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1943: O ANO E O JOGO QUE DEFINIRAM A RIVALIDADE ENTRE FC BARCELONA E REAL MADRID CF

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1943: O ANO E O JOGO QUE DEFINIRAM A 
RIVALIDADE ENTRE FC BARCELONA E REAL MADRID CF 
 
Ana Carolina Vebber 
 
Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM-Sul 
Graduanda em Relações Internacionais 
 
 
Resumo 
Este artigo analisa como nasceu a rivalidade entre dois dos maiores times de futebol 
do mundo, Barcelona e Real Madrid. A criação de ambos os clubes e os contextos 
sociais mais marcantes não somente do ano de 1943, mas também como este ano 
influenciou várias manobras de compra e venda de jogadores, que auxiliaram ao Real 
Madrid ser reconhecido como time da ditadura de Franco e o Barcelona como vítima. 
Neste contexto, este artigo pretende explicar e demonstrar com alguns exemplos 
como a rivalidade entre os times ultrapassa as quatro linhas de um campo de futebol e 
marca a sociedade. 
 
Palavras-chave: Barcelona; Real Madrid; nacionalismo; Catalunha; ditadura 
franquista. 
 
Abstract 
This article analyses how the rivalry between two of the greatest football teams of the 
world was born, Barcelona and Real Madrid. The creation of both clubs and the most 
scarring social contexts not only from the year of 1943, but also how this year 
influenced several buying and selling player maneuvers that helped Real Madrid to be 
known as Francos dictatorship’s team and Barcelona as its victim. In this context, this 
article intends to explain and demonstrate with a few examples how the rivalry 
between the both teams surpasses the football field lines and brands society. 
 
Key-words: Barcelona; Real Madrid; nationalism; Catalonia; Franco’s dictatorship. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Graduanda do curso de Relações Internacionais 
Orientador: Prof. Dr. Cristian Salaini 
Email: anacvebber@gmail.com 
	
   2	
  
Introdução 
 
“Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it’s 
much more important than that”, Bill Shankly. 
O futebol, desde a sua criação na Inglaterra, sempre foi uma forma de 
expressão, de entretenimento, mas também como forma de controle. Na Espanha não 
foi diferente (AMAZARRAY, 2011). Durante os anos da ditadura franquista, o 
campo de futebol transformava-se também em uma briga por direitos, e foi em uma 
destas batalhas, no ano de 1943, que a maior rivalidade futebolística do mundo atual, 
segundo o ex-técnico do Barcelona, o inglês Bobby Robson, surgiu. Um time não 
existiria sem o outro, como diria Sid Lowe em seu livro sobre a rivalidade, e como 
confirmou o atual presidente do Real Madrid, Florentino Pérez, com a seguinte frase: 
“se o Barcelona não existisse, o Real Madrid o teria inventado”. Com jogos sempre de 
alta qualidade dentro de campo com grande repercussão política do lado de fora, 
Barcelona e Real Madrid se destacam e demonstram como se tornaram tão 
dominantes no futebol mundial. DiStéfano, Cruyff, Guardiola, Mourinho, Messi, 
Cristiano Ronaldo, são apenas alguns dos nomes que deixaram marcas nas partidas, 
nos sentimentalismos. Alguns apenas em matéria de futebol, enquanto outros 
deixando a relação capital-periferia ainda mais tórrida. 
O presente artigo dissertará sobre esta rivalidade entre dois dos times de 
futebol mais famosos, milionários e vitoriosos do mundo, FC Barcelona e Real 
Madrid CF. O foco será explicar como e porque o ano de 1943 foi tão marcante nessa 
rivalidade, principalmente sob a ótica do confronto entre os times ocorrido neste 
mesmo ano. Confronto este que definiu o Real Madrid como time da ditadura 
franquista e o Barcelona como vítima, lutando contra a repressão sofrida por parte do 
governo então vigente. Os estigmas deste jogo são vistos até hoje, principalmente 
pelo lado culé1, como será explanado posteriormente, e usados como forma de 
aumentar ainda mais a rivalidade atualmente. 
A partir de dados qualitativos coletados através de pesquisa bibliográfica, 
utilizando-se de autores como Foer, Lowe e Amazzarray, e informações obtidas dos 
sites oficiais de Barcelona e Real Madrid, o objetivo deste artigo é de mostrar como o 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
1 Nome característico aos torcedores do Barcelona 
	
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ano de 1943 foi tão impactante para a rivalidade, os marcando de formas diferentes 
mas igualmente significativas. 
 
Surgimento do FC Barcelona e o sentimento catalão 
 
Dentre os dois clubes, o primeiro a ser criado foi o Barcelona, em 1899. Seu 
criador foi um suíço, Hans Gamper, que havia ido a Barcelona em 1898 a negócios, 
mas se viu residindo na cidade e abraçando a ideologia catalã, a ponto de alterar seu 
nome posteriormente de Hans para Joan, nome tipicamente catalão (FOER, 2004). 
Inicialmente formado por jovens estrangeiros, o Football Club Barcelona foi resultado 
do aumento da popularidade do futebol na Europa. Gamper foi também quem 
introduziu o conhecido azul-grená do time da Catalunha, segundo website do 
Barcelona, uma das teorias para a utilização destas cores é o fato de que Gamper 
havia previamente jogado no time do Basel, no seu país natal, que possui as mesmas 
cores. 
Quanto aos estádios, o Barcelona evoluiu muito neste quesito. O primeiro 
destes, o Carrer de la Indústria, locava apenas seis mil pessoas, nada em comparação 
ao seu estádio atual, o Camp Nou, com capacidade de quase 100 mil pessoas, o maior 
da Europa (FCBARCELONA.COM). Mas, antes do Camp Nou, existiu o Les Corts, 
erguido em 1922, fato que marcava a era de ouro do clube. Vários de seus jogadores 
mais emblemáticos jogaram neste estádio, inclusive Paulino Alcantara, máximo 
goleador do clube até ser ultrapassado esse ano, considerando jogos oficiais e 
amistosos, pelo argentino Lionel Messi (ESPN, 2014). 
Um dos períodos mais difíceis na história do clube foi a ditadura instaurada 
por Primo de Rivera, de 1923 a 1930. A língua catalã foi proibida na esfera pública, 
assim como a Senyera, bandeira da Catalunha, e o Barcelona, por seu papel de 
representante da sociedade daquela região, sofreu a mesma repressão (FOER, 2004). 
Além do mais, durante um jogo em 1925, os catalães vaiaram o hino nacional 
espanhol, o que fez com que Primo de Rivera fechasse o estádio por seis meses e 
“convidasse” Gamper a sair do país. A ditadura de Primo de Rivera tinha os mesmos 
moldes da ditadura franquista que viria posteriormente, mas não tinha um Estado 
totalitário lhe apoiando, o que fez com que fosse obrigado a renunciar em 1930, 
dando lugar a uma breve democracia, conhecida como Segunda República, que 
duraria somente até 1936, com o estourar da guerra civil. 
	
   4	
  
A guerra civil espanhola durou três anos, entre 1936 e 1939. O conflito foi 
causado por uma variedade de tensões políticas entre direita e esquerda, 
religião e secularismo, centro e periferia, ricos e pobres. Começou com um 
golpe de estado em 18 de julho de 1936 por oficiais do exército e 
colaboradores civis de direita buscando derrubar a Frente Popular de 
esquerda da República, que estava no poder desde as eleições em 
fevereiro. Os acontecimentos ficaram conhecidos como Primavera 
Ameaçadora; a tensão política aumentou e a trama se acelerou. General 
Franco, que havia sido enviado para Gran Canaria, renunciou de início, sua 
covardia garantindo-lhe o apelido de Miss Ilhas Canárias 1936. Mas ele 
eventualmente se uniu a conspiração, se tornou o Caudillo, o equivalente 
espanhol de Duce ou Führer, liderou as tropas fascistas e estabeleceu a 
ditadura militar que dominou a Espanha até 1975. (LOWE, 2013, p. 25). 
 
Com a guerra civil, a Espanha ficou dividida em zonas republicanas, formada 
pela esquerda política e aqueles que defendiam uma Espanha democrática, e as zonas 
nacionalistas, composta pelos militares rebeldes e assistidos por Hitler e Mussolini 
(LOWE, 2013). Com a guerra, não apenas a cidade de Barcelona foi ferida, maso 
clube também. Josep Sunyol, então presidente do clube e republicano, estava em 
Madri e, na noite de 6 de agosto de 1936, deveria viajar para Valência. Viajou de 
carro durante à noite por ser considerado mais seguro. Logo após a saída de Madri, o 
carro em que estava foi parado e as pessoas dentro do veículo foram obrigadas a 
descer e oferecerem o comprimento obrigatório: “Viva a república!”. A questão foi 
que, quem os parou, foram integrantes da Falange, movimento fascista, que, com a 
vitória dos nacionalistas, viria a se tornar o único partido político na Espanha. 
Segundo um dos sargentos presentes no momento, Sunyol foi morto e o seu corpo 
largado, não sendo encontrado até os dias de hoje. Ficou conhecido como o presidente 
mártir (FCBARCELONA.COM). 
Nem a guerra civil e a morte do seu presidente fizeram com que o Barcelona 
não jogasse. Segundo informações do site oficial do clube, na temporada 1936-1937, 
o Barcelona jogou nove amistosos, dez jogos no Campeonato Catalão e catorze na 
Liga Mediterrânea. 
Em 1937, uma oferta de um empresário mexicano chegou à Barcelona. A 
proposta era de que o time jogasse uma série de amistosos no México. Como Ángel 
Mur, então fisioterapeuta do time, disse: “fique em Barcelona e arrisque ser explodido 
ou vá em um tour de futebol pela América. Não era muito uma escolha, era?”. O tour 
durou mais que o inicialmente pretendido, devido a uma extensão, não somente de 
tempo, mas também de dinheiro que o clube recebeu (LOWE, 2013). O Barcelona 
tentou com que a viagem fosse apolítica, mas foram recepcionados como se fossem 
uma embaixada republicana, um representante da democracia que lutava contra os 
	
   5	
  
nacionalistas de Franco. Franco enxergou do mesmo modo, e, assim acabada a guerra 
civil e consagrada a vitória das tropas nacionalistas, baniu do futebol todos os 
jogadores presentes na expedição ao México por dois anos. 
Após três anos de guerra, os nacionalistas marcharam sobre Barcelona, e 
dentre estes nacionalistas, estava Santiago Bernabéu, o maior presidente da história do 
maior rival, o Real Madrid (LOWE, 2013). Com o surgimento do regime franquista, a 
simples presença catalã foi extinguida, a língua proibida, livros queimados. Segundo a 
visão de um historiador nacionalista, a Catalunha estava presenciando um genocídio 
cultural (DOWLING, 2014). Com tais medidas, Franco desejava uma Espanha única 
e unida, mas o inverso ocorreu. Tal política fez com que a sociedade catalã 
encontrasse algo a qual podia segurar-se e construir uma identidade. Com essa 
perseguição, a única forma de manifestação restante e segura o suficiente, era o 
Barcelona. Segundo um dos atuais diretores do clube, “se o regime tivesse permitido 
o catalão como manifestação cultural, provavelmente teria encontrado uma evolução 
mais leve e talvez seria mais aceito pela sociedade catalã”. 
Militares ocupavam então altos cargos governamentais e também presidências 
em clubes de futebol da Espanha, inclusive o Barcelona, que em março de 1940 teve 
seu presidente substituído por Enrique Piñeyro de Queralt, auxiliar de General 
Moscardó, ministro de esporte do regime. No mesmo ano, o nome do Football Club 
Barcelona foi obrigado a ser traduzido do inglês para o castelhano, se tornando 
Barcelona Club de Fútbol (LOWE, 2013). Em 1942, o Barcelona ganhou a Copa del 
Generalísimo, atual Copa do Rei, contra o Atlético Bilbao, em Madri. Foi no ano 
seguinte, em 13 de junho de 1943, que um dos jogos mais emblemáticos da história 
aconteceu. 
 
Criação do Real Madrid CF 
 
Em 1900, os irmãos Padrós, catalães, ironicamente, reuniram um grupo de 
pessoas em Madri, que somente em 1902, passaria a ser oficialmente o Madrid 
Football Club. No mesmo ano, o clube organizou um torneio, a Copa do Rei, como 
celebração a maioridade do Rei Alfonso XIII (LOWE, 2013). Cinco clubes espanhóis 
inscreveram-se para participar, dentre estes, o Barcelona, ocasionando no primeiro 
jogo entre os dois principais clubes da Espanha. Até então, os adeptos ao futebol eram 
	
   6	
  
somente pessoas abastadas, fato que sofreria grande mudança até a Guerra Civil em 
1936. 
O primeiro título veio em 1905 na terceira edição da Copa do Rei, campeonato 
que ganharam mais três vezes nas três edições seguintes. Em 1920 o clube muda de 
nome e se torna o Real Madrid, após o rei lhe garantir o título de Real (ESPN, 2012). 
O homem que viria a se tornar o maior presidente do clube e que marcharia 
sobre Barcelona em 1939, foi também jogador do time principal Real Madrid por 12 
anos. Santiago Bernabéu fez sua estreia em março de 1912 contra um time de 
expatriados ingleses, e quatro anos depois marcou um hat-trick contra o Barcelona 
(LOWE, 2013). Até então, mal sabia que se tornaria o maior presidente do clube, 
sendo homenageado com o estádio atual do time, com capacidade de mais de 80 mil 
torcedores. Mas antes do Real Madrid se tornar o time multimilionário de atualmente, 
existiu o Chamartín, o primeiro estádio construído pelo clube em 1923, com 
capacidade de 15 mil pessoas (REALMADRID.COM). Mesmo não conquistando 
nenhum título neste período, a década de 20 se tornou muito importante para o clube, 
devido à construção do novo estádio e a adição do termo “Real” ao nome oficial do 
time. 
O primeiro campeonato nacional espanhol foi organizado na temporada 1928-
1929, com o Real Madrid chegando em segundo lugar, atrás apenas do Barcelona. 
Poucos anos depois, o Real Madrid contrata o ex-goleiro do Barcelona, Ricardo 
Zamora (FIFA.COM). Contratado como o jogador mais caro do futebol espanhol até 
aquele ano, foi considerado após seus anos atuando no clube como o melhor goleiro 
espanhol da história, sendo que o prêmio de melhor goleiro do campeonato espanhol 
foi nomeado em sua homenagem, o Troféu Zamora. Foi com Zamora que o Real 
Madrid venceu a Liga de 1931-1932 invicto. O último título antes do início da guerra 
civil foi conquistado apenas um mês antes que a mesma estourasse. A final da Copa, 
vencida em cima do Barcelona, elevou Zamora a mito com uma defesa no último 
minuto, garantindo a vitória para o time de Madri (REALMADRID.COM). 
Assim como o Barcelona, o Real Madrid também elegeu um presidente que 
hoje não é lembrado por maior parte dos seus torcedores. Rafael Sánchez Guerra 
presidiu somente entre os anos de 1935 e 1936 (REALMADRID.COM). Filho de um 
monarquista, Sánchez Guerra na década de 1920 era considerado um monarquista 
conservador, mas após um flerte com o modo de governo Primo de Rivera mudou seu 
pensamento político fundando a Direita Liberal Republicana e definindo-se como de 
	
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centro (LOWE, 2013). Franco em 1935 lhe disse que não tinha intenção em realizar 
um golpe militar na Espanha, algo que alguns anos após Sánchez Guerra apenas 
comentou “palavras, palavras, palavras”. Com o fim da guerra civil em 1939, o 
regime franquista começa um ataque àqueles que se opuseram aos nacionalistas de 
qualquer modo, direta ou indiretamente, incluindo o já ex-presidente madridista e 
republicano Sánchez Guerra. 
Mesmo quase oitenta anos após o fim da guerra civil, o Real Madrid não 
comenta a sua história durante aqueles anos. No livro publicado no centenário do 
clube, um único parágrafo menciona os acontecimentos daqueles três anos, “a vida no 
clube foi paralisada” (LOWE, 2013). 
O primeiro presidente pós-guerra foi Antonio Santos Peralba, com o dever de 
reestruturar o clube devido às restrições políticas ditadas pelo regime de Franco, 
principalmente pois os principais jogadores haviam sido exilados. Sua presidência não 
resistiu aos episódios que seguiram o fatídico jogo de 1943, sendo obrigado a se 
retirar. 
 
A semifinal da Copa del Generalíssimo de 1943 
 
Com a vitória dos nacionalistas de Franco na guerra civil, a Copa do Rei foi 
renomeada para Copa del Generalíssimo, tendo este nome até a morte do ditador em 
1975. Na edição de 1942, o vencedorfoi o Barcelona, batendo o Athletic Bilbao em 
Madri (FCBARCELONA.COM). Durante a ditadura, todas as finais da Copa eram 
realizadas em Madri, exceto se o Generalíssimo não pudesse comparecer, desta 
maneira a final seria realocada para a cidade que ele estivesse (LOWE, 2013). 
No ano seguinte, o Barcelona voltaria a disputar a Copa, jogando na semifinal 
contra o Real Madrid. A ida, no estádio Les Corts em Barcelona, foi vencida pelo 
Barcelona por 3 a 0. A volta, no estádio Chamartín em Madri, foi vencida pelo Real 
Madrid por 11 a 1. Essa combinação de resultados marcou a história principalmente 
do Barcelona. Foi a partir deste jogo que o Real Madrid tornou-se conhecido por ser o 
time da ditadura de Franco e o Barcelona, vítima. 
O jogo de ida em Barcelona, segundo os madridistas, teve o resultado de 3 a 0 
apenas devido ao árbitro, José Fombona, que, com medo, confirmou o primeiro gol 
culé, mesmo que no início da jogada houvesse uma falta. A imprensa esportiva 
espanhola atual tem “lados”, por exemplo, os jornais Marca e As, são madridistas, e 
	
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os jornais catalães Sport e Mundo Deportivo são culés. Em 1943, não era diferente, 
Teus, jornalista do jornal Ya e ex-goleiro do Real Madrid, descreveu Les Corts aquela 
noite como um “caldeirão fervente”. Em seu artigo escreveu 
 
Ah, se apenas o Chamartín ajudasse o Madrid no domingo como o 
“caldeirão fervente” do Les Corts ajudou o Barcelona na primeira metade! 
Nós não exigimos que o time da região seja recebido com nada menos que 
o mesmo apoio passional, forte e influente que o Barcelona teve... Quando 
isso será possível em Madri? (LOWE, 2013, p.69) 
 
A resposta para a pergunta de Teus é simples, uma semana depois. O Madrid 
considerou o que ocorreu em Les Corts como uma espécie de emboscada, dessa 
maneira, preparou também uma no jogo de volta. Apitos foram distribuídos para os 
aficionados que atenderam o jogo fazendo com que a atmosfera fosse extraordinária, 
segundo o ex-presidente do Real Madrid, Ramón Mendoza, que tinha apenas 16 anos 
quando foi aquela partida. 
Apesar de ser 1943, já parte final da Segunda Guerra Mundial e os Aliados 
estarem começando a retomar controle, Franco ainda era parceiro do Eixo. A 
repressão era enorme e o medo constante. O Barcelona foi ameaçado a partir do 
momento em que os jogadores saíram do hotel, na chegada ao estádio eram chamados 
de “vermelhos” e “separatistas”. Com meia hora de partida, perdendo por dois a zero, 
um jogador do Real Madrid faz uma falta considerada pelo Barcelona como desleal, e 
a partir deste momento, os jogadores culés deixaram o que aconteceu, acontecer. Ao 
final do primeiro tempo, o resultado era de oito a zero. A atmosfera era tão agitada, 
no intervalo os jogadores do Barcelona decidiram que não iriam voltar para o segundo 
tempo (LOWE, 2013). Foi então que segundo dois jogadores daquela semifinal, 
Calvet e Valle, que um coronel entrou no vestiário e disse “saiam ao campo ou daqui 
vão direto para a cadeia. Todos detidos.” Após a ameaça, decidiram voltar e o jogo 
terminou em onze a um (LAVANGUARDIA, 2000). Não se sabe exatamente quem 
era o homem que foi ao vestiário do Barcelona, alguns sugerem que foi um policial 
qualquer, um oficial da Guarda Civil, General Moscardó - o homem que efetivamente 
era ministro do esporte, ou até o diretor da segurança do Estado, José Finat y Escrivá 
– que havia cooperado com os nazistas, envolvido na agressão a um cantor gay 
espanhol, e coincidentemente, amigo de Santiago Bernabéu. Com 92 anos, Fernando 
Argila, é o único remanescente culé daquela semifinal. Goleiro reserva na ocasião, 
ainda lembra-se daquele dia, e disse que até então, não existia rivalidade entre 
	
   9	
  
Barcelona e Real Madrid, mas que passou a existir após fatídica partida. Disse que a 
rivalidade não apenas se tornou esportiva, mas política, de poder e de poder 
econômico (LOWE, 2013). 
Não apenas o que foi dito por Argila é verdadeiro, como também todos os 
fatores foram aumentados potencialmente com o passar dos anos. Após a temporada 
1942-1943, ambos os presidentes dos clubes resignaram de seus cargos, Antonio 
Peralba, do Real Madrid, foi obrigado a sair do clube, e Piñeyro, do Barcelona, saiu 
em protesto a semifinal. 
 
A rivalidade pós-1943 
 
Com a saída do presidente Piñeyro, Josep Antoni de Albert tomou seu lugar, 
mas ficou com o cargo por pouco mais de um mês, sendo substituído por escolha do 
governo espanhol por Josep Vendrell, um coronel amigo de Franco 
(FCBARCELONA.COM). Na capital espanhola o mesmo processo de substituição de 
presidentes ocorria, e, em setembro, o Real Madrid requisitou à Federação Espanhola 
de Futebol que um novo presidente lhe fosse nomeado, dessa maneira, Santiago 
Bernabéu chega a presidência do que se tornaria o maior clube do mundo, e ele o seu 
maior presidente (REALMADRID.COM). 
Quatro meses após a semifinal, uma paz forçada entre os times foi ensaiada 
com a chamada Copa da Paz. Os times desta vez foram bem recebidos nas cidades, os 
jogadores receberam presentes dos presidentes, visitaram locais históricos em ambas 
as cidades. Desta vez, o Barcelona saiu vitorioso (LOWE, 2013). 
No ano de 1953, um outro tipo de desavença ocorreu entre os clubes, a 
contratação de um jogador. Alfredo DiStéfano, argentino, ex-jogador do River Plate e 
do Millonarios da Colômbia. Segundo Emilio Butragueño, ex-jogador do Real Madrid 
e atualmente diretor no estádio Santiago Bernabéu, define que a história do Real 
Madrid começa com DiStéfano. O Real Madrid contratou DiStéfano, mas o Barcelona 
também. Mesmo jogando para o Millonarios, os direitos de DiStéfano ainda eram do 
River Plate. O Barcelona acordou com o River, e o Real Madrid acordou com o 
Millonarios (LOWE, 2013). O Barcelona acusa o Real Madrid de se utilizar de Franco 
para “roubá-lo”, para o Barcelona, além do 11-1, esta foi outra prova de que o regime 
apoiava o Real Madrid e roubava o time culé. Após inúmeras idas e vindas, o governo 
entrou no negócio e propôs que os direitos fossem divididos, entretanto o Barcelona 
	
   10	
  
não aceitou e renunciou aos seus direitos. Oficialmente do Real Madrid, DiStéfano 
venceu as primeiras cinco edições da que atualmente é chamada Liga dos Campeões, 
campeonato criado pelo próprio Real Madrid que envolvia os campeões nacionais dos 
países europeus. Venceu também oito campeonatos espanhóis, uma Copa, e foi o 
Pichichi, goleador do futebol espanhol, por 5 anos (REALMADRID.COM). 
DiStéfano foi para o Real Madrid o que Johan Cruyff viria a ser para o 
Barcelona. Logo que o Barcelona demonstrou interesse por Cruyff, em 1973, o Real 
Madrid o compra de seu time, o Ajax. O próprio Cruyff disse “a razão de eu ter ido 
para o Barcelona foi que o Ajax me vendeu para o Real Madrid. Eu decido.” (LOWE, 
2013). Somente após a sua transferência que ficaria ciente do papel político que 
ambos os clubes representavam na Espanha, assim, abraçou a causa catalã, tanto que 
entre os anos de 2009 e 2013 foi treinador da seleção da Catalunha. Jogador que 
marcou a seleção holandesa com o “Carrossel” na Copa do Mundo de 1974 e seu 
estilo característico, o futebol total, uma revolução no futebol. Rexach, catalão que 
jogou com Cruyff no Barcelona, disse que a mudança na mentalidade do time foi 
brutal, agora, com Cruyff, tinha um método, uma ideia por trás do modo de jogar. 
Após se aposentar, retornou ao Barcelona como técnico em 1988 permanecendo no 
cargo até 1996. Como técnico foi campeão da primeira Liga dos Campeões do 
Barcelona em 1992, com o time que ficou conhecido mundialmente como Dream 
Team, e tendo Josep Guardiola, que se tornaria um dos maiores ídolos do clube 
juntamente com o próprio Cruyff, no elenco (FCBARCELONA.COM). 
Na temporada 2010-2011, com Josep Guardiola como técnico do Barcelona e 
José Mourinho como técnico do Real Madrid, Barcelona e Real Madrid se 
enfrentaram quatro vezes em dezoitodias, duas vezes pelas semifinais da Champions 
League, uma vez valendo pelo Campeonato Espanhol e também pela final da Copa do 
Rei. O que, quando o assunto é o futebol jogado, poderia ser uma maravilha, na 
verdade foi uma guerra, dentro do campo e fora. Mourinho, técnico do Real Madrid 
desde 2010, provocava em todas as suas entrevistas coletivas ao Barcelona, e também 
em tom pessoal a Guardiola. Guardiola, perfeccionista e calmo, somente respondeu a 
Mourinho no jogo de volta da Champions League. 
“Fora do campo ele é o vencedor. Ele ganhou durante o ano todo, a 
temporada toda e no futuro. Ele pode ter a sua Champions League pessoal 
extra-campo. [...] Na sala de conferência ele é chefe, o mestre. Eu não 
quero competir com ele por um momento.” (EXPRESS, 2011) 
 
	
   11	
  
Mesmo com o Real Madrid sendo campeão da Copa do Rei, o Barcelona foi 
campeão espanhol daquele ano e, mais importante, foi campeão da Champions 
League vencendo o Real Madrid nas semifinais. 
Apesar de a temporada 2010-2011 ter sido umas das mais ideologicamente 
carregadas devido a inúmeros fatores, como, Guardiola x Mourinho, Cristiano 
Ronaldo x Messi, entre outros, acredita-se que o clássico ocorrido em 7 de outubro de 
2012 veio a ser o mais politicamente tenso desde a morte do General Franco em 1975. 
Com a crise europeia em 2010, o desejo de independência da Catalunha voltou a 
crescer. No Dia Nacional da Catalunha – ou Diada, comemorado no dia 11 de 
setembro, mais de 1,5 milhão de pessoas foram às ruas protestar em favor da 
independência catalã, entre estas pessoas estava o então presidente do Barcelona, 
Sandro Rosell (FOLHA, 2012). Quase cem mil pessoas compareceram aquela partida 
e formaram um mosaico com a imagem da Senyera, e, no minuto 17:14 gritaram “In, 
inde, independência”, o minuto em referência a data que a Catalunha voltou a ser 
domínio espanhol em 1714 (DOWLING, 2014). O técnico do Barcelona já não era 
mais Guardiola, mas seu assistente, Tito Vilanova, enquanto Mourinho continuava em 
Madri. O jogo terminou em dois a dois, os gols sendo marcados pelas estrelas de 
ambos os times, Messi marcando os dois do Barcelona e Cristiano Ronaldo para o 
Real Madrid. 
 
Considerações finais 
 
A partir das análises realizadas foi possível explicar como que a rivalidade 
entre dois dos maiores clubes de futebol do mundo nasceu. A rivalidade entre Real 
Madrid e Barcelona ultrapassa o limite do campo e invade a esfera social e política 
espanhola, sendo capaz de tomar conta de noticiários nas semanas que antecedem um 
jogo. 
O nacionalismo catalão, eclodido em 1714 com anexação da Catalunha ao 
território espanhol, achou no Barcelona a perfeita embaixada, ou como, disse Sir 
Bobby Robson, ex-técnico, “a Catalunha é uma nação sem Estado e o Barça é o seu 
exército”. Foi no estádio do Barcelona que os catalães gritavam contra a ditadura de 
General Franco. Por sua vez, o Real Madrid, ironicamente criado por irmãos catalães, 
após o jogo de 1943 ficou conhecido como time da ditadura, mesmo que alguns anos 
antes, um de seus ex-presidentes, Rafael Sanchez Guerra, fosse terminantemente 
	
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contra a mesma. Este estigma permanecesse até os dias atuais, inclusive o ex-técnico 
do Manchester United, Sir Alex Ferguson já chamou o Real Madrid de time da 
ditadura. 
Segundo Amazarray (2011), “o futebol serve como substituto para conflitos e 
terreno para rivalidades acirradas, em vez de pegar armas, o povo torce, vibra e se 
emociona com jogos”. A rivalidade entre Real Madrid e Barcelona comprova esta 
frase. Os estádios tornam-se arenas de espetáculos futebolísticos em que os torcedores 
projetam toda a sua raiva, toda o seu sentimento nacionalista, no caso do Barcelona, 
no que é um dos maiores, melhores e mais emocionantes duelos já vistos. 
 
…So please, be tolerant of those who describe a sporting moment as their 
best ever. We do not lack imagination, nor have we had sad and barren 
lives; it is just that real life is paler, duller, and contains less potential for 
unexpected delirium. Nick Hornby 
 
Referências 
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diplomático e o prestígio internacional. Trabalho de conclusão de curso (Graduação) 
– Relações Internacionais, UFRGS, Porto Alegre, 2011. Disponível em: 
<http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/40288/000827664.pdf?sequence=
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Disponível em: 
<http://books.google.com.br/books?id=efNWAgAAQBAJ&printsec=frontcover&hl=
pt-BR#v=onepage&q&f=false> 
 
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<http://www.espnfc.com/feature/_/id/841126?cc=3888> 
 
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<http://www.express.co.uk/sport/football/243228/Pep-Guardiola-rant-aimed-at-Jose-
Mourinho> 
 
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<http://www.fcbarcelona.com/club/history> 
 
	
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<http://www.fcbarcelona.es/club/historia/leyendas> 
 
FC BARCELONA. Los entrenadores. Disponível em: 
<http://www.fcbarcelona.es/club/historia/los-entrenadores> 
 
FC BARCELONA. Presidentes. Disponível em: 
<http://www.fcbarcelona.es/club/historia/presidentes> 
 
FIFA. Zamora: proteção divina. Disponível em: 
<http://pt.fifa.com/classicfootball/players/player=44774/> 
 
FOER, Franklin. Como o futebol explica o mundo: um olhar inesperado sobre a 
globalização. Tradução, Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. 175 p. 
 
FOLHA. Mais de 1 milhão marcham pela independência da Catalunha. Disponível 
em: <http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2012/09/1151773-mais-de-1-milhao-
marcham-pela-independencia-da-catalunha.shtml> 
 
LA VANGUARDIA. “Salen al campo o van todos a la cárcel”. Disponível em: 
<http://hemeroteca.lavanguardia.com/preview/2000/05/07/pagina-
80/34052203/pdf.html?search=calvet%20valle> 
 
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clube/historia/presidentes/santiago-bernabeu>

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