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Sentença Trabalhista: Conceito, Natureza Jurídica e Requisitos

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1. SENTENÇA
1.1. Conceito: a palavra sentença tem origem no latim sentire, que significa sentimento, por esta razão, diz-se que a sentença é o sentimento do juiz sobre o processo. Segundo Mauro Schiave “é a principal peça da relação jurídica processual, na qual o juiz irá decidir se acolhe ou não a pretensão posta em juízo, ou extinguirá o processo sem resolução do mérito”. Segundo Manoel Antonio Teixeira Filho “representa o acontecimento mais importante do processo, o seu ponto de culminância”.
1.2. Natureza Jurídica: Segundo Sérgio Pinto Martins, a natureza jurídica da sentença é a afirmação da vontade da lei, declarada pelo juiz, como órgão do Estado, aplicada a um caso concreto a ele submetido. Trata-se de um comando, um ato lógico do juiz, envolvendo um ato de vontade e de inteligência do magistrado, na afirmação da lei, porém como órgão investido de jurisdição pelo Estado.
1.3. Princípios da sentença trabalhista:
- Legalidade: deve ser prolatada observando-se os requisitos legais previstos na CLT. Deve ter, sob consequência de nulidade: relatório fundamentação e conclusão. No rito sumaríssimo o relatório é dispensado. Deve ser proferida em audiência de julgamento, devendo as partes sobre elas ser intimadas;
- Convencimento motivado: o juiz é livre para valorar a prova e interpretar a controvérsia jurídica, nos limites em que ela foi proposta (art. 371 do CPC e art. 765 da CLT);
- Vinculação ao pedido: o pedido baliza o provimento jurisdicional, portanto, a sentença trabalhista não pode se afastar da pretensão posta em juízo, sob consequência de nulidade (arts. 141 e 492 do CPC);
- Fundamentação: a fundamentação da decisão é uma garantia da cidadania e do Estado Democrático de Direito (art. 93, IX, da CF c/c art. 832 da CLT).
1.4. Requisitos estruturais: O artigo 832 da CLT dispõe que “da decisão deverão constar o nome das partes, o resumo do pedido e da defesa, a apreciação das provas, os fundamentos da decisão e a respectiva conclusão”. Fazendo uma correlação entre o preceito celetista e a teoria geral do processo, tem-se que a sentença deve conter: a) relatório; b) fundamentação; e c) conclusão. O resumo do pedido e da defesa correspondem ao relatório; a apreciação das provas e os fundamentos da decisão correspondem à fundamentação; e a conclusão, ao dispositivo. 
Além disso, a sentença trabalhista deve ser prolatada sob a forma escrita, mesmo quando proferida em audiência, pois é indispensável sua documentação para embasar eventual recurso.
Como bem argumenta Cândido Rangel Dinamarco, a regularidade formal da sentença está intimamente ligada à garantia do devido processo legal, que exige do juiz a fiel observância da lei para que o processo seja justo, sendo indispensável que o relatório, a motivação e o decisório se harmonizem de modo a demonstrar a quem lê uma coerência interna do próprio ato e, por esse modo, indicar sua fidelidade substancial do direito.
- RELATÓRIO: é uma pequena síntese do processo, no qual são mencionados o resumo do pedido e da contestação, bem como as principais passagens do processo, como por exemplo, as atas de audiências e as provas mais relevantes produzidas nos autos, como perícia, documento, inspeção, etc.. O art. 832 da CLT exige que o relatório contenha o nome das partes e o resumo do pedido e da defesa. Segundo a doutrina a finalidade do relatório é a transparência do julgamento, no qual o juiz mostra que leu integralmente o processo e está apto a prolatar a decisão. 
Quanto ao procedimento sumaríssimo, o texto celetista é expresso no sentido de que o relatório é dispensado (Art. 852-I, da CLT).
- FUNDAMENTAÇÃO: segundo Vicente Greco Filho “revela a argumentação seguida pelo Juiz, servindo de compreensão do dispositivo e também de instrumento para aferição da persuasão racional e a lógica da decisão”. É a parte mais detalhada da sentença, pois é neste momento que o juiz analisa os argumentos que embasam a causa de pedir, as razões pelas quais o reclamado resiste à pretensão do reclamante, valora as provas existentes no processo e faz a subsunção dos fatos provados ao Direito. Trata-se de direito fundamental previsto no art. 93, IX, da CF, que emboré não conte no rol do art. 5º da CF, decorre da regra do devido processo legal.
A lei não traça um modelo de fundamentação para o juiz utilizar na sentença. Por ser um ato personalíssimo, cada juiz tem um estilo diferente de fundamentação, entretanto, a fim de que não haja nulidade, deve apontar, ainda que sucintamente, as provas existentes nos autos e também os fundamentos jurídicos da decisão.
Não há uma ordem legal de enumeração da matéria preliminar na sentença, mas há uma ordem lógica que costuma ser seguida pela praxe e também ordenada na sentença trabalhista. Há certo consenso de que a sentença deve apreciar, antes do mérito, os pressupostos processuais, posteriormente enfrentar a carência da ação e somente depois adentrar ao mérito do pedido.
Quanto a ordem de apreciação da matéria de mérito, nem a CLT e nem o CPC disciplinam uma ordem, portanto, não há uma ordem legal, mas há uma ordem lógica de prejudicialidade dos pedidos, ou seja, alguns pedidos, por serem prejudiciais a outros, devem ser apreciados antes, como por exemplo, na reclamação trabalhista que discute vínculo de emprego, verbas rescisórias, estabilidade acidentária e justa causa, pela ordem lógica, primeiramente devem ser apreciados: vínculo de emprego, justa causa, estabilidade e, posteriormente, verbas rescisórias.
- DISPOSITIVO ou CONCLUSÃO: 	previsto no arts. 832 e 489 da CLT . Segundo Cândido Rangel Dinamarco “é preceito concreto e imperativo ditado pelo juiz em relação à causa”. É a parte mais importante da sentença, pois é nela que estará mencionada a parte da decisão que condenará ou absolverá o reclamado e especificará as parcelas objeto da condenação, bem como os parâmetros para cumprimento da sentença. Somente o dispositivo transita em julgado.
Além das verbas objeto da condenação, o dispositivo da sentença deve conter:
a) parâmetros para liquidação das parcelas, bem como a modalidade de liquidação e época própria de correção monetária;
b) a responsabilidade pelos recolhimentos fiscais e previdenciários, especificando quais parcelas serão objeto de incidência das parcelas devidas ao INSS (art. 832, §3º da CLT);
c) quando houver obrigações de fazer e não fazer, o prazo para cumprimento, bem como eventuais punições pecuniárias em caso de descumprimento;
d) custas processuais, que serão sempre de 2% do valor da condenação (em caso de procedência ou procedência parcial), se improcedente, sobre o valor atribuído à causa. Com a reforma trabalhista, segundo art. 789 da CLT, ficou estabelecido o limite mínimo de R$ 10,64 e limite máximo do valor das custas processuais a 4 (quatro) vezes o limite dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social. Hoje o teto previdenciário para 2017 é de R$ 5.531,31, gerando o limite de R$ 22.125,24. 
e) o prazo de cumprimento;
f) fazer menção à intimação das partes. Se for proferida em audiência ou na forma da Súmula 197 do TST, as partes já sairão cientes na própria audiência ou na data agendada para a audiência de julgamento. Caso contrário, as partes serão intimadas da sentença por Diário Oficial ou pelo Correio.
1.5. Classificação:
- Terminativa: provimento judicial que, sem apreciar o mérito, resolve o procedimento no primeiro grau de jurisdição. É o que se dá com todas as hipóteses previstas nos incisos do art. 485 do CPC. Tem por escopo resolver a relação jurídica processual sem se pronunciar sobre a lide. Em regra, ao proferir a sentença terminativa o juiz acaba o seu ofício jurisdicional. Há situações, porém, como a prevista no art. 897-A da CLT, e que a sentença, mesmo que terminativa, não implica automática extinção do procedimento em primeiro grau, pois se houver RO ou ED com efeitos infringentes a sentença poderá ser reformada pelo próprio juiz que a proferiu.
- Definitiva: o juiz ingressa no mérito da questão, acolhendo ou rejeitando o pedido do autor. Extingue-se o processocom julgamento de mérito. A sentença não considerada como definitiva, por dela não caber qualquer recurso, mas sim, é definitiva porque o autor não poderá ingressar com a mesma pretensão, como ocorreria quando o processo é extinto sem julgamento de mérito. Importante notar que o termo definitiva está diretamente ligado ao que o juiz decide, definindo o direito das partes, no tocante ao mérito do pedido.
Segundo a classificação quinaria das sentenças definitivas, levando-se em conta seu conteúdo preponderante, as mesmas são: condenatórias, constitutivas, declaratórias, mandamentais ou executivas lato sensu.
 - Declaratória: é a sentença que se limita a declarar a existência ou inexistência de uma relação jurídica ou autenticidade ou falsidade de um documento. È desprovida de sanção e não comporta execução. Produz efeito ex tunc, ou seja, declara a existência do fato ou da relação jurídica desde o seu nascimento. A sentença de improcedência tem natureza declaratória negativa.
- Constitutiva: além de declarar a existência dos fatos ou do direito, cria, modifica ou extingue uma relação jurídica. Não comporta execução, produzindo efeitos desde o trânsito em julgado. No processo do trabalho são exemplos: as que julgam procedente o pedido de rescisão indireta pondo fim a relação de emprego, autorizam a resolução do contrato de trabalho do empregado portador de estabilidade ou garantia no emprego.
- Condenatória: é a que julga procedente o pedido inscrito em uma ação condenatória. Impõe ao vencido uma obrigação de satisfazer o direito reconhecido judicialmente. As obrigações impostas ao vencido podem ser: fazer, não fazer, entregar ou pagar quantia. Comportam execução forçada se não cumpridas espontaneamente pelo réu.
- Mandamental: além de declarar o direito e condenar a prestar uma obrigação, a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, expede uma ordem para cumprimento imediato. Não comporta fase de execução, pois o próprio comando sentencial já contem uma ordem para cumprimento imediato, uma determinação dirigida à autoridade impetrada ou ao réu para que faça ou deixe de fazer alguma coisa. Exemplos: decisões proferidas em mandado de segurança e concessões de tutela antecipada.
1.6. Nulidades: são nulos os atos processuais quando violam normas de ordem público e interesse social. O ato nulo não está sujeito a preclusão e pode ser declarado de ofício pelo juiz. São relativas as nulidades quando não violam normas de ordem pública. Dependem da iniciativa das partes, não podendo ser declaradas de ofício. Os chamados atos inexistentes contem um vício tão acentuado que não chegam a produzir efeitos. O eixo central da declaração das nulidades no Processo do Trabalho é a existência de prejuízo, ou seja, se o ato processual, embora defeituoso e contenha vícios, não causou prejuízos a uma das partes, não deve ser anulado.
A sentença trabalhista que apresenta nulidade contem um vício insanável, violando norma de ordem pública, desconsiderado requisito legal, causando manifesto prejuízo às partes.
- Sentença inexistente: contem vícios tão contundentes pertinentes à própria existência do ato, como nas hipóteses da falta de investidura do juiz ou falta de jurisdição (art. 966 do CPC).
- Nulidade por falta dos requisitos legais: é nula a decisão quando prolatada sem que sejam observados os requisitos legais, quais sejam, sem o relatório, fundamentação ou dispositivo. Também é nula quando apresenta deficiência de fundamentação.
- Sentença citra petita: é a que decide aquém do pedido, apresente omissão quanto a um dos pedidos formulados. A divergência na doutrina, sendo que parte dela defende que este tipo de sentença não é nula, pois pode ser corrigida por meio de embargos de declaração. Do outro lado, se não forem opostos os embargos, a omissão acarretará o efeito de não ser formada a coisa julgada material sobre o pedido que não fora apreciado. Desse modo, em outra reclamatória, desde que ainda não prescrita a pretensão, o reclamante poderá renovar o pedido. A OJ 41 do TST estabelece que a sentença citra petita pode ser objeto de ação rescisória por violação literal de lei.
- Sentença ultra petita: é a decisão que vai além do pedido, que defere verbas além das postuladas na inicial, por exemplo, o autor pede apenas rescisão indireta sem fazer o pedido de verbas rescisórias e a sentença, além de deferir a rescisão indireta, condenada a reclamada a pagar as verbas rescisórias. A jurisprudência tem se posicionado no sentido de que este tipo de sentença não é nula, pois pode ser corrigida por meio de recurso.
- Sentença extra petita: contem julgamento fora do pedido, ou seja, o provimento jurisdicional sobre o pedido é diverso do postulado, por exemplo, pretende o autor horas extras e a sentença defere horas extras de sobreaviso não postuladas. A doutrina entende que tal decisão não tem como ser corrigida, pois se o juiz proferiu pretensão diversa da postulada, para corrigi-la deverá proferir nova decisão.
1.7. Da coisa julgada no Processo do Trabalho: a coisa julgada busca tornar imutável a decisão, a fim de que o seu cumprimento possa ser imposto pelo Estado, dando a cada um o que é seu por direito. Sem o efeito da coisa julgada seria impossível o término da relação processual. É a preclusão máxima do processo, pois, quando atingida, torna imutável a decisão. Sua proteção é direito fundamental (art. 5º, XXXVI)
Coisa julgada material é a autoridade que torna imutável a decisão de mérito, dentro da mesma relação jurídico-processual, em razão de já se terem escoados os recurso ou, ainda que não esgotados, eles já não são mais possíveis em razão da parte que pretendia a reforma da decisão não os ter interposto ou eles não serem recebidos.
Características da coisa julgada: 
a) é a autoridade da decisão;
b) torna imutável a decisão dentro da mesma relação jurídico-processual. No prazo de dois anos pode ser rescindida, desde que presentes as hipóteses legais (art. 966 CPC);
c) não há necessidade de se esgotarem todos os recursos, basta que eles não sejam mais possíveis;
d) os efeitos se projetam para fora da relação jurídico-processual, pois obrigam as partes ao que foi decidido na sentença. Caso haja apenas a coisa julgada formal, os efeitos da decisão produzirão efeitos dentro da relação jurídico-processual, pois a decisão nãopoderá mais ser objeto de recurso.
Coisa julgada formal é a impossibilidade de alteração da decisão, por já esgotados todos os recursos, ou eles não serem mais possíveis. Em verdade, a coisa julgada formal é uma mera preclusão, atinente a não ser mais possível a recorribilidade da sentença dentro da mesma relação jurídico-processual.
Toda sentença adquirirá a coisa julgada formal (seja terminativa ou definitiva), pois chegará o momento em que ela não poderá mais ser recorrível, entretanto, somente adquirirão a qualidade de coisa julgada material as sentenças de mérito, pois serão imutáveis. Por isso, diz-se que a coisa julgada material traz consigo a coisa julgada formal, uma vez que somente haverá a qualidade da coisa julgada material se antes houver a coisa julgada formal. Segundo Liebman, a coisa julgada formal e a coisa julgada material são degraus do mesmo fenômeno. Proferida a sentença e preclusos os prazos para recursos, a sentença se torna imutável (primeiro degrau - coisa julgada formal); e, em consequência, tornam-se imutáveis os seus efeitos (segundo degrau – coisa julgada material).
A CLT tem um único artigo que se refere à coisa julgada, art. 836, porém, sem defini-la. Quanto aos efeitos e ás consequências da coisa julgada, restam aplicáveis aos Processo do Trabalho as disposições dos artigos 502 a 508 do CPC, em razão da omissão da CLT e da compatibilidade com os princípios que regrem o Processo do Trabalho (art. 769 da CLT).

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