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Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 1 BLOCO PELE - DERMATOPATOLOGIA Prof Dr. Elemir Macedo de Souza Será possível ler a pele? O normal se apóia na semelhança da pele da maioria dos indivíduos. Alguns apresentam alterações ou variações do normal sem interferência na sua vida; outros terão alterações do normal, constituindo elementos que podem ser interpretados do ponto de vista macro e microscópico. Estes elementos que fogem do normal receberam denominações dermatológicas que permitem a leitura e interpretação daquela alteração cutânea. A sua apresentação num determinado momento e numa determinada região caracterizará uma dermatose. Um dermatologista consegue ler estes elementos. Assim as mesmas lesões podem expressar dermatoses diferentes. As leituras macroscópicas (exame dermatológico) das lesões elementares devem ter consistência com as alterações histopatológicas que serão lidas com o microscópio, configurando o substrato clínico-patológico. Uma área vermelha na pele (eritema) terá uma correspondência microscópica representada por vaso-dilatação; uma púrpura será representada por um extravasamento de hemácias. As lesões elementares que constituem o alfabeto do dermatologista podem se classificadas ou sistematizadas em: lesões elementares primárias e secundárias (decorrentes das primárias). 1. LESÕES ELEMENTARES PRIMÁRIAS São as manchas, pápulas, nódulos, tumores, vesículas, bolhas e pústulas (7). • MANCHAS As manchas são modificações na coloração normal da pele, sem alterações estruturais apreciáveis à palpação, resultantes de perturbações nos elementos responsáveis pela cor da pele: pigmento melânico e vascularização, assim como pigmentos estranhos à pele de origem endógena (bilirrubina, ferro) ou exógena (prata, ouro, caroteno). - Manchas Vasculares: As manchas vasculares podem ser: eritematosas, purpúricas e anêmicas. As manchas eritematosas ou simplesmente ERITEMAS resultam da dilatação temporária ou permanente dos vasos capilares da derme, sendo vermelhas quando o segmento arterial está acometido e arroxeadas ou azuladas (cianose) quando o segmento acometido é o venoso. A combinação de ambas recebe o nome de eritrocianose. A cianose nas extremidades recebe o nome acrocianose. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 2 Portanto, nas manchas eritematosas os vasos estão íntegros, mas com dilatação ou congestão. Com a compressão digital - digitopressão - ou com uma lâmina de vidro – vitropressão -, estas manchas sofrem um embranquecimento por esvaziamento (lividez) temporário do vaso. Ex.: na rosácea há eritema centro-facial; queimaduras solares. As manchas eritematosas podem ter aspecto bem delimitado (geográfico), como na tinha crural; ou serem difusas. Nas manchas purpúricas ou PÚRPURAS, os glóbulos vermelhos (hemácias) saem dos vasos e jazem no tecido circunjacente, não desaparecendo a vitropressão; quando puntiformes são chamadas petéquias e se em grandes áreas são hematomas. Aspecto vermelho vinhoso, bem escuro. Ex.: distúrbio de coagulação no choque. As hemácias fora do vaso serão degradadas e a hemoglobina do seu interior catabolizada, passando por biliverdina e bilirrubina, restando o pigmento ferro. O ferro é um pigmento endógeno não normal da pele e o seu acúmulo acarreta a hemocromatose. As manchas ANÊMICAS são decorrentes da falta ou diminuição real ou virtual dos elementos vasculares na pele: os vasos sangüíneos podem sofrer constrição (palidez) ou ter o seu conteúdo (glóbulo vermelho) diminuído em número ou com baixo teor de hemoglobina (anemia). - Manchas Melânicas: As manchas na pele podem ser devidas a alterações no teor de melanina: quando há aumento poderemos chamá-las manchas hipercrômicas, hiperpigmentadas ou hipermelânicas. Ex.: lentigos. Ocorrendo dimunição da melanina serão manchas hipocrômicas, hipomelânicas ou hipopigmentadas. Ex.: ptiríase alba é um exemplo de hipopigmentadas, ocorre nas crianças atópicas. Mas quando ver uma mancha hipopigmentada sempre pensar primeiro em Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 3 hanseníase indeterminada (acompanhada de perda da sensibilidade local). Quando há falta total de melanina, são chamadas manchas acrômicas. Ex.: vitiligo. - Manchas por pigmentos estranhos: A presença de pigmento estranho na pele acarreta as tatuagens, que podem ser devidas a um mecanismo endógeno (ocronose na alcaptonúria, dermatite ocre na insuficiência venosa, intoxicação crônica pela prata, ouro, clofazimina, amiodarona etc.) ou mecanismo exógeno ou tatuagem propriamente dita por mercúrio, cádmio, tinta nanquim, carvão, pólvora. • PÁPULAS, NÓDULOS E TUMORES São formações de conteúdo sólido e delimitáveis. Todos podem se encontrar isolados ou agrupados. - Pápulas: As pápulas são elevações sólidas até 1cm circunscritas localizadas e superficiais na pele, podendo ser foliculares e não-foliculares. Estas podem ser epidérmicas, dérmicas e dermoepidérmicas. As Pápulas Epidérmicas decorrem da hiperplasia da epiderme (verruga plana) e a sua superfície pode ser recoberta por camada córnea espessa, sendo denominada de verrucosa (exemplo verruga vulgar); ou a superfície pode ser vegetante, com pouca camada córnea lembrando a superfície da couve-flor, como no condiloma acuminado. As Pápulas Dérmicas podem surgir por edema na derme superficial (urticada ou pápula edematosa) ou por infiltração celular desta região, como na sífilis. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 4 As Pápulas Dermoepidérmicas ou mistas são constituídas por hiperplasia epitelial e infiltrado na derme superficial, como no líquen plano. O deposito de material estranho na derme superficial pode conferir à pele aspecto elevado e circunscrito que pode ser interpretado como uma pápula tesaurismótica (exemplo amilóide, mucina). - Nódulos: Os nódulos são lesões elementares sólidas que se localizam na derme ou hipoderme, sendo mais palpáveis do que visíveis (elevados até 2cm). É mais profundo, só elevam a epiderme. Os nódulos que chamam atenção geralmente tem crescimento rápido, assimétrico, doloroso, aderidos ao plano profundo e de consistência endurecida. Ex.: lipomas, cistos epidérmicos, metástases cutâneas. - Tumores: Branda Destacar Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 5 Tumor em sentido lato é qualquer tumefação mórbida (exofíticos) mais ou menos circunscrita (elevados mais que 3cm); em sentido restrito é uma massa de tecido neoformado persistente com tendência ao crescimento formado através da proliferação de elementos da epiderme, derme ou hipoderme. Podem ser benignos ou malignos. Ex.: melanoma, carcinoma basocelular, carcinoma espinocelular, micetomas. • VESÍCULAS E BOLHAS São formações cavitárias de conteúdo líquido (soro, sangue). - Vesículas: As vesículas são pequenas até 5 ou 10mm de diâmetro que se formam por alterações estruturais nas células epidérmicas (parenquimatosas) ou por edema entre as células (intersticiais ou esponjóticas). Ex.: eczema agudo, dermatite herpetiforme (HZV). - Bolhas: As bolhas são tipo vesículas maiores que 10mm e decorrem de alterações na epiderme ou separando esta da derme. Quando na epiderme, as células de uma mesma região perdem a adesividade intercelular separando camadas (subcórneas, suprabasais). As bolhas subepidérmicas resultam da fragilidade dos elementos que unem a derme à epiderme. Há bastante lesão secundária também, como crostas e erosões. As bolhas podem ainda ter conteúdo hemorrágico (vermelhas, sangue dentro). Ex.: pênfigo folíaceo, penfigoide bolhoso. A separação das células da camada espinhosa da epiderme decorre da ruptura ou lise das pontes intercelulares(acantos ou desmossomos), recebendo a denominação acantólise. Branda Destacar Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 6 Quando a bolha se rompe ela deixa uma lesão residual (secundária) que forma uma exulceração ou uma descamação em formato de colarete (meia lua). Quando vermos essa descamação temos que pensar que houve uma bolha ali. • PÚSTULAS Pústulas são formações cavitárias circunscritas que se desenvolvem na epiderme, desde o início, devido o acúmulo de neutrófilos. Algumas lesões elementares de conteúdo líquido podem, na sua evolução, sofrer uma pustulização. Nestes casos, os neutrófilos constituem um evento secundário. As vezes nem são infecciosas, são estéreis, não tem bactérias. Exemplo é a pustulização da vesícula da varicela, constituindo uma vésico-pústula. As pústulas podem ser de localização folicular, como ocorre nas foliculites e porites. Outro exemplo é a psoríase pustulosa (inflamatória não infecciosa). 2. LESÕES ELEMENTARES SECUNDÁRIAS São consequências das primárias (fundamentais), como perda tecidual. São elas: as escamas, crostas, exulcerações (ou erosões, variante escoriações), úlceras e cicatrizes (5). Branda Destacar Branda Destacar Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 7 • ESCAMAS Escamas são restos epidérmicos que se destacam na superfície da epiderme, habitualmente residuais de processos inflamatórios agudos ou crônicos. Exemplos são as escamas resultantes de bolhas rotas, tineas do pé. • CROSTAS Crostas são concreções resultantes da dessecação dos líquidos das vesículas, bolhas, e pústulas misturados com restos celulares. Crosta hemática é o sangue que ressecou, já crosta melicérica é pus ou plasma ressecado. • EXULCERAÇÕES Exulcerações ou erosões são soluções de continuidade com perda de substância afetando apenas a epiderme e podem ser resultantes da ruptura de vesículas ou bolhas ou por um traumatismo superficial na pele (escoriação). Rasas, sem degrau. • ÚLCERAS Úlceras são soluções de continuidade com perda de substância invadindo a derme. Vemos um degrau com bordas elevadas, tende a sangrar, formar crostas e deixar cicatrizes. - Úlceras infecciosas: leishmaniose, paracoccidioidomicose. - Úlceras inflamatórias: pioderma gangrenoso. - Úlceras neoplásicas: carcinoma basocelular ou espinocelular. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 8 • CICATRIZES Cicatrizes são formações de tecido conjuntivo decorrentes da reparação de lesões ulceradas. Associadas a discromia, queloide, atrofia, hipertrofia e fibrose. → Há um grande número de lesões elementares que não são passíveis de uma sistematização: Alopecia, atrofia, ceratoses ou queratoses (calos, calosidades), comedão, edema, elefantíase, esclerose cutânea, fissura (perda linear do epitélio; queilite angular), fístula, galeria, gangrena, hipertricose, infiltração, maceração, papila, sulco, telangiectasia. 3. ALTERAÇÕES DE ESPESSURA São elas as hiperqueratose (córnea), liquenificação (epiderme), edemas, infiltrações e esclerose (derme). → HIPERQUERATOSE Ou verrusidade, ou ainda queratodermia. Esta última pode ocorrer por atrito, apoio inadequado (calcâneo). Exemplos de verrucosidades são a verruga vulgar. Todas ocorrem por aumento da camada córnea da pele (queratina). → LIQUENIFICAÇÃO Lesões papulosas da mesma cor da mucosa, com aspecto vegetante por aumento da camada da epiderme. Ocorre mais em mucosa e em regiões da pele onde tem pouca camada córnea. Ex.: condiloma acuminado. Pode ocorrer também por cossaduras crônicas, que faz a pele se espessar. Ex.: liquenificação no eczema crônico. → EDEMAS, INFILTRAÇÕES E ESCLEROSE Todos ocorrem por aumento da espessura da derme. O edema é o extravasamento do plasma dos vasos para o espaço intersticial. Ex.: urticária e dermatomiosite. Branda Destacar Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 9 Infiltrações são acúmulos de células, agentes infecciosos ou outras substâncias na derme. Ex.: hanseníase (infiltrado de células inflamatórias e bacilos de hansen, com bordas elevadas). Esclerose é a deposição de colégeno e fibras elásticas na derme, aumentando sua espessura e endurecendo a pele. Ex.: esclerodermia.