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AULA 6 METODOLOGIAS ATIVAS Profª Ligia Maria Bueno Pereira Bacarin 2 CONVERSA INICIAL Prezados cursistas, nesta aula abordaremos mais uma proposta desenvolvida a patir das Metodologias Ativas, e posteriormente faremos um apanhado geral do debate promovido nesse modulo sobre o significado de M.A. Para tanto, partiremos do pressuposto de que as Metodologias Ativas diferem das metodologias tradicionais. Observamos que todo Plano de Trabalho Docente parte de objetivos claros, e que na grande maioria deles o educador parte do ponto de vista do educando e começa com o verbo no infinitivo, pois indica uma ação. De forma geral, todo objetivo deve ainda obedecer a quatro critérios: ser viável, mensurável, definidor e prioritário. Ou seja, ele será viável se for atingindo durante o período planejado, será mensurável se puder ser medido, será definidor se definir a atividade e não se confundir com ela, e será prioritário se for realmente importante que o estudante o aprenda. Outro elemento importante se refere à metodologia. Ela se apresenta como a caixa de ferramenta para que os objetivos sejam atingidos. Em uma analogia, as Metodologias Ativas são as ferramentas mais precisas e adequadas ao oficio de ensinar. Podemos, dessa forma, traduzir Metodologias Ativas como práticas pedagógicas que levam o estudante a pensar e não apenas a observar o professor, ouvir e anotar. Em síntese, são práticas pedagógicas que envolvem o próprio estudante no processo de ensino e aprendizagem. Por isso, atividades em que seja possível discutir, escrever, ler, solucionar problemas e ensinar outras estudantes são essenciais. Da mesma forma que as atividades de análise, síntese e avaliação, trata- se de provocar o saber e o pensar sobre o que se faz. Entretanto, é importante registrar que a aula expositiva continua como recurso, principalmente porque o educador tem um arcabouço teórico e metodológico acerca dos conteúdos, e porque a comunicação oral é uma forma eficaz de compartilhar esse conhecimento. Isso é, o educador continuará a usar parte da aula para fazer a mediação e explicar; a diferença é que a aula expositiva não será a única coisa que o educador fará em sala. 3 CONTEXTUALIZANDO Conforme apresentamos nas aulas anteriores, as M.A. são variadas. com isso, é necessario resgatar algumas das possibilidades de seu desenvolvimento nesse momento da contextualização. A forma mais utilizada de Metodologias Ativas se consubistancia na seguinte estratégia: Pense, Pareie, Compartilhe. Com base nela, o educador faz uma pergunta, coloca um problema e um desafio e solicita aos educandos que reflitam sobre a questão, na seguinte sequência: 1) individualmente; 2) em dupla; 3) socializar a resposta encontrada. Após essa sequência, o educador faz o feeback e elabora melhor o conteúdo. Importante compreender que, nessa estratégia, não basta apenas fazer perguntas, pois elas precisam ter critérios: não podem ser genéricas, pois todos os grupos precisam ser ouvidos e tambem escutados. Não adianta elaborar a pergunta se não se dá a chance para o estudante respondê-la. Nessa estratégia, as formas que as atividades se apresentam dependem da criatividade do professor. Por exemplo: • solicitar que expliquem um conceito complexo de modo que um estudante de uma serie mais baixa possa compreendê-lo; • desenhar um mapa mental ou conceitual; • resolver um pequeno problema; • trabalhar um passo específico de um estudo de caso; • prever ou interpretar o resultado de um experimento; • veificar um artigo ou uma matéria de jornal; • organizar um brainstorm; • formular uma questão sobre o conteúdo visto etc. Enfim, trata-se de incluir pequenas atividades que interrompam a aula expositiva de tempos em tempos, mantendo os educandos atentos e envolvidos. O fundamental é manter o ritmo das atividades. Dessa forma, a questão central que orientará essa aula é: ao desenhar o plano de aula, como as Metodologias Ativas auxiliam a manter os estudantes ativamente pensantes no conteúdo que está sendo abordado? 4 TEMA 1 – INSTRUÇÃO PELOS PARES A instrução pelos pares tem um formato diferente da Aprendizagem Baseadas em Problemas, que foi o foco da nossa aula anterior. Em síntese, funciona da seguinte maneira: antes da aula, os educandos estudam sozinhos os materiais indicados pelo professor. No início da aula, o educador faz uma breve exposição sobre o tópico a ser abordado. Posteriormente, ele apresenta uma questão de múltipla escolha para os estudantes refletirem e responderem individualmente. Caso uma parte considerável dos alunos erre a questão, o educador pedirá que os alunos discutam a resposta em pequenos grupos, e tentem convencer os colegas que a resposta que escolheram é a correta. Após esse debate, o educador faz um novo levantamento das respostas e explica a correta, tirando as dúvidas que por ventura ainda existam. A Instrução pelos pares surge após o entendimento do conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal, de Vygotsky. Portanto, é necessário um breve resgate do conceito para que possamos desenvolver o tema proposto. 1.1 Desenvolvimento, aprendizagem e o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal Considerando que o educador russo teve sua contribuição teórica interrompida por conta da sua breve existência, muitas foram suas contribuições para a educação. Uma dessas contribuições está relacionada ao estudo que ele desenvolveu sobre a aprendizagem de conceitos científicos. Para esse autor, existem os: • Pseudoconceitos: são opiniões espontâneas que os indivíduos têm sobre o mundo, baseadas sobretudo nas observações superficiais. Por exemplo, quando uma criança afirma que o sol se movimenta pelo céu, ela está apresentando um pseudoconceito, pois sabemos que a movimentação do sol em torno da Terra é apenas uma aparência. Nesse sentido, percebemos que os pseudoconceito se apoiam na aparência das coisas, nas superstições e na experiência pessoal. • Conceitos verdadeiros: para Vygotsky, a função da escola é auxiliar o educando a abandonar esses pseudoconceitos e entender o real significado das coisas; ou seja, são os conceitos verdadeiros, quer dizer, 5 os conceitos científicos. O importante é entendermos que, para o autor, esses conceitos são verdadeiros, não porque se apresentam como verdades absolutas – não são dogmas. São verdadeiros porque se embasam em métodos, em pesquisas controladas por uma trajetória de investigação metodológica. Por isso que, para o russo, a ciência nos permite ver melhor a realidade, e cabe à escola garantir que os estudantes aprendam esses conceitos. É com base nesse pressuposto que se desenvolve a Zona de Desenvolvimento Proximal – ZDP. Ao estudar a aprendizagem humana, Vygotsky percebeu que existem coisas que as pessoas já sabem fazer sozinhas; outras só aprendem com ajuda de outras pessoas, e há coisas que elas ainda não podem aprender nem mesmo com ajuda. Ele organizou essas três etapas da seguinte maneira: • Zona de desenvolvimento real: coisas que as pessoas podem fazer sozinhas, ou aprendizagens já consolidadas. • Zona de desenvolvimento proximal: coisas que as pessoas não sabem fazer sozinhas, mas são capazes de aprender com a ajuda de outras, ou aprendizagens emergentes que precisam da ajuda de alguém mais experiente (não é necessariamente um saber científico). • As coisas que as pessoas não podem fazer, mesmo com ajuda, se encontram fora da ZDP. Todavia, o importante está no fato de que sempre que uma aprendizagem proximal vira uma aprendizagem real, isso significa que existe algo que uma pessoa só conseguia fazer com a ajuda dos outros, e que agora se transformou em algo que ela já sabe fazer sozinha. À medida que esse fenômeno vai se repetindo, e a pessoa vai aprendendo a fazer mais coisas sozinha, ela se tornamais capaz, e aquelas aprendizagens que antes eram impossíveis, começam a entrar na ZDP – ou seja, vão se tornando aprendizagens possíveis. Nessa perspectiva, a função do educador é ajudar o estudante a avançar e aprender as coisas novas que ele não conseguiria aprender sozinho. Quanto mais ele aprende, mas ele se torna capaz de aprender. Conforme indica Wertsch (1988, p, 46): “A Zona de Desenvolvimento Proximal é a região dinâmica que permite a transição do funcionamento interpsicológico para o funcionamento 6 intrapsicológico pois, segundo Vygotsky, todas as funções psicológicas superiores resultam da reconstrução interna de uma atividade social, partilhada”. Entretanto, existe uma possibilidade que ocorra uma regressão no conhecimento apreendido, para evitar essa possibilidade: Nas situações de processo ensino/aprendizagem, cabe apontar uma possibilidade: a intervenção do adulto. É sua função organizar o espaço interativo (formando grupos compostos por indivíduos com diferentes níveis de conhecimento), apresentar problemas desafiadores e, fundamentalmente, prover feedback, ao longo da realização do trabalho. Essa pontuação do adulto, mais do que direcionar, possibilita um referencial para os grupos prosseguirem em suas discussões, de modo a alcançarem o resultado esperado. O feedback do adulto consiste, portanto, em signo mediador da atividade, o que remete claramente à concepção do método genético-experimental ou método da dupla estimulação, proposto por Vygotsky. A dupla estimulação consiste, nesse caso, na própria tarefa proposta e nos signos linguísticos utilizados, pelo adulto, como mediação, de modo a permitir às crianças alcançarem os objetivos propostos. Destaca-se, por outro lado, que, em situações de instrução sistematizada, sempre que a discussão envolver regras, valores ou conceitos em processo de construção (para os quais não há, portanto, consenso), cabe ao adulto não só permitir - como promover - a manifestação, por parte de seus alunos, de seus pontos de vista, explicitando que verdades absolutas não existem, pois todo conhecimento, por ser sempre uma construção, é necessariamente provisório. (Zanella, 1994, p. 108) 1.2 Transferência do conceito de ZDP para a instrução pelos pares A questão da mediação da aprendizagem por pares mais capazes, com base na teoria de Vygotsky, tem sido recorrente na literatura das Metodologias Ativas. Dentre os autores que abordam esse tema, destacamos King (1997). Para King (1997), as salas de aula nas escolas públicas são lotadas e diversificadas, e exigem uma maior habilidade dos estudantes, uma vez que há pouco recurso disponível para atender as suas necessidades individuais. Nesse sentido, para o autor, a solução são métodos em que os próprios estudantes se tornam recursos de troca de saberes – ou instrução, nas palavras do autor. Assim, os próprios estudantes se “ensinam” uns aos outros. Dessa maneira, conforme Fino (1999), “na Instrução pelos pares, a responsabilidade pelo controle exterior é mediada pelo educador, porém com um nível de transferência para o par-tutor. É nessa transferência que se promove a aprendizagem autorregulada”. 7 TEMA 2 – PEER INSTRUCTION E JUST-IN-TIME TEACHING A Instrução por Pares (Peer Instruction) se enquadra em uma das possibilidades de Metodologias Ativas bem específica, nas aulas mais teóricas. Ou seja, não são todos os conteúdos que funcionam com esse recurso. Observa-se que a aula teórica, com esse recurso, deve ser dividida em etapas, com momentos para que os educandos elaborem respostas para perguntas centrais. Entretanto, para maior eficácia dessa estratégia, recomenda- se que ela se associe com o recurso do Ensino sob Medida, ou Just-in-Time- Teaching, sobretudo porque um potencializa o outro. De acordo com Rocha (2017), a instrução por pares é uma “modificação da aula teórica, ao acrescentar perguntas elaboradas para engajar os educandos a atingir as dificuldades conhecidas no conteúdo”. Ou seja, para Rocha (2017, p. 44), ao invés do educador lançar uma questão para a turma, a qual provavelmente um estudante só responda, o professor consegue ter toda a turma respondendo ao mesmo tempo. Para que isso ocorra deve- se usar a votação como recurso avaliativo dessa etapa. Ela pode se desenvolver por meio da disponibilidade tecnológica que os estudantes têm acesso. São diversos, tais como: 1. Votação online, 2. Cliker, 3. Plickers/ Flickr, 4. Cartões respostas (flashcards) etc. Os recursos acima mencionados foram elaborados por Rocha (2017, p. 67) e todos são direcionados para a etapa da votação, com aplicativos disponibilizados na internet. Se a escola ‘não possui recurso para aquisição dessas tecnologias, o cartão resposta exerce a mesma função e com a mesma eficácia”, uma vez que o objetivo é fazer com que todos os estudantes apresentem concomitantemente suas respostas. Com base nas respostas informadas pelos alunos, o professor decide entre rever o assunto, fazer uma pequena interferência (sem dar diretamente a resposta aos alunos), ou passar para a próxima questão ou tópico. (Rocha, 2017) 2.1 Organização metodológica da Instrução por Pares Um modelo eficaz de Peer foi por mim elaborado conforme o quadro abaixo. 8 Quadro 1 – Etapas Etapas Antes da aula Sala invertida Material de estudo Prévia Professor Breve exposição Individual Questão-chave Votação Educador Análise da votação Retomada do conceito Discussão em pares Questão-chave Apresentar a resposta Educador Feedback Explicar os equívocos Onde se encaixa o Ensino sob Medida, ou Just-in-Time-Teaching? Na pré-aula, conhecida também como Warm Up Exercise (exercício de aquecimento). Pois além de o educador encaminhar o material de estudo, que pode ser um vídeo, um texto, mas nada muito longo, encaminha-se aproximadamente duas a três questões para os estudantes – duas permitem a análise e a reflexão sobre o material, e não apenas a memorização, ou seja, recomenda-se algo que ele possa encontrar abertamente no material, para evitar a prática do “copia/cola”. O ideal seria que uma dessas questões fosse aberta. Por exemplo: • Qual parte do material você considerou mais difícil ou confusa? • Se não encontrou dificuldades, qual parte achou mais interessante e ficou com curiosidade de saber mais? Por quê? A vantagem de trabalhar o Ensino sob Medida antes da aula se justifica no fato de o professor saber com antecedência quais são as dificuldades dos estudantes, para poder focar no elemento que realmente se apresentara como sendo o de maior dificuldade, e não naquilo que eles já sabem. Dessa forma, a associação dessas duas Metodologias Ativas se integra conforme o quadro abaixo. 9 Quadro 2 – Integração Professor Estudante Pares/ Professor 1- Cria exercício de leitura e disponibiliza on-line Ex.: grupos fechados no Facebook, WhatsApp, Moodle1 etc. 1- Faz uma reflexão sobre a questão posta na plataforma on-line escolhida 3- Análise coletiva e apresentação das inferências Obs.: justificar no grupo a escolha da resposta 2- Analisa as respostas para, com base nelas, elaborar o plano de aula e criar as questões conceituais 2- Reflete sobre as questões conceituais e vota 3- Feedback: Apresentar a resposta correta e explicar o motivo ou os motivos dos equívocos. Destacamos que, nessa associação de metodologias ativas, a função da tarefa de leitura prévia por parte dos estudantes tem grande importância, pois: Essa etapa é conhecida como “exercício de aquecimento” (WarmUp exercise) e se constitui em uma atividade de preparação prévia à aula. Nela o professor solicita que os alunos leiam materiais de apoio (e.g. algum capítulo de livro-texto, artigos curtos na internet) e logo após respondam eletronicamente (e.g. via e-mail ou postagens no Moodle) algumas questõesconceituais sobre os tópicos. O prazo máximo de envio é estipulado pelo professor e precisa ser suficiente para que ele possa preparar sua aula com base nas respostas fornecidas. O texto indicado para a leitura deve, na medida do possível, relacionar os tópicos em estudo com atividades de potencial interesse do aluno e/ou que façam parte do seu dia a dia. Os exercícios de aquecimento têm como objetivos promover o pensamento crítico sobre o texto lido, introduzir o que será trabalhado em aula e estimular os alunos a elaborem argumentações, expressas em suas próprias palavras, para embasar suas respostas. É aconselhável que as questões sejam avaliadas com base no esforço demonstrado para o desenvolvimento de uma argumentação coerente e não em seu grau de correção. (Araujo; Mazur, 2013, p. 371) 1 O Moodle (http://moodle.org) é um ambiente de aprendizagem virtual gratuito usado mundialmente para a realização de cursos virtuais a distância e/ou como ferramenta de apoio a disciplinas presenciais. 10 TEMA 3 – GRUPO DE VERBALIZAÇÃO E GRUPO DE OBSERVAÇÃO (GVGO) Usar Metodologias Ativas é utilizar o professor como um habilidoso mediador da aprendizagem, enquanto o estudante protagoniza a sua formação. A responsabilidade do educador perpassa desde o Plano de Trabalho Docente até a avaliação. Criatividade e boas estratégias de aula são indispensáveis, por isso uma outra técnica de Metodologia Ativa bem-sucedida e utilizada no Brasil são os Grupos de Verbalização e Grupos de Observação – GVBO. Nessa perspectiva, o pressuposto é a reorganização do próprio ambiente da sala de aula. Mudar o layout é fundamental. Recomenta-se a organização em círculo, para que o “conhecimento circule” democraticamente no ambiente. Para referenciar essa proposta usaremos, dentre os autores que a desenvolvem, a perspectiva de Nonaka e Takeuchi (1997, p. 80): gênese do conhecimento está identificada na interação das duas formas de conhecimento, tácito e explícito, explicados anteriormente, em que são considerados quatro formas de conversão: 1 – Sociabilização (tácito-tácito), é o processo de compartilhamento de conhecimento tácito por meio da experiência, ou seja, um aprendiz pode adquirir conhecimento tácito diretamente de outros, sem usar a linguagem, mas pela observação, imitação e prática; 2 – Externalização (tácito-explícito), é o processo de articulação do conhecimento tácito em conceitos explícitos, por meio de metáforas, analogias, símbolos, slogans ou modelos, a escrita é uma forma de converter o conhecimento tácito em articulável; 3 – Combinação (explícito-explícito), é o processo de sistematização de conjuntos diferentes de conhecimento explícito, as pessoas trocam e combinam conhecimentos por meios como documentos, reuniões, conversas ao telefone ou redes de comunicação computadorizadas, a educação e o conhecimento formal nas escolas assumem essa forma; 4 – Internalização (explícito-tácito) – está intimamente ligado aos processos de “aprender fazendo”, de incorporação do conhecimento explícito no conhecimento tácito, por meio da aplicação do conhecimento formal nas atividades do trabalho. Essa compreensão surge no âmbito da gestão administrativa de empresas. Todavia, ao formar uma estratégia de ensino, é preciso compreender que o educador, para transformar a sala de aula em um ambiente que gera conhecimento, deve contemplar uma “espiral de conhecimento”, que vá de tácito para tático. Ou seja, o conhecimento deve ser articulado e não internalizado para tornar-se parte da base de conhecimento de cada pessoa. 11 Figura 1 – Espiral do conhecimento –Fonte: Elaborado com base em Nonaka; Takeuchi, 1997, p. 80. A espiral do conhecimento se reinicia depois de ter sido completada, ainda que em patamares cada vez mais elevados, ampliando, dessa forma, a aplicação do conhecimento em sua totalidade. Ao transferir essa estratégia da “espiral do conhecimento” para a sala de aula, deve-se conceber que o layout se apresenta com dois círculos: um menor ao centro, no qual se concentram os estudantes que participaram do círculo de verbalização, e os outros no círculo de fora, que participam do grupo de observação. Chegamos aqui ao Grupo de Verbalização – Grupo de Observação (GV– GO). Nesse método, parte da classe forma um círculo central (GV) para discutir um tema, ao passo que os demais formam um círculo em volta para observar (GO). O GO deve observar se os conceitos empregados na discussão são corretos, se os colegas estão lidando bem com a matéria, se estão todos participando etc. No formato de Seminário, um aluno ou um grupo de alunos prepara um tema para apresentá-lo à classe. TEMA 4 – APLICAÇÃO DO GRUPO DE VERBALIZAÇÃO: GRUPO DE OBSERVAÇÃO (GV–GO) Ao se optar por essa Metodologia Ativa, autores como Lopes e Pontuschka (2011) observam que, para que seja uma estratégia aplicada com sucesso ao 12 longo do processo de construção do conhecimento, são necessárias leituras e estudos preliminares – enfim, um contato inicial com o tema. Dentro das operações de pensamento, podemos considerar que as predominantes sejam: • Análise • Interpretação • Crítica • Levantamento de Hipóteses • Obtenção e organização de dados • Comparação • Resumo • Observação • Interpretação 4.1 Organização do GV-GO Vejamos os procedimentos, conforme Lopes e Pontuschka (2011): • Dividir os estudantes em dois grupos. Um para verbalização de um tema/problema e outro para observação. • Organizá-los em dois círculos: um interno e outro externo, dividindo o número de membros conforme o número de estudantes da turma. Em classes muito numerosas, o grupo de observação será numericamente maior que o de verbalização. • Num primeiro momento, o grupo interno verbaliza, expõe, discute o tema; enquanto isso, o GO observa e registra conforme a tarefa que lhe tenha sido atribuída. Em classes muito numerosas, as tarefas podem ser diferenciadas, para grupos destacados na observação. • Fechamento: o GO passa a oferecer sua contribuição, conforme a tarefa que lhe foi atribuída, ficando o GV na escuta. • Em classes com menor número de estudantes, o grupo externo pode trocar de lugar e mudar de função – de observador para verbalizador. • Divide-se o tempo conforme a capacidade do tema em manter os estudantes mobilizados. • O fechamento, papel fundamental do docente, deve contemplar os objetivos; portanto, deve-se incluir elementos do processo e dos produtos obtidos. 13 O grupo de verbalização será avaliado pelo educador e pelos estudantes da observação. Os critérios de avaliação são decorrentes dos objetivos, tais como: • clareza e coerência na apresentação, • domínio da problemática na apresentação, • participação do grupo observador durante a exposição, e relação crítica da realidade. Essa Metodologia Ativa é um recurso que pode ser utilizado quando o número de estudantes é elevado, pela subdivisão dos grupos em GO e GV. Na construção do conhecimento, essa metodologia tem maior eficácia se utilizada para o momento de síntese, pois exige dos participantes inúmeras operações de pensamento tais como análise, interpretação, crítica, obtenção e organização de dados, comparação, resumo, observação etc. Todavia, observa-se que essas operações não são simples, exigindo, do educador e do estudante, um envolvimento que antecede a realização da própria estratégia, com a busca de informações por meio de leituras em livros, revistas e/ou internet, conforme o problema em questão. 4.2 Funções no GV-GO Vejamos as funções de cada parte, conforme Lopes e Pontuschka (2011): • GV – Grupo de Verbalização (determinar o tempo para o debate): Este grupo é colocado em um círculo interno, e é responsável pela exposição dos itens da primeira etapa ou parte do texto. Nesse espaço,o grupo deve expor o tema colocando-o em debate, de forma coerente. Para isso, o grupo deve estabelecer um mediador. Após o início, o debate não poderá mais parar. Todos os integrantes devem participar simultaneamente, até esgotar os argumentos, avaliando os pontos positivos e negativos, como também gerando questionamentos ao autor e aos próprios membros. • GO – Grupo de Observação (determinar o tempo para o debate): Este grupo observará a exposição e, depois: fará perguntas sobre a forma dos assuntos apresentados; pedirá esclarecimentos sobre algo que não ficou claro, difícil de ser empreendido, desconectado com o tema etc.; questionará viabilidade, tempo de execução, pertinência de objetivos, relacionamento problema x objetivos; apontará problemas, falhas etc.; 14 sugerirá modificações, ajustes, inclusões, retiradas de objetivos, justificativas, itens do referencial teórico etc.; • Função do professor (determinar o tempo): Responsável por promover a participação de todos os membros do GV, e fará intervenções, após ambos os grupos atuarem, para fechar as propostas de ajustes. TEMA 5 – AVALIAÇÃO EM METODOLOGIAS ATIVAS Segundo Luckesi (2011), o pressuposto para o debate acerca da avaliação educacional passa por conhecer o conceito de avaliação. Avaliar vem do latim valere, que por sua vez significa “atribuir valor e mérito ao objeto em estudo”. Nesse sentido, para Luckesi (2011), o debate sobre a avaliação na Metodologia Ativa implica refletir em uma estrutura/metodologia diferenciada, que ressalta e prioriza avaliações diagnósticas, formativas/processuais e somativas, que perpassam todas as fases de desenvolvimento do método em estudo. Com isso, destacam-se duas finalidades, quais sejam: a avaliação da progressão do seu corpo discente e a avaliação da qualidade dos trabalhos didático- pedagógicos. Dessa maneira, teremos as avaliações, tendo por finalidade principal avaliar o conteúdo e a sua qualidade, conforme Mitre (2008, p. 2140): vez que um módulo temático, deve levar o seu discente a atingir determinados objetivos de conhecimento, afinal os problemas presentes no módulo e apresentados aos alunos nas sessões tutoriais, devem ensejar uma boa discussão, levando o estudante a eleger os objetivos de aprendizado adequados ao conhecimento do tema em estudo. Neste cenário teremos a avaliação modular. Portanto, tendo como base o trabalho desenvolvido por Mitre (2008), a avaliação é um procedimento pedagógico pelo qual se verifica continuamente o progresso de aprendizagem e se decide, caso necessário, sobre os meios alternativos de recuperação ou reforço. O termo avaliar tem sido constantemente associado a expressões como: fazer prova, fazer exame, atribuir notas, repetir ou passar de ano. Essa associação, tão frequente em nossa escola, é resultante de uma concepção pedagógica arcaica, porém tradicionalmente dominante. A educação é assim concebida como mera transmissão e memorização de informações prontas, e o aluno é visto como um ser passivo e receptivo. Dentro dessa visão, Mitre (2008) afirma que educar é formar e aprender é construir o próprio saber; a avaliação contempla dimensões, e não se reduz 15 apenas a atribuir notas. Se o ato de ensinar e aprender consiste na realização de mudanças e aquisições de comportamentos motores, cognitivos, afetivos e sociais, o ato de avaliar consiste em verificar se eles estão sendo realmente atingidos e em que grau se dá essa consecução, para ajudar o aluno a avançar na aprendizagem e na construção do seu saber. Nessa perspectiva, a avaliação assume um sentido orientador e cooperativo. Trata-se de um processo de coleta e análise de dados, com a finalidade de verificar se os objetivos propostos foram atingidos, sempre respeitando as características individuais e o ambiente em que o educando vive. A avaliação deve ser integral, considerando o aluno como um ser total e integrado, e não de forma fragmentada. (Mitre, 2008) Segundo Mitre (2008), as pesquisas relacionadas à avaliação devem estar fundamentadas nos seguintes pontos: • Continuidade: a avaliação deve estar presente durante todo o processo educacional, e não somente em períodos específicos; • Compatibilidade com o objetivo proposto: a avaliação deve estar em conformidade com os objetivos, definidos como norteadores do processo educacional, para que venha realmente a cumprir a função de diagnóstico. • Amplitude: a avaliação deve estar presente em todas as perspectivas do processo educacional; deve-se avaliar todos os comportamentos do domínio (cognitivo, afetivo e psicomotor); • Diversidade de forma: para avaliar, devemos utilizar as várias técnicas possíveis, visando também todos os comportamentos do domínio. É fundamental escolher os procedimentos avaliativos; neste caso, importa observar como se compreende o processo avaliativo, suas razões e suas motivações. Essa compreensão é um dos principais fatores que influem no direcionamento das condutas. (Mitre, 2008) 16 FINALIZANDO Prezado cursista, a importância da Metodologia Ativa, independentemente da área de conhecimento, pode ser sintetizada em quatro pontos centrais: princípio da aprendizagem; autonomia do estudante; contexto do aprendizado; trabalho em equipe. Esses pontos, definidores da Metodologia Ativa, centralizam a aprendizagem no estudante, para que ele possa adquirir, progressivamente, mais autonomia na construção do seu aprendizado, na construção do seu conhecimento. Observamos que a autonomia para a busca do conhecimento e do aprendizado se torna fundamental, principalmente no século XXI, sobretudo porque há muita obsolescência do conhecimento, já que o volume de informações grande, de modo que os estudantes por vezes se perdem e não conseguem sistematizar ou transformar essas informações em conhecimento. O conceito de “metodologias ativas de aprendizagem” é tão extenso que apresenta diversas ramificações. Hoje, existem algumas metodologias que são mais bem difundidas, sendo condizentes com a realidade do ensino no Brasil. Com base no trabalho de Moran (2014), sintetizamos as Metodologias Ativas: 1. Ensino Híbrido (Blended Learning): Procura unir as melhores práticas, tanto do ensino tradicional presencial quanto do ensino a distância (EaD). 2. Sala de aula Invertida (Flipped Classroom): A ideia é que os estudantes tenham um contato com a matéria em casa, por meio do EaD, antes de estarem presentes fisicamente na instituição. Assim, quando chegam na sala de aula, usam o momento em que estão na presença do professor para tirar dúvidas, resolver questões, debater e fixar o que aprenderam em casa. Dessa forma, o tempo de aula é otimizado e, consequentemente, o aprendizado é potencializado. 3. Aprendizagem baseada em problemas (Problem Based Learning): A ABP propõe que os estudantes utilizem diversos campos do conhecimento de forma interdisciplinar. Assim como na sala de aula invertida, os estudantes têm contato com a matéria antes do encontro com os professores; no momento da aula, apresentam problemas aos alunos que, em grupos, devem discutir e, claro, encontrar soluções para eles. 17 4. Aprendizagem entre pares: Nesse modelo, os estudantes são reunidos em duplas ou em grupos, e aqueles que são melhores em um assunto assumem um papel de tutoria para os que ainda são iniciantes. LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica Não basta sabermos os recursos metodológicos modernos para desenvolvermos as relações de ensino e aprendizagem, se não dominarmos as principais referências acerca da educação. LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem componente do ato pedagógico. São Paulo: Cortez, 2011. p. 55. Texto de abordagem prática Mesmo sendo específico sobre a docência em enfermagem, esse artigo observa que a teoria da sala de aula precisa estar articulada com a realidade. Apresentacomo as Metodologias Ativas articulam essa relação. BERBEL, N. A. N. As metodologias ativas e a promoção da autonomia de estudantes. Semina, v. 32, n. 1, p. 25-40, 2011. Saiba mais O presente trabalho teve como objetivo investigar o impacto que o método Peer Instruction (ou Instrução por Pares), criado e desenvolvido pelo professor Eric Mazur, da Universidade de Harvard, pode provocar nos resultados obtidos em sala de aula. OLIVEIRA, J. R. de. Instrução por Pares: A Aprendizagem Ativa aplicada no Ensino de Gestão da Produção. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Itajubá, 2017. 18 REFERÊNCIAS ARAUJO, I. S.; MAZUR, E. Instrução pelos colegas e ensino sob medida: uma proposta para o engajamento dos alunos no processo de ensino-aprendizagem de Física. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, Florianópolis, v. 30, n. 2, p. 362-384, abr. 2013. FINO, C. M. N. Um software educativo que suporte uma construção de conhecimento em interacção (com pares e professor). SIMPÓSIO DE INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE EDUCATIVO, 3., 1999. Atas... KING, A. Ask to think-tel why: a model of transactive peer tutoring for scaffolding higher level complex learning. Educational Psychologist, v. 32, n. 4, p. 221-235, 1997. LOPES, C. S.; PONTUSCHKA, N. N. Mobilização e Construção de Saberes na Prática Pedagógica do Professor de Geografia. Geosaberes, v. 2, n.3, p. 89-104, 2011. LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem componente do ato pedagógico. São Paulo: Cortez, 2011. MITRE, S. M. et al. Metodologias ativas de ensino-aprendizagem na formação profissional em saúde: debates atuais. Ciência & saúde coletiva, v. 13, p. 2133- 2144, 2008. MORAN, J. M. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. 5. ed. Campinas: Papirus, 2014. NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. Criação do conhecimento na empresa. Rio de Janeiro: Campus, 1997. ROCHA, R. de S. Utilização das novas tecnologias de informação e comunicação para a aplicação da metodologia “Instrução pelos Colegas” no ensino de física no ensino médio. 2017. Disponível em: <http://www.ufjf.br/profis/files/2016/01/RODOLFO.pdf>. Acesso em: 28 nov. 2018. WERTSCH, J. V. Vygotsky y la Formación Social de la Mente. Barcelona: Ediciones Paidós, 1988. 19 ZANELLA, A. V. Zona de desenvolvimento proximal: análise teórica de um conceito em algumas situações variadas. Temas psicol., 1994, v. 2, n. 2, p. 97- 110, 1994. Conversa inicial Prezados cursistas, nesta aula abordaremos mais uma proposta desenvolvida a patir das Metodologias Ativas, e posteriormente faremos um apanhado geral do debate promovido nesse modulo sobre o significado de M.A.
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