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PATRÍCIA LIMA DE ALMEIDA Módulo: Controle de incidência tributária SEMINÁRIO 1: Regra-matriz de incidência, obrigação tributária e sujeição passiva 1. Que é norma jurídica? E regra-matriz de incidência tributária (RMIT)? Qual a função do consequente normativo? Norma jurídica remete à descrição de um fato ou evento que tenha repercussão jurídica. Nesse sentido, a regra matriz de incidência tributária seria um segmento da norma jurídica. A RMTI pode ser entendida como a estrutura organizada para a construção da norma, são os critérios que devem ser observados para incidência da norma jurídica, podendo ser segregada em dois principais institutos: (i) hipótese normativa e (ii) consequente normativo. Ocorrido o fato jurídico, nasce a hipótese legal estipulada no consequente normativo, que é justamente a incidência da norma no caso concreto, atingindo às partes envolvidas na relação jurídico- tributária. 2. Distinguir: obrigação tributária e deveres instrumentais. Multa pelo não pagamento caracteriza-se como obrigação tributária? Justifique analisando criticamente o art. 113 do CTN. A obrigação tributária consiste no vínculo jurídico existente entre uma pessoa, jurídica ou física, com o ente público que, mediante previsão legal, determina o dever de pagar, fazer ou não fazer alguma coisa. Estes últimos deveres são corriqueiramente conhecidos por obrigações acessórias, terminologia criticada por Paulo de Barros, ao argumento de que estes deveres, em verdade, não têm natureza obrigacional, pois lhes faltam conteúdo pecuniário e, muitas vezes, a própria essência de acessório. A partir desta crítica, tem sido preferível a utilização do termo “deveres instrumentais” ou “formais” para conceituais tais deveres jurídicos, que possibilitam a verificação, pelo Estado, do adequado cumprimento das obrigações decorrentes do pagamento dos tributos, como por exemplo, escrituração de livros, expedição de notas fiscais, declarações etc.. Neste contexto, a despeito da crítica a seguir proposta, o § 1º, do artigo 113 do CTN ao dispor que “a obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o crédito dela decorrente”, pode-se concluir que a multa pelo não pagamento do tributo caracterizar-se-ia, de fato, uma obrigação tributária. Sucede que, o legislador entrou em contradição literal com a previsão do artigo 3º do CTN, segundo o qual não se caracteriza tributo a prestação pecuniária decorrente de sanção por ato ilícito. 3. Que é sujeição passiva? Definir os conceitos de: (i) sujeito passivo; (ii) contribuinte; (iii) responsável tributário; e (iv) substituto tributário – distinguindo: substituição tributária para trás, para frente e convencional (concomitante); agente de retenção e substituição para frente. O responsável (art. 121, II, do CTN) é: (i) sujeito passivo da relação jurídica tributária; (ii) de relação de dever instrumental; ou (iii) de relação jurídica sancionatória? Sujeito passivo é a pessoa, física ou jurídica, de quem se exige o cumprimento da obrigação tributária, inclusive os deveres instrumentais ou formais. O artigo 121 do CTN elege duas espécies de sujeitos passivos para a relação jurídica tributária: (i) contribuinte e (ii) responsável. Tem-se como contribuinte aquele que efetivamente realiza o fato jurídico tributário, e que, cumulativamente, se encontra no polo passivo da relação, ou seja, é aquele que tem relação direta e pessoal com o fato gerador. Por sua vez, o responsável é a pessoa a qual o legislador elegeu como responsável pelo pagamento do tributo, apesar de não ter praticado o evento descrito no fato jurídico tributário. Nesse sentido, visando simplificar a arrecadação dos tributos e o procedimento fiscalizatório, ainda no âmbito da sujeição passiva, surge o instituto da substituição tributária, que, em linhas gerais, se refere à transferência do ônus financeiro suportado pelo sujeito em função do pagamento do tributo. Deste conceito decorre a segregação entre (i) substituição “convencional”, (ii) substituição “para trás” e (iii) substituição “para frente”. A substituição convencional pode ser identificada quando o próprio legislador elege outra pessoa, que não o realizador do fato gerador, para ocupar com exclusividade o polo passivo da obrigação, sendo que o critério de distinção das outras modalidades reside no fato de a responsabilidade se referir a apenas um evento tributário e não a uma cadeia deles, como por exemplo a retenção na fonte. Na substituição para trás, a despeito da ocorrência do fato gerador, há o diferimento da exigibilidade do cumprimento da obrigação tributária, de modo que há a postergação do instante para pagamento do tributo, transferindo a obrigação fiscal para o sujeito que realizará uma etapa subsequente da cadeia mercantil. Por sua vez, na substituição para frente há a mera presunção de que o fato tributário será realizado no futuro, prescrevendo a obrigação de promover antecipadamente o pagamento integral do tributo devido até o consumidor final. Em apertada síntese, o Estado receberá imediatamente o pagamento de tributo decorrente de fato gerador presumido, futuro. 4. A empresa “A” adquiriu estabelecimento empresarial da empresa “B” e continuou sua atividade. Aproximadamente seis anos depois dessa operação, a empresa “A” foi surpreendida com sua inclusão no polo passivo de execuções fiscais ajuizadas pelo Fisco inauguramente em face da empresa “B”, para exigir tributos relativos a fatos geradores por ela realizados. No contrato de compra e venda, não há disciplina a respeito das dívidas tributárias anteriores à aquisição. Pergunta-se: a) Pode o Fisco exigir da empresa “A” os tributos cujos fatos geradores foram realizados pela empresa “B” antes da aquisição? Se positiva a resposta, qual o prazo que o Fisco tem para proceder à inclusão da empresa “A” no polo passivo das execuções fiscais? Em relação aos tributos decorrentes de fatos geradores ocorridos anteriormente à compra e venda do estabelecimento ainda não inscritos em dívida ativa no momento da operação, quem deve figurar na CDA: a empresa A, B ou ambas? Há relevância se houver no contrato cláusula de responsabilidade de “B” quanto aos débitos anteriores à operação? (Vide anexo I). A situação fática em questão refere-se à sucessão tributária decorrente da sucessão empresarial, prevista no art. 132 do CTN. De acordo com o referido artigo, a pessoa jurídica resultante de qualquer operação societária será responsável pelos tributos devidos até a data do ato da operação pela pessoa jurídica anterior, podendo ser incluída no polo passivo das execuções fiscais no prazo de até 05 anos da constituição do crédito tributário. Na hipótese de existirem tributos em aberto decorrentes de fatos geradores ocorridos anteriormente à compra e venda do estabelecimento ainda não inscrito em dívida ativa, entendo que quem deve figurar na CDA é o sucessor, uma vez que a transferência do estabelecimento implica também na transferência dos débitos tributários. Ademais, o artigo 133, do CTN dispõe que a responsabilidade do adquirente pode ser integral ou subsidiária, dependendo do prosseguimento ou não da atividade pelo sucedido. No âmbito tributário é irrelevante eventual negócio jurídico, materializado, no caso concreto, pela existência de cláusulas contratuais de exclusão de responsabilidade da empresa resultante de determinada operação, pois se trata de dever indisponível e intransponível das partes, restando possível apenas que a empresa adquirente exerça seu direito de regresso em face da empresa sucedida. b) A empresa “A” responde pela: (i) multa de mora, (ii) multa pelo não pagamento de tributo, (iii) juros e (iv) multa pelo descumprimento de deveres instrumentais, se constituídas antes da operação de compra e venda?E se constituídas depois da operação? (Vide anexos II e III). De acordo com o artigo 133 do CTN, tem-se que o adquirente é responsável pelo pagamento dos tributos da adquirida. Sucede que o conceito de tributo disposto no artigo 3º do próprio CTN expressamente exclui sanção por ato ilícito, ou seja, com base em uma interpretação restritiva, pode-se afirmar que o adquirente se responsabiliza apenas e tão somente pelo tributo, ainda que as sanções sejam eventualmente aplicadas depois da operação societária, uma vez que se deve levar em consideração o fato gerador que deu causa à constituição do crédito tributário. Entretanto, a despeito da interpretação literal do CTN explanado acima, o STJ pacificou o seu entendimento, materializado pela súmula 554 do STJ, segundo a qual na hipótese de sucessão empresarial, a responsabilidade da sucessora abrange não apenas os tributos devidos pela sucedida, mas também as multas moratórias e/ou punitivas, referentes a fatos geradores ocorridos até a data da sucessão. 5. Quanto aos art. 124 e 135 do CTN, pergunta-se: a) Qual a espécie de responsabilidade prevista no artigo 135 do CTN? Poderia o fiscal lavrar auto de infração contra o contribuinte e, posteriormente, executar o sócio de forma solidária à empresa? (Vide anexos IV e V). Trata-se de responsabilidade de terceiros por atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos, evidenciando a necessidade do elemento volitivo “dolo” para a configuração do ilícito. Tem-se no caso concreto, uma responsabilidade subjetiva. Entretanto, cumpre registrar que, a despeito da referida previsão, o STJ tem se posicionado no sentido de que quando a execução fiscal for fundada em certidão de dívida ativa na qual já conste, desde o início, o nome do diretor ou gerente ao lado do da pessoa jurídica, há a inversão do ônus da prova em face da presunção de liquidez e certeza do título, de modo que caberá às pessoas físicas indicadas comprovarem a ausência de dolo, fraude ou excesso de poder. Feita uma análise literal e gramatical da redação do artigo 135, pode-se concluir que se trata de responsabilidade exclusiva, pessoal, por substituição, afastando o devedor original do cumprimento da obrigação. A despeito desta interpretação literal, o Fisco vem entendendo que, na verdade, a responsabilidade do artigo 135 é marcada pela solidariedade. Por outro lado, na jurisprudência, encontra-se muita oscilação na matéria. Existem precedentes no sentido de que se trata de responsabilidade solidária, subsidiária, exclusiva ou mesmo solidária e subsidiária simultaneamente. Feita a ponderação da existência de diversas interpretações da classificação da responsabilidade prevista no artigo 135, do CTN, pessoalmente, entendo que é possível a lavratura do auto de infração em face tão somente do contribuinte, com a posterior execução do sócio de forma solidária à empresa, desde que o sócio efetivamente tenha poderes de gestão e ainda que seus atos tenham sido praticados com excesso de poderes ou infração à lei ou aos atos constitutivos da empresa. A dissolução irregular da sociedade caracteriza infração à lei apta a ensejar a responsabilidade do(s) sócio(s) pelas dívidas da pessoa jurídica? Em caso positivo qual sócio ou administrador pode ser alcançado: o da época do inadimplemento do tributo ou do momento em que ocorre a dissolução irregular? (VI e VII e VIII) Sim. O STJ vem adotando o entendimento de que a mera dissolução irregular da sociedade se caracteriza uma infração à lei. Isso porque a legislação civil estabelece o rito a ser observado pelos gestores das empresas quando do encerramento ou alterações de endereço do estabelecimento, de modo que o descumprimento de tais requisitos incorre em infração. Por essa razão, a responsabilidade tributária decorre da infração ocorrida, de modo que o sócio atingido será aquele que esteja nesta condição quando da dissolução irregular, sendo irrelevante a data da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária. b) O mero inadimplemento da obrigação de pagar o tributo pode ser justificativa para aplicação do artigo 135 do Código Tributário Nacional? (Vide anexos IX e X). Não. O entendimento consolidado pelo STJ, inclusive consubstanciado na súmula 430, é no sentido de que a simples falta de pagamento do tributo, por si só, não enseja a responsabilidade do sócio-gerente, sendo necessário, adicionalmente, que tenha agido com excesso de poderes ou infração à lei, estatuto ou contrato social. 6. Quanto à caracterização de grupo econômico, pergunta-se? a) Que é grupo econômico? Quais são os requisitos para a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, prevista no art. 50 do CC? Ela pode ser aplicada ao direito tributário para fins de caracterização de grupo econômico? Há dispositivos específicos na legislação tributária que fundamentem a responsabilização do grupo econômico? A caracterização implica reconhecimento de responsabilidade solidária? (Vide anexo XI e XII). Grupo econômico pressupõe a existência de duas ou mais pessoas jurídicas de direito privado, que possuem além de mesmos interesses econômicos, estão submetidas ao mesmo poder de controle. Para a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, devem estar presentes os requisitos indicados no artigo 50 do Código Civil, quais sejam: abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade da empresa, e confusão patrimonial, que ocorre quando há confusão entre os bens do sócio e os da sociedade. No nosso sentir, o incidente de desconsideração da personalidade jurídica é plenamente aplicável no âmbito do direito tributário, a despeito de inexistir previsão expressa no CTN neste sentido. O embasamento legal que pode ser utilizado para corroborar este posicionamento se encontra na Lei de Custeio da Seguridade Social bem como na Legislação trabalhista, recentemente alterada, inclusive, pela Lei 13.467/17, para dispor que a configuração de grupo econômico pressupõe também comunhão efetiva de interesses. Nesse sentido, uma vez configurada a comunhão de interesses, aliado aos requisitos insertos no artigo 50 do CC, é possível a arguição do incidente de desconsideração da personalidade jurídica, com a consequente responsabilização solidária de cada ente integrante do grupo. b) Uma vez instaurado o incidente de desconsideração da personalidade jurídica, nos termos dos arts. 133 e seguintes do NCPC (Lei nº 13.105 de 2015), a defesa apresentada pela pessoa jurídica responsabilizada pela obrigação tributária de outra empresa integrante do mesmo grupo econômico pode versar sobre o mérito da cobrança (inexigibilidade do crédito tributário), ou apenas sobre a ilegitimidade de sua inclusão no polo passivo da execução fiscal? Entendo que a defesa no âmbito do incidente de desconsideração da personalidade jurídica pode versar acerca de qualquer matéria, inclusive o mérito da cobrança. Entender o contrário, é legitimar o cerceamento de defesa daquele não participou desde o início dos atos processuais. 7. Dada a seguinte Lei (fictícia): Prefeitura de São Pedro, Lei n. 5.151, de 12/10/2015, D.M. 25/10/2015 Art. 1º Fica instituída taxa de conservação e limpeza urbana para o custeio do serviço público municipal de conservação e limpeza de vias públicas. Art. 2º A taxa tem como fato gerador a prestação do serviço de limpeza das vias públicas. Art. 3º A base de cálculo é o valor venal do imóvel. Art. 4º A alíquota é de 0,1%. Art. 5º O contribuinte é o proprietário do imóvel. Art. 6º Dá -se a incidência todo dia 1º de cada ano. Art. 7º A importância devida a título de tributo deve ser recolhida até o décimo dia do segundo mês subsequente. 1 §º No caso de locação, o locatário é responsável pelo recolhimento do tributo. 2 §º No caso de compra e venda realizadaantes do prazo para o pagamento e após o 1º dia do ano, o responsável pelo pagamento do tributo é o adquirente do imóvel. 3 §º O não recolhimento no prazo estipulado implica multa de 20% do valor do tributo devido. Art. 8º Fica o contribuinte obrigado a entregar para a Secretaria de Planejamento Urbano declaração do valor imobiliário até o dia 10 de novembro de cada ano. Parágrafo único. A ausência da entrega no prazo a que se refere o caput deste artigo implicará multa de 100 UFIRS. [...]. Pergunta-se: a) Construir as normas jurídicas veiculadas nessa lei, identificando os critérios do consequente da RMIT. Arts 1º ao 6º: Regra Matriz de Incidência Tributária Art. 2º: critério material Art. 3º e 4º: critério quantitativo Art. 1º: critério espacial Art. 6º: critério temporal Art. 5º: critério pessoal Art. 7º, parágrafo primeiro: norma de responsabilidade Art. 7º, parágrafo 3º: norma sancionatória Art. 8º: norma de dever instrumental Art. 8º, parágrafo único: norma sancionatória do dever instrumental b) Quais as funções da base de cálculo? A base de cálculo eleita é compatível com a hipótese tributária? Se incompatíveis, qual deve prevalecer para efeito de se determinar a espécie tributária: o enunciado da hipótese tributária ou o enunciado da base de cálculo? Ambos? Nenhum dos dois? No caso concreto, percebe-se uma nítida incompatibilidade entre a base de cálculo e o enunciado da hipótese tributária, pois a primeira reflete o critério quantitativo do imposto IPTU, de competência dos municípios e Distrito Federal. Sendo assim, diante da proibição legal expressa no sentido de que a base de cálculo da taxa não pode ser a mesma base de cálculo de imposto, tem-se que esta exação nos moldes propostos é inconstitucional. Cumpre registrar que a base de cálculo possui as funções mensuradora, objetiva e comparativa, de modo que para se determinar a espécie tributária deve-se observar o enunciado da base de cálculo.
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