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Organização Sete de Setembro de Cultura e Ensino – LTDA Faculdade Sete de Setembro – FASETE Curso de Bacharelado em Direito Paulo Campos A Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/00) em face da realidade Orçamentária Municipal: Estudo de caso Delmiro Gouveia - AL Paulo Afonso-BA 2017 Paulo Campos A Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/00) em face da realidade Orçamentária Municipal: Estudo de caso Delmiro Gouveia - AL Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Direito da Faculdade Sente de Setembro (FASETE), como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito. Área de concentração: Direito Administrativo Disciplina TG-II: Prof. Eloy Lago Nascimento Orientador: Prof. Paulo Rezende Mergulhão Paulo Afonso-BA 2017 Dedico este trabalho aos meus pais Manoel Vicente Campos (In memoriam) e Antenoura Maria da Conceição Campos, a minha querida esposa Cícera Ferreira de Andrade Campos, aos meus filhos José Paulo de Andrade Campos (In memoriam), Paulo Gabriel de Andrade Campos e Maria Paloma Vitória de Andrade Campos, bem como a minha sogra Maria Tereza Ferreira de Andrade (In Memoriam) e a meus irmãos, cunhados e amigos. AGRADECIMENTOS Agradeço ao ser Supremo, Ele, que nunca me abandonou, Deus senhor do Universo. Agradeço aos meus pais Manoel Vicente Campos (In memoriam) e Antenoura Maria da Conceição Campos, que de forma guerreira criou os 12 (doze) filhos do sustento do cabo da enxada, e sempre tentaram dar o melhor de caráter e ensinamentos. Agradeço a minha esposa Cícera Ferreira de Andrade Campos, que sempre esteve ao meu lado, na doença ou na saúde, na bonança ou pobreza, mulher guerreira, que desde os seus 16 (dezesseis) anos de idade, que me deu as 3 (três) razões da minha vida, os nossos filhos, José Paulo de Andrade Campos (In memoriam), Paulo Gabriel de Andrade Campos e Maria Paloma Vitória de Andrade Campos. Agradeço a todos os meus irmãos e irmãs, que me deram força para vencer na vida, que sempre estiveram ao meu lado, em todas as lutas da vida. Tenho que agradecer de forma especial a minha querida sogra Maria Tereza Ferreira de Andrade (In memoriam), mulher guerreira, que sempre me deu forças e me ajudou nas decisões da minha vida, sei que ele está feliz em saber que estou concluindo o curso, pois ela tinha muito orgulho de minha pessoa, ao seu esposo, filhos e netos sempre estarei aqui para lhes servir em homenagem a Senhora Comadre Tereza. Agradeço ao Dr. Normando Albuquerque, Ex-Procurador Geral do Município de Água Branca – AL, meu nobre amigo foi ele quem me despertou para ingressar neste curso, que hoje estou finalizando. Ademais agradeço a todos os meus amigos que de forma direta ou indireta colaboram para que se tornasse possível a conclusão de mais uma etapa da minha vida. CAMPOS, Paulo. A Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/00) em face da realidade Orçamentária Municipal: Estudo de caso Delmiro Gouveia – AL. 2017. 61f. Monografia (Bacharelado em Direito) – Faculdade Sete de Setembro, FASETE. Paulo Afonso, BA. RESUMO A presente monografia analisa a Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/00), como base para a atuação do chefe de executivo municipal no processo de planejamento orçamentário anual. A pesquisa foi sediada em Delmiro Gouveia (AL), a sua perspectiva teórica teve como principais instrumentos, além da doutrina e da legislação, documentos coletados junto ao município, portarias, decretos e leis municipais, que explicam a aplicação das ferramentas encontradas na LC 101/00 no controle das contas públicas no ano de 2015-2017, período em que o Brasil iniciou o enfrentamento de forte crise econômica que atingiu a União, os estados e os municípios, ainda sem previsão de acabarem seus efeitos negativos. O estudo demonstrou que as ferramentas apresentadas pela LC 101/00, Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), Plano Plurianual (PPA) e a Lei Orçamentária Anual (LOA), são importantes aliadas dos chefes de executivo municipal, pois permitem uma gestão mais clara e responsável, ao mesmo tempo em que sinaliza para a possibilidade de parceria entre o município e o Estado por meio da ação dos Tribunais de Contas. A pesquisa conclui que a atuação do gestor de maneira responsável com relação a administração dos recursos municipais é a principal ferramenta para haver uma estrutura administrativa municipal flexível e viável sob perspectiva da legalidade dos atributos necessários à continuidade dos seus serviços. Palavras-chave: Administração, Crise, Lei de Responsabilidade Fiscal, Planejamento. CAMPOS, Paulo. The Law of Fiscal Responsibility (LC 101/00) in face of the Municipal Budget reality: Case study in Delmiro Gouveia - AL. 2017. 61f. Monograph (Bachelor of Law) – Faculdade Sete de Setembro, FASETE. Paulo Afonso, BA. ABSTRACT This monograph discusses the Fiscal Responsibility Law (LC 101/00) as a basis for the performance of the municipal executive in the annual budget planning process. The research was based in Delmiro Gouveia (AL), its theoretical perspective had as main instruments, besides the doctrine and legislation, documents collected from the municipality, ordinances, decrees and municipal laws, which explain the application of the tools found in LC 101/00 in the control of public accounts in the year 2015- 2017, a period in which Brazil began to confront a strong economic crisis that hit the Union, the states and municipalities, still not expected to end their negative effects. The study demonstrated that the tools presented by LC 101/00, Budget Guidelines Law and Pluriannual Plan, are important allies of the municipal executive heads, as they allow a clearer and more responsible management, while at the same time signaling the possibility of partnership between the municipality and the State through the action of the Account Courts. The research concludes that the performance of the manager in a responsible way with respect to the administration of municipal resources is the main tool to have a municipal administrative structure flexible and viable under the perspective of legality of the attributes necessary to the continuity of its services. Keywords: Administration, Crisis, Fiscal Responsibility Law, Planning. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8 2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E SEUS PRINCÍPIOS ............................................ 11 2.1 Princípios gerais ............................................................................................... 12 2.1.1 Princípios da Administração Pública ........................................................... 13 2.1.2 Princípios reconhecidos ................................................................................ 17 2.2 Orçamento público e responsabilidade social ............................................... 21 2.3 Instrumentos de gestão orçamentária............................................................. 24 3 A LEI DE RESPONSABILIADE FISCAL E SEU REFLEXO NA GESTÃO MUNICIPAL .............................................................................................................. 29 3.1 Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/00) e seus reflexos na gestão pública orçamentária .............................................................................................. 35 4 ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA ...............................................................39 4.1 Local da pesquisa ............................................................................................. 39 4.2 Discussão .......................................................................................................... 40 4.2.1 Consequências para os municípios ............................................................. 43 4.2.2 O papel da LRF e a sua atuação no município alvo da pesquisa .............. 44 4.2.2.1 O Município de Delmiro Gouveia – AL no contexto ................................. 47 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 54 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 57 8 1 INTRODUÇÃO O presente estudo analisa a importância da Lei Complementar 101/2000, Lei de Responsabilidade Fiscal como ferramenta de gestão administrativa municipal. A principal referência sobre o tema, a LC 101/2000 estabelece uma série de ferramentas que visam estimular a gestão responsável, tendo como objetivo impedir que os gestores municipais possam atuar de maneira irregular, comprometendo o orçamento municipal e causando problemas relacionados à má gestão de recursos disponíveis. A justificativa do estudo se dá pela percepção de que, no atual panorama econômico mundial, uma das características mais importantes atribuídas aos gestores tem sido a capacidade de administrar eficientemente tendo disponível uma quantidade limitada de recursos que, com o processo de avanço da crise econômica mundial, iniciada em 2015, mas cujos efeitos perduram até os dias atuais, têm se tornado ainda mais limitados. Atualmente, os gestores têm na LRF uma âncora, a fim de que possam, por meio dos Planos Plurianuais (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO) e Lei Orçamentária Anual (LOA), que permitiu aos administradores públicos passassem a atuar atendendo as demandas da população, levando em consideração a ideia de que os recursos disponíveis não devem ser abordados de maneira a comprometer áreas vitais. Um dos principais aspectos trazidos pela crise econômica foi justamente a necessidade de reajuste das contas dos municípios em decorrência do fato de que os repasses federais, dependentes diretos da arrecadação fiscal da União, desde 2015 encontram-se em decadência. Como consequência do fenômeno, é cada vez mais comum que empresas fechem as portas e que a economia esfrie. Do ponto de vista dos municípios, principalmente, este fenômeno é sempre um indício pouco auspicioso, já que na maioria das vezes precede a necessidade de tomada de ações pouco populistas. A presente pesquisa trata-se de um estudo de campo de natureza empírica e documental. A pesquisa empírica se desenvolve com base na experiência do 9 pesquisador com o universo pesquisado, e ao mesmo tempo, permite que o mesmo possa compreender os diversos aspectos que favorecem a formação social como ele conhece. Esta capacidade encontra-se em diversos níveis expressa na realidade social vigente, por tal razão, a presente pesquisa buscou compreender a percepção da importância da Lei de Responsabilidade Fiscal como base para a atuação do legislador. Basta se reconhecer, por exemplo, que boa parte dos recursos são oriundos da União. Quando esta se encontra em dificuldades financeiras, o mais lógico é que a arrecadação municipal tenha também franco descenso. Esta pesquisa teve como base o município de Delmiro Gouveia (AL), situado no Vale do São Francisco, este município é claro exemplo de como uma gestão é capaz de resolver problemas que não são nativos apenas da região, mas busca-se conhecer as informações em bases variadas, evidenciando assim uma experiência de aprendizado realmente válida. Do ponto de vista da problemática, a presente questiona a eficácia da LRF nos municípios do interior, com enfoque principal na atividade legislativa do modelo econômico vigente no Brasil. O tema busca também esclarecer alguns dos pontos complexos, como a necessidade da demissão de pessoal, um tema cuja recepção sempre é problemática. No município de Delmiro Gouveia (AL), por exemplo, a contenção de recursos pretendida pelo executivo municipal somente foi possível quando a folha de pagamento foi reduzida. Questiona-se a necessidade específica do planejamento dentro desse nível de recursos, frisando a natureza prática do orçamento municipal. Observa-se que a mencionada crise econômica, além de não ser uma condição recente, como se pode observar, desde 2015 ela já existia, no exemplo brasileiro ela trouxe ainda a desvantagem de vir cominada com uma crise política sem precedentes, sendo a segunda vez no período democrático brasileiro que um presidente sofre impeachment. A crise política fez a confiabilidade do país decair e por consequência a indústria como um todo também sofreu as consequências. Na circunvizinhança do município alvo desta pesquisa, praticamente não existiram aqueles que estivessem com os recursos intocados: todos tiveram, sob pena de 10 responsabilidade nas esferas cabíveis, estabelecer planos e metas capazes de promover uma melhor condição de administração destes recursos. Em Delmiro Gouveia (AL) adotou-se o PPA como base para a projeção anual com enfoque nos repasses federais. A existência desse primeiro projeto permitiu que houvesse uma percepção mais crítica sobre o orçamento, os instrumentos de administração municipal e, evidentemente, a condição de construção dos modelos de gestão, dessa vez baseados em modelos que possam ter resposta hábil e eficiente aos questionamentos dos legisladores. Como objetivos específicos é possível elencar a importância na administração consciente dos recursos públicos, na necessidade de se estabelecer metas claras de administração, etc., assim como conhecer também o Plano Plurianual como mecanismo de interpretação dos recursos e dos melhores investimentos, especialmente os que, a médio e longo prazo, possam se converter em lucros para a sociedade como um todo. A monografia é dividida em três capítulos: o capítulo primeiro tem como objetivo analisar quais os princípios basilares da atividade pública, como abre espaço à discussão baseada nestes princípios; o segundo capítulo busca analisar a Lei de Responsabilidade Fiscal e a evolução que este instituto representou no paradigma da Administração Pública Brasileira, uma vez que inicia o período demarcado, principalmente, pela responsabilização mais severa sobre a atividade do gestor público em face da administração dos recursos disponíveis; o terceiro capítulo apresenta o local da pesquisa, bem como os dados levantados, evidenciando a aplicação do PPA, da LDO e da LOA na prática, demonstrando a forma com que elas, sendo aplicadas no município, viabilizam a ausência de discussões sobre as melhores maneiras de aplicação dos recursos com vistas a propor ações eficientes face recursos limitados. Em seguida são apresentadas as considerações finais, tendo como foco a aplicação da LRF no município como caminho mais apropriado para a tomada de decisões, ainda no decurso da gestão, sem que as decisões possam ocasionar consequências negativas. 11 2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E SEUS PRINCÍPIOS O tratamento doutrinário brasileiro sobre a Administração e o Direito Administrativo, está adstrito à noção de existência de uma coisa pública, de que a gestão desta coisa depende, necessariamente, de sujeitos que possam cumprir com os requisitos associados à sua manutenção e existência. De fato, Di Pietro (2016) afirma que, em decorrência desta capacidade, o Direito Administrativo vislumbra uma série de características que se sobressaem mesmo ao tipo de modelo de Estado existente, frisando-se principalmente a existência da necessidade de controle sobre os bens públicos:“[...] o conteúdo do Direito Administrativo varia no tempo e no espaço, conforme o tipo de Estado adotado” (DI PIETRO, 2016, p. 03). Para Carvalho Filho (2016), a administração pública também é atemporal e livre do espaço estatal, porque, de fato, quaisquer Estados em que se busque a excelência na utilização dos recursos (de diversas montas) disponíveis, encontram-se tanto necessariamente vinculados ao interesse em gerar bens com os quais estes Estados possam existir e gerir-se, quanto em promover uma utilização responsável destes bens. Para o autor é evidente este fato, principalmente em se observando que a mesma se confunde até mesmo com a própria estruturação do Estado contemporâneo: Embora seja o Poder Executivo o administrador por excelência, nos Poderes Legislativo e Judiciário há numerosas tarefas que constituem atividade administrativa, como é o caso, por exemplo, das que se referem à organização interna dos seus serviços e dos seus servidores. Desse modo, todos os órgãos e agentes que, em qualquer desses Poderes, estejam exercendo função administrativa, serão integrantes da Administração Pública (CARVALHO FILHO, 2016, p. 44). Ou seja, todas as formas de gestão do Estado são, por excelência, em alguma acepção, ato administrativo, dependendo, portanto, de todos os pressupostos que aqueles atos que originalmente estão circunscritos no bojo do Direito Administrativo em si. Mazza (2016) classifica a ideia de Administração Pública, assim como de Direito Administrativo, a duas acepções fundamentais, quais as sejam, a de administração pública como sendo basicamente as pessoas e os órgãos (administração pública em sentido orgânico), e a atividade que o Estado exerce em todos os seus segmentos e 12 setores, necessária à sua existência e vergada a uma série de princípios abordados mais adiante nesta pesquisa (Administração Pública em sentido material). Esta acepção é importante e está vinculada à capacidade de estabelecer a coesão entre (além de outros aspectos) os recursos captados e o fim a eles aplicado. Os posicionamentos tanto de Mazza (2016) quanto de Carvalho Filho (2016) convergem para a ideia de um Estado que se encontra vinculado às suas funções básicas essenciais. De igual pensamento conclui Bandeira de Mello (2009), com a ressalva de que, embora o pensamento positivista contemporâneo apresente o interesse na construção de um Estado que se organiza administrativamente baseado em uma estrutura tripartite independente, na prática, o Direito Administrativo se mistura, porque sua função precípua no Estado é, basicamente, permitir a administração do próprio Estado, sem o qual, seria inviável a sua permanência (MELLO, 2009). De igual pensamento Alexandrino et al. (2016) corroboram a ideia de que a administração pública, no âmbito das suas funções exerce atividade ampla, e, portanto, estabelece-se importante vínculo com o contexto da construção de elementos que consolidem a sua natureza universal no Estado de maneira geral. Assim, a distinção entre Administração e a sua aplicação, para fins de Direito, é impossível de dissociar-se do Estado, isto em face da sua necessidade de tripartir- se, já que, no que tange às funções administrativas, é evidente que o Estado passa a agir como se um corpo apenas fosse, não limitando-se a determinadas subdivisões as quais possam incidir sobre a sua expressa necessidade de administrar-se. 2.1 Princípios gerais A Administração pública é trabalhada nesta pesquisa como sendo um conceito misto. Para Alexandrino et al (2016), se pode chegar à concepção de Administração Pública, observando-se as principais nuances que o conceito apresenta, interagindo o mesmo com o processo de contextualização sobre a condição específica de sua apresentação na realidade objetiva. Assim, em sentido amplo, Administração Pública são os órgãos de governo, uma vez que estes viabilizam a destinação dos recursos (financeiros, humanos, materiais, etc.) de que o Estado dispõe e apresenta-os à sua 13 finalidade; em função politica, são todas as diretrizes, desenvolvimentos de ação, planos de governo, etc. Porém, para fins desta pesquisa, do mesmo autor, considera-se Administração Pública em sua acepção de “função administrativa”: “[...] a execução – de forma profissional, técnica, neutra, das políticas públicas formadas no exercício da atividade política” (ALEXANDRINO et al., 2016, p. 21). Para compreender a dimensão deste aspecto, e considerá-lo como visceral no exercício do orçamento público e a sua efetiva finalidade, observe-se a base principiológica que rege a estrutura da Administração Pública. 2.1.1 Princípios da Administração Pública Princípios são pontos estabelecidos doutrinariamente, resultado de confluências históricas e de seu impacto na sociedade, que se aplicam como regra geral no estabelecimento de condutas e preceitos para a tomada de ação dentro de um contexto específico. Em seu Curso de Direito Constitucional, Paulo Bonavides (2015, p. 229) afirma que “os princípios [...] são verdades objetivas, nem sempre pertencentes ao mundo do ser, senão do dever-se, na qualidade de normas jurídicas, dotadas de vigência, validez e obrigatoriedade”. Os princípios e, por conseguinte, os seus reflexos, que regem a natureza da administração pública são os princípios tidos como constitucionais da Administração Pública (DI PIETRO, 2016), e estão previstos taxativamente no artigo 37 da Carta Magna de 1988: “a Administração Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios obedecerá aos princípios de legalidade, moralidade, impessoalidade, publicidade e eficiência” (BRASIL, 2017, p. 01). Legalidade é o princípio que decorre do artigo 5º, inciso II da Constituição de 1988. Pela referida norma constitucional, a legalidade restringe-se à percepção do contexto do ato administrativo. Em via de regra, ele impõe a existência de um lastro jurídico viável para qualquer dos atos realizados pela Administração Pública direta ou indireta. Este princípio vincula todos os atos da Administração Pública às suas expressas previsões legais, impedindo assim, de haver distopias entre as funções 14 do Estado e a sua prática. Segundo Hely Lopes Meirelles et al., (2016, p. 199), este princípio Implica subordinação completa do administrador à lei. Todos os agentes públicos, desde o que lhe ocupe a cúspide até o mais modesto deles, devem ser instrumentos de fiel e dócil realização das finalidades normativas. Sendo assim, os elementos que constituem sua legítima atuação deverão estar antes prescritas no contexto da lei, implicando desde nulidades dos atos realizados até sanções cíveis e penais cabíveis na legislação pátria. A impessoalidade também tem o lastro baseado na necessidade de apreensão do Direito. Um reflexo do princípio da Isonomia (artigo 5º, caput), a impessoalidade impede que os agentes públicos ajam como pessoas cuja finalidade de atividades não se limitam pelos princípios legais. Concorda com tal ponto de vista Carvalho Filho: O princípio objetiva a igualdade de tratamento que a Administração deve dispensar aos administrados que se encontrem em idêntica situação jurídica. Nesse ponto, representa uma faceta do princípio da isonomia. Por outro lado, para que haja verdadeira impessoalidade, deve a Administração voltar-se exclusivamente para o interesse público, e não para o privado, vedando-se, em consequência, sejam favorecidos alguns indivíduos em detrimento de outros e prejudicados alguns para favorecimento de outros. Aqui reflete a aplicação do conhecido princípio da finalidade, sempre estampado na obra dos tratadistas da matéria, segundo o qual o alvo a ser alcançado pela Administração é somente o interesse público, e não se alcança o interesse público se for perseguido o interesse particular,porquanto haverá nesse caso sempre uma atuação discriminatória. (2016, p.49) Ser impessoal, dispensar o mesmo tratamento a todos os que demandam a sua expressa necessidade, envolve também por parte do membro da Administração, constante vigilância no que tange, principalmente, aos valores éticos que regem a sua conduta quando investido do papel de ente estatal. Isto posto, é necessário frisar que este princípio consolida-se em diversas dimensões, porém, está adstrito à capacidade que o ente legal (funcionário ou pessoa a ele equiparado), tenha determinados os seus limites, sob pena de, não conhecendo os elementos desta obrigação (a de tratar todas as pessoas igualmente), acabe ele mesmo comprometendo a sua integridade. 15 Cirene Lima (2015) afirma que este é o lastro essencial para a atividade do ente público. Tanto ele quanto o Estado devem agir com imparcialidade. Este o faz editando leis, decretos e portarias que permitam ao servidor ou pessoa a ele equiparada, desenvolver suas atividades compreendendo, de maneira geral, como, onde e em quais esferas deverá atender no seu cotidiano com os bens públicos. Outro elemento essencial que encontra-se descrito na Constituição Federal de 1988, é a publicidade. A qualidade de público é inata ao serviço oferecido pelo Estado, uma vez que ele está à disposição dos que são subordinados a ele, assegurando direitos e proteção aos princípios básicos anteriormente mencionados. Em âmbito geral, compreende-se a concretização deste princípio a existência do direito de petição, descrito no artigo 5º, XXXIV a Constituição de 1988, alínea “a”, assim como, também, as certidões emitidas pelos órgãos públicos – que, por sua vez, representam o direito de proteção dos interesses dos cidadãos em face dos temas de interesse do mesmo. Este instrumento está previsto no artigo 5º, inciso XXXIV, alínea “b” da Carta de 1988. Quando a administração publica informações em caráter ex-officio, ocorre também a manifestação deste princípio em âmbito prático (BRASIL, CF, 2017). Também existem os dispositivos infraconstitucionais que são representações do princípio da publicidade e que asseguram aos sujeitos a proteção deste principio (publicidade) em âmbito estadual e municipal. A Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, é a principal representante deste rol de legislação infraconstitucional. A proposta deste dispositivo infraconstitucional é a proteção dos direitos dos sujeitos em face dos agentes públicos, preservando a intimidade de terceiros, associando tais elementos à ideia da obtenção de informações de cunho meramente pessoal (CARVALHO FILHO, 2016). Atenta-se ainda que o princípio da publicidade (assim como nenhum outro) é inabalável: O princípio da publicidade, entretanto, não pode deixar de ser harmonizado com os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, exigindo-se práticas excessivas por parte da Administração. Nessa trilha, o STF já declarou inconstitucional dispositivo legal que determinava que atos do Executivo em jornais ou veículos similares mencionassem o custo para o erário. Fundou-se a decisão, ainda, no fato de que tal exigência poderia ser ainda mais dispendiosa para a Administração (CARVALHO FILHO, 2016, p. 52). 16 Restringe-se, portanto, a ideia de publicidade ao bom senso e, evidentemente, à razoabilidade. Embora a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) vede a apresentação dos atos da União em veículos de informação de caráter privado, quando isso importe em custos ao erário público, em nada se atinge tal princípio, uma vez que, especialmente a partir dos anos de 1990, tem-se evoluído bastante, em nível de oferta de informação, no quesito transparência. O Tribunal de Contas da União e dos Estados, tem promovido acesso à informação sobre os gastos públicos em larga escala, em nível acessível a praticamente qualquer cidadão no país. Ademais, poucos atos têm uma relevância ampla ao ponto de tornar-se necessário a apresentação de medidas que elevam o custo do serviço em questão, a exemplo de certas convocações e alguns certames e seleções públicas, excetuadas as que saem publicadas em Diário oficial (DI PIETRO, 2016). Outro princípio cujo legislador deixa explicito no texto constitucional é o princípio da eficiência. Ser eficiente, em linhas gerais, significa extrair o máximo dos recursos disponíveis, com o mínimo de desperdício ou perdas dos mesmos. Tendo como base essa condição específica, é obvio que o legislador espera que tanto a União quanto os estados e municípios, quando no exercício de suas funções de administração, tenham não apenas o controle, o que já se espera em face da publicidade desses atos, mas também o melhor aproveitamento de todos os recursos disponíveis. Mazza (2016) afirma que a incorporação da eficiência como base no contexto da construção de medidas gerenciais dentro da realidade da atividade pública corresponde a um dos principais avanços em matéria de Direito Administrativo no país. Ainda segundo o autor, incorpora-se ao conceito de eficiência, na prática administrativa pública, a capacidade de promover economicidade, assim como reduzir desperdícios, estabelecendo – e mantendo – critérios de qualidade, rapidez e produtividade, assim como o rendimento funcional (em nível de Recursos Humanos). Vários são os aspectos que manifestam o princípio da eficiência no contexto da atividade pública, mas os aspectos anteriormente mencionados (redução do desperdício, economicidade, qualidade, rapidez e produtividade, bem como rendimento funcional) estão entre os que mais se avultam quando se analisa, especialmente para fins de avaliação, a qualidade dos serviços públicos prestados 17 em determinado órgão ou por determinado grupo funcional, funcionário ou setor (MAZZA, 2016). O princípio da eficiência incorporou-se ao contexto constitucional brasileiro graças à Emenda Constitucional nº 19/98. Explica Carvalho Filho que, Com a inclusão, pretendeu o Governo conferir direitos aos usuários dos diversos serviços prestados pela Administração ou por seus delegados e estabelecer obrigações efetivas aos prestadores. Não é difícil perceber que a inserção desse princípio revela o descontentamento da sociedade diante de sua antiga impotência para lutar contra a deficiente prestação de tantos serviços públicos, que incontáveis prejuízos já causou aos usuários. De fato, sendo tais serviços prestados pelo Estado ou por delegados seus, sempre ficaram inacessíveis para os usuários os meios efetivos para assegurar seus direitos. Os poucos meios existentes se revelaram insuficientes ou inócuos para sanar as irregularidades cometidas pelo Poder Público na execução desses serviços. (2016, p. 53). Naturalmente, assim como os demais princípios, o princípio da eficiência, embora seja extremamente significativo, não se encontra superior aos demais, ao contrário, a eles encontra subordinado, a exemplo do princípio da legalidade. Não tem sentido ser eficiente se, no processo de conquista desta eficiência, se abre mão da legalidade necessária aos atos administrativos em geral. A compreensão de que este princípio encontra claros limites à sua aplicação dentro do rol de finalidades que são apresentadas diante da sua efetiva validade, mediante os fins a que se propõe. 2.1.2 Princípios reconhecidos Existem ainda, embora possam variar de acordo com a doutrina apresentada, os chamados princípios reconhecidos do Direito Constitucional. Essa base principiológica é decorrente da identificação de outras representações possíveis dos princípios constitucionais do Direito Administrativo apresentado pela Constituição Federal de 1988, quais os sejam, Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Eficiência e Publicidade, e podem ser mais ou menos extensivas, a depender da doutrina que se adota para discutir o assunto.Carvalho Filho (2016) apresenta como tais princípios reconhecidos, isto é, princípios que, embora não estejam descritos na Constituição Federal de 1988, encontram-se perfeitamente pertinentes às atividades desenvolvidas pelo Estado no processo de promoção dos serviços de interesse público. 18 São princípios reconhecidos, segundo Carvalho Filho, especificamente, os princípios da Supremacia do Interesse Público, da Autotutela, da Indisponibilidade, Continuidade dos Serviços Públicos, Segurança Juridica e princípio da Precaução. Mazza confirma a ideia de que a Supremacia do Interesse Público (ao qual adiciona ainda ao título de “Supremacia do Interesse Público sobre o Privado” (2016, p. 123) é, efetivamente a ideia de que o ente público, como legitimo representante do interesse do povo, tem que estar legitimado sobre sua posição, não a cedendo para entes privados, independente da sua natureza. Bandeira de Mello (2009, p. 96) afirma ainda que “como expressão dessa supremacia, a Administração, por representar o interesse público, tem a possibilidade, nos termos da lei, de constituir terceiros em obrigações mediante atos unilaterais”, isto é, sem que necessariamente dependa da anuência dos ditos-cujos na execução destas obrigações. O princípio da Autotutela referenda a capacidade de controlar internamente todos os atos que envolvem a Administração. Este controle é dado, principalmente, por meio da ação dos órgãos específicos para tal fim na Administração Pública. A Constituição Federal de 1988 assegura ao Estado a dispensa da necessidade de representar, em sede do Judiciário, pleiteando a anulação de atos administrativos os quais estejam eivados de algum vício. Ela mesma pode desenvolver tal procedimento (MAZZA, 2016). Compreende-se que a natureza deste princípio reside na própria gama de eventualidades a que se pode sujeitar-se o poder público: A Administração Pública comete equívocos no exercício de sua atividade, o que não é nem um pouco estranhável em vista das múltiplas tarefas a seu cargo. Defrontando-se com esses erros, no entanto, pode ela mesma revê- los para restaurar a situação de regularidade. Não se trata apenas de uma faculdade, mas também de um dever, pois que não se pode admitir que, diante de situações irregulares, permaneça inerte e desinteressada. Na verdade, só restaurando a situação de regularidade é que a Administração observa o princípio da legalidade, do qual a autotutela é um dos mais importantes corolários (CARVALHO FILHO, 2016, p. 55). Esta dispensa de obrigações quanto à revogação dos seus atos contribui para que haja autonomia dos elementos da Administração, ao mesmo tempo em que reforça outros pressupostos que estão preconizados nos princípios explícitos. Igualmente imprescindível é o princípio da Indisponibilidade. Ele afirma que, embora possa muito, ao controlar todos os elementos relativos ao ato administrativo em si, a 19 Administração não detém o elemento mais importante, que é o interesse em que tal ato seja concretizado. Este interesse pertence, inatamente ao Estado, que deverá exerce-lo como parte do cumprimento das necessidades dos próprios cidadãos. Esta vontade é determinada pela compreensão do arcabouço legal, isto é, à Administração, diferentemente do que acontece no caso dos cidadãos brasileiros, latu sensu, tudo o que não está expressamente permitido, considera-se sumariamente proibido (MAZZA, 2016). Em paralelo a este princípio coabita o princípio da Continuidade dos Serviços Públicos. Ele é viabilizado pelos demais princípios explícitos e decorrentes, posto que sua premissa fundamental é a de que, uma vez que decorrem da necessidade da sociedade, tais serviços não podem ser finalizados. Caravalho Filho (2016) admite que, embora a premissa essencial seja a de que não se pode (ao menos em tese, descontinuar os serviços públicos, não há vedação à possibilidade de sua suspensão, quando esta é decorrente de incidentes de força maior. Nesse caso, torna-se necessário que se justifique, mediante elementos efetivamente válidos, a necessidade de suspensão dos serviços e, evidentemente, a medida da previsão da sua retomada quando possível. Em paralelo ao princípio explícito da Legalidade está o princípio implícito da Segurança Jurídica. em linhas gerais ele surge do conflito que existe entre a lei (legalidade) e a segurança jurídica, evitando assim que as relações no contexto da esfera administrativa (e, admitindo-se que todos estão submetidos às leis, também no contexto das relações sociais como um todo), existam paradoxos impossíveis de se resolver sem infrações legais. Uma das manifestações deste princípio é a previsão de prescrição e decadência da pretensão do Direito, que, com a capacidade de determinar a extinção da exigibilidade do direito no tempo, contribuem para a manutenção da estabilidade jurídica no Estado (CARVALHO FILHO, 2016). Sobre o tema, ainda frisa Carvalho Filho (2016, p. 57): No direito comparado, especialmente no direito alemão, os estudiosos se têm dedicado à necessidade de estabilização de certas situações jurídicas, principalmente em virtude do transcurso do tempo e da boa-fé, e distinguem os princípios da segurança jurídica e da proteção à confiança. Pelo primeiro, confere-se relevo ao aspecto objetivo do conceito, indicando-se a 20 inafastabilidade da estabilização jurídica; pelo segundo, o realce incide sobre o aspecto subjetivo, e neste se sublinha o sentimento do indivíduo em relação a atos, inclusive e principalmente do Estado, dotados de presunção de legitimidade e com a aparência de legalidade. A preocupação com a estabilidade jurídica é uma constante entre o Direito brasileiro e estrangeiro, e, de igual sorte, constitui objeto de diversas manifestações de interesse por jurisconsultos no país. Especialmente em que pese à ideia de Segurança Jurídica, ela pode ser associada à possibilidade de todos no Estado, terem nortes seguros no contexto da proteção dos atos jurídicos desempenhados e da sua específica validade ou anulação, quando eivados (MAZZA, 2016). O princípio da Precaução, embora não esteja ainda pacificado na doutrina, de um modo geral, imprime a importância da previsão administrativa sobre possíveis riscos excepcionais. Carvalho Filho (2016) tem compreendido que este princípio encontra- se quase sempre em segundo plano, mas é constantemente evocado quando a Administração Pública visa proteger o patrimônio e os serviços que deverá prestar a cada tomada de ato administrativo. Outro princípio ainda incompleto na doutrina, em termos de convergência teórica, é o da razoabilidade, embora seja inconteste a sua expressão nos atos administrativos. Este princípio visa controlar a dosimetria dos atos e recursos administrativos, e a realidade efetiva, evitando-se a corrupção da finalidade a que se destinam tais atos, qual o seja, ao atendimento do público em geral em respeito aos princípios constitucionais. Revela Carvalho Filho: (...) o princípio da razoabilidade tem que ser observado pela Administração à medida que sua conduta se apresente dentro dos padrões normais de aceitabilidade. Se atuar fora desses padrões, algum vício estará, sem dúvida, contaminando o comportamento estatal. Significa dizer, por fim, que não pode existir violação ao referido princípio quando a conduta administrativa é inteiramente revestida de licitude (CARVALHO FILHO, 2016, p. 59). Sempre que não constituir infração a previsão legal, princípio implícito ou explícito, torna-se possível compreender e derrogar (ou mesmo ampliar) o ato administrativo. Isso não constitui interpretação do ato, mas execução baseada na razoabilidade da sua possibilidade. Os aspectos que regulam tal proposição, no entanto, tendem a ser muito complexos. Bandeira de Mello (1990) compreende por tal via, quando 21 admite que mesmo o ato legal,desarrazoado, constitui, efetivamente, uma infração à lei que deveria proteger, quando atinge sede de princípio constitucional. O princípio implícito da proporcionalidade é outro aspecto doutrinário no Direito Administrativo que ainda encontra-se em amadurecimento na doutrina brasileira. basicamente tal princípio representa-se acessório ao princípio da razoabilidade. Um exame histórico permite rastrear tal princípio até o século XIX, na Suíça e Alemanha, onde a preocupação com a atividade pública gerou a figura do excesso aplicado aos atos administrativos (MAZZA, 2016). Este princípio tende a controlar, por meio de anulação, atos que estejam associados ao excesso de poder – e só. Sua aplicação consiste em uma via de relevante interesse para a Administração pública pois não se pode evoca-lo, a menos que seja constatado tal excesso. O tema dos princípios do Direito Administrativo no contexto da presente pesquisa envolve a dialética necessária à compreensão da formulação dos mecanismos de controle que servem de acessórios à atividade estatal referenciada na proteção do patrimônio público, como se verá no tópico a seguir. 2.2 Orçamento público e responsabilidade social O Estado tem a missão de manter um serviço de excelência para todos os seus tutelados. Isso significa que o ente estatal, mediante diversas ferramentas, detém a responsabilidade de tornar a vida das pessoas em suas dependências, uma realidade possível. A principal ferramenta para que este processo seja realizado de forma eficiente é o orçamento. A doutrina brasileira entende que o orçamento público é definido como a capacidade de o Estado conhecer suas fontes de entradas (lucros) e despesas, intermediando assim as necessidades visualizadas no contexto geral, fixando soluções para tais necessidades, o que leva a uma efetiva prestação de serviço. Despesas e lucro são conceitos atrelados à ideia de orçamento público. Mas ele existe também fisicamente: um documento em que são fixadas receitas, despesas e projeções para o ano fiscal. 22 A previsão de existência do orçamento público está descrita no artigo 165, inciso III da Constituição Federal de 1988 (CF/88). As previsões de despesas e receitas são apuradas pelo Poder Executivo, e cabe ao Legislativo determinar, de forma detalhada, a viabilidade do investimento dos recursos disponíveis, a fim de que todos os estados possam atuar de maneira proporcional à receita que geram, sem sobre onerar o Estado, e sem, contudo, desenvolver mau uso dos seus recursos (BRASIL, SENADO FEDERAL, 2017). Após o processo de análise interna dos recursos obtidos, das projeções para o ano, e dos investimentos realizados, é comum que exista, no planejamento, a etapa de investimento em planejamento em cada um dos estados, coletivamente, a fim de que os mesmos possam contribuir com as suas necessidades e opiniões, por meio dos seus representantes, sobre o que consideram, ou não, importantes para a pauta de aplicação dos recursos (BRASIL, UNICEF, 2014). O orçamento, portanto, compreende diversas analogias, e a mais comum, evidentemente, é a analogia com a realidade social dos sujeitos. Em suas residências, cada pessoa define as prioridades, e por elas passa a atuar no sentido de investir os recursos que consegue captar, logo após cumprir com as obrigações financeiras que adquiriu. Contudo, na realidade factual, as pessoas tendem a investir estes recursos nos bens e serviços que lhes trazem satisfação, caso que não acontece quando se tem em mente o orçamento público. No contexto do orçamento público, cada estado deverá contribuir, em ônus e bônus para a caracterização de uma imagem coletiva do Estado para com a sua atuação. Assim, ainda que possa ter uma arrecadação excepcional, isto não o livra de contribuir com metas que tenham como fim a manutenção de qualidade de vida dos sujeitos que o compõem (BRASIL, UNICEF, 2014). Em outras palavras, todo o recurso captado pelo Estado e pelos estados deverá ser empregado com responsabilidade social. Este termo é novo, e foi implementado principalmente pela Constituição de 1988, que tem como uma das metas de existência do Estado brasileiro, o respeito e preservação da dignidade da pessoa humana, algo que se conquista por meio de qualidade de vida, principalmente (BRASIL, SENADO FEDERAL, 2016). 23 Existem diversos elementos que permitem que a via econômica seja considerada a principal forma de intervenção no contexto da preservação da responsabilidade social: No Brasil, a responsabilidade social surgiu no decorrer do período neoliberal, contexto marcado por inúmeras ameaças e problemas sociais, como desigualdade, corrupção e alta taxa de desemprego. Esse cenário proporcionou uma maior visualização dos impactos negativos das empresas na sociedade pelos consumidores, fazendo assim com que as empresas buscassem o comprometimento com a geração de processos e produtos que não impactassem negativamente o meio social e ambiental, indo além da missão econômica (MORCELLI et al., 2016, p. 17). No Brasil, a partir da percepção de que é o contexto econômico que mais proporciona critérios de desigualdade social, foi possível perceber a importância de que o Estado atuasse, dentro dos limites das suas capacidades, uma vez que o Brasil é uma república neoliberal, para construir mecanismos que permitissem diminuir as barreiras impostas pela má distribuição de renda e dificuldade de acesso ao crescimento pessoal, problemas que atingem grande parte da população no país, em especial pessoas de menor capacidade aquisitiva (MORCELLI et al., 2016). O orçamento público encerra este aspecto de forma muito explícita. Ter dinheiro em caixa representa a capacidade de o Estado não apenas efetuar o adimplemento de suas despesas, mas também assegura, desde que seja possível, o controle e o respaldo do trato com os seus cidadãos, possibilitando, dessa maneira, que múltiplas iniciativas possam ser tomadas em prol da diminuição da acentuada questão da desigualdade social que existe no país. Uma dentre muitas medidas que sempre é referenciada nesse sentido, é a promoção de igualdade de renda por meio das bolsas (bolsa família, bolsa escola, etc.), que só podem ser possível porque parte do orçamento foi utilizado também de maneira a permitir que o crescimento não seja expresso apenas em números, mas em fatores de melhoria da qualidade de vida dos sujeitos. Responsabilidade social transforma a capacidade de elaboração do Orçamento em uma atividade com claros fins sociais. É por isso que os seus instrumentos precisam estar alinhados com as diretrizes que tornam a gestão – e por consequência, também a atividade do gestor enquanto administrador público, consciente das necessidades compartilhadas pelos seus correligionários (SILVA, 2017). 24 Por meio dos instrumentos de gestão, que serão analisados a seguir, é possível considerar-se o processo de construção de uma nova perspectiva de trabalho, avaliando-se o andamento da administração, seja municipal, estadual ou federal, em tempo ainda de corrigir a rota, quando diante de alguma excepcionalidade, a exemplo do processo de construção de medidas em prol do desenvolvimento regional, que, muitas vezes depende essencialmente de informações que não estão disponíveis em um espaço de tempo curto. Ao balizar as suas ações estabelecendo metas prioritárias, e migrando estas metas para a realidade do seu município por meio desses mecanismos (LOA, LDO, PAA), os gestores atuam conscientemente na aquisição de melhores condições de vida para a estruturação dos seus principais pontos em risco social (bairros, zonas, estados), sem que haja necessariamente o investimento de recursos em excesso, contribuindo assim com o máximo possível de acompanhamento, com uma aplicação consciente dos recursos disponíveis e dos mecanismosutilizados para a sua aplicação (SILVA, 2017). 2.3 Instrumentos de gestão orçamentária A gestão orçamentária, como mencionada anteriormente, depende de uma série de fatores e finalidades. Estes por sua vez são obtidos, evidentemente, por meio do planejamento anual e do constante monitoramento acerca dos resultados esperados e obtidos com o processo de gestão desenvolvido. O objetivo principal é desenvolver um mecanismo que se destaque pela segurança e pela capacidade de fornecer respostas rápidas e eficientes com relação às problemáticas levantadas no contexto da sua elaboração. Os três principais instrumentos que compõem a gestão orçamentária em sua prática são o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA). O Plano Plurianual (PPA), segundo a Confederação Nacional de Municípios do Rio Grande do Sul (CNM/RS), pode ser definido como, É o instrumento gerencial de planejamento das ações governamentais de caráter estratégico e político, que deve evidenciar o programa de trabalho do governo manifesto nas políticas, nas diretrizes e nas ações para longo 25 prazo e os respectivos objetivos a serem alcançados, quantificados fisicamente (BRASIL, CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS MUNICÍPIOS, 2013). O PPA, apesar de respeitar necessariamente a importância dos preceitos constitucionais, tem como obrigação a construção de metas que tenham como principal objetivo amoldar o orçamento às realidades sociais que existem no município. Todavia, esta necessidade tem que ter como ponto de partida, um estágio próprio. A Lei 4.320/04 assegura a necessidade de elaboração de prospecto de receitas que viabilizem o controle e a execução das metas propostas, sob pena de incorrer em improbidade o gestor (BRASIL, SENADO FEDERAL, 2017). A Constituição de 1988, no caput do artigo 165 dá a competência ao Poder Executivo para promover a elaboração da PPA. É o chefe do executivo, respeitando- se a simetria constitucional, quem encaminha à autoridade competente (câmara dos vereadores, no caso do município) o PPA (CF/88, art. 84, XXIII) (BRASIL, SENADO FEDERAL, 2017). O Legislativo pode dispor, apreciar e eliminar os pareceres, de acordo com os argumentos apresentados. A única possibilidade de mitigar-se tal competência é nos casos em que as limitações tornem o plano não executável. Os prazos apresentados para a devolução do PPA são “quatro meses antes do encerramento do exercício financeiro e devolvido até o encerramento da sessão legislativa” (BRASIL, SENADO FEDERAL, 2017). O PPA também tem vigência até o fim do primeiro ano da gestão posterior à que o elaborou. Sua elaboração é essencial para o desenvolvimento de mecanismos de controle do processo de gestão administrativos no município, o que assegura que o orçamento público possa atingir os objetivos, entre eles o atendimento à responsabilidade social da qual decorre a existência do orçamento público. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), segundo o Ministério Público (MP) de Minas Gerais (MG), permite a ligação entre o planejamento de curto prazo, no caso o Orçamento Anual, e o planejamento de longo prazo, que é o Plano Plurianual (PPA) A LDO define metas e prioridades da Administração 26 Pública, além de estabelecer metas fiscais e apontar os riscos que poderão afetar as contas públicas (BRASIL, MINISTÉRIO PÚBLICO DE MINAS GERAIS, 2017, p. 01). A Lei de Diretrizes Orçamentárias permite a melhor administração por meio da compreensão dos elementos apresentados ao longo do processo de planejamento. Em linhas gerais, esta legislação atua na responsabilidade de determinar o que e quando é importante promover investimento no contexto do planejamento. Assim, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) força o Poder Executivo a seguir um cronograma próprio e, ao mesmo tempo, a ter o controle sobre as finanças de modo a não comprometer etapas importantes do processo com o trabalho de elaboração de novas metas no decorrer da evolução do trabalho, no decurso do período de gestão. A LDO é organizada pelo Ministério do Planejamento em parceria com o Ministério da Fazenda, o qual elabora a proposta e estabelece os limites do prospecto de construção possível dentro do rol de recursos arrecadados e das projeções. Nos municípios, respeitando-se a simetria constitucional, encaminha-se à casa legislativa minuta do processo. (BRASIL, SENADO FEDERAL, 2017). O chefe do Executivo então encaminha às instâncias superiores. Os prazos são, respectivamente, até o dia 15 de abril de cada ano para a avaliação pelas comissões competentes, em seguida tornada pública. Uma importante menção a ser feita é com relação aos prazos. A LDO é vigente por apenas um ano a partir da sua publicação, devendo, portanto, ser readaptada a cada ano. Por fim, o outro instrumento de gestão à disposição dos chefes do Executivo em todas as esferas é a Lei Orçamentária Anual (LOA). A LOA tem a capacidade de definir todas as despesas e as receitas do Governo, é, portanto, anexa ao Plano Plurianual (PPA) e encontra a necessidade de execução na previsão legal Constitucional. Segundo a Confederação Nacional dos Municípios, secção Rio Grande do Sul, a LOA Garante o gerenciamento anual das origens e aplicações de recursos, definindo os seus montantes e como serão aplicados pela administração pública. Compreende um conjunto de ações que abarcam desde a construção de uma visão de futuro até a definição e a execução de metas físicas e financeiras a serem atingidas e dos pormenores que possam ser vislumbrados. Representa a expressão monetária dos recursos que deverão ser mobilizados, no período específico de sua vigência, visando à execução 27 das políticas públicas e do programa de trabalho do governo (CNM/RS, 2013, p. 24). É necessário que o gestor tenha em mente o futuro das ações que desempenhará, as quais se refletirão no panorama das ações que se deseja conquistar no futuro apreendido pelos municípios e a sua importância no contexto da realização de metas possíveis para a condição estrutural local. A LOA ainda tem uma função muito específica: a ampliação da renda e a redução de desigualdades sociais, pontos importantes no que diz respeito à manifestação do interesse em manter a realidade social equilibrada em todo o país e mantém relação com o papel social do orçamento público (CNM/RS, 2013). Em geral, a política orçamentária adotada pelo Estado brasileiro resume-se em atividades que visam atuar como corretora das desigualdades apresentadas no mercado, assim como garantir, por meio de tais iniciativas, a redução das desigualdades econômicas e sociais, fomentando, dessa forma, o crescimento econômico local, melhorando a distribuição de renda em território nacional, bem como promover a ação de democratização dos serviços públicos oferecidos, e garantir, pelo menos, a existência dos serviços essenciais mínimos em cada estado (BRASIL, SENADO FEDERAL, 2017). Há nessa linha de interpretação do papel da LOA, uma dimensão tríplice: alocação de recursos, distribuição da renda e democratização dos produtos/serviços e estabilização da situação econômica apresentada pelo país. Todos estes elementos são resultado do panorama da interpretação positiva que o Estado tem conferido às obrigações dos gestores, permitindo-se que a atuação da fiscalização estatal diminua os casos de má-gestão, permitindo, dessa forma, um maior alcance dos objetivos propostos no contexto da construção das metas propostas. Em decorrência destes elementos, duas exifencias são essenciais no contexto da LOA: a comprovação do aproveitamento eficiente dos recursos no exercício anterior, bem como demonstrativos justificados de isenções, anistias, das remissões, subsídios e benefícios na áreas financeira, tributária e creditícia, além de comprovação de compatibilidadeexistente entre o orçamento e as metas para o ano (CNM/RS, 2013). 28 A construção da LOA é sempre a várias mãos. Em âmbito nacional, o Ministério do Planejamento põe as propostas em ordem em seguida, os trâmites de aprovação prosseguem segundo os elementos comuns ao PPA e a LDO (CNM/RS, 2013). Todas as ferramentas são resultado positivo dos contextos apresentados pelo legislador de 1988 como alternativa ao cumprimento dos objetivos do Estado, especificando o papel do legislador como um cumpridor dos estágios necessários à construção de uma sociedade mais plena e justa. 29 3 A LEI DE RESPONSABILIADE FISCAL E SEU REFLEXO NA GESTÃO MUNICIPAL A responsabilidade sobre a gestão das contas públicas é uma das mais importantes características, e, ao mesmo tempo, integra um dos maiores desafios apresentados à tradição política brasileira. Não nos compete, neste momento, estabelecer julgamento sobre as características que inspiram, no contexto do legado jurídico brasileiro, a necessidade de implementação de medidas que justifiquem o endosso de tomadas de ação por parte do legislativo, com o objetivo principal de assegurar a proteção dos recursos públicos disponíveis. Este tipo de proteção, geralmente construído a partir de Lei, tem um significado mais profundo no caso do Brasil: no país, a tradição jurídica vigente impunha uma série de desmandos e de problemas relacionados com a res pública, o que, ao longo dos séculos, ocasionou a quase falência da máquina administrativa brasileira. destaca Andrade (2015): Há décadas verificamos que convivemos com uma história de desmandos por parte de muitos gestores da administração pública em nosso país, além de verdadeiros indicadores de distorções das atribuições do Estado, numa sociedade democrática em que observamos clara tendência à apropriação privada do patrimônio público (ANDRADE, 2015, p. 01). O problema da ausência de critérios para a utilização e desenvolvimento de medidas de proteção ao Estado em sua aplicação de recursos é uma questão que reflete não apenas no aspecto econômico, o que, de per se representa já um dano significativo ao processo de desenvolvimento que se espera de uma sociedade com o potencial econômico e natural brasileiro, trata-se de um problema que pode, em curto prazo, respingar também em áreas fundamentais, como a saúde e a educação, que, quando se tornam insuficientes ou ineficientes, tendem a trazer consequências negativas para toda a sociedade, em especial às pessoas que não possuem acentuado poder aquisitivo (LONDERO, 2016). Os processos históricos que definiram as redes de poder no Brasil estavam ainda baseados em modelos que entraram em vigor no século XVIII e XIX, estabelecidos segundo critérios de construção objetiva incompatíveis com os ideais garantistas como os que o Brasil atualmente propõe-se a oferecer aos seus cidadãos. Estes modelos estavam baseados, principalmente, na ideia de que o Estado poderia usufruir dos recursos que possuía praticamente sem limitações. Em um período em 30 que as sociedades não estavam interligadas e a dinâmica das contas públicas não sofriam a ação de fatores externos, a exemplo da balança comercial, que atualmente é aferida em dólares, ou as necessidades dos setores de desenvolvimento nacional, que dependem de implementos oferecidos pelo Estado, a política tradicional permitia que a intervenção da Administração fosse praticamente descriteriosa em relação à gestão dos recursos. A ausência de limites, desde os anos de 1990, com o aumento da postura globalizada em face da tradição no mercado mundial e na inserção dos países na conjuntura internacional inspiraram a necessidade das chamadas “reformas” do Estado, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo (LONDERO, 2014). A Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/00) surge no contexto jurídico nacional como resultado da demanda imposta pelo decurso do tempo em face dos diversos defeitos apresentados pela estrutura administrativa brasileira, a qual, de maneira geral, não se apresentava em condições de desempenhar o papel de garantidora da estrutura mínima de gestão nos estados. Uma das provas mais contundentes desse processo deu-se nos anos de 1980 e 1990, quando a entrada de recursos nos cofres públicos, que até então havia sido consideravelmente satisfatória, começava a dar indícios de que poderia estar comprometida. Nos anos de 1990, em especial, o déficit público tentou ser saneado com medidas que, no final do seu processo de implantação (a exemplo da política econômica do governo Collor), terminaram em mais prejuízos do que em progressos. Segundo Deus (2015): Diante das dificuldades encontradas nas gestões dos governos como o ajuste fiscal, privatizações e a necessidade de importação e exportação de mercadorias aonde a economia brasileira vinha sendo pressionada em anos anteriores, os governos brasileiros tiveram que enfrentar os problemas com mais audácia, a busca de solucionar tais crises presentes nos Estados. Assim, gerou necessidade de elaboração de instrumentos legais para dar direcionamento a um novo modo de administrar as finanças públicas no Brasil (DEUS, 2015, p. 02). Somente quando as circunstancias, conforme salienta a autora, se tornaram cada vez mais intensas e a pressão sobre a natureza das medidas propostas pelos estados brasileiros para garantir o seu funcionamento, se tornaram cada vez mais críticas é que se pensou em um modelo administrativo diferenciado. No mundo, especialmente na Europa, que experimentava notável estagnação econômica em face do desenvolvimento da indústria e comércio nas américas, o fenômeno se 31 apresentava de forma semelhante, com os países daquele continente empenhados em promover reformas econômicas que, em sua essência, precisavam passar pelo endosso de medidas políticas, muitas das quais, somente com a limitação do poder de ação do Estado em relação às finanças, poderiam ser concretizadas (DEUS, 2015). A solução encontrada para diminuir e, se possível, eliminar o problema da gestão deficitária nos estados, percebeu-se a necessidade de impor limites ao Estado, a fim de que este possa atuar apenas sobre: (...) normas gerais de finanças públicas com enfoque nos princípios de responsabilidade na gestão fiscal, planejamento, transparência e controle dos gastos públicos, bem como prevenir déficits acentuados, margem de riscos para imprevistos, preservação do patrimônio público, arrecadação de todos os tributos referentes a cada ente da federação e equilíbrio entre receitas e despesas (DEUS, 2015, p. 02). A ideia é a de promover, no âmbito do controle das ações desempenhadas pelo gestor estatal, medidas que imponham limites à sua atuação desmedida. Estes limites, na prática, definiriam a estrutura estatal como dependente de um orçamento limitado, e que, portanto, teria que apresentar um uso ponderado em face de metas que, se consideradas no contexto geral, são, na verdade, resultado do sopesar entre riscos e benefícios os quais o Estado pode ou não controlar (BRASIL, TJSP, 2010). A evolução no modelo de gestão sugerida já no início dos anos de 1990, era, em linhas gerais, a libertação do modelo de Estado burocrático (e portanto dispendioso e ineficiente), para o modelo de Estado gerencial, no qual, as metas são desenvolvidas com o apoio de profundas análises de mercado propostas pelas equipes econômicas dos gestores no decorrer dos seus mandatos. Uma parte desse processo corresponde, também, à adequação do Estado aos modelos neoliberais, uma vez que, sendo um dos entes que mais influenciam o mercado, não seria possível admitir uma estrutura estatal que não replicasse, em seu modelo gerencial, os riscos, benefícios e mudanças que o próprio mercado impõe (BRASIL, TJSP, 2010). Antes da aprovação da Lei Complementar 101/00, a Lei de Responsabilidade Fiscal,outras tentativas, como a Lei Complementar 85/95, que regulava os gastos do Estado com a máquina administrativa pública, modificada em 1999 pela Lei Complementar 96/99. A principal diferença entre ambas deu-se pela adoção de 32 critérios mais rígidos nas sanções aplicadas a estados que descumprem a sua meta fiscal, coibindo assim as manifestações de má gestão a partir da contratação irregular e comprometimento do orçamento com despesas em Recursos Humanos. As Leis Complementares mencionadas trouxeram o senso de responsabilidade e a construção rumo a um novo modelo estatal (BRASIL, SENADO FEDERAL, 2017). Apesar de estabelecer um modelo constitutivo bastante incisivo diante da política interna, foi em nível internacional que sobrevieram as maiores influências sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal brasileira (LC 101/00). Destacam-se a politica de fiscal transparency do Fundo Monetário Internacional (FMI), que estabelece a necessidade de transparência dos atos apresentados ao público, preocupando-se assim com a demanda social atrelada ao orçamento (FMI, 2017). Segundo a política proposta pelo FMI, as ações administrativas envolvendo o orçamento público deverão estar mediadas, principalmente, pelo planejamento meticuloso anual de cada uma das etapas relacionadas à aplicação dos orçamentos. Esta gestão orçamentária depende também do controle necessário proposto por meio da transparência dos atos, assim, estes deverão ser apresentados de forma legível e ampla ao público, estimulando dessa forma a fiscalização coletiva das ações do Estado sobre os recursos públicos (FMI, 2017). Outra legislação estrangeira que ofereceu notável contribuição à forma de gestão orçamentária proposta na Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/00) foi o Tratado de Maastricht. Sua aplicação regulou as finanças públicas na Comunidade Europeia (CE) nos anos de 1990. Este tratado que foi assinado na cidade holandesa homônima, previu a gestão coletiva dos Estados europeus, para que houvesse a colaboração sistemática entre eles, migrando os modelos de gestão burocrática para o estabelecimento de padrões de riscos a serem assumidos no coletivo, associados a políticas econômicas de proteção do bloco, estipulando, inclusive, metas anuais e sanções aos Estados que não as atingem (GASPARETTO JUNIOR, 2016). Nos Estados Unidos, a Budget Enforcement, ou lei orçamentária americana, atua em nível federal, estabelecendo regras simples para o trabalho com o orçamento anual. Cada estado americano poderia aderir com maior ou menor rigidez as normas do Budget Enforcementi, porém o Governo Federal estava vinculado à sua execução efetiva. Dentre as normas estavam previstos o planejamento, pelo Congresso, dos 33 prospectos de superávit e das metas a serem seguidas no decorrer do ano fiscal, a adoção de medidas impopulares como o sequestro de recursos se houver necessidade, para o cumprimento de metas propostas no plano e o modelo adotado no Brasil, denominado pay as you go, que significa, na prática, que cada medida apresentada como fonte de gastos, teria necessariamente que ser compensada com uma fonte de receitas que a mantivesse dentro do limite praticável. Esta nova politica econômica americana promoveu notável êxito na realização do crescimento econômico dos Estados Unidos. O Brasil adotou o seu modelo em diversos aspectos: a construção do orçamento anual, a política do pay as you go são os principais pilares que tornam a máquina administrativa brasileira mais amigável com os recursos que estão sob sua tutela. Esta política surgiu no início dos anos de 1990 e, no decorrer da década foi reformada apenas para cumprir com ajustes relativos à participação americana em blocos econômicos internacionais (RICHARD, 1990). Outra lei que influenciou o Estado brasileiro no contexto da realidade da gestão de recursos foi a Fiscal Responsability Act neozelandesa. Esta lei, constitui-se de um apacote de políticas fiscais de controle, isto é, de limitações ao Estado, como mencionado anteriormente na pesquisa, caminho encontrado pelos gestores em nível mundial, para a adequação econômica à realidade globalizada no século XXI e as finanças públicas. O Congresso, nesta modalidade legal, embora admita uma flexibilização maior no contexto da fixação das metas pelo Executivo, exige dele a criação e manutenção de canais de transparência, a exemplo do que ocorre no Brasil. Outro princípio basilar desta nova política econômica é a redução dos gastos da máquina administrativa, quando possível, a níveis praticáveis, permanecendo o Estado sempre em superávit e com reservas, uma forma de proteção contra as intempéries econômicas, assim como também promove o respaldo lógico às contas do Estado, impedindo gastos desmedidos que comprometam o orçamento (NEW ZELANDS, 2017). A base principiológica do Fiscal Responsability Act, representam, mesmo com as imposições apresentadas, uma ferramenta que ainda confere ao Executivo, uma autonomia ainda considerável, em relação à gestão da aplicação do orçamento, vinculando apenas à necessidade de contrapor um limite de segurança a fim de evitar o colapso na economia, e, por conseguinte, da estrutura estatal vigente. No 34 Brasil, a Lei de Responsabilidade Fiscal, a partir de 1994, assimilou, assim como o fizera com as referências do Tratado de Maastricht e o Budget Enforcement Act americano, a noção de transparência e de planejamento para promover a proteção do Estado face às demandas de mercado que possam comprometer o orçamento em linhas específicas, a começar pela sua própria exequibilidade (RIBAS et al., 2014). Todos estes ajustes se coadunaram na formação do texto constitucional brasileiro de 1988, o qual incorporou múltiplas referências da legislação internacional para compor um modelo administrativo que se caracterizou, principalmente pela busca da diminuição das desigualdades sociais e pela proteção estatal dos cidadãos. Este modelo, dentro da estrutura federativa nacional refletiu-se na descentralização do orçamento. A partir da sua vigência, a Constituição de 1988, compartilhou com os estados e municípios, a sua receita em uma proporção maior que os demais textos constitucionais, ademais, impôs um sistema de cobranças mais rígido sobre os encargos sociais compartilhados com estes entes (BRASIL, 2017). O sistema de transferências transformou-se no principal instrumento criado pela Constituição de 1988 para buscar a redução das desigualdades sociais e econômicas existentes no Estado, tendo como prisma, as referências apresentadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nesse processo, os estados brasileiros, proporcionalmente, tinham como fonte de renda não apenas a sua arrecadação fiscal, mas também os fundos de participação (EC nº 18/65 – participação dos estados e Lei Complementar 86/97, participação dos municípios) (BRASIL, MINISTÉRIO DA FAZENDA, 2017). Todo este processo, evidentemente, foi realizado de forma gradativa, o que promoveu uma série de transformações no contexto dos municípios e dos estados. Por vezes, a adaptação destes entes, em face da nova modalidade de fiscalização imposta pelo Estado, gerou uma série de conflitos e de redimensionamentos nos municípios e estados, principalmente. Nos anos de 1990, houve uma série de problemas jurídicos relacionados a fraudes (especialmente com a ação de empresas de consultoria contratadas pelos estados e municípios), culminando com o enrijecimento das medidas propostas pelo Estado (BRASIL, 2017). 35 Em contrapartida, no final dos anos de 1990, iniciou-se o processo de discussão e tomada de ação no sentido de elaborar a Lei de Responsabilidade Fiscal, uma previsão do legislador constitucional de 1988, que estabelece em seu artigo 163: Art. 163. Lei Complementar disporá sobre: I finanças públicas; II dívidapública externa e interna, incluída a das autarquias, fundações e demais entidades controladas pelo Poder Público; III concessão de garantias pelas entidades públicas; IV emissão e resgate de títulos da dívida pública; V fiscalização financeira da administração pública direta e indireta; VI operações de câmbio realizadas por órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; VII compatibilização das funções das instituições oficiais de crédito da União, resguardadas as características e condições operacionais plenas das voltadas ao desenvolvimento regional (BRASIL, 2017, p. 01). Esta nova perspectiva do Estado sobre a realidade administrativa determinando a necessidade de criação de uma lei que, por sua vez, promovesse a melhor gestão dos recursos disponíveis, e que trouxesse o arcabouço da responsabilidade sobre os atos da administração. O principal diferencial em relação aos modelos clássicos, na previsão da existência da nova Lei Complementar aparece, principalmente no interesse em tonar a atividade administrativa consciente e om objetivos claros, não mais bastando que os estados, os municípios e a União fossem suficientes em seus recursos e na devida aplicação destes, sendo também necessária a percepção de que a realidade social demanda que existam aplicações coerentemente apresentadas para os recursos com o foco no crescimento econômico e social, tendo em vista a importância do planejamento orçamentário no trabalho de persecução das metas da República para com seus cidadãos componentes (BRASIL, 2017). 3.1 Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/00) e seus reflexos na gestão pública orçamentária. A Lei de Responsabilidade Fiscal, portanto, surge quase 19 anos depois da aprovação da Constituição de 1988, e estabelece novos parâmetros para o uso e destino dos recursos públicos captados pelos municípios, estados e pela própria União. Pelo seu aspecto misto, tendo recebido influências de diversas legislações estrangeiras, a Lei Complementar 101/00 trouxe um panorama mais lógico e produtivo, emprestando ao administrador público, diversos aspectos que antes eram 36 exclusivos da iniciativa privada na gestão de recursos. Provavelmente o principal reflexo apresentado pela Lei em questão foi justamente o redimensionamento de custos e a melhor acepção do investimento na prática, o que consolidou a perspectiva da administração pública como uma atividade de caráter consciente e expansiva. Jund (2008, p. 04) fundamenta: [...] O advento da Lei de Responsabilidade Fiscal, que impôs normas de planejamento e controle mais rigorosos, fez com que a Contabilidade Governamental deixasse de ficar adstrita somente ao objetivo da prestação de contas; o novo gestor público passou a ter que estudar formas que permitam o controle efetivo da gestão do governo e, ainda, pesquisar alternativas que auxiliem o processo decisório, buscando sempre a transparência dos demonstrativos contábeis e financeiros para que todos os cidadãos possam compreender a ação dos governantes, aguçando a análise crítica e permitindo-lhes discernir quanto à forma de sua atuação, principalmente no que diz respeito à contribuição do povo por meio dos tributos [...]. A influência da legislação americana sobre a finalidade da ação estatal fundamenta a importância, na LC 101/00 da construção de mecanismos que permitam a proteção do Estado e dos seus componentes, contra os imprevistos que comumente acontecem no decorrer da evolução histórica do Estado. Nesse sentido, o primeiro pilar é a gestão de recursos, que permitirá que o Estado possa promover suas atividades mais essenciais a todos os cidadãos, o segundo é o planejamento efetivo com base em transparência. A LC 101/00 colocou este instituto, a atividade transparente do Estado em face das demais características da gestão exatamente pela importância do respaldo legitimador da sociedade sobre as atividades desempenhadas pelos seus gestores (JUND, 2008). A transparência é também atrelada a capacidade de otimização dos recursos. As informações sobre onde os tais recursos estão sendo apresentados, por meio dos Planos Plurianuais e dos planejamentos locais dão as diretrizes ao Estado sobre a natureza e a importância dos investimentos em curso, assim como permite identificar áreas onde se pode promover maior imersão de recursos, ou reduzir estes se prejuízos da produtividade obtida. A capacidade de gestão envolve a transparência, mas não tão-somente porque ela é a base lógica do processo de efetivação das ações para a população, mas também porque ela apresenta ao Estado os resultados em tempo real, das medidas aproveitadas para a intervenção na realidade (JUND, 2008). 37 O acesso à informação, mas o proveito efetivo desta informação sobre a sua aplicação é considerado um dos principais elementos de progresso para a interpretação que o Estado brasileiro passa a ter da sua atuação. É preciso compreender que até o advento da Lei 101/00, o gestor brasileiro, em todas as esferas de atuação, tinha uma autonomia que, destarte ser ampla, era contraposta à sua ineficiência, resultado de uma cultura administrativa que não primou pela capacidade de compreender as demandas sociais e de apresentar a normativa de transparência das suas ações. Deus (2015, p. 08): Verifica-se que os entes da federação estão supridos em matéria de instrumentos legais e procedimentais para um controle permanente e eficaz, porém, cabe certificar-se em loco a veracidade de todas as informações inseridas em relatórios e demonstrativos. Daí nasce à pergunta: o governo tem servidores suficientes ou distribuídos de forma compatível para atender tanta demanda? Sabemos que a resposta para tal pergunta exige um olhar mais amplo sobre o tema e, além disso, percebe-se a necessidade de agentes ou gestores públicos responsáveis na hora de executar os atos e fatos orçamentários na prestação de informações fidedignas. A reflexão proposta pela autora advém das transformações propostas pelo legislador na Lei 101/00 e a conquista das metas anuais definidas pelo Estado para considerar o potencial de sucesso administrativo no contexto da execução de ações. Reforça a autora ainda, que as leis anteriores propunham uma série de evoluções, as quais a LC 101/00 incorporou, hora aumentando o alcance, hora diminuindo-lhes a importância. Exemplo pode ser obtido comparando-se a legislação anterior a Lei Complementar 131/09, fundamentada nos mesmos fins constitucionais definidos no artigo 163 da Carta Magna de 1988 (BRASIL, SENADO FEDERAL, 2017). Com a Lei de Responsabilidade Fiscal, como salienta Deus (2015), e mesmo com a sua antecessora, de 2009, muitos aspectos positivos foram conquistados. Especialmente no que diz respeito à adimplência em relação aos estados e municípios. É um sinal efetivo de avanços. Desde o ano de 2001, salienta a autora ainda, as contas públicas permaneceram em equilíbrio constante, o que aponta ao fato de que todos os integrantes do conjunto administrativo nacional, municípios, estados e União, conseguiram adaptar-se de maneira relativamente rápida ao novo contexto conjuntural apresentado pelo legislador para o desempenho de suas atividades. 38 De maneira geral, portanto, as referências e os impactos ao sistema foram positivos. Muitas das realidades encontradas no Estado, a exemplo das ingerências fiscais e econômicas que existiam, mesmo com diversos mecanismos de controle, a exemplo da Lei de Licitações, foram em muito diminuídas e em diversos aspectos se tornaram melhor controladas. O cuidado com os gastos públicos, com a publicidade, que se tornou um dos objetivos principais das novas diretrizes buscadas pelo Estado trouxeram como consequência uma busca efetiva, especialmente na escala federal, um maior controle de gastos (BRASIL SENADO FEDERAL, 2017). Uma das críticas que
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