Prévia do material em texto
ANTROPOLOGIA COMO CIÊNCIA Definições e classificações A constituição da Antropologia como ciência, precisamos antes definirmos o conceito de ciência e em seguida tentaremos apresentar o desenvolvimento das chamadas Ciências humanas, local onde se encontra a Antropologia. Etimologicamente, ciência vem do latim scientia que significa “conhecimento”. A Filosofia, como conhecimento pode ser chamada de ciência. Mas, não estamos falando aqui nesse sentido, estamos falando da ciência experimental que surgiu na modernidade. É a ciência de Galileu, Newton e tantos outros. Algumas definições de ciência são amplas e acabam escapando a especificidade do sentido de ciência que estamos estudando aqui. Exemplo de tais generalidades são as definições de ciência, como um corpo de conhecimento sistematizado ou conjunto de verdades certas e logicamente encadeadas entre si, de modo a formar um sistema coerente. Podemos citar a definição de Goode e Hatt (1967), acerca da ciência como uma definição plausível: É um método de abordagem do mundo empírico todo, do mundo que é susceptível de ser experienciado pelo homem. Embora exista nas ciências vários ramos de estudos, daí o termo “ciências” no plural, elas são uma, e tal unidade se fundamenta no método científico e no objetivo de todas as ciências: o conhecimento objetivo- experimental. Por isso, ao se falar de ciências exatas, ciências naturais e ciências humanas estamos a falar de ciência. Após conceituarmos o termo ciência passaremos ao conceito de Ciências Humanas para em seguida darmos início ao estudo do desenvolvimento histórico das ciências humanas, e, por conseguinte, da Antropologia. Ao definirmos ciências humanas (ou social), faremos em paralelo com a ciência natural. Segundo Mello (1982) “A ordem da natureza, dizia-se, está submetida ao reino do determinismo, é o universo da necessidade: mantendo-se constantes as condições, o mesmo fenômeno reproduzir-se-á indefinidamente” (MELLO, 1982). Semelhante consciência e continuidade permitem às ciências da natureza edificar leis e teorias explicativas. Em contrapartida, a atividade humana tem um cunho de espontaneidade, de criatividade, de liberdade; escapando a rigidez do determinismo que não pode deixar-se encerrar numa lei explícita. A Antropologia se inscreve na classificação das ciências humanas, mas não se limitará a esta, pois Antropologia é comumente definida como o estudo do homem e de seus trabalhos, assim definida, deverá incluir algumas ciências naturais e todas as ciências sociais. Os campos estudados por esta disciplina é o da origem do homem, classificações de suas variedades e a investigação dos chamados povos primitivos. O desenvolvimento das ciências do homem Para compreendermos o desenvolvimento das ciências humanas, estudaremos o seu primeiro momento ou fase, o Positivismo. Ao tratarmos do positivismo iremos contextualizá-lo como uma teoria social pertencente às Ciências Humanas. Em seguida apresentaremos as principais características e seus pressupostos epistemológicos. Veremos o pensamento de Max Weber, que em alguns aspectos, também se insere dentro do positivismo. O termo epistemologia deriva do grego “epistemi” e significa ciência. Opõe-se a “doxa” que significa opinião. A epistemi pretende ser um conhecimento certo, verdadeiro. A ciência que tratava do Homem antes do século XIX era a Filosofia, utilizando o método especulativo utilizado pela metafísica. Na modernidade a Filosofia como Metafísica entra em crise. Kant fará uma crítica à razão pura cujos resultados foram que a Metafísica não se constituía como uma Ciência, a exemplo da Matemática e da Física. A Metafisica não é capaz de produzir uma ciência como o faz a Matemática e a Física. Embora, ideias de Deus, mundo, liberdade, alma, possam ser pensadas, não podem ser conhecidas. A Metafísica, pensada como os dogmáticos, é uma ilusão, um não conhecimento. Assim, surge um espaço vazio. A Filosofia se viu incapaz de dizer o que é o homem. Este espaço vazio será ocupado pelas ciências humanas, estas com grande prestígio derivado do êxito obtido no campo da Matemática e Física, pretenderá ser a detentora do verdadeiro conhecimento do mundo e do homem. Nesse momento é notório uma mudança de método, abandona-se o método especulativo (da Filosofia) e adota-se o método da observação, da empiria. Várias ciências surgiram na tentativa de dar conta do humano (Sociologia, Antropologia, História, Geografia, etc.), mas todas, tendo como referência as ciências naturais. Esperava-se alcançar nas ciências humanas o mesmo grau de objetividade das ciências naturais. O Positivismo O positivismo é uma proposta teórico-metodológica com pretensão de constituir-se como ciência capaz de explicar as relações e fenômenos sociais. A problemática subjacente que perpassa nosso estudo e nos questiona: O positivismo pode ser explicado a partir de três ideias principais ou hipóteses fundamentais: A sociedade humana é regulada por leis naturais, imutáveis, ou seja, não sofre1. influências da vontade ou ação humana. Essas leis regulamentam a vida social, econômica e política e são do mesmo tipo que as leis naturais. O método para conhecer a sociedade são os mesmos utilizados para conhecer a2. natureza. As ciências naturais são ciências objetivas. Livres de juízos e valores, as ciências3. humanas devem ser do mesmo tipo, ou seja, devem ser objetivas. Os valores são empecilhos à objetividade, são contrários, portanto, indesejáveis nesse campo. Talvez tenhamos um elemento utópico, pois o positivismo “afirma a necessidade e a possibilidade de uma ciência social completamente desligada de qualquer vínculo com as classes sociais, com as posições políticas, os valores morais, as ideologias, as utopias, as visões de mundo”. (LOWY, 1985, p. 36). O positivismo pretende completar a isenção de preconceitos para as ciências humanas. Sendo filha do Iluminismo, entendemos seus motivos, ao compreendermos o contexto o qual estava inserido, pois lutava contra a ideologia dominante da época, a ideologia clerical, feudal, absolutista. No primeiro momento, o positivismo se mostra possuidor de um caráter utópico, crítico e revolucionário. O primeiro representante do positivismo foi Condorcet (1743-1794), postulando que a ciência da sociedade deve tornar o caráter de uma matemática social, ou seja, deveria ser preciso, rigoroso e objetivo. Considerava o conhecimento da Física um modelo de ciências isentas de valor ou paixão, assim deveria ser as ciências humanas. Em seguida temos Saint-Simon (1760-1825), discípulo de Condorcet. Esse formulou uma ciência social segundo o modelo biológico (fisiológico). Sua reflexão tem caráter crítico utópico. Para ele algumas classes são parasitas do organismo social, uma referência à aristocracia e ao clero. Também caracterizada como combatente das classes dominantes. Com Auguste Comte (1798-1857), temos uma mudança, pois este criticava, seus antecessores em virtude de seu caráter crítico e negativo. Segundo Comte o conhecimento deveria ser positivo. O positivo aqui soa quase como conservador. Embora, continue a tradição anterior, considera a ciência natural como paradigma a ser perseguido, chama sua concepção de “física social”, é uma ciência que estudará os fenômenos sociais. Esses fenômenos são submetidos a leis invariáveis. Essas leis são naturais. Na economia é natural que as riquezas se acumulem nas mãos de poucos e o proletariado deve se conformar com tais leis imutáveis. Vemos aqui como as ideias de Comte refletem os interesses da nova burguesia já estabelecida. Max critica a existência de tais leis. Émile Durkheim foi um sociólogo no sentido pleno, por isso, o positivismo dependemais das ideias desse sociólogo do que das ideias do teórico Comte. Para Durkheim o objetivo da sociologia era estudar fatos que obedecem às leis sociais, leis invariáveis do mesmo tipo que as leis invariáveis da natureza. O método era o mesmo. O cientista social deve pôr de lado suas pré-noções antes de iniciar sua pesquisa. Deve deixar-se conduzir pela imparcialidade científica, o sangue-frio. Fazer calar as paixões. Esta tese é mantida por todos os positivistas. É claro que essa imparcialidade não é conseguida nem mesmo por Durkheim, que deixa claro seus valores conservadores em sua obra As Regras do Método Sociológico. Na análise de Max Weber, autor positivista com algumas divergências, acredita como todo positivista, que há possibilidade de uma ciência social livre de juízos de valor. Weber, considerava que toda ciência da sociedade, da história e da cultura implica uma relação com os valores que servem de ponto de partida para a investigação científica. Assim, não considerava algo negativo, os valores estarem presentes no início da pesquisa. Os valores são pressupostos indispensáveis a qualquer investigação. Determinam a seleção do objeto, informa a direção da pesquisa, irão fornecer a problemática, ou seja, as perguntas que serão feitas. Em um segundo momento, o da resposta, Weber considera que, as ciências sociais devem ser livres de valores e devem ser neutras diante das Ciências Sociais. A investigação empírica deve submeter-se a leis ou regras objetivas e universais da ciência “Deste modo, os pressupostos da pesquisa são subjetivos, depende de valores, mas os resultados da investigação devem ser inteiramente objetivos, isto é, válidos para qualquer investigador.” (LOWY, 1985, p.50). Historicismo O historicismo constitui uma das três principais teorias ou concepções acerca conhecimento social. Abordaremos suas três fases, a saber: conservadora, relativista e desenvolvida por Karl Maurheim, sempre destacando a problemática que subjaz todas essas perspectivas, que é a questão da objetividade, do relativismo e dos juízos de valor, nessas abordagens que pretendem a cientificidade. , O historicismo se norteia por três diretrizes: Todo fenômeno social é histórico e só pode ser compreendido dentro da História,1. através da História. Os fatos sociais são diferentes dos fatos naturais. As ciências que as estudam é de um2. tio diferente (método diferente). Tanto o objeto como o sujeito da pesquisa se encontram imersos no fluxo da história.3. Passemos a conhecer o desenvolvimento histórico desta corrente social chamada4. historicismo. O historicismo surge por volta do século XVIII e início do século XIX e tem, nessa primeira fase, um caráter conservador. Visa legitimar as instituições econômicas, sociais e políticas existentes na Alemanha, na Prússia, enfim na sociedade tradicional representada pelos senhores feudais, o clero, os valores culturais e religiosos da época. Estes, entendiam que estas instituições e a sociedade como um todo eram produtos legítimos do processo histórico, como resultado de séculos e história, resultado de um processo orgânico de desenvolvimento. Portanto, ir contra essa sociedade, era ser um arbitrário superficial, e anti-histórico. Daí o historicismo conservador ser contra as posturas revolucionarias, como a Revolução Francesa e contra o próprio capitalismo.