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Direito Civil III – Teoria Geral dos Contratos
Profa Myriam Benarrós Clementoni
Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho. Novo Curso de Direito Civil. Parte Geral, 
2012.
1
RESPONSABILIDADE CIVIL
ETIMOLOGIA (Ciência que investiga a origem, étimo, das palavras procurando 
determinar as causas e circunstâncias de seu processo evolutivo).
Responsabilidade é um substantivo feminino com origem no latim e que 
demonstra a qualidade do que é responsável, ou obrigação de responder 
por atos próprios ou alheios, ou por uma coisa confiada. A palavra 
responsabilidade tem sua origem na palavra latina responsus, particípio 
passado do verbo respondere, que significa "responder, prometer em 
troca", i.e, no sentido filosófico, comprometer-se em responder pelas 
próprias ações e pelas consequências que decorrem de tais ações. Desta 
forma, uma pessoa que seja considerada responsável por uma situação ou 
por alguma coisa, terá que responder se alguma coisa corre de forma 
desastrosa. 
A origem do termo se encontra na obra The Federalist, uma recolha de 
artigos escritos por Alexander Hamilton, John Jay e James Madison, 
publicada em 1788, onde o termo foi usado pela primeira vez para indicar 
que o governo dos Estados Unidos é responsável pelas próprias ações em 
face do povo que lhe delegou seus poderes.
Na filosofia de Aristóteles o conceito de responsabilidade implica aquele 
de liberdade e livre arbítrio, no sentido de que cada um pode ser 
considerado responsável pelas suas ações se essas foram efetivadas com 
base em uma livre escolha sem condicionamentos decorrentes de leis 
físicas, psíquicas ou socioeconômicas.
Civil é um adjetivo que provém do substantivo latino civis (cidadão), 
significando tudo aquilo que concerne aos cidadãos.
 Direito civil é um ramo do Direito que trata do conjunto de normas 
reguladoras dos direitos e obrigações de ordem privada concernente às 
pessoas, aos seus direitos e obrigações, aos bens e às suas relações.
Responsabilidade civil é o dever de reparar os danos provocados numa 
situação onde determinada pessoa sofre prejuízos jurídicos como 
consequência de atos ilícitos praticados por outrem.
Direito Civil III – Teoria Geral dos Contratos
Profa Myriam Benarrós Clementoni
Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho. Novo Curso de Direito Civil. Parte Geral, 
2012.
2
PRECEDENTE HISTÓRICO DA RESPONSABILIDADE CIVIL
Encontramos no direito romano a Lex Aquilia (plebiscito 
provavelmente do século III a.C.) que, certamente, foi o alicerce para o 
desenvolvimento da atual responsabilidade civil baseada na culpa. 
É a Lex Aquilia que nos traz um princípio geral que regula a reparação 
do dano, mas adverte José de Aguiar Dias que, "embora se reconheça que 
não contivesse ainda uma regra de conjunto, nos moldes do direito 
moderno, era, sem dúvida, o germe da jurisprudência clássica com relação 
à injúria"1. A Lex Aquilia se dividia em três capítulos. No primeiro, havia a 
regulamentação dos casos de morte de escravos e de quadrúpedes que 
pastam em rebanho; o segundo, o dano causado por um credor menor ao 
credor principal, que conseguia a quitação de sua dívida em prejuízo do 
credor principal; o terceiro, que é o que nos interessa, tratava do damnum 
iniuria datum, que compreendia o dano por ferimento causado aos 
escravos e animais do primeiro capítulo e a destruição ou deterioração de 
coisas corpóreas. Este terceiro capítulo é a parte mais importante da lei, 
pois, foi através dela que os jurisconsultos e pretores construíram a 
verdadeira doutrina romana da responsabilidade extracontratual. 
"O damnum injuria datum consistia na destruição ou deterioração da 
coisa alheia por fato ativo que tivesse atingido a coisa corpore corpori 
illatum (produzir ao corpo com o corpo = dano físico), sem direito ou 
escusa legal (injúria)". Em princípio, só o dono lesado tinha direito à 
reparação; com o tempo, adaptando-se à necessária evolução da matéria, 
foi concedida tanto aos possuidores diretos como aos indiretos e também 
a certos detentores. 
[Exerce a posse indireta o proprietário da coisa, o qual, apesar de 
possuir o domínio do bem, concede ao possuidor direto o direito de 
possuí-la temporariamente. É o caso do locador, proprietário do 
imóvel que, ao alugá-lo, transfere a posse direta da coisa ao 
locatário.]
1 Iniuria em latim significa ofensa, injustiça. O significado jurídico da palavra, no direito 
romano, é a violação de um direito, ato ilícito. 
Direito Civil III – Teoria Geral dos Contratos
Profa Myriam Benarrós Clementoni
Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho. Novo Curso de Direito Civil. Parte Geral, 
2012.
3
Esta lei introduziu o elemento subjetivo da culpa, sendo necessária a 
caracterização da intenção da pessoa querer causar lesão à outra, 
excluindo-se o objetivismo do direito primitivo, "... expurgando-se do 
direito a ideia de pena, para substituí-la pela de reparação do dano 
sofrido". 
ATO ILÍCITO E RESPONSABILIDADE CIVIL
1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS E CONCEITUAIS
Quando estudamos o fato jurídico2, vimos que, segundo a melhor 
doutrina, o ato jurídico3 (em sentido amplo) é toda ação humana lícita, 
positiva ou negativa, apta a criar, modificar ou extinguir direitos e 
obrigações.
Entretanto, por vezes, pode a pessoa atuar contrariamente ao 
direito, violando as normas jurídicas e causando prejuízo a outrem.
Neste último caso, estaremos diante de uma categoria própria, 
denominada ato ilícito, conceito difundido pelo Código Civil alemão, 
consistente no comportamento humano voluntário, contrário ao direito, e 
causador de prejuízo de ordem material ou moral.
SÉRGIO CAVALIERI FILHO4, com precisão, define-o como sendo “o ato 
voluntário e consciente do ser humano, que transgride um dever jurídico”.
Do exposto, poderemos extrair os seguintes elementos componentes 
do ato ilícito:
a) ação humana (positiva ou negativa);
2 Reale, Miguel. Lições preliminares de Direito. São Paulo: Saraiva 2002. Afirma o 
mestre paulista que “fato jurídico é todo e qualquer fato que, na vida social, venha a 
corresponder ao modelo de comportamento ou de organização configurado por uma 
ou mais normas de direito”.
3 Ibidem. Explica, ainda, Miguel Reale que, às vezes, “o fato não é mero acontecimento 
natural, mas, ao contrário, algo que se prende à deliberação volitiva do homem, à qual 
a norma jurídica confere consequências de direito, tais como as de constituir, 
modificar ou extinguir uma “relação jurídica”, ou mais amplamente, uma ‘situação 
jurídica’. Eis que teremos, nesses casos, os atos jurídicos.
4 Cavalieri Filho, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. São Paulo, 2000, p. 22.
Direito Civil III – Teoria Geral dos Contratos
Profa Myriam Benarrós Clementoni
Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho. Novo Curso de Direito Civil. Parte Geral, 
2012.
4
b) contrariedade ao direito ou ilicitude (violação de dever jurídico 
preexistente);
c) prejuízo (material ou moral).
“A iliceidade de conduta está no procedimento contrário ao dever 
preexistente”, adverte CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA. E arremata: 
“Sempre que alguém falta ao dever a que é adstrito, comete um ilícito, e 
como os deveres, qualquer que seja a sua causa imediata, na realidade 
são sempre impostos pelos preceitos jurídicos, o ato ilícito importa na 
violação do ordenamento jurídico”5.
2. DA INEXISTÊNCIA DE DIFERENÇA ONTOLÓGICA6 ENTRE ILÍCITO 
CIVIL E PENAL
A noção de ato ilícito não interessa apenas ao Direito Civil, mas toca a 
todos os outros ramos do Direito.
Aliás, reputamos inteiramente írrita a discussão infindável a respeito 
dos critérios diferenciadores dos ilícitos civil e penal.
De fato, na responsabilidade civil, o agente que cometeu o ilícito tem 
a obrigação de reparar o dano patrimonial ou moral causado, buscando 
restaurar o status quo ante, obrigação esta que, se não for mais possível, é 
convertida no pagamento de uma indenização (na possibilidade de 
avaliação pecuniária do dano) ou de uma compensação (na hipótese de 
não se poder estimarpatrimonialmente este dano), enquanto, pela 
responsabilidade penal ou criminal, deve o agente sofrer a aplicação de 
uma cominação legal, que pode ser privativa de liberdade (ex.: prisão), 
restritiva de direitos (ex.: perda da carta de habilitação de motorista) ou 
mesmo pecuniária (ex.: multa).
Nas palavras de CARLOS ALBERTO BITTAR, “a reparação representa 
meio indireto de devolver-se o equilíbrio às relações privadas, obrigando-
se o responsável a agir, ou a dispor de seu patrimônio para a satisfação 
5 Silva Pereira, Caio Mário da . Instituições de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2001, v. 
1, p. 416.
6 Ontológico significa “refere-se ao sujeito em si mesmo” 
Direito Civil III – Teoria Geral dos Contratos
Profa Myriam Benarrós Clementoni
Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho. Novo Curso de Direito Civil. Parte Geral, 
2012.
5
dos direitos do prejudicado. Já a pena corresponde à submissão pessoal e 
física do agente, para restauração da normalidade social violada com o 
delito”, pois o “princípio que governa toda essa matéria é o do alterum 
non laedere (não lesar a outrem) ou neminem laedere (não lesar ninguém) 
— um dos princípios gerais do direito — consoante o qual a ninguém se 
deve lesar, cujos efeitos em concreto se espraiam pelos dois citados 
planos, em função do interesse maior violado (de pessoa, ou de pessoas, 
de um lado; da sociedade ou da coletividade, de outro) e conforme a 
técnica própria dos ramos do Direito que a regem, a saber: a) Direito Civil 
(para as violações privadas) e b) o Direito Penal (para a repressão 
pública)”7.
[Ulpiano, D. 1.1.10pr.: “Iuris praecepta sunt haec: honeste vivere, 
alterum non laedere, suum cuique tribuere” – “Os preceitos do direito 
são estes: viver honestamente, não lesar a outrem, dar a cada um o que 
é seu.”] 
É preciso, contudo, que fique claro que ambos os casos 
(responsabilidade civil e responsabilidade criminal) decorrem de um fato 
juridicamente qualificado como ilícito ou, em outras palavras, como não 
desejado pelo direito, pois praticado em ofensa à ordem jurídica, violando 
direito subjetivo.
Desta forma, conforme aponta WLADIMIR VALLER, baseado em 
NÉLSON HUNGRIA, a “ilicitude jurídica é uma só, do mesmo modo que um 
só, na sua essência, é o dever jurídico. Em seus aspectos fundamentais há 
uma perfeita coincidência entre o ilícito civil e o ilícito penal, pois ambos 
constituem uma violação da ordem jurídica, acarretando, em 
consequência, um estado de desequilíbrio social. Mas, enquanto o ilícito 
penal acarreta uma violação da ordem jurídica, quer por sua gravidade ou 
intensidade, a única sanção adequada é a imposição da pena, no ilícito 
7 Bittar, Carlos Alberto. Responsabilidade Civil — Teoria & Prática. Rio de Janeiro: 
Forense, 1990, p. 3.
Direito Civil III – Teoria Geral dos Contratos
Profa Myriam Benarrós Clementoni
Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho. Novo Curso de Direito Civil. Parte Geral, 
2012.
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civil, por ser menor a extensão da perturbação social, são suficientes as 
sanções civis (indenização, restituição in specie, anulação do ato, execução 
forçada, etc.). A diferença entre o ilícito civil e o ilícito penal é, assim, tão 
somente, de grau ou de quantidade”8.
A diferença não está, portanto, na constituição essencial de um ou 
outro, mas, sim, no grau mais ou menos severo de resposta do próprio 
ordenamento jurídico violado.
Apenas a natureza do interesse tutelado e a força da sanção imposta 
em face do descumprimento da norma dirão se estamos diante de um 
ilícito civil ou penal.
Figuremos um exemplo simples.
Um sujeito, guiando o seu veículo imprudentemente, ultrapassa o 
sinal vermelho e atropela um pedestre, causando-lhe grave lesão física.
O mesmo comportamento humano positivo, com acentuada carga de 
ilicitude, violou normas de três ordens: administrativa, civil e penal.
Para cada uma, o ordenamento jurídico, considerando a natureza dos 
interesses atingidos (organização do tráfego, patrimônio e integridade 
física), previu mecanismos sancionatórios diferenciados: multa 
administrativa (Direito Administrativo), pagamento de indenização à 
vítima (Direito Civil) e privação da liberdade (Direito Penal).
Ora, diante de tal hipótese, conclui-se facilmente estarmos diante de 
apenas um comportamento humano, cujo espectro de ilicitude, por força 
da natureza dos interesses atingidos e das sanções impostas, tingiu-se de 
três diferentes matizes (administrativo, penal e civil).
O ato ilícito é uno, e não deve ser cindido na sua essência, senão 
quando se estuda a consequência dos seus efeitos nocivos, à luz dos 
diversos ramos do Direito.
Outra não é a conclusão a que chega CAIO MÁRIO, ao discorrer sobre 
a diferença entre o ilícito civil e o ilícito penal:
8 Valler, Wladimir. A Reparação do Dano Moral no Direito Brasileiro. Campinas-SP: E. V. 
Editora, 1995, p. 17.
Direito Civil III – Teoria Geral dos Contratos
Profa Myriam Benarrós Clementoni
Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho. Novo Curso de Direito Civil. Parte Geral, 
2012.
7
“Nesta análise cabe toda espécie de ilícito, seja civil, seja 
criminal. Não se aponta, em verdade, uma diferença ontológica 
entre um e outro. Há em ambos o mesmo fundamento ético: a 
infração de um dever preexistente e a imputação do resultado à 
consciência do agente. Assinala-se, porém, uma diversificação 
que se reflete no tratamento deste, quer em função da natureza 
do bem jurídico ofendido, quer em razão dos efeitos do ato. 
Para o direito penal, o delito é um fator de desequilíbrio social, 
que justifica a repressão como meio de restabelecimento; para 
o direito civil o ilícito é um atentado contra o interesse privado 
de outrem, e a reparação do dano sofrido é a forma indireta de 
restauração do equilíbrio rompido”9.
Posto isso, iniciaremos a análise do tema em nosso Direito Positivo.
3. TRATAMENTO NO CÓDIGO CIVIL DE 1916 E NO NOVO CÓDIGO 
CIVIL
O estudo do ato ilícito une-se umbilicalmente, como já se anteviu, ao 
problema da responsabilidade, tema dos mais apaixonantes em todo o 
Direito.
Segundo ZANOBINI, o termo “responsabilidade”, em sentido lato, 
presta-se a “indicar a situação toda especial daquele que, por qualquer 
título, deva arcar com as consequências de um fato danoso”10.
A responsabilidade jurídica, por seu turno, pode ser definida como 
sendo a consequência imediata da infração de um dever normativo 
preexistente, causador de lesão ao interesse jurídico que se pretendia 
tutelar.
No que se refere à responsabilidade civil, o prejuízo decorrente da 
violação normativa é essencialmente patrimonial, impondo-se ao agente 
9 Silva Pereira, Caio Mário da. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 
1992, v. I, p. 452-3.
10 Zanobini, cit. por Rui Stoco, Tratado de Responsabilidade Civil. São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 2001, p. 90.
Direito Civil III – Teoria Geral dos Contratos
Profa Myriam Benarrós Clementoni
Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho. Novo Curso de Direito Civil. Parte Geral, 
2012.
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causador do dano a obrigação de indenizar, desde que se observem os 
seguintes pressupostos:
a) ação humana (positiva ou negativa);
b) dano (material ou moral);
c) nexo de causalidade (entre o agente e o prejuízo);
d) imputabilidade (este último elemento é pressuposto somente da 
obrigação de indenizar, e não da responsabilidade civil, que a transcende, 
como veremos no tomo próprio).
Embora este não seja o momento próprio para desenvolvermos a 
matéria, vale a pena registrar que o elemento subjetivo (dolo ou culpa) 
não é mais um postulado inquestionável e um elemento indispensável 
para a caracterização da responsabilidade civil.
Com o desenvolvimento da teoria do risco, incrementada pelo 
avanço tecnológico do século XX, a responsabilidade civil subjetiva, 
fundamentada na ideia de culpa, tão defendida pelos irmãos MAZEAUD, 
cedeu lugar, paulatinamente, à responsabilidade civil objetiva.
Hoje, ambas as formas de responsabilidade convivem, havendo sido 
esta, inclusive,a posição adotada pelo Novo Código Civil: 
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), 
causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, 
independentemente de culpa, nos casos especificados em 
lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo 
autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os 
direitos de outrem” (grifamos).
De tudo que se disse, constatamos que o ato ilícito compõe a 
estrutura da responsabilidade civil.
O Código de 1916, em seu art. 159, assim o definia:
“Art. 159. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, 
negligência ou imprudência, violar direito, ou causar 
prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano.
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2012.
9
A verificação da culpa e a avaliação da responsabilidade 
regulam-se pelo disposto neste Código, arts. 1.518 a 1.532 
e 1.537 a 1.553”.
Observe-se que esse dispositivo, além de estar calcado na ideia de 
culpa, traduzida nas expressões “omissão voluntária, negligência ou 
imprudência”, impôs o dever de indenizar como consequência pelo 
prejuízo causado a outrem.
Não se preocupou, outrossim, o legislador de 1916, em reconhecer 
expressamente a reparabilidade do dano moral.
Entretanto, por não haver estabelecido proibição nesse sentido, 
sempre foi possível interpretar teleologicamente a palavra “prejuízo”, 
para abranger a indenização pela dor psicológica sofrida. Tal interpretação 
foi reforçada com a Constituição Federal de 1988, que, em seu art. 5.º, V e 
X, consagrou expressamente a reparabilidade do dano moral, fulminando 
de morte os que ainda resistiam a tal hermenêutica.
O Novo Código Civil, por sua vez, aprimorou sobremaneira esta regra 
legal, consoante decorre da leitura dos seus arts. 186 e 187:
“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, 
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a 
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato 
ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito 
que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites 
impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou 
pelos bons costumes” (grifos nossos).
4. O ABUSO DE DIREITO
Além de admitir, seguindo orientação constitucional, que o ato ilícito 
poderá produzir dano exclusivamente moral, o legislador, nos referidos 
arts. 186 e 187, cuidou também de prever, em norma expressa, a teoria 
do abuso de direito, apenas indiretamente reconhecida pelo Código de 
1916.
Direito Civil III – Teoria Geral dos Contratos
Profa Myriam Benarrós Clementoni
Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho. Novo Curso de Direito Civil. Parte Geral, 
2012.
10
Esta teoria desenvolveu-se a partir do célebre caso de Clement 
Bayard, julgado por um tribunal francês, no início do século passado. O 
proprietário de um imóvel, sem razão justificável, construiu altas hastes 
pontiagudas para prejudicar o voo de aeronaves no terreno vizinho. 
Cuidava-se de nítido abuso do direito de propriedade.
Analisando o art. 187 do CC-02, conclui-se não ser imprescindível, 
pois, para o reconhecimento da teoria do abuso de direito, que o agente 
tenha a intenção de prejudicar terceiro, bastando, segundo a dicção legal, 
que exceda manifestamente os limites impostos pela finalidade econômica 
ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Aliás, no apreciar a aplicação da teoria, deve o julgador recorrer à 
regra de ouro do art. 5.º da Lei de Introdução às normas do Direito 
Brasileiro:
“Art. 5.º Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais 
a que ela se dirige e às exigências do bem comum”.
Pronunciando-se a respeito do tema, pondera SILVIO RODRIGUES:
“Acredito que a teoria atingiu seu pleno desenvolvimento 
com a concepção de Josserand, segundo a qual há abuso de 
direito quando ele não é exercido de acordo com a finalidade 
social para a qual foi conferido, pois, como diz este jurista, os 
direitos são conferidos aos homens para serem usados de uma 
forma que se acomode ao interesse coletivo, obedecendo à sua 
finalidade, segundo o espírito da instituição”11.
Adotou-se, portanto, o critério finalístico para a identificação do 
abuso de direito.
Apenas a título de exemplificação, podemos apontar algumas 
hipóteses de abuso de direito: no Direito Contratual, a negativa 
injustificada, causadora de prejuízo, de contratar, após o proponente 
nutrir a legítima expectativa da outra parte; no Direito das Coisas, o uso 
11 Rodrigues, Silvio. Direito Civil — Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 1998, v. 1, p. 314.
Direito Civil III – Teoria Geral dos Contratos
Profa Myriam Benarrós Clementoni
Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho. Novo Curso de Direito Civil. Parte Geral, 
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11
abusivo do direito da propriedade, desrespeitando a política de defesa do 
meio ambiente; no Direito de Família, a exacerbação do poder correcional 
dos pais em relação aos filhos; no Direito do Trabalho, o exercício abusivo 
do direito de greve; no Direito Processual do Trabalho, a sanção cominada 
nos arts. 731 e 732 da CLT, aplicável especialmente ao reclamante, que 
não comparece por duas vezes à audiência designada, deixando arquivar 
(extinguir o processo sem julgamento do mérito) a reclamação, sempre 
que percebe a presença do reclamado, para tentar forçar uma revelia 
deste, no dia em que o mesmo esteja impedido de comparecer.
Em conclusão, transcrevemos a precisa observação feita por SÍLVIO 
VENOSA, de referência à expressa consagração da teoria do abuso de 
direito no Novo Código Civil brasileiro: “O Projeto, de forma elegante e 
concisa, prescinde da noção de culpa, no art. 187, para adotar o critério 
objetivo-finalístico. É válida, portanto, a afirmação apresentada de que o 
critério de culpa é acidental e não essencial para a configuração do abuso. 
Adota ainda o Projeto, ao assim estabelecer, a corrente majoritária em 
nosso meio”. 
5. CAUSAS EXCLUDENTES DE ILICITUDE
O exercício regular do direito, a legítima defesa e o estado de 
necessidade são causas excludentes de ilicitude, previstas em nosso 
direito positivo.
Nesse sentido, dispõe o art. 188 do Novo Código Civil, que mantém, 
com poucas modificações, diretriz já constante no Código de 1916 (art. 
160):
“Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
I — os praticados em legítima defesa ou no exercício 
regular de um direito reconhecido;
II — a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a 
lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo 
somente quando as circunstâncias o tornarem 
Direito Civil III – Teoria Geral dos Contratos
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Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho. Novo Curso de Direito Civil. Parte Geral, 
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absolutamente necessário, não excedendo os limites do 
indispensável para a remoção do perigo”.
Compare-se esse artigo com a previsão legal do Código de 1916:
“Art. 160. Não constituem atos ilícitos:
I — os praticados em legítima defesa ou no exercício 
regular de um direito reconhecido;
II — a deterioração ou destruição da coisa alheia, a fim de 
remover perigo iminente (arts. 1.519 e 1.520).
Parágrafo único. Neste último caso, o ato será legítimo, 
somente quando as circunstâncias o tornarem 
absolutamente necessário, não excedendo os limites do 
indispensável para a remoção do perigo”.
Dentro da noção de exercício regular de um direito enquadra-se, por 
óbvias razões, o estrito cumprimento do dever legal.
A legítima defesa (art. 188, I, primeira parte, do CC-02; art. 160, I, do 
CC-16) pressupõe a reação proporcional a uma injusta agressão, atual ou 
iminente, utilizando-se moderadamente os meios de defesa postos à 
disposição do ofendido.
A desnecessidade ou imoderação dos meios de repulsa poderá 
caracterizar o excesso, proibido pelo direito.
Vale lembrar que, se o agente, exercendo a sua lídima prerrogativade defesa, atinge terceiro inocente, terá de indenizá-lo, cabendo-lhe, 
outrossim, ação regressiva contra o verdadeiro agressor.
Nesse sentido, confiram-se os arts. 929 e 930 do CC-02:
“Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso 
do inciso II do art. 188, não forem culpados do perigo, 
assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que 
sofreram.
Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo 
ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o autor do 
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dano ação regressiva para haver a importância que tiver 
ressarcido ao lesado.
Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele 
em defesa de quem se causou o dano (art. 188, inciso I)”.
O estado de necessidade (art. 188, II, do CC-02; art. 160, II, do CC-16), 
por sua vez, consiste na situação de agressão a um direito alheio, de valor 
jurídico igual ou inferior àquele que se pretende proteger, para remover 
perigo iminente, quando as circunstâncias do fato não autorizarem outra 
forma de atuação.
Perceba-se que o parágrafo único do referido artigo de lei, similar à 
regra contida no art. 160 do CC-16, prevê que o estado de necessidade 
“somente será considerado legítimo quando as circunstâncias o tornarem 
absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável 
para a remoção do perigo”.
Diferentemente do que ocorre na legítima defesa, o agente não 
reage a uma situação injusta, mas atua para subtrair um direito seu ou de 
outrem de uma situação de perigo concreto.
É o caso do sujeito que desvia o carro de um bebê, para não atropelá-
lo, e atinge o muro da casa, causando danos materiais. Atuou, neste caso, 
em estado de necessidade.
Se o terceiro atingido não for o causador da situação de perigo, 
poderá exigir indenização do agente que houvera atuado em estado de 
necessidade, cabendo a este ação regressiva contra o verdadeiro culpado 
(o pai do bebê que, à luz do art. 933 do CC-02, responderá objetivamente 
pelo dano causado).
Finalmente, cumpre-nos advertir que, em situações excepcionais, os 
atos lícitos poderão impor a obrigação de indenizar.
É o caso da passagem forçada, prevista no art. 1.285 do Novo Código 
Civil:
“Art. 1.285. O dono do prédio que não tiver acesso à via pública, 
nascente ou porto, pode, mediante pagamento de indenização cabal, 
Direito Civil III – Teoria Geral dos Contratos
Profa Myriam Benarrós Clementoni
Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho. Novo Curso de Direito Civil. Parte Geral, 
2012.
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constranger o vizinho a lhe dar passagem, cujo rumo será 
judicialmente fixado, se necessário”.
Note-se que, neste caso, a obrigação de indenizar decorre de um ato 
perfeitamente lícito: o próprio direito de passagem, previsto no referido 
artigo de lei.
Ainda no campo dos Direitos Reais, também ocorre a obrigação de 
indenizar em decorrência de um ato lícito na hipótese prevista no art. 
1.313 do CC-02 (similar, posto não idêntica, à prevista no art. 587 do CC-
16):
“Art. 1.313. O proprietário ou ocupante do imóvel é obrigado a 
tolerar que o vizinho entre no prédio, mediante prévio aviso, para:
I — dele temporariamente usar, quando indispensável à 
reparação, construção, reconstrução ou limpeza de sua casa ou do 
muro divisório;
II — apoderar-se de coisas suas, inclusive animais que aí se 
encontrem casualmente.
§ 1.º O disposto neste artigo aplica-se aos casos de limpeza ou 
reparação de esgotos, goteiras, aparelhos higiênicos, poços e 
nascentes e ao aparo de cerca viva.
§ 2.º Na hipótese do inciso II, uma vez entregues as coisas 
buscadas pelo vizinho, poderá ser impedida a sua entrada no imóvel.
§ 3.º Se do exercício do direito assegurado neste artigo provier 
dano, terá o prejudicado direito a ressarcimento” (grifamos).
Excepcionalmente, portanto, a responsabilidade civil poderá decorrer 
de um comportamento humano admitido pelo direito.

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