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ARQUITETURA BRASILEIRA II

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA 
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO 
 
 
 
 
 
 
ARQUITETURA BRASILEIRA II 
Lúcio Costa: teoria e prática 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluna: Paola Eugenia Pérez Cerri Tetzner 
Orientadora: Professora Karine Daufenbach 
 
1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Interessa, antes de mais nada, conhecer como, em condições idênticas ou 
diferenciadas de época, de meio, de material e de técnica ou de programa, os 
problemas da construção foram arquitetônicamente resolvidos no passado. 
 (LUCIO COSTA, Sobre Arquitetura, p. 113) 
 
 
 
2 
 
 
 
Sumário 
INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3 
CAPÍTULO I: O MOVIMENTO MODERNO NO BRASIL .............................................................. 4 
1. Arquitetura Moderna: uma breve conceitualização. ......................................................... 4 
2. O contexto da Arquitetura Moderna ..................................................................................... 4 
3. Arquitetura Moderna no Brasil ............................................................................................... 6 
4. Le Corbusier e a sua influência no movimento moderno brasileiro ............................. 8 
CAPÍTULO II: LUCIO COSTA ........................................................................................................ 10 
1. Breve biografia ......................................................................................................................... 10 
2. Contribuição teórica de Lúcio Costa .................................................................................. 13 
3. Da teoria à prática: breve análise das obras de Lucio Costa ....................................... 17 
3.1. As casas sem dono – anos 1934-36 ............................................................................ 18 
3.2. Casa de verão do Barão de Saavedra, em Petrópolis – 1942-44 ......................... 21 
3.3. Conjunto Residencial do Parque Eduardo Guinle – 1948 - 54 .............................. 23 
4. Da teoria à prática: estudo de caso do Hotel do Parque São Clemente em Nova 
Friburgo – 1945 ................................................................................................................................ 25 
CONCLUSÃO .................................................................................................................................... 29 
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................. 31 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Lúcio Costa é considerado o grande pensador do movimento moderno brasileiro. 
Assim sendo, o presente trabalho tem como objetivo comparar a obra escrita e 
construída deste relevante arquiteto do século XX, cuja valiosa contribuição permitiu 
a estruturação e conceitualização da arquitetura moderna no Brasil. 
Para podermos entender o pensamento do Lúcio Costa, devemos analisar em 
primeiro lugar o contexto histórico pelo qual transitou. Inicialmente analisaremos o 
movimento moderno internacional para depois entender a influência exercida por este 
no Brasil. 
Num segundo momento abordaremos a atuação profissional de Lúcio Costa buscando 
contrastar teoria e prática. Analisaremos algumas das suas obras, sejam elas 
construídas ou não e alguns dos seus registros, para assim verificar se existe uma 
coerência entre suas ideias e seu fazer profissional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 
CAPÍTULO I: O MOVIMENTO MODERNO NO BRASIL 
1. Arquitetura Moderna: uma breve conceitualização. 
Entende-se por arquitetura moderna ao 
[...] conjunto de movimentos e escolas arquitetônicas que vieram a caracterizar 
a arquitetura produzida durante grande parte do século XX (especialmente os 
períodos entre as décadas de 20 e 60), inserida no contexto artístico e cultural 
do Modernismo. Não há um ideário moderno único. Suas características podem 
ser encontradas em origens diversas como a Bauhaus, na Alemanha; em Le 
Corbusier, na França, e em Frank Lloyd Wright nos EUA.1 
Embora diversos, os movimentos e escolas tinham princípios em comum, 
principalmente a rejeição de toda e qualquer referência ao passado. Combatiam o 
Ecleticismo, tendência que se tinha afiançado no século XIX. Buscavam criar uma 
arquitetura despojada de ornamentos, sem nenhuma referência ao passado. 
Priorizavam o volume e o plano assim como também as formas geométricas puras. 
Entendiam o arquiteto como um agente social, comprometido com seu tempo, capaz 
de criar uma arquitetura funcional e económica, acorde com a era da industrialização. 
Surgiu assim o interesse por racionalizar a moradia, especialmente aquela dirigida às 
massas que formavam parte da cidade industrial, assim como também novas 
propostas urbanísticas que representavam novos modelos de organização espacial 
em relação à cidade tradicional. 
Duas linhas de pensamento foram muito influentes na Arquitetura Moderna: o 
International Style, de origem europeia e cunho racionalista e socialista, a chamada 
arquitetura da máquina; e a Arquitetura Orgânica, proveniente dos Estados Unidos 
que incorporará ao repertório moderno maior humanização do espaço e a valorização 
do binômio natureza/arquitetura. 
2. O contexto da Arquitetura Moderna 
A arquitetura moderna surge como consequência de alguns fatores económicos, 
sociais e tecnológicos que atingiram o século XX. Leonardo Benévolo afirma que “a 
arquitetura moderna nasce das modificações técnicas, sociais e culturais relacionadas 
 
1 COELHO, Alessandra, ODEBRECHT, Silvia. Arquitetura moderna: reconhecimento e análise de edifícios 
representativos em Blumenau, SC, Dynamis revista tecno-científica (out-dez/2007) vol.13, n.1, p. 46. 
5 
 
 
 
com a Revolução Industrial.”2 Brito amplia este pensamento ao afirmar que o século 
XX “provocaria transformações radicais e profundas. Sob o seu signo, registra-se o 
apogeu da época industrial e técnica, a formação da alta burguesia e do proletariado, 
o estabelecimento organizado do capitalismo”3. 
Entre as modificações sociais que atingiram à arquitetura podemos citar o forte 
crescimento demográfico no século XIX que provocou importantes transformações 
urbanas. As cidades cresceram não só em tamanho, mas também em altura. A 
verticalização dos prédios foi uma resposta ao grande crescimento populacional e à 
valorização dos terrenos das cidades. Havia também uma preocupação social em 
relação à moradia das massas trabalhadoras. Segundo Glancey “o desafio para os 
governos socialistas locais e arquitetos radicais no pós-guerra era criar habitação em 
massa que oferecesse o sol, o ar, os jardins e o modo de vida sadio até então 
acessíveis apenas para a burguesia (...)”4. 
Dentro deste cenário, vários arquitetos, preocupados com a responsabilidade social 
da sua profissão, unem-se para discutir o rumo da arquitetura. Um dos exemplos de 
discussão sobre o caráter social da arquitetura foram os CIAM (Congressos 
Internacionais de Arquitetura Moderna) cujo objetivo era debater os rumos do 
urbanismo, da arquitetura e do design. O primeiro deles aconteceu em 1928 na Suíça 
e contavam com a participação de importantes nomes da arquitetura europeia, entre 
eles, Le Corbusier. 
Não podemos deixar de mencionar que a Arquitetura Moderna surge também como 
consequência das “profundas transformações estéticas propostas pelas vanguardas 
artísticas das décadas de 10 e 20, em especial o Cubismo, o Abstracionismo -com 
destaque aos estudos realizados pela Bauhaus, pelo De Stijl e pela vanguarda russa- 
e o Construtivismo.”5 
Após a Primeira Guerra Mundial, a vanguarda da arquitetura modernaadquirirá 
caráter de movimento. 
 
2 BENEVOLO, Leonardo. História da arquitetura moderna. São Paulo: Perspectiva, 1976, p. 13 
3 BRITO, Mário da Silva. As coordenadas do século XX. Liberalismo, Fascismo e Comunismo in XAVIER, Alberto 
(Org.). Arquitetura Moderna Brasileira: depoimento de uma geração. Cosac & Naify, 2003, p.25 
4 GLANCEY, Jonathan. A história da arquitetura. Edições Loyola, São Paulo, Brasil, 2001, p. 176. 
5 COELHO, Alessandra, ODEBRECHT, Silvia. Op. cit., p. 47. 
6 
 
 
 
No Brasil, este movimento chegará nas primeiras décadas do século XX, mas não 
necessariamente para propor soluções a problemas de cunho social, pois, naquele 
momento, o país encontrava-se no início do processo de industrialização. 
3. Arquitetura Moderna no Brasil 
Na primeira metade do século XX o Movimento Moderno encontrou em território 
brasileiro um espaço frutífero para se desenvolver. Sem dúvida alguma as condições 
políticas, económicas e sociais de um país em pleno desenvolvimento industrial 
permitiram “a eclosão do movimento renovador”.6 As principais cidades brasileiras 
sofreram um grande incremento populacional o que obrigou a construção de edifícios 
de apartamentos. A administração pública demandava novos prédios e muitos 
políticos viram na arquitetura uma forma de autopromoção. 
Para Bruand, “assim como evidentemente os estilos históricos não desapareceram de 
um momento para outro, o movimento ‘moderno’ não surgiu repentinamente.”7 
Segundo Segawa, “é consensual, entre os historiadores, que o marco inicial do 
movimento moderno no Brasil aconteceu em São Paulo, em dezembro de 1917: a 
exposição de pinturas de Anita Malfatti”8. 
No que respeita à arquitetura, as primeiras ideias modernistas chegaram ao Brasil por 
meio de publicações europeias como a revista L’Espirit nouveau, da qual 
pouquíssimos brasileiros tinham acesso: “até 1922, onze brasileiros constavam como 
assinantes da revista”.9 
Outro marco importante para a introdução das novas ideias e do espírito renovador foi 
a reforma na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA). Iniciada em 1930 essa 
“experiencia renovadora implantada por Lucio Costa duraria até setembro de 1931”.10 
Esse curto período de tempo foi fundamental para que os futuros arquitetos não se 
conformassem com a arquitetura que vinha sendo ensinada até o momento. Para 
 
6 BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1981, p. 11. 
7 Ibid., p. 61. 
8 SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil. 1900-1990. 2ª ed., São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 
2002, p. 42 
9 Ibid., p. 77. 
10 Ibid., p. 79. 
7 
 
 
 
Souza, “a revolução do ensino de arquitetura foi total. Passamos de uma longa fase 
de cópias de modelos e fórmulas arquitetônicas para a criação”.11 
Uma vez difundidas estas ideias, alguns arquitetos passaram a estudar o trabalho de 
europeus, em especial o de Le Corbusier. Este profissional teve grande influência em 
Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e outros arquitetos pioneiros do movimento. Surgem 
também, nas décadas de 1920 e 1930, as primeiras manifestações de arquitetura 
modernista brasileira na obra de dois arquitetos pioneiros, Gregori Warchavchik e Rino 
Levi. 
“Um dos fatores predominantes para difusão do estilo modernista no Brasil foi o apoio 
do Estado Novo que via nesse estilo um símbolo de modernidade e progresso”. 12 Mas 
a aceitação não ia ser fácil. No início dos anos 30, houve certa resistência ao 
movimento moderno, especialmente por parte dos defensores do neocolonial. 
Outro fator decisivo foi a inquietude de alguns arquitetos brasileiros que acreditavam 
na reforma da arquitetura, insatisfeitos com os estilos historicistas, entre eles Lucio 
Costa. Estes arquitetos não buscavam somente uma renovação se não, 
principalmente, a construção de uma arquitetura com identidade própria. Neste 
sentido Rino Levi afirmava, já em 1925, que “é preciso estudar o que se fez e o que 
se está fazendo no exterior e resolver os nossos casos sobre estética da cidade com 
alma brasileira. Pelo nosso clima, pela nossa natureza e costumes, as nossas cidades 
devem ter um caráter diferente das da Europa”13. 
Cabe destacar que as ideias modernas encontraram resistência em solo brasileiro. 
Movimentos como o neocolonial, que desde a década de 1910 “preconizava a 
valorização da arte tradicional como manifestação de nacionalidade”14; e o 
ecleticismo, uma mistura de estilos históricos meramente decorativos, tinham fortes 
defensores. Mesmo assim, já “na segunda metade da década de 1930, tendências 
 
11 SOUZA, Abelardo de. A ENBA, antes e depois de 1930 in XAVIER, Alberto (Org.). Arquitetura Moderna 
Brasileira: depoimento de uma geração. Cosac & Naify, 2003, p. 67. 
12 ARQUITETURA DO BRASIL. Arquitetura Brasileira. Disponível em: 
<https://arquiteturadobrasil.wordpress.com/7-o-movimento-moderno-3/>. Acesso em 20 de abr. de . 
13 LEVI, Rino. A arquitetura e estética das cidades in XAVIER, Alberto (Org.). Arquitetura Moderna Brasileira: 
depoimento de uma geração. Cosac & Naify, 2003, p. 39. 
14 SEGAWA, Hugo. Op. cit., p. 35 
https://arquiteturadobrasil.wordpress.com/7-o-movimento-moderno-3/
8 
 
 
 
modernizantes ou não-acadêmicas estavam em plena assimilação nas cidades 
brasileiras.”15 
4. Le Corbusier e a sua influência no movimento moderno brasileiro 
O arquiteto franco-suíço Le Corbusier (1887-1965) é considerado um dos nomes mais 
relevantes da arquitetura do século XX. Sua arquitetura propunha o uso de volumes 
simples, cujas formas pudessem reconhecer-se em projetos industriais (barcos, 
automóveis, etc.). Explorou o conceito da casa como “máquina de morar”. Funcional 
e eficiente a casa devia gerar-se a partir da planta e seus volumes deviam ter equilíbrio 
formal e a pureza das formas geométricas simples. 
Seus pensamentos contribuíram para a criação de uma nova linguagem arquitetônica, 
resumida em cinco pontos publicados em 1926. São eles: 
1. Os pilotis: a separação da construção do terreno que permite a ventilação e o 
livre trânsito debaixo do edifício. 
2. Os tetos-jardim: que permite recuperar os metros perdidos no terreno por causa 
do próprio edifício. 
3. A planta livre: a estrutura da construção fica independente do fechamento. As 
paredes já não exercem a função estrutural. 
4. Janela em fita: permite maior contato com o exterior. 
5. Fachada livre 
No Brasil, sua influência foi notória tanto na arquitetura quanto no urbanismo. Para 
Pedrosa, 
A arquitetura moderna no Brasil, apesar de sua súbita emergência, não é uma 
eclosão espontânea. Como em várias manifestações de ordem cultural, é do 
exterior que é preciso buscar sua origem. Por volta de 1930, jovens arquitetos 
puristas se reuniram sob a direção de Lucio Costa para estudar as obras dos 
grandes mestres europeus da nova arquitetura que nascia. Conheceram 
assim a obra de Gropius, [...]. Conheceram igualmente a obra de Mies van 
der Rohe e sobretudo as teorias de Le Corbusier.16 
 
15 SEGAWA, Hugo. op. cit., p. 85. 
16 PEDROSA, Mario. A arquitetura moderna no Brasil. Origem. in XAVIER, Alberto (Org.). Arquitetura Moderna 
Brasileira: depoimento de uma geração. Cosac & Naify, 2003, p. 98. 
9 
 
 
 
Além disso, Le Corbusier visitou o Brasil em duas oportunidades, em 1929 e 1936. 
Segundo Segawa, “o ano de 1929 seria fundamental para a disseminação das idéias 
de Le Corbusier na América do Sul. Suas palestras em Buenos Aires, São Paulo e Rio 
de Janeiro foram ouvidas por atentas plateias nas três cidades”17. Na segunda visita, 
em 1936, participa como consultor da equipe encarregada de projetar o Ministério de 
Educação e Saúde do Rio de Janeiro. Este grupo era encabeçado por Lúcio Costa e 
contava com a participaçãode jovens arquitetos, entre eles Oscar Niemayer. Este 
prédio segue com rigor os cinco pontos de Le Corbusier. Segundo Segawa, “a sede 
do Ministério de Educação e Saúde é considerado o ponto inicial de uma arquitetura 
moderna de feitio brasileiro.”18 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 SEGAWA, Hugo. op. cit., p. 78. 
18 Ibid., p. 92 
Figura 1: Proposta de Lucio Costa e equipe para o edifício-sede 
do Ministério da Educação e Saúde Pública, Rio de Janeiro, 1936. 
Fonte:http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php
?idVerbete=594 
 
Figura 2: Lucio Costa e Le Corbusier, 1936. 
Fonte:http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=594#prettyPhoto 
 
10 
 
 
 
CAPÍTULO II: LUCIO COSTA 
1. Breve biografia 
Lucio Marçal Ferreira Ribeiro de Lima e Costa nasce em 1902 em Toulon, França. 
Retorna ao Brasil em 1917 onde ingressará na Escola Nacional de Belas Artes. 
“Arquiteto diplomado pela ENBA (1924), teve decisiva importância na definição dos 
rumos do movimento moderno no Brasil, tanto na conceituação de seus princípios, 
quanto da viabilização de seus principais projetos.”19 Inicialmente se identificou com 
os movimentos em voga durante seus anos de formação, especialmente o 
neocolonial. 
Em dezembro de 1930, já formado arquiteto e sendo ele muito jovem foi nomeado 
para dirigir a ENBA. Segundo Segawa, na época da nomeação Costa não tinha ainda 
“filiação clara a alguma doutrina específica da vanguarda – mesmo porque, em 1930, 
Lucio Costa as desconhecia”.20 Na verdade Costa já tinha perdido o interesse no 
neocolonial e estava insatisfeito com o ecleticismo imperante. Em seus registros, 
Lucio Costa afirma: 
Comecei aí a perceber o equívoco do chamado neocolonial, lamentável 
mistura de arquitetura religiosa e civil, de pormenores próprios de épocas e 
técnicas diferentes, quando teria sido tão fácil aproveitar a experiência 
tradicional no que ela tem de válido para hoje e para sempre. 21 
Durante seu mandato na instituição Costa reorganizou o ensino da arquitetura, 
afastando docentes historicistas e contratando professores modernista. Em 1930 
escreve A situação do ensino das Belas-Artes onde expõe os objetivos da reforma. 
Segundo Costa: 
A reforma visará aparelhar a escola de um ensino técnico-científico tanto 
quanto possível perfeito e orientar o ensino artístico no sentido da uma 
perfeita harmonia com a construção. Os clássicos serão estudados como 
disciplina; os estilos históricos como orientação crítica, e não para aplicação 
direta.”22 
 
19 XAVIER, Alberto (Org.). Arquitetura Moderna Brasileira: depoimento de uma geração. Cosac & Naify, 2003, 
Apêndice: biografia dos autores. 
20 SEGAWA, Hugo. op. cit., p. 80. 
21 COSTA, Lucio. Registro de uma vivencia, 2.ed. São Paulo: Empresa das Artes, 1997, p.16 
22 COSTA, Lucio. A situação do ensino das Belas-Artes in XAVIER, Alberto (Org.). Arquitetura Moderna 
Brasileira: depoimento de uma geração. Cosac & Naify, 2003, p. 57 e 58. 
11 
 
 
 
Neste texto Costa entende que as obras do passado oferecem ensinamentos que, 
submetidos a uma análise, podem ser ainda válidos e reinterpretados, mas não mais 
meramente copiados repetidamente. Esta situação suscitou reações adversas por 
parte dos tradicionalistas e como consequência deste conflito, Costa foi exonerado do 
cargo em 1931. 
 
Figura 3: Lucio Costa. Fonte: http://idd.org.br/acervo/lucio-costa-no-fim-dos-anos-50/ 
De 1932 a 1935 Costa viverá um “ostracismo profissional”23. Durante esses anos se 
dedicará ao estudo de obras atuais em busca de uma fundamentação teórica para a 
renovação da arquitetura. Aprofunda-se nas obras de Le Corbusier, especialmente no 
seus princípios econômico-sociais, técnicos e artísticos. 
Na década de 30 construirá um discurso de renovação, opondo-se até mesmo ao que 
ele vinha fazendo até o momento. Em 1936 publica Razões da nova arquitetura, um 
manifesto moderno que vincula a nova tecnologia (estrutura independente das 
vedações) a uma valorização do antecedente como fonte de pesquisa. Costa afirma 
que “a nova técnica reclama a revisão dos valores plásticos tradicionais. O que a 
caracteriza e, de certo modo, comanda a transformação radical de todos os antigos 
processos de construção, é a ossatura independente”.24 
Em setembro de 1935 é convidado pelo Ministro Gustavo Capanema para projetar a 
sede do Ministério de Educação e Saúde do Rio de Janeiro. No ano seguinte, Costa 
projetará o edifício conjuntamente com uma equipe de arquitetos, entre eles, Affonso 
 
23 SEGAWA, Hugo. op. cit., p. 80 
24 COSTA, Lucio. Razões da nova arquitetura in XAVIER, Alberto (Org.). Arquitetura Moderna Brasileira: 
depoimento de uma geração. Cosac & Naify, 2003, p. 46. 
12 
 
 
 
Eduardo Reidy, Carlos Leão e Oscar Niemeyer, tendo como consultor ao próprio Le 
Corbusier. Sobre este projeto, Costa afirma que, 
[...] O marco definitivo da nova arquitetura brasileira, que se haveria de revelar 
igualmente, apenas construído, padrão internacional e onde a doutrina e as 
soluções preconizadas por Le Corbusier tomaram corpo na sua feição 
monumental pela primeira vez, foi, sem dúvida, o edifício construído pelo 
ministro Gustavo Capanema para a sede do novo ministério.25 
Em 1937, é nomeado diretor da Divisão de Estudos e Tombamentos, do Serviço de 
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN. 
Como arquiteto construiu poucas obras, embora sejam umas das “mais significativas 
da arquitetura brasileira”26, principalmente depois do seu ingresso no SPHAN, quando 
“projetou e construiu relativamente pouco; em todo caso nunca se empenhou na 
procura de clientes, limitando-se a satisfazer aos que o procuravam”.27 
Em 1957, participa do concurso para o plano piloto da nova capital e resulta vencedor. 
Trabalhou conjuntamente com Joaquim Cardoso, Oscar Niemeyer, entre outros. 
Em 1995, Lúcio Costa lança o livro autobiográfico: Registro de uma Vivencia, 
contendo projetos, ensaios críticos e cartas pessoais. Além das obras citadas, são de 
sua autoria: 
• 1937 – Documentação necessária 
• 1945 - Considerações sobre o Ensino da Arquitetura 
• 1951 - Muita Construção, alguma Arquitetura e um Milagre 
• 1952 - O Arquiteto e a Sociedade Contemporânea 
• 1962 - Lúcio Costa: Sobre Arquitetura 
Lucio Costa faleceu no Rio de Janeiro, no dia 13 de junho de 1998. 
 
 
25 COSTA, Lúcio. Arquitetura Brasileira. Os cadernos de Cultura. Ministério da Educação e Saúde. Serviço De 
Documentação, p. 32. Disponível em <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me001882.pdf>. 
Acesso em 30 de jul. de 2018. 
26 BRUAND, Yves., op. cit., p. 119. 
27 Ibid., p. 120. 
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me001882.pdf
13 
 
 
 
2. Contribuição teórica de Lúcio Costa 
Lúcio Costa teve um papel fundamental na consolidação teórica da arquitetura 
modernista brasileira. Na opinião de Bruand, este arquiteto “continua revelando-se o 
grande teórico do movimento moderno no Brasil”.28 Sua obra escrita é de vital 
importância em especial o texto Razões da nova arquitetura que se transformou num 
marco que oportunizou mudanças de rumo na arquitetura, especialmente na sua 
própria obra. Conforme Puppi, 
Os escritos do arquiteto têm uma função claramente operativa, visando 
sempre e sobretudo, de um lado, divulgar os princípios do movimento 
moderno no país e, de outro, fundar uma vertente local do movimento, bem 
como justificar e valorizar sua existência. Dito de outro modo, seu objetivo é 
formular o programa teórico (não sem idas e vindas, como veremos) da 
arquitetura moderna brasileira. Conseqüentemente, o modernismo 
apresenta-se nos manifestos do autor como o ponto culminante de toda a 
história da arquitetura.29. 
Para começar, devemos refletir que este arquiteto se formou num período em que o 
movimento neocolonial e o discurso nacionalista estavam em voga no Brasil, mas 
numa época de transformações no âmbito da arquitetura a nível internacional. Sobre 
este tema Segawa explica que, no Brasil, “o conceito de moderno era veiculado como 
uma variação do ecleticismo, o neocolonial.”30 O movimento neocolonial, que teve seu 
auge na década de 1920, buscava nas raízes portuguesas e brasileiras uma 
linguagem que conferisse identidade à arquitetura nacional. Lucio Costa nos seus 
primórdios profissionais seguia este movimento como muitos outros colegas de 
profissão. 
A intenção deste movimento era válida e foi fundamental para o amadurecimento do 
modernismo no Brasil e para a própria trajetória profissional de Lucio Costa. Segundo 
Segawa, “o principal aporte da postura neocolonial foi a introdução do contraponto 
regionalista – a busca de uma arquitetura identificadora da nacionalidade – como fator 
de renovação.”31 Os problemas surgiram quando o uso do neocolonial tornou-se 
 
28 BRUAND, Yves. Op. cit., p. 119. 
29 PUPPI, Marcelo. Por uma História Não Moderna da Arquitetura Brasileira: questões de historiografia. 
Campinas: Pontes/CPHA-IFCH-Unicamp, 1998, p. 12. 
30 SEGAWA, Hugo. Op. cit., p. 43. 
31 Ibid., p. 39. 
14 
 
 
 
indiscriminado, ocasionando fortes discussões entre arquitetos e artistas, entre eles 
Lucio Costa. 
Depois da sua viagem a Minas Gerais na década de vinte, tendo tido a oportunidade 
de conhecer de perto a arquitetura colonial brasileira, o seu pensamento teve uma 
mudança radical. Começou a recusar projetos de estilo histórico, pois os considerava 
falsos estilos. Inconformado com a situação da arquitetura, buscou novos horizontes. 
Aprofundou-se nas ideias do movimento moderno europeu, e com elas se identificou. 
Em Razões da nova arquitetura Costa declara que, 
As construções atuais refletem, fielmente, em sua grande maioria, essa 
completa falta de rumo, de raízes. Deixemos, no entanto, de lado essa 
pseudo-arquitetura, cujo único interesse é documentar, objetivamente, o 
incrível grau de imbecilidade a que chegamos, porque ao lado dela existe, já 
perfeitamente construída em seus elementos fundamentais, em forma 
disciplinada, toda uma nova técnica construtiva, paradoxalmente ainda à 
espera da sociedade à qual, logicamente, deverá pertencer.32 
Mas o que Costa propunha neste texto não era uma ruptura com o passado e sim uma 
evolução da arquitetura que fizesse do passado sua fonte de pesquisa. “Porque, se 
as formas variam – o espírito ainda é o mesmo, permanecem, fundamentais, as 
mesmas leis.”33 Costa acreditava que conhecer as arquiteturas ao longo da história e 
entender a intenção das soluções construtivas e plásticas de cada época, daria aos 
arquitetos uma maior criatividade sempre e quando se fizesse uma reinterpretação 
deles à luz das técnicas modernas. 
Segundo Bruand, Lucio Costa: “não inovou fundamentalmente, não criou uma nova 
profissão de fé; aceitou a que havia sido proposta pelos pioneiros do racionalismo, 
tornando-se seu defensor intransigente, adaptando-a às necessidades locais e 
corrigindo o que ela podia ter de excessivo rigor”.34 Costa aceitou os princípios de Le 
Corbusier no que diz respeito as ideias sociais e técnicas da arquitetura, mas no 
sentido estético entendeu que tinha uma contribuição a fazer. “O que o chocava 
 
32 Costa, Lucio. Razões da nova arquitetura in XAVIER, Alberto (Org.). Arquitetura Moderna Brasileira: 
depoimento de uma geração. Cosac & Naify, 2003, p. 40. 
33 Costa, Lucio. Razões da nova arquitetura in XAVIER, Alberto (Org.). Arquitetura Moderna Brasileira: 
depoimento de uma geração. Cosac & Naify, 2003, p. 52. 
34 BRUAND, Yves., op. cit., p. 120. 
15 
 
 
 
instintivamente no movimento moderno era seu caráter absolutista, intransigente e o 
aparente desprezo de sus teóricos por tudo que dizia respeito ao passado”.35 
Costa dedicou-se então a “verificar em que medida a arquitetura moderna poderia tirar 
proveito das lições da arquitetura colonial luso-brasileira”.36 No texto Interessa ao 
estudante Costa declara que, 
A consciência do sentido verdadeiro dessa preciosa experiência acumulada, 
é necessária para que, então, o aluno, profundamente imbuído do espírito 
novo de sua época, se familiarize com as condições particulares do meio em 
que vive, se assenhoreie dos novos recursos de material e de técnica, se 
informe das particularidades específicas dos programas contemporâneos, se 
exercite e apure os segredos da comodulação e da modernatura, a fim de, 
por sua vez, habilitar-se a resolver, arquitetonicamente, os problemas atuais 
da construção.37 
No texto Documentação necessária de 1937, Costa aborda, entre outros temas, a 
temática da importância de conhecer a arquitetura popular portuguesa pois dela deriva 
a nossa arquitetura colonial. Segundo as palavras do próprio autor, importa “conhecer, 
antes de mais nada, a arquitetura regional portuguesa no próprio berço.”38 
Além do mais, o texto se debruça na evolução das técnicas construtivas desde a 
época colonial até aquele momento. Costa demonstra que para o mesmo problema, 
a história buscou soluções construtivas e formais diferentes que deram à arquitetura 
novas releituras. O texto aborda soluções regionalistas como a construção de pau-a-
pique vastamente utilizada em Minas Gerais nos terrenos em declive. Esta técnica 
construtiva não é mais do que um sistema estrutural independente das vedações e 
Costa associa esta antiga técnica a nova tecnologia do concreto armado que 
possibilitou a estrutura independente e os pilotis. Conforme Puppi, Costa desenvolveu 
uma “reconstrução puramente mental do passado, segundo os interesses do 
presente”.39 
 
35 BRUAND, Yves., op. cit., p. 72. 
36 NOBRE, Ana Luiza e outros organizadores. Um modo de ser moderno. Lucio Costa e a crítica 
contemporânea. São Paulo: Cosac & Naify, 2004, p.15. 
37 Costa, Lucio. Interessa ao estudante. Disponível em: 
http://www.jobim.org/lucio/bitstream/handle/2010.3/1310/V%20D%2002-01035%20L.pdf?sequence=3. 
Acesso em 22 de ago. de 2018. 
38 COSTA, Lucio. Arquitetura. Rio de Janeiro: Bloch: FENAME, 1980, p. 11. 
39 PUPPI, Marcelo. Op.cit., 13. 
http://www.jobim.org/lucio/bitstream/handle/2010.3/1310/V%20D%2002-01035%20L.pdf?sequence=3
16 
 
 
 
 
Figura 4: Evolução dos vãos, cheios e vazios, na arquitetura a partir do século 17 
Desenho de Lúcio Costa [COSTA, Lúcio. Documentação Necessária] 
 
 
Figura 5: Evolução dos beirais. Um mesmo problema com soluções evolutivas após o surgimento das calhas. 
Desenho de Lúcio Costa [COSTA, Lúcio. Documentação Necessária] 
 
Durante seus anos no Serviço de Patrimônio Histórico, Artístico e Nacional (1937-
1972) Costa influenciou as novas gerações de arquitetos promovendo a valorização 
da arquitetura popular e tradicional brasileira. Para Costa, a preservação das raízes 
brasileiras e o estudo do repertório do passado aliados aos novos modelos 
internacionais, permitiriam uma arquitetura adaptada ao seu tempo e lugar de 
inserção. Neste sentido, Costa afirma que o Edifício sede do Ministério de Educação 
e Saúde revelou-se “padrão internacional da reformulação arquitetônica, e demostrou 
que o engenho nativo já está apto a apreender a experiencia estrangeira, não mais 
17 
 
 
 
somente como eterno caudatário ideológico, mas antecipando-se na própria 
realização”.40 
Baseado na dicotomia passado e presente, Lucio Costa construirá todo o seu 
pensamento e sua prática projetual. A tradição ligada à modernidade também será o 
motor da arquitetura moderna no Brasil que, já tendo sua própria identidade, buscará 
uma maior liberdade formal e encontrará seu maior expoente na figurado arquiteto 
Oscar Niemeyer. 
3. Da teoria à prática: breve análise das obras de Lucio Costa 
Lucio Costa é autor de poucas, mas valiosas obras que alavancaram uma corrente 
importante da nova arquitetura brasileira. Nelas podemos entender os princípios 
norteadores de sua arquitetura, pois, na opinião de Bruand, na obra de Lucio Costa, 
A teoria e a prática desenvolveram-se paralelamente; trata-se de dois 
aspectos complementares que esclarecem um ao outro; de um mesmo 
pensamento, expresso de dois modos diferentes. Assim não é de surpreender 
o fato de haver uma perfeita coerência entre a obra escrita e a obra projetada 
ou construída.41 
A maioria de obras são de caráter residencial e nelas percebe-se a ideia de que a 
arquitetura dita ‘moderna’ não pode simplesmente romper com o passado. Assim 
sendo, deve-se “rejeitar sem hesitação tudo aquilo que não tivesse mais interesse, 
evitando uma imitação puramente formal, como o tinha feito o movimento 
neocolonial”.42 Os projetos residenciais, sem dúvida, permitiram maior flexibilidade 
para pôr em pratica a síntese entre tradição e modernidade. 
Além do mais, a sociedade brasileira de início do século XX ainda não estava 
preparada para uma ruptura definitiva com os estilos tradicionais, aceitando assim 
uma arquitetura moderna mais discreta, fato que Lucio Costa compreendeu 
rapidamente. Bruand argumenta que, 
A produção arquitetônica de Lucio Costa se inscreveu de início no movimento 
neocolonial muito em voga no Brasil no decênio de 1920-30. Ele abandonou 
rapidamente este caminho e condenou, desde 1929, uma orientação 
 
40 COSTA, Lucio. 1980, Op. cit., p. 47. 
41 BRUAND, Yves., op. cit., p. 122. 
42 Ibid., p. 124. 
18 
 
 
 
considerada sem saída, passando a louvar uma arquitetura voltada para a 
modernidade e o emprego de novos materiais como o concreto armado. Esta 
passagem por uma imitação do passado esteve, no entanto longe de ser 
negativa. As casas que ele projetou então, ainda que utilizando um 
vocabulário decorativo emprestado ao passado, eram, sob muitos aspectos, 
inovadoras quanto à articulação da planta baixa e o tratamento das massas.43 
Suas casas são construções simples, que seguem linhas retas, formando geralmente 
um bloco compacto e simétrico, de formas puras e nas quais a forma segue a função, 
características presentes na arquitetura de Le Corbusier. Nas palavras do próprio 
arquiteto, 
A forma deve ser uma resultante da função, mas nesse processo é 
necessário levar em conta a preexistência de uma intenção mais ou menos 
consciente - de sobriedade de precisão de graça, de elegância, de dignidade, 
de força, de rudeza, etc. - que devidamente dosada conduz a uma variedade 
quase infinita de resultados possíveis entre os quais se encontram os 
resultados válidos par atender ao próprio visado.44 
Mesmo assim, Bruand afirma que “Lucio Costa não hesitou em introduzir elementos 
tradicionais discretos em composições estritamente contemporâneas”.45 
3.1. As casas sem dono – anos 1934-36 
Após sua saída da Escola de Belas Artes e tendo chegado ao fim sua sociedade com 
Gregori Warchavchik, Costa projeta uma série de casas sem proprietários. Nesta 
época, o trabalho era escasso devido às mudanças no seu estilo de fazer arquitetura. 
Assim sendo, projetou três casas teóricas, para terrenos de tamanho padrão na cidade 
do Rio de Janeiro. Sua ideia era vendê-las em bancas de jornal. 
A clientela continuava a querer casas de “estilo” – francês, inglês, “colonial” – 
coisas que eu então já não conseguia fazer. Na falta de trabalho, inventava 
casas para terrenos convencionais de doze metros por trinta e seis, - “Casas 
sem dono”. E estudei a fundo as propostas e obras dos criadores, Gropius, 
Mies Van der Rohe, Le Corbusier.46 
 
43 BRUAND, Yves., op. cit., p. 14. 
44 COSTA, Lucio. Registro de Uma Vivência. 2nd ed. São Paulo: Artes, Empresa das. 1995. p. 261. 
45 BRUAND, Yves., op. cit., p. 15. 
46 COSTA, Lucio, 1995, op. cit., p. 83. 
19 
 
 
 
Depois de ter estudado em profundidade as ideias de Le Corbusier e sem ter um 
cliente em particular, o arquiteto sentiu-se livre para projetar seguindo os novos 
princípios. Percebe-se em todas as casas as ideias corbusianas: “o conceito de 
habitar moderno, forma e volume, organização espacial, circulação, pátio interno, 
terraço jardim e esquadrias.”47 A ideia de uma moradia higiênica, bem iluminada e 
ventilada também norteará os projetos de Costa. Verifiquemos a continuação como 
estes conceitos são trabalhados nos projetos das Casas sem Dono. 
Forma e volume: As casas apresentam um equilíbrio visual mediante a utilização de 
formas puras, volumes brancos e linhas retas, o que as faz muito similares à Villa 
Savoye de Le Corbusier. Algumas partes estão elevadas sobre pilotis. Em duas das 
três casas, as áreas nobres encontram-se no andar superior, deixando-se o inferior 
para áreas de serviço ou garagem. Na planta, organizada por meio de quadrículas, 
percebe-se que a forma segue a função. 
A cobertura é composta por uma laje, elemento que, nos seus próximos projetos, o 
arquiteto substituirá por telhados tradicionais por entende-los mais aptos para a 
realidade brasileira. 
Pátio interno e terraço-jardim: Nestas casas também aparecem pátios internos e 
terraços-jardim ao estilo de Le Corbusier. Por estarem hipoteticamente construídas 
sobre lotes estreitos, Costa propõe o pátio interno como solução para a iluminação e 
ventilação dos cômodos, além de permitirem o contato permanente com a natureza 
circundante. A elevação sobre pilotis também permite gerar novos espaços que 
lembram as antigas varandas da época colonial. 
Esquadrias: Conceito inspirado num dos pontos de Le Corbusier, as janelas em fita 
permitem maior iluminação e ventilação, além de um maior contato com o exterior. O 
controle de iluminação dar-se-á por meio de venezianas, releitura dos antigos 
muxarabis coloniais. As janelas em fita permitem também uma composição 
equilibrada de cheios e vazios. 
 
47 BLÖMKER, Angelina. As casas sem dono e a máquina de habitar. Sessão temática: obras comparadas. Porto 
Alegre, 2016, p. 3. 
20 
 
 
 
Pode se dizer que estas casas são a expressão mais pura do modernismo 
internacional de Lucio Costa. Nas próximas obras estudadas a fusão entre 
modernismo e tradicionalismo será mais marcante. 
 
Figura 6: Lucio Costa, Casa sem Dono 01, 1934-36, Croqui. Fonte: Costa 1995, 89. 
 
Figura 7: Lucio Costa, Casa sem Dono 02, 1934-36, Croqui. Fonte: Costa 1995, 86 
 
Figura 8: Lucio Costa, Casa sem Dono 03, 1934-36, Croqui. Fonte: Costa 1995, 89. 
 
 
21 
 
 
 
3.2. Casa de verão do Barão de Saavedra, em Petrópolis – 1942-44 
Desde meados de 1930, Lucio Costa experimentava a dicotomia moderno vesus 
tradicional. Na casa do Barão de Saavedra o arquiteto deixa entrever a influenciada 
dos princípios corbuserianos na sua arquitetura, os quais consegue materializa-los 
fazendo uso de elementos da arquitetura tradicional. Para Rabello, “a grande 
novidade, aqui, seria reunir, de forma bem mais vigorosa (...) tanto as premissas 
corbuserianas quanto aqueles aspectos ligados à tradição.”48 
Do repertório modernista a casa apresenta pilotis e estrutura claramente separada da 
vedação o que permite a fachada livre. Com o uso de pilotis, a sala de estar já não 
está mais em contato direto com o jardim, sendo elevada ao primeiro andar junto com 
os demais cômodos. Ao igual que a Villa Saboye, o uso de pilotis permite a 
permeabilidade visual e física do andar térreo, permitindo que a construção se integre 
à paisagem circundante. 
 
Figura 9: Espaço livre e pilotis na Casa Barão de Saavedra. Fonte: www.casasbrasileiras.arq.br 
Do repertório tradicional, o projeto apresenta telha colonial,madeiramento aparente, 
janelas protegidas por beirais de telhas-canal que remetem aos balcões coloniais, 
muxarabis, entre outros. Mas não é somente a busca por uma identidade nacional o 
que move Costa a propor técnicas tradicionais. O arquiteto entende que o uso das 
mesmas se faz necessário para responder a um clima tropical com temperaturas altas 
e chuvas intensas. Neste contexto, uma laje de concreto, por exemplo, não teria 
suportado as variações climáticas, por isso mantem o telhado inclinado ao estilo 
colonial. 
 
48 RABELO, Clevio Dheivas Nobre. À imagem da tradição: uma reflexão acerca da arquitetura moderna 
brasileira. 2006. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, 
São Paulo, 2006, p. 138. 
22 
 
 
 
 
Outro diferencial neste projeto refere-se aos materiais. Não obstante o material mais 
utilizado nas residências fosse o concreto armado tão caro ao movimento moderno, 
Lucio Costa “evitou usá-lo de modo exclusivo e agressivo; pelo contrário, procurou 
obter uma concordância entre os materiais artificiais, concreto e vidro, e os materiais 
naturais como madeira e pedra”.49 
 
Figura 10: Mistura de materiais na Casa Barão de Saavedra. Fonte: www.casasbrasileiras.arq.br 
 
Figura 11: Treliças e venezianas na Casa Barão de Saavedra. Fonte: www.casasbrasileiras.arq.br 
Nas varandas fechadas podemos comprovar uma variedade de soluções estéticas. 
Alternam-se diversos materiais como concreto e madeira, brise-soleil verticais, 
treliças, venezianas, entre outros. Para Bruand, “um dos segredos de Lucio Costa é a 
dosagem hábil nas misturas feitas, onde os elementos tomados de empréstimo ao 
passado assumem um caráter moderno e, em compensação, os acessórios 
francamente modernos conservam uma afinidade com o passado.”50 
 
49 BRUAND, Yves., op. cit., p. 128 
50 Ibid., p. 131. 
23 
 
 
 
3.3. Conjunto Residencial do Parque Eduardo Guinle – 1948 - 54 
O projeto inicial encomendado pela família Guinle, compunha-se de seis prédios 
independentes e localizados ao redor do parque. Só três deles foram projetados por 
Lúcio Costa entre 1948 e 1954. 
 
Figura 12: Projeto do Parque Guinle. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/01-14549/classicos-da-arquitetura-
parque-guinle-lucio-costa/casa-lucio-costa/ 
“Neles, princípios modernistas como pilotis, fachada livre e brise soleil, se misturam à 
cultura local através da inserção de elementos como cobogós (tijolos cerâmicos 
vazados) e treliças de madeira”.51 
 
 
 
Figura 14: Parque Guinle: pilotis. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/01-14549/classicos-da-arquitetura-
parque-eduardo-guinle-lucio-costa/14549_15421 
Um dos maiores desafios deste projeto consistia em resolver um problema: as vistas 
para o parque coincidiam com a pior orientação, a oeste. O arquiteto não teve dúvidas 
e deu preferência às vistas. Assim sendo, Costa precisou buscar uma solução para 
diminuir a insolação das fachadas, sem sacrificar as vistas. A solução encontrada 
 
51 ARQGUIA - Parque Guinle. Edifícios Residenciais. Disponível em: http://arqguia.com/obra/parque-guinle-
edificios-residenciais/?lang=ptbr. Acesso em 30 de abr. de 2018. 
http://arqguia.com/obra/parque-guinle-edificios-residenciais/?lang=ptbr
http://arqguia.com/obra/parque-guinle-edificios-residenciais/?lang=ptbr
24 
 
 
 
foram os brise-soleil e os elementos vazados que além de proteger da insolação 
permitiram dar uma unidade plástica ao conjunto, embora cada volume mantivesse 
sua individualidade. Conforme Rabelo, 
O problema da excessiva incidência solar foi convertido por Lucio em 
verdadeiro argumento plástico da síntese entre tradição e modernidade por 
ele propagada. Utilizando-se de elementos tradicionais como cobogós, 
treliças e brises verticais, agora transformados por um processo de pré-
fabricação, o arquiteto realizou uma das mais belas tramas compositivas da 
arquitetura brasileira. 52 
 
Figura 13: Parque Guinle: mistura de elementos modernos e vernáculos. Fonte: napracinha.com.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
52 RABELO, Clevio Dheivas Nobre. Op. cit., p. 170. 
25 
 
 
 
4. Da teoria à prática: estudo de caso do Hotel do Parque São Clemente em 
Nova Friburgo – 1945 
O Hotel Parque São Clemente localiza-se no município fluminense de Nova Friburgo, 
região montanhosa distante 136 km do Rio de Janeiro. Implantado num terreno 
estreito e de acentuado aclive no parque São Clemente, o projeto foi encomendado 
pela acaudalada família Guinle, e era destinado a um seleto grupo de turistas ricos. 
O município exigia através do decreto-lei n.º 70, de 16 de fevereiro de 1944, que os 
hotéis obedecessem ao tipo hotel de montanha. Segundo Comas, “o artigo 10 reforça 
e amplia: todas as construções deverão ter cunho marcadamente campestre [...]”.53 
Para Lucio Costa, esta exigência não era um empecilho. Muito pelo contrário, o 
arquiteto buscou na arquitetura vernácula diminuir a uniformidade que a arquitetura 
moderna exigia. Nas palavras de Costa “no mundo mecanizado de hoje é desejável 
que tais diferenças venham à tona a fim de neutralizar um pouco a generalizada 
uniformização.”54 
Pode-se afirmar que o Hotel do Parque foi conscientemente concebido. Cada detalhe 
foi pensado buscando fusionar a arquitetura vernácula com a moderna. De concepção 
nitidamente racionalista, o hotel está construído quase integramente com materiais 
naturais da região fato que permite uma integração com a paisagem circundante e lhe 
outorga um aspecto rústico. O hotel se desenvolve num volume principal ao qual se 
acopla outro em forma de L destinado aos serviços. O volume principal apresenta um 
jogo de modulações, cheios e vazios. 
Entre os princípios modernistas nele aplicados, encontram-se: o uso da estrutura 
independente, o andar térreo com pilotis, as grandes superfícies envidraçadas e as 
janelas em fita. Entre os elementos que lembram a herança luso-brasileira estão a 
varanda da fachada principal, as esquadrias da fachada norte, o telhado de telhas 
coloniais com beiral, treliçados e brise-soleil. Como na casa Barão de Saavedra, Costa 
mistura magistralmente vários elementos numa só composição. Sobre esta simbiose, 
 
53 COMAS, Carlos Eduardo Dias. Arquitetura moderna, estilo campestre. Hotel, Parque São Clemente. 
Arquitextos, São Paulo, ano 11, n. 123.00, Vitruvius, ago. 2010 Disponível em: 
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.123/3513>. Acesso em 04 de set. de 201. 
54 COSTA, Lucio. Oportunidade perdida in XAVIER, Alberto (Org.). Arquitetura Moderna Brasileira: depoimento 
de uma geração. Cosac & Naify, 2003, p. 184. 
26 
 
 
 
A continuação, estudaremos com maior aprofundamento como o arquiteto pôs em 
prática os princípios modernistas misturados aos elementos da tradição luso-
brasileira. 
Estrutura independente: o uso de madeira de troncos roliços permitiu a criação de 
uma estrutura independente seguindo o princípio modernista de separação entre 
estrutura e vedação. A estrutura independente também outorgou liberdade ao 
arquiteto para compor as fachadas e permitiu a planta livre do andar térreo onde se 
localizavam as áreas sociais. Sobre este tema, Costa afirma que: 
É este o segredo de toda nova arquitetura. Bem compreendido o que significa 
essa independência, temos a chave que permite alcançar, em todas as suas 
particularidades, as intenções do arquiteto moderno; porquanto foi ela o 
trampolim que, de raciocínio em raciocínio, o trouxe às soluções atuais – e 
não apenas no que se relaciona à liberdade de planta, mas, ainda, no que 
respeita à fachada, já agora denominada “livre”, pretendendo-sesignificar 
com essa expressão a nenhuma dependência ou relação dela com a 
estrutura.55 
Planta livre: O pavimento térreo que comporta a área social, apresenta planta livre 
com a estrutura aparente dos paus roliços sejam eles pilares ou vigas. Isto não sucede 
no andar superior onde encontram-se os apartamentos. No andar térreo, o arquiteto 
também propôs uma varanda que lembra os alpendres tão caros à época colonial. 
 
Figura 14: Park Hotel. Planta. http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.123/3513 
 
55 Costa, Lúcio. Razões da nova arquitetura in XAVIER, Alberto (Org.). Arquitetura Moderna Brasileira: 
depoimento de uma geração. Cosac & Naify, 2003, p. 46. 
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.123/3513
27 
 
 
 
Fachada livre e janelas em fita: desvinculadas as paredes da função estrutural, o 
arquiteto sente-se livre para trabalhar as vedações de diferentes maneiras. A fachada 
norte apresenta grandes planos de vidro e janelas em fita, assim como também um 
interessante jogo volumétrico e o uso de materiais variados. Como na Villa Saboye, 
as janelas em fita permitem enquadrar a bela paisagem circundante assim como 
também iluminar o corredor de acesso às habitações. É inegável a linguagem colonial 
desta fachada, visível não só no tipo de janelas intencionalmente escolhidas como 
também no uso de beirais. 
 
Figura 15: Park Hotel. Fachada norte. Fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.123/3513 
A fachada sul também apresenta uma composição de grande diversidade. No nível 
superior observa-se a repetição modular das varandas e no inferior, grandes 
superfícies envidraçadas e a varanda com pilotis. A parte superior também denota 
uma marcada linguagem colonial principalmente pelo uso das treliças. 
 
Figura 16: Hotel do Parque. Fachada sul. Fonte: www.archdaily.com.br 
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.123/3513
http://www.archdaily.com.br/
28 
 
 
 
Pilotis: apresentam-se de forma parcial, especialmente na varanda inferior. Mesmo 
assim, a construção oferece permeabilidade visual, comprovada na fachada sul. A 
intencionalidade do uso do tronco roliço atribuiu ao conjunto o estilo rústico da cabana 
exigido pela norma municipal. Para Bruand, o uso de estruturas de madeira 
comprovou que 
[...] arquitetura contemporânea não estava obrigatoriamente ligada ao 
emprego de materiais artificiais atuais e que, em certos, para construções de 
pequeno porte, podia-se lançar mão de recursos tradicionais sem com isso 
renunciar às grandes conquistas do século XX e aso princípios enunciados 
por Le Corbusier.56 
Cabe destacar ainda que o uso de pedra e madeira como elementos estéticos, 
reforçam a rusticidade da construção e afasta-se da ideia dos volumes brancos de Le 
Corbusier. Ante todo o exposto, evidencia-se claramente neste projeto a busca 
incansável de Costa por uma identidade regional. Na opinião de Rabelo, o maior 
mérito deste projeto “foi ter conciliado, na feitura de uma obra moderna, tanto as 
referências do passado, já características de sua produção, como elementos artificiais 
e naturais, trabalhados dentro de uma técnica construtiva contemporânea.”57 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
56 BRUAND, Yves., op. cit., p. 132 
57 RABELO, Clevio Dheivas Nobre. Op. cit., p. 159. 
29 
 
 
 
CONCLUSÃO 
 
Costa transformou-se num dos mais importantes teóricos da arquitetura moderna no 
Brasil, estabelecendo novos rumos e critérios estéticos. Influenciou não só os seus 
contemporâneos, como também às futuras gerações de arquitetos brasileiros 
mediante suas obras construídas e, principalmente, mediante suas obras escritas. 
Na opinião de Haas, “a arquitetura moderna brasileira contrariou uma das utopias 
perseguidas com fervor pelas vanguardas construtivas: o ideal de a-territorialidade e 
a-historicidade que supostamente teria originado um Estilo Internacional”.58 Sem 
dúvida alguma, esta irreverencia se deve ao espírito inquieto de Lucio Costa. 
Inconformado com os movimentos em voga, o arquiteto soube questiona-los e tirar 
proveito de cada um deles. Formado sob a influência da escola neocolonial e 
estudioso da arquitetura moderna europeia, buscou fusionar ambas correntes em prol 
de uma identidade regional. 
Decidido a encontrar uma solução para o conflito entre as inovações tecnológicas e a 
tradição, entre a estética moderna e a vernácula, Costa chegou a uma síntese que 
dotou de “brasilidade” à arquitetura moderna. Suas inquietudes em relação aos rumos 
da arquitetura moderna estão plasmadas nos seus escritos que, ao mesmo tempo, 
revelam a evolução do seu pensamento. Em Razões da Nova Arquitetura, Costa 
analisa a importância dos princípios da arquitetura moderna criticando o uso da 
linguagem historicista. Pouco tempo depois, em Documentação necessária, o autor 
analisará a arquitetura moderna à luz da evolução histórica apelando para uma 
releitura criteriosa dos elementos tradicionais. Para Costa, essa continuidade com o 
passado permitirá uma arquitetura comprometida com seu tempo e lugar. 
Não só seus escritos revelam este binômio modernidade e tradição. Suas obras 
construídas, embora poucas, demonstram com excelência, como o arquiteto pôs em 
prática suas ideias. É nas obras construídas onde elementos modernos como pilotis, 
planta livre, janelas em fita, fachada livre e terraço jardim adquirem um matiz brasileiro. 
Sua arquitetura não é uma mera cópia da arquitetura europeia, suas fachadas livres 
ganham elementos vernáculos como treliças, cobogós e brises. O terraço jardim não 
 
58 HAAS LUCCAS, Luís Henrique. Arquitetura moderna e brasileira: o constructo de Lucio Costa como 
sustentação. ArquiTextos, ano 06, set. 2005. Disponível em: 
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.063/437. Acesso em 03/05/2018. 
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.063/437
30 
 
 
 
será aplicado em todas suas construções. Como arquiteto responsável com seu 
contexto, Costa entenderá que esta solução não é a mais criteriosa. Por isso não 
hesitará em usar o telhado inclinado e sus beirais, tão necessário ao clima tropical. 
Para Costa, os pilotis não necessariamente têm que ser de concreto, podendo ser 
utilizado outro material como paus roliços. As janelas em fita estão presentes, mas 
com reminiscências às janelas coloniais. Todos estes pontos revelam uma arquitetura 
moderna adaptada ao seu tempo e lugar e fundamentada criteriosamente não só em 
princípios modernos, mas também tradicionais. 
E assim, 
[...] a arquitetura brasileira de agora, como então as européias, já se distingue 
no conjunto geral da produção contemporânea e se identifica aos olhos do 
forasteiro como manifestação de carácter local, e isto não somente porque 
renova uns tantos recursos superficiais peculiares à nossa tradição, mas 
fundamentalmente porque é a própria personalidade do gênio artístico nativo. 
Conquanto se antecipasse ao desenvolvimento cultural ambiente, ela se 
ajusta e se integra facilmente ao meio, porque foi conscientemente concebida 
com tal proposito. 59 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
59 Costa, Lucio. Muita Construção, alguma Arquitetura e um Milagre in XAVIER, Alberto (Org.). Arquitetura 
Moderna Brasileira: depoimento de uma geração. Cosac & Naify, 2003, p. 95. 
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