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Pós-Graduação “lato sensu” | Criminalística, Balística e Medicina Legal Prof. João Bosco Silvino Júnior Criminalística, Balística e Medicina Legal Pós-Graduação “lato sensu” Prof. João Bosco Silvino Júnior Pós-Graduação “lato sensu” | Criminalística, Balística e Medicina Legal Prof. João Bosco Silvino Júnior Unidade II Local de Crime Aula 4 DEFINIÇÃO DE LOCAL DE CRIME O local de crime é o principal ambiente de trabalho do Perito Criminal de Crimes Contra a Vida. A compreensão dos conceitos aplicados aos locais de crime é de fundamental importância para todo o trabalho pericial e, consequentemente, para a Investigação de Local de Crime. O local de crime pode ser definido como: Local de crime é toda área onde tenha ocorrido um fato que assuma a configuração de delito e que, portanto, exija as providências da polícia. (KEHDY, 1959) Já nas palavras do Professor Eraldo Rabello: Entende-se local de crime como sendo aquela porção do espaço, contínua ou descontínua, onde a infração se materializou por atos e onde, consequentemente, existem ou podem existir vestígios materiais da mesma, denunciadores, a serem pesquisados. (RABELLO, 1996) Ou em outras palavras do mesmo autor, citado em (Dorea, et al., 2010): Local de crime é a porção do espaço compreendida num raio que, tendo por origem o ponto no qual é constatado o fato, se estenda de modo a abranger todos os lugares em que, aparentemente, necessária ou presumivelmente, hajam sido praticados, pelo criminoso, ou criminosos, os atos materiais, preliminares ou posteriores, à consumação do delito, e com este diretamente relacionados. (apud DOREA et al., 2010) Pós-Graduação “lato sensu” | Criminalística, Balística e Medicina Legal Prof. João Bosco Silvino Júnior Pós-Graduação “lato sensu” | Criminalística, Balística e Medicina Legal Prof. João Bosco Silvino Júnior No local de crime se concentram os vestígios que auxiliarão a investigação policial, se forem corretamente levantados e interpretados. CLASSIFICAÇÃO DE LOCAIS DE CRIME As classificações de locais de crime são divisões didáticas estabelecidas por diversos autores. Para simplificar o nosso estudo, vamos abordar apenas as classificações quanto aos vestígios e quanto à preservação: LOCAL IMEDIATO: local onde se deu a CONSTATAÇÃO DO FATO CRIMINOSO, ou seja, ponto inicial da investigação criminal, onde, na maioria das vezes, estão concentrados os vestígios. LOCAL MEDIATO: Local adjacente ao local imediato. LOCAL RELACIONADO: apresenta vestígios relacionados à ocorrência, porém não se conecta geograficamente ao local imediato. Cumpre ressaltar que as dimensões do local imediato e mediato podem variar inclusive no decorrer dos exames periciais. O ideal é alcançar um ponto em que todos os vestígios estejam englobados no interior do local imediato. Um local imediato pode der mais de um local relacionado. A maioria dos autores classifica os locais apenas como idôneos ou inidôneos, sendo os primeiros aqueles em que não ocorreu absolutamente nenhuma intervenção antes dos trabalhos periciais e os segundos aqueles que sofreram algum tipo de alteração, por menor que seja. Dessa forma, a ocorrência de um local idôneo configura-se quase que impossível, uma vez que a simples constatação do fato, segundo essa ótica, já torna o local inidôneo. Visando apresentar uma visão mais moderna e realista desse tipo de classificação de local, propõe-se o seguinte critério: LOCAL ABSOLUTAMENTE IDÔNEO: é aquele em que a cena do crime e os demais vestígios não foram alterados em absolutamente nenhum dos seus aspectos. É um local de difícil ocorrência, vez que o simples acesso do Pós-Graduação “lato sensu” | Criminalística, Balística e Medicina Legal Prof. João Bosco Silvino Júnior primeiro policial ao mesmo, seja para verificar as condições de segurança do mesmo, seja para verificar o estado da vítima ou prestar socorro à mesma, já descaracteriza o local, por deixar vestígios da passagem do mesmo; LOCAL RELATIVAMENTE IDÔNEO: é aquele em que as condições foram mantidas da maneira mais próxima possível ao encontrado, sendo feitas apenas as alterações que objetivavam a garantia da segurança ao local e o socorro à vítima; LOCAL INIDÔNEO: quando há a alteração de características do local que não tenham por objetivo a preservação da segurança ou da vida da vítima, esta alteração transformará este local em inidôneo, uma vez que foi desnecessária e alterou as condições iniciais do local logo após o crime. ISOLAMENTO E PRESERVAÇÃO DE LOCAIS DE CRIME De fundamental importância para o trabalho pericial, a preservação dos locais de crime é uma preocupação do legislador, conforme rezam os artigos 6º, Inciso I, e 169. Para aprofundar o tema, é necessário o entendimento de quatro termos: ISOLAMENTO: retirar todas as pessoas do local de crime até a chegada dos Peritos. PRESERVAÇÃO: não alteração do estado das coisas. GUARNECIMENTO: custódia do local pelo Estado, ou seja, pelos policiais. DELIMITAÇÃO: estabelecimento de um perímetro visual para o local de crime, seja utilizando cordas, fitas, cones, etc. É importante destacar que um local pode estar isolado (sem ninguém no seu interior), mas não necessariamente estará preservado, pois as alterações podem ter ocorrido antes do seu isolamento. De maneira contrária, é impossível que o local Pós-Graduação “lato sensu” | Criminalística, Balística e Medicina Legal Prof. João Bosco Silvino Júnior esteja preservado sem estar isolado, pois a própria presença das pessoas no local já gera novos elementos. Outrossim, tanto o guarnecimento quanto a delimitação não são primordiais para a preservação, pois existem casos em que o local se encontra preservado mesmo sem esses elementos. Exemplo clássico são os locais de difícil acesso, cuja própria natureza do terreno é um fator que impede a aproximação de pessoas. O Isolamento do local de crime deve garantir a preservação dos vestígios da ação delituosa. A rigor, um exemplo de local bem isolado pode ser visto na Figura 1. Figura 1 – Isolamento adequado de local de crime. Infelizmente, por diversos motivos e conforme apontado na pesquisa apresentada por Silvino (2010), o isolamento dos locais de crime no Brasil é na sua grande maioria das vezes inadequado. Não é raro encontrar locais como mostrado na Figura 2. Pós-Graduação “lato sensu” | Criminalística, Balística e Medicina Legal Prof. João Bosco Silvino Júnior Figura 2 – Isolamento inadequado de local de crime. Ainda segundo a pesquisa, o isolamento deficiente se deve, em sua grande maioria, ao despreparo dos Policiais e da sociedade em relação à importância da preservação do local de crime. POR QUE ISOLAR DE LOCAL DE CRIME? Além da necessidade óbvia da preservação dos vestígios, o isolamento cumpre outras funções necessárias ao trabalho pericial, quais sejam: GARANTIR A SEGURANÇA FÍSICA DO PERITO Muitas vezes o Perito pode correr risco de vida ao realizar o trabalho pericial em um local mal isolado. Cita-se como exemplo levantamentos de locais de acidentes de trânsito em rodovias movimentadas, sobremaneira em condições de baixa visibilidade produzidas por chuva, neblina e/ou baixa luminosidade por se tratar de horário noturno. Outra situação é aquela em que o local se situa em área de alta criminalidade, tais como favelas dominadas pelas quadrilhas de tráfico de drogas, comumente observadas. A indispensabilidade do exame de corpo de delito justifica que um Pós-Graduação “lato sensu” | Criminalística, Balística e Medicina Legal Prof. João Bosco Silvino Júnior aparato de segurança seja estabelecido pelas forças policiais de maneira a permitir que o Perito possa desempenhar o seu trabalho. Observa-se, ainda, a importânciado isolamento em locais próximos a encostas ou grandes leitos de água, uma vez que a queda nessas condições pode ser fatal. CONTROLAR O ACESSO ÀS INFORMAÇÕES OBTIDAS NO TRABALHO PERICIAL Em um primeiro momento, somente os policiais relacionados à investigação policial devem ter acesso às informações obtidas nos levantamentos periciais. Somente a Autoridade Policial, titular da investigação, pode determinar quais informações devem ser transmitidas aos familiares da vítima ou à mídia. Novamente demonstra-se a necessidade do isolamento, dessa vez para permitir que as informações obtidas não sejam captadas por pessoas indevidas nas proximidades do local. PRESERVAR A INTEGRIDADE À IMAGEM DA(S) VÍTIMA(S) Durante os levantamentos periciais, principalmente em locais de crimes contra a vida, faz-se necessário despir o cadáver na busca de vestígios relacionados à ação delituosa. Quando a vítima está na via pública ou em locais de fácil acesso, o isolamento inadequado expõe a integridade da imagem da vítima, pois tanto os curiosos quanto a mídia terão total visibilidade do cadáver nu. Para evitar esse problema deve-se recorrer ao isolamento adequado, impedindo a fácil visualização do corpo. PERMITIR O BOM ANDAMENTO DOS TRABALHOS PERICIAIS Para realizar um bom trabalho, o Perito deve ter tranquilidade para raciocinar e fazer as coletas e fotografias necessárias ao laudo pericial. Em um local tumultuado, com grande aglomeração de pessoas, ação de jornalistas, invasão da área de isolamento ou existência de risco ao Perito, a tranquilidade necessária simplesmente não existe. Pós-Graduação “lato sensu” | Criminalística, Balística e Medicina Legal Prof. João Bosco Silvino Júnior Uma vez que o local se encontra bem isolado, ações externas que possam importunar o Perito são coibidas antes que possam alcançar a área destinada aos exames, facilitando o trabalho. Até a próxima aula! REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal Brasileiro. Diário Oficial da União, 13 out. 1941. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.htm. Acesso em: 1º dez. 2017. DOREA, L. E., STUMVOLL, V. P., & QUINTELA, V. Criminalística - Tratado de Perícias Criminalísticas. Campinas: Millennium, 2010. RABELLO, E. Curso de Criminalística. Porto Alegre: Sagra – Luzzatto, 1996. SILVINO Jr, J. Panorama atual de Isolamento e preservação de locais de crime no Brasil. VI Seminário Nacional de Perícia de Crime Contra a Vida. Macapá, AP, 2010. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.htm