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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO, NOVAS TECNOLOGIAS E CONTEMPORANEIDADE. PAULO VIANA CUNHA ANALFABETISMO DIGITAL: ensaio sobre o uso das tecnologias de informação nos ambientes escolares públicos JUAZEIRO-BA 2016 UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EMEDUCAÇÃO, NOVAS TECNOLOGIAS E CONTEMPORANEIDADE. PAULO VIANA CUNHA ANALFABETISMO DIGITAL: ensaio sobre o uso das tecnologias de informação nos ambientes escolares públicos JUAZEIRO – BA 2016 Artigo científico submetido ao Programa de Pós Graduação em Educação, Novas tecnologias e Contemporaneidade da UNIVASF, como requisito para a conclusão do curso de especialização. Prof.ª Orientadora:Dr ª. Dinani Amorim Membros da Banca: Profª Thaise Gama Brito Profº Eduardo Magno Santos de Brito Analfabetismo Digital: ensaio sobre o uso das tecnologias de informação nos ambientes escolares públicos Paulo Viana Cunha pauloviana.cunha@bol.com Pós-graduando do curso de Educação, Contemporaneidade e Novas Tecnologias, UNIVASF. Resumo Este trabalho tem por objetivo analisar questões inerentes falta de alfabetização digital nas escolas e quais os problemas gerados a partir dessa ausência sistematizada de ensino. Para entender as disfunções advindas da falta de uma alfabetização digital correta no ambiente escolar, foi feita uma análise e um levantamento bibliográfico de textos e livros que tratam sobre a questão em si. A principal meta foi identificar através de uma reflexão crítica quais os resultados que o analfabetismo digital gera na construção do conhecimento autônomo do discente e como isso atinge grande parte das escolas brasileiras. . Palavras-chave: Alfabetização digital, tecnologias, escola, educação e cidadania. Digital Illiteracy: essay on the use of information technologies in school environments Abstract This text aims to analyze problems inherent lack of digital literacy in schools and what problems generated from this systematic lack of education. To understand the dysfunctions resulting from the lack of a correct digital literacy at school, it was made an analysis and bibliographic kevantamento texts and books that deal with the issue itself. The main goal was to identify through a critical reflection which the results that digital illiteracy generates in the construction of self-knowledge of the student and how it affects most Brazilian schools. . Keywords: digital literacy, technology, school, education and citizenship. Introdução A alfabetização de um indivíduo é um dos elementos mais importantes de um Estado Democrático de Direito, pois é por meio dela que há um processo de construção de conhecimento formal a partir da decodificação de sinais e símbolos, tão usuais nos sistemas educativos e na vida social. De fato, o processo de alfabetização do homem está presente em sua vida desde sua existência, visto que esse processo tornou-se imprescindível para que o mesmo pudesse aperfeiçoar suas criações, bem como conservar e perpetuar sua cultura ao longo do tempo (GILES, 1987). Percebe-se isso quando observamos os vários períodos da história humana, atingindo até mesmo o período neolítico e paleolítico. A alfabetização em dados momentos teve seu processo modificado em virtude da sociedade a qual estava inserida, pois como se trata de um processo educativo, é o momento histórico que determina sua funcionalidade. Batista (2006, p.16), define a alfabetização como um processo em que a designação na leitura propicia a capacidade de decodificar sinais e símbolos, onde há a partir disso uma transformação em sons diversos, seja linguístico ou simplesmente sonoro, o que vai ser transformado em sinais gráficos. Esse conceito de alfabetização ao longo do tempo foi perdendo espaço e sendo paulatinamente substituído por outros conceitos que estavam em consonância com as novas realidades sociais e políticas. Assim sendo, não é possível considerar alfabetizado apenas aqueles que sabem ler, mas somente aqueles que interpretam de forma correta os dados que recebem. Com isso, pode-se definir atualmente alfabetização como: [...] o processo de inserção e participação na cultura escrita. Trata-se de um processo que tem início quando a criança começa a conviver com as diferentes manifestações da escrita na sociedade (placas, rótulos, embalagens comerciais, revistas, etc.) e se prolonga por toda a vida, com a crescente possibilidade de participação nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, como a leitura e redação de contratos, de livros científicos, de obras literárias, por exemplo. (VAL, 2006, p. 19). Surgiram ao longo do processo educativo concepções sobre novos métodos de alfabetização, onde a forma mecanicista foi perdendo espaço para outras ideias, em específico a ideia do letramento como parte de um processo de alfabetização eficiente. Nesse entendimento ficou claro que a simples decodificação da linguagem escrita não era suficiente para que o indivíduo pudesse viver de forma eficaz a cultura da escrita, bem como não correspondia às necessidades sociais das novas sociedades. Após a análise desses pressupostos teóricos nota-se que o objetivo desse trabalho consiste em perceber de que forma o analfabetismo digital afeta o processo de ensino aprendizagem em alunos das escolas públicas brasileiras (especialmente os alunos do ensino fundamental II), bem como identificar as causas e consequências geradas pelo uso irracional dos sistemas de software em ambientes escolares. Além disso, esse trabalho acadêmico tem como meta contribuir de forma significativa para um novo olhar acadêmico e social no que tange as novas formas de aprender e ensinar oriundas de uma nova linguagem informacional, ligada quase que exclusivamente as tecnologias da informação. O percurso metodológico desse trabalho contou com o levantamento das referências bibliográficas aqui descritas, bem como uma análise e reflexão sobre o tema e os seus desdobramentos no contexto sócio educativo. O recorte temporal foi feito com base nos últimos dez anos (2005 a 2015) devido a grande massificação das tecnologias da informação nesse periodo. O trabalho foi dividido três subtítulos, além da introdução e considerações finais, a fim de que o leitor identifique de forma mais tranqüila o conteúdo e reflita sobre a aplicação dos mesmo nas inúmeras situações reais do cotidiano. Letramento digital: nova proposta metodológica de ensino aprendizagem Ademais, a ideia de letramento pressupõe que o sujeito deve além de possuir a capacidade sobre a escrita e a leitura, ser capaz de inferior diversas interpretações sobre aquilo que está escrito, bem como ter o domínio cognitivo da leitura contextos variados. Com isso, o indivíduo que possui um processo de alfabetização completo passa a ser também um sujeito letrado: [...] a garantia do acesso à leitura e produção de diferentes gêneros textuais por si só não assegura a construção de sujeitos leitores e escritores autônomos. [...] e ainda chama a atenção de que se pode ser letrado sem ser alfabetizado. Em ambos os casos, não há a construção de sujeitos leitores e escritores autônomos (SANTOS e ALBUQUERQUE, 2005, p. 98). Desse modo, o processo de aprendizagem do letramento tem início quando o indivíduo tem acesso a diversos meios escritos, incluindo a o uso da língua escrita e com objetivos bem definidos. Em paralelo a isso, a alfabetizaçãoem si ocorre somente com o ingresso em uma instituição formal de ensino. Nesse novo contexto, a alfabetização escolar trabalha como métodos claros de ensino, como a aprendizagem do sistema alfabético e análises e reconhecimentos de elementos da língua escrita. Ocorre que quando esse processo acontece de forma dissociada de um processo de letramento, a alfabetização não é concluída com êxito, gerando dificuldades que atinge esse indivíduo em toda sua jornada de aprendizagem, causando problemas em outras áreas, como o analfabetismo funcional. Esse elemento influi na capacidade até mesmo de o sujeito adquirir uma compreensão correta acerca das informações advindas do meio tecnológico, causando e aprofundando o analfabetismo digital. A ampliação dos meios de comunicação no mundo e consequentemente no Brasil permitiram que a informação chegasse ao indivíduo com extrema rapidez, a partir de um simples clique. O mundo pós-moderno criou sistemas próprios de comunicação e de aprendizagem, onde a internet tem um papel fundamental para auxiliar a busca e recuperação das informações. Nesse aspecto, os diversos programas de alfabetização digital existentes pautam-se na inserção do conhecimento utilizado racionalmente como um caminho para a democratização da informação, caracterizada ela busca da responsabilidade social, o que visa tornar os indivíduos mais conscientes sobre seu papel na sociedade. Um dos grandes problemas está no fato de que em muitas escolas não há acesso a esses programas de alfabetização digital por diversos motivos, que vão da falta de recursos financeiros ao mau planejamento administrativo e pedagógico. Diante dessas premissas, verifica-se então que além da falta de equipamentos informáticos ou de um maior investimento em sistemas de informações, não há uma concepção clara de alfabetização digital nas escolas direcionada para a comunidade escolar que construa um conhecimento racional a partir do uso inteligente dos sistemas, que é o planejamento adequado para o uso desses sistemas. Ser alfabetizado digitalmente nada tem haver com o uso de equipamentos tecnológicos, seja de uso coletivo ou individual. A alfabetização digital tem como proposta fundamental a capacitação individual, por meio de um processo formal de aprendizagem, de buscar, acessar, recuperar e utilizar de forma consciente e consistente as informações que estão dispostas nos meios informacionais. E esse processo está ausente em muitas escolas do Brasil, pois falta capacitação para docentes e discentes, sobre como usar os sistemas informações, quando usá-los e quais os aparelhos mais apropriados para pesquisa, bem como downloads etc, caracterizados pelo uso irracional dos equipamentos e sistemas e aprofundado pela perpetuação do analfabetismo digital nos ambientes escolares. As principais causas do analfabetismo digital nas escolas Existem diversas causas para que se possa explicar o analfabetismo digital em ambientes escolares públicos, mesmo naqueles locais em que existe já um investimento tecnológico no que se refere a computadores e sistemas de informação, bem como o amplo acesso individual dos discentes aos aparelhos telefônicos, que permitem acesso à internet sem fio. Logicamente que o acesso a esses elementos é imprescindível para que os alunos ingressem no sistema digital e pelo menos comecem a perceber a funcionalidade dos softwares e hardwares. Só que como já foi mencionado, isso apenas não basta, pois a dimensão gerada pelo acesso as novas mídias perpassa pelo conhecimento e uso racional dos sistemas. A primeira causa que pode explicar o analfabetismo digital na escola perpassa pelo papel do docente nesse processo, incluindo sua formação na área de novas tecnologias. Existem atualmente cursos que trabalham com a introdução as tecnologias da informação para docentes na educação. Mas o problema reside no fato de que o investimento ainda é muito pouco na formação docente, bem como o direcionamento intelectual de tais cursos estão sob um viés muito produtivista. Outra causa que pode ser apontada como preponderante para o analfabetismo digital nas escolas é o analfabetismo funcional. O analfabeto funcional é aquele que lê e escreve, mas não consegue interpretar e escrever de forma objetiva o que foi lido. Possui uma alfabetização cultural, mas não possui conhecimentos para operar o meio digital. O índice de analfabetismo no Brasil durante o ano de 2001 alcançou quase que 12,4% da população (IBGE, 2002). O analfabetismo no Brasil em 1999 atingiu um total de 22,8 milhões de brasileiros, cerca de 13,8% da população com mais de 15 anos de idade, com o analfabetismo superando a casa dos 10% (UNESCO, 2001). Em 2010 houve uma pequena queda na taxa de analfabetos, mas na região nordeste cerca de 28% da população de 15 anos ou mais não sabia ler nem escrever, sendo a maior média obtida em todo o país (IBGE, 2010). Em municípios com até 10 mil habitantes 7,2% não sabia nem ler e escrever (IBGE, 2010). Ainda constatou-se que dos 1.304 municípios brasileiros que tinham taxas de analfabetismo iguais ou superiores a 25%, grande maioria ainda não oferecia programas de tecnologias da informação para os discentes, agravando-se nos anos finais do ensino fundamental II, tendo destaque negativo o município de Monte Santo com 35,6% da população nessa situação (IBGE, 2010). O uso não racional dos equipamentos de software e hardware de forma adequada é considerado outra causa para a expansão do analfabetismo digital. É possível afirmar com muita tranqüilidade que muitos indivíduos possuem e reconhecem diversos dispositivos digitais, bem como detenham algumas habilidades para o uso e manuseio de máquinas digitais. Ocorre que a falta de letramento digital aprofunda a exclusão, pois apesar de saberem muito do uso do dispositivo (hardware), falta ainda conhecimento sobre o software (THOMAZ, 2011). Um elemento que pode ser atribuído ao crescimento do analfabetismo digital nas escolas nesse trabalho é o fomento e a criação de um componente curricular específico na educação básica sobre o uso de tecnologias da informação, com o professor habilitado para exercer essa função. Isso não se confunde com o trabalho que é feito de forma isolada pelos professores de informática. Pelo contrário, visa dar autonomia pedagógica a área, e isso deve estar disposto no projeto político- pedagógico da escola. É nítido que apenas a inserção da tecnologia em outras disciplinas da base comum ainda não consegue surtir efeito como deveria, por inúmeros fatos já aqui retratados. As principais conseqüências do analfabetismo digital nas escolas As transformações que foram geradas pelas relações sociais de produção levaram mudanças à educação. A formação de professores as TICs criaram novos elementos importantes para a comunidade escolar, devido à diversificação de diversos campos de saberes de educadores, sendo necessária uma revisão na formação docente nas TICs e EAD. Freitas (1997) aponta para uma necessidade de rever pontos importantes na política nacional de valorização dos professores, para incluir nessa formação questões interessantes, como tempo exclusivo para se trabalhar processos tecnológicos em sala com os discentes. Conseqüentemente fica claro que a falta de acesso do professor aos conhecimentos básicos de uso inteligente de softwares prejudica os discentes. Mesmo diante de muitas inovações no que se refere a avanço da tecnologia escolar, é necessário que a escola propicie elementos que possibilitem a todos a construção do saber como ciência. Saviani(2003, p. 15) desponta com um excelente argumento, onde para o autor o saber quando sistematizado torna-se uma cultura letrada. Por isso que é de extrema importância o não abandono da escola a seu papel básico, que é de propiciar ao individuo instrumentospara que decodifique os códigos da sociedade atual. As TICs não podem ser vistas como algo separada da escola ou algo totalmente desvinculado da sociedade, pois as relações estabelecidas com o saber e entre os indivíduos não se distanciam daquelas construídas na escola tradicional. Logicamente que há interferência direta na alfabetização digital nos casos de alunos que são analfabetos funcionais, pois não conseguem decodificar símbolos escritos, entender de forma profunda e refletir sobre aspectos importantes do processo educativo, como inclusão digital a baixo custo, para todas as escolas. Dentro disso, o analfabetismo funcional, que antes ficava restrito as salas de aulas e principalmente as leituras cotidianas dos diferentes tipos de texto, agora invade os meios digitais, prejudicando o desempenho escolar do aluno. No Brasil, há uma clara distinção, como em muitos países, sobre o termo alfabetização e letramento. Soares (2004) infere que houve uma constatação de que mesmo em países desenvolvidos, a população jovem e adulta apresentava dificuldades na leitura e escrita, mesmo após estar alfabetizada. A alfabetização digital não está ancorada somente nos aspectos ligados a conhecimentos técnicos de informática, como ligar o computador e até mesmo pesquisar informações pedidas aquele indivíduo. Vai muito mais, além disso, pois como ocorre com a alfabetização tradicional, sem um processo de letramento adequado, a pesquisa e o uso dessas tecnologias pelo sujeito não são eficazes como deveriam. É necessário que esse sujeito possua a habilidade e a capacidade de além de captar a informação, decodificá-la para que se tenha uma compreensão crítica dos conhecimentos embutidos no mundo digital. O reconhecimento de saberes básicos eleva a utilização das novas tecnologias, pois esse sujeito vai além da informação meramente exemplificativa ou ilustrativa. Ele atua no sentido de entender essa informação e todos os elementos que a cercam, como a fonte em que foi produzida, a confiabilidade dessa informação, os diferentes tipos de sites e suas especializações em dadas notícias ou informações e questiona até mesmo como a produção de ciência pelos meios tecnológicos afetam seu cotidiano. Nesse sentido, a alfabetização digital está atrelada ao letramento digital, onde vai além da simples leitura, mas sim de entender, de dar sentido ao que se está lendo. É um exercício de interpretação contínua. Consequentemente, a alfabetização digital fomenta a minimização da desigualdade social no contexto mundial (BARROS, 2005). A alfabetização é um processo que está presente em toda a existência do ser humano, pois compreende a incorporação de elementos geracionais ligados a cultura da leitura e da escrita. O processo de alfabetização e letramento é um fato tecnológico, que abarca aspectos culturais e educativos. Consequentemente, a simples incorporação da internet na escola não resolve o problema da inclusão digital como instrumentos para a redução da desigualdade social. É preciso alfabetizar e letrar digitalmente esse sujeito, pois há uma extrema necessidade em desenvolver as habilidades efetivas dos alunos. A transformação do ambiente para que se possa chegar a um resultado de qualidade, que é o aprendizado contempla além da conectividade com a internet, outros elementos como a educação quanto ao uso do hardware, dos conteúdos e a própria formação dos docentes para o desenvolvimento da informática na educação (COSTA e OLIVEIRA, 2004). A alfabetização digital possui juntamente com o letramento digital papel central no desenvolvimento educacional do aluno, pois tende a proporcionar ao sujeito o exercício da cidadania (LEMOS 2007). É interessante notar que analfabeto digital mesmo com algumas dificuldades já consegue reconhecer o computador como máquina diferente de outros aparelhos, com acesso ao computador e a internet, utilizando diversos tipos de páginas eletrônicas. Ocorre que o problema está fincado na dificuldade de muitos em não entender de forma clara e concisa as informações que estão adquirindo nas máquinas, ou mesmo fazer um juízo de valor sobre as mesmas. A utilização do hardware e do software inclui o acesso à internet de qualidade, com acesso as diversas fontes em busca de informações, para que as organizando e tabulando-as possa gerar conhecimento, proporcionar a cooperação entre os indivíduos por meio de redes sociais (SILVEIRA, 1996). Maria Helena Silveira Bonilla (1997) destaca que O computador é um recurso que pode desencadear essa nova dinâmica porque possibilita o fazer, o executar e criar coisas, encurtar distâncias e facilita a comunicação. Portanto, a sua utilização na educação – principalmente quando ligado em rede – significa uma possibilidade de estruturar, potencializar, fortalecer novas ideias; ideias que podem transformar a escola em um espaço vivo de produção, recepção e socialização de conhecimentos (BONILLA, 1997, p.2). Nesse contexto pós-moderno, é necessário salientar que embora muitos considerem o computador e seus acessórios, em si mesmos, como ferramentas análogas ao lápis e ao livro, a grande parte da população brasileira não sabe usá-los e nem conhece suas potencialidades, tampouco os seus limites (BONILLA, 1997). A interatividade, a velocidade, o complexo de relações e o dinamismo estabelecido entre seus componentes provoca, principalmente no adulto, certo estranhamento, o que dificulta o processo de familiarização deste com a máquina. Consequentemente, para que se faça o uso racional das TICs, é necessária a criação de critérios bem definidos para o uso. E isso pode ser feito pela própria escola. Um exemplo bem claro disso está no sistema de pesquisas de informações. Na pesquisa feita por um provedor de internet, é possível averiguar informações em diversos sites bancos de dados, blogs etc. Ocorre que durante a pesquisa, inúmeras informações são encontradas sobre o mesmo fato, objeto etc. Com um uso racional dos sistemas, é possível que o aluno apesar de encontrar várias informações, saiba diferenciar as confiáveis das não confiáveis. Para muitos professores, a tendência é de que a internet seja usada para bate papo informal. Nesse contexto, muitas escolas usam os computadores e os sistemas de softwarepara entreter o aluno, deixando-o livre para explora-lo. Esse tipo de metodologia em longo prazo não se sustenta, pois o aluno tende a ficar sozinho processando informações, transformando em receptáculos de outras culturas e fragmentando sua própria cultura (BONILLA, p.2, 1997). Ana Rita Firmino da Costa (1995), aponta que quando não há projeto definido, um elemento racionalizador que transforme a pesquisa em instrumento de busca pelo conhecimento, a comunicação e o aprendizado tem curta duração, sem construção efetiva de conhecimento. Para isso, o individuo deve estar alfabetizado digitalmente, conhecer as diferenças básicas de sites e blogs, por exemplo, ou de bancos de informações de domínio público para bancos de informações privados. O sujeito tem que saber distinguir informação primária de informação secundária. Isso é alfabetização digital. É proporcionar ao aluno não somente o acesso a tecnologia, mas fazer com que ele se insira no mundo digital de forma completa. Malaquias (2011) aponta que para que haja inclusão com foco no exercício da cidadania plena é preciso acreditar que uma educação de qualidade inclui a alfabetização digital, bem como o acesso aos instrumentos tecnológicos que ele pode dispor, como deixa claro em sua fala: [...[ o Comitê para o Desenvolvimento da Informática brasileira (CDI) sustenta acertadamente que ao promover a inclusão social de populações menos favorecidas, utilizando as tecnologias da informação e comunicação como um instrumento para a construção e o exercício da cidadania, o país estará dando um grandepasso para as transformações sociais tão necessárias para o seu desenvolvimento (MALAQUIAS, 2011, p. 1). Diante disso, é elementar que se entenda a incapacidade do sistema educativo em proporcionar uma educação tecnológica de qualidade aos discentes, criando analfabetos digitais no próprio sistema escolar formal, gerando assim distorções no contexto socioeducativo. http://www2.ufba.br/~bonilla/dissertacao/bibliografia.htm#costa Considerações Finais Ao considerarmos os processos educativos que ocorrem nas escolas públicas brasileiras, é possível observar que mesmo diante de um processo ativo e construtivo por meio de uso de mídias digitais, o analfabetismo digital é uma realidade das escolas públicas brasileiras. Isso se deve, como foi visto, a inúmeras causas, como a falta de formação adequada aos docentes, o analfabetismo funcional, o uso não racional dos sistemas digitais e a falta de adequação curricular para a inserção de forma mais completa da tecnologia da informação. É preciso considerar esses quatro pontos, de forma conjunta, para superar o abismo que existe entre aqueles que sabem ler digitalmente e os que apenas possuem algumas habilidades de forma incompleta para o uso das mídias digitais. A escola e o docente possuem ainda a capacidade de propor essa articulação, onde o professor pode articular saberes adequados para viabilizar o conhecimento a ser construído pelo aluno. Logicamente, que apenas isso não basta, é necessária ainda a inclusão nos currículos escolares de disciplinas que possibilitem a compreensão correta dos alunos sobre o dos sistemas de comunicação digital. Isso não quer dizer que as outras disciplinas não devem trabalhar tecnologia de forma contextualizada e interdisciplinar. Mas o fato é que as TICs mudam constantemente, são atualizadas de forma quase que instantânea, que exige um olhar mais minucioso sobre elas. É preciso ações no sentido de orientar o aluno a usar a informação que ele obtém, com pesquisa séria e de qualidade. Então duas ações se fazem necessárias para que de forma mais célere haja uma transformação nessa área da educação: profissionalização e capacitação de docentes para direcionar as ações dos alunos durantes o uso das tecnologias nas escolas públicas e a criação de uma disciplina especifica com um currículo reformado, com política de Estado clara sobre o tema tão necessário para o país, tanto do ponto de vista do conhecimento em si como com relação ao processo de produção e distribuição de renda. Fazendo isso, será possível num futuro próximo, diminuir de forma gradativa o analfabetismo digital, possibilitando o acesso ao conhecimento de qualidade, com direcionamento a construção de saberes que perpassem os muros das escolas. REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, Eliana B. C. et al. Alfabetização e letramento: conceitos e relações. Belo Horizonte: Autêntica, 2005 BATISTA, Antônio A. G. 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