação Psicomotriz. Revista Brasileira de Educação Física e Desportos. Brasília: MEC, 44: 60-63, jan./mar. 1980. NINA, Afonso C. B. 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Dissertação (Mestrado) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo: 2002. 23 5 LEITURA COMPLEMENTAR ARTIGO PARA REFLEXÃO Autores: Cleuza Aparecida Fagundes Vaz e Helenice Maria Tavares Disponível em: http://catolicaonline.com.br/revistadacatolica2/artigos n4v2/17-pedagogia.pdf Acesso em: 15 de setembro de 16 A IMPORTÂNCIA DA LINGUAGEM CORPORAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL1 Cleuza Aparecida Fagundes Vaz2 E Helenice Maria Tavares3 RESUMO Este estudo tem como objetivos analisar a importância da expressão corporal e sua dimensão, bem como repensar a prática pedagógica a partir da expressão corporal e contribuir como possível alternativa pedagógica capaz de facilitar a compreensão das mais diversas formas de expressar e interagir da criança com no ambiente escolar, abordando a psicomotricidade como aliada do processo de ensino e aprendizagem na educação infantil. Mediante pesquisa bibliográfica, verificou-se a importância de ver a criança como um conjunto: corpo-mente e afetivo no processo de ensino sistematizado especialmente na Educação infantil. Além disso, reafirma a importância da psicomotricidade na educação infantil, pois sua prática proporcionará a oportunidade da vivencia através do jogo simbólico e a exploração da linguagem corporal a partir da observação do educador contribuindo com a capacidade de aprendizagem a evolução da criança. 1 Trabalho apresentado para conclusão do curso de Especialização em Psicomotricidade pela Faculdade Católica de Uberlândia 2 Aluna do curso de Especialização em Psicomotricidade pela Faculdade Católica de Uberlândia. 3 ProfessoraOrientadora do curso de Especialização em Psicomotricidade pela Faculdade Católica de Uberlândia. E-mail: tavareshm@netsite.com.br http://catolicaonline.com.br/revistadacatolica2/artigosn4v2/17-pedagogia.pdf http://catolicaonline.com.br/revistadacatolica2/artigosn4v2/17-pedagogia.pdf 24 Palavras-chave: Expressão Corporal. Educação Infantil. Psicomotricidade. Vermos crianças presas em salas de aula, em apartamentos, ter que ficarem quietas para aprender fazendo em aula só o lazer sem compromisso educativo, são motivos suficientes para pensarmos nossa atuação [...] e propormos uma alternativa. (GIRARDI, 1993, p. 84) Um dos grandes problemas encontrados hoje pelos profissionais que atuam na educação infantil é como lidar com a diversidade desse mundo. As crianças estão chegando com inquietações, problemas de ordem emocional, afetivo e uma capacidade intensa de busca e vontade de explorar tudo o que está a sua volta. Essas crianças trazem consigo uma história muitas vezes marcada por grandes desafetos que interferem no seu comportamento, nas relações interpessoais e na construção da aprendizagem. Tendo em vista a temática do presente estudo, esta pesquisa espera indicar possíveis direções que consideramos essenciais quando se pretende levar em conta o ensino e a aprendizagem de maneira produtiva e satisfatória. Assim, este estudo tem como objetivos analisar a importância da expressão corporal e sua dimensão, bem como repensar a prática pedagógica a partir da expressão corporal e contribuir como possível alternativa pedagógica capaz de facilitar a compreensão das mais diversas formas de expressar e interagir da criança com no ambiente escolar, abordando a psicomotricidade como aliada do processo de ensino e aprendizagem na educação infantil. Sua elaboração se pautou na pesquisa bibliográfica, que segundo Gil (1999, p. 65): A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. A linguagem corporal é um elo integrador entre os aspectos motores, cognitivos, afetivo e social. Por isso partimos do pré-suposto que o nosso corpo é um conjunto fantástico de estruturas e funções complexas e sutis. Se prestarmos atenção verá que todo pensamento é expresso através do nosso corpo de alguma forma, gestos, caras, bocas, sorriso, choro... O corpo é nossa casa. 25 A criança consegue organizar o mundo a sua volta quando vivem experiências sensórias motoras, ou seja, interage com os órgãos do seu corpo e o mundo que a cerca, só então ela se localiza, assimila, identifica e formula conhecimento. A educação infantil surge da necessidade de se ter um local onde os pais diante da necessidade de trabalhar precisavam de um local em que pudessem deixar seus filhos sobre os cuidados de outras pessoas. Enquanto para as famílias mais abastadas pagavam uma babá, os pobres se viam na contingência de deixar os filhos sozinhos ou colocá-los numa instituição que deles cuidassem. Para os filhos das mulheres trabalhadoras, a creche tinha que ser de tempo integral; para os filhos de operárias de baixa renda, tinha que ser gratuita ou cobrar muito pouco; ou para cuidar da criança enquanto a mãe estava trabalhando fora de casa, tinha que zelar pela saúde, ensinar hábitos de higiene e alimentar a criança. A educação permanecia assunto de família. Essa origem determinou a associação creche, criança pobre e o caráter assistencial da creche. (DIDONET, 2001, p. 13) As primeiras instituições de educação infantil nasceram na França no século XVIII, devido à situação de abandono, maus tratos e pobreza. Os objetivos e formas de tratar as crianças mais pobres da sociedade não eram consensuais, setores da elite defendiam a idéia de que não seria bom para a sociedade como um todo que se educassem as crianças pobres, era proposta a educação da ocupação e da piedade (OLIVEIRA, 1995). As instituições infantis, inclusive no Brasil organizavam seu espaço e sua rotina em função de idéias assistencialistas de custodia e higiene das crianças. Segundo o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (RCNEI) a expansão da educação infantil no Brasil e no mundo tem ocorrido de forma crescente nos últimos tempos, acompanhando a intensificação da urbanização e a participação da mulher no mercado de trabalho e as mudanças nas estruturações familiares. A partir de então as instituições passaram a ser pensadas e reivindicadas como lugar de educação e cuidados coletivos para criança de zero a seis anos de idade. A conjunção desses fatores permitiu o reconhecimento social desses direitos manifestados pelos movimentos populares e por grupos organizados da sociedade civil. (BRASIL, 1998) A Constituição Brasileira de 1988 no artigo 208, inciso IV, pela primeira vez na história do Brasil, definiu como direito das crianças de zero a seis anos de idade e dever do estado o atendimento a infância. (BRASIL, 1988) 26 O Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 destaca também o direito da criança a esse atendimento. (BRASIL, 1990) Reafirmando essas mudanças a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional Lei nº. 9.394 sancionada em 20 de dezembro de 1996 (LDB) estabelece de forma incisiva o vínculo entre o atendimento à criança de zero a seis anos a educação. (BRASIL, 1996) Art. 29. A educação infantil, primeira etapa tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físicos, psicológicos, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Art. 30. A educação infantil será oferecida em: I – Creches, ou entidades equivalentes, para criança de até três anos de idade; II – Pré-escolas para as crianças de quatro a seis anos de idade. Art. 31. Na educação infantil a avaliação far-se-à mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental. (BRASIL, 1996, p. 56) Nos últimos quatro anos, os estados, municípios e o distrito federal estão passando por um período de transição, pois foi sancionada a lei 11.274, que dispõe sobre a duração de nove anos para o ensino fundamental. Consta a lei: "Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão.” (BRASIL, 2006, s.p.) Diante dessa evolução significativa da educação infantil, a necessidade de atualização dos profissionais que trabalham com estas crianças é de relevante importância e as práticas psicomotoras muito podem contribuir com o desenvolvimento integral dessas crianças que possuem uma natureza singular, são seres que pensam e sentem o mundo de um jeito muito próprio e estabelece relações com o outro e o mundo que as rodeiam tudo isto pode ser levado à criança por intermédio da psicomotricidade, que deve ser considerada como princípio norteador na educação infantil, pois favorece que a criança tome consciência do seu corpo. Abordar a origem e a evolução da psicomotricidade é antes de tudo estudar a significação do corpo ao longo da história da civilização humana. (NEGRINE, 1995) Para Levin (1995) a história da psicomotricidade é solidária a história do corpo, ou seja, a psicomotricidade tem seu início desde que o homem passou a existir, a falar e andar, a partir deste instante ele falará do seu corpo. Sendo assim o homem vai 27 construindo com o seu corpo um longo percurso histórico com expressões discursivas e carregadas de significado no campo psicomotor. Para a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade: A Psicomotricidadeé uma ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao processo de manutenção, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas afetivas e orgânicas (S. B. P., 1999, s. p.). Segundo Levin (1995) o termo psicomotricidade surgiu na França no final do século XIX,a partir dos estudos da neuropsiquiatria infantil de Dupré, que na observação de pacientes definiu a síndrome da debilidade motora, caracterizada pela presença de sinesias, paratonias e inabilidades, rompendo a correlação entre a perturbação motora e a síndrome. Dessa forma, ele evidenciou o paralelismo psicomotor, ou seja, uma estrita relação entre o desenvolvimento da motricidade, da inteligência e da afetividade. Tal paralelismo psicomotor definiu-se como uma tentativa de superação do dualismo cartesiano – corpo e mente. Negrine (1995) aponta que Wallon (1925) trouxe suas contribuições para a psicomotricidade, sendo que seus estudos relacionam motricidade, afeto, emoção e meio ambiente aos hábitos da criança. Ressalta ainda que Guilmaim (1935) desenvolveu um exame psicomotor para fins de diagnóstico, de indicação da terapêutica psicomotora e de prognóstico. Determinava-se assim um método de trabalho: a reeducação psicomotora que é feita através de baterias de exercícios físicos programados. No final da década de 40, a psicomotricidade começou a se diferenciar de outras ciências adquirindo sua própria especificidade e autonomia. Essa mudança aconteceu devido ao surgimento de técnicas ligadas aos distúrbios psicomotores propostas por Julian de Ajuriaguerra, psiquiatra que conseguiu romper com a hegemonia neurológica e com o conceito do paralelismo psicomotor mudando, dessa forma, a história da psicomotricidade. (LEVIN, 1995) São consideráveis as contribuições de Piaget que serve de pilar a construção do campo da psicomotricidade. Pois ele considera a relação da motricidade com a inteligência, antes da aquisição da linguagem Para Piaget, a inteligência é uma adaptação ao meio ambiente e para que ela se desenvolva é necessário que o 28 indivíduo explore o meio ao qual está inserido. A partir desses experimentos motores ele percebe as inter-relações entre a motricidade e a percepção. (OLIVEIRA, 2007). “Historicamente desde o ano de 1900 até a presente data, o percurso e a evolução do campo psicomotor desenvolvem-se, no nosso modo de ver, de acordo com diferentes cortes que vão modificando e esboçando um acionar clínico específico”. (NEGRINE, 1995, p. 30) É importante situar-se na história da psicomotricidade compreendendo que sua evolução está relacionada a três diferentes momentos que norteiam suas práticas fazendo com que esta se torne cada vez mais peculiar e específica. O primeiro corte epistemológico foi influenciado pela neuropsiquiatria, predominando a prática reeducativa. Há a tentativa de superação do dualismo cartesiano. Nesta primeira etapa o corpo é visto como uma “ferramenta de trabalho para o reeducador que se propõe a concertá-lo”. (LEVIN, 1995, p.30) No segundo corte surgem às contribuições da psicologia, especialmente a genética. Nesse momento o corpo é visto como um instrumento de construção da inteligência priorizando a educação psicomotora. E por fim o terceiro corte, quando a área da psicanálise efetiva suas contribuições. A partir daí o olhar se direciona para um sujeito com o seu corpo em movimento, um sujeito desejante, que fala, anda e se expressa. (LEVIN, 1995) É importante à compreensão da história da psicomotricidade e a sua origem para que se possa entender que no decorrer do processo histórico existe uma apropriação deste saber por parte de psicólogos e pedagogos que utilizam desses recursos no campo da educação, reeducação e terapia. Negrine (1995) se refere a educação psicomotora como sendo uma ação pedagógica que tem como objetivo principal o desenvolvimento motor e mental da criança, com a finalidade de levá-la a dominar o próprio corpo e adquirir uma inibição voluntária. Para Meur; Staes (1991) a reeducação psicomotora é dirigida às crianças que sofrem de perturbações mentais, atrasos ou dificuldades psicomotoras. Trata-se de diagnosticar as causas dos problemas e de fazer um balanço das aquisições e das carências, antes de fixar um programa de reeducação. Lapierre e Aucouturier (1980, apud. MEUR; STAES, 1991) indicam a terapia psicomotora em especial para as crianças portadoras de grandes perturbações e cuja 29 adaptação é de ordem patológica, considerando assim a necessidade de uma vasta formação prática, técnica e teórica ao terapeuta, pois só assim este estará preparado para interpretar atitudes corporais, e as reações tônico-afetivas e emocionais. A psicomotricidade funcional se originou dentro de um modelo biomédico, ou seja diagnóstico-tratamento. Suas bases teóricas são sustentadas por uma concepção maturacionista de desenvolvimento humano, que compreendem que esse desenvolvimento acontece com o amadurecimento do nosso equipamento biológico. É importante ressaltar que a psicomotricidade funcional utiliza um método direto e testes padronizados para traçar o perfil psicomotriz da criança, não permitindo oportunidades a esta de exteriorização e expressão psicomotriz. Esse modelo de psicomotricidade consiste no objetivo de diagnosticar e tratar crianças com algum tipo de dificuldade e para tanto se utilizavam das baterias de testes e tomavam emprestados da Educação física as famílias de exercícios Os estudiosos da psicomotricidade não empregam uma classificação única e tampouco fazem uso de uma terminologia comum para as diversas funções psicomotoras. (NEGRINE, 1995) Lê Boulch (1983, apud. MELLO, 1993) cita as seguintes funções da psicomotricidade, a estruturação do esquema corporal, coordenação dinâmica geral, motricidade gráfica, lateralidade, relação corpo-tempo e percepção temporal e tono muscular. Fonseca faz referência à noção do corpo ou somatognosia, equilibração, coordenação dinâmico-manual, lateralidade, controle da respiração, estruturação espaço-temporal, ritmo, dissociação e tonicidade. Coste aborda o esquema corporal, coordenação, motricidade fina, preensão e coordenação óculo-manual, lateralidade e estruturação espaço-temporal. Verifica-se, entretanto que as diferentes classificações e terminologias aplicadas denotam diferenças sensíveis entre a concepção dos autores. O que geralmente acontece é que cada autor ressalta certas funções psicomotora sob determinados aspectos, e tratam as demais agrupadas a essas primeiras (MELLO,1993, p.37) Segundo Le Boulch (1983, p. 37 apud. MELLO,1993, p.37-38) esquema corporal é a consciência que o sujeito tem do seu próprio corpo, de suas partes com movimentos corporais estáticos ou dinâmicos, na relação com os espaços e os objetos que o rodeiam nas posturas e nas atitudes. 30 Para Mello (1993) a tonicidade é uma tensão dos músculos, pela qual as posições relativas das diversas partes do corpo são corretamente mantidas e que se opõem as modificações passivas dessas posições e o equilíbrio é capacidade que o sujeito tem de manter-se sobre uma base reduzida de sustentação do corpo. Para o autor a lateralidade: É a capacidade de vivenciar as noções do hemisférico direito e hemisférico esquerdo do corpo sobre o mundo exterior. Diferenciando-se do conceito de dominância lateral que significa o domínio ocular, auditivo e sensório-motor de um dos membros superiores ou inferiores, que devem ocorrer em todas as pessoas. (MELLO, 1993, p.39) A Organização espacial é a capacidade do sujeito de orientar-se diante de um espaço físico e de perceber a relação da proximidade de coisas entre se. Refere-se às relaçõesde perto, longe em cima, embaixo, dentro, fora, etc. Já a organização temporal é a capacidade de avaliar intervalos de tempo e de estar ciente dos conceitos de tempo, caracterizando-se pela aquisição de noções de direção, localização, posição e disposição do espaço. (MELLO, 1993). A capacidade perceptiva é a aquisição de conhecimentos por meio de impressões sensoriais do mundo exterior e do próprio corpo, utilizando os órgãos dos sentidos: a visão, o olfato, o paladar, a audição e o tato. (SOUZA FILHO, 2001) A coordenação motora global para Mello (1993, p. 38) é definida como “a colocação em ação simultânea de grupos musculares diferentes, com vistas à execução de movimentos amplos e voluntários mais ou menos complexos, envolvendo principalmente o trabalho de membros inferiores, superiores e do tronco.” A coordenação motora fina para o mesmo autor é o trabalho de forma ordenada dos pequenos músculos. Engloba as principais atividades: manual e digital, ocular, labial e lingual. “A coordenação viso motora manual e pedal. É a capacidade de coordenar a visão com os movimentos do corpo todo ou de partes com influência nos seguintes movimentos cortar, bordar, desenhar e escrever.” (HURTADO, 1991, p.33) Essas funções muito têm contribuído para as práticas pedagógicas atualmente principalmente na educação infantil. Para Negrine (1995), Lapierre e Aucouturier inovaram a psicomotricidade e juntos vivenciaram períodos distintos na evolução histórica desta ciência, sejam eles: os períodos continuador, inovador e ruptura. No período continuador a 31 psicomotricidade passa de vertente reeducativa e terapêutica para uma vertente educativa e segue uma linha funcionalista. Havia uma inquietação dos psicomotricistas com relação a mudança de paradigma de atuação, muitos estudos, mas na prática a atuação continuava a mesma: funcional. O período inovador é a evolução para uma postura vivenciada, cita que: “O mais importante na prática relacional é trabalhar com o que a criança tem de positivo, o que ela sabe fazer, e não preocupar-se com o que ela não sabe”. (NEGRINE, 1995, p.58) Neste período, Lapierre e Aucouturier, atuavam juntos, priorizando a prática vivenciada. O distanciamento entre Lapierre e Aucouturier denomina-se como período de ruptura causado pela busca de uma prática coerente como os princípios inovadores proposto por ambos os autores. Suas diferenças fundamentais se baseiam na forma de interação com as crianças na tentativa de entender e potenciar o jogo durante a seção psicomotora. A partir do ponto de vista vivencial denotam que se devem formular estratégias de interpretação pedagógica através da via corporal, ou seja, o componente pedagógico principal na prática psicomotriz para provocar exteriorização da criança será o jogo e o livre brincar. A psicomotricidade vivenciada que se baseia nos métodos-não-directivos para a busca dos seus objetivos. Estes métodos permitem interpretações relevantes por parte do educador em relação aos atos da criança, seja através da expressão corporal e fala, este viés da psicomotricidade surge com variadas abordagens, inclusive na França, berço desta prática. Podemos citar autores como: André Lapierre e Bernard Aucouturier, que são franceses e pilares da psicomotricidade com enfoque relacional. É importante ressaltar que existem nuances dentro da psicomotricidade vivenciada e que psicomotricistas que tiveram a mesma formação inicial, no decorrer de seus estudos acabam seguindo linhas diferentes e como exemplo Aucouturier e Lapierre. As práticas vivenciadas utilizam o lúdico como ferramenta do trabalho de prevenção durante o jogo e o brincar o sujeito tem a oportunidade de representarem vários palpeis, ao terminar as atividades de representação, permitindo uma compreensão dos processos afetivos. Através da observação dele em contato com o 32 mundo, por intermédio de suas relações com o seu corpo, suas ligações afetivas com o outro. Negrine (1995) explica a importância do ato de brincar como um elemento motivador a fim de provocar a exteriorização da criança, e que tal prática impulsiona processos de desenvolvimento da aprendizagem. Os principais objetivos da prática vivenciada são: a oportunidade de vivenciar diversas experiências corporais, estimular vivência simbólica, facilitar a comunicação da criança em suas várias dimensões. O espaço destinado a estas práticas pode ser: aberto ou fechado de acordo com a realidade da instituição que a exerce. O importante é que seja um espaço em que permita a criança uma maior expressividade motriz, uma prática de desinibição. O espaço deve ser organizado previamente, tal organização serve de referência e ajuda a expressão mental da criança. Algumas recomendações para organização do espaço: espaço para ritual de entrada; espaço para construção e representação; espaço para jogos e exercícios, e esse deve ser um espaço onde a criança se exteriorize através de exercícios, ou jogos. A frequência da prática deve ser de três vezes semanais. Deve-se determinar um tempo disponível para os alunos verbalizarem suas produções. Para implementação desta prática, utiliza-se materiais diversos, seja eles: aparelhos fixos, espaldar, banco sueco, cavalo de pau, massa de modelar, papel e giz de cera, jornal, caixa de papelão, materiais e aparelhos para exercitar e jogar, almofadas, colchões, pneus, materiais de sucata e peças de vestuário (para fantasiar), tecido, corda, aros. A oferta desses materiais deve ser de forma alternada. Trabalhar a psicomotricidade significa oportunizar a criança diferente vivências para construção de novas experiências, que se baseiam nos parâmetros psicomotores que podem ser definidos como um conjunto de elementos a partir dos quais a expressividade motora pode ser analisada. Tais parâmetros reúnem em sua denominação a exploração que a criança realiza, do mundo externo até ser constituídos para aspectos como o movimento, o espaço, o tempo, os objetos e o outro. (SÁNCHEZ; MARTINEZ; PENALVER, 2003). O movimento é intrínseco a vida, permite a aquisição de experiências, suas condutas podem ser de aspectos planejado, organizado, reflexão e vivência, e refletem relação entre o plano afetivo, emocional e cognitivo. 33 As práticas psicomotoras vivenciadas tiveram como precursores André Lapierre e Bernard Aucouturier. O primeiro criou a psicomotricidade relacional fundamentada na teoria de Henry Wallon e destaca como ferramentas essenciais para compreensão do ser humano. Atualmente é um diferencial na atuação profissional em vários segmentos sociais, tais como: escolas, clínicas, empresas e outros. É através do nosso corpo que mostramos nossos desejos, nossas frustrações e nossas ansiedades. A psicomotricidade relacional vem ao encontro dos alunos como prevenção, levando-os a alcançar o equilíbrio e o desenvolvimento. Já Prática Psicomotora Aucouturier determina que na seção, o jogo de pulsão (jogo sensório motor classificação de Piaget) deve ser potencializado e a partir da psicomotricidade tem sua função até os oito anos. Aucouturier possui uma característica importante a respeito da psicomotricidade, que é seguida por diversos psicomotricistas, que é a organização da seção psicomotora que segue uma sequência temporal, isto é, a criança deve seguir uma determinada ordem para executar os jogos: momento inicial ou ritual de entrada; jogos de segurança profunda; jogos de prazer sensório motor; narração da história, atividades de representação e momento final ou ritual de saída. É importante ressaltar que as seções são realizadas somente em ambientes fechados. Assim, a psicomotricidade contribui de maneira expressiva para a estruturação e formação do esquema corporal da criança e tem como um dos objetivos a expressão dos sentimentos por intermédio do corpo, valorizando a linguagemdo corpo. “Se pararmos para observar verá que em determinadas ocasiões expressamos através do olhar, do sorriso, do corpo, reações de carinho ou de repulsa em alguns momentos até tentarmos disfarçar essas sensações, percepções, sentimentos, porém o corpo não é escravo da mente”. (GIRARDI, 1993, p. 76) Portanto o corpo não se separa da mente e suas expressões revelam evidentemente emoções diferentes, suas imagens mostram as atitudes que são expressas em determinadas situações. As expressões podem ser influenciadas pelo meio ambiente. A primeira forma de comunicação entre a mãe e seu bebe são os movimentos expressivos do corpo e do rosto, que revelam energia e vivacidade. Para que haja comunicação é necessário apenas que o receptor entenda a mensagem do emissor que pode acontecer consciente ou inconscientemente. É 34 importante ressaltarmos então que o corpo fala, cria e aprende com o movimento, expressando-se através dos gestos que são ricos de sentidos e intencionalidades. Entretanto pela vivencia de repressão, os sujeitos deixam de perceber seu próprio corpo. Segundo Girardi (1993) podemos verificar que os adultos por medo de sentir, não se permitem viver seu próprio corpo, pois ao longo da história o corpo é tido como feio, podre e objeto de punição pelos erros cometidos. Na idade média em tentativa de purificar a alma puniam o corpo de forma violenta. Na atualidade continuamos presenciando todos os dias atos de violência contra o corpo. Crianças espancadas e violentadas, preconceito contra cor e obesidade, cirurgias plásticas para satisfazer as vaidades que cultuam um padrão determinado de beleza valorizado pela mídia, pais que punem com violência o corpo dos filhos na tentativa de impor disciplina. Essas formas violentas de repressão sinalizam estado de ira e cobrança para o receptor que por medo e insegurança viverá um grau elevado de conflitos e até desvios de conduta. O corpo fala por intermédio de emoções que são expressas e recebidas em uma relação. As emoções são estados significativos nas relações interpessoais, considerando o sujeito completo (afetividade, cognição e emoção). Assim torna-se evidente que os saberes são construídos a partir das relações construídas no tempo, na socialização familiar e numa integração cognitiva afetiva. As emoções e sentimentos podem variar de intensidade em função de contextos, mas estão presentes em todos os momentos da vida da criança interferindo nas suas diversas atividades. Se o nosso corpo fala por intermédio das emoções é importante que a escola proporcione a criança atividades e situações criativas para que a criança possa interagir de maneira saudável e satisfatória na construção de seu aprendizado. Portanto é necessário que todos os professores que trabalham com educação infantil tenham idéia de como a criança se desenvolve e compreenda que seu corpo está em constante movimento. Existem situações em que por pressão de seus subordinados que impõem regras e normas de um modelo pedagógico ultrapassado, professores utilizam da pedagogia do traseiro, crianças em silencio sentadas em cadeiras enfileiradas tolhidos 35 em sua criatividade frustradas e insatisfeitas, bloqueadas em sua capacidade de aprendizagem. Analisando as concepções discorridas podemos afirmar que o sucesso pedagógico vai depender da postura do professor. O seu papel como mediador do processo didático pedagógico vai contribuir ou não para uma aprendizagem significativa. É importante ressaltar que a criança utiliza a linguagem corporal como forma de interagir com os outros e com o meio produzindo cultura e identidade. A criança se expressa com o seu corpo, as práticas escolares devem respeitar compreender e acolher o universo cultural infantil. Acreditamos que o corpo adquire um papel fundamental na infância, pois é um modo de expressão e de vinculação da criança com o mundo. Nesta perspectiva, existe a necessidade de atualização dos professores de educação infantil, a fim de proporcionar uma ação interdisciplinar facilitadora de vivência psicomotora que evidencia a importância do corpo, da mente, do outro, do eu, da ação, do pensamento, da percepção do real, do imaginário, expressão e afeto estritamente ligados à criança desde a primeira idade. Em alguns momentos nos deparamos com a desvalorização do movimento espontâneo e natural da criança, em prol do conhecimento formalizado deixa-se de lado a linguagem corporal, capacidade de expressar de cada criança em uma dimensão educativa. As expressões psicomotoras são estímulos à vida social e a atividade construtiva da criança. “A criança é movimento, vida também é movimento” (GIRARDI, 1993, p. 73). Sendo assim a criança é vida que sente, ama, hostiliza, agride, sente prazer e medo, todas as sensações consideradas boas e ruins que fazem parte do desenvolvimento humano. Dessa forma enfatizamos a importância da utilização da psicomotricidade na educação infantil, pois sua prática proporcionará a oportunidade da vivencia através do jogo simbólico e a exploração da linguagem corporal a partir da observação do educador que fará os registros das ações para leitura e análises posteriores. As possíveis intervenções contribuirão com a capacidade de aprendizagem a evolução da criança. 36 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir das análises bibliográficas foi possível evidenciar que a linguagem corporal é uma forma significativa e complexa de interação, pois envolve os mais diversos estados emocionais: amor, medo, hostilidade, ódio. A psicomotricidade muito tem contribuído com as práticas pedagógicas, pois ela visa fins educativos pelo emprego do movimento, a liberdade da expressão e simbólico. É então relevante que o educador conheça caminhos que possibilite a exploração das diversas formas de comunicação corporal da criança, sem deixar de lado a individualidade, história e cultura de cada um. É fundamental a compreensão e o respeito a história de cada um, pois estas são construídas a partir de suas vivencias e estão contidas no corpo e serão expressas a todo momento. Nesta perspectiva entendemos que o professor de educação infantil deverá contemplar a expressão corporal como princípio norteador das atividades didático- pedagógicas, possibilitando que o movimento a encontrarem significado na prática psicomotora presente na relação que a criança mantém com o mundo. A linguagem corporal é elemento mediador da aprendizagem e desenvolvimento humano. A educação pela expressão é parte fundamental desse processo especialmente na educação infantil. 6 REFERÊNCIAS BRASIL. Diário Oficial da União. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: DOU, 1988. BRASIL. Câmara dos Deputados. Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Brasília: Centro Gráfico, 1990. 37 BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Brasília: MEC/SEF, 1996. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria do Ensino Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a educação infantil. v. 1. Brasília: MEC / SEF, 1998. BRASIL. Diário Oficial da União. Lei 11.274 de 6 de fevereiro de 2006. Brasília: DOU, 2006. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20042006/2006/Lei/L11274.htm>. Acesso em: 30 out.2010. DIDONET, Vital. Creche: a que veio para onde vai. Educação Infantil: a creche, um bom começo. Brasília: Instituto Nacional de pesquisas educacionais. v 18, n. 73, p. 11-28, 2001. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5.ed. São Paulo: Atlas, 1999. GIRARDI, M. J. brincar de viver o corpo. In: PICCOLO, V. L. N. Educação física escolar… ser ou não ter? São Paulo: Editora da UNICAMP, 1993, p. 73– 86. HURTADO, J. G. G. M. Dicionário de Psicomotricidade. Porto Alegre: Prodil, 1991 LEVIN, Esteban. A Clínica psicomotora: O corpo na linguagem. Petrópolis: Vozes, 1995. MELLO, Alexandre M. Psicomotricidade, educação física, jogos infantis, São Paulo: Ibrasa, 1993. MEUR, de A.; STAES, L. Psicomotricidade: educação e reeducação. São Paulo: Manole, 1991. 38 NEGRINE, A. S. Fontes epistemológicas da psicomotricidade. In: _____. Aprendizagem e desenvolvimento infantil: Psicomotricidade – alternativa pedagógica – Porto Alegre: Prodil, 1995, p. 33 – 74. OLIVEIRA, Z. R. Educação Infantil: muitos olhares. São Paulo: Cortez, 1995. OLIVEIRA, Gislene de Campo. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque psicopedagógico. 12. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2007. SÁNCHEZ, Pilar Arniz; MARTINEZ, Marta Radabâm; PENALVER, Iolanda Vives. Penalver. A psicomotricidade na educação infantil: uma prática preventiva e educativa. Porto Alegre: Artmed, 2003. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE. 1999. Disponivel em: <www.psicomotricidade.com.br>. Acesso em: 13 out. 2010. SOUZA FILHO, Gerson, C. Aspectos Ligados à construção do Esquema Corporal em Crianças. Revista Sprint Body Science. s.p., jan. / fev. 2001. 39 7 ARTIGO PARA REFLEXÃO 2 Autora: Cíntia da Rocha Marques Disponível em: http://www.webartigos.com/artigos/psicomotricidade-e-linguagem- verbal/56855/ Acesso: 16 de setembro de 16 Psicomotricidade e Linguagem Verbal Cíntia da Rocha Marques Acadêmica do curso de Pedagogia Faculdade Pitágoras – Londrina RESUMO O presente trabalho visa apresentar os benefícios originados através do uso da psicomotricidade no despertar da comunicação a partir da linguagem. Vemos que todas nossas experiências vividas, percebidas e significadas através do nosso corpo estão presentes constantemente na nossa comunicação ao longo de nossa vida; assim sendo, com uma linguagem verbal e não verbal, nos comunicamos transmitindo nossas mensagens corporais, fazendo com que a psicomotricidade seja intrínseca na linguagem e comunicação humana. Serão usados alguns autores de renome, como Molinari e Sens, Meur e Staes, Wallon, dentre outros, como referência para a pesquisa e método de observação a fim de analisar o objeto de estudo. (Palavras-chave: Criança, Psicomotricidade, Linguagem, Educação, Comunicação). INTRODUÇÃO 40 "O melhor método de ensino é aquele que o professor oportuniza o fluir do saber empírico e instiga adádiva da criação e recriação de seus educandos". Roberto Giancaterino O movimento é o meio pelo qual o indivíduo se comunica e transforma o ambiente à sua volta. Segundo Wallon (1995) o movimento não é só uma contração muscular, mas o uso da afetividade para com o mundo. Conhecer não é somente observar, mas interagir atuando com o corpo e linguagem para entender o mundo que o cerca e fazê-lo entender você. A transmissão de conhecimento se dá a partir da interação mútua, seja indivíduo? natureza, indivíduo? objetos ou até mesmo indivíduo? indivíduo. Fazer com que essa linguagem seja inteligível pelas duas partes da comunicação é agir de acordo com que o corpo fala? transmitir e adquirir conhecimento. A psicomotricidade trabalha fazendo a transmissão de conhecimentos através de um leque de descobertas, pois, se é a prática que nos ensina, vamos fazê-la voltada para uma realidade de mudanças constantes. Tudo isso porque é pelo movimento? significação expressiva, intencional e manifestação vital do ser humano? que o envolvimento atinge o pensamento (Le Boulch, 1983). As funções motoras não podem ser estudadas separadamente do desenvolvimento intelectual. Para se aprender a ler e escrever é imprescindível o domínio de habilidades a eles relacionado, considerando que essas habilidades são principais manifestações psicomotoras. "O desenhar e brincar deveriam ser estágios preparatórios ao desenvolvimento da linguagem escrita das crianças. Os educadores devem organizar todas essas ações e todo o complexo processo de transição de um tipo de linguagem escrita para outro. Devem acompanhar esse processo através de seus momentos críticos até o ponto da descoberta de que se pode desenhar não somente objetos, mas também a fala. Se quiséssemos resumir todas essas demandas práticas e expressá-las de uma forma unificada, poderíamos dizer o que se deve fazer é, ensinar às crianças a linguagem escrita e não apenas a escrita de letras" (Vygotsky, 1987, p.134). Molinari e Sens (2002, p. 85-93) afirmam que: [...]"a educação psicomotora nas séries iniciais do ensino fundamental atua como prevenção. Com ela podem ser evitados vários problemas como a má 41 concentração, confusão no reconhecimento de palavras, confusão com letras e sílabas e outras dificuldades relacionadas à alfabetização". Símbolos representativos e ludicidade são essenciais à criança nessa fase inicial da escola, pois neste momento em diante ela começa a ver o mundo, interpretá- lo e dar a ele seus próprios significados de acordo com o que acha coerente. Como objetivo de estudo, temos as causas pelas quais as crianças não conseguem se expressar através da linguagem. Essa problematização é respeitável de estudo, pois, todos nós passamos pelo primeiro contato com o mundo, um dia. Esse primeiro contato, feito através da linguagem, influenciará à criança? futuramente um adulto? em sua comunicação afetivo-emocional ao longo de sua vida social. O vocabulário motor? composto de gestos, mímicas, expressões faciais, gestos de cabeça, olhares? se tornará a primeira comunicação significativa da criança com o meio, isto é, uma linguagem que, apesar de não-verbal, aproxima-a do seu mundo relacional. Quanto mais subsídio motor as crianças tiverem, maior será o seu vocabulário motor. Com essas vivências, a criança experimenta o mundo e adéqua- se a ele, para mais tarde atribuir a ele os seus próprios significados (Fátima Gonçalves, artigo Psicomotricidade e o Despertar da Comunicação, 2008)¹. Busca-se, através deste, sugerir práticas mais adequadas para que a criança tenha um desenvolvimento pleno, principalmente, em sua linguagem, instrumento que usará constantemente. O sociólogo Luiz Ernani Torres da Costa e Silva define a linguagem como o "elemento mais eficaz da comunicação social. Através dela são transmitidos todos os padrões culturais da sociedade, é iniciado o processo de socialização e a sociedade perpetua-se através dos tempos". DESENVOLVIMENTO I.a. Os problemas com início da execução da linguagem verbal. Em observação à salas de aula de educação infantil, com crianças de 4 à 6 anos, vemos que a maior dificuldade da criança pequena para escrever é a falta do lúdico em sua rotina escolar. Em algumas escolas, a escrita é diretamente inserida sem qualquer preparo anterior às estruturas físicas e psicológicas da criança. Vemos também que a maioria (se não todas) fica extremamente agitada, pois, é natural da criança se mexer, porém, a situação contribui, ainda mais para que isso aconteça e a aprendizagem não seja 42 alcançada. As crianças se cansam, ainda mais, quando alguma atividade lhes é imposta e elas não conseguem fazer por conta de não estarem preparadas (Sandra Regina da Luz Inácio, 2008)². Isso pode gerar uma série de transtornos como: falta de interesse para com a escola e estudos. Em uma observação em escola, pude entender que a criança só está devidamente preparada para a escrita quando consegue dominar, razoavelmente, sua coordenação motora fina, que é preparada através de atividades que envolvam a brincadeira e a reflexão, para que aprendam; por exemplo: montar quebra-cabeça, fazer objetos com argila, pular amarelinha, correr até certo ponto e parar, etc. (Meur e Staes, 1984). II. PONTOS CHAVE O interesseem relação ao tema surgiu de uma situação onde crianças eram obrigadas a aprender a ler e escrever em certa escola. A professora exigia que, até o fim do ano, as crianças lessem, escrevessem e falassem corretamente (circunstância impossível!). A importância da leitura, linguagem e escrita no cotidiano infantil levam à reflexão sobre o tema a ser discorrido. Quais os problemas com o início da execução da linguagem verbal? Muitos professores, corrompidos pelo Sistema educacional em que atuam, entendem que a alfabetização deve ter início no 1º ano, porém, não entendem que nessa fase, a criança pode não ter as estruturas ósseas do braço (ombros, cotovelos, punhos, mãos e dedos) preparadas, pode ter dislexia, déficit de aprendizagem, problemas visuais, auditivos ou motores, dentre outros. Destacaremos os problemas motores, estudados em linha graduada por Meur e Staes. A progressão do desenvolvimento da linguagem verbal não se dá, exclusivamente, com base na idade ou tamanho físico da criança. Seu desenvolvimento é inteiramente ligado ao psicomotor. Por exemplo: a pré-escrita começa com os exercícios motores. Os primeiros exercícios de pré-escrita visam dar para as crianças força muscular e flexibilidade articular necessárias aos diferentes movimentos da escrita. Essa educação deve começar antes mesmo que a criança pegue um lápis na mão (Meur e Staes, 1984). O grafismo propriamente dito só será trabalhado após essa educação. A criança pequena tem necessidades diferentes do que, ultimamente, se anda esperando dela; a aprendizagem, nessa idade, se dá através do lúdico, do brincar, mexer com plasticina, massa de modelar, argila, ter 43 contato com a natureza, até que chegue à escrita propriamente dita (Meur e Staes, 1984). O trabalho da escrita é muito mais complexo do que podemos imaginar! Não é simplesmente dar papel e lápis à criança para que ela já apareça escrevendo tudo o que deseja; são vários os passos para que a escrita, de forma ampla e decodificada, seja completa em seu cotidiano (Meur e Staes, 1984). A escrita, em primeiro lugar, tem ligação direta com o que a criança já traz consigo em sua "bagagem de vida", ou seja, se a criança é estimulada desde cedo a fazer a "falsa leitura" de rótulos, imagens, fotos, histórias, etc., será mais fácil para que ela aprenda, mais tarde, a utilizar a linguagem como meio de comunicação. A linguagem tem um papel importante na formação da identidade dos indivíduos, pois nas suas diferentes formas, é meio de que represente, constrói e transmite significados (Hall, 2000). III. TEORIZAÇÃO Os exercícios motores e psicomotores, se executados corretamente, trazem benefícios extraordinários à criança que tem dificuldade de se comunicar através da linguagem. Faz com que sua evolução e desenvolvimento caminhe com mais rapidez e eficácia. Temos várias sugestões para que a criança evolua de tal forma, que serão apresentadas posteriormente, embasadas nos pareceres de Meur e Staes, em seu exemplar "Psicomotricidade: educação e reeducação", Ed. Manole, 1984. III.a. Utilizando a linguagem como meio de comunicação Como já dito há pouco, são vários os passos para que a criança chegue à utilização da linguagem como meio de comunicação (Meur e Staes, 1984). Para começar, são dadas as seguintes orientações: Começaremos com: 1) O trabalho de cada articulação. a) Ombros Exemplo: Brincar de meteoro? o brinquedo é feito com uma espécie de bola oval atravessada por duas cordas que terminam em alças; a intenção é fazer com que a bola vá de uma criança a outra, sendo que uma abra os braços e outra fecha e assim sucessivamente. 44 b) Punhos: as crianças colocam suas mãos sobre a mesa, horizontalmente. Pede-se que levantem as mãos sem desencostar o punho da mesa. Este exercício pode ser feito através de jogos: as crianças cantam e marcam um ritmo com a mão na mesa, por exemplo. Outro jogo simples é o jogo de Ioiô. c) Dedos: brincar com bolinhas de gude ou de pião. 2) Trabalho com Plasticina Fazer um boneco com apenas uma das mãos, rolar uma bolinha de plasticina, com a palma da mão, sobre a mesa, por exemplo. 3) Grafismo Grafismo é a forma mais simples de representar um objeto. O trabalho em plano vertical: traçar horizontais, traçar verticais, quadrado, traçar semicírculos, círculos, etc.; Círculo: primeiramente executado da direita para a esquerda; Caracol: primeiramente executado do interior para o exterior e depois inversamente; Ondas: desenho das ondas bem acentuadas, planas e estreito; As pontes: aqui a criança pode descansar algumas vezes (ao contrário das ondas), mas o traçado deve ser completo sem levantar o giz ou pincel do papel. Espirais: as espirais devem ser grandes. A criança dever ter um bom ritmo para que as espirais saiam uniformes, então, é sugerido que ela faça uma espiral a cada pausa da canção, por exemplo. Linha quebrada e telhados: a criança deve perceber as pontas, por exemplo, ponta do lápis, da tesoura da professora, do telhado da casa de madeira. Pede-se que desenhem uma casinha de madeira com o telhado, orientando que a primeira linha sobe e a segunda, desce. Triângulo: fazendo a linha quebrada de forma certa será fácil assimilar o triângulo, pois, só terá de fechar a linha quebrada (uma que sobe e outra que desce). O trabalho em plano horizontal: pouco a pouco o lápis é inserido ao trabalho das crianças, assim, elas adquirirão força muscular e flexibilidade articular suficiente, 45 sendo que cada criança deve ser corrigida individualmente para que possa perceber a posição exata de seus dedos a segurar o lápis. Aí é que entra a força muscular e a flexibilidade articular suficientes para que a criança perceba a posição correta em que o lápis deve ser empregado e para que ela consiga fazer tal exercício (Meur e Staes, 1984). IV. POSSÍVEIS SOLUÇÕES São sugeridos exercícios de pressão do lápis sobre o papel como: traçar uma linha sem apertar o lápis e outra, o apertando. Também exercícios em que a criança deve contornar o traçado, traçar um caminho entre duas retas paralelas, traçar caracteres ou letras usando um normógrafo, colorir corretamente sem virar a folha ao pintar e ponderando o tamanho dos traços ao colorir a imagem, fazer uma estrela (usando lápis de diversas cores para identificar as linhas), fazer uma casinha com telhado triangular sem tirar o lápis do lugar (Meur e Staes, 1984). Esses são alguns dos exercícios que podem ser sugeridos para que a criança chegue até o grafismo utilizando a linguagem como meio de comunicação. "Nosso cérebro é fantástico, e tem capacidade de proporcionar mudanças de caminhos para se chegar ao objetivo desejado, utilizando outras funções que ainda se encontram preservadas e com potencial." Luciana Gurgel O papel da família e do meio em que a criança vive é importantíssimo na formação de seu vocabulário. A criança vai percebendo que outras pessoas ao seu redor se comunicam através da fala e, em suas observações, vai a cada dia aumentando seu repertório de palavras. Inicia com vocalizações, depois sílabas, palavras e sentenças cheias de significados (Tânia Regina Bello, 2008). Segundo Freire (1989, p.76) "causa mais preocupação, na escola da primeira infância, ver crianças que não sabem saltar que crianças com dificuldades para ler ou escrever", pois, o lúdico é essencial nessa fase da vida da criança, fazendo com que ela desenvolva, futuramente, habilidades para lidar com lápis e papel e aptidões básicas para que sejam, mais tarde, aperfeiçoadas e executadas sem dificuldade. 46 Coste (1981, p.46), ressalta que, "O corpo é, de fato, um lugar original de significações específicas e, por ser parte integrante de nosso universo de símbolos, é produto e gerador, ao mesmo tempo, de signos". Sendo assim, nosso corpo é integrante essencial em
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