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AULA 2 METODOLOGIAS ATIVAS Prof.ª Lígia Maria Bueno Pereira Bacarin 2 CONVERSA INICIAL Prezado aluno, com alegria e entusiasmo chegamos em nossa segunda aula. Na primeira aula, abordamos a necessidade de construção de uma educação inovadora, possível a partir de um trabalho conjunto e estruturado, no qual é essencial o exercício de função do professor. Com esse propósito, é fundamental a adoção de metodologias, que precisam acompanhar os objetivos pretendidos, objetivando o envolvimento de estudantes, para que sejam proativos. Para tanto, as metodologias ativas são essenciais, pois a partir delas é possível conceber a sala de aula como um espaço vivo. O tema de nossa segunda aula é: “Um novo olhar sobre o educador e a educação pela perspectiva das metodologias ativas”. Vamos propor um breve estudo sobre o panorama contemporâneo da educação, estudando algumas perspectivas atuais da área, com o propósito de entender a sociedade da informação nesse contexto. No Tema 1, iremos conceituar educação, ensino, doutrinação e ensino híbrido. Vamos entender diferenças pertinentes para, na sequência, tratar da escola como local da diversidade, oportunidade em que conceituaremos o que é diversidade. A escola é aqui entendida como lócus da diversidade e da diferença; assim, conceituaremos também a ideia de política inclusiva. Para uma melhor compreensão da proposta de nossa segunda aula, é importante recuperar algumas discussões da primeira, principalmente no que se refere às metodologias ativas e aos quesitos descritos em um organograma. Nesse sentido, para orientar nosso debate, organizamos as seguintes questões: Como desenvolver um ensino tendo a escola como lócus da diversidade no cenário da cultura digital? Como organizar metodologias ativas no cenário discrepante da educação nacional? E. por fim, como poderemos utilizar os recursos tecnológicos na perspectiva da educação transformadora e profissional? Então, vamos lá! CONTEXTUALIZANDO Nas duas últimas décadas do século passado, aconteceram mudanças no campo social, político e econômico, e também na cultura, ciência, tecnologia e educação. Podemos arriscar, com base em Gadotti (2000), que não temos clareza do que poderá significar a globalização capitalista nesses campos. De antemão, 3 as transformações, principalmente as tecnológicas, tornaram possível o surgimento da Era da Informação. Muitos educadores estão perplexos diante das rápidas mudanças na sociedade, e se perguntam sobre o futuro da educação. Ouvimos falar muito em cenários possíveis para a educação; a partir desse estudo, surgem diversas propostas didáticas pedagógicas e teóricas, objetivando melhorias na qualidade da educação, e também estendê-la a um número cada vez maior de sujeitos. No cenário da educação atual, podemos destacar alguns marcos que persistem, e poderão persistir ainda por mais tempo na educação. As novas tecnologias ainda não se fizeram sentir plenamente no ensino, ao menos na maioria dos países, mas a aprendizagem a distância, nas palavras de Gadotti (2000, p. 3), sobretudo a baseada na Internet, parece ser a grande novidade educacional neste início de novo milênio. A educação opera com a linguagem escrita e a nossa cultura atual dominante vive impregnada por uma nova linguagem, a da televisão e a da informática, particularmente a linguagem da Internet. A cultura do papel representa talvez o maior obstáculo ao uso intensivo da Internet, em particular da educação a distância com base na Internet. Por isso, os jovens que ainda não internalizaram inteiramente essa cultura adaptam-se com mais facilidade do que os adultos ao uso do computador. Eles já estão nascendo com essa nova cultura, a cultura digital. Os defensores da informatização da educação sustentam que é preciso mudar os métodos de ensino para ampliar, no cérebro humano, a capacidade de pensar; nesse processo, a função da escola será a de ensinar a pensar criticamente. Para tanto, é preciso e necessário dominar um maior número de metodologias e linguagens, inclusive e principalmente a linguagem eletrônica (Gadotti, 2000). TEMA 1 – SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E EDUCAÇÃO Costuma-se definir nossa era como a Era do Conhecimento. Pela Internet, a partir de qualquer sala de aula do planeta, pode-se acessar inúmeras bibliotecas em muitas partes do mundo. Nas palavras de Gadotti (2000, p. 5): As novas tecnologias permitem acessar conhecimentos transmitidos não apenas por palavras, mas também por imagens, sons, fotos, vídeos (hipermídia), etc. Nos últimos anos, a informação deixou de ser uma área ou especialidade para se tornar uma dimensão de tudo, transformando profundamente a forma como a sociedade se organiza. Pode-se dizer que está em andamento uma Revolução da Informação, como ocorreram no passado a Revolução Agrícola e a Revolução Industrial. 4 Há diversas facilidades propiciadas e oferecidas ao professor pelas novas tecnologias. O professor pode vir a perguntar o que tem a ver com tudo isso se sua escola não tem sequer biblioteca, funciona em condições precárias e ele próprio não tem condições de comprar um computador. Diante dessa realidade, ele mesmo pode responder que será preciso trabalhar em dois tempos: o tempo do passado e o tempo do futuro, ou seja, fazer tudo hoje objetivando superar as condições do atraso, criando, ao mesmo tempo, condições para aproveitar amanhã as possibilidades das novas tecnologias (Dowbor, 1998). Sem dúvidas, as novas tecnologias criaram novos espaços do conhecimento. Segundo Gadotti (2000, p. 8-9), o conhecimento é o grande capital da humanidade, sendo basal para a sobrevivência de todos; por isso, deve ser disponibilizado a todos. Destaca o educador: Esta é a função de instituições que se dedicam ao conhecimento apoiado nos avanços tecnológicos. Espera-se que a educação do futuro seja mais democrática, menos excludente. Essa é ao mesmo tempo nossa causa e nosso desafio. Infelizmente, diante da falta de políticas públicas no setor, acabaram surgindo "indústrias do conhecimento", prejudicando uma possível visão humanista, tornando-o instrumento de lucro e de poder econômico. Para Snyders (1988), cabe à escola selecionar e rever de forma crítica a informação; além de ser criativa, amar o conhecimento, ser provocadora de mensagens, (re)produzir e (re)construir conhecimento, ser espaço de realização humana e promover a emancipação da educação. A escola deve fazer tudo isso em favor dos excluídos. Portanto, a escola deve deixar de ser lecionadora, e passar a ser gestora do conhecimento. Para tanto, precisa ter projeto, precisa de dados, precisa fazer sua própria inovação, planejar-se, fazer sua própria reestruturação curricular, elaborar parâmetros curriculares e ser cidadã. Afinal, as mudanças que vêm de dentro das escolas são mais duradouras. Nesse contexto, o professor é um mediador do conhecimento, diante do aluno, centro do ensino e da aprendizagem, sujeito da sua própria formação. Ele precisa construir conhecimento a partir do que faz; para isso, também precisa ser curioso, buscar sentido em suas práticas e apontar novos rumos para a prática com seus alunos (Bussmann, 1995). Portanto, ser professor hoje é viver intensamente o seu tempo, conviver; é ter consciência e sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a humanidade sem educadores, assim como não se pode pensar num futuro sem poetas e filósofos. Os educadores, numa visão emancipadora, não só transformam a informação em conhecimento e 5 em consciência crítica, mas também formam pessoas. Diante dos falsos pregadores da palavra, dos marqueteiros, eles são os verdadeiros "amantes da sabedoria", os filósofos de que nos falava Sócrates. Eles fazem fluir o saber (não o dado, a informação e o puro conhecimento),porque constroem sentido para a vida das pessoas e para a humanidade e buscam, juntos, um mundo mais justo, mas produtivo e mais saudável para todos. Por isso eles são imprescindíveis (Gadotti, 2000, p. 9). TEMA 2 – A INTENCIONALIDADE DO ENSINO Ao longo deste tema, vamos conceituar educação, ensino, doutrinação, ensino híbrido e personalização do ensino. 2.1 Educação e ensino Vamos conceituar educação, ensino e doutrinação. Esse momento é importante, para que tenhamos uma clareza maior sobre as discussões que iniciamos na aula anterior, e que continuaremos nesta aula e nas posteriores. O professor Libâneo (1985, p. 97) entende o ato de educar da seguinte maneira: conduzir de um estado a outro, é modificar numa certa direção o que é suscetível de educação. O ato pedagógico pode, então, ser definido como um atividade sistemática de interação entre seres sociais, tanto no nível do intrapessoal como no nível da influência do meio, interação essa que se configura numa ação exercida sobre sujeitos ou grupos de sujeitos visando provocar neles mudanças eficazes que o tornem elementos ativos desta própria ação exercida. Presume-se, aí, a interligação no ato pedagógico de três componentes: um agente (alguém, um grupo, um meio social etc.), uma mensagem transmitida (conteúdos, métodos, automatismos, habilidades etc.) e um educando (aluno, grupo de alunos, uma geração etc.). No entendimento do autor, a educação não pode ser compreendida fora de um contexto político, econômico, social, cultural e histórico concreto. Nesse contexto, a prática social é o ponto de partida e o ponto de chegada da ação pedagógica. No início, a experiência social do educando é fragmentada, portanto confusa, e deve ser levada a um estágio de organização. Assim, o professor criador da Pedagogia Histórico-Critica, Dermeval Saviani (1986, p. 120), define e entende a educação como um processo que se caracteriza por uma atividade mediadora no seio da prática social global. Tem-se, pois, como premissa básica que a educação está sempre referida a uma sociedade concreta, historicamente situada. [...] Como atividade mediador, a educação se situa em face das demais manifestações sociais em termos de ação recíproca. A fim de determinar o tipo de ação exercida pela educação sobre diferentes setores da sociedade, bem como o tipo de ação que sofre das demais forças sociais é preciso, para cada sociedade examinar 6 as manifestações fundamentais e derivadas, as contradições principais e secundárias. Segundo Aranha (1996) e Brandão (1995), educação é um conceito genérico, amplo, que supõe o processo de desenvolvimento integral do homem, de suas capacidades física, intelectual e moral, visando não só a formação de habilidades, mas também de caráter e personalidade social. Ainda assim, não existe uma forma única e muito menos um único modelo de educação. Importante destacar que a escola não é o único lugar onde ela acontece, e o professor profissional não é o seu único praticante. Porém, a escola e o professor não deixam ser importantíssimos para os processos educacionais, principalmente para a educação escolarizada. Nesse sentido, como texto básico, importante ler o livro de Brandão (1995). Feitas essas considerações sobre a educação, o ensino consiste na transmissão de conhecimentos, com vistas a instruir, podendo ser praticado de diferentes formas e em diferentes locais. De acordo com Gomes (1985) e Oliveira (2000), as principais formas são o ensino formal, informal e não formal. O ensino formal é aquele praticado pelas instituições de ensino, com respaldo de conteúdo, currículo, certificação, profissionais de ensino etc. O ensino informal está relacionado ao processo de socialização do homem e da mulher, ocorrendo durante toda a vida, muitas vezes até mesmo de forma não intencional. O ensino não formal é intencional, sendo geralmente relacionado a processos de desenvolvimento de consciência política e relações sociais de poder entre os cidadãos, praticadas por e em movimentos populares, associações, sindicatos, grêmios, entre outras instituições. Os limites entre essas três modalidades de educação não são extremamente rígidos; são permeáveis, uma vez que estamos aprendendo constantemente e por diferentes vias e agentes. Aranha (1996, p. 51) destaca, quanto às noções educação e ensino, que não há como separar nitidamente esses dois polos que se completam. Como se poderia educar alguém sem informá-lo sobre o mundo em que vive? É a partir da consciência de sua própria experiência e da experiência da humanidade que o homem tem condições de se formar com um ser moral e político. Da mesma maneira, toda informação, mesmo que fornecida sem aparente intenção de formação, ao ser assimilada pelo educando, interfere na sua concepção de mundo. Com frequência, a informação pretensamente neutra está, na verdade, carregada de valores. 7 TEMA 3 – DOUTRINAÇÃO A doutrinação se trata de uma pseudo-educação, quando comparamos seus objetivos e finalidades com os conceitos de educação e ensino. A doutrinação não respeita a liberdade do educando, impondo-lhe conhecimentos e valores. Nesse processo, todos são submetidos a uma só maneira de pensar e agir, destruindo-se o pensamento divergente e mantendo-se a tutela, a hierarquia e a ditadura do pensamento único; ou seja, é como se houvesse apenas uma só verdade, uma só análise, uma só interpretação dos fatos sociais, políticos, econômicos, sociais e culturais. Rodrigues e Padrós (2000, p. 123) nos oferecem uma boa reflexão acerca do pensamento único, o qual tem como objetivo a doutrinação: O Pensamento Único, expressão ideológica do capitalismo na sua modalidade neoliberal predominante, pretende impor uma visão de mundo que se pauta pelos seguintes aspectos: ignora o contraditório; oculta a dinâmica social de altíssima exclusão (em nível planetário); tenta impor-se, hegemonicamente, por meio das corporações midiáticas, por sua vez co-protagonistas do processo de mundialização do capital [...], se orienta na desconstrução de identidades políticas, econômicas, culturais e nacionais, assim como no desconhecimento ou desqualificação de qualquer contraponto alternativo a ele e ao sistema que representa. Nesse quadro de anestesiamento geral das consciências e de atitude passiva diante da interpretação monolítica, a História Imediata se apresenta como tentativa de dar explicabilidade ao cenário caótico e desconexo exibido pela grande mídia na sua pretensão de vender a sua verdade e de impô-la como única e histórica. 3.1 Ensino híbrido Como podemos conceituar ensino híbrido? Sustentando-se em Moran (2015), em linhas gerais o ensino híbrido é uma modalidade de educação — online e off-line. Essa forma de ensino é o elo entre os dois modelos de aprendizagem: o presencial e o online. Portanto, apenas parte do processo de ensino ocorre em sala de aula, quando os alunos interagem entre si, trocando experiências — o presencial. O online, por sua vez, utiliza meios digitais para que o aluno tenha mais autonomia quanto à forma de aprendizagem. As duas modalidades se completam, uma vez que proporcionam diferentes experiências de aprendizado. Importante destacar que, quando o ensino é híbrido, é necessário que tanto no aprendizado presencial quanto no digital o objetivo seja o mesmo. Cada um deles é uma parte do processo de aprendizagem, e assim são complementares um ao outro; portanto, nem esse modelo nem aquele é prioridade. 8 No Brasil, o ensino híbrido é muito utilizado no ensino superior, com disciplinas lecionadas por meio do EaD (Ensino a Distância). A educação inclusiva, que leva em consideração a diversidade humana e as necessidades e o ritmo de cada um, reestruturou o modelo tradicional, promovendo acessibilidade e praticidade para todos. Nesse cenário, o EAD híbrido é uma valiosa ferramenta. 3.2. Personalizaçãodo ensino Segundo Bacich, Tanzi Neto e Trevisani (2015), a personalização do ensino é uma proposta pedagógica que trabalha o conteúdo considerando a necessidade e o interesse do aluno, propondo estratégias que possam contribuir para o desenvolvimento de sua aprendizagem, respeitando o tempo e o ritmo de cada um. Visa também auxiliar nas dificuldades e potencializar habilidades e competências, procurando sempre que o aluno se sinta seguro para se desenvolver no decorrer do processo de ensino. A potencialização das competências e habilidades se efetiva com maior aprofundamento nos conteúdos que são de interesse do aluno; ou seja, se o interesse é Geografia, é essencial que as atividades inovadoras trabalhem essa disciplina. Para tanto, é necessário buscar estratégias e recursos pedagógicos adequados. Assim, o ensino personalizado lança um olhar para as aptidões dos alunos, adaptando o conteúdo de maneira a corresponder às necessidades detectadas, visando que o aluno seja protagonista de seu percurso e aprendizado, que seja capaz de vislumbrar qual caminho deseja seguir. O objetivo dessa abordagem é a transformação da jornada de estudos, a fim de proporcionar autonomia e comprometimento. Dessa forma, espera-se, como principal benefício pedagógico, que o aluno se engaje nos processos educacionais, com maior interesse pela disciplina, uma vez que a proposta do ensino personalizado abre espaço para o uso da tecnologia, o que torna o conteúdo mais estimulante. Isso é possível devido ao fato de a personalização do ensino respeitar o tempo e as características do aluno, promovendo familiarização com a disciplina e com a própria escola, o que faz com que as dificuldades iniciais sejam gradativamente substituídas por uma atenção às preferências individuais, adequando o ensino à realidade. 9 Importante ainda ressaltar que o professor pode identificar o desempenho do aluno em relação aos conteúdos e facilitar a aprendizagem de acordo com as ferramentas escolhidas para e no processo de ensino e aprendizagem. A título de exemplo: se o aluno demonstrar dificuldade em alguma disciplina, como Física, recomenda-se sugerir atividades com o uso de tecnologia, que tratem do conteúdo. Essas atividades podem ser lúdicas, visando despertar a atenção do aluno para o conteúdo. Por fim, os professores devem se preparar para mudanças no âmbito didático-pedagógico. Uma dessas mudanças é exatamente a proposta de personalização do ensino em realidade na escola onde atua e na vida de seus alunos (Lima; Moura, 2015). Para tanto, várias mudanças são necessárias, e por essa razão é importante refletir sobre as medidas que devem ser tomadas, como por exemplo: utilização de ferramentas que fornecem dados de desempenho; adaptação da proposta pedagógica para um novo modelo de ensino; avaliações menores e diferenciadas das tradicionais, visando maior valorização das competências e habilidades; buscar, sempre que necessário, consultoria e capacitação especializada em tecnologias educacionais; modificação na organização do ambiente escolar (Santos, 2015). TEMA 4 – ESCOLA, LOCAL DA DIVERSIDADE Neste tema vamos estudar o conceito de diversidade, a escola como lócus da diversidade e das diferenças, e o conceito de política inclusiva. 4.1 Conceito de diversidade Substantivo feminino, diversidade significa variedade, pluralidade, diferença. Caracteriza tudo que é diverso, que tem multiplicidade; é a reunião de tudo aquilo que apresenta múltiplos aspectos, que se diferenciam entre si, por exemplo: diversidade cultural, diversidade biológica, diversidade étnica, linguística, religiosa etc. Para deixarmos isso mais claro, esmiuçemos dois desses exemplos, os aspectos étnicos e culturais: Diversidade étnica – podemos conceituar diversidade étnica como sendo a união de vários povos numa mesma sociedade. Etnia é um grupo de indivíduos que têm afinidades de origem, história, idioma religião e cultura, independentemente do país em que se encontram. O Brasil é um país com grande diversidade étnica; sua população é composta da miscigenação de 10 vários povos, que juntos formaram uma nova identidade cultural (Brandão, 1986). Diversidade cultural – a diversidade cultural refere-se aos múltiplos elementos que representam particularmente as diferentes culturas, como linguagem, tradições, religião, costumes, organização familiar e política, que reúnem as características próprias de um grupo humano em um determinado território (Santos, 1994). 4.2 Escola: lócus de diversidade e diferenças A diversidade na escola precisa ser discutida por todos os profissionais da educação, para criar ações que visem de fato trabalhar com a temática, de maneira planejada e coerente com a finalidade do ambiente escolar. São inúmeros os aspectos que envolvem a diversidade na escola. Priorizamos dois pontos: a necessidade de um clima de cooperação e respeito e a questão da discriminação, tanto no que se refere às atitudes dos alunos como nos textos e atividades dos livros didáticos, que muitas vezes transmitem ideais a partir da naturalização das desigualdades sociais. A escola é, por excelência, um espaço de formação da consciência humana. O direito à aprendizagem é garantido por lei a todos, independentemente de cor, religião e características físicas. Isso posto, podemos pensar em como criar um clima de cooperação num ambiente marcado pela diferença. As diferenças podem ser riquezas no processo educacional, desde que a escola organize um trabalho coletivo, cujas decisões sejam pensadas para melhoria do processo pedagógico. Considerar as diferenças como algo que possibilita a troca de experiências e o exercício do respeito é condição essencial. O professor Libâneo (2004, p. 63) argumenta que uma educação intercultural requer que as decisões da equipe escolar sobre objetivos escolares e organização curricular reflitam os interesses e necessidades formativas dos diversos grupos sociais existentes na escola (a cultura popular, o urbano e o rural, a cultura dos jovens, a cultura dos homens e mulheres, de brancos e negros, das minorias étnicas, dos alunos com necessidades especiais). Portanto, a proposta pedagógica deve definir as concepções essenciais para a efetivação do trabalho pedagógico. Esse documento deve ser elaborado e estudado por todos os profissionais da escola, e também pelos pais e pela comunidade local (Sá, 2001). Concepções e uma visão de sociedade, homem, 11 mulher, educação, ensino, aprendizagem, planejamento e avaliação estão contidos neste aporte. Relacionando com o tema da “diversidade”, podemos citar alguns preceitos desse documento, como por exemplo: Como a aprendizagem é concebida? A interação é ponto fundamental para a aprendizagem? O ritmo de aprendizagem de cada aluno é considerado? Como são trabalhadas as dificuldades de aprendizagem dos alunos, separando-os do grupo ou por meio da interação? A diversidade, nessa análise, é entendida como algo que faz parte do cotidiano escolar, e não algo que deve ser trabalhado separadamente por meio de projetos isolados de curta duração, que muitas vezes não se solidificam na prática pedagógica. Vale dizer que os negros, em muitos manuais didáticos, são evidenciados sempre numa posição de inferioridade, fruto de uma ideologia presente em muitos textos e imagens de livros didáticos. O mesmo se poderia dizer dos índios, que são “verdadeiros donos das terras”, mas que hoje muitas vezes vivem à margem da sociedade. O estudo dos diferentes grupos sociais deve ser pautado na pesquisa e no conhecimento científico, preocupado com a formação de um homem que saiba viver em sociedade, mas que não simplesmente se adapte à ela; ele deve ser capaz de interferir em seu contexto com vistas à transformação social (Rocha, 1988). Ao pensarmos opreconceito e a discriminação na escola, consideramos todos aqueles que de alguma forma escapam do perfil ideal de aluno, que muitas vezes é almejado pelos profissionais da educação. Nesse contexto, das diferenças lembramo-nos das crianças com necessidades especiais, ou daquelas que não se encaixam em um padrão de beleza divulgado na mídia e defendido por muitas pessoas. Uma maneira de lidar com as diferenças é travar um diálogo constante com os alunos. É importante também elaborar coletivamente regras sobre o respeito às diferenças na escola. O clima de cooperação também deve existir entre os professores, pois os alunos percebem os conflitos entre os profissionais que fazem parte desse ambiente. A troca e o trabalho coletivo entre os professores também contribuem para um clima agradável, marcado pela cooperação. 12 Outro aspecto a ser considerado é a participação dos pais no processo pedagógico e nas discussões relativas à diversidade. Assim como a escola passou por transformações ao longo da história, a família também! Essa constatação nos faz pensar sobre os diferentes tipos de família na atualidade; tais mudanças nos ambientes familiares refletem diretamente na escola e na sua relação entre as crianças (Prado, 2011). Importante destacar que essas diferenças devem ser consideradas na prática educativa, de modo a não criar situações de discriminação e preconceito com as crianças que não têm uma família nos moldes tradicionais, como está presente muitas vezes nas imagens de livros didáticos – pai, mãe e dois filhos. É importante que fique claro que o trabalho com a diversidade na escola é um processo de construção. Se tiver sido iniciado, é necessário mantê-lo sob constante avaliação; caso não tenha sido iniciado, é urgente começar, e para tanto deve-se obedecer rigorosamente à elaboração de uma proposta que oportunize a participação de todos os interessados, direta e indiretamente. Em seu trabalho, o professor deve ficar sempre atento às mudanças sociais, e deixar de lado um modelo ideal de aluno e de profissionais da educação. Assim, será possível lidar com as diferenças a partir de um diálogo constante. TEMA 5 – POLÍTICA INCLUSIVA Inclusão social é um termo empregado em diversos contextos. De modo geral, é utilizado como referência à inserção de pessoas com algum tipo de deficiência, seja física ou mental, e que precisam de necessidades especiais. É um processo importante nas escolas e no mercado de trabalho. Inclui também pessoas que simplesmente não têm as oportunidades de que precisam na sociedade, por suas condições socioeconômicas, de gênero e raça, ou pela falta de acesso a tecnologias. Não é fácil efetivar uma política inclusiva. A base de sustentação se dá, essencialmente, na formação dos profissionais da área da educação. Essa questão da inclusão de pessoas com deficiência ainda é bastante dura no Brasil. Movimentos nacionais e internacionais buscam constantemente um consenso, a fim de formatar uma política de inclusão de pessoas com deficiência na escola regular. 13 Portanto, podemos definir política de inclusão social como sendo o conjunto de meios e ações que visam combater a exclusão aos benefícios da vida em sociedade. É movida por diferenças de classe social, educação, idade, deficiência, gênero, preconceito social ou preconceitos raciais, oferecendo oportunidades iguais de acesso a bens e serviços, para todos. No que se refere especificamente à escola, significa educar todas as crianças em um mesmo contexto escolar. A opção por esse tipo de educação não significa negar as dificuldades dos estudantes; ao contrário, com a inclusão, as diferenças não são vistas como problemas, pois se transformam em diversidade. Para um maior aprofundamento sobre políticas públicas e inclusivas, recomendamos, entre outras leituras, Barreta e Canan (2012) e Paulon, Freitas e Pinho (2005). FINALIZANDO Nesta aula, apresentamos em linhas gerais um panorama sobre a educação contemporânea e suas perspectivas, conceituando-a e estabelecendo semelhanças e diferenças entre educação, ensino, doutrinação e ensino híbrido. Na sequência, estudamos a escola enquanto um local caracterizado pela diversidade, e o que se entende por políticas inclusivas. Assim, retomamos as questões que orientaram nosso debate: Como desenvolver um ensino tendo a escola como lócus da diversidade no cenário da cultura digital? Como organizar metodologias ativas no cenário discrepante da educação nacional? E por fim, como poderemos utilizar os recursos tecnológicos na perspectiva da educação transformadora e também profissional? Para maior aprofundamento das questões apontadas no decorrer da aula, sugerimos que você, de acordo com seus interesses e com as questões com as quais mais se identificou, estude as obras apontadas nas referências bibliográficas. Detenha-se, principalmente, nas leituras obrigatórias. LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica BRANDÃO, C. R. O que é educação. 49. ed. São Paulo: Brasiliense, 2007. Coleção primeiros passos: 20. 14 Afinal, pra que é que se aprende? E por que se inventou a educação e, depois, a escola? Como é que isso aconteceu e o que é que se faz ali? Já que ninguém escapa da educação, seria bom ao menos compreendê-la. Nem sempre houve escola e nem sempre ela foi do jeito que a conhecemos. Em vários momentos da história, tipos diversos de sociedades criaram diferentes caminhos para percorrer a estranha aventura de lidar com o saber e os poderes que ele carrega consigo. Essas são algumas das questões de que a obra trata. Texto de abordagem prática BARRETA, E. M.; CANAN, S. R. Políticas públicas de educação inclusiva: avanços e recuos a partir dos documentos legais. In: ANPED SUL, 9., 2012. Anais... Disponível em: <http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFil e/173/181>. Acesso em: 29 out. 2018. Este artigo tem o propósito de pontuar e apresentar quais as políticas públicas de educação inclusiva estão presentes em documentos legais, buscando reconhecer suas contribuições na perspectiva de uma educação inclusiva. O estudo possibilitou caracterizar a política pública com a política educacional inclusiva, bem como identificar sua presença em alguns documentos relevantes, tanto em nível nacional quanto internacional (como a Declaração de Salamanca de 1994). Por meio deles, percebemos quais os interesses, avanços e recuos, as políticas de governo e os direcionamentos estendidos à Educação Básica na perspectiva inclusiva. Os discursos relacionados às políticas de inclusão propõem contemplar alunos com necessidades educacionais especiais na escola; trata-se de oferecer uma educação de respeito às diferenças e valorização de habilidades. Para tanto, visualizamos tentativas de implementação de políticas propositivas de mudança social e educacional, visando a efetivação, na prática, dessas políticas tão almejadas pelas instituições escolares e sociais. 15 REFERÊNCIAS ARANHA, M. L. de A. Filosofia da Educação. 2. ed. rev. ampl. São Paulo: Moderna, 1996. BACICH, L.; TANZI NETO, A.; TREVISANI, F. M.. 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