Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ARTIGO ORIGINAL ISSN: 2178-7514 Vol. 7 | Nº. 2| Ano 2015 EFEITO DO TREINAMENTO DE FORÇA NA PERFORMANCE MOTORA DE ATLETAS DE TRIATHLON AO LONGO DA TEMPORADA ESPORTIVA Luiz Antonio Domingues Filho1; Charles Ricardo Lopes1,2,4 ;Alexandre Lopes Evangelista5; Gustavo Ribeiro da Mota3; Willy Andrade Gomes1; Paulo Henrique Marchetti1; Ídico Luis Pelegrinotti1. RESUMO O objetivo deste estudo foi investigar a influência de um programa de treinamento com pesos na performance motora. Quatorze atletas, do sexo masculino, participantes de competições nacionais de triathlon. O treinamento foi desenvolvido em 24 sessões de treinamento de força durante 12 semanas, sendo que a fase de adaptação (FA) teve duração de 8 sessões, utilizando carga de 60% a 65% de uma repetição máxima (1RM). A fase especifica, constou de 16 sessões e utilizou carga de 65% a 80% de 1RM. A intervenção se deu subdividindo-se os sujeitos em grupo experimental e grupo controle, onde o grupo experimental realizou treinamentos com pesos e o grupo controle não realizou treinamentos de força. Foram realizadas avaliações de performance em três momentos distintos: 1. antes de iniciar o treinamento com pesos, 2. após quatro semanas de treinamento e 3. após doze semanas de treinamento. Foi utilizada uma ANOVA (2x3) medidas repetidas para o % de gordura, massa corporal magra, teste de natação de 400 metros, consumo máximo de oxigênio, potência máxima, potência média, índice de fadiga e post hoc de Sidak, com significância 5%. Conclui-se que o treinamento de força influenciou positivamente o tempo de nado de 400m, a potência máxima e a potência média nos triatletas após um programa de treinamento periodizado de 12 semanas. Palavras-chave: performance, exercício físico, esporte, metabolismo. Autor de correspondência: Ídico Luis Pelegrinotti Universidade Metodista de Piracicaba Rodovia do Açúcar Km 156, Bloco 7, Sala 32, Taquaral 13400-911 - Piracicaba, SP – Brasil E-mail: ilpelleg@unimep.br 1Programa de Mestrado e Doutrado em Ciências do Movimento Humano/UNIMEP. 2Laboratório de Instrumentação para Biomecânica (LIB), Faculdade de Educação Física. 3Departamento de Ciências do Esporte, Universidade Federal do Triângulo Mineiro, UFTM, Uberaba, MG, Brasil. 4Faculdade Adventista de Hortolândia (UNASP). Hortolândia. SP. Brasil. 5Universidade Nove de Julho, SP. Effect of strength training on the motor performance of the triathlon athletes during the season ABSTRACT The objective of this study was to investigate the influence of a strength training program on physical performance. Fourteen athletes, male, participants from national competitions of triathlon. The training was developed in 24 sessions of resistance training for 12 weeks, and adaptation phase lasted 08 sessions, using 60% to 65% of one repetition maximum. The specific phase consisted of 16 sessions using 65% to 80% of 1RM. Subjects were subdivided in the experimental group and control group, where experimental group has conducted strength training and the control group did not. Performance evaluations were carried out in three different moments: 1. before starting the strength training, 2. after four weeks of strength training and 3. after 12 weeks of resistance training. We used a repeated measures ANOVA (2 x) to the % Fat, lean body mass, swimming test of 400m, maximum oxygen consumption, maximum power, mean power, index of fatigue with Sidak’s post hoc, and 5% of significance. We concluded that the strength training influenced positively the time of 400 m of the swimming, the maximum power and the average of the power in triathletes after a periodized training program for 12 weeks. Keywords: performance, physical exercise, sport, metabolism. Efeito do treinamento de força na performance motora de atletas de triathlon ao longo da temporada esportiva Revista CPAQV – Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida | Vol. 7 | Nº. 2 | Ano 2015 | p. 2 INTRODUÇÃO O triathlon é um esporte que compreende natação, ciclismo e corrida, sendo uma atividade com predomínio aeróbio (1). O treinamento de força pode auxiliar na melhora da performance do triathlon pois influencia as adaptações fisiológicas e mecânicas (2). A melhora da capacidade de um triatleta em tolerar a demanda física do treinamento e dacompetição é adquirida por meio de adaptações provenientes de agentes estressores aplicados no programa de treinamento físico. Portanto, dentro do processo global de treinamento, torna-se necessário a preocupação com o controle de três períodos que regem a forma físico-desportiva de um triatleta: o período preparatório (aquisição da forma desportiva), período competitivo (manutenção da forma desportiva) e o período de transição (diminuição da forma desportiva). A busca por melhores resultados nas competições de triathlon passa por aspectos ligados à preparação física e a elaboração estratégica que de acordo com Hausswirth e Brisswalter (3) é um fator importante associado ao desempenho durante a competição. A preparação física desta modalidade é complexa pela sua natureza, devido as suas diferenças metodológicas de preparação quando comparado a outros esportes por suas necessidade de sincronização da performance em três provas distintas: natação, ciclismo e corrida. O desafio de melhorar o rendimento e a organização metodológica exigida no triathlon, aumenta a demanda por técnicas e estratégias capazes de elevar ao máximo a performance. O treinamento de força (TF) como forma de potencializar a força e potência no esporte tem sido usado de forma positiva nas modalidades como natação (4, 5), em ciclistas (6, 7), e corredores (8, 9). Entretanto, este tipo de treinamento específico em força para triatletas ainda é controverso e envolvido em discussões sobre sua utilidade. Em estudo de revisão Lopes et al. (10) analisaram os efeitos do TF no desempenho de endurance em sujeitos treinados. Foram analisados diferentes fatores fisiológicos como o consumo máximo de oxigênio (VO2máx), limiar anaeróbio (LAn) e a economia de movimento (EM). Os resultados mostram que tanto o VO2máx. como o LAn são responsivos ao modelo tradicional de treinamento de endurance, no entanto, essas variáveis são pouco sensíveis ao TF em pessoas treinadas. Porém, a EM parece ser aperfeiçoada com o TF. Assim, concluiu- se que o TF pode melhorar a performance na endurance através da EM, corroborando como os achados do estudo de revisão de Jung (11) que analisou os efeitos do treinamento de força na performance de corredores e os diferentes protocolos de treinamento de força mostrando que em indivíduos aerobiamente treinados, o VO2máx e Lan tendem a não melhorar com o treinamento de força, não apresentando efeitos deletérios ao VO2máx ou a performance da corrida e sem diminuir o LAn. Efeito do treinamento de força na performance motora de atletas de triathlon ao longo da temporada esportiva Revista CPAQV – Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida | Vol. 7 | Nº. 2 | Ano 2015 | p. 3 Além disso, foi observado melhora na economia de corrida, além do aumento da força muscular e tempo para a ocorrência da fadiga em indivíduos aerobiamente treinados. Quando comparado os modelos de treinamento de força, parece existir uma variedade de modelos que contribuem para melhoria da performance de corredores de longas distâncias. Contudo, os efeitos de programas de treinamento de força durante a preparação de triatletas ainda não é bem estabelecido. Nesse sentido pesquisar a inclusão do programa de treinamento com pesos pode beneficiar a performance, bem como entender a contribuição do treinamento de força na periodização de triatletas. Assim, o presente estudo investigou os efeitos do programa de treinamento de força com duração de 12 semanas na performance dos atletas por meio de testes específicos da modalidade.MATERIAL E MÉTODOS Amostra A amostra foi composta por catorze (14) triatletas amadores do sexo masculino, participantes de competições de nível estadual e nacional de triathlon. Os sujeitos treinavam seis vezes por semana, com dois períodos de treinamento por dia, perfazendo um total de 18 horas semanais, distribuídas entre natação, ciclismo e corrida. Os sujeitos foram aleatoriamente divididos em dois grupos: experimental (GE, n=7, idade: 26±5 anos, estatura: 175±3 cm), e controle (GC, n=7, idade: 29±5 anos, estatura: 177±7 cm). O GE realizou o treinamento específico do triathlon com sobrecarga e treinamento de força e o GC realizou apenas o treinamento específico do triathlon. Todos os sujeitos foram avaliados no início da segunda temporada competitiva e estavam isentos de qualquer doença aguda ou crônica, conforme anamnese e breve exame clínico realizado por um médico. Os sujeitos foram informados dos procedimentos experimentais e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade. Procedimentos Todas as análises foram realizadas antes da segunda temporada de preparação física para as competições organizadas pela Confederação Brasileira de Triathlon (CBTri). Foram realizados testes e coleta de dados em três momentos distintos durante período preparatório como segue: (AV1) antes de iniciar o treinamento com pesos; (AV2) após quatro semanas de treinamento com pesos; (AV3) após doze semanas de treinamento com pesos. Composição corporal (%G e MCM): A composição corporal foi obtida pelo método duplamente indireto, através da mensuração da espessura de dobras cutâneas. Para o cálculo da densidade corporal foram utilizadas as equações de Pollock e Jackson (12, 13) e para estimativa do percentual de gordura corporal a fórmula de Siri (14). Todas as medidas de foram repetidas três vezes em cada ponto em ordem rotacional, e apenas no hemicorpo direito dos avaliados. Efeito do treinamento de força na performance motora de atletas de triathlon ao longo da temporada esportiva Revista CPAQV – Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida | Vol. 7 | Nº. 2 | Ano 2015 | p. 4 Corrida de 2.400 metros (C2400): O teste consis- tiu no deslocamento do triatleta em sua velocidade máxima em um percurso de 2.400 metros procuran- do completar a distância no menor tempo possível. Com os resultados, foi calculado o VO2 max, de cada sujeito pela fórmula proposta pelo American College Sport Medicine (15). Teste de Wingate: O teste de Wingate foi realizado em uma bicicleta de frenagem mecânica, (marca Bio- tec 2100®), conforme descrito por Bar-Or (1987), foi utilizada uma carga de 0,75 g/Kg durante 30 segun- dos e a potência de pico (PP) e potência média (PM) foi determinada a cada 5 segundos. Todos os dados foram registrados utilizando o softwer Ergometric 6.0 Cefise. Todos os voluntários foram encorajados verbalmente a pedalar o mais rápido possível durante todo o teste. Prévio ao teste, os mesmos realizaram aquecimento no cicloergômetro durante 5 minutos, com tiros de 3 segundos a cada minuto completado. Após 5 minutos de pausa o teste foi realizado. 400 metros de natação (TN400): Este teste visou medir o tempo total gasto no percurso de 400 metros em uma piscina de 25 metros. O teste iniciou com a saída do sujeito de dentro da piscina e se deslocando na máxima velocidade possível no estilo crawl. Protocolo Experimental O GE realizou um planejamento de 12 semanas, com frequência semanal de 2 vezes por semana submeti- dos ao treinamento de força (24 sessões) e descanso de 48 horas entre as sessões. O GC realizou apenas o treinamento específico da modalidade durante a mes- ma quantidade de semanas preconizadas para o GE. O programa de treinamento para o GE foi dividido em fase de adaptação (FA) com duração de 4 sema- nas (08 sessões) e a fase especifica (FE) com du- ração de 08 semanas (16 sessões). Foram utilizados os seguintes exercícios durante a temporada: supino com barra, agachamento com barra, desenvolvimento de ombros frontal com barra, extensão dos joelhos no aparelho e remada superior sentado com cabo. O teste de uma repetição máxima (1RM) de Brow e Weir (16) foi adotado para avaliar a força muscular máxima dos indivíduos visando o ajuste das cargas de treinamento ao longo da temporada esportiva. Na FA o trabalho foi direcionado para resistência muscular através da adaptação aos exercícios com pesos. Para a FA, durante as duas primeiras semanas foram realizadas 2 séries para membros inferiores (mmii) e 3 séries para membros superiores (mmss) de 10 repetições com sobrecargas de 60% de 1RM, sendo que para a terceira e quarta semanas as sobre- cargas foram ajustadas para 65% de 1RM. Na FE o treinamento foi conduzido no sen- tido de priorizar o trabalho de força geral para os membros superiores e inferiores. Durante todas as se- manas foram realizadas 3 séries para mmii e 4 séries para mmss, entretanto as cargas foram alteradas como segue: semana 1: 10 repetições com 65% de 1RM; semana 2: 8 repetições com 70% de 1RM; semana 3: 8 repetições com 75% de 1RM; semanas 4 e 5: 8 repetições com 80% de 1RM. O intervalo de des- canso entre séries e entre exercícios foi de 1 minuto e 30 segundos. Durante este período do treinamento de força específica também foram aplicadas diferentes Efeito do treinamento de força na performance motora de atletas de triathlon ao longo da temporada esportiva Revista CPAQV – Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida | Vol. 7 | Nº. 2 | Ano 2015 | p. 5 tipos de resistência ao treinamento, que consistiu em adicionar resistência à natação através da utilização de nadadeiras, palmares e camiseta; ao ciclismo com aclives usando uma relação entre cadências (rpm) pesada e baixa e na corrida, areia fofa, aclives e extensores. Análise Estatística A análise estatística descritiva envolveu medidas de tendência central e variabilidade. Todos os dados foram reportados através da média e desvio padrão (DP) da média. A normalidade e homogeniedade das variâncias foram verificadas utilizando o teste de Shapiro- Wilk e de Levene, respectivamente. Uma ANOVA (2x3) foi utilizada para o %G, MCM, TN400m, VO2max, PMax, PMed, IF, tendo como fator grupo (GE E GC) e os momentos de avaliação (AV1, AV2 e AV3), sendo a última medidas repetidas. Post hoc de Sidak foi utilizado. Uma significância de 5% foi utilizada para todos os testes estatísticos. RESULTADOS A tabela 1 apresenta os valores médios e desvio padrão do peso corporal (PC), percentual de gordura (%G), massa corporal magra (MCM) de ambos os grupos durante a temporada esportiva. Ao compararmos os efeitos do treinamento com sobrecarga em relação ao peso corporal, durante todos os momentos da avaliação, percebeu-se que o GE não apresentou diferença quando comparado ao GC nas variáveis PC, %G e MCM. Grupo Experimental Grupo Controle Variáveis AV1 AV2 AV3 AV1 AV2 AV3 PC (Kg) 72,4 ±10,7 72,3 ±10,3 71,9±9,3 71,9±12,7 71,9±12,5 72,0±12,5 % G 9,58±3,2 9,41±2,8 8,26±2,3 8,75±2,6 8,48±2,7 8,25±2,6 MCM (Kg) 65,3±8,6 65,4±8,1 65,9±9,0 65,4±10 65,6±9,7 65,8±9,8 Tabela 1. Média e desvio padrão do peso corporal (PC), porcentual de gordura (%G) e massa corporal magra (MCM) de ambos os grupos durante a temporada. A tabela 2 apresenta valores médios e desvio padrão do tempo de nado em 400 metros de crawl (TN400), consumo máximo de oxigênio (VO2max.), potência máxima (PMax), potência média (PMed) e índice de fadiga (IF). Tabela 2. Média e desvio padrão do tempo de nado em 400 metros de crawl (TN 400), consumo máximo de oxigênio (VO2max.), potência máxima (PMax), potência média (PMed) e índice de fadiga (IF) de ambos os grupos (experimental e controle) durantea temporada esportiva. Efeito do treinamento de força na performance motora de atletas de triathlon ao longo da temporada esportiva Revista CPAQV – Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida | Vol. 7 | Nº. 2 | Ano 2015 | p. 6 Grupo Experimental Grupo Controle Variáveis AV1 AV2 AV3 AV1 AV2 AV3 TN400 (min) 5,6±1,1* 5,6±0,9* 5,3±0,9* 6,4±0,8 6,4±0,7 6,3±0,8 VO2máx (ml.Kg.min-1) 58,1±7,8 56,0±5,3 60,8±5,3 55,4±6,2 55,5±4,7 57,0±4,6 P.Max (W.kg -1) 9,5±0,9 9,5±0,9 10,2±0,6* 9,4±1,0 9,2±1,0 9,4±0,9 P.Med (W.kg -1) 7,9±0,6 7,6±0,6 8,2±0,4* 7,2±0,6 7,2±0,6 7,3±0,7 IF (%) 0,4±0,07 0,4±0,05 0,4±0,03 0,4±0,08 0,4±0,05 0,4±0,03 Ao compararmos os valores obtidos na distância de 400m de natação do GE comparado ao GC, após 12 semanas de treinamento de força realizado com pesos, os resultados mostraram diferenças significativas entre os grupos (P< 0,05) para todos os momentos (AV1, AV2 e AV3). Com relação ao consumo máximo de oxigênio não foram encontradas diferenças significativas em nenhum dos momentos em ambos os grupos. Nas variáveis potência máxima e potência média, foi observado diferença significativa (P<0,05) na ultima avaliação (AV3), entre GE e GC. DISCUSSÃO O presente estudo investigou os efeitos do programa de treinamento de força com duração de 12 semanas na performance dos atletas por meio de testes específicos da modalidade. Os principais achados demonstram melhoras significativas em TN 400m, PMax e PMed após o programa de treinamento com pesos no GE. No entanto, não foram obervadas alterações na composição corporal, VO2máx e IF em ambos os grupos em nenhum dos momentos avaliados. A melhora significativa no TN 400m pode estar associada à economia de energia do atleta através de exercícios educativos e específicos para a modalidade, combinado com um treinamento de força com pesos de forma progressiva, corroborando com o estudo de Lopes et al. (10) que verificou economia de energia após atividade de endurance, possivelmente esses fatores favoreceram para a melhora no tempo total da natação em três momentos distintos do período preparatório (FA e FE), após 12 semanas. * Diferenças significativas entre grupos, (P< 0,05); ± Diferenças significativas entre AV1 e AV2, (P< 0,05); # Diferenças significativas entre AV1 e AV3, (P< 0,05); ± Diferenças significativas entre AV2 e AV3, (P< 0,05). Efeito do treinamento de força na performance motora de atletas de triathlon ao longo da temporada esportiva Revista CPAQV – Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida | Vol. 7 | Nº. 2 | Ano 2015 | p. 7 O desempenho físico do triatleta está associado à capacidade do seu organismo em absorver, transportar e utilizar o oxigênio assim como a disponibilidade de substratos energéti- cos, para gerar trabalho mecânico. Consequente- mente, um VO2máx. relativamente alto se torna necessário para o sucesso do triathlon. (17-28). Para Ballesteros (29) um triatleta com um consumo de oxigênio inferior a 50 ml/kg/min-1, dificilmente poderá se destacar neste esporte. No presente estudo observamos que na média du- rante os três testes (VO2máx.: GE = 58,1±7,8; 56,0±5,3; 60,8±5,3 e GC= 55,4±6,2; 55,5±4,7; 57,0±4,6) os voluntários possuíam um valor bem acima do citado por este autor. Ao obser- varmos os resultados obtidos (VO2máx.: GE = 58,1±7,8; 56,0±5,3; 60,8±5,3 e GC = 55,4±6,2; 55,5±4,7; 57,0±4,6), e ao compararmos as três avaliações, percebemos que estes dados não apóiam diferenças estatisticamente significa- tivas (P<0,05) entre grupos, para o consumo máximo de oxigênio, corroborando com os estu- dos de Jung (11) e Lopes, Sindorf et al. (10). Dena- dai (22) cita que o consumo máximo de oxigênio nem sempre se modifica com o treinamento em sujeitos altamente treinados, mas pode haver melhoras na performance. Esta melhora pode estar associada entre outros, com a economia do movimento (10, 11). A capacidade anaeróbia é um componente essencial para algumas modalidades esportivas. No caso do triathlon olímpico, em de- terminados momentos da competição, (etapas de ciclismo e corrida), há grande contribuição da via glicolítica para obtenção de ATP (30). Para isso, a ressíntese muscular de ATP deve ser realizada rapidamente para prevenir a fadiga e manter a contração muscular colaborando para o desem- penho do triatleta (31). Os resultados obtidos durante o es- tudo (PMax (W.kg -1) GE = 9,5±0,9; 9,5±0,9; 10,2±0,6* e GC = 9,4±1,0; 9,2±1,0; 9,4±0,9 e para PMed (W.kg-1) GE = 7,9±0,6; 7,6±0,6; 8,2±0,4* e GC = 7,2±0,6; 7,2±0,6; 7,3±0,7), e depois comparados, apóiam diferenças P<0,05 apenas na terceira avaliação (AV3 para PMax (W.kg-1) com P = 0,048 e PMed (W.kg-1) com P = 0,041) entre os grupos GE e GC nestes parâmetros avaliados. A potência máxima parece ser influenciada apenas por um treinamento es- pecífico e tanto o treinamento aeróbio como an- aeróbio podem modificar a potência média. (32). Com relação ao índice de fadiga não observa- mos alterações significativas neste parâmetro. Desta forma, o modelo de treinamento de força proposto em nosso estudo contribuiu significativamente na performance dos triatle- tas no que tange às variáveis: tempo de nado 400 m, potência máxima e potência média. Tal fato é extremamente importante, já que a natação é a primeira parte do triathlon. Sendo assim, a melhora nesta modalidade favorece a obtenção de posições mais privilegiadas dentro da água, contribuindo para a primeira transição (natação/ciclismo). Isto em função de serem capazes de sustentar a atividade por mecanis- mos anaeróbios durante maior tempo, em de- terminados momentos onde a prova exige um esforço maior. Efeito do treinamento de força na performance motora de atletas de triathlon ao longo da temporada esportiva Revista CPAQV – Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida | Vol. 7 | Nº. 2 | Ano 2015 | p. 8 Com isso, estes resultados se tornam relevantes por se tratar de triatletas de nível nacional, onde aumentar o condicionamento físico do atleta pode definir a distância entre o campeão e os demais colocados. Quanto às outras variáveis, parece-nos que as duas sessões por semana podem ter sido insuficientes para modificar o desempenho aeróbio, ou os testes aplicados podem não ter sido sensíveis para as mudanças ocorridas nesse período. Consideramos que o presente estudo apresenta limitações quanto ao modelo de treino, ao tempo de exposição ao treino e aos tipos de análises realizadas (avaliações de campo), entretanto na prática esportiva tais testes possuem maior aplicabilidade auxiliando e orientando tanto técnicos quanto preparadores físicos desta modalidade. CONCLUSÃO Conclui-se que o treinamento de força influenciou positivamente o tempo de nado de 400m, a potência máxima e a potência média nos triatletas após um programa de treinamento periodizado de 12 semanas. REFERÊNCIAS 1. Hue O, Le Gallais D, Chollet D, Préfaut C. Ventilatory threshold and maximal oxygen uptake in present triathletes. Canadian Journal of Applied Physiological. 2000;25(02):102-13. 2. Hickson RC. Interference of strength development by simultaneously training for strength and endurance. European Journal of Applied Physiology. 1980;45:255-63. 3. Hausswirth C, Brisswalter J. Strategies for improving performance in long duration events. Sports Med. 2008;38(11):881-91. 4. Platonov VN. Os sistemas de treinamento dos melhores nadadores do mundo: teoria e prática. Rio de Janeiro: Sprint; 2003. 5. Teixeira CL, Fomitchenko TG. Treinamento de força especial na natação. Revista de Treinamento Desportivo. 1998;03(02):100-4. 6. Zakharov AA. Treinamento de força em ciclistas de alto nível. Revista de Treinamento Desportivo. 1997;02(01):05-10. 7. Algarra JL. Preparación física para la bicicleta. Bilbao: Dorleta; 1993. 8. CavalheiroCA. Treinamento de força e velocidade para fundistas. Revista Contra Relógio. 1998. 9. Kraemer WJ, Häkkinen K. Treinamento de força para o esporte. Porto Alegre: Artmed; 2004. 10. Lopes CR, Sindorf MAG, Mota GR, Cesar MC. Treinamento de força para atletas de elite em provas de endurance. Revista Ciências em Saúde. 2012;2(1):1-7. 11. Jung AP. The impact of resistance training on distance running performance. Sports Med. 2003;33(7):539-52. 12. Jackson AS, Pollock ML. Generalized equations for predicting body density of men. Br J Nutr. 1978;40(03):497-504. 13. Jackson AS, Pollock MLea. Generalized equations for predicting body density of women. Med Sci Sports Exerc. 1980;12(03):175-81. 14. Siri WE. Body composition from fluid spaces and density: analysis of methods. Nutrition. 1993;09(05):480-91. 15. Marins JCB, Giannichi RS. Avaliação & prescrição de atividade física: guia prático. Rio de Janeiro: Shape; 1998. 16. Brown LE, Weir JP. Procedures recommendation I: accurate assessment of muscular strength and power. ASEP. 2001;04(1-21). 17. Kohrt WM, Morgan DW, Bates B, Skinner JS, cycling and running. Physiological responses of triathletes to maximal swimming. Medicine and Science in Sports and Exercise. 1987;19(01):51-5. 18. Butts N, Khenry BA, Mclean D. Correlations between Vo2 max and performance times of recreational triathletes. Journal of Sports Medicine Physical Fitness. 1991;31(03):339-44. 19. O’Toole ML, Douglas PS. Applied physiology of triathlon. Sports Medicine. 1995;19(04):251- 67. Efeito do treinamento de força na performance motora de atletas de triathlon ao longo da temporada esportiva Revista CPAQV – Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida | Vol. 7 | Nº. 2 | Ano 2015 | p. 9 20. De Vito G, Bernardi M, Sproviero E, Figura F. Decrease of endurance performance during olympic triathlon. International Journal of Sports Medicine. 1995;16(01):24 – 8. 21. Sleivert GG, Rowlands DS. Physical and physiological factors associated with success in the triathlon. Sports Medicine. 1996;22(01):08-18. 22. Denadai BS. Fatores fisiológicos associados com o desempenho em exercícios de media e longa duração. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde. 1996;01(04):82 – 91. 23. Bonsignore MR, Morici G, Aabate P, Romano S, Bonsignore G. Ventilation and entrainment of breathing during cycling and running in triathletes. Medicine and Science in Sports and Exercise. 1998;30(12):239-45. 24. Hausswirth C, Lehénaff D, Dréano P, Savonen K. Effects of cycling alone or in a sheltered position on subsequent running performance during a triathlon. Medicine and Science in Sports and Exercise. 1999;31(04):599- 604. 25. Hue O, Le Gallis D, Boussana A, Chollet D, Prefaut C. Ventilatory responses during experimental cycle-run transition in triathletes. Medicine and Science in Sports Exercise. 1999;31(10):1422-8. 26. Millet GP, Vleck VE. Physiological and biomechanical adaptations to the cycle to run transition in Olympic triathlon: review and practical recommendations for training. Journal of Sports Medicine Physical Fitness. 2000;34(05):384-90. 27. Boussana A, Matecki O, Galy O, Hue O, Ramonatxo M, Le Gallais D. The effect of exercise modality on respiratory muscle performance in triathletes. Medicine and Science in Sports and Exercise. 2001;33 (12):2036 - 43. 28. Hue O, Boussana A, Galy O, Le Gallais D, Chamari K, Préfaut C. The effect of multi-cycle-run blocks on pulmonary function in triathletes. The Journal of Sports Medicine and Physical Fitness. 2001;41(03):300-5. 29. Ballesteros J. El libro del triatlón. Madrid: Arthax; 1987. 30. Bentley DJ, Wilson GJ, Davie AJ, Zhou S. Correlations between peak power output, muscular strength and cycle time trial performance in triatheles. Journal of Sports Medicine Physical Fitness. 1998;38(03):201-7. 31. Garret WE, Kirkendal DT. A ciência do exercício e dos esportes. São Paulo: Artmed; 2003. 32. Skinner JS, O’Connor J. Wingate test cross- sectional and longitudinal analysis. Medicine and Science in Sports and Exercise. 1987;19(01):73.
Compartilhar