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Aula 05 Administração Pública p/ TCE-SC - Auditor Fiscal de Controle Externo - Cargo 1 - Administração Professor: Herbert Almeida 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 1 de 48 AULA 5: Comunicação, governabilidade, governança e intermediação de interesses SUMÁRIO COMUNICAÇÃO ................................................................................................................................ 3 Barreiras a uma comunicação eficaz ........................................................................................................5 Comunicação organizacional ....................................................................................................................6 GOVERNANÇA E GOVERNABILIDADE ................................................................................................. 8 Novas tendências para os conceitos de governança e governabilidade ............................................... 14 Intermediação de interesses .................................................................................................................. 19 Clientelismo ....................................................................................................................................... 20 Corporativismo ................................................................................................................................... 21 Neocorporativismo ............................................................................................................................ 23 Princípios básicos da governança corporativa ....................................................................................... 25 QUESTÕES COMENTADAS NA AULA ................................................................................................. 41 GABARITO ...................................................................................................................................... 47 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 47 Olá pessoal! Tudo tranquilo? Continuando o nosso curso, vamos estudar os seguintes itens do edital: “5 Comunicação na gestão pública e gestão de redes organizacionais. 6 Governabilidade e governança. 6.1 Intermediação de interesses (clientelismo, corporativismo e neocorporativismo)” A parte de governabilidade e governança está “na moda”. Nos últimos concursos realizados, o Cespe sempre está cobrando uma questãozinha sobre esses tópicos. São temas que podem ser exigidos juntamente com accountability. Assim, recomendo bastante atenção nessa aula. Por outro lado, apesar de ser um assunto exigido nas últimas provas, não encontrei um número muito grande de questões. Com isso, teremos um número reduzido de exercícios nessa aula. Vamos, inclusive, utilizar algumas questões da FCC para dar uma complementada. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 2 de 48 Quanto ao tópico de comunicação e gestão de redes, é um item bem simples. Vamos abordar a parte teórica da comunicação e, depois, estudaremos a gestão de redes nas aulas de políticas públicas, pois são temas relacionados. Aproveitem a aula e bons estudos! 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 3 de 48 COMUNICAÇÃO Para Maximiano1, o processo de comunicação compreende a transmissão de informação e de significados. Segundo o autor, este processo é composto pelos seguintes elementos: emissor, receptor, mensagem, canal de comunicação, ruídos e feedback. emissor (fonte): é aquele que elabora a mensagem com o objetivo de alcançar o receptor; mensagem: é aquilo que se pretende transmitir; receptor (destino): é o destino da mensagem, é aquele que decodifica a mensagem. Este é o elo mais importante do processo de comunicação, pois será quem interpretará os dados transmitidos e o transformará em informação e, a partir daí, tomará as medidas cabíveis. Veja que, se o receptor não for atingido, ou for atingido de forma comprometida, de nada adiantou o processo de comunicação; ruídos: representam as barreiras à comunicação que podem distorcer o conteúdo do que se quer transmitir; feedback: corresponde ao retorno realizado pelo receptor sobre as condições da mensagem recebida. Assim, o emissor poderá avaliar se a mensagem foi transmitida nas condições desejadas; e canal de comunicação: é o condutor da mensagem, ou seja, o meio que permite a circulação da informação enviada pelo emissor. Conforme a quantidade de informações que podem ser transmitidas ao mesmo tempo, podemos descrever canais com maior ou menor riqueza. A conversa é o canal mais rico, pois a pessoa pode transmitir a fala, os gestos, a entonação e muito mais, tudo isso pode facilitar a comunicação. Por outro lado, os relatórios e boletins representam os canais com baixa riqueza. Os canais 1 Maximiano, 2011, p. 239. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 4 de 48 pobres são utilizados para informações mais simples e corriqueiras, já os canais ricos são utilizados para informações importantes e não rotineiras. Com base nessa classificação, Daft propôs uma pirâmide que demonstra a hierarquia da riqueza dos canais de comunicação: Hierarquia da riqueza dos canais de comunicação2 Além desses elementos, podemos falar ainda em código e redundância, vejamos: código: representam a forma de transformar os pensamentos em mensagens (codificação), como a escrita, para, posteriormente, ser decodificada pelo receptor, a exemplo da leitura; redundância: trata-se de um reforço, que não traz nenhuma informação nova, utilizada para amenizar os efeitos do ruído. A redundância é um elemento que auxilia na compreensão da mensagem. Em síntese, o processo de comunicação envolve o emissor, que codifica a mensagem e a transmite por meio de um canal para um receptor, que fará 2 Adaptado de Daft, 2005. Conversa Telefone E-mail, intranet Memorandos, cartas Relatório formal, boletins 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 5 de 48 a decodificação. Após isso, é importante que o receptor dê um retorno sobre o estado da mensagem (feedback), permitindo que o emissor refaça o procedimento se necessário. Por fim, todo o processo de comunicação está sujeito a algumas interferências chamadas de ruídos. Barreiras a uma comunicação eficaz Nem sempre a comunicação ocorre da maneira ideal. A informação pode sofrer algumas distorções, decorrentes do ruído, que podem impactar na interpretação e no tratamento de seu conteúdo. Basicamente, podemosdescrever as seguintes barreiras para uma comunicação efetiva: filtragem: corresponde a manipulação da informação realizada pelo emissor para obter uma interpretação favorável do recebedor da mensagem. É o caso de um funcionário que dá um enfoque direcionado no conteúdo de uma informação para obter benefícios de seu chefe; percepção seletiva: nesse caso, é o receptor que faz a interpretação baseada em suas necessidades, experiências, motivações e demais características pessoais. Uma pessoa que prefere a marca X de celular ao invés da marca Y vai procurar interpretar as especificações de forma que a marca X seja sempre a melhor; sobrecarga de informações: ocorre quando a pessoa recebe mais informações do que sua capacidade de processá-las. Na era da informação, estamos nos deparando diariamente com situações como essa, pois somos “bombardeados” por informações de todos os lados. A consequência é que podemos perder conteúdo e ter um processo de comunicação comprometido; emoções: o estado emocional da pessoa pode influenciar na maneira como ela interpreta a mensagem. Uma pessoa feliz pode dar um enfoque, enquanto que uma pessoa irritada dará outro; 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 6 de 48 linguagem: uma mesma palavra pode ter significados distintos de acordo com o público que se está lidando. Trata-se do linguajar, que pode variar conforme a idade, escolaridade, local onde mora, profissão etc. Assim, se o emissor e o receptor tiverem linguajares diferentes, o processo de comunicação pode ser prejudicado; defensividade: ocorre quando as pessoas sentem-se ameaçadas, como numa inquirição. Assim, o indivíduo terá muito cuidado com o tipo de informação que irá transmitir, influenciando a qualidade da comunicação; e medo de comunicação: a ansiedade e a timidez podem dificultar a comunicação. Existem pessoas que têm dificuldade de falar em público (para várias pessoas) ou até mesmo para se comunicar com amigos. Assim, preferem utilizar meios escritos no lugar dos falados. Comunicação organizacional A comunicação pode circular em três direções: comunicação para baixo: vai dos níveis superiores para os inferiores da hierarquia, ou seja, é a comunicação utilizada pelos chefes para informar os seus subordinados. Ex. ordens; comunicação para cima: é o inverso da anterior, ou seja, é o fluxo de informações dos subordinados para as chefias. Ex. relatórios; e comunicação lateral: trata-se da comunicação entre departamentos de mesmo nível (horizontal) ou entre departamentos de níveis diferentes, mas que se relacionam hierarquicamente (diagonal). Outra forma de se verificar a comunicação lateral envolve os contatos entre colegas de trabalho, muitas vezes de forma informal, como no caso das conversas nos cafezinhos ou nos pedidos de ajuda. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 7 de 48 Os fluxos de comunicação formal, como os para cima e para baixo, são muito importantes para as organizações. Contudo, hodiernamente, a comunicação horizontal vem ganhando espaço, sobretudo pelo aspecto informal que faz expandir a capacidade de transmissão de informações. A comunicação horizontal ou lateral, no seu aspecto informal, deve receber um enfoque especial da organização. Ao mesmo tempo em que ela facilita a troca de informações, pode ser fonte para transmissão de boatos e fofocas. Trata-se da famosa “rádio corredor”. Assim, as organizações devem saber explorar essa forma de comunicação e descobrir o momento adequado para tratar oficialmente as informações para evitar a difusão de mensagens equivocadas. 1. (Cespe – TNS/MC/2013) Mecanismos mais ricos de comunicação nas organizações são aqueles em que as informações são transmitidas por telefone ou conversas face-a-face, pois permitem feedback rápido. Comentário: existem canais ricos e canais pobres de comunicação. A conversa face-a-face e por telefone permitem um feedback (retorno) rápido e transmissão de mais informações, tornando o mecanismo mais rico. Por outro lado, memorandos e boletins são mecanismos pobres, pois transmitem menos informação e apresentam um feedback lento. Gabarito: correto. 2. (FCC – AJ/TRT-3/2009) Um recurso frequentemente utilizado para compensar os problemas resultantes de ruídos nos processos de comunicação dentro de uma organização é a) a retroinformação. b) o feedback. c) a redundância. d) o reforço dos fluxos descendentes. e) a criação de redes informais de comunicação. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 8 de 48 Comentário: a retroinformação e o feedback correspondem ao retorno que o destinatário dá, ao emissor, sobre a mensagem. Os fluxos descendentes são as comunicações das chefias para os subordinados e as redes informais de comunicação correspondem ao fluxo horizontal (conversas de colegas no cafezinho, pedidos de ajuda, etc.). A redundância trata-se de um reforço, que não traz nenhuma informação nova, utilizada para amenizar os efeitos do ruído. Assim, embora a alternativa D não esteja “tão” errada, a opção C é que corresponde ao gabarito. Gabarito: alternativa C. 3. (FCC – AJ/TRF-2/2012) No processo de comunicação interpessoal, é a reação do receptor ao ato de comunicação, permitindo que o emissor saiba se sua mensagem foi ou não compreendida pelo receptor: a) ruído horizontal. b) racionalização. c) negação. d) feedback. e) ruído vertical. Comentário: a reação do receptor ao ato de comunicação que permite que o emissor saiba se a mensagem foi compreendida é o feedback. Os ruídos são as interferências no processo de comunicação (opções A e E). A racionalização e a negação são espécies de atuações defensivas do comunicador. Gabarito: alternativa D. GOVERNANÇA E GOVERNABILIDADE A partir das últimas décadas do século passado, os temas governança e governabilidade estiveram em várias pautas de discussão. São dois temas distintos, mas intimamente relacionados. A governabilidade se refere à capacidade política de governar, que deriva da relação de legitimidade do Estado e do seu governo com a 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 9 de 48 sociedade3. Nessa linha, a governabilidade ocorre quando o exercício do poder do Estado recebe legitimidade pela população. De acordo com o Plano Diretor, o governo brasileiro não carece ‘de “governabilidade”, ou seja, de poder para governar, dada sua legitimidade democrática e o apoio com que conta na sociedade civil’. A legitimidade, nesse contexto, deve ser entendida como a aceitação do poder do Estado ou do governo pela sociedade. Dessa forma, em plena crise no início dos anos 90, a população brasileira reconhecia o poder legítimo dos governantes, uma vez que eles foram eleitos por um processo eleitoral democrático, nos termos da Constituição. Percebam, contudo, que a legitimidade vai além da legalidade. Enquanto esta se refere ao cumprimento do ordenamento jurídico,ou seja, do exercício do poder e das ações conforme estabelecem as normas legais; a legitimidade considera, também, a valoração da norma legal. Dessa forma, um governo só é legítimo se suas ações estão de acordo com o ordenamento jurídico e a população considera que essas normas estão alinhadas aos princípios e valores vigentes na época. Vamos dar um exemplo. Imaginem que o Congresso Nacional resolva fazer uma licitação para adquirir sofás de luxo que fazem massagem no parlamentar enquanto ele estiver sentado. O custo de cada sofá desses é de R$ 20 mil. O processo pode seguir todas as normas da lei de licitações, mas não será uma compra legítima, pois não estará de acordo com os valores aceitos pela população. Voltando ao conceito de governabilidade, vamos dar uma olhada no que ensina Eli Diniz: Governabilidade refere-se às condições sistêmicas mais gerais sob as quais se dá o exercício do poder numa dada sociedade. Nesse sentido, as variações dos graus de governabilidade sofrem o impacto das características gerais do sistema político, como a forma de governo (se parlamentarista ou presidencialista), as relações entre os poderes (maior 3 Bresser-Pereira, 1998. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 10 de 48 ou menor assimetria entre Executivo e Legislativo), os sistemas partidários (pluripartidarismo ou bipartidarismo), o sistema de intermediação de interesses (corporativista ou pluralista), entre outras características. Para Vinicius de Carvalho Araújo4, a governabilidade “refere-se às próprias condições substantivas/materiais de exercício do poder e de legitimidade do Estado e do seu governo derivadas da sua postura diante da sociedade civil e do mercado”. Continuando, o autor destaca que a governabilidade pode ser concebida como a “autoridade política do Estado em si”, sendo entendida como a capacidade que o Estado tem para “agregar os múltiplos interesses dispersos pela sociedade e apresentar-lhes um objetivo comum para os curto, médio e longo prazos”. Por fim, Araújo ensina que a fonte ou origem principal da governabilidade são os cidadãos e a cidadania organizada, ou seja, “é a partir deles (e da sua capacidade de articulação em partidos, associações e demais instituições representativas) que surgem e se desenvolvem as condições citadas acima como imperativas para a governabilidade plena”. Para Bresser-Pereira5, Do ponto de vista da reforma política do Estado, entretanto, não há dúvida de que é necessário concentrar a atenção nas instituições que garantam, ou melhor, que aumentem – já que o problema é de grau –, a responsabilização dos governantes. Reformar o Estado para lhe dar maior governabilidade é torná-lo mais democrático, é dotá-lo de instituições políticas que permitam uma melhor intermediação dos interesses sempre conflitantes dos diversos grupos sociais, das diversas etnias quando não nações, das diversas regiões do país. Dessa forma, podemos perceber a grande relação entre governabilidade e intermediação de interesses. Um governo legítimo precisa intermediar diversos interesses existentes na sociedade, que, em muitas ocasiões, são distintos. Vamos estudar com mais detalhes a intermediação de interesses logo mais. 4 Araújo, 2002. 5 Bresser-Pereira, 1997. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 11 de 48 Bresser-Pereira destaca ainda que, Governabilidade e governança são conceitos mal definidos, freqüentemente confundidos. A capacidade política de governar ou governabilidade deriva da relação de legitimidade do Estado e do seu governo com a sociedade, enquanto que governança é a capacidade financeira e administrativa em sentido amplo de uma organização de implementar suas políticas. Sem governabilidade é impossível governança, mas esta pode ser muito deficiente em situações satisfatórias de governabilidade. Começamos aqui a conceituar a governança. De acordo com o Plano Diretor, Considerando esta tendência, pretende-se reforçar a governança - a capacidade de governo do Estado - através da transição programada de um tipo de administração pública burocrática, rígida e ineficiente, voltada para si própria e para o controle interno, para uma administração pública gerencial, flexível e eficiente, voltada para o atendimento do cidadão. O governo brasileiro não carece de “governabilidade”, ou seja, de poder para governar, dada sua legitimidade democrática e o apoio com que conta na sociedade civil. Enfrenta, entretanto, um problema de governança, na medida em que sua capacidade de implementar as políticas públicas é limitada pela rigidez e ineficiência da máquina administrativa. Assim, o governo brasileiro, no início dos anos 90, sofria uma crise de governança, pois sua capacidade administrativa era fraca, necessitando urgentemente reformar o aparelho do Estado para aumentar sua eficiência e, por conseguinte, a governança. Nessa linha, Vinicius de Araújo argumenta que a governança pode ser entendida como a outra face de um mesmo processo, ou seja, como os aspectos adjetivos/instrumentais da governabilidade. Para ele, entende-se a governança como a capacidade que um determinado governo tem para formular e implementar as suas políticas. Esta capacidade pode ser decomposta analiticamente em financeira, gerencial e técnica, todas importantes para a consecução das metas coletivas definidas que compõem o programa de um determinado governo, legitimado pelas urnas. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 12 de 48 Vinicius de Araújo complementa, ainda, que, diferentemente da governabilidade, a fonte da governança não são os cidadãos ou a cidadania organizada em si mesma, mas sim um prolongamento desta, ou seja, são os próprios agentes públicos ou servidores do Estado que possibilitam a formulação/implementação correta das políticas públicas e representam a face do Estado diante da sociedade civil e do mercado, no setor de prestação de serviços diretos ao público. Nesse contexto, a governança pública se relaciona às capacidades administrativa e financeira do Estado. Refere-se a questões técnico- administrativas, ao nível dos servidores públicos, a eficiência da máquina estatal, enfim, a todas as condições sistêmicas da Administração Pública utilizadas para conduzir as políticas do governo e resolver os problemas da população. Assim, ela é instrumental em relação à governabilidade, pois representa os meios pelo qual os governos colocam em prática o seu poder, permitindo que as necessidades da população sejam feitas. Um governo com pouca governança pode acabar perdendo a sua governabilidade. Por seu turno, Bresser-Pereira, no Caderno MARE nº 1, apresenta os seguintes ensinamentos: Em síntese, a governança será alcançada e a reforma do Estado será bem sucedida quando o Estado se tornar mais forte embora menor: (a) mais forte financeiramente, superando a crise fiscal que o abalou nos anos 80; (b) mais forte estruturalmente, com uma clara delimitação de sua área de atuação e uma precisa distinção entre seu núcleo estratégico onde asdecisões são tomadas e suas unidades descentralizadas; (c) mais forte estrategicamente, dotado de elites políticas capazes de tomar as decisões políticas e econômicas necessárias; e (d) administrativamente forte, contando com uma alta burocracia tecnicamente capaz e motivada. (grifos nossos) Percebam que o autor vincula a governança ao fortalecimento e diminuição do tamanho do Estado. Dessa forma, o governo teria a capacidade de implementar as políticas públicas e, ao mesmo tempo, superar a crise fiscal existente na década de 80. Com isso, algumas medidas 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 13 de 48 mencionadas por Bresser-Pereira são a delimitação da área de atuação do Estado, separando as competências inerentes ao núcleo estratégico e as unidades descentralizadas; fortalecimento das elites políticas para tomar as decisões adequadas; e o fortalecimento da burocracia, com pessoal mais capacitado e motivado. Percebe-se que são medidas relacionadas com a capacidade administrativa. Para concluir esta primeira parte de nossa aula, vamos voltar aos ensinamentos de Vinicius de Araújo: A governança relaciona-se de forma mais direta com a reforma do aparelho, dado que o seu caráter é na essência instrumental (financeiro, administrativo e técnico) como salientado acima e que o grande objetivo da chamada reforma gerencial é aprimorá-la como capacidade de melhor formulação/implementação das políticas públicas. Já a governabilidade relaciona-se de forma mais direta com a reforma do Estado, vista também como a redefinição das relações Estado-sociedade, Estado-mercado e entre os poderes ou funções do Estado (Executivo, Legislativo, Judiciário). O sistema político-partidário, a forma de governo e o mecanismo de intermediação de interesses dominante em uma determinada sociedade (pluralista, corporativo, classista), dentre outros, constituem os principais fatores da reforma com os quais a governabilidade mantém uma relação mais estreita. Assim, como a governança se relaciona com os aspectos da gestão, ela se alinha à reforma do aparelho do Estado no contexto da reforma gerencial. De acordo com o PDRAE, o aparelho do Estado é constituído pelo governo, ou seja, pela cúpula dirigente nos três poderes, por um corpo de funcionários, e pela força militar. Em síntese, o aparelho representa o braço do Estado para colocar em prática as suas decisões. Por sua vez, a governabilidade se relaciona com a reforma do Estado, que, segundo o PDRAE, é mais abrangente que o aparelho, porque compreende adicionalmente o sistema constitucional-legal, que regula a população nos limites de um território. Assim, o Estado “é a organização burocrática que tem o monopólio da violência legal, é o aparelho que tem o poder de legislar e tributar a população de um determinado território”. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 14 de 48 Governabilidade Legitimidade Características do sistema político Sistemas de governo6 Relações entre os Poderes Sistema de intermediação de interesses Reforma do Estado Governança Capacidade administrativa Relacionada com a gestão Capacidade do governo para formular e implementar as suas políticas Aspectos financeiro, gerencial e técnico Fonte: próprios agentes públicos ou servidores do Estado Reforma do aparelho do Estado Novas tendências para os conceitos de governança e governabilidade Para Rosenau7, governança é um fenômeno mais amplo que governo, pois, além de abranger as instituições governamentais, implica também em mecanismos informais, de caráter não governamental, que fazem com que as pessoas e as organizações dentro da sua área de atuação tenham uma conduta determinada, satisfaçam suas necessidades e respondam às suas demandas. Dessa forma, podemos perceber que a governança vai além do governo, envolvendo vários aspectos relacionados à atividade das pessoas e das organizações públicas no que se refere ao atendimento das demandas dos cidadãos. 6 Eli Diniz fala em forma de governo, contudo o parlamentarismo e o presidencialismo são, na verdade, sistemas de governo. 7 Rosenau, 2000. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 15 de 48 A alocação de recursos públicos envolve diversos conflitos. Uma política pública pode atender aos anseios de determinada parcela da população e prejudicar outra. Assim, fica difícil saber o que seria uma “boa administração”. Muitas vezes, os governos tomam certas decisões com a finalidade de melhorar a qualidade de vida da sociedade. Contudo, é difícil prever todas as consequências de determinada ação. Dessa forma, em uma perspectiva mais moderna, a governança envolve as relações do governo com a sociedade, permitindo que a população participe ativamente do processo decisório. Nesse contexto, vejamos como leciona Eli Diniz8: Governança, na acepção aqui utilizada, diz respeito à capacidade de ação estatal na implementação das políticas e na consecução das metas coletivas. Implica expandir e aperfeiçoar os meios de interlocução e de administração dos conflitos de interesses, fortalecendo os mecanismos que garantam a responsabilização pública dos governantes. Governança refere-se, enfim, à capacidade de inserção do Estado na sociedade, rompendo com a tradição de governo fechado e enclausurado na alta burocracia governamental. Para complementar, vamos apresentar um importante texto de Maria Helena de Castro Santos em que a autora faz uma importante observação sobre os conceitos de governabilidade e governança: Com a ampliação do conceito de governance fica cada vez mais imprecisa sua distinção daquele de governabilidade. Melo e Diniz, contudo, preferem reter este último conceito para se referirem às condições sistêmicas e institucionais sob as quais se dá o exercício do poder, tais como as características do sistema político, a forma de governo, as relações entre os Poderes, o sistema de intermediação de interesses. Martins (1995) expressa-se de forma semelhante em relação ao termo governabilidade - ao qual se refere como arquitetura institucional - e o distingue de governança, basicamente ligada à performance dos atores e sua capacidade no exercício da autoridade política. Parece-me ter pouco sentido analítico tentar reter um conceito, por assim dizer, tão esvaziado como o de 8 Diniz, 2001. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 16 de 48 governabilidade - a não ser como uma homenagem histórica, e, neste caso, o termo estará intrinsecamente ligado à ingovernabilidade por sobrecarga de demandas e excesso participativo. Outros autores, contudo, continuam a utilizar o termo governabilidade de forma mais ampla e já referido ao moderno contexto das políticas de ajuste e reforma do Estado, pressupondo a ambiência democrática. Na verdade, é pouco relevante, a meuver, no contexto atual, tentar distinguir os conceitos de governance e governabilidade. Sugiro, então, para se fugir a essa discussão aparentemente interminável, que se adote simplesmente, para fins analíticos, o termo capacidade governativa. (grifos nossos) Devemos ficar atentos aos ensinamentos da autora, pois há um nebuloso campo entre as distinções de governança e governabilidade. Inclusive, tais confusões vêm sendo exploradas pelas bancas de concurso. Inicialmente, devemos analisar o aspecto da legitimidade. Como vimos acima, a governabilidade está relacionada com a legitimidade do Estado e do governo com a sociedade. Porém, Bresser-Pereira9 também relaciona a legitimidade com a governança, vejamos: No conceito de governança pode-se incluir, como o faz Reis (1994), a capacidade de agregar os diversos interesses, estabelecendo-se, assim, mais uma ponte entre governança e governabilidade. Uma boa governança, conforme observou Fritschtak (1994) aumenta a legitimidade do governo e, portanto, a governabilidade do país. Percebam que a legitimidade pode estar presente nos dois conceitos, tanto no de governança quanto no de governabilidade. Contudo, há uma diferenciação, ainda que sútil, entre a legitimidade no âmbito da governança e da governabilidade. Vamos ampliar o nosso debate para compreendermos este ponto. Maria Helena de Castro Santos10 destaca que o conceito de governance passou a incluir os princípios democráticos. Ensina ainda que, A literatura recente incorpora o novo conceito, partindo da definição geral do Banco Mundial, que, como indicado, refere-se ao modo como a autoridade é 9 Bresser-Pereira, 1997. 10 Santos, 1997. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 17 de 48 exercida no gerenciamento dos recursos do país em direção ao desenvolvimento. Governance, conforme Melo, refere-se ao modus operandi das políticas governamentais que inclui, dentre outras, questões ligadas ao formato político-institucional dos processos decisórios, à definição do mix apropriado do público/privado nas políticas, à participação e descentralização, aos mecanismos de financiamento das políticas e ao alcance global dos programas (cf. Melo, 1995:30-31). O conceito não se restringe, contudo, aos aspectos gerenciais e administrativos do Estado, tampouco ao funcionamento eficaz do aparelho de Estado. Dessa forma, a discussão mais contemporânea do conceito de governança ultrapassa o marco operacional para “incorporar questões relativas a padrões de articulação e cooperação entre atores sociais e políticos e arranjos institucionais que coordenam e regulam transações dentro e através das fronteiras do sistema econômico”11. Na mesma linha de argumentação, Klaus Frey12 destaca que, Reconhecendo as novas potencialidades relacionadas à ampliação dos atores sociais envolvidos na gestão da coisa pública, a literatura sobre gestão pública vem crescentemente enfatizando o tema de “governança” (governance), salientando novas tendências de administração pública e de gestão de políticas públicas, particularmente a necessidade de mobilizar todo conhecimento disponível na sociedade em benefício da melhoria da performance administrativa e da democratização dos processos decisórios locais (Bourdin, 2001; Hambleton et al., 2002; Pierre, 2001; Sisk et al., 2001; Kooiman, 2002). Dessa forma, o novo contexto da governança frisa as novas tendências de gestão compartilhada e interinstitucional que envolve o setor público, o setor produtivo e o terceiro setor. A sociedade civil organizada e o mercado são chamados para participar da gestão das políticas públicas, pois nenhuma pessoa detém sozinha todo o conhecimento e a capacidade de recursos para resolver problemas unilateralmente13. 11 Santos, 1997. 12 Frey, 2004. 13 Stoker, 2000, apud Frey, 2004. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 18 de 48 Com isso, Frey menciona a existência de duas perspectivas para a governança: a) a chamada “boa governança” (good governance) – conceito defendido pelo Banco Mundial e pelo FMI, tem como como objetivos principais o aumento da eficiência e da efetividade, a ênfase está na criação de condições de governabilidade e na garantia do funcionamento do livre jogo das forças de mercado; e b) a “governança participativa”, também chamada de “governança social negociada” – aqui ela é entendida “como uma fonte de novos experimentos na prática democrática”, implica a necessidade de criar condições favoráveis para que as interações entre os diversos atores sociais, imprescindíveis para lidar com a diversidade e a complexidade das sociedades contemporâneas, possam acontecer, e pontes de entendimento possam ser construídas. Nas duas concepções da governança, há a participação da sociedade civil. Contudo, a primeira situação pode estar ligada mais às questões administrativas e governamentais, em que ocorre a descentralização para a sociedade e o mercado da produção de determinados bens e serviços relacionados com as políticas públicas. No segundo caso, porém, ocorre a emancipação social e da redistribuição de poder. Assim, os diversos atores da sociedade são chamados para interagir. Com isso, a proliferação “destas novas formas de governança representa uma adaptação dos sistemas político-administrativos à diversidade, à complexidade e à dinâmica da sociedade contemporânea”. Assim, a legitimidade, no contexto da governança, é aplicada no sentido de que as decisões do governo são sustentadas por um amplo campo de debate, recebendo um apoio maior da sociedade civil organizada. O orçamento participativo é um exemplo. Ao invés de o governo decidir sozinho onde vai alocar seus recursos, ele abre espaço para a sociedade 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 19 de 48 participar da escolha de prioridades. Com isso, ainda que seja uma parcela pequena dos recursos, o orçamento torna-se mais legítimo perante as comunidades locais. Em síntese, podemos falar em legitimidade tanto em questões de governabilidade quanto nas de governança. Porém, a legitimidade no sentido de aceitação do Estado e do governo perante a sociedade é relacionada com a governabilidade; enquanto a legitimidade referente às decisões sobre as políticas públicas é um aspecto ligado mais a governança. Apesar das ressalvas apresentadas, em geral, as questões de concurso costumam relacionar a legitimidade com a governabilidade. IMPORTANTE – as questões de concurso costumam relacionar a legitimidade com a governabilidade. Outro ponto que merece ser mencionado é que uma baixa governança pode prejudicar a governabilidade, assim como uma baixa governabilidade pode prejudicar a governança. O próprio Bresser-Pereira14 salienta que, sem governabilidade plena, é impossível obter a governança, mas esta pode ser muito deficiente em situações satisfatórias de governabilidade. Era o caso do Brasil no início dos anos 90. Existia governabilidade plena, porém o nível de governança era baixo. Da mesma forma, como a governança é a parte instrumental dagovernabilidade, uma baixa governança pode levar a uma crise de governabilidade. Se o aparelho do Estado é deficiente e as demandas da população não são satisfeitas, o governo pode perder a sua legitimidade perante a sociedade. Intermediação de interesses Vamos retornar ao conceito de governabilidade apresentado por Eli Diniz: 14 Bresser-Pereira, 1998. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 20 de 48 Governabilidade refere-se às condições sistêmicas mais gerais sob as quais se dá o exercício do poder numa dada sociedade. Nesse sentido, as variações dos graus de governabilidade sofrem o impacto das características gerais do sistema político, como a forma de governo (se parlamentarista ou presidencialista), as relações entre os poderes (maior ou menor assimetria entre Executivo e Legislativo), os sistemas partidários (pluripartidarismo ou bipartidarismo), o sistema de intermediação de interesses (corporativista ou pluralista), entre outras características. Da mesma forma, Vinicius de Araújo ensina que a governabilidade pode ser concebida como a autoridade política do Estado em si, “entendida como a capacidade que este tem para agregar os múltiplos interesses dispersos pela sociedade e apresentar-lhes um objetivo comum para os curto, médio e longo prazos”. Ademais, estas condições podem ser sumarizadas como o “apoio obtido pelo Estado às suas políticas e à sua capacidade de articular alianças e coalizões/pactos entre os diferentes grupos sócio-políticos para viabilizar o projeto de Estado e sociedade a ser implementado”. Assim, fica evidente que o Estado precisa realizar diversas alianças e pactos sociais para viabilizar o alcance de seus objetivos. A essas formas de tentativa de articulação, cujo objetivo é o aumento da governabilidade, dá-se o nome de intermediação de interesses. Vamos, então, estudar as três formas de intermediação de interesses previstas no edital: clientelismo, corporativismo e neocorporativismo. Clientelismo De acordo com José Murilo de Carvalho, o clientelismo “indica um tipo de relação entre atores políticos que envolve concessão de benefícios públicos, na forma de empregos, benefícios fiscais, isenções, em troca de apoio político, sobretudo na forma de voto”. Paulo D'Avila Filho, por sua vez, destaca que, O clientelismo será caracterizado como um tipo de troca política assimétrica, marcado por uma série de especificidades que precisam ser observadas, se quisermos encontrar uma definição satisfatória de clientelismo, ainda que necessariamente elástica. [...] 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 21 de 48 O que se troca é apoio político e lealdade por benefícios patrimoniais, máquina política por compromisso. Nesse contexto, podemos definir o clientelismo como uma relação entre desiguais (assimétrica) em que uma pessoa, o patrão, concede benefícios a outra em troca de apoio político, principalmente na forma de voto. Para Surama Conde Sá Pinto: “Neste tipo de relação políticos e/ou o governo trocam com setores pobres da população votos por empregos e serviços sem a mediação de terceiros”. Percebam que o clientelismo tem como característica a desigualdade (verticalidade, assimetria), pois um dos lados encontra-se na posição de “patrão” e a outra na de “cliente”. O “patrão” fornece ao “cliente” algum tipo de recurso público (isenções, empregos, facilidades, benefícios públicos etc.) com o objetivo de formar uma rede de lealdade para obter legitimação e apoio. Devemos destacar, porém, que não necessariamente o clientelismo é uma prática entre ricos e pobres. Ele é uma forma de intermediação de interesses que pode envolver políticos e burocratas, políticos e cidadãos, e por aí vai. Os principais aspectos são a relação de desigualdade e a troca de benefícios por apoio em uma forma de lealdade pessoal. Corporativismo Segundo Edson de Oliveira Nunes, apresentando os ensinamentos de Philippe Schmitter15, Em seu fecundo artigo, Schmitter afirma que o corporativismo é um sistema de representação de interesses (ou intermediação de interesses, como preferiu chamar em trabalho posterior), baseado em número limitado de categorias compulsórias, não-competitivas, hierárquicas e funcionalmente separadas, que são reconhecidas, permitidas e subsidiadas pelo Estado. Nessa linha, o corporativismo se realiza por meio de entidades representantes de classe, que recebem do Estado o monopólio da 15 Schimitter, 1979, apud Nunes, 2003. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 22 de 48 representação no interior de suas respectivas categorias, em troca de controle, seleção de lideranças e subsídios. Em algumas situações, o próprio Estado se encarrega de criar essas entidades representativas, que podem, até mesmo, integrar a estrutura estatal. Para Ângela de Castro Gomes16, Como decorrência, o modelo exigia o sindicato único e sujeito ao controle estatal, uma vez reconhecido como o representante de toda uma categoria profissional, o que excedia seu corpo de associados. A pluralidade e a liberdade sindicais tornavam-se inviáveis nessa proposta, que se sustentava no monopólio da representação, tão essencial quanto a tutela estatal. Era exatamente a articulação dessas duas características – a unicidade e a tutela – que institucionalizava o novo tipo de arranjo associativo, tornando o corporativismo democrático, isto é, tornando-o um instrumento crucial da nova democracia social e da organização do povo brasileiro. Explicando de maneira mais simples, o corporativismo é uma prática em que o Estado concede o monopólio a uma entidade representante, desde que ela se submeta aos controles estatais. Assim, ele é um mecanismo de remoção e neutralização de conflitos, no qual o Estado escolhe com quem quer dialogar. Isso porque a entidade só detém a capacidade de representação se receber algum tipo de reconhecimento oficial. Por essas características, o corporativismo também ficou conhecido como corporativismo estatal. O corporativismo é uma prática comum dos governos autoritários, sendo fortemente utilizado durante o Governo Vargas. Por fim, é importante destacarmos os ensinamentos de Alfred Stepan17. Segundo o autor há dois tipos de políticas corporativistas: inclusivas e exclusivas. Nas políticas inclusivas, a elite estatal procura desenvolver um tipo de relação do Estado com a sociedade através da incorporação política e econômica de setores significativos da classe trabalhadora, utilizando algumas 16 Gomes, 2005. 17 Stepan, 1980, apud Meira, 2005. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 23 de 48 políticas distributivas e de bem-estar. Esse é o corporativismo inclusivo, estando associado principalmente aos regimes populistas, como o de Vargas, porexemplo. Por outro lado, nas políticas exclusivas, a elite estatal busca estabelecer um equilíbrio entre o Estado e a sociedade através de uma política repressiva, percebendo as reivindicações da classe subalterna como ameaças à ordem política que devem ser contidas. Esse é o denominado corporativismo exclusivo, estando associado aos regimes burocrático-autoritários, como a ditadura militar pós-64 no Brasil. Neocorporativismo O neocorporativismo, também chamado de corporativismo societal (ou social), representa um arranjo institucional realizado por associações e entidades representativas que participam junto com o Estado das decisões em políticas públicas. Enquanto no corporativismo é o Estado que concede o direito de representação, no neocorporativismo são as próprias entidades que conquistam essa prerrogativa. Para Wilma Keller18: Define-se o conceito de “corporativismo societal” – em contraposição ao de “corporativismo estatal” – para caracterizar processos de articulação e intermediação de interesses que emergem autonomamente da sociedade em direção ao Estado, com a preservação da autonomia relativa dos atores envolvidos. Na definição de “corporativismo estatal”, ao contrário, ressalta-se o papel central do Estado enquanto agente controlador das organizações de interesse, em particular daquelas vinculadas ao capital e ao trabalho. Assim, no neocorporativismo as entidades possuem autonomia em relação ao Estado. Complementa a autora ensinando que “O conceito de ‘neocorporativismo’ expressa um modo particular de articulação entre o Estado e grupos de interesse, combinando dois aspectos centrais: a 18 Keller, 1995. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 24 de 48 intermediação de interesses e uma modalidade específica de formulação/gestão de políticas públicas”. Segundo Philippe Schimitter19, “o neocorporativismo representa um arranjo institucional ligando interesses organizados associativamente com as estruturas decisionais do Estado”. O neocorporativismo “refere-se a uma articulação específica entre Estado, organizações empresariais e sindicatos de trabalhadores, configurando sistemas tripartites de formulação de políticas públicas”20. Essa forma de intermediação de interesses surge no momento em que o Estado percebe que existe a necessidade de obter apoio das grandes organizações de interesse para realizar as estratégias de coordenação macroeconômica. Como principais características do neocorporativismo, podemos mencionar21: a) as associações/entidades possuem autonomia e penetram no Estado; b) é um modelo que surgiu durante o Estado de Bem-Estar Social e da socialdemocracia europeia, a partir das políticas de Estado e de corte keynesiano; c) resultaram da dinâmica da organização dos interesses, sendo respaldadas pelas políticas governamentais. Por fim, devemos entender que, no corporativismo estatal, as entidades eram criadas ou controladas pelo Estado para intermediar os interesses de classes, principalmente as trabalhistas. Por outro lado, o corporativismo societal (neocorporativismo) decorre da evolução das democracias e da participação da sociedade na arena decisória. O primeiro caso representa uma forma de controle do Estado, enquanto no segundo há uma colaboração entre 19 Schimitter, 1989, apud Paludo, 2013. 20 Keller, 1995. 21 Carnoy, 1994, apud, Magalhães, 2005. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 25 de 48 o Estado e a sociedade para a formulação e implementação de políticas públicas. Princípios básicos da governança corporativa Em geral, a parte de governança corporativa não costuma ser cobrada em questões de Administração Pública. Entretanto, para dar maior segurança ao nosso curso, vamos apresentar, rapidamente, os princípios básicos da governança corporativa segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa: transparência (disclosure) – o desejo de disponibilizar para as partes interessadas as informações que sejam de seu interesse e não apenas aquelas impostas por disposições de leis ou regulamentos. A adequada transparência resulta em um clima de confiança, tanto internamente quanto nas relações da empresa com terceiros. Não deve restringir-se ao desempenho econômico-financeiro, contemplando também os demais fatores (inclusive intangíveis) que norteiam a ação gerencial e que conduzem à criação de valor; equidade (fairness) – caracteriza-se pelo tratamento justo de todos os sócios e demais partes interessadas (colaboradores, stakeholders). Atitudes ou políticas discriminatórias, sob qualquer pretexto, são totalmente inaceitáveis; prestação de contas (accountability) - os agentes de governança devem prestar contas de sua atuação, assumindo integralmente as consequências de seus atos e omissões; e responsabilidade corporativa (compliance) – os agentes de governança devem zelar pela sustentabilidade das organizações, visando à sua longevidade, incorporando considerações de ordem social e ambiental na definição dos negócios e operações. Adicionalmente, podemos falar nas oito características clássicas da boa governança: (a) participação; (b) Estado de direito; (c) transparência; (d) 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 26 de 48 responsabilidade; (e) orientação por consenso; (f) igualdade e inclusão; (g) efetividade e eficiência; (h) prestação de contas (accountability). Vamos resolver algumas questões? No que se refere aos fundamentos da administração pública no Brasil nos últimos 30 anos, julgue o seguinte item. 4. (Cespe - Analista Judiciário/TRE-ES/2011) No modelo gerencial, a governança constitui importante ação governamental, visto que propõe a ampliação do papel da sociedade civil organizada e a diminuição do tamanho do Estado. Comentário: de acordo com o Caderno MARE nº 1, a governança será alcançada e a reforma do Estado será bem sucedida quando o Estado se tornar mais forte embora menor. Além disso, Eli Diniz ensina que a governança refere-se à capacidade de inserção do Estado na sociedade, rompendo com a tradição de governo fechado e enclausurado na alta burocracia governamental. Por fim, vimos que a governança envolve, também, a ampliação do papel da sociedade civil organização tanto na produção de bens e serviços quanto na participação do processo decisório. Gabarito: correto. 5. (Cespe - AUFC/TCU/2008) A governabilidade diz respeito às condições sistêmicas e institucionais sob as quais se dá o exercício do poder, tais como as características do sistema político, a forma de governo, as relações entre os poderes e o sistema de intermediação de interesses. Comentário: segundo Melo e Diniz22, a governabilidade se refere às condições sistêmicas e institucionais sob as quais se dá o exercício do poder, tais como as características do sistema político, a forma de governo, as relações entre os 22 Melo e Diniz, apud Santos, 2001. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública AuditorFiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 27 de 48 Poderes, o sistema de intermediação de interesses. Percebam que a questão nada mais é do que cópia da definição dos autores. Gabarito: correto. É possível notar, entre muitos gestores públicos, preocupação crescente com a sustentabilidade de suas ações e com a estrutura necessária para dar continuidade e consolidar suas gestões. Elevar o nível de maturidade na gestão é garantir terreno fértil para o desenvolvimento e a perenidade de práticas positivas. Quanto ao conceito, aos modelos e aos componentes da maturidade, julgue o item. 6. (Cespe – Consultor/Sefaz-ES/2008) Os princípios básicos que inspiram este código das melhores práticas de governança corporativa são: transparência (disclosure), equidade (fairness), prestação de contas (accountability) e responsabilidade corporativa (compliance). Comentário: a governança corporativa é orientada por alguns princípios básicos, são eles: transparência – desejo de informar; equidade – tratamento justo e sem discriminação; prestação de contas – os agentes devem prestar contas e assumir a responsabilidade por seus atos; responsabilidade corporativa – a organização deve tomar medidas de ordem social e ambiental sustentáveis. Gabarito: correto. 7. (Cespe - AUFC/AGO/2011) Governança trata do aperfeiçoamento dos conflitos de interesses presentes em determinada sociedade quando se trata de defender interesses. Comentário: essa questão gerou muita polêmica quando foi aplicada. Em geral, a governabilidade é que está ligada à intermediação de interesses. Por isso, a banca considerou a questão errada. Devemos lembrar, contudo, que a governança também pode estar relacionada à intermediação de interesses. Segundo Eli Diniz: Governança, na acepção aqui utilizada, diz respeito à capacidade de ação estatal na implementação das políticas e na consecução das metas 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 28 de 48 coletivas. Implica expandir e aperfeiçoar os meios de interlocução e de administração dos conflitos de interesses, fortalecendo os mecanismos que garantam a responsabilização pública dos governantes. Na mesma linha seguem os ensinamentos de Bresser-Pereira: No conceito de governança pode-se incluir, como o faz Reis (1994), a capacidade de agregar os diversos interesses, estabelecendo-se, assim, mais uma ponte entre governança e governabilidade. Uma boa governança, conforme observou Fritschtak (1994) aumenta a legitimidade do governo e, portanto, a governabilidade do país. Nessa linha, creio que o item deveria ter sido anulado. De qualquer forma, como o gabarito foi mantido, devemos memorizar que, para o Cespe: “A governabilidade trata do aperfeiçoamento dos conflitos de interesses presentes em determinada sociedade quando se trata de defender interesses”. Gabarito: errado. 8. (Cespe - AUFC/AGO/2011) Entre outros aspectos, a governança trata das condições sistêmicas sob as quais se dá o exercício de poder em determinada sociedade. Comentário: sem problemas agora. Quem trata das condições sistêmicas sob as quais se dá o exercício de poder é a governabilidade. Gabarito: errado. 9. (Cespe – ACE/TC-DF/2012) O fato de o governador de uma unidade federativa, incluso o DF, perder sua legitimidade democrática lhe acarreta a perda da governança. Comentário: inicialmente, a banca considerou a questão correta, mas acabou anulando a questão no gabarito definitivo. Segundo o Cespe: “Há divergência na literatura em relação ao assunto tratado no item. Desse modo, opta-se por sua anulação”. A banca agiu corretamente. Em geral, a legitimidade é um aspecto da governabilidade. Contudo, quando os governos aumentam a participação da sociedade no processo decisório sobre as políticas públicas, eles aumentam a 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 29 de 48 legitimidade de suas decisões. Vejam, assim, que a governança também pode se relacionar com a legitimidade. Gabarito: anulado. 10. (Cespe – Técnico em Regulação/ANCINE/2012) Governança representa a capacidade de um governo para formular e implementar suas decisões. Comentário: este é o conceito clássico de governança. Segundo Vinicius de Araújo, entende-se a governança como a capacidade que um determinado governo tem para formular e implementar as suas políticas. O autor divide essa capacidade em financeira, gerencial e técnica. Gabarito: correto. 11. (Cespe - AUFC/AGO/2013) Resultante da relação de legitimidade do Estado e do seu governo com a sociedade, a governança implica a capacidade governamental de realizar políticas e a promoção da accountability. Comentário: vejam que o conceito apresentado é o de governabilidade: a capacidade política de governar, que deriva da relação de legitimidade do Estado e do seu governo com a sociedade23. Ou seja, o primeiro trecho trata da governabilidade. A segunda parte, entretanto, realmente fala da governança – “implica a capacidade governamental de realizar políticas e a promoção da accountability”. Gabarito: errado. 12. (Cespe – Analista/BACEN/2013) O governo que se orienta pelo consenso e que busca a efetividade dos resultados com ações que contemplam a igualdade e a inclusão adota um modelo de governança adequado, segundo os critérios clássicos de uma boa governança. Comentário: as características/critérios clássicos da boa governança são: (a) participação; (b) Estado de direito; (c) transparência; (d) responsabilidade; (e) orientação por consenso; (f) igualdade e inclusão; (g) efetividade e eficiência; (h) prestação de contas (accountability). 23 Bresser-Pereira, 1998. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 30 de 48 Gabarito: correto. 13. (Cespe – Analista/BACEN/2013) Durante a definição de um modelo de governança, decidem-se os processos, costumes, políticas, leis, regulamentos e instituições que regulamentarão a atuação de um governo. Esse processo de decisão pressupõe a análise de determinados aspectos, como nível de transparência a ser adotado na gestão, nível de responsabilização dos envolvidos e prestação de contas. Comentário: a governança envolve a transparência, responsabilização, prestação de contas e equidade. A primeira parte é a definição do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC): “A Governança Corporativa é o conjunto de políticas, leis, regulamentos, processos, costumes e instituições que regem a maneira como uma empresa deve ser administrada ou controlada.” Este é um conceito relacionado com a governança corporativa, mas, por segurança, é importante saber para evitar surpresas na prova. Gabarito: correto. 14. (Cespe – Auditor do Estado/Secont-ES/2009) Ao analisar o Estado brasileiro, no que tange à sua administração pública, caso se verifique que não há condições para governar em virtude da falta de legitimidade democrática, é correto afirmar que há uma crise de governança. Comentário: se não houver condições para governar em virtude da faltade legitimidade democrática, significa que há uma crise de governabilidade. Nesse sentido, dispõe o PDRAE: O governo brasileiro não carece de “governabilidade”, ou seja, de poder para governar, dada sua legitimidade democrática e o apoio com que conta na sociedade civil. Enfrenta, entretanto, um problema de governança, na medida em que sua capacidade de implementar as políticas públicas é limitada pela rigidez e ineficiência da máquina administrativa. Gabarito: errado. 15. (Cespe – Auditor do Estado/Secont-ES/2009) Caso o Estado brasileiro, com relação à sua administração pública, possua rigidez e ineficiência da máquina administrativa, então é correto afirmar que existem problemas com a governabilidade. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 31 de 48 Comentário: a rigidez e a ineficiência da máquina administrativa decorrem da falta de governança. Vamos dar outra olhada no Plano Diretor: Considerando esta tendência, pretende-se reforçar a governança - a capacidade de governo do Estado - através da transição programada de um tipo de administração pública burocrática, rígida e ineficiente, voltada para si própria e para o controle interno, para uma administração pública gerencial, flexível e eficiente, voltada para o atendimento do cidadão. Vejam que um dos objetivos da reforma gerencial era diminuir a ineficiência da máquina administrativa, reforçando a governança por meio da transição da administração pública burocrática, rígida e ineficiente, para um modelo flexível e eficiente, voltado para o atendimento do cidadão. Gabarito: errado. 16. (Cespe – Auditor do Estado/Secont-ES/2009) Corporativismo é uma forma de intermediação de interesses em que existe uma representação dos interesses econômicos e profissionais em representações políticas que integram até mesmo a própria estrutura estatal. Comentário: o corporativismo é uma forma de intermediação de interesses em que o Estado concede o monopólio de representação a uma entidade em troca da submissão a algumas formas de controle. Dessa forma, o arranjo fica mais facilitado, pois o governo elege quem será o interlocutor. Em alguns casos, o próprio Estado criou a entidade, que poderá, ainda, integrar a estrutura estatal. Gabarito: correto. 17. (Cespe – Auditor do Estado/Secont-ES/2009) O clientelismo configura-se pela existência de relações comprometidas entre políticos de profissão e burocratas, que possuem entre si lealdades pessoais e troca de vantagens na estrutura pública que controlam, obtendo, desse modo, não só legitimação do voto, mas também apoio. Comentário: o clientelismo é uma troca de vantagens, concedida a partir de recursos públicos (em sentido amplo). Assim, uma parte concede os benefícios, enquanto a outra dá o apoio, que se manifesta, principalmente, mas não exclusivamente, na forma do voto. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 32 de 48 Gabarito: correto. 18. (Cespe – Técnico/IPEA/2008) O padrão corporativista brasileiro caracterizou-se pela exclusão dos trabalhadores das arenas decisórias governamentais, ao mesmo tempo em que os interesses empresariais garantiram sua representação no aparelho estatal. Comentário: existem dois tipos de corporativismo: inclusivo e exclusivo. Um deles é repressivo, sendo marcado pela exclusão da maioria dos trabalhadores do ambiente de discussão. Nesse caso, as classes representativas são utilizadas para excluir grupos. Já no corporativismo inclusivo há a incorporação política e econômica de setores significativos da classe trabalhadora, utilizando algumas políticas distributivas e de bem-estar. O corporativismo exclusivo é típico dos governos autoritários, enquanto o inclusivo é utilizado nos regimes populistas. Há uma divergência doutrinária nesse ponto. Enquanto Ana Cláudia Hebling Meira ensina que o Governo Vargas utilizou o corporativismo inclusivo; Augustinho Paludo informa que, durante o Governo Vargas, ocorreu a exclusão da grande maioria dos trabalhadores. De qualquer forma, podemos dizer que, dependendo do momento histórico, predominou o corporativismo inclusivo ou exclusivo. Por esse motivo, o Cespe optou pela anulação da questão. Vajam a justificativa da banca: “Não há, no item, definição de período histórico, o que prejudica seu julgamento objetivo. Dessa forma, o Cespe/UnB decide pela sua anulação”. Gabarito: anulado. 19. (Cespe – Técnico/IPEA/2008) O arranjo corporativista brasileiro configurou-se como um conjunto articulado de estruturas institucionais, com duas características centrais: a proibição da unicidade sindical e o pluralismo de representação imposto pelo Estado. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 33 de 48 Comentário: é justamente o contrário. No corporativismo brasileiro, ocorreu a unicidade sindical (monopólio de representação) imposto pelo Estado. Gabarito: errado. 20. (Cespe – Técnico/IPEA/2008) Características essenciais desse modelo são: o monopólio da representação dentro de cada categoria ocupacional, assegurado pelo Estado por meio do reconhecimento de um sindicato por base territorial; o poder de intervenção do Ministério do Trabalho e Emprego; uma relação institucionalizada entre empregados e empregadores, destinada a prevenir conflitos, pela intermediação do Estado e julgamento pela justiça trabalhista, o que colocou obstáculos à negociação coletiva. Comentário: agora sim. No corporativismo, ocorreu o monopólio da representação dentro de cada categoria ocupacional, assegurado pelo Estado por meio do reconhecimento de um sindicato por base territorial. Devemos perceber que o corporativismo ocorreu, principalmente, no âmbito das entidades representativas das classes trabalhistas, os sindicatos. Gabarito: correto. Segundo Nunes, existem quatro padrões institucionalizados de relações que estruturam os laços entre sociedade e Estado no Brasil, desempenhando funções de controle político, intermediação de interesses e alocação do fluxo de recursos materiais disponíveis. Acerca dos temas governabilidade e governança e intermediação de interesse, julgue os itens a seguir. 21. (Cespe – ACE/TCE-AC/2009) O clientelismo se manifesta pelos processos de troca de favores, que determinam também uma forma de relação das lideranças partidárias com suas bases. No entanto, o clientelismo não pode ser categorizado como um instrumento de legitimação política. Comentário: o clientelismo é uma forma de legitimação política, por isso o item está errado. Vejam que, na primeira parte, a banca apresentou mais uma situação em que o clientelismo pode se manifestar: “relação das lideranças partidárias com suas bases”. Lembrem-se, o clientelismo é marcado pela troca de favores entre desiguais. Um concede benefícios, enquanto o outro dá o apoio. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 34 de 48 Gabarito: errado. 22. (Cespe – ACE/TCE-AC/2009) O corporativismo estatal é um instrumento de legitimação política embasadona representação de grupos funcionais produtivos e pela adoção de uma estrutura de associações, diretamente vinculada ao Estado, no entanto não depende dele para autorização e reconhecimento. Comentário: no corporativismo estatal, ou simplesmente corporativismo, há a dependência do Estado para autorização e reconhecimento. Gabarito: errado. 23. (Cespe – ACE/TCE-AC/2009) O neocorporativismo significa a integração da classe trabalhadora organizada ao Estado capitalista, buscando incrementar o crescimento econômico e, ainda, assegurar a harmonia em face do conflito de classe, combinado a um sistema de bem-estar social. Diferentemente do corporativismo estatal, associações não possuem autonomia, não são capazes de penetrar no Estado. Comentário: no neocorporativismo, ou corporativismo societal, as associações possuem autonomia e são capazes de penetrar no Estado para discutir a formulação e implementação de políticas. Gabarito: errado. 24. (Cespe – ACE/TCE-AC/2009) Os altos níveis de desigualdades sociais, a economia informal e o grau de heterogeneidade do sistema econômico, entre outros aspectos, minimizam a acumulação de poder pela via dos pactos sociais, de modo a garantir a governabilidade. Comentário: essa é uma questão bem “pesada”. Vimos que a governabilidade envolve a legitimidade do governo perante a sociedade. Dessa forma, a intermediação de interesses é um de seus componentes. Contudo, a formação de um pacto social dependeria de certa homogeneidade entre os atores sociais. Vou dar um exemplo, o Programa Bolsa Família é um tipo de política pública de descentralização de renda que, por sua característica redistributiva (tira de um 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 35 de 48 para dar a outro) acaba sendo muito polêmico. Dessa forma, percebam como a desigualdade social dificulta a formação de um pacto social. Assim, a desigualdade social, a economia informal e o grau de heterogeneidade do sistema econômico minimizam a acumulação de poder através dos pactos sociais utilizados para garantir a governabilidade. Vejam, por mais que se negocie, sempre teremos uma classe insatisfeita. Com isso, o poder do pacto social fica prejudicado. Dessa forma, o item está correto. Gabarito: correto. 25. (Cespe – Analista/SERPRO/2013) A governança corporativa acentua a necessidade de eficácia e accountability na gestão dos bens públicos. Comentário: simples não? Diversas passagens de nossa aula respondem esse item. Vamos relembrar as oito características clássicas da boa governança: (a) participação; (b) Estado de direito; (c) transparência; (d) responsabilidade; (e) orientação por consenso; (f) igualdade e inclusão; (g) efetividade e eficiência; (h) prestação de contas (accountability). A eficácia diz respeito ao alcance dos objetivos/metas estabelecidos. Apesar de não constar expressamente, devemos entender que a boa governança pressupõe o alcance dos objetivos organizacionais. Assim, o item está correto. Gabarito: correto. 26. (FCC – AJ/TRT-6/2012) O desenvolvimento da capacidade de governança aplicada às organizações públicas foca, principalmente, a) o desenvolvimento de estratégias de fortalecimento da burocracia profissional, por meio da universalização dos concursos públicos, redução dos cargos comissionados e eliminação da terceirização na administração pública. b) as questões ligadas ao formato político-institucional dos processos decisórios, a definição do mix apropriado do público/ privado nas políticas, a participação e a descentralização, assim como o escopo global dos programas. c) a reforma do regime político, reduzindo a necessidade de coalizões amplas de sustentação do governo e aperfeiçoamento de técnicas de planejamento estratégico na gestão dos programas ministeriais. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 36 de 48 d) a redução da máquina burocrática, especialmente nos níveis gerenciais, introduzindo métodos de contratação de gestores semelhantes aos da iniciativa privada. e) a introdução da gestão por resultados, a redução dos níveis hierárquicos e maior autonomia gerencial para os níveis operacionais, responsáveis pela implementação dos programas governamentais. Comentário: a) errada: vimos que a reforma gerencial teve a finalidade de reforçar a governança através da transição programada de um tipo de administração pública burocrática, rígida e ineficiente, voltada para si própria e para o controle interno, para uma administração pública gerencial, flexível e eficiente, voltada para o atendimento do cidadão. Nesse contexto, o desenvolvimento da governança envolve a ampliação dos mecanismos de terceirização e não o contrário; b) correta: vejamos um pequeno trecho de um artigo de Maria Helena de Castro Santos: A literatura recente incorpora o novo conceito, partindo da definição geral do Banco Mundial que, como indicado, refere-se ao modo como a autoridade é exercida no gerenciamento dos recursos do país em direção ao desenvolvimento. Governance, conforme Melo, refere-se ao modus operandi das políticas governamentais — quando se preocupa, dentre outras, com questões ligadas ao formato político- institucional dos processos decisórios, à definição do mix apropriado do público/privado nas políticas, à questão da participação e descentralização, aos mecanismos de financiamento das políticas e ao escopo global dos programas. Percebam que, por essa nova abordagem, a governança está intimamente relacionada com o envolvimento entre o público e o privado no processo decisório e no gerenciamento de programas governamentais. c) errada: o regime político e a formação de coalizações se referem à governabilidade; 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 5 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 37 de 48 d) errada: não podemos admitir métodos de contratação semelhantes à iniciativa privada, pois o setor público é regido pelo princípio da impessoalidade. Além disso, a redução da máquina burocrática (máquina pública) deve ocorre mais nos níveis de execução, preservando-se o núcleo estratégico; e) errada: o item apresenta alguns princípios da reforma gerencial, não tratando especificamente da governança pública. Ficou um pouco confuso e duvidoso, mas, em concursos, devemos marcar a opção “mais correta”, no caso, a opção B. Gabarito: alternativa B. 27. (FCC – AT/MPE-AM/2013) Governança, na Administração pública, é um a) conjunto de condições necessárias ao exercício do poder, compreendendo a forma de governo, as relações entre os poderes e o sistema partidário. b) modelo horizontal de relação entre atores públicos e privados no processo de elaboração de políticas públicas. c) pressuposto cujo detentor do poder público tem o dever de prestar contas, para sua consequente responsabilização. d) processo administrativo tipificado em planejamento, programação, orçamentação, execução, controle e avaliação das políticas públicas, por uma entidade pública ou privada. e) conjunto de ações do governo que irão produzir efeitos específicos. Comentário: a) errada: a governabilidade envolve as condições necessárias ao exercício do poder, a forma de governo, as relações entre os poderes e o sistema partidário;
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