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Enzimas Profa. Dra. Maria Noêmia Martins de Lima Sugestão de leitura complementar: Enzimas (Capítulos 6 e 7) In: CAMPBELL, M.K; FARELL, S.O. 5 ed. Bioquímica. São Paulo: Thompson, 2007. 1. O que são enzimas? 2. Como elas funcionam? 3. Quais fatores interferem na velocidade das reações promovidas por elas? 4. Como a velocidade das reações enzimáticas é regulada em resposta às alterações metabólicas? 5. Exemplo de Aplicação Clínica 1. O que são enzimas? As enzimas são proteínas que agem como catalisadores, ou seja, aceleram a velocidade das reações químicas no nosso organismo. Veja no exemplo ao lado o que ocorreria em relação à velocidade da reação química na ausência (A) e na presença (B) de uma enzima (a reação química está representada pela troca da cor cinza por azul). Fonte: SMITH, C.S.; MARKS, A.D.; LIEBERMAN, M. Bioquímica médica básica de Marks: uma abordagem clínica. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. A B 2. Como elas funcionam? A energia de ativação representa uma “barreira” para que as reações químicas ocorram. As enzimas diminuem essa barreira. Fonte: POWERS, S.K.; HOWLEY, E.T. Fisiologia do Exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 6 ed. Barueri: Manole, 2000. sem enzima com enzima barreira maior barreira menor As enzimas convertem um substrato em um produto! substrato produto Observe a forma do substrato e do produto. Elas são diferentes! AB A + B substrato enzima produtos Somente ida = Reação Irreversível AB A + B substrato enzima produtos Ida e volta = Reação Reversível ou produto ou substratos As reações promovidas pelas enzimas podem ocorrer em um único sentido (somente ida), ou nos dois sentidos (ida e volta)! Observe os círculos vermelhos: as setas indicam o sentido das reações enzimáticas! O substrato precisa se ligar ao sítio-ativo da enzima para ser convertido em um produto. sítio ativo As enzimas são específicas para os seus substratos! A enzima abaixo chama-se glicoquinase. Ela converte a glicose (substrato) em glicose-6-fosfato (produto). Embora a galactose tenha uma estrutura química muito semelhante a da glicose, ela não consegue se ligar ao sítio ativo da glicoquinase. Ou seja, a glicoquinase é específica para a glicose (seu substrato). Estrutura química da glicose (ligada ao sítio ativo da glicoquinase). Estrutura química da galactose. Fonte: SMITH, C.S.; MARKS, A.D.; LIEBERMAN, M. Bioquímica médica básica de Marks: uma abordagem clínica. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. Algumas enzimas precisam da ajuda dos cofatores para funcionar! Nós obtemos os cofatores a partir dos micronutrientes que ingerimos. Eles podem ser: Orgânicos (derivados de vitaminas) ou Inorgânicos (derivados de sais minerais) Exemplo de Reação que Requer um Cofator Orgânico: Fonte: SMITH, C.S.; MARKS, A.D.; LIEBERMAN, M. Bioquímica médica básica de Marks: uma abordagem clínica. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. O NAD (cofator) recebe/doa H+ nas reações de oxirredução. Ele é um derivado da niacina (vitamina B3) A conversão de isocitrato em -cetoglutarato é a 3 reação do Ciclo de Krebs. A álcool-desidrogenase hepática catalisa a oxidação de etanol a acetaldeído. O Zn+2 ajuda a estabilizar o acoplamento do substrato da enzima (etanol) ao seu centro ativo. Exemplo de Reação que Requer um Cofator Inorgânico: Fonte: SMITH, C.S.; MARKS, A.D.; LIEBERMAN, M. Bioquímica médica básica de Marks: uma abordagem clínica. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. etanol acetaldeído E como as enzimas são batizadas? Existem várias maneiras! Uma delas é adicionar o sufixo “ase” ao nome do substrato. Exemplo: lactase (enzima que age sobre o substrato lactose). Fonte: SMITH, C.S.; MARKS, A.D.; LIEBERMAN, M. Bioquímica médica básica de Marks: uma abordagem clínica. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. A lactase “quebra” a lactose em galactose e glicose no nosso intestino. 3. Fatores que interferem na velocidade das reações enzimáticas. 1.Concentração do Substrato A velocidade de uma reação catalisada por uma enzima aumenta conforme a concentração do substrato, até uma velocidade máxima (Vmax) ser atingida. A obtenção de um platô reflete a saturação pelo substrato de todos os sítios de ligação disponíveis nas moléculas enzimáticas presentes. Fonte: HOUSTON, M.E. Princípios de bioquímica para a ciência do exercício. 3 ed. São Paulo: Roca, 2008. 2.Concentração da Enzima Se uma enzima está saturada pelo substrato e, portanto, trabalhando tão rápido quanto possível, a adição de mais enzimas aumenta a velocidade da reação. Logo, a Vmax é proporcional à concentração da enzima. O treinamento pode aumentar a síntese de determinadas enzimas no músculo. Fonte: HOUSTON, M.E. Princípios de bioquímica para a ciência do exercício. 3 ed. São Paulo: Roca, 2008. 3.Temperatura O aumento da temperatura aumenta o número de moléculas com energia suficiente para atravessar a barreira de energia e formar os produtos da reação, aumentando, portanto a velocidade da reação. O aquecimento dos músculos antes de uma competição pode aumentar a velocidade com a qual as reações produzem energia devido ao aumento na atividade das enzimas. Entretanto, se a temperatura aumentar demais, a enzima desnatura e a velocidade da reação diminui. desnaturação da proteína 4.pH O pH inadequado também pode desnaturar a enzima. O efeito varia de acordo com a enzima: por exemplo, a pepsina atinge atividade máxima em pH ácido. A fadiga muscular intensa é, em parte, devido à acidificação do músculo. Isso pode diminuir a atividade de certas enzimas e, consequentemente, a função muscular. Eles podem ser classificados em: Reversíveis (a enzima volta a funcionar depois que eles se dissociam dela) Competitivos (ligam-se ao sítio ativo da enzima) Não-competitivos (ligam-se em outro local da enzima) Irreversíveis (a enzima não volta a funcionar depois que eles se dissociam dela). Existem, ainda, compostos capazes de diminuir a velocidade das reações enzimáticas: são os inibidores enzimáticos! Muitos fármacos são inibidores enzimáticos! O inibidor apresenta uma estrutura química semelhante a do substrato e, por isso, consegue se ligar ao sítio ativo da enzima. Fonte: NELSON, D.L.; COX, M.M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. Inibição Reversível competitiva Exemplo: Rosuvastatina (inibidor da enzima HMG-CoA redutase) utilizada para o tratamento da aterosclerose. Este é o substrato natural da enzima HMG-CoA redutase! Este é o fármaco que se liga ao sítio ativo da enzima HMG-CoA redutase como se fosse o seu substrato natural impedindo que ocorra a síntese de colesterol no nosso organismo. Fonte: Istvan ES, Deisenhofer J. Structural Mechanism for Statin Inhibition of HMG-CoA Reductase. Science 2001;292(5519):1160-4. A parte em vermelho das figuras mostra a região das moléculas que se liga ao sítio ativo da enzima HMG-CoA redutase. Inibição Reversível não-competitiva O inibidor liga-se ao complexo enzima-substrato (ES) ou à enzima (E) em um local específico (que não é o centro ativo). Fonte: NELSON, D.L.; COX, M.M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. Exemplo: Efavirenz (inibidor de transcriptase reversa do tipo não-nucleosídeo) utilizado para o tratamento da AIDS ácido linoleico ácido araquidônico (-6) Inibição Irreversível Exemplo: o ácido acetilsalicílico (Aspirina®) é um inibidor irreversível das ciclo-oxigenases. Ele inibe a síntese de prostaglandinas e tromboxanos (mediadores da resposta inflamatória no nosso organismo).Fonte: SMITH, C.S.; MARKS, A.D.; LIEBERMAN, M. Bioquímica médica básica de Marks: uma abordagem clínica. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. 4. Regulação da Atividade Enzimática A regulação das vias metabólicas ocorre por meio da modulação da atividade de uma ou mais enzimas-chave do processo são as enzimas regulatórias. Nesses sistemas enzimáticos, o produto de uma reação enzimática é o substrato da enzima seguinte. Enzimas regulatórias apresentam respostas aumentadas ou diminuídas em resposta a certos sinais que indicam s situação metabólica na qual nos encontramos. Exemplo: a glicólise é uma via metabólica na qual estão envolvidas 10 enzimas. Somente 3 delas são enzimas regulatórias (indicadas através dos retângulos em azul no esquema abaixo). Fonte: SMITH, C.S.; MARKS, A.D.; LIEBERMAN, M. Bioquímica médica básica de Marks: uma abordagem clínica. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. Exemplos de Mecanismos que Regulam a Atividade das Enzimas 1. Inibição da atividade pelo acúmulo do produto 2. Retroalimentação (feedback) 3. Modificação covalente 4. Quebra proteolítica Fonte: SMITH, C.S.; MARKS, A.D.; LIEBERMAN, M. Bioquímica médica básica de Marks: uma abordagem clínica. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. 1. Inibição pelo acúmulo do produto e 2. feedback O produto final bloqueia uma reação inicial e impede que toda a série de reações aconteça. 3. Modificação Covalente proteína-fosfatase proteína-quinase enzima-alvo Fonte: NELSON, D.L.; COX, M.M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. Proteína-quinase: transfere o grupo fosfato do ATP para a enzima-alvo fosforila a enzima Proteína-fosfatase: remove o grupo fosfato da enzima-alvo desfosforila a enzima Fosforilar ou desfosforilar a enzima pode ativá-la ou inibi-la. Muitas enzimas são sintetizadas como precursores inativos e, subsequentemente, ativadas (irreversivelmente) pela clivagem de uma ou mais ligações peptídicas específicas. 4. Quebra Proteolítica Zimogênio (forma inativa) Enzima (forma ativa) ruptura de ligações peptídicas Pepsinogênio Tripsinogênio Quimotripsinogênio Pepsina Tripsina Quimotripsina H+ enteropeptidase tripsina Exemplo: enzimas digestivas a reação que ativa o zimogênio se processa fora das células de origem, no local onde a atividade digestiva deve ser exercida, evitando assim que ocorra o risco de digerir proteínas intracelulares. Fonte: SMITH, C.S.; MARKS, A.D.; LIEBERMAN, M. Bioquímica médica básica de Marks: uma abordagem clínica. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. Alimento 5. Aplicação Clínica Medir os níveis de enzimas intracelulares no nosso sangue pode ajudar no diagnóstico de doenças! Um exemplo de situação patológica onde ocorre aumento da proliferação celular é o câncer. Enzima Doenças Associadas com Níveis Sanguíneos Elevados da Enzima Lactato desidrogenase Infarto do miocárdio, lesão muscular esquelética Creatina cinase (CK ou CPK) Infarto do miocárdio, lesão muscular esquelética Fosfatase alcalina Carcinoma ósseo Alanina aminotransferase (ALT ou TGP) Doença hepática Aspartato aminotransferase (AST ou TGO) Doença hepática Exemplos de doenças que podem ser diagnosticas através deste recurso: Algumas enzimas são encontradas apenas em tecidos específicos. A enzima lactato desidrogenase (LDH) tem dois tipos diferentes - um encontrado só no tecido muscular cardíaco (H) e outro só no esquelético (M). Esses dois tipos são levemente diferentes na composição de aminoácidos; consequentemente podem ser separados através de técnicas de análises laboratoriais. Enzimas que apresentam essa característica são denominadas de isoenzimas (ou isoformas)! A dosagem da isoforma H da LDH é utilizada no diagnóstico de infarto do miocárdio e a dosagem da isoforma M da LDH é utilizada no diagnóstico de lesão no músculo esquelético. Exemplos de doenças que podem ser diagnosticas através deste recurso:
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