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DIREITO DO CONSUMIDOR

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Direito
DO CONSUMIDOR
eBOOK
 
 
Organizado por 
CP Iuris 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
 
 
 
 
 
 
 
Brasília 
2019 
 
 
Sumário 
1. Contextualizando o CDC.................................................................................................................. 3 
2. Características do CDC ...................................................................................................................12 
3. Princípios do CDC...........................................................................................................................13 
4. Relação jurídica de consumo ..........................................................................................................29 
5. Responsabilidade civil nas relações de consumo.............................................................................37 
6. Danos nas relações de consumo .....................................................................................................55 
7. Prescrição e decadência no CDC .....................................................................................................75 
8. Desconsideração da personalidade jurídica ....................................................................................80 
9. Práticas comerciais ........................................................................................................................84 
10. Publicidade nas relações de consumo...........................................................................................87 
11. Práticas abusivas .........................................................................................................................90 
12. Banco de dados e cadastro de consumidores ................................................................................97 
13. Negócios jurídicos...................................................................................................................... 101 
14. Proteção contratual ................................................................................................................... 104 
15. Cláusulas abusivas ..................................................................................................................... 107 
16. Sanções administrativas............................................................................................................. 115 
17. Contratos de adesão .................................................................................................................. 118 
18. Defesa do consumidor em juízo.................................................................................................. 119 
 
 
 
3 
1. Contextualizando o CDC 
Quem achar que conhece o Direito Civil, o Direito do Consumidor, sobretudo, sem conhecer a 
jurisprudência do STJ, não conhece o Direito do Consumidor hoje, pois é uma disciplina fundamentalmente 
dinâmica. O STJ na sua função de uniformizar sua interpretação no Brasil (com uns retrocessos aqui e ali – 
principalmente em 2017) tem dado passos além na construção do Direito do Consumidor. 
O CDC é uma Lei que foi aprovada por unanimidade nas duas casas do Congresso. É uma matéria com 
olhar para o futuro, parecido com o olhar do Direito Ambiental. 
A Lei tem um certo pragmatismo inteligente, no sentido de se preocupar menos com sutilezas 
formais, buscando efetividade em primeiro plano. É uma Lei que deu certo. 
O Direito em si é conservador, chega depois dos fatos sociais, como no caso da internet. 
No caso do CDC foi um raríssimo caso em que a Lei se antecipou aos fatos e em certa medida criou 
uma cultura que não havia no Brasil, não só juridicamente, mas socialmente é um caso interessante, pois é 
um Lei que se antecipa aos fatos, por assim dizer, e os provoca. 
O CDC talvez seja a mais importante Lei brasileira da segunda metade do século XX. 
I. Microssistema legislativo 
O CDC é um microssistema legislativo. 
Dentro do diploma do CDC, existem disciplinas jurídicas que vão abranger matérias de direito civil, 
penal, administrativo, processo civil, entre outras. 
É possível considerá-lo microssistema jurídico? 
SIM. O CDC é um dos primeiros diplomas que têm o foco no problema, como o ECA, Estatuto do 
Idoso etc. Mais do que diante de um microssistema legislativo, há um microssistema jurídico. 
II. O que são normas de “ordem pública e de interesse social” 
De acordo com o art. 1º do CDC, o presente código estabelece normas de proteção e defesa do 
consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da 
Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias. 
Normas de ordem pública e de interesse social significam normas cogentes, obrigatórias, que não 
admitem renúncia, de forma que o juiz está autorizado a conhecer dessas normas independentemente de 
provocação das partes. São normas impostas pelo Estado, sendo denominado de heteronomia. 
a) Autonomia e heteronomia 
4 
• Autonomia: é a norma que “eu” crio. É a vontade que cria a norma. 
• Heteronomia: é a norma criada por outrem. É a vontade do outro que cria a norma. 
A renovação do direito na atualidade, nele compreendido o direito consumerista, implica nova 
compreensão da autonomia da vontade em especial no tocante ao contrato. O conteúdo dos contratos não 
pode mais corresponder simplesmente à vontade das partes e qualquer que seja essa vontade. É preciso que 
o contrato observe padrões mínimos, observe a boa-fé objetiva, necessidade de equilíbrio material, vedação 
do abuso de direito etc. 
Com base nisso, o STJ editou a Súmula 302, estabelecendo que é abusiva a cláusula contratual de 
plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado. 
O STJ entende que essa norma viola a boa-fé objetiva, bem como o equilíbrio contratual, gerando 
abuso do direito de contratar, do conteúdo do contrato. Se o plano de saúde diz que cobre o tratamento da 
doença de alguém, não se pode dizer que será coberto durante 10 dias, pois poderá ser necessário ficar 
internado durante 20 dias. Essa limitação quebra a expectativa do sujeito quando contrata o plano de saúde, 
não sendo válida essa quebra. Dessa forma, fica relativizada a autonomia da vontade, devendo ser imposta 
a norma por outrem, por meio da heteronomia. Paralelamente à redução da autonomia da vontade, 
percebe-se o aumento da heteronomia. 
III. O CDC como uma “lei de função social” 
A doutrina fala muito disso, mas os Tribunais ainda nem tanto. 
Alguns autores entendem que o CDC é uma lei de função social. Isto si gnifica dizer que esta lei não 
pode sofrer ab-rogações ou derrogações, quer em parte ou quer absolutamente, por outros diplomas legais 
de igual hierarquia, em detrimento dos direitos do consumidor. 
Apesar de o CDC se tratar de uma lei ordinária, esses autores entendem que o CDC concretiza, no 
plano da legislação infraconstitucional, uma vontade explicitada pelo constituinte, ou seja, pela Constituição 
Federal. Se for reduzida a proteção do consumidor pelo CDC, estar-se-ia contrariando o anseio constitucional, 
de forma que essa nova lei seria inconstitucional. 
O Que São Normas de Ordem Pública e Interesse Social? 
Essa pergunta se justifica em virtude do artigo 1º, do CDC. 
Norma de ordem pública e de interesse social é norma cogente, imperativa, que não tol era renúncia 
prévia. 
5 
O CDC tem que ser assim, porque se não fosse toda disciplina jurídico-normativa iria por água abaixo, 
bastaria que os fornecedores de produtos ou serviços, por meio de contratos de adesão excluísse a aplicação 
do CDC nos contratos. Eventual cláusula que diga isso é inválida. 
Dizer que uma norma é de ordem pública significa dizer que o juiz pode dela conhecer de ofício? 
Conceitualmente, o professor tenderia a dizer que sim, de acordo com a estrutura normativa e 
conceitual do CDC, mas nem sempre é assim que a jurisprudência tem visto.Um exemplo é a Súmula 381, do 
STJ: Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusiv idade das cláusulas. 
Alerte-se: Embora esteja muito de acordo com a teleologia do CDC a possibi lidade de o juiz conhecer 
de ofício, nem sempre assim ocorre. 
A verdade é que por muitos séculos o Direito Privado foi sinônimo de autonomia privada, ou 
autonomia das vontades, como preferem os Italianos. O Direito Civil veio como sinônimo de autonomia das 
vontades. “Nomia” vem do grego “nomus” = regra, e “auto” = prefixo latino relativo a si próprio. Então 
autonomia é dar regras a si próprio. 
Isso se faz com o uso dos contratos através da autonomia privada. 
Hetoronomia é dar normas para o outro. A Lei, por exemplo, é heterônoma. Aliás, há uma 
heteronomia do bem e uma heteronomia do mal. A do bem é a que o CDC traz. A do mal é a que as grandes 
empresas tentam impor aos consumidores, valendo-se de sua condição de mais forte, assemelhando-se por 
vezes à Lei. 
Obs.: Não confundir os conceitos de norma de ordem pública e norma de Direito Público. O CDC traz 
normas de ordem pública, mas é Direito Privado. 
A autonomia da vontade no Direito do Consumidor vem perdendo espaço nas últimas décadas para 
reequilibrar esta equação. O CDC intervém a luz do princípio da solidariedade social e da igualdade social 
para tentar tornar essa desigualdade menos desigual, por assim dizer. 
Duas observações teóricas sobre os planos de saúde: O STJ tem frisado que são contratos regidos por 
uma boa-fé objetiva qualificada. Nesse ponto, a boa-fé tem que ir além, porque são contratos que tem 
dimensão extrapatrimonial muito forte, afinal de contas a saúde é o primeiro grau da escala. São contratos 
regidos fortemente pelo princípio da função social que o Código Civil prevê. 
Acredita-se que muitas vezes o princípio da função social é muito mais teórico que prático, mas se 
tem um campo que pode ser potencialmente rico é exatamente em relação aos planos de saúde. 
6 
Lembrando que os Direitos Fundamentais não podem ser contratualmente mutilados. Está havendo 
um redimensionamento da autonomia da vontade, reduzindo-a com o objetivo de fazer prevalecer as normas 
de ordem pública e interesse social, e consequentemente proteger os mais vulneráveis. 
Duas frases importantes para guardar: 
“Quanto maior for a desigualdade entre as partes mais intensa deve ser a proteção do contratante 
mais fraco, e consequentemente menor a tutela da autonomia da vontade”. 
“O conteúdo atual dos contratos não corresponde apenas à vontade das partes, é composto por 
padrões mínimos de razoabilidade, que remetem à boa-fé objetiva, ao equilíbrio material entre as 
prestações, e por fim, à vedação ao abuso de direito”. 
Aliás, ao analisar a jurisprudência do STJ no que toca às relações de consumo, nota-se que grande 
parte das cláusulas que são invalidadas por abusivas, violam o chamado princípio material ou substancial 
entre as prestações. 
Note-se, ainda, que essa redução da autonomia privada no século XIX e durante boa parte do século 
XX era muito intensa. Havia uma hipertrofia da autonomia da vontade, do pacta sunt servanda – o contrato 
faz lei entre as partes. Havia uma sacralização. Um respeito quase religioso ao pacta sunt servanda. Isso 
mudou, este respeito absoluto, sagrado, ao contrato deu lugar a uma paridade real/concreta entre as partes, 
e isso está previsto no próprio Código Civil. 
Na doutrina clássica tem um escritor francês, Lacordaire, que critica a igualdade formal, “bela 
igualdade, que proíbe tanto ao rico como ao pobre dormir embaixo da ponte, furtar um pedaço de pão” – 
“entre o forte e o fraco é a liberdade que escraviza e a lei que liberta” – É nesse sentido que entra o CDC, 
como norma de ordem pública. 
O CDC Como Uma “Lei de Função Social” 
Hierarquicamente falando, na pirâmide kelsiana, onde é que o CDC se insere? 
O CDC é uma Lei ordinária, consequentemente poderia ser revogado por qualquer Lei que lhe fosse 
superior. Porém, a doutrina consumerista diz que não, pois o CDC é uma Lei de Função Social, estabelece, 
por assim dizer, um peso normativo para baixo do qual n]ao é lícito ir. 
O Direito Constitucional fala em princípio da vedação do retrocesso, em outras palavras é isso. Se a 
matéria fosse analisada à luz dos princípios clássicos, lembrando de teoria geral do direito, o conflito entre 
normas jurídicas, as antinomias, como se resolvem? Pelo princípio hierárquico, princípio cronológico, e 
princípio da especialidade. 
Hierárquico: Norma superior prevalece sobre norma inferior, 
7 
Cronológico: Norma mais recente prevalece sobre a mais antiga, desde que a mais recente tenha 
pelo menos o mesmo patamar hierárquico da mais antiga. 
Especialidade: Norma especial prevalece sobre a geral. 
Esses princípios clássicos não se aplicariam no caso em tela. 
Esse postulado do CDC como uma Lei de Função Social existe? 
Não se sabe. Na prática, para se saber, o Congresso teria de almejar a revogação do CDC e teríamos 
de aguardar o posicionamento do STF. 
Existem três projetos no Senado, com grandes chances de aprovação. 
Um que atualiza o CDC em relação ao comércio eletrônico, outro que atualiza a parte processual do 
CDC, e um terceiro que cuida da proteção e prevenção e traz regras concretas a respeito do 
superendividamento do consumidor. 
Por que a doutrina diz que o CDC é uma Lei de Função Social? 
O argumento é de que o CDC é uma Lei que surgiu de um comando da Constituição. Existem três 
menções na Constituição a respeito do consumidor. 
De modo geral a jurisprudência tem correspondido, a composição atual do STJ retrocedeu um pouco 
nos últimos dois anos, principalmente em 2017. Mas se vislumbrarmos as últimas décadas, tem havido uma 
fecunda conjugação entre doutrina e jurisprudência. 
Quais foram os retrocessos? 
1. Havia vários julgados do STJ dizendo que se aplicava a teoria do adimplemento substancial, não só 
às relações de consumo, mas também ao campo que lhe é mais próprio, aos contratos de alienação fiduciária 
em garantia. O usual, é que em caso de inadimplemento, um veículo alienado, por exemplo, é buscado e 
apreendido. A teoria do adimplemento substancial, de origem anglo-saxã, diz que se já houve adimplemento 
de parte substancial da dívida o carro passa a ser do devedor., não podendo o credor pegar o bem de volta. 
O STJ vinha aceitando esta teoria. Em 2017 recuou e disse que a teoria do adimplemento substancial não se 
aplica às alienações fiduciárias, o que foi um erro. 
2. No caso da polêmica sobre aplicação do CDC ou Convenção de Varsóvia e Montreal (Tratados 
internacionais dos quais o Brasil é signatário) na hipótese de extravio de bagagem internacional. Existem 
centenas de julgados do STJ dizendo que deve ser aplicado o CDC nesses casos, porque a Convenção de 
Varsóvia estabelece tarifas, limites máximos de valores de indenização por quilo de bagagem extraviada, 
8 
sendo pior para o consumidor a aplicação dessa convenção, sendo que o CDC não estabelece limites para a 
indenização. 
Recentemente, o Supremo se valeu do artigo 178, da Constituição Federal, e mudou radicalmente o 
panorama desta matéria, em um julgado relatado pela Ministra Rosa Weber. 
Assim, decidiu-se que em um conflito entre o CDC e a Convenção de Varsóvia e Montreal, aplica-se 
a Convenção de Varsóvia e Montreal. 
Atenção: Isso se aplica apenas aos danos materiais e não aos danos morais, mas isso não fica muito 
claro no julgado. Além disso, a regra é válida apenas para voos internacionais, os voos domésticos continuam 
regulados pelo CDC. 
3. O CDC em seu artigo 54, estabelece um tamanho mínimo de fonte para os contratos de consumo. 
A questão julgada pelo STJ é se valeriam as cláusulas redigidas em tamanho menor na publicidade, 
decidindo que vale, sob a fundamentação de que essa regra é aplicável apenas em um contexto de 
contratação e não em um contexto de publicidade. (Recurso Especialº 1.602.678) 
Lembrando que o STJ decidiu que se os contratos de saúde forem de autogestão não se aplica o CDC, 
pois entende que esses contratos não visam ao lucro, pois são feitos por entidades fechadas. 
O mesmo vale para a aplicação do CDC às entidades de previdência privada. Entendia-se que o CDC 
se aplicava à entidade de previdência privada, mas esse entendimento foi revisto para dizer que o CDC se 
aplica apenas a entidades abertas de previdência privada. 
IV. Fundamento constitucional do CDC 
Em relação ao consumidor, serão encontradas 3 menções na CF. 
Segundo o art. 5º, XXXII, o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor. Trata-se de 
uma ordem para que seja elaborado o CDC. 
Outro dispositivo é o art. 170, V, o qual estabelece que a ordem econômica, fundada na valorização 
do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames 
da justiça social, devendo observar a defesa do consumidor. 
Por último, o art. 48 do ADCT determina que o Congresso Nacional, dentro de 120 dias da 
promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do consumidor. 
V. Fora a matéria de consumidor, temos normas de outras matérias dentro do CDC? 
9 
Sim, Direito Penal, por exemplo, mas é uma parte que não pegou, são penas mais baixas, pela própria 
natureza de ultima ratio do Direito Penal é uma parte menos importante socialmente. 
Há também regras de Direito Administrativo, por exemplo interdição de estabelecimento, multa para 
restaurante no qual é encontrado comida vencida, regulação das multas e sanções administrativas aplicadas 
pelo PROCOM. 
Talvez uma das mais importantes seja Processo Civil , há relevantíssimas normas no CDC. Claro que 
depois do CPC/2015 devem ser lidas à luz da atualização da matéria. São relevantes as normas sobre coisa 
julgada, sobre o local de propositura das ações. Ex.: Em regra, seja no CPC/73, ou CPC/15 a regra para 
propositura de ações pessoais é que sejam propostas no domicílio do réu, porém, não é assim no CDC, pois 
o consumidor pode sempre propor a ação no seu domicílio. 
VI. A questão do ônus da prova 
A regra mais importante de Processo Civil que se expandiu até para outros setores da experiência 
jurídica é a questão da inversão do ônus da prova, prevista no artigo 6º, inciso VIII, do CDC. 
Em regra, quem alega tem que provar, com a inversão do ônus da prova, não necessariamente. 
Um exemplo prosaico: Digamos que todo mês você paga R$ 200,00 mensais em um celular pós-pago, 
nesse mês a conta veio R$ 3.000,00. Como é que você vai provar que não consumiu essa quantia? Ainda mais 
sendo prova de um fato negativo. Então, pede-se que o juiz inverta o ônus da prova para que a operadora, 
que tem meios técnicos para tanto, prove que você realizou as ligações. 
Informações sobre inversão do ônus da prova que podem ser úteis para o concurso: 
1. Havia uma polêmica jurisprudencial que se resolveu há alguns anos. A inversão do ônus da prova 
é regra de processo ou regra de julgamento? 
Para quem entende que é regra de julgamento significa dizer que o juiz pode aguardar até a sentença, 
e ao prolatar a sentença ele inverte o ônus da prova. 
Para a corrente que entende que é regra de processo/procedimento, o juiz deve inverter o ônus da 
prova até o despacho saneador ou ato processual equivalente. 
Prevalece esta segunda corrente, a inversão do ônus da prova como regra de procedimento, posição 
hoje pacífica pelo STJ, em sua 2ª sessão. 
2. Eventual deferimento da inversão do ônus da prova implica na pessoa contra quem foi deferida a 
inversão (fornecedor de produtos ou serviços), isso significa que o fornecedor estará obrigado a arcar com 
os custos de eventual perícia? 
10 
Não. O STJ tem seguido essa linha, em vários Recursos Especiais: Afirma-se, que o deferimento da 
inversão do ônus da prova não significa o dever de arcar com os custos da perícia. Questiona o professor se 
essa decisão favoreceria a teleologia das relações de consumo. 
3. A inversão pode ocorrer em ações coletivas ou apenas nas individuais? 
A inversão pode se dar em ambas. Segundo o artigo 6º, inciso VIII, do CDC, a inversão do ônus da 
prova tem duas hipóteses autônomas possíveis, alternativas, uma é a verossimilhança das alegações do 
consumidor (lembrando que a inversão só pode ser concedida em favor do consumidor e no processo civil), 
a outra é a hipossuficiência do consumidor. 
Verossímil é algo que parece ser verdade, pode até não ser, mas aparenta ser. 
Muita gente pensa que a hipossuficiência tem que ser e é apenas financeira/econômica, e isso não é 
verdade. A hipossuficiência pode ser técnica, por exemplo. Digamos que você vai a um médico que começa 
a falar sobre tratamentos relativos ao seu caso, ora, a menos que você também seja médico, haverá um 
desnível entre o médico e você, que não tem conhecimento técnico para avaliar a veracidade do que o 
médico diz. Financeiramente você pode ter mais dinheiro que ele. 
*Voltando ao gancho das normas de Direito Administrativo no CDC, pergunta-se: O CDC se aplica ou 
não aos serviços públicos? Qual a posição do STJ sobre isso? 
Logo que o CDC surgiu alguns autores, como Gustavo Tepedino, defendiam que deveria haver uma 
aplicação ampla do CDC aos serviços públicos, mas não foi essa a posição que prevaleceu. 
Pode-se aplicar as normas do CDC aos serviços públicos desde que o serviço seja remunerado, e essa 
remuneração não ode ser advinda de impostos e nem pode ocorrer através de modalidade tributária, taxa, 
por exemplo. A remuneração do serviço deve se dar por meio de tarifa ou preço público. Ex.: Concessionária 
de serviço público – pedágio. 
Esse julgado não vem das turmas que habitualmente julgam matérias de Direito Privado, que são as 
3ª e 4ª Turmas. Geralmente, 95% das matérias de Direito do Consumidor são julgadas por estas. 
Importante: O CPC/15 deu um passo além, muito importante em matéria probatória, consagrou a 
chamada teoria da carga dinâmica do ônus da prova, também chamada de teoria da distribuição dinâmica 
do ônus da prova. 
Isso pode ser usado em favor de vulneráveis outros, que não o consumidor. É uma brecha normativa 
muito ampla e generosa. 
Existem vários julgados do STJ, do final de 2018, que consagram explicitamente esta teoria. 
11 
Por exemplo em matéria de responsabilidade civil médica, do consentimento informado do paciente. 
Qual a regra no Processo Civil? Quem alega tem que provar. Pois bem, o que diz esta teoria? Diz que 
em hipóteses peculiares, de modo fundamentado, o juiz pode alterar essa distribuição clássica do ônus da 
prova. Em outras palavras, pode dizer que o dever de realizar a prova não é necessariamente de quem alega, 
mas de quem tiver melhor condição de produzir aquela prova. 
Aplica-se ou não o CDC a uma hipótese de erro médico? Veremos adiante, quem pode ser, segundo 
o STJ, fornecedor de produtos ou serviços. Se todos os profissionais liberais podem ser. O professor já adianta 
que a regra é que podem, havendo exceções. Os médicos podem ser fornecedores de se rviço à luz do CDC, 
seja na relação pessoal do médico paciente ou do paciente com hospital privado. Se for hospital público não 
se aplica do CDC, porque tem de haver remuneração, e nesse caso não há. O que se aplica nesse caso é a 
responsabilidade objetiva. 
Desde quando a responsabilidade do Estado é objetiva no Brasil? Desde a Constituição de 46, à luz 
do artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, que consagra a Teoria do Risco Administrativo. 
A responsabilidade do médico é objetiva ou subjetiva? A responsabilidade médica no Brasil é 
subjetiva, depende da prova de culpa. Isso tanto à luz do Código Civil, quanto à luz do CDC. 
Trata-se de exceção à regra geral da responsabilidade objetiva nas relações de consumo. 
O que não significa que não pode haver inversão do ônus da prova, ou mesmo aplicação da teoria da 
distribuição dinâmica do ônus da prova.Aliás, o erro médico é um bom exemplo de prova diabólica. 
Qual a vantagem de se aplicar o CDC a um erro médico, já que a prova da culpa é necessária? 
Uma delas é a possibilidade de inversão do ônus da prova, que em princípio só se teria no CDC. Uma 
segunda vantagem é a prescrição, já que no CC a prescrição da pretensão da responsabilidade civil é de três 
anos. 
Lembrando que o que prescreve não é o Direito, mas a pretensão – a exigibilidade do direito. 
Prescrição no CDC para os chamados acidentes de consumo, também conhecidos como fato do 
produto. (Serão visto adiante) 
Assim, essa seria a segunda vantagem, um prazo prescricional mais largo. 
Ainda, como vantagem, há o Foro, pois o consumidor pode ajuizar a ação em seu domicílio. 
12 
Tem-se, também, a denunciação da lide, que como se sabe é uma modalidade de intervenção de 
terceiros. 
O artigo 88, do CDC trata de hipótese restrita ao comerciante, não importa, pois, o STJ paci ficou a 
ampliação do artigo 88, do CDC, assentando que a denunciação da lide não cabe a nenhuma relação de 
consumo. 
2. Características do CDC 
I. Normas principiológicas 
O CDC é composto por normas principiológicas. São frequentes no CDC normas que vinculam valores 
ou fins que devem ser alcançados. 
O art. 4º, III, estabelece que a Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o 
atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção 
de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia 
das relações de consumo. 
Dessa forma a Política Nacional das Relações de Consumo deve atender, dentre outros, ao princípio 
da harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção 
do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os 
princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na 
boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores. 
Veja o exemplo do inciso III. A norma quer proteger o consumidor, mas também quer compati bilizar 
a defesa dos interesses ali trazidos. Há aqui um valor trazido. 
A grande vantagem de trazer normas principiológicas é de que não é necessário fazer muitas 
alterações. Isso porque a sociedade evolui e o direito, dado o grau de abstração da norma con segue 
acompanhar essa evolução sem necessidade de alteração legislativa. 
Essa progressiva evolução das normas abertas acaba exigindo também uma maior relevância da 
atividade do intérprete e a maior necessidade de fundamentação do seu entendimento, informando como 
chegou a certo e determinado raciocínio. 
II. Diálogo das fontes 
Cláudia Lima Marques traz o diálogo das fontes. Para resolver conflitos, normas variadas vão dialogar 
para buscar o melhor resultado conforme o anseio constitucional. 
13 
Segundo a doutrina, o CDC é explícito em adotar o diálogo das fontes, quando aduz no art. 7º que 
os direitos previstos no CDC não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de 
que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades 
administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, 
costumes e equidade. 
3. Princípios do CDC 
I. Princípio da vulnerabilidade do consumidor 
A vulnerabilidade do consumidor fundamenta todo o sistema de consumo. É em razão dela que 
surgiu o CDC. 
É importante distinguir vulnerabilidade de hipossuficiência: 
• Hipossuficiência: 
Tem caráter processual, sendo analisada no caso concreto pelo magistrado. No caso da existência 
hipossuficiência, o juiz deverá inverter o ônus da prova, que é regra de procedimento. 
Ex.: sujeito diz que a operadora de celular está fazendo cobranças indevidas, pois não efetuou as 
ligações. O juiz entenderá que não terá como comprovar que não l igou (fato negativo), de forma 
que a operadora poderá comprovar que ele ligou, devendo o juiz inverter o ônus da prova, em 
razão da hipossuficiência de João. Não é razoável que o consumidor faça prova de fato negativo. 
• Vulnerabilidade: 
Tem caráter material, surgindo uma presunção absoluta de que o consumidor é vulnerável. Todo 
o consumidor é vulnerável. Serão encontradas diversas menções à vulnerabilidade do 
consumidor no CDC. 
A Política Nacional das Relações de Consumo está fundada no reconhecimento da 
vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo, conforme expressa o art. 4º, I, CDC. 
Todo consumidor é vulnerável por presunção legal, à luz do CDC, porém, nem todo consumidor é 
hipossuficiente. A hipossuficiência deve ser aferida no caso concreto. 
Por exemplo, a hipossuficiência é um dos conceitos que o magistrado usa para inverter o ônus da 
prova. 
A vulnerabilidade é um conceito mais ligado ao direito material, ao passo em que a hipossuficiência 
é ligada ao direito processual. 
II. Princípio da transparência 
14 
O princípio da transparência não se confunde com a aparência. A transparência transpassa o que 
aparenta. 
A Política Nacional das Relações de Consumo busca, dentre outros objetivos, assegurar a 
transparência das relações de consumo, conforme o art. 4º, caput, CDC. 
O STJ diz que o direito à informação, abrigado expressamente pela CF, é uma das formas de 
expressão do princípio da transparência, em especial no direito do consumidor. A transparência vai vedar, 
por exemplo, que o consumidor se valha de cláusulas dúbias e contraditórias para excluir direitos do 
consumidor. 
É necessário saber exatamente qual é o serviço, qual é o produto, quais são os riscos etc. Isto é 
transparência, que está muito ligado ao direito de informação. 
Com relação a isso, há o emblemático caso do “credit scoring”, que foi decidido pelo STJ. O “credit 
scoring” é um cálculo de risco de crédito, que é feito pela empresa. Alguém busca comprar algo a crédito e a 
empresa faz o credit scoring que é o cálculo de risco. As empresas verificam, por meio de um mecanismo de 
pontuação, qual é a probabilidade de inadimplência daquele consumidor. 
As empresas não precisam do consentimento prévio do consumidor para formar esse cadastro, tal 
como entendeu o STJ. Dessa forma, é válido o credit scoring. 
O consumidor, segundo o STJ, não poderá impedir que haja o cálculo e o cadastro de sua pontuação. 
Por outro lado, o STJ decidiu que poderá o consumidor requerer da empresa que lhe informe quais os dados 
e critérios que foram utilizados para compor o cálculo de sua pontuação. 
Cabe ressaltar que o sistema do credit scoring, que é a pontuação do consumidor que quer contratar 
algo a prazo, é plenamente válida, conforme o STJ. 
O STJ, por meio da Súmula 550, diz que a utilização de escore de crédito, método estatístico de 
avaliação de risco que não constitui banco de dados, dispensa o consentimento do consumidor, que terá o 
direito de solicitar esclarecimentos sobre as informações pessoais valoradas e as fontes dos dados 
considerados no respectivo cálculo. 
STJ: “O sistema de crédito “scoring” é um método de desenvolvimento para avaliação dos ricos na 
concessão de créditos, a partir de dados estatísticos, considerando diversas variáveis com atribuição de uma 
pontuação do consumidor avaliado”. REsp 1.419.697 
Entendeu o STJ, portanto, tratar-se de prática lícita. Porém, se houver desrespeito aos limites legais 
pode haver um abuso de direito na forma do artigo 187, do CC. Entende o STJ, ainda, que não se trata de 
banco de dados e que dispensa o consentimento do consumidor. 
15 
III. Princípio da informação 
O princípio da informação está ligado ao princípio da transparência. 
Este princípio irá se bipartir nos seguintes direitos: 
• Direito do consumidor de ser informado 
• Dever do fornecedor de informar 
Segundo o art. 6º, III, CDC, o consumidor tem o direito básico à informação adequadae clara sobre 
os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, 
qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem. 
O STJ já entendeu várias vezes que informação adequada é informação completa, gratuita e útil. Em 
relação ao “útil”, o STJ veda haja a diluição da comunicação efetivamente relevante pelo uso de 
informações soltas, destituídas de qualquer relevância e serventia para o consumidor. 
Basicamente, o STJ está dizendo que a informação deve ser completa, gratuita e útil, não devendo 
adotar uma informação útil, seguida de informação inútil, para depois trazer outra informação útil, 
juntamente com outra inútil, e assim sucessivamente. Isso porque, num eventual contrato em que o 
fornecedor traga diversas informações inúteis junto com informações úteis, o consumidor poderá ser 
prejudicado pela não leitura integral do documento, pois, diante de uma situação dessas, o consumidor 
simplesmente assinaria o documento sem que tivesse a certeza de seu conteúdo. 
A obrigação de informação é desdobrada em 4 categorias: 
• Informação-conteúdo: servirá para saber quais são as características intrínsecas do produto e do 
serviço. 
• Informação-utilização: mais do que saber o que há dentro do produto, é necessário saber como 
ele usará o produto ou do serviço. 
• Informação-preço: é necessário saber quais são os custos, as formas e condições de pagamento. 
• Informação-advertência: é necessário saber os riscos do produto ou do serviço. 
Obs.: Os seguros são regidos por um prazo específico do Código Civil. É a chamada prescrição anua – 
apenas um ano. 
O CDC veda a publicidade enganosa e a publicidade abusiva (serão vistas adiante). 
 
16 
No REsp 586.316, o STJ decidiu que este dever de informação ativo do fornecedor existe mesmo que 
o produto só possa causar dano a parcela pequena da população. Por exemplo, para o doente celíaco a 
informação “contém glúten”. 
“Caveat emptor” - STJ: A obrigação exige comportamento positivo, pois o CDC rejeita a caveat emptor 
– caso contrário, o consumidor precisaria ir atrás da informação. 
IV. Princípio da segurança 
O art. 6º, I, do CDC estabelece ser direito básico do consumidor a proteção da vida, saúde e 
segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados 
perigosos ou nocivos. 
Já o art. 8º do CDC diz que os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não 
acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis 
em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as 
informações necessárias e adequadas a seu respeito. 
Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar essas informações, através de 
impressos apropriados que devam acompanhar o produto. 
Não será fornecido produto nocivo ou perigoso, salvo se for da própria natureza dele. Ex.: faca é 
perigoso, bastante haver informações adequadas sobre o manuseio de uma faca para estar de acordo com o 
CDC. 
No caso de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança, o 
fornecedor deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou 
periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto. 
Segundo o art. 10, o fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço 
que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou alto grau de periculosidade à saúde ou 
segurança. 
Se o fornecedor introduziu o produto e descobriu após que o produto era nocivo à saúde ou 
segurança. Neste caso, o §1º impõe ao fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua 
introdução no mercado de consumo, tenha conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá 
comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios 
publicitários. Esses anúncios publicitários serão veiculados na imprensa, rádio e televisão, às expensas do 
fornecedor do produto ou serviço. Este é o chamado Recall. 
17 
Ainda que o consumidor não faça leve o produto ao fornecedor para consertar o bem, seja porque 
não quis, seja porque não ficou sabendo, e posteriormente vier sofrer um acidente de consumo, neste caso, 
o fornecedor continuará responsável pelo bem e deverá indenizar o consumidor. 
Além disso, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, sempre que tiverem 
conhecimento de periculosidade de produtos ou serviços à saúde ou segurança dos consumidores, deverão 
informar os consumidores a respeito dessa periculosidade. 
No caso de dano causado por motorista embriagado a seguradora responde? Ainda que no contrato 
de adesão se diga que não, tradicionalmente, o STJ dizia que a seguradora deveria indenizar o segurado. 
Isso mudou, o STJ passou a entender que “a direção do veículo por um condutor alcoolizado já 
representa agravamento do risco contratado, sendo lícita a cláusula do seguro de automóvel que preveja a 
exclusão da cobertura securitária”. REsp 1.484.717. Nesse caso, de modo explícito, o STJ argumentou com o 
princípio da boa-fé, pois frustraria os deveres dos anexos do contrato, o dever de agir com fidelidade e 
cooperação. 
“É legítima a cláusula que exclui a cobertura securitária no estado de embriaguez. A ingestão do 
álcool conjugada à direção viola a moralidade do contrato de seguro, por ser manifesta a ofensa à boa-fé 
contratual”. REsp 1.441.620. 
O STJ também diz que há uma presunção relativa, que nesse caso o risco foi agravado, e que a 
seguradora pode ficar livre da indenização se houver um agravamento consciente dos riscos por parte do 
segurado. 
Isso só se aplica ao seguro de veículos, que é uma modalidade do seguro de coisas, não se aplica ao 
seguro de vida. 
“Desse modo, a embriaguez do segurado, por si só, não exime o segurador do pagamento de 
indenização prevista em contrato de seguro de vida, sendo necessária a prova de que o agravamento de 
risco, dela decorrente, influiu decisivamente na ocorrência do sinistro”. AgIntREsp 800.902. 
REsp 1.738.247: “Solução contrária puniria não que concorreu para ocorrência dos danos, mas as 
vítimas do sinistro que não contribuíram para o agravamento do risco”. 
Neste julgado o STJ, de modo explícito se valeu do princípio da função social do contrato. 
V. Princípio do equilíbrio nas prestações 
O princípio do equilíbrio material entre as prestações se apresenta como um dos princípios 
fundamentais do atual direito contratual. 
18 
 
O art. 4º, III, fala sobre o equilíbrio nas prestações entre consumidores e fornecedores. É preciso 
evitar o enriquecimento sem causa. 
O dispositivo assegura a harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e 
compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e 
tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da 
Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e 
fornecedores. 
O art. 51, IV, CDC, dispõe que são nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais que 
estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem 
exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade; 
Isso não autoriza a colocar o consumidor em vantagem exagerada. O que se busca efetivamente é o 
equilíbrio nas prestações, de forma que, se a cláusula é abusiva, esta cláusula é nula. 
Por essa razão, é abusiva a cláusula que estipula penalidade exclusivamente ao consumidor, sem 
que haja penalidade pelo descumprimento ocasionado por parte do fornecedor. Essa mesma pena que deve 
ser imputada ao consumidor também deverá ser imputada ao fornecedor. 
 Percebe-se que o equilíbrio das prestações acaba por relativizar o princípio do pactasunt 
servanda, que é a ideia de que o contrato deve ser lei entre as partes. 
A cláusula de seguro de saúde que restringe o transplante de órgãos é abusiva, visto que acarreta 
uma vantagem desarrazoada ou uma desvantagem exagerada ao consumidor. Esta é a posição do STJ. 
Isso porque, se o plano diz que será tratada certa doença e o sujeito faz o plano justamente porque 
terá coberto a sua doença pelo plano. Após, não é razoável que o plano não cubra o transplante de órgão 
necessário para o tratamento daquela doença pela qual foi contratado o plano de saúde. Aqui a desvantagem 
fica exagerada ao consumidor. 
O CDC, em seu art. 6º, V, prevê como direito básico do consumidor a modificação das cláusulas 
contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou a revisão das cláusulas em razão de fatos 
supervenientes que tornem aquelas obrigações excessivamente onerosas. 
Basicamente, se há desequilíbrio no nascedouro do contrato, é possível que essa cláusula seja 
modificada. Da mesma forma, se, após o nascimento, ocorrer um fato superveniente, passando-se a 
perceber um desequilíbrio no contrato, também será admitida a modificação ou a revisão das cláusulas 
contratuais. 
19 
O fato superveniente altera o equilíbrio contratual. Para fazer a revisão do contrato na relação de 
consumo, não é preciso que o fato seja imprevisível, pois o CDC não adota a teoria da imprevisão. 
Pela leitura do art. 6º, V, o CDC adotou a teoria do rompimento da base objetiva do negócio. Não 
precisa que o evento seja imprevisível para alterar ou modificar as cláusulas contratuais. 
Em relação ao princípio da equivalência, o STJ entende que o aumento da idade do segurado 
justifica a maior necessidade de assistência médica e por isso justifica o aumento da mensalidade do plano 
ou do seguro de saúde. Não é apenas o equilíbrio para favorecer o consumidor. O CDC traz a previsão de 
equilíbrio, de forma que nenhuma das partes poderá experimentar enriquecimento ou empobrecimento sem 
causa. 
Constata-se que muitos dos julgados, nos quais o STJ invalida o contrato todo, ou alguma cláusula, 
tem amparo neste princípio e na boa-fé objetiva. 
O STJ tem admitido, a partir de 2017, o regime de coparticipação, aquele em que o consumidor paga 
uma parte, em caso de consultas psiquiátricas em planos de saúde, decidiu-se que o plano de saúde só está 
obrigado a pagar até o limite de 12 consultas por ano. 
Em casos de internação psiquiátrica, por meio do REsp 1. 635.626, decidiu-se que nas internações 
psiquiátricas que ultrapassarem o prazo de 30 dias, é válida a cláusula que prevê coparticipação. 
Há alguns anos o STJ entendia que era invalida a cláusula que aumentava a mensalidade dos planos 
de saúde com a mudança da faixa etária do consumidor. Isso mudou, e agora é admitido. REsp 1.568.244. “O 
reajuste de mensalidade de plano de saúde individual ou familiar fundado na mudança de faixa etária do 
beneficiário é válido, desde que (a) haja previsão contratual, (b) sejam observadas as normas expedidas pelos 
órgãos governamentais reguladores (c) não sejam aplicados percentuais desarrazoados ou aleatórios que 
concretamente e sem base atuarial idônea onerem excessivamente o consumidor ou descrimine o idoso”. 
(cai muito em concurso). 
VI. Princípio da reparação integral 
É necessário reparar o dano experimentado pelo consumidor de maneira integral. 
Dentre os direitos básicos do consumidor, o art. 6º, VI, estabelece que o consumidor tem direito à 
efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos. 
A ideia da reparação integral, segundo a doutrina, deve ser concedida em sentido amplo, a fim de 
reparar e a prevenir a ocorrência do dano. 
Exemplo de aplicação do princípio da reparação integral é o caso das seguradoras que, no contrato 
de adesão, inseriam a cláusula de que o seguro cobriria danos pessoais. Após, ocorria o sinistro. A pessoa 
20 
queria a indenização por danos morais, já que o contrato falava em danos pessoais. No entanto, a seguradora 
se negava, dizendo que apenas cobria danos pessoais, que, para as seguradoras, seriam apenas os danos 
materiais, e não morais. 
O STJ, por conta de diversos casos, editou a Súmula 402, estabelecendo que o contrato de seguro 
por danos pessoais compreende os danos morais, salvo cláusula expressa de exclusão. 
Ou seja, a seguradora deve agir com transparência e informação. Na dúvida, deverá ser interpretada 
a cláusula dúbia em favor do consumidor. Caso não queira cobrir os danos morais, deverá mencionar 
expressamente tal cláusula no contrato de adesão. 
Uma consequência do princípio da reparação integral é de que a jurisprudência brasileira não 
admite a indenização tarifária. Exemplo disso é o caso de extravio de bagagem. 
Segundo o STJ, é firme a jurisprudência da Corte, no sentido de que, após a edição do CDC, não 
prevalece mais a tarifação da Convenção de Varsóvia. Ou seja, existe essa convenção tarifando indenização 
no caso de bagagem estrangeira, mas a reparação deverá ser integral pelo CDC. 
A única exceção à luz do CDC, que vai permitir, portanto, a tarifação de indenização, ocorrerá 
quando o consumidor for pessoa jurídica. Neste caso, a indenização poderá ser limitada e tarifada, conforme 
o art. 51, I, do CDC, em que diz, na sua parte final, que nas relações de consumo entre o fornecedor e o 
consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis. Portanto, é 
possível a indenização limitada se o consumidor for pessoas jurídica, desde que essa limitação seja justificada. 
Lembrar que no Brasil a indenização se mede pela extensão do dano. 
Alguns julgados não consagram plenamente este princípio, por exemplo, os casos de assédio sexual 
em trens ou ônibus. A concessionária de serviço responde pelo dano moral sofrido pela passageira? Em 2018 
o STJ decidiu em ambos os sentidos. Primeiro disse que responde, e poucos meses depois outro julgado disse 
que não responde. 
“A concessionária de transporte ferroviário responde por dano moral sofrido por passageira, vítima 
de assédio sexual, praticado por outro usuário, no interior do trem”. REsp 1.662.551, junho de 2018. 
“A CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) não deve indenizar passageira molestada 
em vagão”. REsp 1.748.295. Entendeu-se, neste caso, que seria um fortuito externo. 
VII. Princípio da solidariedade (responsabilidade solidária) 
O princípio da solidariedade diz respeito à responsabilidade relativa aos danos sofridos pelos 
consumidores. De forma mais ampla, diz respeito à responsabilidade sobre vícios ou fatos relativos a 
produtos ou serviços. 
21 
O consumidor poderá exigir o seu direito à reparação contra todos aqueles fornecedores, ou contra 
apenas um deles, conforme preferir, levando-se em conta a solidariedade entre eles. 
Segundo o art. 7º, parágrafo único, tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão 
solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo. 
O art. 25, §1º, diz que, havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos responderão 
solidariamente pela reparação. 
O art. 18 também afirma que os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis 
respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou 
inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor. 
Claramente, há a consagração da responsabilidade solidária entre os fornecedores. 
Dessa forma, o STJ entende que empresas de plano de saúde respondem solidariamente por dano 
causado por médico ou hospital que foi por ela credenciado. O plano de saúde diz ao cliente que poderá ir 
em 3 hospitais, pois estariam cobertos pelo plano. Se a pessoa sofrer um dano nesse hospital escolhido, o 
plano de saúde e o hospital são responsáveis solidários pela reparação do dano. Veja, é necessário que o 
consumidor tenha ido no hospital credenciado pelo plano. 
Istonão se confunde com a pessoa que escolhe o médico, que escolhe o hospital, nos chamados 
“seguros saúde”, e depois é ressarcido. O sujeito faz a consulta com quem quer, pega a nota e após o seguro 
saúde o ressarce pelo valor da consulta. Neste caso, o STJ entende que não há a responsabilidade da 
seguradora pela má-prestação do serviço. 
No tocante à responsabilidade, se houver um anúncio falso publicado na internet que cause ofensa 
e gere danos à outra pessoa, neste caso, todos responderão solidariamente pelos danos sofridos por aquela 
pessoa. Ou seja, a empresa proprietária do site, a empresa de propaganda que foi responsável pela 
contratação do aluno, o portal que hospeda o site do conteúdo, etc. 
O STJ entende, no tocante a provedor de conteúdo de internet, que ele não responderá 
objetivamente pelo conteúdo inserido pelo usuário. Isso porque há a liberdade de expressão e o provedor 
não poderá fazer uma censura prévia do que seria publicado. Por outro lado, quando o provedor da internet 
é comunicado do conteúdo inadequado, terá obrigação de retirar imediatamente o conteúdo moralmente 
ofensivo, por exemplo. Caso não retire após a cientificação, passará então o provedor a responder 
solidariamente com o autor do dano. 
Tendo a ofensa mais de um causador, todos responderão solidariamente. 
Aliás, a solidariedade, neste sentido, é regra também nas relações civis. 
22 
Ex.1: Empresa de turismo que vende passagem responde pelo dano causado pelo hotel. 
Ex.2: A Unimed responde pelo dano causado pelo médico credenciado. Aqui há uma e xceção: Seguro 
saúde – Não há uma lista prévia de médicos credenciados, o paciente escolhe o médico, paga, pega o recibo, 
e o seguro saúde reembolsa, neste caso, se houver dano o seguro saúde não responde, quem responde é o 
médico. 
Há alguns anos o STJ entendeu que a Igreja Católica responde solidariamente pelos danos morais 
causados pelo padre pedófilo – Ministra Nancy Andrighi. (Observar que não se trata de relação de consumo). 
VIII. Princípio da interpretação mais favorável ao consumidor 
Em caso de cláusula dúbia, que acabe violando a transparência e o direito de informação do 
consumidor, será adotado o princípio da interpretação mais favorável ao consumidor. 
O art. 47 do CDC diz que as cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao 
consumidor. 
A interpretação contra o estipulante também é prevista pelo Código Civil. Perceba que o CDC vai 
dialogar com o CC. O art. 423 do CC diz que, quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas e 
contraditórias, deve ser adotada a interpretação mais favorável ao aderente. É o caso do consumidor que 
celebra o contrato de adesão, situação em que deverá se valer do Código Civil também para dizer que será 
interpretada a norma de maneira mais favorável ao consumidor. 
Se em um seguro de veículo as cláusulas contratuais aludem conceitos de direito penal, como furto 
e roubo, há de se considerar também a figura da extorsão. Isso porque a distinção rígida entre roubo, furto 
e extorsão não é uma distinção que o leigo consiga fazer, pois escapa da compre ensão do homem-médio. 
Este é o entendimento do STJ, caso inclusive julgado pelo STJ. 
Na mesma linha, o STJ entendeu que, quando a cláusula do contrato de seguro diz que está coberto 
o evento de furto qualificado, a seguradora não pode se negar a cobrir o evento se o que ocorreu foi furto 
simples. Isso porque a distinção rígida entre o que é furto simples e furto qualificado é uma distinção inerente 
ao profissional do direito penal. Neste caso, como escapa tal conhecimento do homem-médio, essa cláusula 
deve ser interpretada de maneira mais favorável ao consumidor. 
IX. Princípio da boa-fé objetiva 
Trata-se do mais importante princípio do direito contratual contemporâneo. É o dever de agir com 
lealdade e cooperação, abstendo-se de condutas que possam frustrar os legítimos interesses da outra parte. 
Cria deveres anexos, não precisa estar previsto no contrato para existir. Os deveres anexos existem sem 
23 
necessidade de previsão contratual. Tem eficácia normativa antes, durante, e mesmo depois que o contrato 
é finalizado. 
A boa-fé objetiva é um dever imposto a qualquer uma das partes que estiver nos polos da relação 
negocial. É o dever de o sujeito agir com lealdade, cooperação, não adotar condutas que quebrem uma 
legítima expectativa gerada na outra parte. 
Por isso, a boa-fé objetiva é criadora de deveres anexos, que é o dever de adotar comportamentos 
conforme aquilo que é legitimamente esperado. 
Com base na boa-fé objetiva, a jurisprudência tem entendido que a suspensão do atendimento do 
plano de saúde em razão de um simples atraso na prestação mensal, principalmente se já tiver havido o 
pagamento da prestação após isto, é quebra da boa-fé objetiva, gerando abuso do direito. Isso porque, se 
a operadora de plano de saúde permite que o sujeito pague com atraso, não é possível dizer que o plano não 
vigora mais. 
O princípio da boa-fé objetiva exprime 3 funções: 
• Função interpretativa: 
O juiz deve sempre prestigiar, diante de convenções e contratos, a teoria da confiança, segundo 
a qual as partes agem com lealdade na busca do adimplemento contratual. O juiz deve 
interpretar as cláusulas contratuais de modo a desconsiderar a malícia da parte que se vale de 
evasivas para criar convenções duvidosas, a fim de obter vantagens incomuns. O juiz deve 
interpretar as cláusulas lacunosas ou imprecisas de acordo com o que, normalmente, são 
entendidas pelos indivíduos. 
• Função de controle: 
Visa evitar o abuso do direito subjetivo, limitando condutas e práticas comerciais abusivas. 
Quando não houver lealdade no exercício do direito subjetivo, de forma a frustrar a confiança 
criada em outrem, o ato será abusivo e considerado ilícito, conforme o art. 187 do CC. 
• Função integrativa: 
Insere deveres anexos, cuja violação é chamada de “violação positiva do contrato” (ou 
“adimplemento ruim”), são eles: 
a) Dever anexo de informação; 
b) Dever anexo de cooperação: o fornecedor deverá cooperar para que o consumidor possa 
alcançar suas expectativas, facilitando os meios para que ele possa adimplir o contrato. 
c) Dever anexo de proteção: o fornecedor deve preservar a integridade pessoal e patrimonial do 
consumidor que, quando violados, geram danos materiais e morais. Ex.: quando o fornecedor 
24 
disponibiliza estacionamento para os veículos dos clientes, assume o dever, derivado do princípio 
da boa-fé objetiva, de proteger os bens e a pessoa do usuário. 
Centenas de julgados do STJ consagram a força normativa desse princípio. Consagram também que 
a obrigação contratual não é mais vista como algo estático, mas dinâmico. Cada vez mais há uma migração 
da literalidade do texto para o contexto. 
Nos serviços de manobrista, de Valet, No AgRegREsp 74422, o STJ decidiu que em caso de furto a 
empresa responde, se foi roubo a empresa não responde. (O professor sugere a pesquisa para o caso de ter 
havido mudança de entendimento). 
Leitura sugerida: REsp 1.592.422. 
Sobre planos de saúde, o STJ tem decidido a algum tempo que as operados estão sujeitas a uma boa-
fé qualificada, quer dizer, uma boa-fé “superior” a boa-fé comum exigida de todos. 
Retrocesso corrido em 2017 entre contexto dos contratos e contextos da publicidade: houve 
diferenciação pelo STJ, porque o CDC, em seu artigo 50, exige, no mínimo a fonte 12 nos contratos. O STJ 
disse que essa fonte mínima não é exigida na publicidade. REsp. 1.602.678. 
X. Princípio da reparação objetiva 
Sabe-se que a responsabilidade civil por danos causados ao consumidor é uma responsabilidade 
objetiva. Não se discute culpa! 
O art. 14 do CDC diz que o fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de 
culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, 
bem como por informações insuficientes ou inadequadassobre sua fruição e riscos. 
Veja, o fornecedor responde objetivamente, independentemente de culpa. 
Esse princípio da reparação objetiva não tem caráter absoluto, pois o art. 14, em seu §4º, traz uma 
exceção. Isso porque a responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a 
verificação de culpa. 
Portanto, haverá a responsabilidade subjetiva do profissional liberal. 
O CDC fala ainda que as sociedades coligadas responderão por culpa, mas verificaremos mais à 
frente. 
XI. Princípio do adimplemento substancial 
25 
O adimplemento substancial não está explicitamente no CDC. Trata-se de princípio de origem anglo-
saxã, que veda a resolução do negócio jurídico, se o adimplemento foi realizado de modo substancial, isto é, 
se a parte inadimplida é mínima em relação ao todo. 
A teoria, denominada de “substancial performance”, vai impedir que haja a resolução de um negócio 
que já houve o adimplemento substancial da prestação ou das prestações. 
Em outras palavras, se a parte inadimplida é mínima, preserva-se o negócio jurídico. Ex.: o sujeito 
pagou 30 das 36 parcelas, ficará mantido o negócio, devendo o fornecedor buscar por outras vias o 
pagamento das 6 parcelas remanescentes. 
O STJ tem decisão adotando a teoria do adimplemento substancial. Essa teoria, para a Corte, visa 
impedir o uso desequilibrado do direito de resolução do contrato por parte do credor, com base no princípio 
da preservação do contrato e no da boa-fé. 
XII. Princípio do venire contra factum proprium 
Não há disposição explícita no CDC. Teoria dos atos próprios, que também dialoga muito com a boa-
fé objetiva. 
O venire contra factum proprium non potest é a vedação da adoção de um comportamento 
contraditório, abrupto, que viole a boa-fé objetiva. 
É o caso do sujeito que teve uma cirrose provocada por vírus C. Ele adquiriu essa doença muito tempo 
depois da assinatura do contrato de seguro-saúde. Era uma doença desconhecida do autor. Em outras 
oportunidades anteriores, o sujeito buscou tratamento para outras doenças e recebeu o reembolso pelo 
seguro-saúde. No entanto, mais tarde, foi tratar da cirrose pelo vírus C. Efetuou o pagamento do tratamento, 
mas quando foi pedir o reembolso para o seguro-saúde, lhe foi negado o ressarcimento. Neste caso, o STJ 
entendeu que haveria venire contra factum proprium, não sendo permitido a adoção desse 
comportamento contraditório. 
Anderson Schreiber entende que, para o venire contra factum proprium ficar caracterizado, é 
preciso que haja o preenchimento de 4 requisitos: 
• Conduta inicial (factum proprium) 
• Haja uma legítima confiança no outro objetivamente (Espera-se o comportamento mais lógico) 
• Comportamento contraditório ao sentido objetivo; 
• Ocorrência de dano sofrido pela parte ou potencial de dano. 
XIII. Princípio da conservação do contrato 
26 
O CDC diz no art. 51, §2º, a nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, 
exceto quando da ausência dessa cláusula, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a 
qualquer das partes. 
Na mesma linha, o Código Civil diz que, no art. 184, respeitada a intenção das partes, a invalidade 
parcial de um negócio jurídico não prejudicará o negócio jurídico na parte válida, se for possível fazer essa 
separação entre a parte inválida e a parte válida. 
XIV. Princípio da modificação das prestações desproporcionais 
Mais uma vez traz a ideia de equilíbrio. Trata-se de um subprincípio do princípio da equivalência das 
prestações. 
Dentre os direitos básicos do consumidor, está a modificação das cláusulas contratuais que 
estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem 
excessivamente onerosas. 
Há aqui a teoria do rompimento da base objetiva. Não há a teoria de origem francesa, denominada 
teoria da imprevisão. No Código Civil, há adoção da teoria da imprevisão, conforme art. 478. 
XV. Princípio da equidade 
A equidade, no sentido aristotélico, é a justiça do caso concreto. Atualmente, há uma revalorização 
da equidade. 
A autorização para se valer da equidade como julgamento vem no art. 51 do CDC, o qual estabelece 
que são nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos 
e serviços que estabeleçam obrigações incompatíveis com a boa-fé ou com a equidade. Portanto, cláusula 
incompatível com a equidade é nula de pleno direito. 
O STJ entende que são nulas as cláusulas contratuais que impõem ao consumidor uma 
responsabilidade absoluta por compras realizadas por cartão de crédito furtado até o momento em que 
esse consumidor comunica o furto à operadora ou ao banco. 
Quando há uma previsão contratual nesse sentido, coloca-se o consumidor em desvantagem 
exagerada, violando a equidade. Isso porque são as administradoras de cartão de crédito e os vendedores 
que devem apurar a regularidade no uso dos cartões, pedindo identidade para verificar quem é o dono do 
cartão. Dessa forma, não se poderá penalizar o consumidor em razão disso. 
O NCPC, na mesma linha do anterior, prevê que o juiz somente decidir por equidade nos casos 
previstos em lei. No entanto, a previsão da equidade encontra-se no art. 51, de modo que não há uma 
violação ao disposto no CDC. 
27 
XVI. Princípio da harmonia nas relações de consumo 
O reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor não pode implicar tratamento hostil do 
fornecedor. O essencial é que haja equilíbrio. 
O CDC, quando estabelece a Política Nacional das Relações de Consumo, diz que essa política terá 
por objetivo, dentre outros, assegurar a harmonia das relações de consumo. 
Nesse sentido, há a compatibilização das relações de consumo com a necessidade de 
desenvolvimento econômico e tecnológico. 
Para o STJ, a proteção da boa-fé nas relações de consumo não pode significar favorecer 
indiscriminadamente o consumidor, prejudicando direitos e valores que também foram outorgados 
legitimamente ao fornecedor. É preciso buscar a harmonia nas relações de consumo. 
Por conta disso, o STJ diz que é lícito que a concessionária interrompa o fornecimento de energia 
elétrica ou de água se depois do aviso prévio o consumidor se mostra inadimplente com o pagamento da 
respectiva conta. E essa possibilidade é admitida pelo STJ mesmo na hipótese em que o consumidor seja um 
órgão público. 
Em relação a órgãos públicos e a pessoas jurídicas de direito público, o STJ ressalva que é possível o 
corte, desde que não se trate de órgão que preste serviço público essencial (ex.: hospital, escola, posto de 
saúde, delegacia de polícia). 
A prestação de energia elétrica, ainda que decorrente de inadimplemento, só é legítima se não 
afetar direito à saúde e à integridade física do usuário. Com base nesse entendimento, o STJ também 
impediu que houvesse o corte do fornecimento de energia elétrica para a pessoa portadora de HIV que 
necessitava de energia elétrica para deixar a geladeira ligada para refrigeração dos medicamentos. Dessa 
forma, a concessionária deverá cobrar o débito por outras vias, sem impedir o fornecimento de energia 
elétrica. 
É importante ressaltar que a interrupção de energia elétrica só é admitida para débito atual. Débitos 
antigos deverão ser cobrados por outras vias. 
Felipe Peixoto Braga resume o que o STJ entende sobre a legitimação do corte de energia elétrica 
por inadimplemento do consumidor. Portanto, são requisitos para que haja o corte legítimo: 
• Não haja lesão irreversível à saúde ou à integridade física do usuário; 
• Não exista discussão judicial da dívida; 
• Não seja débito irrisório; 
• Não seja débitos pretéritos e antigos; 
28 
• Não seja decorrente da fraude de medidor de consumo de energia que foi apurada 
unilateralmente pela concessionária; 
• Não se trate de débitos inadimplidos relativo ao usuário antigo do imóvel, pois se trata de 
obrigação de natureza pessoal e não real (não é propterrem). Se foi um antigo usuário 
inadimplente pelos débitos da conta de energia elétrica, o novo usuário não será obrigado a fazê-
lo. 
O CDC não deseja favorecer exclusivamente o consumidor, nem o colocar contra o fornecedor, 
mas criar uma relação harmônica entre ambos. 
Não se pode infantilizar o consumidor. 
Distinção entre “dolus bonus” e “dolus malus”. 
O “dolus bonus” são exageros publicitários, comuns na vida social, que não tem o intuito de 
enganar. Ex.: “Red Bull te dá asas”. 
Curioso que a Red Bull fez um acordo milionário em uma ação coletiva nos EUA por conta dessa 
publicidade. 
XVII. Princípio do acesso à justiça 
O CDC traz vários dispositivos nesse sentido. 
O art. 83 diz que, para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este código são admissíveis 
todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela. 
Dentre os direitos básicos do consumidor, o inciso VIII diz que resta assegurada a facilitação da 
defesa de seus direitos. 
No tocante à questão processual, a fim de facilitar a defesa do consumidor, o art. 101, I, diz que, na 
ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, o consumidor poderá propor a ação no 
seu domicílio. Trata-se apenas de uma facultatividade do consumidor. 
No entanto, o STJ entende que, se o juiz verificar que a facilitação da defesa dos direitos do 
consumidor está sendo prejudicada, neste caso, a cláusula de eleição de foro será nula. 
Em se tratando de relação de consumo, segundo o STJ, é de natureza absoluta a competência, 
podendo ser declinada de ofício pelo magistrado, considerando o princípio da facilitação da defesa pelo 
consumidor. Dessa forma, a competência territorial assumiria o caráter absoluto. No entanto, caso o 
consumidor seja o autor da ação, poderá ele decidir se vai ajuizar a ação no seu domicílio ou no domicílio 
do fornecedor. 
Dentre os instrumentos que se têm para a facilitação da defesa do consumidor está a inversão do 
ônus da prova. A inversão do ônus se dá quando o juiz percebe que a alegação é verossímil ou quando o 
consumidor se mostrar hipossuficiente. 
29 
Hipossuficiência não significa que o consumidor é mais pobre que o fornecedor. Não se trata 
apenas de hipossuficiência econômica. A hipossuficiência poderá ocorrer inclusive quando o consumidor é 
mais rico do que o fornecedor, e ainda assim seja hipossuficiente. 
A hipossuficiência poderá ser: 
• Hipossuficiência econômica: ocorre quando o poderio econômico do fornecedor é 
absolutamente superior e capaz de prejudicar o consumidor por conta de suas condições 
financeiras. 
• Hipossuficiência técnica: ocorre quando o paciente é submetido a uma cirurgia médica, não tem 
o conhecimento técnico da especialidade médica. Ainda que seja muito rico, será hipossuficiente, 
podendo ser determinada a inversão do ônus da prova. 
O STJ decidiu que a inversão do ônus da prova deverá se dar no momento do saneamento do 
processo, a fim de viabilizar a produção da prova pelo fornecedor. 
Lembrando que o NCPC trouxe regramento distinto do CPC/73, inovando a aproximando do CDC. 
Dessa forma, o NCPC adotou a teoria dinâmica do ônus da prova. 
O art. 5º do CDC estabelece que, para a execução da Política Nacional das Relações de Consumo, 
contará o Poder Público com os seguintes instrumentos: 
• Manutenção de assistência jurídica, integral e gratuita para o consumidor carente; 
• Instituição de Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor, no âmbito do Ministério 
Público; 
• Criação de delegacias de polícia especializadas no atendimento de consumidores vítimas de 
infrações penais de consumo; 
• Criação de Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas Especializadas para a solução de 
litígios de consumo; 
• Concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das Associações de Defesa do 
Consumidor. 
Veja, o art. 5º viabiliza o princípio do acesso à justiça, facilitando o direito do consumidor. 
4. Relação jurídica de consumo 
I. Conceito 
A relação jurídica de consumo é caracterizada pela presença em polos opostos de um consumidor e 
de um fornecedor, tendo por objeto produtos e serviços. 
30 
Interessante aqui, que essa relação jurídica tem essa peculiaridade, deve ter, conceitualmente, de 
um lado o fornecedor e do outro lado um consumidor, se faltar qualquer desses polos não tem relação 
jurídica de consumo. 
Em teoria geral do Direito aprendemos que toda relação jurídica é formada por dois su jeitos de 
direito (A- B), tendo um objeto (x). 
A x→ B 
Toda generosa disciplina normativa do CDC só pode ser aplicada se tivermos de modo conjunto de 
um lado consumidor, de outro o fornecedor. 
II. Sujeitos 
Haverá uma relação jurídica de consumo quando há num polo o consumidor e no outro o fornecedor. 
A partir dessa relação subjetiva, chegamos à conclusão que há uma relação jurídica de consumo, que terá 
como objeto produtos ou serviços. 
a) Consumidor 
O art. 2º do CDC diz que consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto 
ou serviço como destinatário final. 
Segundo o STJ, o CDC adotou a teoria finalista mitigada, a qual leva em conta a vulnerabilidade 
técnica, jurídica, fática, informacional ou hipossuficiência. Ou seja, consumidor seria aquele que retira o bem 
do mercado e coloca fim na cadeia de produção. Trata-se de um conceito econômico de consumidor. 
A Pessoa Jurídica pode ser consumidora. Nessa situação, é tudo igual à Pessoa Física? 
A jurisprudência do STJ faz uma distinção em relação a tema: A vulnerabilidade do consumidor Pessoa 
Física é presumida, ao passo que a vulnerabilidade do consumidor Pessoa Jurídica deve ser comprovada. 
Ex.: Pessoa Física que adquire empréstimo junto ao Banco do Brasil, a este contrato aplica-se o CDC. 
De outro giro, caso pessoa, na qualidade de sócio-gerente de Pessoa Jurídica adquira empréstimo junto ao 
Banco do Brasil, a esse empréstimo aplica-se o CDC? Depende. Tato pode ser aplicado, como pode não ser 
aplicado. Deve ser analisada a vulnerabilidade no caso concreto. 
Outro ponto, agora decorrente de disposição explícita do CDC – embora pouco recorrente – está 
consagrado no artigo 51, inciso I, do CDC. 
As chamadas cláusulas de irresponsabilidade, ou também conhecidas como cláusula de não 
indenizar, como o nome já diz, é uma cláusula que exclui a responsabilidade civil em certos casos, podendo 
31 
vir em um contrato, ou, por exemplo em estacionamentos de mercados e shoppings “o estacionamento não 
se responsabiliza...” 
Essas cláusulas no âmbito das relações de consumo são inválidas, nulas. 
Obs.: No âmbito da relação de consumo não existe a figura do anulável, só do nulo. No âmbito do 
Direito Civil, a invalidade é um gênero que possui duas espécies: nulo e anulável. Nulo quando espécie de 
nulidade mais grave. Anulável como espécie de nulidade menos grave. 
As características clássicas do que é nulo, são que não prescreve, qualquer pessoa pode alegar, o juiz 
pode conhecer de ofício. O que é anulável só a parte prejudicada pode alegar, o juiz não pode decidir de 
ofício, prescreve, é sanável. 
Esse dualismo não existe na matéria consumerista, pois as cláusulas abusivas nas relações de 
consumo são nulas. 
Essa contextualização foi feita para dizer que no âmbito das relações de consumo as cláusulas de 
irresponsabilidade são inválidas, ainda que previstas no contrato. Aliás, o CDC é tão rigoroso quanto a isso 
que vai além, dizendo que mesmo as cláusulas que meramente atenuem o dever de indenizar por parte do 
fornecedor de produtos e serviços são inválidas. 
Existe uma exceção: Exatamente distinção entre a Pessoa Jurídica consumidora da Pessoa Física 
Consumidora (art. 51, I, CDC). A indenização pode ser contratualmente limitada diz o CDC em situações 
justificáveis. Esse seria o único caso de uma limitação contratual válida. 
Não se aplica o CDC: 
 
1. Relação entre condôminos e condomínios – REsp 650.791. 
2. Relação entreautarquia previdenciária e seus beneficiários – REsp 369.822. 
3. Relações jurídicas tributárias – REsp 673.374. 
4. Relações disciplinadas pela Lei do Inquilinato – AgRg ARESp 11.983. 
5. Relação entre o representante comercial autônomo e a sociedade representada – REsp 
761.557. 
6. Não há relação de consumo quando partes se juntam para construir - regime de administração 
ou de preço de custo REsp 860.064. 
7. Franquia – REsp 632.958. – “O contrato de franquia por sua natureza não está sujeito às regras 
do CDC, pois não há relação de consumo, mas relação de fomento econômico”. 
8. FIES – Por se tratar de política relativa ao fomento da educação não se aplica o CDC. 
9. Relação entre cooperativa e cooperado. AgRgREsp 12.122.507. 
32 
10. Factoring – As empresas de factoring não são consideradas instituições financeiras – REsp 
836.823, REsp 938.979. 
11. Financiamentos bancários ou aplicação financeira com o propósito de ampliar o capital de 
giro - Por não se caracterizar a figura do consumidor. – REsp 963.852. 
12. Advogados – REsp 1.123.422. 
13. Transporte internacional de cargas – REsp 1.442.674. 
14. Não se aplica ao extravio de bagagem de voo internacional. 
 
Atenção: Dizer que não aplica o CDC não quer dizer que não se aplique todas as regras protetivas 
do CC. 
 
Se aplica o CDC: 
 
1. Contratos de administração imobiliária – REsp 509.304. 
2. Cliente e casa noturna. 
3. Condomínio e companhia de água – REsp 650.791. 
4. Os contratos de promessa de compra e venda em que a construtora/incorporadora se obriga 
à construção de unidades imobiliárias mediante financiamento. Compra de imóveis na planta 
REsp 334.829 e REsp1.560.728. 
5. Cooperativas quando equiparadas a atividades típicas de instituições financeiras AgRgAgr 
1.088.329. – Aliás, o STJ editou súmula 602 entendendo que o CDC é aplicável aos 
empreendimentos habitacionais realizados pelas sociedades cooperativas. 
6. O STJ entende que o CDC se aplica aos contratos do Sistema Financeiro de Habitação (FSH) – 
Nesse caso cabe lembrar da súmula 473. Existe uma exceção, O STJ diz que nos contratos regidos 
pelo FSH que forem firmados com a cobertura do fundo de compensações salariais, não se aplica 
no CDC. AgRgEDREsp 1.032.061. O STJ entende que nesse caso, a garantia dada pelo governo de 
quitar o contrato afasta o CDC. 
7. Contratos de arrendamento mercantil. 
8. Entidades abertas de previdência privada. 
9. Consórcio. REsp 1.185.109. Há dois feixes de relações jurídicas. Na relação entre administrado 
e administradora se aplica o CDC. Na relação dos consorciados entre si não se aplica. 
10. Planos de saúde, salvo se forem planos regidos pelo sistema de autogestão. 
11. Serviços de atendimento médico hospitalar – emergência – REsp 696.284 – 
12. Erro médico se aplica o CDC, inclusive quanto ao prazo prescricional de 5 anos. EDREsp 
704.272. 
33 
13. As concessionárias de serviço público – REsp 687.799. Porque nesse caso o serviço prestado 
pela concessionária tem natureza prova de Direito Privado a contraprestação é feita mediante 
tarifa, não de taxa AgRgAgr 1.398.696. 
14. Cooperativas de crédito que integram o Sistema Financeiro Nacional AgRgAgr 1.224.838. 
15. Correios – REsp 1.210.732. 
16. Atividade notarial- Cartório – REsp 1.163.652. – São delegatários do poder público. 
17. Exploração comercial da internet – REsp 1.186.616. 
18. Entidades sem fins lucrativos de caráter beneficente e filantrópico pode ser considerada 
fornecedora de serviços à luz do CDC, desde que desempenhe atividades no mercado de 
consumo mediante remuneração. 
19. Mercado de ações, corretagem de valores e títulos imobiliários, ainda que o consumidor 
tenha conhecimento acima da média da maioria das pessoas – REsp 1.599.535. 
 
b) Fornecedor 
Segundo o art. 3º, fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou 
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, 
criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos 
ou prestação de serviços. 
Trata-se de uma tentativa de o legislador abarcar todos os entes que atuam no mercado de consumo, 
tendo esta habitualidade. Destaque-se que, ainda que implicitamente, o dispositivo exige habitualidade. Do 
contrário, dificilmente haveria a figura do fornecedor. 
O STJ já decidiu que mesmo as entidades sem fins lucrativos, de caráter beneficente e filantrópico, 
poderão ser consideradas fornecedor, caso desempenhem atividade no mercado de consumo mediante 
remuneração. 
Outro aspecto importante, que as vezes cai em provas fechadas: 
Esse conceito do artigo 3º, que é muito amplo, abrange várias subespécies, e a doutrina diz que o 
fabricante de produtos e serviços é o fornecedor real, já o comerciante e o importador são tidos como 
fornecedores presumidos. 
Eventualmente, a legislação pode criar outras figuras de fornecedores. Por exemplo, o Estatuto do 
Torcedor, que equipara a fornecedor a entidade responsável pela organização da atividade esportiva. Isso já 
caiu em prova. 
c) Internet e relações de consumo 
34 
Destaque-se a Lei do Marco Civil. 
Segundo o art. 18, o provedor de conexão à internet não será responsabilizado civilmente por 
danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros. 
No entanto, o art. 19, enxergando o provedor como fornecedor, disciplinou que, com o intuito de 
assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o provedor de aplicações de internet somente 
poderá ser responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após 
ordem judicial específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço 
e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente , ressalvadas as 
disposições legais em contrário. 
O art. 21 diz que o provedor de aplicações de internet que disponibilize conteúdo gerado por 
terceiros será responsabilizado subsidiariamente pela violação da intimidade decorrente da divulgação, sem 
autorização de seus participantes, de imagens, de vídeos ou de outros materiais contendo cenas de nudez 
ou de atos sexuais de caráter privado quando, após o recebimento de notificação pelo participante ou seu 
representante legal, deixar de promover, de forma diligente, no âmbito e nos limites técnicos do seu 
serviço, a indisponibilização desse conteúdo. 
Em outras palavras, o provedor de acesso à internet não responderá por eventual conteúdo danoso 
posto na rede mundial de computadores por um terceiro que utilizar do provedor. Do contrário, poderia 
haver censura por parte do provedor. Todavia, o provedor irá responder se houver a decisão judicial para 
que o conteúdo fosse indisponibilizado e aquele não obedecesse à determinação judicial. 
Segundo o STJ, não se pode exigir do provedor de hospedagem de blogs a fiscalização antecipada de 
cada nova mensagem postada. A mensagem deve ser postada primeiramente para que, somente após, ser 
possível a retirada da mensagem. 
Como se vê, a Lei do Marco Civil da Internet trouxe um temperamento à responsabilidade solidária 
do provedor. 
d) Profissionais liberais são fornecedores de serviços? 
O profissional liberal é aquele que exerce com autonomia a sua tarefa, sem subordinação técnica a 
outrem. 
Além da habilidade ou habilitação técnica, o profissional liberal é caracterizado pela sua autonomia 
e pela sua habitualidade no exercício de sua profissão. 
Os profissionais liberais são fornecedores de serviços, inclusive com previsão expressa no CDC. O que 
muda é que o CDC traz uma disposição específica em relação aos profissionais liberais. 
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De acordo com o art. 14, § 4º, a responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada 
mediante a verificação de culpa. Via de regra, o fornecedor está sujeito à responsabilidade civil objetiva. 
Mas no tocante aos profissionais liberais,

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