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As dermatoses inflamatórias não infecciosas podem ser vesico-bolhosas (Pênfigo e Eczema) ou eritemato-descamativas (Psoríase). 1. DERMATOSES VESICO-BOLHOSAS 1.1. ECZEMA Do grego ekzema, significa efervescência. O termo descreve de forma vívida o aspecto clínico dessas lesões, que se caracterizam por eritema e edema com formação de vesículas ou bolhas (mudam conforme a fase). Estas progridem com exsudação, formação de crostas, descamação e prurido. Pode ser agudo, subagudo ou crônico. Evolução das lesões: eritema → edema → vesículas → bolhas → exsudação → crostas → descamação → prurido → liquenificação. A descamação do eczema é arredondada, dita em colarete. A liquenificação ocorre pela cossagem crônica. DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 2 Os eczemas tem causas endógenas (dermatite atópica) e causas exógenas (dermatite de contato alérgica e por irritação primária). • DERMATITE ATÓPICA Manifestação eczematosa peculiar, de causa desconhecida (endógena), pode ser hereditária, freqüentemente associada a outras atopias como asma e/ou rinite alérgica e com outros casos de atopia na família. Pode ter períodos de latência ou acalmia. Apresenta três períodos de manifestação principal: no lactente, na criança pré-escolar e no adolescente/adulto. A forma das lesões variam conforme a idade. Predomina nas dobras, como pescoço, fossa cubital, poplítea, face, dorso das mãos e pés. - Dermatite Atópica do Lactente (infantil): eczema mais avançado e disseminado. Acomete principalmente a face (fronte e bochechas, sem afetar o maciço centro-facial). No tronco e nos membros, observavam-se lesões eritemato-papulo-vesiculosas agrupadas, geralmente formando uma númula (em moeda). - Dermatite Atópica do Pré-escolar/adolescência: eczema subagudo, principalmente nas dobras. Apresenta escoriações, descamações e pele muito seca. Pode evoluir para liquenificação. A persistência do quadro eczematoso na vida adulta é caracterizada por liquenificações generalizadas. DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 3 A dermatite atópica é sempre acompanhada de prurido e eritema. Na fase crônica temos a liquenificação com espessamento e acentuação dos sulcos da pele e da cor (acizentada). Geralmente começa com a barreira cutânea comprometida (traumas, pele seca, geneticamente) que expõe o alérgeno do ambiente às células apresentadoras de antígenos. Mutações no gene que codifica a filagrina são responsáveis por alteração na barreira cutânea, acarretando perda de água e facilitação na penetração de haptenos e microorganismos. As DC’s sensibilizam os linfócitos Th2 (padrão Th2). Há uma resposta inflamatória com aumento de IgE e degranulação de mastócitos e citocinas inflamatórias. Fato importante no paciente atópico é a eosinofilia no sangue periférico e o aumento do nível de anticorpos IgE (resposta humoral). Assim, para haver dermatite atópica o paciente já é predisposto geneticamente e entra em contato com fatores desencadeantes ambientais (alérgenos). Os principais alérgenos são alimentos, inalantes, ingestantes ou injetantes, e contactantes, principalmente a lã, tecidos sintéticos, seda, poeira e sabões podem predispor ou desencadear um surto de eczema. A desrregulação da população de Stafilococos aureus da pele também pode ativar a dermatite (mesmo sem infecção). Estresse é sempre um fator de agravo. • DERMATITE DE CONTATO Ou eczema exógeno, pode ser decorrente de dois mecanismos etiopatogenéticos: 1 - Irritação primária: pela ação direta de substância irritante, não alérgeno. Qualquer pessoa pode desenvolver. Sem resposta imunológica. Ex. Lesões bolhosas em couro cabeludo pelo uso primário de pasta alisadora de cabelo, ocupacional, medicamentos, cosméticos. Branda Destacar DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 4 Lesão eritematosa vesiculosa, como vesículas que coalescem e formam bolhas. Pode ter escoriações e fissuras, o limite é irregular (mal definido). Essas substâncias causam dano físico ao queratinócito e promovem a liberação de citocinas inflamatórias. O dano pode ser absoluto (queimadura, relou lesou), ou relativo (por contato frequente com a substância, como lavagem frequente das mãos – dermatite das mãos). 2 – Sensibilização (alérgica): Trata-se de uma hipersensibilidade tardia ou celular, do tipo IV a um alérgeno. Depois de um contato prévio houve sensibilização e num segundo contato houve resposta imune intensa com formação da lesão (perda da tolerância aos alérgenos ambientais – haptenos). Os haptenos são pequenos alérgenos que se ligam a receptores da epiderme e são reconhecidos pelas células de Langerhans, formando um complexo. Ela apresenta aos linfócitos T auxiliares ali da derme que levam para o linfonodo regional e amplificam (expansão clonal). Isso pode levar 4 a 5 dias após a exposição inicial. Os linfócitos Th2 sensibilizados do linfonodo voltam para a pele em quase 2 semanas. Ficam prontos para uma segunda exposição. Quando isso acontece, eles causam intensa reação tecidual liberando citocinas inflamatórias que em 1 ou 2 dias após o contato com o alérgeno já aparece o eczema. Além das citocinas há degranulação dos mastócitos, causando vasodilatação local e edema dos espaços intercelulares, gerando as bolhas (espongiose). A lesão inicialmente é localizada, mas dependendo da resposta imune pode se disseminar e aparecer à distância do local de contato. São lesões caracterizadas macroscopicamente como eritematosas, descamativas, com fissuras, bolhosas. Nos atópicos ficam edemaciadas. - Exemplos de dermatite de contato: dermatite após tatuagem com henna; lóbulo da orelha após uso de bijouterias com níquel e cromo; abdome por contato com botão da calça contendo níquel; punho por conta do relógio ou pulseira; pés pelo contato com a Branda Destacar Branda Destacar DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 5 borracha do chinelo. Pode aparecer ainda nas comissuras labiais pelo contato com a saliva (Pérleche). ➢ Alterações histopatológicas comuns aos eczemas: Observa-se edema nos espaços intercelulares na epiderme (espongiose), promovendo o afastamento entre os queratinócitos, onde o acúmulo progressivo de líquido pode resultar em vesículas e bolhas intraepidérmicas (fase aguda). Na microscopia, os desmossomos ficam bem visíveis, parecendo esponja. Espongiose → espongiose + vesículas → espongiose, vesículas, bolhas → exsudação, crostas. Com o passar do tempo (dias, semanas) a fase vesiculosa aguda regride, dando origem às fases subaguda e crônica, com hiperplasia epidérmica progressiva (acantose irregular), e hiperceratose e paraceratose ou orto? (crostas na macroscopia). Há infiltrado inflamatório crônico inespecífico e fibrose na derme. Na liquenificação há espessamento da epiderme e muita fibrose da derme. Na macroscopia há quadriculado retiforme (poligonal). O diagnóstico é clínico. Para verificar qual o alérgeno podemos realizar o patch test. Devemos sempre ter em mente os diagnósticos diferenciais para dermatites: psoríase, herpes, etc. O tratamento da dermatite de contato é retirar o alérgeno. Branda Destacar DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 6 → DERMATITE DE CONTATO (Eczema) Paciente feminina, 38 anos, branca. Apresenta lesões eritêmato-descamativas, com formação de pequenas bolhas nas mãos. Relaciona o quadro com o uso de detergentes. Imagem escaneada da lâmina, mostrando dois cortes de pele grossa (notar a espessa camada córnea), com bolhas na espessura da epiderme. Observa-se epiderme acantótica,com espongiose (edema intercelular), e formação de vesículas e bolhas. Estas contêm material amorfo ou filamentoso, queratinócitos em degeneração, detritos celulares, alguns neutrófilos e hemácias. Observar o rompimento da bolha na superfície, com extravasamento de seu conteúdo para o estrato córneo. Este achado é comum na fase aguda do eczema e explica o significado do termo 'eczema' (do grego efervescência ou ebulição). A superfície desta bolha está recoberta por crosta hiperceratótica (que aparece fortemente basófila nestes cortes), e exsudato DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 7 fibrinoso com células inflamatórias. A epiderme em torno da bolha mostra espongiose (ou seja, edema intercelular), notado como fendas claras entre as células que destacam os espinhos, (ou seja, os desmossomos) entre elas. Nas camadas basal e suprabasal da epiderme nota-se infiltrado inflamatório crônico inespecífico permeando-a. Este infiltrado é denominado exocitose, independente se agudo ou crônico. DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 8 Nota-se exocitose nas camadas profundas da epiderme na região da bolha, e, na derme, infiltrado inflamatório crônico inespecífico, predominantemente perivascular. 1.2. PÊNFIGO Do grego pemphix, significa bolha. Doença bolhosa autoimune, que resulta da perda da integridade das ligações intercelulares (desmossomos) da epiderme, ou seja, acantólise (quebra dos acantos). Geralmente são crônicas com fases de invasão e remissão. Pode ter evolução grave para falência da epiderme (5% de mortalidade). DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 9 • PÊNFIGO VULGAR Incide em ambos os sexos e a maioria dos indivíduos está na faixa etária entre 40 a 60 anos. Atinge a pele e mucosas. Tem áreas ulceradas, com exposição da derme avermelhada. Pode acometer todo o tegumento (bem disseminado). É causado por autoanticorpos IgG contra desmogleína 3 (desmossomos) da camada de Malpighi (camada parabasal da epiderme). Ocorre clivagem intraepidérmica por acantólise com formação de bolha suprabasal com teto espesso. Tem evolução grave, quase sempre fatal, devido a distúrbios metabólicos e complicações infecciosas. Compromete bastante o estado geral, evoluindo para sepse. Clinicamente, as bolhas são tensas, de tamanhos variados e com conteú do límpido, turvo, hemorrágico ou seco. Essas bolhas demoram para se romper e podem acometer a mucosa oral (confundem com afta). O pênfigo vulgar pode ficar restrito a mucosa ou não. Sempre procurar lesões nas mucosas do paciente. Na mucosa oral pode ter acometimento da língua. As lesões tem cobertura leucoplásica (esbranquiçada) e podem ser dolorosas. DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 10 Geralmente começa no tronco e expande para extremidades.Pode ter forma extensa, acometendo palmas das mãos, pés, região peri e subungueal. A forma grave pode formar bolhas e exulcerações extensas por todo o corpo, causando falência total da epiderme. Nesse caso, a pele fica preta por necrose do epitélio, parecendo queimado (carvão). Ocorrem complicações típicas, como infecções e desidratação rápida. Existem várias variantes de pênfigo vulgar, como paraneoplásico, por drogas, por igA, herpetiforme, neonatal. • PÊNFIGO FOLÍACEO Anticorpos contra desmogleína 1. Doença endêmica na América do Sul e no Brasil (centro-oeste e sudeste), onde é conhecida como fogo selvagem, sendo o maior número de casos observados em habitantes das zonas rurais e do sexo feminino. Freqüentemente afeta jovens, sendo registrados comumente casos familiares. Possui a forma não endêmica também (restante do mundo). Os sítios de distribuição das lesões cutâneas são o couro cabeludo, face (nasal e malar), tórax e dorso. As mucosas não são afetadas. As bolhas são tão superficiais que, de modo geral, só se encontram zonas eritêmato-crostosas, locais de ruptura prévia de bolhas. Pode ter fase de invasão bolhosa e de regressão. As lesões são ulcerações, pequenas bolhas que se rompem facilmente. Podem ter crostas. Em casos graves pode evoluir para eritrodermia esfoliativa. Nas lesões antigas há hiperpigmentação e hiperplasia de aspecto verrucoso. Essas lesões são diferentes das clássicas bolhosas, são crostosas. Ocorre quando a bolha Branda Destacar DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 11 intraepidérmica é tão alta que não tem espaço bolhoso (a bolha está no espaço córneo). Na histologia vemos os queratinócitos naviculares, alongados. Nas fases iniciais há contínua e intensa sensação de ardor e calor, justificando o nome de fogo selvagem. A evolução é grave, porém a mortalidade é menor que no pênfigo vulgar. Alterações histopatológicas: O denominador comum nos pênfigos é a acantólise (acanthos, do grego = espinhos; lise = quebra). Esse termo implica dissolução, ou lise, das junções intercelulares do epitélio escamoso. As células epiteliais, sem as junções que as mantinham coesas umas às outras, são chamadas células acantolíticas. Perdem sua forma poliédrica e tornam-se arredondadas. O espaço entre elas resulta na formação de uma bolha intraepidérmica subcórnea. O nível de formação da bolha no epitélio é distinto entre um pênfigo e outro. É suprabasal no pênfigo vulgar (daí as bolhas serem tensas, pois há espesso teto de epitélio). No pênfigo foliáceo é superficial, a nível do estrato granuloso ou camada malpighiana alta (daí as bolhas serem flácidas, facilmente se rompem e descamam). As bolhas rapidamente se recobrem de escamo-crostas úmidas, conferindo ao doente cheiro peculiar. Podemos realizar o sinal de Nikolsky, que consiste na pressão aplicada sobre a pele e que causa um desprendimento, geralmente sem sangramento (bolha superficial). ➢ Fisiopatologia dos Pênfigos Tem fatores genéticos (HLA) e ambientais. O soro de pacientes com pênfigo foliáceo ou vulgar contém anticorpos (IgG) contra a substância cimentante intercelular do epitélio escamoso. Os testes de imunofluorescência demonstram depósitos intercelulares de IgG. Branda Destacar Branda Destacar DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 12 Anticorpos do pênfigo reagem contra uma glicoproteína da família das caderinas. É uma glicoproteina de superfície ou desmossomal, sintetizada pelos queratinócitos e denominada desmogleina (glicoproteína desmossomal). Indivíduos normais são tolerantes ao antígeno epidérmico, enquanto que nos doentes existe a perda desta tolerância. No pênfigo as desmogleínas I e III são alvos dos autoanticorpos. Desmogleína I fica na superfície da epiderme, apenas na pele (pênfigo folíaceo). A Dsg III fica na região basal e parabasal da epiderme da pele e mucosas (pênfigo vulgar). Os anticorpos anti-desmogleínas chegam na epiderme e se ligam a ela, formando complexos antígeno + anticorpo. Esses complexos induzem a liberação de uma enzima proteolítica (serina-protease) pelos queratinócitos, que agiria como ativadora do plasminogênio, levando à produção de plasmina, enzima responsável pela acantólise. O queratinócito acantolítico fica arredondado e com núcleo hipercromático. Esse processo de acantólise pode ser demonstrado por imunofluorescência direta com marcadores para IgG e porção C3 do complemento. Temos um aspecto em colmeia. A acantólise causa desprendimento da epiderme e na macroscopia vemos isso no Sinal de Nikolsky: ao fazer uma leve pressão contra a pele ocorre descamação (parece que estourou bolhas). A presença desse sinal é altamente sugestiva de pênfigo.Outro sinal é o de Sinal de Asboe Hansen: ao fazer pressão sobre a bolha o líquido dentro percorre a epiderme e espalha a bolha, andando sobre a epiderme. Isso é típico de acantólise. Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=z- AKuKnzxrM. Substâncias antigênicas que pudessem funcionar como gatilho inicial do processo continuam sendo motivo de intensa investigação. Acredita-se também que deva existir https://www.youtube.com/watch?v=z-AKuKnzxrM https://www.youtube.com/watch?v=z-AKuKnzxrM DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 13 algum fator ambiental relacionado ao pênfigo foliáceo, que é endêmico em vários pontos da América do Sul. Tem sido citado, a existência de um mosquito, o Simulium nigermanum. Esse inseto poderia transmitir uma substância imunogênica entre as pessoas e passar para indivíduos susceptíveis geneticamente. Diagnósticos diferenciais com pênfigos seriam as outras doenças bolhosas autoimunes (penfigoides), doenças metabólicas bolhosas (diabetes, porfiria), eritrodermias e reações a drogas (síndrome de Steven-Johnson). O tratamento para pênfigo é prolongado, para toda a vida, mesmo com remissão. Utilizamos imunossupressores, como corticóides. → PÊNFIGO FOLÍACEO Há formação de uma bolha abaixo da camada córnea (subcórnea), devido à lesão dos desmossomos e conseqüente perda da adesividade das células epidérmicas. Estas ficam arredondadas, com superfície lisa e podem soltar-se no interior da bolha (células acantolíticas). Branda Lápis Branda Máquina de escrever 1 Branda Máquina de escrever 2 Branda Lápis Branda Lápis Branda Lápis Branda Máquina de escrever 2 Branda Máquina de escrever 2 Branda Máquina de escrever 2 DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 14 Entre elas notam-se também neutrófilos e hemácias íntegras. Na derme há leve a moderado infiltrado inflamatório crônico inespecífico. DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 15 2. DERMATOSES ERITEMATO-DESCAMATIVAS 2.1. PSORÍASE Do grego psora, significa sarna. A psoríase é uma dermatose inflamatória crônica comum, caracterizada por placas avermelhadas, recobertas por escamas prateadas, localizadas principalmente nas superfícies extensoras dos membros. Tem períodos de exacerbação e de remissão. Geralmente se inicia com lesões pequenas em placas no couro cabeludo, joelhos, cotovelos, palmas. Mas qualquer área da pele ou mucosa pode ser acometida. Pode acometer as unhas e deixá-las tortas, espessas e descoladas. DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 16 A psoríase pode acometer todo o corpo, determinando uma forma eritrodérmica. Lesões pustulosas podem ocorrer, localizadas nas regiões palmoplantares ou acompanhando a eritrodermia. A pele do psoriático quando traumatizada reproduz com lesão de psoríase no local do trauma, sendo uma resposta isomórfica denominada fenômeno de Köbner. Tem picos de incidência entre jovens (16-22 anos) e adultos > 50 anos. A maioria das lesões aparecem antes dos 30 anos e podem ter remissão espontânea ou só com tratamento. Há recorrência após 1 ano de tratamento mais ou menos. É uma disfunção da resposta imune inata e adquirida com alteração da queratinização normal da pele. É genética e associada com fatores ambientais e outras comorbidades. Tem vários genes envolvidos (poligênica), como genes da função da barreira cutânea, genes da imunidade inata, genes das vias de sinalização e das RI. O principal gene envolvido parece ser o HLA-Cw-06. A psoríase não é só uma doença autoimune, mas imunomediada, pois ocorre imunidade inata e adquirida. Pode ser desencadeada por fatores ambientais, como estresse, infecções por Streptococcos, HIV ou Hepatites B e C; obesidade, tabagismo, etilismo, distúrbios metabólicos (hipocalcemia), medicações (corticoide, lítio, cloroquina). Histogênese: Há evidências de que a psoríase possa ser um tipo de reação mediada por complemento e limitada ao estrato córneo. De acordo com essa hipótese, uma lesão exógena ou endógena ao estrato córneo de certos indivíduos resulta no desmascaramento de antígenos desta área. Esses antígenos evocam a formação de auto-anticorpos específicos, que se ligam ao estrato córneo, fixam complemento e ativam a cascata do complemento e o acúmulo de neutrófilos. Esses últimos, presentes no estrato córneo, liberam enzimas que desmascaram mais antígenos e perpetuam o processo. Branda Destacar Branda Destacar Branda Destacar DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 17 Fatores proliferativos para queratinócitos subjacentes são liberados e resultam em aumento da renovação epidérmica e na hiperplasia e formação de escamas, tão características da psoríase. Normalmente demora +/- 1 mês o processo de queratinização, mas na psoríase leva 5 dias. Inicialmente temos complexos imunogênicos formados pelas células dendríticas da derme e os antígenos ambientais expostos pelo trauma na pele. Essas células sinalizam para outras DC e levam até os linfonodos regionais. Lá os linfócitos Th1 são sensibilizados e fazem expansão clonal. Os linfócitos Th1 ativados retornam até a epiderme e liberam citocinas inflamatórias (IL-22) que estimulam a proliferação do epitélio e atraem mais células inflamatórias. Ocorre hiperplasia da epiderme (placa psoriásica). O queratinócitos também produz citocinas inflamatórias (Leucotrieno B4 – LTB4) que atraem neutrófilos para o epitélio, causando os microabcessos de Munro e depois as pústulas. Há secreção de VEGF que promove a proliferação endotelial próximo a epiderme. Além da simples angiogênese também há venulização dos capilares arteriais para veias, facilitando a diapedese dos neutrófilos e causando congestão sanguínea (extravasamento de plasma e hemácias para a lesão). Os vasos ficam amplos e tortulosos, bem abaixo da epiderme, na derma alta. Em resumo, os queratinócitos de pessoas afetadas pela psoríase e com fenótipo, genéticamente determinado, apresentam uma alta capacidade de proliferação e diferenciação. Alterações Histopatológicas: - Observa-se acentuado espessamento epidérmico (acantose psoriasiforme), com alongamento regular das cristas interpapilares (cones epiteliais de mesma altura) e aumento de figuras de mitose. A base do cone epitelial é alargado, tipo em clava. O estrato granuloso está ausente (agranulose). Branda Destacar Branda Destacar DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 18 Observa-se extensa camada paraceratótica no estrato córneo (presença de núcleos nas células corneificadas), que não raro contém acúmulos de neutrófilos (microabscessos de Munro) ali na córnea. Não são infecciosos. A epiderme suprapapilar (acima da papila dérmica) é delgada e o seu destacamento superficial expõe os vasos sangüíneos dérmicos tortuosos e dilatados, muitas vezes sob a forma de diminutos pontos hemorrágicos, fenômeno clínico característico, também conhecido como sinal do orvalho sangrante ou de Auspitz. Podemos ver gotículas de sangue na camada córnea. Há placas com eritema, descamação e infiltração. Pode ser espessa, com bastante queratinização formando escamas e acinzentadas. São bem delimitadas e simétricas (mesma região dos dois lados do corpo). Acomete joelhos, face anterior das pernas e antebraços, couro cabeludo, etc. A maioria é bem delimitada, na forma leve e restritas a uma área (80%). Contudo, pode ter a forma extensa, recobrindo quase todo o dorso. Pode, ainda, acometer apenas a região do couro cabeludo, com lesões muito descamativas esbranquiçadas e que ultrapassam a região de implante dos cabelos (o que não acontece na dermatiteseborreica). - Psoríase Palmo-Plantar: acomete só palma das mãos e planta dos pés. Placas descamativas, queratodermia e pustulose. - Psoríase Gutata: pequenas lesões circulares bem eritematosas e descamativas disseminadas pelo corpo todo. Ocorre semanas depois de uma infecção na orofaringe por Streptococcos, geralmente em crianças e jovens. É tratável, mas 1/3 dos casos tem recidivas. - Psoríase Grave: aparece quadro de eritrodermia psoriásica (esfoliativa) ou pustulosa em mais de 95% da superfície corpórea. Altamente letal, com febre, risco de Branda Destacar Branda Destacar Branda Destacar Branda Destacar DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 19 infecções e sepse. Apenas 5% dos casos evoluem para a psoríase grave. A principal causa é o uso de corticoides. - Psoríase Pustulosa Palmo-Plantar: forma pustulosa localizada sem ser disseminada grave. Área eritematosa e pústulas sobre o eritema. Geram colaretes descamativos (circulares). Causam ardor. - Psoríase Ungueal: ocorre descolamento das unhas (onicólise), hemorragias, hiperqueratose, leuconíquia, distrofia e pittings (pontos brancos que representam processo inflamatório da psoríase na matriz ungueal). A psoríase ungueal pode estar relacionada com artrites. A psoríase está relacionada com a Artrite Psoriásica, 30% dos psoriásicos tem artrite. Não tem relação com lesão cutânea, pode ter uma lesão pequena mas evoluir para artrite. Há dor inflamatória, dactilite, espondilite (sacroileíte), aumento do volume das falanges distais e geralmente com alterações ungueais (psoríase ungueal). O diagnóstico é clínico, podemos fazer a curetagem das escamas e manobras diagnósticas. Tem diagnóstico diferencial com eczemas (descamação discreta e topografia distinta) e linfoma cutâneo de células T (biópsia). Podemos ver o sinal da Vela (retirada das escamas), que é a paraceratose se destacando macroscopicamente, parecendo parafina de vela. Abaixo das escamas vendo uma membrana brilhante, a membrana de Duncan-Bulckley (resto da epiderme acima da papila dérmica com vasos). Com a retirada da membrana há exposição de vasos que sangram: sinal de Auspitz. Há presença do Fenômeno de Koebner, que é o surgimento da lesão psoriásica após um trauma DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 20 sobre a pele (escoriação, cossaduras, cicatriz cirúrgica). Em cima da lesão surge a placa psoriásica. Está muito relacionada com outras doenças inflamatórias sistêmicas como a artrite psoriásica, doença de Chron, síndromes metabólicas (obesidade, hipertensão, diabetes, dislipidemias), maior risco cardiovascular (infarto ou avc), esteatose hepática, uveíte e alterações psicológicas e psiquiátricas. O tratamento é feito com medicamentos tópicos, fototerapia, ou imunológicos (anti- citocinas inflamatórias, anticorpos monoclonais). Não é recomendado o tratamento com corticoides pois após o uso a psoríase pode retornar na forma mais grave (eritrodermia – efeito rebote). → PSORÍASE E.G., 59 a., fem., cor branca. Apresenta placas eritêmato-descamativas nos membros, tronco, couro cabeludo e regiões palmo-plantares, com escamas prateadas, secas e aderentes. Na psoríase, há grande espessamento da epiderme por aumento das células da camada espinhosa (acantose). Os cones epiteliais (projeções da epiderme entre as papilas dérmicas) alongam-se, mas mantêm espessura regular, e os ápices dos cones epiteliais ficam alargados, dando aspecto em clava ('clubbing'). Estas alterações se chamam acantose com padrão psoriasiforme, por serem próprias da doença. A epiderme suprapapilar, que recobre a extremidade das papilas dérmicas, está adelgaçada. Se a pele é raspada, as porções suprapapilares com paraceratose são DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 21 removidas e as pontas das papilas (onde há capilares) ficam expostas, levando ao aparecimento de gotículas de sangue (sinal do orvalho sangrante, típico da psoríase). A maturação das células epidérmicas está acelerada, notando-se paraceratose, ou seja, persistência de núcleos na camada córnea e ausência da camada granulosa (portanto, ausência dos grânulos de queratohialina). Isto ocorre porque não há tempo para formação da camada granulosa. Na epiderme normal são necessários entre 26 e 28 dias para uma célula basal atingir o estágio final da corneificação. Na psoríase este tempo é de apenas 6 a 8 dias. A raspagem da camada córnea com paraceratose dá origem a escamas que lembram cera de vela (sinal da vela). DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 22 Microabcessos de Munro: são acúmulos de neutrófilos na epiderme, mais habitualmente nas porções suprapapilares afiladas. A fase inicial da lesão é caracterizada por espongiose (edema intercelular) da camada de Malpighi e exocitose de neutrófilos entre as células epiteliais (núcleos pequenos e escuros). Diz-se exocitose porque os neutrófilos saem dos vasos da papila dérmica adjacente, permeando entre as células epiteliais até o estrato córneo, e culminando na formação do microabscesso. A camada córnea acima de algumas papilas dérmicas contém neutrófilos degenerados. DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 23 Há leve a moderado infiltrado inflamatório crônico inespecífico próximo a vasos e anexos na derme.
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