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Criminologia - Vitimologia (1)

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UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA - UNIVERSO
VITIMOLOGIA 
Isidoro Orge Rodriguez
Professor de Criminologia
Definição
	A vitimologia é o terceiro componente da tríade criminológica: criminoso, vítima e ato (fato crime). Acrescentamos também os meios de contenção social.
	Ciencia que se ocupa da vítima e da vitimização, cuo objeto é a existência de menos vítimas na sociedade, quando esta tiver real interesse nisso (Benjamim Mendelsohn)
Vítimas autênticas, verdadeiras ou inocentes
	Da mesma maneira que existem criminosos reincidentes, é certa para a criminologia a existencia de vitimas latentes ou potenciais. Determinadas pessoas padecem de um impulso fatal e irresistível para serem vítimas dos mesmos crimes. Exemplos: vigias de bancos e lojas, médicos vitimados por denuncias caluniosas, policiais acusados de agressões.
	Assim é que, como há deliquentes recidivos, há vitimas voluntárias, como os "encrenqueiros", os "truculentos", os "piadistas", etc.
	No entanto, há muitas pessoas, vitimas autenticas, que nem contribuem para o evento criminal por ação ou omissão, nem interagem com o comportamento do autor do delito. São completamente inocentes.
TIPOS DE VITIMAS 
Classificação de Mendelsohn (segundo a participação ou provocação da vítima)
	a) vítimas ideais (completamente inocentes)
	b) vítimas menos culpadas que os criminosos (ex ignorantia)
	c) vítimas tão culpadas quanto os criminosos (dupla suicida, aborto consentido, eutanásia)
	d) vítimas mais culpadas que os criminosos (vítimas por provocação que dão causa ao delito)
	e) vítimas como unicas culpadas (vítimas agressoras, simuladas e imaginárias)
Classificação
	a) vitima inocente - que nao concorreu de forma alguma para o injusto típico.
	b) vítima provocadora - que, voluntária ou imprudentemente, colabora com o ânimo criminoso do agente.
	c) vítima agressora, simulada ou imaginária - suposta ou pseudovítima, que acaba justificando a legitima defesa de seu agressor.
Binômio criminoso-vítima
	É muito importante aferir o binômio criminoso-vítima, sobretudo quando esta interage no fato típico, de forma que a análise de seu perfil psicológico desponta como fator a ser considerado no desate judicial do delito (vide, nos casos de extorsão mediante sequestro, a ocorrência da chamada "sindrome de Estocolmo", na qual a vitima se afeiçoa ao criminoso e interage com ele em consequencia do proprio instinto de sobrevivencia).
Classificação de Hans von Hentig
	1º grupo - criminoso-vitima-criminoso (sucessivamente): reincidente que é hostilizado no cárcere, vindo a delinquir novamente pela repulsa social que encontra fora da cadeia.
	2º grupo - criminoso-vitima-criminoso (simultaneamente): caso das vitimas de drogas que, de usuárias, passam a ser traficantes.
	3º grupo - criminoso-vitima (imprevisível): por exemplo, linchamentos, saques, epilepsia, alcoolismo, etc.
	vitimização primária - danos à vitima decorrentes do crime.
	vitimização secundária - sobrevitimização, com o sofrimento adicional causado pela dinâmica do sistema de justiça criminal (inquérito policial e processo penal)
	vitimização terciária - 
Atenta contra o princípio constitucional da legalidade penal (taxatividade), por não definir quais as condutas que constituiriam “alto risco” para a ordem e a segurança do estabelecimento penal.
O CONFINAMENTO SOLITÁRIO
	Special housing units-SHU, 
	special control units-SCU, 
	special management units-SMU
	Supermax;
	 Prisão - ou partes de uma prisão – que opera sob 
 condições de “super-máxima” segurança;
	 Origem no sistema prisional americano;
ANTECEDENTES
	Mórmons: uma cela e uma bíblia, “remorso e reabilitação”.
	Eastern State Penitenciary, 1820, Pennsylvania: isolamento dos presos e privação sensorial;
	proibição de contato físico, inatividade forçada, inexistência de estímulos visuais, sonoros ou intelectuais;
PRIMEIRAS IMPRESSÕES
	Darwin, em 1830, visita à Eastern State Penitenciary;
	Prisioneiros pareciam “mortos para tudo, exceto para a torturante ansiedade e o horrível desespero”. 
	Incidência crescente de psicoses e mortalidade entre os prisioneiros;
PRIMEIROS ESTUDOS
	Alemanha, 1898 - estudo clínico analisa os surtos psicóticos verificados entre os detentos;
	Sintomas encontrados: 
	alucinações auditivas, táteis ou olfativas;
	 eventos dissociativos, com amnésia subseqüente; 
	agitação e excitação motora, com violência não-dirigida.
BANIMENTO DO REGIME
	Suprema Corte dos EUA, em 1890 , condenou o confinamento solitário dos detentos;
	Proibição oficial nos EUA em 1913.
 
 
Habeas Corpus impetrado por James Medley
“Um número considerável de prisioneiros, mesmo após um curto confinamento, cai em um estado de semi-imbecilidade, da qual é quase impossível retirá-los, e outros se tornam violentamente insanos; outros, ainda, cometem suicídio; enquanto que aqueles que suportam melhor o suplício não são, geralmente, reformados, e em muitos casos nunca recuperam atividade mental suficiente para serem de qualquer utilidade para a comunidade” 
OS DEFENSORES DO SUPERMAX
Edgar Schein, 1962: isolamento e privação sensorial para alterar o comportamento dos detentos;
 James McConnel (1970): lavagem cerebral como forma ideal de punição dos criminosos;
Estas técnicas, ao serviço de objetivos diferentes, porém, podem ser perfeitamente aceitáveis para nós... Eu gostaria que se pensasse em lavagem cerebral não em termos políticos, éticos e morais, mas em termos de mudança deliberada dos comportamentos e atitudes humanas por um grupo de homens que tem, relativamente, completo controle sobre o ambiente nos quais os detentos vivem. 
A REIMPLANTAÇÃO DO SUPERMAX
Illinois, 1972: construção da primeira unidade prisional de segurança máxima, ou supermax, a Penitenciária de Marion;
	MacAlester, no Oaklahoma (1985), Pelican Bay, na Califórnia (1989), Southport, em Nova York (1991), e Walpole, em Massachusetts (1992).
, Marion adotou o sistema de isolamento celular dos detentos em 1983 - após dois guardas prisionais serem mortos por presos em um mesmo dia - e assim permanece até hoje. 
Complexo Prisional de Pelican Bay, California
O QUE É O SUPERMAX
	Prisioneiros passam cerca de 23 horas por dia em suas celas;
	Não são autorizadas reuniões sequer para atividades religiosas ou para refeições;
	Os detentos não podem ver uns aos outros;
	O contato com os guardas é mínimo;
	Vigilância, abertura e travamento das portas, comunicação interna – é totalmente automatizada.
O QUE É O SUPERMAX
	Contato físico com os visitantes é totalmente proibido;
	 Prisioneiros permanecem separados dos visitantes por uma divisória de plexiglass ou tela metálica;
	comunicação é feita através de interfones;
	As celas não têm janelas;
	Luzes controladas pelos guardas, que geralmente as deixam acesas 24 horas por dia. 
Preso recebe visitante
Pátio para exercício em Pelican Bay – 10 x 20 m
O SUPERMAX HOJE
	A maioria dos estados americanos possui unidades de segurança máxima;
	57 “unidades de controle” espalhadas por todo o país 
	População carcerária dos EUA: 2.085.620 prisioneiros;
	25.000 presos em regime de isolamento celular;
EFEITOS DO CONFINAMENTO SOLITÁRIO
	Corte de Apelações do Estado de Massachussetts, 1983;
	Avaliação de quinze presos da Prisão de Walpole, mantidos no regime de supermax pelo período médio de dois meses
	 Exames realizados por Stuart Grassian, psiquiatra e professor da Universidade de Harvard.
SINTOMAS IDENTIFICADOS POR GRASSIAN
	Hipersensibilidade generalizada a estímulos externos;
	Distorções de percepção, alucinações e delírios;
	Distúrbios físicos; 
	Agressividade;
	Paranóia;
	Perda do auto-controle. 
sintomas específicos comuns a todos os detentos, indubitavelmente resultantes da solidão e da privação de estímulos sensoriais:
Hipersensibilidade generalizada a estímulos externos. A audição, o olfato e o paladar tornaram-se extremamente aguçados, a ponto de fazer os sons, cheiros e sabores altamente incômodos para os detentos. “Alguém aciona a descarga emuma das celas do andar superior, e a água ruge através dos canos. O som é tão alto que abala os meus nervos. Não posso suportar, e começo a gritar. Estão fazendo isso de propósito?”, contou um prisioneiro. “Eu costumava comer tudo o que eles serviam. Agora eu não posso suportar os cheiros. A única coisa que consigo comer é o pão”, afirmou outro. 
Distorções de percepção, alucinações e delírios. Sete dos quinze prisioneiros relataram ouvir vozes, quase sempre gritando ou sussurrando ameaças. A maioria afirma ter percebido as paredes da cela ondularem ou derreterem, e o mobiliário se mover sozinho. Alguns manifestaram delírios mais complexos, envolvendo a presença de pessoas estranhas ou guardas no interior da cela. A perda súbita e momentânea da visão ocorre com freqüência. 
Distúrbios físicos. Dez dos quinze prisioneiros manifestaram ansiedade aguda durante o período de isolamento, com crises de taquicardia, incapacidade respiratória, tontura, tremores e sensação de morte iminente. Calor extremo, suores e dores de cabeça também foram registrados. 
Agressividade. Seis prisioneiros relataram ter sido acometidos por fantasias primitivas de vingança, e pelo desejo de torturar e mutilar os guardas do presídio. Em todos os casos, tais fantasias foram descritas como assustadoras e incontroláveis, e levaram o detento a crer que estava enlouquecendo. 
Paranóia. A sensação de estarem sendo observados e perseguidos atingiu seis dos quinze detentos, durante o confinamento. Idéias obsessivas, aparentemente sem nenhum significado, repetiam-se indefinidamente, levando os prisioneiros a perderem o senso de realidade.
Perda do auto-controle. Cinco presos apresentaram problemas relacionados ao controle dos impulsos, incorrendo em violência aleatória e súbita. A destruição dos objetos pessoais e do mobiliário da cela tornou-se uma manifestação comum, e a auto-mutilação ocorreu em três casos.
CONFIRMAÇÃO DOS ESTUDOS DE GRASSIAN
	Craig Haney (1994), doutor em psicologia social e Diretor do Departamento de Estudos Legais da Universidade de Santa Cruz, no Novo México – estudo realizado com detentos do presídio de segurança máxima de Pelican Bay, na Califórnia. 
	Human Rights Watch - pesquisa sistemática conduzida durante um período de quatro décadas, por pesquisadores de diferentes continentes (2004:31).
CONCLUSÕES MÉDICAS
	“A restrição de estímulos sensoriais e o isolamento social, associado com o confinamento em uma solitária, são extremamente nocivos para o funcionamento da mente”
CONCLUSÕES MÉDICAS
	“O dano causado por tal confinamento pode resultar em prolongada ou permanente deficiência psiquiátrica, incluindo limitações que podem comprometer seriamente a capacidade do detento de se reintegrar à comunidade após ser solto da prisão”.

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