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Aula 07 Administração Pública p/ TCE-SC - Auditor Fiscal de Controle Externo - Cargo 1 - Administração Professor: Herbert Almeida 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 1 de 54 AULA 7: Políticas públicas (parte 1) SUMÁRIO POLÍTICAS PÚBLICAS ......................................................................................................................... 2 Classificação das políticas públicas ...........................................................................................................8 Ciclo das políticas públicas ..................................................................................................................... 13 Formação da agenda .............................................................................................................................. 16 Elaboração de políticas .......................................................................................................................... 23 Formulação de políticas ......................................................................................................................... 24 Implementação das políticas ................................................................................................................. 31 Avaliação em políticas públicas ............................................................................................................. 42 Tipos de avaliação .................................................................................................................................. 44 QUESTÕES COMENTADAS NA AULA ................................................................................................. 50 GABARITO ...................................................................................................................................... 53 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 54 Olá pessoal! Vamos estudar, nesta aula, os seguintes itens do edital: “8 Processo de formulação e desenvolvimento de políticas: construção de agendas, formulação de políticas, implementação de políticas. 10.3 Avaliação de programas e projetos. 10.4 Tipos e modelos de avaliação de políticas públicas. 10.5 Análise custo benefício e análise custo-efetividade”. Este assunto está ganhando espaço nos últimos certames, mas ainda não há um número razoável de questões do Cespe. Dessa forma, nossa lista de exercícios será um pouco reduzida, ok?! Aproveitem a aula e bons estudos! 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 2 de 54 POLÍTICAS PÚBLICAS Vimos ao longo desse curso que o papel do Estado evoluiu bastante ao longo do tempo. Enquanto nos séculos XVIII e XIX o principal objetivo era a segurança pública e a defesa externa em caso de ataque inimigo; nos tempos atuais, o Estado desempenha ações em diferentes áreas, como saúde, educação e meio ambiente. Nessa perspectiva, para atingir resultados em diversas áreas e promover o bem-estar da sociedade, os governos se utilizam das políticas públicas que podem ser definidas como um conjunto de ações e decisões do governo, voltadas para a solução de problemas da so- ciedade1. Por sua vez, Enrique Saravia2, ao definir políticas públicas, ensina que, Trata-se de um fluxo de decisões públicas, orientado a manter o equilíbrio social ou a introduzir desequilíbrios destinados a modificar essa realidade. Decisões condicionadas pelo próprio fluxo e pelas reações e modificações que elas provocam no tecido social, bem como pelos valores, idéias e visões dos que adotam ou influem na decisão. Em complemento, o autor destaca que “É possível considerá-las como estratégias que apontam para diversos fins, todos eles, de alguma forma, desejados pelos diversos grupos que participam do processo decisório”. Assim, a finalidade última dessa dinâmica (consolidação da democracia, justiça social, manutenção do poder, felicidade das pessoas) “constitui elemento orientador geral das inúmeras ações que compõem determinada política”. De forma mais operacional, o próprio Saravia complementa que, [...] poderíamos dizer que ela é um sistema de decisões públicas que visa a ações ou omissões, preventivas ou corretivas, destinadas a manter ou modificar a realidade de um ou vários setores da vida social, por meio da definição de objetivos e estratégias de atuação e da alocação dos 1 Caldas, 2008. 2 Saravia, 2006. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 3 de 54 recursos necessários para atingir os objetivos estabelecidos. (grifos nossos) Para Celina Souza3, a definição mais conhecida é a de Laswell, ou seja, decisões e análises sobre política pública implicam responder às seguintes questões: quem ganha o quê, por quê e que diferença faz. Devemos diferenciar, entretanto, política de políticas públicas. De acordo com Maria das Graças Rua4, enquanto a primeira é um conceito mais amplo, consistindo no “conjunto de procedimentos formais e informais que expressam relações de poder e que se destinam à resolução pacífica dos conflitos quanto a bens públicos”; as políticas públicas (policies) são outputs, resultantes da atividade política (politics): compreendem o conjunto das decisões e ações relativas à alocação imperativa de valores. Nessa linha, o termo “política” (politics), “faz referência às atividades políticas: o uso de procedimentos diversos que expressam relações de poder”, ou seja, visam a influenciar o comportamento das pessoas. Assim, destinam-se a alcançar ou produzir uma solução pacífica de conflitos relacionados a decisões públicas. Podemos concluir, portanto, que o termo política abrange o processo de negociação entre os diversos atores sociais em busca de um consenso. Já as políticas públicas (policy) envolvem a formulação de propostas, tomada de decisões e sua implementação por organizações públicas, tendo como fonte os temas que afetam a coletividade, mobilizando interesses e conflitos. Ademais, Rua demonstra que as políticas públicas são uma das resultantes da atividade política (politics), compreendendo o conjunto das decisões e ações relativas à alocação imperativa de valores envolvendo bens públicos. Por sua vez, Klaus Frey diferencia três diferentes termos para designar as dimensões da política: 3 Souza, 2006. 4 Rua, 1998. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 4 de 54 a) polity: refere-se à forma de organização do sistema político, delineada pelo sistema jurídico, e à estrutura institucional do sistema político-administrativo; b) politics: trata-se do processo político, frequentemente de caráter conflituoso, no que diz respeito à imposição de objetivos, aos conteúdos e às decisões de distribuição; c) policy: refere-se aos conteúdos concretos da política, isto é,à configuração dos programas políticos, aos problemas técnicos e ao conteúdo material das decisões políticas. Em resumo: Prosseguindo, Maria Rua faz a distinção entre política pública e decisão política: política pública geralmente envolve mais do que uma decisão e requer diversas ações estrategicamente selecionadas para implementar as decisões tomadas; e decisão política corresponde a uma escolha dentre um conjunto de possíveis alternativas, conforme a hierarquia das preferências dos atores envolvidos, expressando – em maior ou menor grau – uma certa adequação entre os fins pretendidos e os meios disponíveis. Percebam, dessa forma, que toda política pública implica numa decisão política, mas nem toda decisão política chega a constituir uma política pública. Por exemplo, o Sistema Único de Saúde pode ser considerado uma política pública, enquanto a criação ou extinção da CPMF é apenas uma decisão política. Dimensões da política polity instituições políticas politics processos políticos policy conteúdos da política 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 5 de 54 Vimos acima alguns conceitos de políticas públicas. Vamos destacar alguns trechos para facilitar a nossa análise: a) “um conjunto de ações e decisões do governo”5; b) “um fluxo de decisões públicas”6; e c) “conjunto das decisões e ações relativas à alocação imperativa de valores”7. Podemos acrescentar mais alguns conceitos: Paludo8: “conjunto de meios, decisões e ações, que congregam diferentes atores e concentram esforços, utilizados pelos governos com vistas a mudar uma realidade, efetivar direitos e atender necessidades público-sociais”. Brooks9: “uma ampla estrutura de ideias e valores dentro da qual decisões são tomadas e a ação, ou inação, levada a efeito por governos em relação a alguma questão ou problema”. Percebam o quanto os autores demonstram a relação entre o governo/Estado e as decisões tomadas no âmbito das políticas públicas. Segundo Maria das Graças Rua, Embora as políticas públicas possam incidir sobre a esfera privada (família, mercado, religião), elas não são privadas. Mesmo que entidades privadas participem de sua formulação ou compartilhem sua implementação, a possibilidade de o fazerem está amparada em decisões públicas, ou seja, decisões tomadas por agentes governamentais, com base no poder imperativo do Estado. (grifos nossos) Contudo, não significa que essas políticas serão desenvolvidas exclusivamente pelo Estado. De acordo com Raquel Raichelis10, ao analisar as possibilidades de construção da esfera pública no âmbito das políticas 5 Caldas, 2008. 6 Saravia, 2006. 7 Rua, 1998. 8 Paludo, 2013. 9 Brooks, 1989, apud Procopiuck, 2013. 10 Raichelis, 2006. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 6 de 54 sociais, que envolvam a participação ativa da sociedade civil na sua definição e implementação, destacou três princípios norteadores desse processo: 1. analisar a gestão das políticas sociais implica referir-se a ações públicas como resposta a necessidades sociais que têm origem na sociedade e são incorporadas e processadas pelo Estado em suas diferentes esferas de poder (federal, estadual e municipal). 2. na formulação, gestão e financiamento das políticas sociais deve ser considerada a primazia do Estado, a quem cabe a competência pela condução das políticas públicas; 3. esta primazia, contudo, não pode ser entendida como responsabilidade exclusiva do Estado, mas implica a participação ativa da sociedade civil nos processos de formulação e controle social da execução, o que aponta para a importância da análise dos conceitos de público e de esfera pública, que serão objeto de nossa reflexão. Percebam que, para a autora, o Estado detém a primazia, mas não a responsabilidade exclusiva nos processos de formulação e controle social da execução das políticas públicas, uma vez que a sociedade civil deve participar ativamente desse processo. Vamos analisar uma questão do Cespe: 1. (Cespe – AUFC/TCU/2011) As políticas públicas são implementadas por governos, em parceria ou não com outras instituições sociais, com objetivo de realizar ações socialmente relevantes e economicamente viáveis. Segundo Maria Paula Dallari Bucci11, as políticas públicas são “programas de ação governamental visando coordenar os meios à disposição do Estado e as atividades privadas, para a realização de objetivos socialmente relevantes e politicamente determinados”. Vejam que o Cespe alterou a parte final da redação: “realizar ações socialmente relevantes e economicamente viáveis”. 11 Bucci, 2006. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 7 de 54 Inicialmente, a questão foi dada como errada, mas, após os recursos, a banca optou pela anulação, apresentando a seguinte justificativa: “O assunto tratado no item é controverso na literatura especializada. Por esse motivo, opta-se por sua anulação”. Infelizmente, essa justificativa genérica nos impede de estabelecer qual o ponto da questão que a banca entendeu controverso. Poderíamos entender que o motivo da anulação está na parte final, pois nem sempre uma política precisa ser economicamente viável. Por exemplo, alguém pode entender que os programas de transferência de renda não são viáveis no longo prazo, porém, como eles foram politicamente determinados e possuem um objetivo socialmente relevante, foram implementados pelo governo brasileiro. Entendemos que isso seria um motivo para manter a questão como “errada”, mas, infelizmente, a banca anulou a questão. Um último conceito de políticas públicas que vamos analisar é o de Elenaldo Celso Teixeira12: “Políticas públicas” são diretrizes, princípios norteadores de ação do poder público; regras e procedimentos para as relações entre poder público e sociedade, mediações entre atores da sociedade e do Estado. São, nesse caso, políticas explicitadas, sistematizadas ou formuladas em documentos (leis, programas, linhas de financiamentos) que orientam ações que normalmente envolvem aplicações de recursos públicos. Nem sempre porém, há compatibilidade entre as intervenções e declarações de vontade e as ações desenvolvidas. Devem ser consideradas também as “não-ações”, as omissões, como formas de manifestação de políticas, pois representam opções e orientações dos que ocupam cargos. Percebam que o autor entende que a omissão do governo também pode ser uma política pública, uma vez que abrange uma decisão ou opção do governo. É um posicionamento que se alinha com as palavras de Enrique Saravia, que vimos acima: “é um sistema de decisões públicas que visa a ações ou omissões, preventivas ou corretivas”. Assim, devemos incluir no 12 Teixeira, 2002. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.brPágina 8 de 54 conceito de políticas públicas tanto as ações quanto as omissões do governo. Classificação das políticas públicas De acordo com Elenaldo Teixeira, as políticas públicas podem se classificar conforme os seguintes critérios: quanto à natureza ou grau da intervenção: a) estrutural – buscam interferir em relações estruturais como renda, emprego, propriedade etc. b) conjuntural ou emergencial – objetivam abrandar uma situação temporária, imediata. quanto à abrangência dos possíveis benefícios: a) universais – para todos os cidadãos b) segmentais – para um segmento da população, caracterizado por um fator determinado (idade, condição física, gênero etc.) c) fragmentadas – destinadas a grupos sociais dentro de cada segmento. quanto aos impactos que podem causar aos beneficiários, ou ao seu papel nas relações sociais: a) distributivas – visam distribuir benefícios individuais; costumam ser instrumentalizadas pelo clientelismo; b) redistributivas – visam redistribuir recursos entre os grupos sociais: buscando certa equidade, retiram recursos de um grupo para beneficiar outros, o que provoca conflitos; c) regulatória – visam definir regras e procedimentos que regulem o comportamento dos atores para atender interesses gerais da sociedade; não visam benefícios imediatos para qualquer grupo. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 9 de 54 Essa classificação foi utilizada recentemente pelo Cespe, mas não é a tipologia mais comum. A forma de classificação mais utilizada foi descrita por Theodore Lowi, que, tomando por base as finalidades das políticas públicas, distingue-as em: políticas constitutivas, políticas distributivas, políticas redistributivas e políticas regulatórias. Marcio Procopiuck13 apresenta a explicação sobre cada uma dessas políticas, vamos dar uma olhada? a) Políticas distributivas: costumam distribuir recursos. Os meios de distribuição podem ser via subsídios em produtos ou serviços, bem como mediante concessão de benefícios diretamente aos interessados. A definição de como os recursos serão distribuídos e de quem serão os beneficiários normalmente é feita por meio de legislação. Segundo Klaus Frey14, as políticas distributivas são caracterizadas por um baixo grau de conflito dos processos políticos, visto que políticas de caráter distributivo só parecem distribuir vantagens e não acarretam custos - pelo menos diretamente percebíveis - para outros 13 Procopiuck, 2013. 14 Frey, 2000. Classificação das políticas públicas segundo Teixeira Quanto à natureza ou grau da intervenção Estrutural Conjuntural ou emergencial Quanto à abrangência dos possíveis benefícios Universais Segmentais Fragmentadas Quanto aos impactos que podem causar aos beneficiários Distributivas Redistributivas Regulatórias 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 10 de 54 grupos. Essas políticas são caracterizadas pelo consenso e por uma indiferença amigável. Finaliza o autor: Em geral, políticas distributivas beneficiam um grande número de destinatários, todavia em escala relativamente pequena; potenciais opositores costumam ser incluídos na distribuição de serviços e benefícios. (grifos nossos) Além disso, Celina Souza dispõe que as políticas distributivas são decisões tomadas pelo governo, que desconsideram a questão dos recursos limitados, gerando impactos mais individuais do que universais, ao privilegiar certos grupos sociais ou regiões, em detrimento do todo. b) Políticas redistributivas: são políticas que procuram mudar o grau de concentração de recursos mediante instituição de mecanismos de repasse de pontos de maior concentração para os de menor. Normalmente, este tipo de política busca a apropriação de recursos econômicos de classes de maior renda para repasse para as de menores rendimentos numa sociedade. O objetivo normalmente é melhorar o perfil de distribuição de renda. De acordo com Klaus Frey, ao contrário das políticas distributivas, as redistributivas são orientadas para o conflito. O objetivo é o desvio e o deslocamento consciente de recursos financeiros, direitos ou outros valores entre camadas sociais e grupos da sociedade. O processo político que visa a uma redistribuição costuma ser polarizado e repleto de conflitos. Para exemplificar, são exemplos de políticas distributivas aquelas orientadas para o atendimento de calamidades públicas, nas quais os governos enviam recursos para as classes atingidas. Por sua vez, são exemplos de políticas redistributivas os programas de transferência de renda, como o “Bolsa Família”. Conseguem perceber como o primeiro caso é mais seletivo e específico, não gerando muita discussão, enquanto o segundo é mais geral, tendo um perfil polêmico e conflitante?! 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 11 de 54 c) Políticas regulatórias: dizem respeito ao controle estatal sobre a utilização de recursos ou sobre a execução de atividades por diferentes segmentos da sociedade. Normalmente, as políticas regulatórias procuram impor padrões de comportamento a indivíduos ou a grupos, com vistas a preservar o interesse público e a manter o equilíbrio em relações competitivas entre os integrantes de dado setor da sociedade. Analisando novamente os ensinamentos de Klaus Frey, temos que as políticas regulatórias “trabalham com ordens e proibições, decretos e portarias”. Assim, os efeitos referentes aos custos e benefícios não são determináveis de antemão; dependem da configuração concreta das políticas. Custos e benefícios podem ser distribuídos de forma igual e equilibrada entre os grupos e setores da sociedade, do mesmo modo como as políticas também podem atender a interesses particulares e restritos. Os processos de conflito, de consenso e de coalizão podem se modificar conforme a configuração específica das políticas. A atuação das autarquias, como o Banco Central e as agências reguladoras, que têm importante papel na regulação da atividade econômica ou dos setores de serviços no Brasil, representa uma forma de política regulatória. d) Políticas constitutivas (estruturadoras): criam ou estruturam as condições para que determinados problemas passem a ser tratados sistematicamente. Em geral, a constituição dessas políticas é fundamentada pela aprovação de uma legislação que a especifica e lhe define uma finalidade, pela criação de órgãos responsáveis pela sua implementação e manutenção. Para Klaus Frey, as políticas constitutivas determinam as regras do jogo e, com isso, a estrutura dos processos e conflitos políticos, ou seja, as condições gerais sob as quais vêm sendo negociadas as políticas distributivas, redistributivas e regulatórias. Ademais, 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 12 de 54 A política estruturadora diz respeito à própria esfera da política e suasinstituições condicionantes (‘polity’) - refere-se à criação e modelação de novas instituições, à modificação do sistema de governo ou do sistema eleitoral, à determinação e configuração dos processos de negociação, de cooperação e de consulta entre os atores políticos. Dessa forma, as políticas constitutivas estão relacionadas com aspectos estruturais e legais, servindo de fundamento para as negociações das demais políticas (distributivas, redistributivas e regulatórias). Além dessas, Maurício Procopiuck apresenta uma classificação das políticas públicas quanto à sua natureza em: a) políticas materiais: proveem os seus beneficiários de recursos ou de poder substantivo ou a eles impõem desvantagens. São exemplos disso as políticas que instituem cotas de ingresso no curso superior para os grupos menos favorecidos, ou que criam diferenciação entre pessoas tributadas e não tributadas; e b) políticas simbólicas: normalmente, apresentam baixos impactos sobre as pessoas. Elas não chegam a concretizar aquilo que parecem fazer, alocando vantagens ou desvantagens intangíveis. São exemplos as políticas que procuram fortalecer sentimentos de patriotismo, de comportamentos pacíficos, de justiça social etc. Percebam que essa classificação quanto à natureza diverge daquela proposta que vimo acima. Para Teixeira, a classificação quanto à natureza divide as políticas em estrutural e emergencial/conjuntural. Tipologia de Lewi (finalidade das políticas públicas) Políticas distributivas Políticas redistributivas Políticas regulatórias Políticas constitutivas 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 13 de 54 Ciclo das políticas públicas O ciclo de políticas públicas, também chamado de processo de políticas públicas, é utilizado como meio para explicar como a política pública é concebida, escolhida, executada e avaliada15. Segundo Marcelo Procopiuck, apresentando os ensinamentos de Paul Pierson16, O ciclo de política pública é uma sequência funcional de atividades que começa com a identificação de um problema e definição de uma agenda para tratá-lo, segue com a execução de soluções julgadas mais adequadas e, finalmente, é concluído com a avaliação para corrigir os rumos da continuidade ou para decidir pela conclusão da política pública. (grifos nossos) Para Maria das Graças Rua17, na concepção do ciclo de políticas, a política pública é considerada como o resultado de uma série de atividades políticas que, agrupadas, formam o processo político. Essa visão de ciclo conduz os estudiosos a examinar como as decisões são ou poderiam ser tomadas e permite identificar e analisar os processos político- administrativos, os mecanismos e estratégias definidas para a realização da política, e o comportamento dos diferentes atores envolvidos em cada etapa do processo de produção de políticas. Ademais, “O ciclo de políticas é uma abordagem para o estudo das políticas públicas que identifica fases sequenciais e interativas-iterativas no processo de produção de uma política”. 15 Procopiuck, 2013. 16 Pierson, 1996, apud Procopiuck, 2013. 17 Rua, 2009. Classificação quanto à natureza (Procopiuck) Materiais Simbólicas 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 14 de 54 O ciclo de política (policy cycle) é, portanto, uma corrente de estudo que aborda as políticas públicas mediante a sua divisão em etapas sequenciais. Não há consenso entre os autores sobre quais as etapas/fases que compõem o ciclo de política. Klaus Frey18 destaca que são comuns a todas as propostas do ciclo político as fases (1) da formulação, (2) da implementação e (3) do controle dos impactos das políticas. Entretanto, o próprio autor propõe, do ponto de vista analítico, uma subdivisão um pouco mais sofisticada, apresentando as seguintes fases: (1) percepção e definição de problemas, (2) agenda-setting, (3) elaboração de programas e decisão, (4) implementação de políticas e (5) a avaliação de políticas e a eventual correção da ação. Para Maria das Graças Rua, o ciclo de políticas é composto pelas seguintes fases: (1) formação da agenda; (2) formação das alternativas e tomada de decisão; (3) implementação; (4) monitoramento; e (5) avaliação. Por outro lado, Celina Souza19 destaca que o ciclo da política pública é constituído dos seguintes estágios: (1) definição de agenda, (2) identificação de alternativas, (3) avaliação das opções, (4) seleção das opções, (5) implementação e (6) avaliação. Por seu turno, Enrique Saravia apresenta as seguintes etapas no processo de política pública: (1) inclusão na agenda, (2) elaboração, (3) formulação,(4) implementação, (5) execução, (6) acompanhamento e (7) avaliação. Vamos analisar cada uma delas?! 18 Frey, 2000. 19 Souza, 2006. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 15 de 54 a) Inclusão na agenda (ou inclusão de determinado pleito ou necessidade social na agenda, na lista de prioridades, do poder público) – designa o estudo e a explicitação do conjunto de processos que conduzem os fatos sociais a adquirir status de “problema público”, colocando-os no debate sobre a necessidade de intervenção através de políticas públicas. b) Elaboração – consiste na identificação e delimitação de um problema atual ou potencial da comunidade, a determinação das possíveis alternativas para sua solução ou satisfação, a avaliação dos custos e efeitos de cada uma delas e o estabelecimento de prioridades. c) Formulação – que inclui a seleção e especificação da alternativa considerada mais conveniente, seguida de declaração que explicita a decisão adotada, definindo seus objetivos e seu marco jurídico, administrativo e financeiro. d) Implementação – envolve o planejamento e a organização do aparelho administrativo e dos recursos humanos, financeiros, materiais e tecnológicos necessários para executar uma política. Trata- se da preparação para colocar em prática a política pública, a elaboração de todos os planos, programas e projetos que permitirão executá-la. e) Execução – é o conjunto de ações destinado a atingir os objetivos estabelecidos pela política. É pôr em prática efetiva a política, é a sua realização. f) Acompanhamento – é o processo sistemático de supervisão da execução de uma atividade e de seus componentes, tendo como objetivo fornecer a informação necessária para introduzir eventuais correções a fim de assegurar a consecução dos objetivos estabelecidos. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 16 de 54 g) Avaliação – consiste na mensuração e análise, a posteriori, dos efeitos produzidos na sociedade pelas políticas públicas, especialmente no que diz respeito às realizações obtidas e às consequências previstas e não previstas. Formação da agenda Para Ana Cláudia Niedhardt Capella20,a ideia de agenda pode ser definida como “o conjunto de questões relevantes na mídia, na opinião pública, ou dentro do governo, durante um período de tempo”. A autora salienta a importância de uma ideia “cujo tempo chegou”, referindo-se àquela que captura a atenção das pessoas, que se torna discutida pelo público no dia a dia, que é noticiada em jornais e revistas, ou que se converte em uma questão relevante junto ao governo, podendo materializar-se em programas concretos de ação governamental. Assim, o processo pelo qual as ideias competem para ganhar a atenção da mídia, do público, dos altos escalões do governo é denominado de agenda-setting, ou formação da agenda. 20 Capella, 2004. Agenda Elaboração Formulação Implementação Execução Acompanhamento Avaliação 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 17 de 54 Segundo Rua21, a formação da agenda ocorre quando uma situação qualquer é reconhecida como um problema político e a sua discussão passa a integrar as atividades de um grupo de autoridades dentro e fora do governo. Uma definição muito interessante de agenda é apresentada por John Kingdon, A agenda, como eu a concebo, é a lista de temas ou problemas que são alvo em dado momento de séria atenção, tanto da parte das autoridades governamentais como de pessoas fora do governo, mas estreitamente associadas às autoridades. [...] Dentro dos possíveis temas ou problemas aos quais os governantes poderiam dedicar sua atenção, eles se concentram em alguns e não em outros. Assim, o processo de estabelecimento da agenda reduz o conjunto de temas possíveis a um conjunto menor, que de fato se torna foco de atenção. Analisando ainda a definição de Enrique Saravia22, a definição da agenda é entendida como “o estudo e a explicitação do conjunto de processos que conduzem os fatos sociais a adquirir status de “problema público”, transformando-os em objeto de debates e controvérsias políticas na mídia”. Augustinho Paludo23 ensina que a agenda pública “é um espaço em que os principais temas/problemas nacionais, regionais e locais encontram-se reunidos”. Assim, podemos entender a formação da agenda como a identificação e o reconhecimento de problemas, que passam a ser objeto de debates entre os diversos atores para decidir se eles serão, ou não, objeto de políticas públicas. Para Kingdon, existem dois tipos de agendas: agenda não- governamental e agenda governamental. Esta última apresenta ainda outra divisão, que é a agenda decisional. 21 Rua, 2009. 22 Saravia, 2006. 23 Paludo, 2013. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 18 de 54 a) Agenda não-governamental (sistêmica): apresenta assuntos e temas reconhecidos pelo público em geral, sem, no entanto, merecer atenção do governo. b) Agenda governamental: um problema passa a fazer parte da agenda governamental quando desperta o interesse dos formuladores de políticas públicas. São temas que, de alguma maneira, estão incorporados na estrutura administrativa e no discurso das autoridades. c) Agenda decisional: contém a lista dos problemas e assuntos que efetivamente serão decididos. Um problema só será objeto de uma política pública se ele chegar à agenda decisional. Assim, um tema pode ser discutido amplamente pelas autoridades, mas não ser desenvolvida uma política pública para solucioná- lo. Isso, inclusive, é muito comum. Lembram dos movimentos do ano passado? Diversos problemas que estavam na agenda não-governamental chegaram à agenda governamental, sendo amplamente discutidos pelas autoridades, mas não saíram do papel. A reforma política é um exemplo, discutiu-se... discutiu-se... e? Nada! Jonh Kingdon apresentou o modelo dos fluxos múltiplos para explicar como alguns temas entram e outros não na agenda. Nessa esteira, o processo de tomada de decisão nas políticas públicas pode ser representado pela convergência de três grandes correntes/fluxos dinâmicos: (a) fluxo dos problemas; (b) fluxo das propostas ou alternativas; e (c) fluxo da política. Quando essas três correntes agirem juntas, um problema será incluído na agenda decisional. Mas o que são problemas? Segundo Kingdon, existe uma diferença entre uma situação e um problema. Para o autor, toleramos vários tipos de situações todos os dias, mas essas situações não ocupam lugares em agendas políticas. As situações só passam a ser definidas como problemas e 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 19 de 54 aumentam as suas chances de se tornarem prioridade na agenda, quando acreditamos que devemos fazer algo para mudá-las. Por exemplo, a demora no trânsito pode ter sido uma situação há algum tempo, pois incomodava, mas ainda não existia a consciência que algo deveria ser feito para solucioná-la. Entretanto, a partir do momento em que as pessoas, a mídia e o governo entenderam que algo deveria ser feito para mudar a situação do trânsito, a demora passou a ser um problema. De acordo com Rua, um “estado de coisas” é uma situação que se arrasta durante um tempo razoavelmente longo, incomodando grupos de pessoas e gerando insatisfações sem, entretanto, chegar a mobilizar as autoridades governamentais. Trata-se, portanto, de uma situação que incomoda, prejudica, gera insatisfação para muitos indivíduos, mas não chega a constituir um item da agenda governamental, ou seja, não se encontra entre as prioridades dos tomadores de decisão. Nessa perspectiva, Kingdon se indaga sobre o motivo de alguns problemas receberem mais atenção do que outros por parte das autoridades governamentais. Segundo o autor, a resposta está tanto nos meios pelos quais esses autores tomam conhecimento das situações, quanto nas formas pelas quais essas situações foram definidas como problemas. Nessa perspectiva, existem três formas para que as pessoas, de dentro e de fora dos governos, passem a definir situações como problemas: a) situações que colocam em “xeque” valores importantes são transformados em problemas. b) situações podem se tornar problemas por comparação com outros países ou com outras unidades relevantes. Por exemplo, o analfabetismo no nordeste pode ser considerado um problema a partir do momento que se compara o índice com outros países ou com outras regiões do Brasil; 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 20 de 54 c) a classificação de uma situação em uma certa categoria ao invés de outra pode defini-la como um certo tipo de problema. Como exemplo, o autor cita a falta de transporte público adequado a pessoas portadoras de necessidades especiais, que pode ser classificada como um problema de transporte ou como um problema de direitos civis, e o tratamento do problema será drasticamente afetado por essa classificação. O autor define ainda os meios pelos quais as autoridades governamentais tomamconhecimento das situações. São eles os indicadores, os eventos-foco e o feedback. a) Indicadores – os indicadores são utilizados para avaliar a magnitude de uma situação (por exemplo: a incidência de uma doença ou o custo de um programa), e discernir mudanças ocorridas nessa situação. Uma alta magnitude ou uma grande mudança chamam a atenção das autoridades. b) Eventos-foco – trata-se de uma crise, um desastre, uma experiência pessoal ou um símbolo poderoso. Assim, o evento-foco chama a atenção para algumas situações mais do que para outras. Por exemplo, se um aluno armado invadir uma escola e fuzilar diversos colegas, algumas situações vão chamar a atenção das autoridades como o bullying, o controle da venda de armas, a violência. Todavia, o evento tem efeitos apenas passageiros se não forem acompanhados por uma indicação mais precisa de que há um problema. c) Feedback – as autoridades tomam conhecimento de situações por meio de feedback a programas existentes, sejam eles formais (como os monitoramentos de rotina) ou informais (como as reclamações que chegam ao Congresso ou às ouvidorias). Ou seja, conforme a forma que a situação for reconhecida como problema e dos meios pelos quais as autoridades tomam conhecimento 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 21 de 54 dessas situações/problemas, um tema pode ou não ser incluído na agenda governamental. O fluxo das soluções (ou das alternativas) inclui o conjunto de ideias e propostas em disputa para ganhar aceitação na rede de políticas. Este fluxo surge de debates dentro e fora das agências governamentais. Uma alternativa para ser escolhida deve ter viabilidade técnica, aceitação pela comunidade e custos toleráveis/razoáveis. As soluções são elaboradas por especialistas, que compõem as comunidades geradoras de alternativas. Uma proposta é elaborada e em seguida e compartilhada em um processo de difusão. Os indivíduos defendem as suas ideias, buscando levá-las a diferentes fóruns, na tentativa de sensibilizar as comunidades políticas e o público em geral. Entretanto, somente poucas ideias vão ganhar força para se multiplicar, ganhando cada vez mais adeptos, até chegarem à arena política. Por fim, o fluxo político tem natureza própria, uma vez que, independentemente da existência de problemas, os eventos políticos fluem de acordo com dinâmica e regras particulares. Ele envolve um conjunto de negociações, barganhas, coalizões e troca de favores, que são utilizados para persuasão e obtenção de consenso24. Três itens influenciam os fluxos políticos: a) clima nacional – se caracteriza pelo compartilhamento das questões relevantes na sociedade, configurando um ambiente favorável para a formação da agenda política; b) forças políticas organizadas – referem-se às pressões exercidas por grupos, levando a consensos ou conflitos na arena política. c) mudanças no governo – influenciam a agenda tanto de pessoas em posições estratégicas como na composição do legislativo. Chama-se especial atenção para o início de governos, considerado o momento 24 Paludo, 2013. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 22 de 54 mais propício à entrada de demandas que permaneceram por um longo tempo sem resposta. Para Gottems et. al.25, A integração dos três fluxos – problemas, alternativas e política – é denominada como a abertura de uma janela de políticas públicas, que se constitui na oportunidade para que os empreendedores possam apresentar suas propostas. O fechamento das janelas pode ocorrer após a tomada de alguma decisão, pelo fracasso em buscar uma solução, pela perda de visibilidade da questão, por mudanças do pessoal envolvido no tema ou simplesmente por não haver uma alternativa de ação disponível. Nessa linha, Paludo informa que: [...] quando houver convergência dos três fluxos o “tema” entra na agenda governamental e na agenda decisória. Essa convergência é denominada janela da política ou janela de oportunidade, visto que contempla: o reconhecimento de um problema; a existência de solução apropriada e condições políticas favoráveis. Modelo dos fluxos múltiplos Outro ponto importante é que, para Kingdon, existem dois grupos de participantes ou atores das políticas públicas: “visíveis” e “invisíveis”. O grupo de atores visíveis, formado por aqueles que recebem considerável atenção da imprensa e do público, abrange o presidente e seus assessores de alto escalão (ministros), importantes membros do Congresso, a mídia, e 25 Gottems et. al., 2013. J;ミWノ; PラノケデキI; ラ┌ SW ラヮラヴデ┌ミキS;SW Fノ┌┝ラ Sラゲ ヮヴラHノWマ;ゲ Fノ┌┝ラ S;ゲ ゲラノ┌NロWゲ Fノ┌┝ラ ヮラノケデキIラ Fラヴマ;N?ラ S; ;ェWミS; 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 23 de 54 atores relacionados ao processo eleitoral, como os partidos políticos. Este é o grupo responsável pela definição da agenda. O grupo dos atores invisíveis inclui os acadêmicos, burocratas de carreira (servidores efetivos) e funcionários do Congresso. Este grupo tem maior poder de influência na escolha das alternativas. atores visíveis: definição da agenda. atores invisíveis: escolha das alternativas. Elaboração de políticas Enrique Saravia considera a elaboração de políticas como uma etapa a parte no ciclo de políticas. Na mesma linha, Kingdon estabelece que as políticas públicas são compostas por um conjunto de processos, incluindo pelo menos: (1) o estabelecimento de uma agenda; (2) a especificação das alternativas a partir das quais as escolhas são feitas; (3) uma escolha final entre essas alternativas específicas, por meio de votação no Legislativo ou decisão presidencial; e (4) a implementação dessa decisão. Lembram da definição de elaboração apresentada por Saravia? Segundo o autor, esta fase consiste na identificação e delimitação de um problema atual ou potencial da comunidade, a determinação das possíveis alternativas para sua solução ou satisfação, a avaliação dos custos e efeitos de cada uma delas e o estabelecimento de prioridades. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 24 de 54 Percebam, então, que a segunda fase apresentada por Kingdon corresponde justamente à elaboração. Não vamos aprofundar muito este tópico, pois não consta expressamente no edital. Formulação de políticas O terceiro momento do ciclo de políticas é a formulação. Para Enrique Saravia26, “a formulação inclui a seleção e especificação da alternativa considerada mais conveniente, seguida de declaração que explicita a decisão adotada, definindo seus objetivos e seu marco jurídico, administrativo e financeiro.” Neste primeiro momento, vamos destacar a diferença entre elaboração e formulação. Aquela é uma preparação para a decisão, quando são especificadas as diversas alternativas possíveis. Na formulação, por outro lado, a decisãopolítica é tomada e formalizada. Paludo27 destaca que a elaboração é uma “pré-condição para a decisão política”, enquanto a formulação “é a decisão política com a norma jurídica de formalização (se necessário)”. 26 Saravia, 2006. 27 Paludo, 2013. Elaboração Identificação e delimitação do problema Determinação das possíveis alternativas Avaliação dos custos e efeitos de cada alternativa Estabelecimento de prioridades Formulação Seleção e especificação da alternativa Declaração explicitando a decisão adotada Define objetivos Marco jurídico, administrativo e financeira 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 25 de 54 Prosseguindo, Maria das Graças Rua28 dispõe que [...] a tomada de decisão não significa que todas as decisões relativas a uma política pública foram tomadas, mas, sim, que foi possível chegar a uma decisão sobre o núcleo da política que está sendo formulada. Quando a política é pouco conflituosa e agrega bastante consenso, esse núcleo pode ser bastante abrangente, reunindo decisões sobre diversos aspectos. Quando, ao contrário, são muitos os conflitos, as questões são demasiado complexas ou a decisão requer grande profundidade de conhecimentos, a decisão tende a cobrir um pequeno número de aspectos, já que muitos deles têm as decisões adiadas para o momento da implementação; Assim, a tomada de decisão toma por base o núcleo, ou a parte principal de um programa. Os detalhes, principalmente quando há uma série de conflitos, são deixados para momentos posteriores, conforme a política vai se implementando. A autora ainda apresenta que “Existem diferentes formas de "pensar" a solução para um input de demanda”, ou seja, há algumas maneiras para analisar as soluções para os problemas da sociedade. Segundo a autora, as modalidades são o modelo incremental, o modelo racional- compreensivo e o denominado mixed-scanning. Incrementalismo O modelo incremental, defendido por Charles Lindblom29, significa a “tentativa de solucionar problemas de maneira gradual, sem introduzir grandes modificações nas situações já existentes e sem provocar rupturas de qualquer natureza”30. Segundo Celina Souza, 28 Rua, 2009. 29 Charles Lindblom é professor emérito de Economia e Ciência Política, é ex-presidente da American Political Science Association e ex-presidente da Associação para Comparative Economic Studies. Para ele, a mudança política é, na maioria das circunstâncias, evolutiva e não revolucionária. (Fonte: <http://tinyurl.com/yf63pyl>, apud Rua, 2009). 30 Rua, 2009. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 26 de 54 Baseados em pesquisas empíricas, os autores argumentaram que os recursos governamentais para um programa, órgão ou uma dada política pública não partem do zero e sim, de decisões marginais e incrementais que desconsideram mudanças políticas ou mudanças substantivas nos programas públicos. Assim, as decisões dos governos seriam apenas incrementais e pouco substantivas. (grifos nossos) Ou seja, o modelo incremental pressupõe que as decisões, em políticas públicas, são realizadas de forma marginal ou incremental, sem impactar em mudanças bruscas. Isso ocorre porque os tomadores de decisão não podem controlar todas as variáveis em uma política. Nem sempre é possível prever o resultado que será alcançado, nem levantar qual é a melhor opção para alcançá-lo. Assim, em vez de especificar objetivos e de avaliar que decisões podem atender aos objetivos, os formuladores decidem o seu curso de ação mediante a comparação de algumas alternativas específicas e da estimativa de quais dessas alternativas enfrentam menos restrição e poderão melhor produzir os resultados esperados. Com isso, a melhor decisão não é aquela que maximiza os valores e objetivos dos tomadores de decisão, mas aquela que oferece menos dificuldade e assegura o melhor acordo entre os interesses envolvidos31. Maria das Graças Rua ensina que esta forma de abordar os problemas resulta de duas constatações básicas: 1) por mais adequada que seja a fundamentação técnica de uma alternativa, a decisão envolve relações de poder. Por isso, uma solução tecnicamente perfeita pode se revelar politicamente inviável, e vice-versa, o que significa dizer que não existem soluções perfeitas. 2) os governos democráticos efetivamente não possuem liberdade total na alocação de recursos públicos. 31 Rua, 2009. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 27 de 54 Continua a autora dispondo que é impossível pensarmos a tomada de decisões fora de certos horizontes históricos, pois a alocação de recursos é um processo contínuo e situado em um dado contexto. Dessa forma, as decisões que precisam ser tomadas hoje se encontram condicionadas e limitadas pelo comprometimento de recursos que ocorreram em algum momento do passado recente, seja pelo governo que está no poder, seja por seus antecessores. Esse fato, [...] faz com que somente pequenas parcelas de recursos estejam disponíveis e reduz as escolhas políticas a cursos de ação que só permitem mudanças marginais, incrementais. Logo, mesmo que a longo prazo estas decisões de pequeno alcance e essas pequenas mudanças cheguem a se acumular e provocar grandes transformações, o processo de tomada de decisão, em si próprio, limita-se àquilo que é possível de ser alocado num momento preciso do tempo. Percebam que as medidas marginais vão se acumulando, até se tornarem mudanças significativas, gerando grandes transformações na sociedade. Essas limitações imprimem a característica de gradualidade às tomadas de decisões. Assim, elas se resumem a ajustes ou a medidas experimentais de curto alcance no atendimento das demandas – envolvendo pequenas tentativas que admitem o ensaio, o erro e a correção dos rumos. Da mesma forma, Celina Souza destaca que, A visão incrementalista da política pública perdeu parte do seu poder explicativo com as profundas reformas ocorridas em vários países, provocadas pelo ajuste fiscal. No entanto os que trabalham nos governos e os que pesquisam os orçamentos públicos conhecem bem a força do incrementalismo, que mantém intactos estruturas governamentais e recursos para políticas públicas que deixaram de estar na agenda dos governos. Mas é do incrementalismo que vem a visão de que decisões tomadas no passado constrangem decisões futuras e limitam a capacidade dos governos de adotar novas políticas públicas ou de reverter a rota das políticas atuais. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 28 de 54 Dessa forma, para o incrementalismo, é difícil mudar a situação de uma hora para outra, pois as políticas públicas não causam efeitos abruptos. Por outro lado, uma vez implementada a política, torna-se difícil reverteros seus efeitos, motivo pelo qual uma decisão pode causar impactos na sociedade, mesmo quando não esteja mais na agenda política. Ademais, o incrementalismo pode ser uma importante estratégia para a adoção de políticas com alto potencial de conflito, ou políticas que implicam limitação de recursos ou de conhecimentos, de maneira a garantir melhores condições para sua implementação. Contudo, a própria implementação pode ser prejudicada pelo gradualismo incrementalista, uma vez que as medidas apenas marginais podem não causar os efeitos desejados32. Racionalismo O modelo racional-compreensivo foi formalizado por Herbert Simon. Segundo Maria das Graças Rua, não se distingue apenas pelo maior alcance e pela maior proporção de recursos alocados. A diferenciação se dá, também, pela própria lógica que orienta os tomadores de decisão. Enquanto no modelo incremental existe a convicção de que o conhecimento da realidade é sempre limitado – e que as decisões envolvem conflitos de poder e precisam ser ágeis e rápidas e por tudo isso devem ser cautelosas. Já o modelo racional-compreensivo parte do princípio de que é possível conhecer o problema de tal forma que se possa tomar decisões de grande impacto. Resumidamente, neste modelo de tomada de decisão, os formuladores decidem que valores e objetivos devem ser maximizados e quais as alternativas que melhor poderão maximizá-los. Augustinho Paludo dispõe que, no modelo racional-compreensivo, a intervenção por meio de políticas públicas deve ter sustentação em ampla análise prévia dos problemas sociais que contextualizam a situação- problema a ser resolvida, considerando as preferências mais relevantes 32 Rua, 2009. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 29 de 54 da sociedade. Segundo o autor, o método é ousado, a decisão é demorada, o governo é o principal ator, e é mais utilizado para mudanças e decisões de grande impacto. Rua ensina também que a seleção da alternativa a ser adotada é feita a partir de “uma análise abrangente e detalhada de cada alternativa, seu custo-benefício e suas consequências”. É justamente por isso que a decisão é mais lenta, pois requer, antes, o levantamento de todas as informações disponíveis sobre o assunto, o estudo de todas as possibilidades técnicas e políticas para solucionar o problema. Contudo, para a autora, os dois estilos ou modelos de tomada de decisão apresentam problemas: Entre outros, o modelo incremental mostra-se pouco compatível com as necessidades de mudança e pode apresentar um viés conservador. E o modelo racional-compreensivo parte de um pressuposto ingênuo de que a informação é perfeita e não considera adequadamente o peso das relações de poder na tomada de decisões. Buscando traçar uma alternativa a isso, outras abordagens foram elaboradas destacando o modelo mixed-scanning, desenvolvido por Amitai Etzioni. Mixed-Scanning Segundo Maria das Graças Rua, Etzioni distingue entre decisões ordinárias ou incrementais; e decisões fundamentais ou estruturantes. As decisões estruturantes são aquelas que estabelecem os rumos básicos das políticas públicas em geral e proporcionam o contexto para as decisões incrementais. Etzioni considera o mixed-scanning o método adequado para lidar com as decisões estruturantes porque permite explorar um amplo leque de alternativas. Basicamente, o mixed-scanning requer que os tomadores de decisão se engajem em uma ampla revisão do campo de decisão, sem se dedicar à análise detalhada de cada alternativa (conforme faz o modelo racional- compreensivo). Esta revisão permite que alternativas de longo prazo sejam examinadas e levem a decisões estruturantes. As decisões incrementais, por 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 30 de 54 sua vez, decorrem das decisões estruturantes e envolvem análise mais detalhadas de alternativas específicas. Dessa forma, o modelo já se diferencia pelo fato de reconhecer que as decisões não são todas da mesma natureza. Etzioni distingue entre decisões estruturantes e decisões ordinárias: decisões estruturantes: estabelecem rumos básicos ou diretrizes fundamentais das políticas públicas em geral e proporcionam o contexto para as decisões ordinárias. Rua cita como exemplo os princípios do SUS (universalidade, descentralização, subsidiariedade etc.); e decisões ordinárias: decorrem das decisões estruturantes e envolvem a análise detalhada das alternativas específicas, porém sem o rigor técnico do modelo racional-compreensivo. Assim, nas decisões estruturantes, não há o detalhamento da política, mas apenas a definição do campo de decisão, com base em experiências, aprendizados de políticas e consensos amplamente estabelecidos. Em que pese não exista o detalhamento, as decisões estruturantes são amplamente discutidas e analisadas, aproximando-se do modelo racional. Por outro lado, nas decisões ordinárias, as mudanças são realizadas de forma pontual e específica, aproximando-se do modelo incremental. Modelo de ╉lata de lixo╊ Há ainda um quarto modelo, conhecido como “lata de lixo”. Segundo Celina Souza33, o modelo garbage can ou “lata de lixo” foi desenvolvido por Cohen, March e Olsen (1972), argumentando que escolhas de políticas públicas são feitas como se as alternativas estivessem em uma “lata de lixo”. Ou seja, existem vários problemas e poucas soluções. As soluções não seriam detidamente analisadas e dependeriam do leque de soluções que os decisores têm no momento. 33 Souza, 2006. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 31 de 54 Segundo este modelo, as organizações são formas anárquicas que compõem um conjunto de ideias com pouca consistência. Dessa forma, o modelo pressupõe que “soluções procuram por problemas”. Isso quer dizer os vários atores vão formulando soluções e depositando-as em uma “lata de lixo”. À medida que os problemas surgem, as autoridades devem recorrer a essa “lata de lixo” e tentar encontrar a solução que melhor se adeque ao problema encontrado. Implementação das políticas Conforme vimos acima, Enrique Saravia define que a implementação é: [...] constituída pelo planejamento e organização do aparelho administrativo e dos recursos humanos, financeiros, materiais e tecnológicos necessários para executar uma política. Trata-se da preparação para pôr em prática a política pública, a elaboração de todos os planos, programas e projetos que permitirão executá-la. Por sua vez, Maria das Graças Rua dispõe que a implementação pode ser compreendida como o “conjunto de ações realizadas por grupos ou indivíduos de natureza pública ou privada, as quais são direcionadas para a consecução de objetivos estabelecidos mediante decisões anteriores quanto a políticas”. Dizendo de outra forma, “trata-se das ações para fazer uma política sair do papel e funcionar efetivamente”. Há dois modelos tradicionais de implementação de políticas públicas: top down, ou de cima para baixo, e bottom up, de baixo para cima. O modelo top down considera que a responsabilidade por uma políticacabe, claramente, aos agentes situados no topo do processo político. Este modelo pressupõe que formulação e implementação são etapas rigorosamente separadas e diferenciadas, seja porque envolve atores diferentes, seja porque envolve distintos graus de autoridade e de 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 32 de 54 complexidade. Assim, os políticos formulam e decidem, e comandam os burocratas, que executam as suas decisões, implementando a política34. O modelo bottom-up, por outro lado, propõe que a política seja concebida a partir da base, das percepções das demandas e das experiências de resolução dos problemas desenvolvidos pelos atores situados nos escalões inferiores da administração. Assim, as práticas estabelecidas a partir da base seriam institucionalizadas nos níveis superiores, consolidando-se como política pública. Maria das Graças Rua menciona, ainda, a existência de um terceiro modelo, chamado de interativo-iterativo. Nesse caso, não há um fluxo único nem da formulação para a implementação (modelo top-down), nem desta em direção à formulação (modelo bottom-up). Em lugar disso, haveria um processo complexo, de idas e vindas, entre as diversas fases do ciclo, dando origem a várias etapas de decisão, que iriam sendo reformuladas conforme as reações dos diversos atores à agenda que se formou, ao curso assumido pelas decisões e aos impactos da implementação. 34 Rua, 2009. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 33 de 54 Vamos fazer algumas questões? 2. (Cespe – AUFC/TCU/2011) Quanto aos seus impactos sobre as relações sociais, as políticas públicas podem ser classificadas como distributivas, redistributivas ou regulatórias. Comentário: de acordo com a classificação de Teixeira, as políticas públicas, quanto aos impactos que podem causar aos beneficiários, ou ao seu papel nas relações sociais, podem ser classificadas em: a) distributivas – visam distribuir benefícios individuais; costumam ser instrumentalizadas pelo clientelismo; b) redistributivas – visam redistribuir recursos entre os grupos sociais: MラSWノラゲ SW キマヮノWマWミデ;N?ラ SW ヮラノケデキI;ゲ ヮ┎HノキI;ゲ Tラヮ-Sラ┘ミ DW Iキマ; ヮ;ヴ; H;キ┝ラ RケェキS; ゲWヮ;ヴ;N?ラ WミデヴW aラヴマ┌ノ;N?ラ W キマヮノWマWミデ;N?ラ IマヮノWマWミデ;N?ラ デWマ ヮラ┌I; キマヮラヴデ>ミIキ; Bラデデラマ-┌ヮ DW H;キ┝ラ ヮ;ヴ; Iキマ; M;キラヴ ヮ;ヴデキIキヮ;N?ラ Sラゲ H┌ヴラIヴ;デ;ゲ Fラヴマ┌ノ;N?ラ Wマ ヮヴラIWゲゲラ IミデWヴ;デキ┗ラ- キデWヴ;デキ┗ラ PヴラIWゲゲラ IラマヮノW┝ラ V=ヴキ;ゲ Wデ;ヮ;ゲ SW SWIキゲ?ラ CラマHキミ; Sラゲ マラSWノラゲ デラヮ-Sラ┘ミ W Hラデデラマ-┌ヮ 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 34 de 54 buscando certa equidade, retiram recursos de um grupo para beneficiar outros, o que provoca conflitos; c) regulatória – visam definir regras e procedimentos que regulem o comportamento dos atores para atender interesses gerais da sociedade; não visam benefícios imediatos para qualquer grupo. Dessa forma, o item está correto. Entretanto, a tipologia de Lowi acrescenta ainda uma quarta classificação: d) constitutivas (estruturadoras): são aquelas que criam ou estruturam as condições para que determinados problemas passem a ser tratados sistematicamente. A questão segue o entendimento de Teixeira, por isso foi considerada correta. Ademais, para o Cespe, questão incompleta não costuma ser considerada errada. Gabarito: correto. 3. (Cespe – AUFC/TCU/2011) Quanto à sua natureza, as políticas públicas podem ser estruturais, conjunturais ou emergenciais. Comentário: analisando sob a perspectiva de Teixeira, essa questão estaria correta, pois, quanto à natureza ou grau da intervenção, as políticas públicas podem ser: a) estruturais – buscam interferir em relações estruturais como renda, emprego, propriedade etc.; e b) conjunturais ou emergenciais – objetivam abrandar uma situação temporária, imediata. Entretanto, Marcelo Procopiuck apresenta outra classificação, distinguindo as políticas públicas, quanto à sua natureza, em materiais e simbólicas. Assim, o Cespe optou pela anulação do item, alegando que: “O assunto tratado no item é controverso na literatura especializada. Por esse motivo, opta-se por sua anulação”. Gabarito: anulado. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 35 de 54 4. (Cespe – AUFC/TCU/2011) Quanto à abrangência dos seus possíveis resultados, as políticas públicas podem ser universais, segmentais, fragmentadas e focais. Comentário: de acordo com Teixeira, quanto à abrangência dos possíveis benefícios, as políticas são: a) universais – para todos os cidadãos b) segmentais – para um segmento da população, caracterizado por um fator determinado (idade, condição física, gênero etc.) c) fragmentadas – destinadas a grupos sociais dentro de cada segmento. O autor não menciona as políticas focais. Dessa forma, a questão estaria errada. Entretanto, apresentando a mesma justificativa da questão acima, o Cespe optou pela anulação. Infelizmente o motivo da anulação foi genérico, dificultando o verdadeiro entendimento do motivo da anulação. Contudo, entendo que o gabarito deveria ter sido mantido, pois não segue a classificação proposta pelo autor nem outra tipologia conhecida. Alguns autores, principalmente nas ciências sociais, mencionam dois tipos de estratégias para as políticas públicas: as universalistas, que direcionariam os recursos públicos a todos os cidadãos; e as focalizadas, que redirecionam os recursos para os mais pobres. Seria um possível motivo para anulação, mas ainda entendo que o item estava errado. Gabarito: anulado. Com relação à construção de agenda, formulação e avaliação de políticas públicas, julgue o item subsequente. 5. (Cespe - AUFC/TCU/2013) A ocorrência de eventos ou crises pode suscitar a emergência de problemas ou assuntos, não sendo suficiente, contudo, para impelir a entrada de um assunto na agenda. Comentário: a inclusão de um tema na agenda decisional depende da convergência de três fluxos: dos problemas, das soluções e político. No fluxo dos problemas, Kingdon destaca que o motivo de alguns problemas receberem mais atenção do que outros por parte das autoridades governamentais está tanto nos meios pelos quais esses autores tomam 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 36 de 54 conhecimento das situações, quanto nas formas pelas quais essas situações foram definidas como problemas. Os meios pelos quais as autoridades tomam conhecimento das situações são os indicadores, os eventos-foco e o feedback. O caso descrito na questão é um evento-foco, representado por situações de crise, desastre ou experiências que chamam a atenção das autoridades. Entretanto, o evento tem efeitos apenas passageiros se não forem acompanhados por uma indicação mais precisade que há um problema. Vimos como exemplo o caso da reforma política, tão suscitada durante os movimentos nas ruas no ano passado, mas que, até agora, não teve convergência política para entrar na agenda decisional. Gabarito: correto. 6. (Cespe - Analista de Empresa de Comunicação Pública/EBC/2011) O poder público deve delegar à iniciativa privada a tomada de decisões sobre políticas públicas quando o grupo favorecido pela política pública for restrito a uma única unidade da federação (estado ou Distrito Federal). Comentário: as políticas públicas não são primazia do Estado, mas ele sempre estará presente. Assim, as decisões em políticas públicas são tomadas pelas autoridades, cabendo à iniciativa privada participar do processo contribuindo nas discussões e, eventualmente, prestando alguns serviços descentralizados. Ou seja, não cabe ao Poder Público delegar a decisão à iniciativa privada. Gabarito: errado. 7. (Cespe - Analista de Empresa de Comunicação Pública/EBC/2011) Em inglês, usam-se os termos polity, politics e policy para caracterizar as três dimensões da política. Eles se referem, respectivamente, às instituições políticas, aos processos políticos e aos conteúdos da política. Policy é adotado para designar as políticas públicas (public policy). Comentário: vamos relembrar esses conceitos? a) polity: refere-se à forma de organização sistema político, delineada pelo 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 37 de 54 sistema jurídico, e à estrutura institucional do sistema político- administrativo; b) politics: trata-se do processo político, frequentemente de caráter conflituoso, no que diz respeito à imposição de objetivos, aos conteúdos e às decisões de distribuição; c) policy: refere-se aos conteúdos concretos da política, isto é, à configuração dos programas políticos, aos problemas técnicos e ao conteúdo material das decisões políticas. Ou seja, a polity trata das instituições políticas; a politics é o processo político; e a policy é o conteúdo da política. Assim, a policy é utilizada para designar as políticas públicas. Gabarito: correto. 8. (Cespe - Analista de Empresa de Comunicação Pública/EBC/2011) Decisões e análises acerca de políticas públicas implicam responder às seguintes perguntas: quem ganha o quê, por quê e que diferença faz. Comentário: essa é a definição de Laswell, que vimos segundo os ensinamentos de Celina Souza, ou seja: “decisões e análises sobre política pública implicam responder às seguintes questões: quem ganha o quê, por quê e que diferença faz”. Gabarito: correto. 9. (Cespe - Analista de Empresa de Comunicação Pública/EBC/2011) Em qualquer situação, para se implementar determinada decisão por meio de uma política pública, requer-se uma única ação estrategicamente selecionada. Comentário: não há como afirmar que qualquer situação vai requerer uma única ação estrategicamente selecionada para se implementar uma política pública. Ademais, a implementação pode se desenvolver por três formas: top down, bottom-up e interativo-iterativo. Nas duas últimas, o processo de implementação se mistura com a formulação, de forma que as ações podem mudar ao longo da implementação da política. 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 38 de 54 Gabarito: errado. 10. (Cespe - Analista de Empresa de Comunicação Pública/EBC/2011) Políticas distributivas são decisões tomadas pelo governo que desconsideram a questão de recursos limitados, e, para sua implementação, é necessária uma associação público- privada. Comentário: segundo Celina Souza, as políticas distributivas são decisões tomadas pelo governo, que desconsideram a questão dos recursos limitados, gerando impactos mais individuais do que universais, ao privilegiar certos grupos sociais ou regiões, em detrimento do todo. Isso ocorre porque os governos vão alocando os recursos para atender a questões pontuais, como problemas em catástrofes. Dessa forma, não se leva em conta o fato de os recursos públicos serem limitados. Vejam que, nesses casos, não há qualquer necessidade de associação em os setores público e privado, pois o governo pode simplesmente alocar os recursos para resolver um problema, sem qualquer participação dos particulares. Gabarito: errado. 11. (Cespe - Analista de Empresa de Comunicação Pública/EBC/2011) Políticas distributivas sempre demandarão contrapartidas fiscais daqueles que recebem a alocação de recursos. Comentário: em geral, não se exige contrapartida fiscal daqueles que recebem recursos decorrentes das políticas distributivas. Vamos voltar ao caso de uma catástrofe natural. Não faz sentido o governo exigir das pessoas duramente atingidas uma contrapartida para repassar o recurso para custear a recuperação de suas residências. Concordam? Gabarito: errado. 12. (Cespe - Analista de Empresa de Comunicação Pública/EBC/2011) Políticas de caráter distributivo distribuem custos e não geram vantagens. Comentário: segundo Frey, as “Políticas distributivas são caracterizadas por um 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE-SC Teoria e exercícios comentados Prof. Herbert Almeida – Aula 7 Prof. Herbert Almeida www.estrategiaconcursos.com.br Página 39 de 54 baixo grau de conflito dos processos políticos, visto que políticas de caráter distributivo só parecem distribuir vantagens e não acarretam custos - pelo menos diretamente percebíveis - para outros grupos”. Lembram-se das políticas redistributivas? Segundo Frey, as políticas redistributivas, ao contrário, são orientadas para o conflito. O objetivo é さo desvio e o deslocamento consciente de recursos financeiros, direitos ou outros valores entre camadas sociais e grupos da sociedade. O processo político que visa a uma redistribuição costuma ser polarizado e repleto de conflitos. Agora, vamos contextualizar. Atualmente, há muita polêmica sobre os programas de transferência de renda do Governo Federal. Isso porque as pessoas que pagam altos impostos acham injusto custear as bolsas pagas às classes mais pobres. Conseguem perceber como a população sente o custo do programa? Por sua vez, as políticas para amenização de catástrofes, que são distributivas, não costumam gerar polêmica. As pessoas não conseguem perceber que seus impostos são igualmente consumidos nesse tipo de política. Assim, do ponto de vista da percepção, as políticas de caráter distributivo distribuem vantagens e não acarretam custos. Gabarito: errado. 13. (Cespe - Analista de Empresa de Comunicação Pública/EBC/2011) Políticas distributivas geram impactos mais particulares do que universais, ao privilegiarem certos grupos sociais ou regiões, em detrimento do todo. Comentário: essa é uma das características das políticas distributivas. Elas geram impactos mais particulares do que universais, pois privilegiam certos grupos sociais ou regiões, em detrimento do todo. Gabarito: correto. 14. (Cespe - Analista de Empresa de Comunicação Pública/EBC/2011) As políticas redistributivas têm como objetivo o desvio e o deslocamento consciente de recursos financeiros, direitos ou outros valores entre camadas sociais e grupos da sociedade. Comentário: as políticas redistributivas buscam a apropriação de recursos 22567027823 22567027823 - luiz gustavo de castro carlos Administração Pública
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