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Jéssica Viégas – Med 97 Hemograma Completo O hemograma consiste em uma análise quantitativa e qualitativa dos elementos figurados do sangue: série vermelha, série branca e contagem de plaquetas. Série vermelha: 1. Contagem de hemácias (número de hemácias que um paciente apresenta por ml³): A contagem de células pode estar: Normal. Aumentada Atribui-se o nome de Policitemia ou Poliglobulia: É um aumento na concentração de hemácias acima do valor normal para idade e sexo de um determinado paciente. Reduzida Atribui-se o nome de Anemia: É uma redução na concentração de hemácias abaixo do valor normal para idade e sexo de um determinado paciente. Nem todo paciente que apresenta a contagem de hemoglobina reduzida, apresenta repercussão clínica. Sendo assim, um paciente com anemia (em termos hematológicos) não necessariamente apresenta a síndrome anêmica (um conjunto de sinais e sintomas que decorre da anemia). Atualmente a contagem de hemácias é feita de forma eletrônica. Os valores normais são: Para homens: 4.500.000 – 6.500.000 /mm³. Para mulheres: 3.800.000 – 5.800.000 /mm³. Para recém-natos: 4.000.000 – 6.000.000 /mm³. Para crianças de até 1 ano: 3.600.000 – 5.200.000 /mm³. Para crianças com mais de 1 ano: 4.000.000 – 5.400.000 /mm³. 2. Hematócrito (Ht/Htc): Também é chamado na língua inglesa de PCV. O hematócrito representa uma relação entre a fase líquida e a fase sólida do sangue. É o parâmetro hematológico mais fácil para acompanhamento de um paciente. Os valores normais são: Para homens: 35 – 45% (média de 40%). Para mulheres: 43 – 49% (média de 46%). Para recém-natos: 44 – 64% (média de 54%). Para crianças de até 3 meses: 32 – 44%. Para crianças de até 12 anos: 37 – 45%. Ops! O hematócrito pode apresentar valores falsos positivos, que podem induzir a um diagnóstico errado. Essa é uma das limitações do Htc: Em casos de desidratação, em que volume plasmático é perdido, o volume de células sanguíneas acaba ficando elevado em relação ao plasma. Isso faz com que o Htc se eleve e o paciente apresente uma falsa poliglobulia. Caso o volume perdido seja reposto, o quadro se estabiliza e o Htc volta ao normal. Em casos em que ocorre aumento do volume plasmático, como em pacientes muito edemaciados por ICC ou insuficiência renal crônica, a quantidade de células acaba se sobressaindo ao volume plasmático. Isso faz com que o Htc apresente um valor falsamente baixo e o paciente apresente uma falsa anemia. 3. Dosagem de hemoglobina (Hb): É o melhor parâmetro para avaliação da severidade do quadro de um paciente com anemia ou poliglobulia, ou seja, as repercussões de um quadro de anemia ou policitemia em um paciente. Cada 100 cm³ de sangue contêm 14 –16 g de Hb. Sendo assim, um indivíduo de 70 Kg apresenta 1 Kg de Hb. Os valores normais de Hb são: Para homens: 13,5 – 18 g/dl. Para mulheres: 11,5 – 16,5 g/dl. Para recém-natos: 13,5 – 19,5 g/dl. Para crianças de até 1 ano: 11 – 13 g/dl. Para crianças com mais de 1 ano até 12 anos: 11,5 – 14,5 g/dl. 4. Volume corpuscular médio (VCM): É um dos índices hematimétricos. Diz respeito ao tamanho da hemácia. É calculado pela fórmula: VCM = x fl/u³. Os valores normais são: 80 – 94 fl VCM normal. Atribui-se o nome de Normocitose. > 94 fl VCM elevado. Atribui-se o nome de Macrocitose. < 80 fl VCM reduzido. Atribui-se o nome de Microcitose. O VCM é útil na investigação do paciente anêmico, uma vez que pode auxiliar na descoberta da causa da anemia, juntamente com os outros índices hematimétricos. O VCM permite a avaliação da morfologia da hemácia (seu tamanho) e a quantidade hemoglobina em cada uma delas. 5. Hemoglobina corpuscular média (HCM ou HGM): Também um dos índices hematimétricos. Representa a proporção real de Hb que corresponde a cada hemácia, em termos absolutos. É calculada por HCM = Hb (g/1000)/Hemácias (milhões/mm³). Sendo assim: - Elementos muito concentrados (↓ plasma): ↑Htc. - Elementos muito dissolvidos (↑ plasma): ↓Htc. Jéssica Viégas – Med 97 O valor normal para HCM é de 27 – 32 pg, indicando normocromia. Valores abaixo desse indicam hipocromia. Existem situações em que a contagem de hemácias está reduzida, mas a quantidade de Hb por hemácia está normal. Esses casos são chamados de anemias normocrômicas. No entanto, existem situações em que a contagem de hemácias está reduzida e a concentração de Hb por hemácia também. Esses casos são chamados de anemias hipocrômicas. 6. Concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM): É o último índice hematimétrico e fornece a mesma informação que o HCM, mas não em valores absolutos, e sim em %. Sendo assim, o CHCM informa a concentração de Hb por hemácia em %. Os limites normais para CHCM são de 35 – 38%. 7. Índice de anisocitose (RDW): É um índice que indica a variação de tamanho dos eritrócitos. Os valores normais estão entre 11 – 14%. Todos os indivíduos apresentam uma variação normal no tamanho das hemácias, mas essa variação não pode ultrapassar 14%. Caso o RDW seja > 14%, o paciente pode apresentar uma macrocitose ou micrositose, pois está ocorrendo uma variação maior do que o esperado no tamanho das hemácias. Um aumento no RDW, habitualmente, precede o aparecimento de uma anemia, principalmente, por deficiência de ferro. Isso significa que a carência de ferro ou alguma substância envolvida no metabolismo do ferro (ferritina, transferrina, transferritina, etc) já é suficiente para gerar anisocitose, mas não é suficiente para gerar a doença, ou seja, a anemia propriamente dita. Contudo, o RDW não é um índice específico para carência de ferro. A poiquilocitose é quadro que pode acompanhar uma anisocitose. Esse termo diz respeito à variação no formato das hemácias. Pode ocorrer em quadro de esplenomegalia (hemácias em alvo), anemia falciforme (hemácias em foice), esferocitose (hemácias bem arredondas) ou macrocitose com corpúsculo de Howell-Jolly. Poliglobulia ou Policitemia: É importante diferenciar a verdadeira policitemia das hemoconcentrações (falsas policitemias), típicas das desidratações. As principais causas para poliglobulia são: DPOC. Cor pulmonale. Grandes altitudes. Tabagismo. Cardiopatias congênitas. Intoxicação por CO2. Policitemia Vera (um distúrbio proliferativo neoplásico da medula óssea, que produz hemácias em maior quantidade). Série branca: Corresponde à contagem total de leucócitos (absoluta) assim como a relação numérica que existe entre as diversas variedades de leucócitos do sangue periférico (relativa ou Hemograma de Schilling). Os elementos da serie branca correspondem a 6 tipos celulares diferentes que podem ser facilmente identificados e diferenciados. É possível realizar uma análise tanto quantitativa, quanto qualitativa da série branca, assim como ocorre com a série vermelha. Os valores normais para leucócitos variam entre: 6000 – 10.000 leucócitos/mm³. Valores acima destes indicam uma leucocitose e valores abaixo indicam uma leucopenia. Os elementos da série branca são: ↝ Linfócitos atípicos: São alterações da morfologia dos linfócitos com aumento do tamanho e basofilia citoplasmática em decorrência de infecções virais e outros estímulos imunológicos. Índices Hematimétricos: - VCM. - CHCM. - HCM. No paciente portador de anemia é sempre importante avaliar com atenção os índices hematimétricos, devendo iniciar a avaliação do quadro por eles. Esses pacientes são habitualmente poliglobúlicos, em função do estado constante de hipoxemia. A policitemia é compensatória. - A basofilia está relacionada a doenças graves, como mastocitose e leucemias. - A eosinofilia está relacionada a quadros de hipersensibilidade, doençasparasitárias, situações de estresse com liberação cortisol (ex: infecções graves, pós-operatórios de grandes cirurgias, etc), etc. - Mielócitos e metamielócitos são liberados na corrente sanguínea em situações agudas, como a sepse. - Os linfócitos são importantes nas doenças virais e autoimunes. Jéssica Viégas – Med 97 Os linfócitos atípicos são imunologicamente ativados e podem estar presentes na mononucleose, infecção pelo vírus Epstein-barr, distúrbios autoimunes, rejeição a transplantes, etc. ↝ Leucocitose: Alterações qualitativas: A leucocitose pode ocorrer em função de diversas situações: 1. Fisiológica: Em recém-natos. No final da gravidez. Em situações de estresse. Após grande esforço muscular. 2. Neutrofilia com desvio para esquerda: Infecções agudas. 3. Neutrofilia não infecciosa: Neoplasias. Radioterapia. Necroses tissulares assépticas. Doenças inflamatórias. Doenças metabólicas. Intoxicações exógenas. 4. Eosinofilia: Parasitoses. Estados alérgicos. Reações de hipersensibilidade. Linfoma de Hodgkin. Doença de Addison. Pênfigo. Doenças hipereosinofílicas. 5. Basofilia: Estados de hipersensibilidade. Distúrbios mieloproliferativos. LMC. 6. Linfocitose: Mononucleose infecciosa (VEB). Estados virais agudos. Tuberculose. Leucemia linfocítica. Brucelose. 7. Monocitose: Tuberculose. Febre maculosa. Calazar. Sarcoidose. Doenças de Crohn. 8. Reações leucemóides: São quadros em que o número de leucócitos é maior que 50.000/mm³. Além disso, também ocorre aumento de células mielóides na periferia, desvio até pró-mielócito e, eventualmente, até mieloblasto. As principais causas são: Infecções piogênicas (por S. aureus, principalmente, e S. pneumoniae). Tuberculose. Toxoplasmose. Brucelose. Doenças inflamatórias agudas (glomerulonefrite aguda, artrite reumatoide, insuficiência hepática, etc). Cetoacidose diabética. Síndrome de Down. ↝ Leucopenia: Alterações qualitativas: A leucopenia ocorre em função de 2 situações principais: 1. Neutropenia: Determinados medicamentos. Intoxicações exógenas. Doenças profissionais. Síndromes mielodisplásicas. Hiperesplenismo. Síndrome de Felty. Pós-radioterapia. 2. Linfopenia: Infecção por HIV/AIDS. Rubéola. Sarampo. Doença de Hodgkin. Uso de drogas imunossupressoras. Ops! Sempre iniciar a interpretação da série vermelha por: contagem de hemácias, hematócrito e hemoglobina, respectivamente. Sempre iniciar a interpretação da série branca por: valor global de células, seguida da célula específica que se encontra aumentada (no caso da leucocitose) ou reduzida (no caso da leucopenia), uma vez que essa é provavelmente a causa do aumento ou redução dos leucócitos.