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e-Tec Brasil59 Aula 7 – Instrumentos para manutenção do equilíbrio econômico-financeiro dos contratos administrativos O objetivo dessa aula é conhecer os instrumentos capazes de manter o equilíbrio econômico e financeiro dos contratos administrativos. Essa aula foi desenvolvida a partir do contido na Lei de Licitações e Contratos, na Lei do Real e no Decreto Federal nº 2.271/1997, entendimento da doutrina e dos órgãos de controle. Ao final dessa aula, você saberá identificar e ope- racionalizar os instrumentos denominados: reajuste, revisão e repactuação. A Constituição Federal, lei máxima de nosso país, ao estabelecer a neces- sidade de processo de licitação pública para as obras, serviços, compras e alienações no âmbito da Administração Pública direta e indireta, garantiu que o contrato deve estabelecer cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta. Em face dessa previsão constitucional, a Lei de Licitações consagrou a manutenção do equilíbrio econômico-financeiro dos contratos, resguar- dando o direito dos contratados, por meio de três instrumentos: reajuste, revisão e repactuação. 7.1 Reajuste O reajuste está previsto no artigo 40, inciso XI da Lei nº 8.666/1993. A Lei Federal nº 10.192/2001, artigo 3º, § 1º estabelece que o reajustamento so- mente é permitido após 12 (doze) meses da data limite para a apresentação das propostas. Ao formalizar a proposta o licitante deve considerar o valor dos insumos, mão de obra, encargos tributários e previdenciários, transporte e outros. É a forma adequada para atualizar, reajustar o valor do contrato, consideran- do o aumento no custo da produção de seu objeto, decorrente do processo inflacionário (economia nacional). Previsto no instrumento convocatório (edital) e decorridos os 12 (doze) meses, o reajustamento se impõe, não dependendo de requisição do contratado. A Instrução Normativa nº 02/2008 da Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão trata da repactuação de preços dos contratos nos artigos 37 a 41. Ao tratar da recomposição do equilíbrio econômico-financeiro do contrato, a doutrina nos esclarece que: Significa que a Administração tem o dever de ampliar a remuneração devida ao particular proporcionalmente à majoração dos encargos ve- rificada. Deve-se restaurar a situação originária, de molde que o parti- cular não arque com encargos mais onerosos e perceba a remuneração originariamente prevista. Ampliados os encargos, deve-se ampliar pro- porcionalmente a remuneração. A regra foi expressamente consagrada no art.58, § 2º, a propósito da modificação unilateral do contrato, mas se aplica a qualquer evento que afete a equação econômico-financeira. Uma vez verificado o rompimento do equilíbrio econômico-financeiro, o particular deve provocar a Administração para adoção das providên- cias adequadas. Inexiste discricionariedade. A Administração pode re- cusar o restabelecimento da equação apenas mediante a invocação da ausência dos pressupostos necessários. Poderá invocar: • ausência de elevação dos encargos do particular; • ocorrência do evento antes da formulação da proposta; • ausência de vínculo de causalidade entre o evento ocorrido e a majora- ção dos encargos do contratado; • culpa do contratado pela majoração dos seus encargos (o que inclui a previsibilidade da ocorrência do evento). (MARÇAL, 2009, 748-749) Discussão A Administração Pública pode negociar com o contratado, por oca- sião da renovação do contrato, a não incidência do reajuste/repactu- ação? Pode o contratado abdicar desse direito? A formalização do reajuste, conforme visto, deve se dar por meio de simples apostila, a qual dispensa, entre outros, a aprovação da assessoria jurídica e a publicação do seu extrato em Diário Oficial. 7.2 Revisão Já a revisão está contida no artigo 65, inciso II, alínea ‘b’, da Lei nº 8.666/1993, não sendo necessária a previsão em edital e não há periodicidade mínima. É o meio para atualizar o valor do contrato em razão de: fatos imprevisíveis; de fatos previsíveis, mas de consequências incalculáveis; de força maior; caso fortuito; fato do príncipe; criação, alteração ou extinção de encargos; retar- damento ou impedimento à execução do contrato. A revisão procura restaurar a isonomia entre as partes, busca equilibrar o encargo do contratado e a remuneração paga pela Administração Pública, inclusive retroage a data do fato. A formalização da revisão acontece por meio de aditivo contratual, confor- me prevê o artigo 65, § 6º, da Lei nº 8.666/1993. 7.3 Repactuação Por fim, a repactuação tem por finalidade recompor o equilíbrio econômico- -financeiro dos contratos de prestação de serviço executados de forma con- tínua (conservação, limpeza, segurança, vigilância, transporte, informática, copeiragem...), com vistas à adequação aos preços de mercado. É aplicada aos contratos de terceirização de serviços. Exige-se previsão em edital e um interregno mínimo de 01 (um) ano para nascer o direito do contratado a re- querer a repactuação. Sua formalização acontece por meio de termo aditivo. Nos termos do Decreto Federal nº 2.271/1997, que dispõe sobre a contra- tação de serviços pela Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional, o contratado deve demonstrar de forma analítica os compo- nentes dos custos do contrato, enfim, deverá justificadamente comprovar um aumento nos componentes do contrato, por meio de planilha de de- monstração dos custos. Contratos e Convêniose-Tec Brasil e-Tec Brasil Aula 7 – Instrumentos para manutenção do equilíbrio econômico- financeiro dos contratos administrativos60 61 Quadro 7.1: comparativo dos instrumentos da manutenção do equilíbrio econômico- financeiro dos contratos administrativos elaborado pela autora. Reajuste Revisão Repactuação Previsão legal: art.40, XI da Lei nº 8.666/1993. Edital: deve estar previsto. Forma adequada para: atuali- zar valores, considerando o aumento do custo de produção. Requisição: independe do contratado. Período: decorridos 12 meses, contados do último dia para apresen- tação das propostas. Formalização: simples apostila. Previsão: art. 65, “b”, da Lei nº 8.666/1993 Edital: não é necessário estar prevista. Forma adequada para: fatos imprevisíveis; fatos previsíveis, mas de consequências incalculáveis; de força maior; caso fortuito; fato do príncipe; criação, alteração ou extinção de en- cargos; retardamento ou impedimento à execução do contrato Requisição: depende do contratado. Período: qualquer momento. Formalização: aditivo contratual Previsão: Decreto Federal nº 2.271/1997 Edital: deve estar prevista. Forma adequada para: contratos de terceirização de serviços; atualizar valores atinentes ao custo de produção. Requisição: independe do contra- tado. Exige planilha de demonstração de custos. Período: 01 ano. Formalização: termo aditivo. Fonte: Elaborado pela autora Resumo • A Constituição Federal consagrou a manutenção do equilíbrio econômi- co e financeiro dos contratos administrativos. • Os três instrumentos capazes de manter as condições efetivas das pro- posta são: reajuste, revisão e repactuação. Atividades de aprendizagem 1. Qual é a data inicial para começar a computar o período de reajuste contratual? 2. É possível no mesmo ano acontecer reajuste, repactuação e revisão do mesmo instrumento contratual? HARADA, Kiyoshi. Equilíbrio econômico-financeiro dos contratos administrativos. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, nº 1027, 24 abr. 2006. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/ doutrina/texto.asp?id=8287 Encargos Trabalhistas em Contratos Administrativos. Airton Rocha Nóbrega. www.escola.agu.gov.br/revista/ Ano_II_setembro_2001/050920 01AirtonRochaEncargos.pdf A recomposição da equação econômico-financeira do contrato administrativo em face do incremento dos encargos salariais, de Fernando VernalhaGuimarães. http://www.direitodoestado. com/revista/REDAE-21- FEVEREIRO-2010-FERNANDO- Veja o posicionamento do Tribunal de Contas da União (TCU): 16. Outrossim, embora se trate de direito intangível, a repactuação não se caracteriza como direito indisponível, podendo a contratada, por conseguinte, dela abdicar. Aliás, foi exatamente o que ocorreu à épo- ca da terceira alteração do contrato 19/2005, ocorrida em 13/4/2006, quando a contratada, com exceção da vigência inicialmente acordada, ratificou as demais cláusulas até então vigentes, entre elas a que se refere aos preços originalmente pactuados para a execução do objeto. (TCU - Acórdão 1828/2008 – Plenário, Relator Benjamin Zymler). Segue adiante entendimento do Superior Tribunal de Justiça acerca do ree- quilíbrio econômico-financeiro dos contratos administrativos: Revisão – aumento do piso salarial da categoria - descabimento Administrativo - Contrato de Prestação de Serviço – Dissídio Coletivo - Aumento de Salário – Equilíbrio Econômico-Financeiro - Art. 65 da Lei 8.666/93. 1. O aumento salarial a que está obrigada a contratada por força de dissídio coletivo não é fato imprevisível capaz de autorizar a revisão contratual de que trata o art. 65 da Lei 8.666/93. (STJ, Resp. 411101/ PR, Min. Rel. Eliana Calmon. DJ de 08.09.03) Equação Econômico-Financeiro – Teoria da Imprevisão e Fato do Príncipe Contrato Administrativo. Equação Econômico- Financeira do Vínculo. Desvalorização do Real. Janeiro de 1999. Alteração de cláusula referen- te ao preço. Aplicação da teoria da imprevisão e fato do príncipe.(...) 2. O episódio ocorrido em janeiro de 1999, consubstanciado na súbita desvalorização da moeda nacional (real) frente ao dólar norte-ame- ricano, configurou causa excepcional de mutabilidade dos contratos administrativos, com vistas à manutenção do equilíbrio econômico- -financeiro das partes. (STJ - ROMS - Recurso Ordinário em Mandado de Segurança - 15154 Processo: 200200898074/PE; Primeira Turma; DJ 02/12/2002; Relator Luiz Fux). Contratos e Convêniose-Tec Brasil e-Tec Brasil Aula 7 – Instrumentos para manutenção do equilíbrio econômico- financeiro dos contratos administrativos62 63
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