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14_Semiologia_do_Sistema_Visual_dos_Animais_Domésticos

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14 
Semiologia do Sistema 
Visual dos Animais 
Domésticos 
ALEXANDRE LIMA DE ANDRADE 
"NlJM GRÃO DE AREIA ENXERGAR O MUNDO E, NUMA FLOR SILVESTRE, TODO O CÉU." 
(Willian Blake) 
INTRODUÇÃO 
 Em oftalmologia veterinária, apesar de o clínico geral possuir conhe-
cimentos de anatomia e fisiologia oculares, para se realizar um exame 
completo do olho, acredita-se que haja necessidade de um treinamento 
técnico específico para que se alcance um exame oftalmológico de 
qualidade, principalmente no que se refere ao manuseio de equipa-
mentos específicos que são necessários. 
Das estruturas que compõem o aparelho da visão, não há como 
discriminar a importância de uma estrutura em detrimento das demais. 
Todas, em sua função, colaboram para a boa visão. O tempo, a evolução 
e os avanços médicos têm demonstrado que cada componente desse 
sistema participa efetivamente do mecanismo de formação da imagem 
colocando, assim, o organismo em contato com o meio externo. 
Será abordado de forma direta e prática como proceder para o exame 
do olho das espécies domésticas. 
690 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico 
CONCEITOS GERAIS SOBRE 
ANATOMIA 
E FISIOLOGIA OCULAR 
Órbita 
A forma do crânio influencia a formação da 
órbita dos animais domésticos, já que é formada 
pelos ossos frontal, lacrimal, esferóide, zigomático, 
palatino e maxilar. Deve-se considerar que, no 
cão, os processos ósseos formadores da órbita dos 
ossos frontal, zigomático e temporal não se fun-
dem; portanto, o que completa a parede orbitaria 
lateral é um forte ligamento orbitado fibroso. O 
mesmo ocorre no crânio dos felinos. A depressão 
orbitaria continua para dentro da fossa temporal. 
O osso frontal forma o teto e a parede dorso-
medial da órbita, assim como a margem dorsal e 
central da órbita. A margem central do osso lacri-
mal é perfurada pela fossa vasolacrimal, que aco-
moda a parte caudal do dueto nasolacrimal. 
Anexos Oculares 
Pálpebras e Conjuntiva 
hs pálpebras, nos animais domésticos, são em 
número de três, constituindo em: superior, infe-
rior e terceira pálpebra. A superior e a inferior 
convergem e se unem, formando os ângulos me-
dial e lateral. O espaço entre elas é denominado 
de rima da pálpebra (com tamanho variável, de-
pendendo se abertas ou fechadas). A face exterior 
está coberta de pêlos; a interior é revestida pela 
conjuntiva, uma camada de túnica mucosa subli-
nhada por faseia. A conjuntiva segue em direção 
ao bulbo ocular, inserindo-se a ele, próximo à jun-
ção cornoescleral ou límbica, formando, assim, a 
conjuntiva bulbar. As reflexões conjuntivais são 
chamadas de fórnice. A união da pele com a con-
juntiva ocorre na borda palpebral. 
O epitélio da conjuntiva do cão contém célu-
las caliciformes e nódulos linfáticos. A pálpebra 
possui glândulas que secretam fluidos seroso e 
sebáceo. A nutrição arterial da conjuntiva é feita 
pelas seguintes artérias: vasos periféricos das pál-
pebras, vasos marginais das pálpebras e artéria ciliar 
anterior. 
As glândulas palpebrais abrem-se próximas à 
base dos cílios. As glândulas társicas estão sob a 
mucosa da conjuntiva, próximo à margem da pál- 
pebra. Situam-se paralelas umas às outras, podendo 
haver 40 glândulas em cada pálpebra. 
Os animais domésticos possuem cílios apenas 
nas pálpebras superiores. O pêlo da face externa 
aponta, normalmente, para fora da abertura palpe-
bral. Os cílios possuem função sensorial para que 
se efetue o efeito de proteção das pálpebras. A 
secreção das glândulas társicas, além das células ca-
liciformes, contribuem para a retirada de lipídeos e 
fixação de mucopolissacarídeos do filme pré-corneal. 
A terceira pálpebra está localizada no ângulo 
medial da fissura das pálpebras. A borda livre da 
terceira pálpebra está normalmente exposta e possui 
uma face convexa (palpebral ou externa) e cônca-
va (interna ou bulbar). 
A glândula da terceira pálpebra é bem super-
ficial. Ela se abre por meio de diversos duetos, 
dentro do saco conjuntival. Possui uma cobertura 
gordurosa e pode ser confundida com tecido lin-
fóide, na face bulbar da terceira pálpebra. Esse 
tecido está mais próximo à margem livre da pál-
pebra. A mucosa da terceira pálpebra pode conter 
células caliciformes intercaladas com células epi-
teliais de sua superfície. Essa mucosa cobre uma 
placa de cartilagem hialina, com formato de "T" 
invertido. Nos gatos, a conjuntiva que cobre a 
superfície palpebral da terceira pálpebra é áspera, 
devido a pequenas papilas dispensadas sobre sua 
superfície. A conjuntiva que cobre a face bulbar 
da terceira pálpebra possui nódulos linfóides maiores 
quando comparados aos encontrados na conjunti-
va palpebral. 
A terceira pálpebra, no gato, pode cobrir metade 
da superfície da córnea, quando o bulbo do olho 
está retraído no sentido do ápice da órbita. Na 
maioria dos animais, a terceira pálpebra é movi-
mentada graças a uma musculatura vestigial. 
Sendo assim, a terceira pálpebra é formada por: 
a) cartilagem em forma de T; b) glândula da ter-
ceira pálpebra; c) cobertura conjuntival (faces bulbar 
e palpebral); e d) folículos linfóides superficiais 
na face bulbar. 
Para a movimentação das pálpebras, estão 
envolvidos diversos músculos superficiais e um mús-
culo levantador mais profundo. Os músculos su-
perficiais são o músculo orbicular do bulbo, levan-
tador do ângulo do bulbo medial e frontal. O 
músculo orbicular do bulbo circunda completamen-
te a rima da pálpebra e é bem desenvolvido. O 
músculo retrator do ângulo do bulbo surge de uma 
parte do músculo frontal; cruza as fibras do mús-
culo orbicular antes de se entrelaçar com suas fi-
bras dispostas concentricamente. 
Semiologia do Sistema Visual dos Animais Domésticos 691 
 Os músculos superficiais são inervados pelo 
ramo auriculopalpebral do sétimo nervo craniano 
(facial). O suprimento de nervos sensoriais é fei-
to por ramos da parte oftálmica do quinto nervo 
cranial. O suprimento sanguíneo surge das arté-
rias molar e temporal. 
O músculo levantador da pálpebra superior é 
um músculo delgado que surge na parte caudal da 
órbita, entre o músculo reto dorsal e o músculo 
oblíquo dorsal. E inervado pelo nervo oculomotor. 
A conjuntiva da pálpebra é suprida pelas arté-
rias palpebral e ciliar anterior. 
A glândula nictitante está associada à cartila-
gem da terceira pálpebra, produzindo uma secre-
ção seromucóide, que funciona como um lubrifi-
cante ocular semelhante à secreção da glândula 
lacrimal. Possui formato triangular e não é muito 
volumosa no gato. 
Como funções, as pálpebras servem para: a) 
proteção, devido à sensibilidade ciliar; b) secre-
ções das glândulas társicas c células caliciformes; 
c) proteção física contra trauma, evaporação de 
lágrima e distribuição da lâmina pré-corneal pelos 
movimentos; d) drenagem de lágrima para o due-
to nasolacrimal. 
Aparelho Lacrimal 
É constituído pela glândula lacrimal e seus due-
tos, o lago lacrimal, o saco lacrimal e o dueto nasola-
crimal. A glândula lacrimal é lobulada e possui colo-
ração vermelho-clara ou rósea; é achatada, possui sua 
localização entre o bulbo ocular, o ligamento orbitá-
rio e o processo zigomático do osso frontal; está dentro 
da periórbita, mas pode ser separada dos músculos 
retos pela delgada camada superficial da faseia orbi-
taria. Possui localização dorsolateral ao bulbo ocular. 
Existem de três a cinco dúctulos excretores. Os 
dúctulos esvaziam-se dentro do fórnice superior. A 
glândula nictitante é considerada uma glândula la-
crimal acessória. A secreção dessas glândulas flui sobre 
a córnea até o ângulo medial do olho para se acumu-
lar no lago lacrimal. 
Os pontos lacrimais são as aberturas dos ca-
nais lacrimais. Elas se situam próximas à margem 
bulbar da pálpebra e podem ser de formato oval. 
Os canais lacrimais correm dentro das pálpebras 
convergindo para o saco lacrimal, dentro do qual 
abrem-se, individualmente. O saco lacrimal éa 
terminação caudal do dueto nasolacrimal, situan-
do-se em uma fossa do osso lacrimal. No cão, o 
dueto nasolacrimal possui três partes: caudal, com 
forma de arco, média e livre. O dueto nasolacri-
mal pode se estender rostralmente até a narina 
externa e desembocar dentro da cavidade nasal, 
por uma falha no dueto, no lado oposto ao plano 
mediano, no mesmo animal (Fig. 14.1). 
No gato, a glândula lacrimal é pequena, en-
contrada entre duas camadas de periórbita. Ela se 
esvazia dentro do fórnice da pálpebra superior por 
meio de diversos duetos. O suprimento sanguíneo 
é bem desenvolvido. A glândula é tubuloacinosa e 
sua secreção é seromucosa. 
Filme Pré-corneal 
O filme pré-corneal, também conhecido como 
lágrima, é uma camada de proteção essencial às con-
juntivas palpebrais e à superfície ocular. Ele é secre-
tado pelas glândulas lacrimal principal (porção aquosa 
da lágrima), da terceira pálpebra (porção aquosa da 
lágrima) e társicas (porção lipídica da lágrima), além 
das células caliciformes da conjuntiva (porção mucóide 
da lágrima). As suas funções são: 1. manter uma su-
perfície corneana opticamente uniforme; 2. remo-
ver debris e corpos estranhos da córnea e do saco 
conjuntival; 3. fornecer um meio de transferência do 
oxigénio atmosférico, células inflamatórias e anticorpos 
para a córnea; 4. ação antimicrobiana. 
A inervação da glândula lacrimal e o controle 
de sua secreção são realizados por fibras da divi-
são oftálmica do nervo trigêmeo, facial e ganglio-
nar pterigopalatino, além de fibras simpáticas do 
plexo carotídeo, que chegam à glândula lacrimal. 
Periórbita e Faseias Orbitarias 
A periórbita é a camada externa de faseia que 
circunda o conteúdo da órbita. Na faseia da órbita 
do cão há uma camada distinta que circunda os 
ventres dos músculos extra-oculares. A faseia do 
 
Figura 14.1 - Representação esquemática do sistema la-
crimal do cão. a = ponto lacrimal; b = glândula lacrimal 
principal; c = saco lacrimal; d = dueto nasolacrimal; e = 
ponto nasal. 
692 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico 
v^uílQro 14. — ricrici O o o s i c . 
 
Local de Exame: 
Data: 
Médico Veterinário: 
OLHO DIREITO 
• Reflexos: 
l l Direto PH Consensual 
0 Microbiologia l l Citológico 
• Teste da Lágrima de Schirmer 1 : 
| | mm/minuto 
• Teste da Lágrima de Schirmer 2: 
1 l mm/minuto 
• Tonometria de Indentação: 
l l PIO - Schiõtz: _ mmHg (Peso: 
• Tonometria de Aplanação: 
l l PIO - Tono-pen: _ mmHg 
Pálpebra 
Terceira Pálpebra 
História Clínica: 
OLHO ESQUERDO 
• Reflexos: 
l l Direto f l Consensual 
l l Microbiologia l l Citológico 
• Teste da Lágrima de Schirmer 1: 
| | mm/minuto 
• Teste da Lágrima de Schirmer 2: 
l l mm/minuto 
• Tonometria de Indentação: 
l l PIO - Schiõtz: ____mmHg (Peso: ) 
• Tonometria de Aplanação: 
l l PIO -Tono-pen: ____ mmHg 
Pálpebra 
Terceira Pálpebra 
 
Aparelho Lacrimal Aparelho Lacrimal 
 
Teste de floculação da lágrima: Teste de floculação da lágrima: 
 
Tempo de ruptura do filme lacrimal: Tempo de ruptura do filme lacrimal: 
 
Teste de canulação do dueto nasolacrimal: Teste de canulação do dueto nasolacrimal: 
 
Teste de patência do dueto nasolacrimal (Teste de Jones): Teste de patência do dueto nasolacrimal (Teste de Jones): 
 
Conjuntiva Conjuntiva 
 
Teste de Rosa Bengala: Teste de Rosa Bengala: 
 
Córnea Córnea 
 
Continua 
 
Semiologia do Sistema Visual dos Animais Domésticos 693 
 
Quadro 14.1 - (Conf.) Ficha oftalmológica. 
•Teste de Fluoresceína: 
Câmara Anterior e Ângulo de Drenagem 
Teste de Fluoresceína: 
Câmara Anterior e Ângulo de Drenagem 
 
Conioscopia: Gonioscopia: 
 
 
íris e Espaço Pupilar íris e Espaço Pupilar 
 
 
 
Lente Lente 
 
 
 
Procedimentos Especiais 
l IERG 
l l Ecografia Ocular 
Achados: 
Procedimentos Especiais 
l Ecografia Ocular 
Achados: 
 
DIAGNÓSTICO (S) 
TRATAMENTO (S) 
 
bulbo passa do bulbo para o nervo óptico, onde 
continua como a camada externa de faseia que 
circunda o nervo óptico. 
Músculos c/o Bulbo Ocular 
Os músculos extra-oculares estão expostos 
após a abertura da periórbita. São eles: reto supe-
rior, reto inferior, reto lateral, reto ventral, oblí-
quo superior, oblíquo inferior e retrator do bulbo 
ocular, que não está presente no homem. 
Os quatro músculos retos inserem-se na es-
clera, posteriormente ao limbo do globo ocular. Os 
músculos reto medial, lateral e dorsal possuem 
origens na periferia do forame óptico. O músculo 
oblíquo ventral tem origem próxima à sutura en-
tre os ossos lacrimal e maxilar. O músculo retrator 
do bulbo é constituído por 4 feixes musculares 
distintos que possuem suas origens próximas à 
margem medial da fissura orbitaria. 
Globo Ocular 
O globo ocular é constituído por três túnicas 
observadas em todos os vertebrados: a camada ex- 
 
 
Vítreo e Fundo de Olho (retina) Vítreo e Fundo de Olho (retina) 
 
 
694 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico 
terna chamada fibrosa (córnea e esclera), a camada 
média ou túnica vascular (íris, corpo ciliar e coróide) 
e a camada interna ou túnica nervosa (retina). 
O bulbo ocular fornece uma visão monocular 
ou binocular, dependendo da espécie. 
Túnica Fibrosa 
A córnea é uma estrutura anesférica e trans-
parente que, juntamente com a esclera, compõe 
a túnica fibrosa do olho. A região de transição entre 
essas duas estruturas chama-se limbo esclerocorneal, 
que é um pouco mais largo nas porções inferior e 
superior. Naturalmente não pigmentada e avascular, 
desempenha as funções de manutenção da forma 
do olho, além da convergência dos raios lumino-
sos nela incidentes (Dyce e cols., 1990). Apresenta 
importantes propriedades ópticas, graças a seu 
formato, índice refrativo e transparência, funcio-
nando como uma lente convergente, responsável 
por 70% do poder dióptrico do olho do homem e 
por 80% do poder total de refração nas espécies 
domésticas, comparativamente às demais estru-
turas especializadas nessa função. Confere, tam-
bém, estrutura e proteção ao olho, graças a sua alta 
resistência mecânica. 
No cão e em outras espécies animais, a córnea 
é formada por quatro camadas distinguíveis, da mais 
externa para a mais interna: epitélio, estroma, lâmina 
limitante posterior (membrana de Descemet) e endotélio. 
A camada de Bowman, descrita no homem, não foi 
encontrada nas espécies domésticas (Shively e 
Epling, 1970). Na Figura 14.2, são demonstradas, 
microscopicamente, essas camadas. 
Kesclera é uma estrutura opaca na qual sua parede 
fibrosa é de espessura variável. As áreas mais es-
pessas estão na região do corpo ciliar e ao redor da 
área cribiforme, na qual o nervo óptico penetra na 
esclera. Os músculos extra-oculares inserem-se na 
esclera anterior, onde ela é mais espessa. O múscu-
lo retrator do bulbo ocular tem sua inserção em uma 
região bem delgada da esclera. 
A esclera é constituída por fibras colágenas e 
elásticas, possuindo uma coloração branca, apre-
sentando-se inervada e irrigada pelos vasos ciliares. 
Os vasos ciliares posteriores perfuram a esclera, 
próximo ao disco óptico. Os vasos ciliares ante-
riores passam pela esclera, posteriormente ao limbo 
(limite entre a córnea e a esclera). A esclera pode 
aparecer escura em determinadas áreas, devido 
aos vasos da coróide que estão subjacentes a ela; 
podem estar mais próximos à superfície do bulbo 
ocular, onde essa camada é delgada. Quando ocorre 
uma ligeira pigmentação da esclera, isso é obser-
vado especialmente nos lados medial e lateral. Os 
nervos ciliares passam pela esclera na região da 
substância própria. 
Túnica Vascular 
A túnica vascular ou trato uveal localiza-se 
entre a camada fibrosa e a retina e é constituída 
pela íris, corpo ciliar e coróide. A íris e o corpo 
ciliar fazem parte da úvea anterior, ao passo que 
a coróide faz parte da úvea posterior. 
A coróide revestea esclera a partir do nervo 
óptico até quase o limbo. Contém uma rede com-
pacta de vasos sanguíneos embutida em tecido 
conjuntivo, intensamente pigmentado. Essa rede 
capilar é suprida pelas artérias ciliares posterio-
res e drenada pelas veias vorticosas. O tapetum 
lucidum é uma das camadas da coróide e se ca-
racteriza por uma camada fibrosa ou celular. Sua 
superfície refletora de luz ou "espelho ocular" 
orienta a luz incidida sobre a retina no sentido 
das células fotorreceptoras contribuindo para uma 
visão adaptada ao escuro (visão escotópica). A 
forma, tamanho, cor e distribuição do tapetum 
• a 
 
Figura 14.2 -Aspecto microscópico da córnea do cão: a = 
epitélio; b = estroma; c = lâmina limitante posterior (mem-
brana de Descemet); d = endotélio. 
Semiologia do Sistema Visual dos Animais Domésticos 695 
lucidum varia entre as espécies. Ele é responsá-
vel pelo "brilho dos olhos", observado durante 
o exame de fundo de olho, ou à noite, em con-
dições de iluminação reduzida. 
O corpo altar (continuação anterior da coróide) 
c um anel em relevo, com arestas (conhecidas como 
processos ciliares) emitidas em direção à lente. Entre 
o corpo ciliar e a esclera, localiza-se o músculo ciliar 
liso que atua na acomodação visual que, por sua vez, 
é pobre nos animais, quando comparada à observa-
da no homem. Os processos ciliares são em número 
de 70 a 80, nos cães e 100, em bovinos e equinos. 
Quando há contração ou relaxamento do músculo 
ciliar, que está preso a essas estruturas, ocorre o que 
é denominado acomodação visual, definida pela 
capacidade do olho em focalizar objetos próximos 
ou distantes, mudando o formato da lente (crista-
lino). O corpo ciliar do cão não possui grupos dis-
tintos de fibras musculares resultando, assim, em 
uma capacidade limitada de acomodação. 
No gato, o corpo ciliar só pode produzir aco-
modação limitada pela modificação do formato da 
lente. Essa espécie possui um grande número de 
fibras meridionais em seu músculo ciliar, porém 
com reduzido número de fibras radiais e circula-
res. Assim, a contração do músculo ciliar promo-
ve: o relaxamento das zônulas da lente, com mu-
dança no formato da lente e acomodação da visão, 
bem como a drenagem do humor aquoso. 
A íris é a extensão do revestimento da co-
róide para o compartimento anterior. As suas 
margens livres da íris, que têm orientação radial, 
definem o espaço pupilar ou pupila. O tamanho 
da pupila e a quantidade de luz que atinge a re-
tina são regulados pelos músculos esfincterianos 
e dilatores lisos da íris. Ela possui a função de 
controlar a passagem da luz pelo espaço pupilar. 
A íris é constituída por um estroma esponjoso 
formado por tecido conjuntivo frouxo, vasos san-
guíneos, cromatóforos e músculo liso. A presença 
ou ausência de melanina na íris determina a colo-
ração da mesma. Quando azul, possui o estroma 
essencialmente desprovido de melanina. Â medi-
da que o número de células portadoras de melani-
na no estroma se eleva, a coloração da íris altera-
se do azul ao marrom. Equinos e bovinos possuem, 
ainda, os grânulos iridais que estão presentes ao 
longo da borda pupilar. Esses grânulos são uma 
extensão proliferativa e bem vascularizada do estroma 
irídico e do epitélio pigmentar. Essas estruturas de 
aspecto cístico variam em tamanho, entre os 
ungulados, sendo mais evidente nos equinos, ao longo 
da borda dorsal da pupila. 
Túnica Nervosa 
Também conhecida como refina, a túnica ner-
vosa é responsável pela recepção e tradução do 
estímulo luminoso e a transmissão desses sinais 
pelo nervo óptico, na forma de impulsos nervosos, 
para o córtex visual. 
A retina se inicia onde o nervo óptico penetra 
na coróide, com o formato de um cálice côncavo, 
revestindo a coróide e terminando na borda pupilar. 
Apenas dois terços, aproximadamente, da retina 
podem ser atingidos pela luz que penetra no olho 
através do espaço pupilar. Com isso, apenas essa 
porção da retina possui células receptoras. 
Ela possui dez camadas de tecidos nervosos, 
sendo a principal formada por células fotorrecep-
toras. Essas células são denominadas de cones e 
bastonetes. Os bastonetes estão relacionados à visão 
em preto e branco, ao passo que os cones, pela 
visão em cores. Os bastonetes estão distribuídos 
por toda a retina e são em menor número que os 
cones, que apresentam uma distribuição predo-
minante na área central retiniana. Essa porção 
central é responsável pela visão sob intensa ilu-
minação e pela visão aguda. A porção restante da 
retina é rica em bastonetes que são responsáveis 
pela adaptação da visão ao escuro. 
Arteríolas e vênulas emergem do disco óptico 
e se fundem de várias formas para nutrir e drenar 
a retina. As arteríolas são ramos da artéria central 
da retina que chega ao disco do nervo óptico em 
seu centro. A distribuição dos vasos retinianos varia 
entre as espécies domésticas. A maioria dos ani-
mais domésticos (grandes e pequenos ruminan-
tes, suínos e carnívoros) e primatas possui um padrão 
vascular denominado holangiótico, caracterizado 
pela distribuição dos vasos retinianos principais, a 
partir da papila óptica. Os equinos possuem um 
padrão parangiótico, que se caracteriza pela pre-
sença de poucos vasos sanguíneos restritos à área 
da papila óptica. 
O cão possui um fundo de olho em que os vasos 
sanguíneos são uma continuação direta das arté-
rias principais ou uma rede ciliorretiniana. Nor-
malmente, há duas ordens ou tamanhos de veias 
e uma ordem de artérias visíveis, quando o fundo 
do olho for examinado por meio de oftalmoscopia. 
As veias do fundo do olho são menos tortuosas que 
as artérias. Tanto a ordem primária de veias como 
a secundária são maiores que as artérias, sendo a 
circulação venosa de um vermelho mais escuro que 
a arterial. As veias estão dispostas ao redor do disco 
óptico, de tal modo que pode haver um vaso dor- 
696 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico 
sal, ventral, ventronasal e ventrotemporal. As veias 
fúndicas primárias formam um círculo, um semi-
círculo ou um "Y" invertido dentro do disco. 
A papila óptica (disco) pode ser redonda, oval, 
triangular e até quadrangular. A coloração varia 
do cinza ao cor-de-rosa e pode estar alterada pelo 
grau de plenitude das anastomoses venosas den-
tro do disco. 
O epitélio pigmentar da retina é a sua camada 
mais externa, sendo pigmentada (coloração homo-
génea marrom) apenas no pólo inferior da retina. 
A função desse epitélio pigmentar é essencial para 
a integridade e funcionabilidade da retina. 
A retina é a membrana metabolicamente mais 
ativa do corpo, indicada pelo alto consumo de 
oxigénio. Interrupção em qualquer vaso coroidal 
ou retiniano resulta em rápida isquemia com gra-
ve e irreversível perda de função. 
Câmaras do Olho 
A câmara anterior do bulbo ocular está cir-
cundada anteriormente pela córnea e posterior-
mente pela íris. Ela se comunica pela pupila com 
a câmara posterior. Esta se reserva a um peque-
no espaço anular, de seção transversal triangu-
lar, limitado anteriormente pela íris, posterior-
mente pela parte periférica da lente (cápsula 
anterior da lente) e seus ligamentos e externa-
mente pelos processos ciliares. As câmaras es-
tão ocupadas pelo humor aquoso, um fluido 
límpido que consiste de aproximadamente 98% 
de água, pequena quantidade de cloreto de só-
dio e traços de albumina e substâncias extrativas. 
Ele é produzido pelo corpo ciliar por meio de 
um processo de ultrafiltração sanguínea, sendo 
essencialmente drenado através dos espaços da 
zônula ciliar para dentro do plexo venoso da 
esclera. A câmara vítrea do bulbo está situada 
entre a lente e a retina e contém o humor ví-
treo. O humor vítreo é um gel complexo com-
posto por 99% de água, fibras colágenas, hialócitos 
e mucopolissacarídeos. 
As fibras colágenas estão presentes em con-
centrações crescentes da base e ao redor do disco 
óptico. A inserção dessasfibras na cápsula poste-
rior da lente da face vítrea anterior é significante 
em cães. 
Os mucopolissacarídeos contêm alta propor-
ção de ácido hialurônico, fato relacionado às fibras 
colágenas e hialócitos. O ácido hialurônico dá 
viscoelasticidade ao humor vítreo. 
Meios de Refração 
Os meios de refração dos olhos são: córnea, 
câmara anterior, lente e vítreo. A lente é uma es-
trutura biconvexa composta de células e seus 
processos. As células crescem de tal modo que a 
lente é formada por lâminas concêntricas de fi-
bras lenticulares. Existem quatro estruturas dis-
tintas na lente: as cápsulas anterior e posterior da 
lente, córtex e núcleo da lente. 
A lente é transparente, avascular e está presa 
pelo seu equador por meio das zônulas da lente 
(ligamentos suspensórios), que são fibras coláge-
nas atadas ao corpo ciliar. Alterações na tensão 
dessas fibras mudam a curvatura das superfícies 
da lente, resultando em acomodação visual, já 
descrita anteriormente. 
A face interna da cápsula anterior possui um 
epitélio composto por células epiteliais cubóides 
e epiteliais colunares. Esse epitélio é importante 
no transporte de cátions pela cápsula da lente. As 
células da lente produzem a substância do córtex 
e as arranja em sucessivas camadas presas umas 
às outras pelo cemento. 
Devido ao fato de ser avascular, o seu meta-
bolismo é precário e depende de um constante 
fornecimento de nutrientes pelo humor aquoso. 
Qualquer distúrbio na composição do mesmo 
afeta o metabolismo da lente, podendo levar a 
opacificações das suas estruturas, caracterizan-
do o que se denomina de catarata. As Figuras 
14.3 e 14.4 mostram esquematicamente as es-
truturas descritas. 
Irrigação Sanguínea e 
Inervação do Olho 
Nos animais domésticos, a irrigação do olho é 
feita pela artéria oftálmica interna rudimentar. A 
principal irrigação nos mamíferos domésticos é dada 
pela artéria oftálmica externa, um ramo derivado 
da artéria maxilar que passa ventralmente à órbita 
para irrigar estruturas mais rostrais da face. Essas 
artérias podem ser divididas em três grupos: 1. ramo 
da artéria oftálmica externa (que irriga o bulbo ocular, 
túnica vascular e retina); 2. vasos que irrigam os 
músculos extra-ocularcs; 3. vasos que deixam a órbita 
para irrigar os anexos oculares. 
A inervação do olho é feita por seis nervos 
cranianos: nervo óptico (II par), nervo oculomo-
tor (III par), nervo troclear (IV par), nervo trigê- 
 
Semiologia do Sistema Visual dos Animais Domésticos 697 
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JB Hi 
A pupila possui inervação simpática e paras-
simpática ipsilateral, o que resulta em dilatação e 
constrição pupilar, respectivamente (ver capítulo 
sobre Sistema Nervoso). 
 
 
Figura 14.3 -Aspecto externo do olho do cão. Legenda: a = 
pálpebra superior; b = pálpebra inferior; c = canto medial; 
d = canto lateral; e = terceira pálpebra. 
 
Figura 14.4 - Estruturas oculares em corte sagital. Legen-
da: a = córnea; b = esclera; c = câmara anterior; d = es-
paço pupilar; e = íris; f = corpo ciliar; g = fibras zonulares; 
h = lente; i = câmara vítrea; j = coróide; k = retina; l = 
disco óptico; m = nervo óptico. 
meo (V par), nervo abducente (VI par) e nervo 
facial (VII par). A maioria entra no cone orbitário, 
mas alguns atingem diretamente as estruturas 
acessórias. A via visual inclui o nervo óptico, o 
quiasma óptico, núcleos geniculados laterais, as 
radiações ópticas e o lobo occipital do córtex cere-
bral. Setenta e cinco por cento das fibras do nervo 
óptico cruzam o quiasma óptico em cães e 65%, 
nos gatos. Sendo assim, a maior parte da sensa-
ção visual tem uma representação contralateral 
no córtex cerebral. 
EXAME CLÍNICO OFTÁLMICO 
DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS 
Serão descritos a seguir alguns aspectos compara-
tivos do exame clínico dos olhos, órbita e anexos 
oculares das espécies domésticas. O exame clínico 
oftálmico é uma extensão do exame físico e não deve, 
portanto, ser realizado isoladamente, pois há mui-
tas manifestações oculares decorrentes de doenças 
sistémicas, principalmente as relacionadas à túni-
ca vascular do olho. Em geral, as doenças sistémi-
cas que afetam globo ocular e anexos causam sinais 
bilaterais, enquanto os sinais unilaterais resultam, 
provavelmente, de doenças locais. 
O clínico deve sempre detalhar a anamnese, 
realizai o exame físico completo, bem como indi-
car exames laboratoriais complementares e, por fim, 
investigar cautelosamente os sinais clínicos ocu-
lares apresentados. 
O exame oftálmico deve ser realizado de 
maneira sistemática, ou seja, com a avaliação das 
estruturas extra-oculares, seguida da avaliação das es-
truturas mais externas para as mais internas do bulbo 
ocular. Para tanto, há necessidade da utilização de 
alguns equipamentos, principalmente aqueles que 
promovem magnificação da imagem. 
Equipamentos Necessários para 
Realização do Exame Oftálmico 
Muitas vezes, há uma certa relutância em se 
realizar o exame oftálmico, pensando-se que são 
necessários equipamentos de última geração e de 
elevado custo. Obviamente, tê-los à disposição para 
realização de um exame detalhado e preciso do 
olho constitui-se em um fato importante. Talvez 
isso desencoraje os clínicos gerais a possuírem apreço 
à Oftalmologia Veterinária. 
Basicamente, são necessários para a realiza-
ção de um exame oftálmico completo: uma sala 
escura, fonte de luz artificial e uma lupa com pala, 
alguns instrumentos específicos, colírios para pro-
mover a dilatação pupilar e colírios à base de co-
rantes vitais. O Quadro 14.2 relaciona os princi-
pais equipamentos e materiais necessários para o 
exame oftálmico. 
698 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico 
Quadro 14.2 - Principais equipamentos e mate-
riais necessários para realização de um exame 
oftálmico completo em animais domésticos. 
Lupa com pala. 
Fonte de luz artificial (lanterna). 
Transiluminador. 
Oftalmoscópio direto. 
Oftalmoscópio indireto. 
Lente de 20 dioptrias. 
Lâmpada de fenda. 
Tonômetro de indentação (Tonômetro de Schiõtz). 
Tonômetro de aplanação (Tono-pen
(s
). 
Lente para gonioscopia. 
Tiras de papel de Schirmer. 
Colírio à base de corante vital de fluoresceína. 
Colírio à base de corante vital de Rosa Bengala. 
Colírio anestésico. 
Colírios cicloplégicos (midriáticos). 
Espátulas ou escovas de colheita para citologia. 
Swabs estéreis. 
 
Figura 14.5 - Exame oftálmico com lupa com pala e fonte 
de luz (do próprio Oftalmoscópio direto). 
 
Fonte de Luz Artificial (Lanterna) 
Uma simples lanterna à pilha é bastante útil 
para iluminar as estruturas extra e intra-ocular a 
serem examinadas, embora lentes de aumento com 
luz própria sejam melhores. Nesses casos, há no 
mercado lentes nas quais pode ser acoplado um 
filtro azul para facilitar a observação das lesões que 
se coram pela fluoresceína (úlceras de córnea, por 
exemplo). 
Magnificação dos Campos a 
Serem Examinados (Lupas) 
A magnificação do campo a ser examinado (es-
truturas extra e intra-oculares) é essencial para o 
exame acurado e diagnóstico. No mercado, há mui-
tos instrumentos capazes de promover o aumento 
das estruturas oculares a serem examinadas. A uti-
lização de lentes de aumento comuns do mercado 
deve ser considerada, mas as lupas com pala com 
o aumento de duas até quatro vezes são superio-
res, além de facilitarem a manipulação do pacien- 
te (Fig. 14.5). Instrumentos ópticos mais sofisti-
cados que combinam magnificação e iluminação 
(lupas com fontes de luz de fibra óptica, lâmpada 
de fenda e microscópio cirúrgico) estão disponí-
veis no mercado; no entanto, em muitas situações, 
o custo elevado dos mesmos não justifica a sua aqui-
sição. Obviamente, eles apresentam resolução su-
perior e são, muitas vezes, essenciais ao diagnós-
tico e tratamento de algumas afecções oftálmicas. 
Transiluminador 
Esse equipamento pode ser útil quando apli-
cado sobre a esclera, próximo ao limbo, para ilu-
minar estruturas da câmara posterior.A luz pas-
sa pela esclera e contorna o corpo ciliar, poden-
do ser observadas estruturas opacas como tumores 
no corpo ciliar e íris, corpos estranhos ou exsu-
datos no interior do olho (Fig. 14.6). Nesse 
exame, há a obrigatoriedade de ser realizado em 
sala escura. 
Figura 14.6 - Representação esquemá-
tica do posic ionamento do transilu-
minador na esclera. 
 
Semiologia do Sistema Visual dos Animais Domésticos 699 
Oftalmoscópio 
Os oftalmoscópios são instrumentos que con-
tem uma fonte luminosa e uma série de lentes e 
espelhos. O objetivo da utilização desses instru-
mentos é visualizar as estruturas localizadas no 
segmento posterior do globo ocular. Existem vá-
rios modelos de oftalmoscópios, mas apenas dois 
métodos de oftalmoscopia: o direto e o indireto 
(monocular e binocular). Quando comparados, cada 
método apresenta algumas vantagens e algumas 
limitações. De modo geral, a oftalmoscopia direta 
continua, ainda, sendo o método mais utilizado no 
Brasil, embora a oftalmoscopia indireta constitua-
se em um método superior. 
É importante lembrar que a oftalmoscopia, 
tanto direta como indireta, deve ser realizada em 
uma sala de exame semi-escura ou escura e os 
olhos do paciente devem permanecer em midríase 
induzida por drogas, para que as áreas mais peri-
féricas da retina possam ser mais bem visualiza-
das. O fármaco recomendado para provocar 
cicloplegia, em mamíferos, é a tropicamida nas 
concentrações de 0,5% ou 1%, instilada sobre a 
superfície do olho. Possui ação simpatomimética 
de curta duração, provocando midríase durante 
duas ou três horas. 
Oftalmoscópio Direto 
O oftalmoscópio direto não é utilizado ape-
nas para exame da retina, mas também para o 
exame de estruturas do segmento anterior do 
olho. Isso é possível graças ao sistema de lentes 
que o equipamento possui que são reguláveis du-
rante o exame permitindo um ajuste da profun-
didade do foco dentro do olho. O aparelho deve 
ser colocado a 2cm do olho a ser examinado (Fig. 
14.7). A Figura 14.8 mostra as dioptrias ideais 
que devem ser ajustadas durante o exame para 
melhor avaliação das estruturas oculares. As 
mesmas podem variar dependendo do examina-
dor, principalmente naqueles que apresentam 
alterações de refração como miopia, hipermetro-
pia, entre outros. 
Oftalmoscópio Indireto 
Nessa técnica, uma lente convexa de 10 a 30 
dioptrias é colocada entre o olho a ser examinado 
e o olho do observador clínico (ver Ficha Oftal-
mológica). Uma imagem real invertida é formada 
entre a lente e o olho do observador. A magnifi-
cação da imagem do fundo de olho irá depender 
 
 
Figura 14.8 - Melhores dioptrias do 
oftalmoscópio direto para exame das estruturas oculares. 
do comprimento focal da lente (Fig. 14.9). A len-
te mais utilizada nesse exame é a de 20 dioptrias, 
que fornece uma magnificação do campo de qua-
tro a cinco vezes. 
Tonômetros 
A tonometria implica na avaliação da Pressão 
Intra-ocular (PIO). A PIO resulta na tensão na 
córnea e esclera. Vários métodos são aplicados para 
estimá-la. 
A PIO pode ser avaliada por palpação digital 
(Fig. 14.10), ou seja, através de palpação do globo 
ocular com os dedos polegares do examinador 
 
 
 
Figura 14.7 - (A e B) Oftalmoscopia direta em cão. 
-3 
+20 
700 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico 
 
Figura 14.9 - (A) Oftal-
moscopia indireta mono-
cular; (B) oftalmoscopia 
indireta binocular. 
Figura 14.10 -Avalia-
ção da PIO por palpa-
ção digital. (A) avalia-
ção da PIO de um dos 
olhos; (B) comparação 
das PIO entre os olhos. 
colocados sobre as pálpebras superiores durante 
o exame físico. No entanto, esta avaliação é pou-
co precisa, tornando-se inadequada para o exame 
oftálmico de rotina. Deve ser utilizada quando não 
se possuem os equipamentos disponíveis para 
avaliação da PIO e depende da experiência clíni-
ca do examinador. Para clínicos experientes, con-
segue-se avaliar se a PIO está aumentada ou di-
minuída, o que pode auxiliar no raciocínio clínico. 
Existem dois métodos básicos que são úteis na 
avaliação da PIO: a tonometria de indentação e a 
tonometria de aplanação. 
Tonômetro de Indentação 
Nesse tipo de tonometria, utiliza-se um equi-
pamento chamado Tonômetro de Schiõtz (Fig. 
14.11), o qual é colocado sobre a córnea, previa-
mente dessensibilizada com colírio anestésico. O 
princípio do exame com esse equipamento é facil-
mente compreendido se for feita uma analogia 
do olho como um balão cheio de água. A extremi-
dade metálica do equipamento é colocada sobre o 
balão sem aplicação de força, deixando apenas que 
o botão metálico encoste sobre a superfície do balão. 
Sendo assim, o equipamento indenta a superfície 
do balão a uma certa distância, marcando um va-
lor que deve ser corrigido por uma tabela de con-
versão em mmHg. 
Tonômetro de Aplanação 
Existem vários tipos de tonômetros de apla-
nação para mensurar a PIO, incluindo o tonô-
metro de Maklakoff, Draeger, Perkins, Goldmann 
e Mackay-Marg. Esses tonômetros são bem mais 
precisos que o tonômetro de Schiõtz. O Tono-
pen®(Fig. 14.12) é mais utilizado por oftalmolo- 
 
 
 
Semiologia do Sistema Visual dos Animais Domésticos 701 
 
Figura 14.11 -Tonômetro de Schiõtz para tonometria de 
indentação. 
 
Contenção dos Animais para 
Realização do Exame Oftálmico 
Muitos cães e gatos podem ser examinados 
apenas com uma boa contenção física, além do 
uso de focinheiras ou mordaças. No entanto, oca-
sionalmente, os pacientes que não cooperam com 
o exame devem ser, ao menos, tranquilizados com 
associação de cetamina/diazepam ou com 
fenotiazínicos (acepromazina, levomepromazina). 
Quando a acepromazina é utilizada, observa-se 
protrusão da terceira pálpebra sobre a superfície 
ocular, além do efeito miótico do fármaco, o que 
interfere no exame das estruturas intra-oculares e 
na realização de determinados procedimentos 
diagnósticos. Se for necessária a contenção farma-
cológica, antes da administração de qualquer subs-
tância, deve-se proceder a dilatação pupilar com 
uso de cicloplégicos como a solução tópica de tro-
picamida 1% c/ou atropina 1%. Em alguns casos, 
haverá a necessidade do uso de agentes anestésicos 
gerais que promovam anestesia geral de ultracurta 
 
Figura 14.12 - Tono-pen® para tonometria de aplanação 
(foto gentilmente cedida por J. L. Laus). 
gistas veterinários. Trata-se de um dispositi-
vo com formato de caneta com um sensor na 
extremidade que é capaz de mensurar preci-
samente a PIO por aplanação do olho, ou seja, 
mensura a PIO com base na definição de pres-
são e força por unidade de área (P =//área). Se 
a área é conhecida e a força mensurada, pode-
se calcular a pressão. 
Lâmpada de Fenda 
O biomicroscópio ou lâmpada de fenda (Fig. 
14.13) é um instrumento para o exame do olho com 
magnifícação e iluminação da imagem que pode ser 
superior a 40 vezes. Ela fornece riqueza de deta-
lhes das estruturas extra e intra-ocular que as lupas 
comuns não conseguem fornecer. É especialmente 
útil ao exame da pálpebras, terceira pálpebra, con-
juntiva, córnea, íris e lente, ou seja, o segmento 
anterior do olho. Pode também fornecer a largura 
do ângulo de drenagem e a profundidade da câmara 
anterior. As modificações ópticas, o vítreo e a retina 
também podem ser examinados. Existem dois ti-
pos de lâmpada de fenda, um com estativa fixa e 
outra portátil. Essa última é mais útil para o uso em 
medicina veterinária. 
 
Kyiliíi 
FELIXE 
 
Figura 14.13 - Lâmpada defenda (foto gentilmente cedida 
 
por J. L. Laus). 
702 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico 
duração, a exemplo do tiopental sódico. Nesse caso 
será necessária a mobilização dos olhos para o exame, 
uma vez que permanecem ventrofletidos sob efeito 
desses fármacos. 
Deve-se também conhecer os efeitos dos agentes 
anestésicos sobre a Pressão Intra-ocular (PIO) e 
secreção lacrimal, pois se pode ter influência sobre 
os valores da mensuração da PIO e Teste daLágri-
ma de Schirmer, respectivamente. A anestesia do 
nervo auriculopalpebral raramente é utilizada em 
cães. Recentemente, onde há necessidade de pro-
mover a acinesia do globo ocular e analgesia, pode-
se proceder ao bloqueio do ramo oftálmico do ner-
vo trigêmeo associado ao bloqueio do nervo supra-
orbitário. Detalhes sobre a contenção química de 
pequenos e grandes animais podem ser observados 
nos capítulos de contenção física e química de 
pequenos e grandes animais. 
Em grandes animais, na maioria das vezes, a 
contenção da cabeça com freio ou cabresto é su-
ficiente. Se o cavalo for agitado ou movimentar 
continuamente a cabeça, um cachimbo de con-
tenção e sedação serão necessários. Em equinos, 
as intervenções repetidas no olho, manipulações, 
administrações de medicamentos e colheita de 
amostras tornam-se mais difíceis à medida que 
o número de intervenções aumenta. Sendo assim, 
o uso de sedação associada à contenção física é 
necessário (ver capítulo sobre Contenção Quí-
mica em Grandes Animais). Adicionalmente à se-
dação e contenção física, muitas vezes são ne-
cessários anestesia tópica e bloqueio de condu-
ção, especialmente quando há lesão dolorosa, além 
de facilitar a abertura das pálpebras. Embora o 
globo ocular, conjuntiva e a maior parte das pál-
pebras adjacentes e pele possam ser anestesia-
dos pelo bloqueio do nervo oftálmico, a aneste-
sia tópica com cloridrato de proximetacaína 0,5% 
é o método preferido para a anestesia da córnea 
e conjuntiva (Fig. 14.14). O mesmo se presta para 
exame dessas estruturas em pequenos animais. 
Quando a abertura das pálpebras estiver impos-
sibilitada, indica-se o bloqueio do nervo auricu-
lopalpebral (Fig. 14.15) para obtenção de acinesia 
palpebral. 
Ambiente para Realização do 
Exame Oftálmico 
O ambiente para realização do exame oftál-
mico deve ser tranquilo e com controle da lumino- 
sidade ou, de preferência, uma sala completa-
mente escura. Isso nem sempre é possível, prin-
cipalmente para os grandes animais. Nesse caso, 
deve-se dar preferência em realizá-lo em baias, 
que em um ambiente ao ar livre. A sala escura, 
além de deixar o animal mais tranquilo, evita o 
reflexo de objetos da sala sobre a córnea, o que 
pode, muitas vezes, ser interpretado como uma 
lesão corneal, por exemplo. 
 
Figura 14.14 - Anestesia tópica da superfície ocular em 
cão. A instilação do fármaco deve ser feita sobre conjun-
tiva do canto temporal superior. 
 
Figura 14.15 - Bloqueio do nervo auriculopalpebral em 
equino. 
 
Semiologia do Sistema Visual dos Animais Domésticos 703 
Quadro 14.3 - Perguntas que devem ser direcionadas ao proprietário na busca de informações a respeito 
do(s) problema(s) ocular(es) apresentado(s). 
• Há baixa na acuidade visual? Há piora noturna ou diurna? 
• Qual a duração dos sinais clínicos? 
• Houve melhora ou piora do quadro desde o aparecimento da doença? 
• Histórico de doenças oculares anteriores. 
• A condição é uni ou bilateral? 
• Houve evolução rápida ou progressiva? 
• Presença ou não de secreção ocular. Tipo da secreção. 
• Histórico de trauma ocular. 
• Há histórico familiar da doença ocular? 
• Houve tentativa de tratamento tópico ou sistémico? Quais fármacos foram utilizados? Houve melhora ou piora do 
quadro com o tratamento? 
• Houve ocorrência de sinais clínicos sistémicos que aventem a possibilidade de curso de uma doença sistémica? 
• Presença de distúrbios locomotores que aventem a possibilidade de curso de uma doença sistémica nervosa. 
• Dados sobre alimentação, vacinação e vermifugação. 
 Histórico Clínico 
E adquirindo as informações do proprietário 
que se começa a criar uma linha lógica de raciocí-
nio para, assim, instituir-se um diagnóstico e tra-
tamento confiáveis, garantindo a cura da doença e 
satisfação do proprietário. Nem sempre essas in-
formações são precisas e confiáveis, principalmente 
quando se trata de animais de companhia que 
recebem pouca atenção dos seus donos ou para 
grandes animais com os quais não há convivência 
diária, a não ser para aqueles que possuem eleva-
do valor zootécnico. Muitas vezes, os proprietá-
rios não sabem informar sobre a sequência de apa-
recimento dos sinais sistémicos e oculares, muito 
menos quanto ao tempo de evolução. Como lei-
gos, sabem relatar a respeito da presença ou não 
de secreção ocular, olho vermelho, dor à manipu-
lação do olho, alterações de coloração, alterações 
do tamanho e do diâmetro do bulbo ocular ou pupila. 
O relato de cegueira é relacionado ao fato de o 
animal estar batendo em obstáculos (principalmen-
te pequenos animais). 
Com isso, é importante estabelecer uma se-
quência lógica de perguntas. O Quadro 14.2 rela-
ciona a sequência de perguntas básicas que de-
vem ser feitas aos proprietários. 
Sinais indicadores ou Reveladores 
de Doenças Oculares 
Raça, idade e o sexo do animal podem ser úteis 
para determinar o diagnóstico e o prognóstico de 
muitas doenças oculares. 
Raça 
Muitas raças de animais domésticos podem ser 
predispostas a determinadas doenças oculares he-
reditárias. Exemplos típicos são: coloboma do ner-
vo óptico em animais da raça charolês; síndrome úveo-
dermatológica em cães da raça akita; síndrome da 
ectasia escleral em cães da raça collie, entre outras. 
Idade 
A idade do animal é sempre um dado rele-
vante no diagnóstico de uma doença ocular. Exem-
plos clássicos são: catarata congénita em vacas da 
raça Jersey; degeneração dos fotorreceptores da 
retina em cães da raça poodle miniatura. 
Sexo 
Doenças oculares ligadas ao sexo também são 
descritas na literatura, a exemplo da atrofia pro-
gressiva retiniana ligada ao cromossomo X em cães 
da raça husky siberiano. 
EXAME SISTEMÁTICO DO OLHO 
Como mencionado anteriormente, o exame oftál-
mico deve ser realizado de forma sistemática na 
busca das alterações mencionadas pelos proprie-
tários. Sempre deve ser realizado o exame dos dois 
olhos. Quando a doença for unilateral, deve-se iniciar 
o exame pelo olho contra-lateral, supostamente 
normal. Salienta-se também a importância da rea-
lização do exame físico geral prévio. 
É importante que o proprietário ou ao me-
nos uma pessoa de convívio do animal esteja pré- 
704 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico 
sente na sala de exame, para que não seja au-
mentado o estresse durante a manipulação e, prin-
cipalmente, instalem-se alterações oculares que 
podem interferir na interpretação do exame 
(exemplo: animais muito estressados fazem di-
latação pupilar temporária pela descarga de 
adrenalina). 
Inicialmente, deve-se avaliar a rcação do ani-
mal no ambiente desconhecido de exame. Se houver 
histórico de cegueira, o mesmo deve ser estimu-
lado a andar pela sala de exame observando-se se 
há colisão com obstáculos que podem ser coloca-
dos à sua frente (Fig. 14.16). Isso deve ser reali-
zado com a sala de exame iluminada e completa-
mente escura. Esse teste fica um pouco limitado 
para equinos, pequenos e grandes ruminantes. 
Nesse caso, se a sala tiver um bom espaço, os animais 
relutam em deambular, permanecendo parados e, 
muitas vezes, agitados. 
Inicialmente, deve-sc observar a região pe-
riocular na busca de anormalidades grosseiras 
como assimetria facial, aumentos de volumes pe-
riorbitais (Fig. 14.17) e desvio do eixo visual (es-
trabismos). Deve-se observar, ainda, a presença 
de: secreção ocular (tipos de secreção) (Fig. 14.18), 
olho vermelho, alopecia periocular e corrimen-
tos nasais. Salienta-se que na presença de se-
creções oculares pode-se proceder à colheita de 
material através de swab estéril para isolamento 
e identificação de agentes bacterianos, virais ou 
fúngicos (Fig. 14.19). Pode-se, ainda, obter 
material da superfície ocular com auxílio de 
 
Figura 14.17 - Avaliação da região periocular. Nota-se 
assimetria periocular causada por aumento de volume 
orbitário inferior em cão. 
 
Figura 14.18 -Avaliação da presença de secreção. Nota-se 
secreção ocular mucopurulenta em olhoscom ceratocon-
juntivite seca em cão (foto gentilmente cedida por J. L. Laus). 
 
 
Figura 14.16 - Representação esquemática do teste para 
cegueira em cão frente a obstáculos. 
espátulas (Espátula de Kimura) ou escovas gi-
necológicas para investigação citopatológica (Fig. 
14.20A). O material obtido deve ser aplicado por 
rolamento sobre uma lâmina de vidro limpa (Fig. 
14.20B) para, posteriormente, ser corado por 
Giemsa ou panótico rápido. Outras colorações 
podem ser utilizadas. 
Após essa inspeção cuidadosa deve-se, quan-
do possível, verificar se o olho do animal retorna 
à posição ao centro da fissura palpebral, após mo-
vimentos de elevação, depressão e lateralidade (para 
direita e esquerda) da cabeça. Em seguida, inicia-
se o exame sistemático do olho, avaliando-se, ini-
cialmente, os anexos oculares, túnica fibrosa, tú-
nica vascular e, por fim, a túnica nervosa. 
Os dados obtidos no exame devem ser anota-
dos em uma ficha clínica oftalmológica (ver Ficha 
Oftalmológica). 
 
Semiologia do Sistema Visual dos Animais Domésticos 705 
Figura 14.19 - Colheita de material para isolamento e an-
tibiograma de agentes da superfície ocular em cão. (A) Lim-
peza prévia com auxílio de algodão embebido em água. 
(B) Colheita de material com swab estéril no saco conjun-
tival inferior. Deve-se realizar movimentos rotatórios sem 
o contato com as pálpebras. 
 
Figura 14.20- (A) Colheita de material da superfície ocu-
lar de cão para exame citopatológico, com auxílio de escova 
ginecológica; (B) aplicação do material obtido sobre a lâmina 
de vidro por rolamento. 
EXAME NEUROFTALMOLÓGICO Reflexo de Ameaça Visual 
 Esse exame avalia a integridade neuroanatômica 
do sistema visual. As manobras realizadas nessa 
avaliação são: 
1. Reflexo de ameaça visual - deve ser realizado 
em ambos os olhos. 
2. Reflexo pupilar direto e consensual. 
3. Reflexo palpebral. 
4. Reflexo corneal. 
5. Reflexo vestibular. 
Esses reflexos avaliam a integridade dos pares 
de nervos cranianos com a visão (nervos óptico, ocu-
lomotor, troclear, trigêmeo, abducente, facial e ves-
tibular) e inervação simpática e parassimpática ocular. 
Deve-se salientar que o teste de tais reflexos deve 
ser realizado antes da administração de tranquili-
zantes, sedativos, anestésicos tópicos, substâncias 
midriáticas e bloqueio anestésico loco-regional. 
Detalhes desses testes devem ser pesquisados no 
capítulo sobre Semiologia do Sistema Nervoso. 
Nesse reflexo, a face palmar da mão do exa-
minador é dirigida ao olho do paciente e observa-
se a atitude do animal frente a esse ato (Figs. 14.21 
e 14.22). Em animais sem alteração da acuidade 
visual, é normal que eles desviem a cabeça da mão 
do examinador, bem como é observado o ato de 
piscar. O olho contralateral deve ser coberto com 
a outra mão. A ausência desse reflexo é observada 
em animais cegos e pode ser um achado normal 
em neonatos. Deve-se tomar cuidado de não se 
tocar as pálpebras nem os cílios e, ainda, de não 
exercer um movimento brusco de modo a promo-
ver o deslocamento de ar sobre a superfície ocu-
lar, pois isso produzirá uma ação em resposta a um 
estímulo táctil, ao invés de uma resposta a um 
estímulo visual. 
Reflexo de ameaça visual falso-negativo pode 
ser observado em animais dóceis. Nesse caso, deve-
se testar a via visual pelo teste da "bolinha de 
algodão". Uma bolinha de algodão é solta de uma 
B 
 
706 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico 
 
Figura 14.21 - (A e B) Reflexo de ameaça visual em cão. 
altura acima da cabeça do animal e espera-se que 
o animal acompanhe a queda da mesma (Fig. 14.23). 
O mesmo cuidado de ocluir a visão do olho con-
tralateral deve ser tomado. 
Reflexo Pupilar Direto e 
Consensual 
O reflexo pupilar é realizado com auxílio de 
uma fonte de luz artificial (lanterna), a fim de 
se observar a constrição pupilar. O reflexo dire-
to é realizado incidindo-se a luz diretamente no 
olho a ser testado. O reflexo consensual consis- 
 
 
 
9 
Figura 14.22 - Reflexo de ameaça visual em equino. 
 
Figura 14.23 - (A e B) Teste da via visual com "bolinha de 
algodão". 
 
Semiologia do Sistema Visual dos Animais Domésticos 707 
te em incidir a luz em um dos olhos, observan-
do-se, no entanto, se há constrição pupilar do 
olho contralateral. 
No reflexo pupilar direto avalia-se: 1. a inte-
gridade da camada fotorreceptora da retina; 2. 
integridade do nervo óptico ipsilateral, como uma 
via aferente; 3. a via parassimpática do nervo ocu-
lomotor ipsilateral, como uma via eferente; e 4. a 
funcionalidade do músculo constritor da íris ipsi-
lateral. 
No reflexo pupilar consensual avalia-se: 1. a 
integridade da camada fotorreceptora da retina; 
2. integridade do nervo óptico ipsilateral, como 
uma via aferente; 3. a via parassimpática contrala-
teral do nervo oculomotor, como uma via eferen-
te; e 4. a funcionalidade do músculo constritor da 
íris contralateral. Ambos os reflexos frequentemente 
estão presentes em animais cegos. Isso ocorre 
quando a cegueira é resultante de uma lesão cen-
tral (encefálica). Também ocorre em casos de doen-
ças retinianas e do nervo óptico quando há preser-
vação de poucos fotorreceptores e axônios do ner-
vo óptico, pois esses reflexos requerem somente 
um número limitado dessas estruturas funcionais 
quando comparado ao grande número necessário 
para o fenómeno da visão. A Figura 14.24 resume 
as vias neurológicas envolvidas nos reflexos 
pupilares à luz. 
Reflexos Palpebral e Corneal 
Esses testes são realizados tocando-se deli-
cadamente a córnea ou as pálpebras superior e 
inferior, respectivamente (Figs. 14.25 e 14.26). 
A resposta é a mesma em cada um dos casos, em-
bora vias diferentes sejam testadas. É importan-
te salientar que esse"s reflexos não indicam, ne-
cessariamente, que o animal possua visão. Eles 
são primariamente reflexos protetores destina-
dos a produzir o fechamento das pálpebras e mo-
vimentos da cabeça, de maneira rápida, a fim de 
prevenir lesões. Sendo assim, a Tabela III resume 
as respostas oculares frente à realização desses 
reflexos. 
Reflexo Vestibular 
Esse reflexo é realizado movimentando-se a 
cabeça do animal de um lado para o outro, obser-
vando se os olhos deslocam-se, acompanhando o 
movimento da cabeça (Fig. 14.27). Deve-se ob- 
servar ainda se há movimentos verticais dos olhos. 
Ele avalia a funcionabilidade dos nervos oculomo-
tor e abducente, o sistema vestibular e músculos 
extra-oculares. O nervo oculomotor inerva os 
músculos retos ventral, medial e dorsal e o nervo 
abducente inerva o músculo reto lateral. 
EXAME SEQUENCIAL DAS 
ESTRUTURAS EXTRA-OCULARES 
E INTRA-OCULARES 
Alguns testes diagnósticos em oftalmologia reque-
rem o uso de alguns equipamentos, bem como o 
uso de fármacos e corantes vitais para avaliação 
de determinadas estruturas. Portanto, alguns testes 
podem ter seus resultados alterados, face à admi-
nistração de algumas substâncias, como é o caso 
do teste da lágrima de Schirmer (TLS). Sendo 
assim, indica-se sua realização antes do início do 
exame sistemático que será proposto a seguir, no 
qual o uso de alguns fármacos e corantes para os 
testes será necessário. 
Teste da Lágrima de Schirmer 
Esse é um teste semiquantitativo que avalia a 
produção de lágrima (em milímetros) produzida pelo 
olho durante um minuto. Para tanto, é usada uma 
tira de papel de filtro encontrado comercialmente 
para uso específico nesse exame (Figs. 14.28 e 14.29). 
O papel é o Whatman na 40. Existem dois tipos de 
TLS (números l e 2). No TLS l, avalia-se a quan-
tidade de lágrima produzida em um minuto sem 
dessensibilização da superfície ocular, no qual a 
presença do papel sobre ela também estimula a li-
beração de lágrima (avalia a produção contínua de 
lágrima). No TLS 2, a sensação corneal é abolida 
por meio da administração tópica de colírio anesté-
sico que bloqueia a secreção reflexa da glândula 
lacrimal principal e da terceirapálpebra, avalian-
do-se, assim, os valores basais de lágrima produzi-
da. Os valores normais nas espécies domésticas en-
contram-se listados na Tabela 14.2. 
É importante salientar que os dados apresen-
tados são os encontrados na literatura internacio-
nal. É conhecido que fatores como altitude, tipo 
de clima, entre outros fatores ambientais, podem 
influenciar esses valores. Portanto, é necessário 
obter valores nacionais desse teste para as dife-
rentes espécies. Nesse sentido, encontram-se na 
708 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico 
Córtex visual esquerdo Região 
pré-tectal esquerda 
 
Estimulação bilateral do núcleo 
parassimpático dos nervos oculomotores 
 
Estimulação bilateral dos músculos dos 
esfíncteres pupilares através dos 
gânglios ciliares 
Constrição pupilar bilateral 
 
Colículos rostrais direitos 
l J 
Estimulação bilateral dos 
colículos 
rostrais e tratos tectoespinhais 
l l 
Transmissão caudal paraT1-3 com 
estimulação dos neurônios pré-gangliônicos 
Transmissão rostral no tronco vagossimpático 
para os gânglios cervicais craniais 
l " l 
Estimulação das fibras pós-gangliônicas 
e ativação da pupila 
l J 
Dilatação pupilar bilateral 
 
 
 
 
^B»^ , 
B / \ 
Figura 14.24 -Vias neurológicas envolvidas nos reflexos pupilares à luz. (A) Vias envolvidas nas respostas constritoras 
ao aumento de luz; (B) resposta dilatadora decorrente à diminuição da luz. 
 
Estímulo 
Aumento da luz 
Estímulo 
Diminuição da luz 
 
Nervo óptico direito 
Quiasma óptico 
(90% de decussação) 
 
 
 
Semiologia do Sistema Visual dos Animais Domésticos 709 
Figura 14.25 - (A e B) Reflexo palpebral em cão. 
 
Tabela 14.1 - Respostas oculares e vias testadas 
diante dos reflexos corneal e 
palpebral. 
Reflexo 
Corneal 
Tocar a pálpebra 
Nervo oftálmico 
(pálpebra inferior) 
Nervo maxilar 
(pálpebra inferior) 
Nervo facial 
Músculos da 
pálpebra 
Piscar 
 
Figura 14.26 - Reflexo corneal em cão. Figura 14.27 - (A e B) Reflexo vestibular em cão. 
 
literatura nacional alguns dados relativos aos va-
lores normais em cães (TLS l = 13,3 ± 5,lmm/ 
min) (Andrade e cols., 2001). 
Como alternativa mais económica para 
realização do TLS, está descrito o TLS modi-
ficado, onde se utiliza o papel de filtro comum 
recortado nas dimensões de 0,5 x 5cm para rea- 
lização do teste. Os valores normais desse teste 
são: 18 ± 6,3mm/minuto (Andrade e cols., 
2001)*. Outros trabalhos nacionais obtiveram 
valores similares a esses. 
* Valor referência de uma cidade do noroeste paulista. 
 
 
 
 
Estímulo 
Via aferente 
Via eferente 
Efetores 
Efeito 
i v ,! .,:-.-.,, 
íl Palpebral 
Tocar a córnea 
Nervo oftálmico 
Nervo facial 
Músculos da 
pálpebra 
Piscar 
710 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico 
 
 
Figura 14.29 -Teste da lágrima de Schirmer modificado 
(com papel de filtro) em equino. 
Tabela 14.2 - Valores normais do TLS 1 e TLS 2 
nas espécies domésticas em mm/minuto. 
 
Espécie TLS 1 TLS 2 Valores anormais 
Canina 19,8 ±5, 3 11, 6 ±6,1 < 5 
Felina 16,9 + 5,7 < 5 
Equina > 15 < 10 
Bovina > 15 < 10 
Fonte: SLATTER, D. Fundamentais ofVeterinary Ophthalmology, 1990. 
O teste é realizado colocando-se a tira de 
papel no saco conjuntival inferior com uma do-
bra de 0,5cm. Essa dobra, nos papéis comerciais, 
já vem delimitada. Deve-se, em seguida, con-
tar l minuto e, por fim, realizar a leitura em 
régua milimetrada. Estão disponíveis no mer-
cado papéis que já contêm a escala milimetrada 
e marcação por corante, dispensando-se a lei-
tura em régua. 
TESTES EMPREGADOS 
PARA AVALIAÇÃO DA 
SUPERFÍCIE OCULAR 
Quando há suspeita de doenças da superfície ocu-
lar, alguns testes podem ser empregados. Os mes-
mos devem, também, ser realizados antes da uti-
lização de fármacos e corantes vitais. 
Teste de Floculação da Lágrima 
Consiste em avaliar a integridade funcional 
do filme lacrimal observando-se o padrão de dis-
tribuição de mucina sobre a superfície ocular. Para 
tanto, deve-se colher uma pequena quantidade 
de lágrima com o auxílio de um tubo de micro-
hematócrito. O material deve ser distribuído so-
bre a superfície de lâmina de vidro limpa, seco à 
temperatura ambiente. A leitura deve ser realiza-
da em microscópio de luz polarizada. Em animais 
normais, são observadas estruturas que se arran-
jam em um padrão semelhante a folhas de samam-
baia. Falhas nesse padrão de distribuição indicam 
deficiência de mucina e consequente falha na 
integridade funcional do filme lacrimal. Obser-
va-se nas Figuras 14.30 e 14.31, a colheita da lá-
grima e o padrão de distribuição normal de mucina 
em cão, respectivamente. 
Teste de Canulação e 
Lavagem do Dueto Lacrimal 
Esse teste é empregado para avaliação da 
patência do dueto nasolacrimal, bem como para 
 
Figura 14.28 - Teste da lágrima de Schirmer com papel 
milimetrado em cão. 
Figura 14.30-Colheita de lágrima com auxílio de tubo de 
micro-hematócrito para o teste de floculação da lágrima 
em cão. 
Semiologia do Sistema Visual dos Animais Domésticos 711 
 
Figura 14.31 - "Aspecto de samambaia" considerado pa-
drão normal no teste de floculação da lágrima em cão 
(observação ao microscópio de luz polarizada). 
gado para avaliação da patência do dueto é a via 
retrógrada, ou seja, através da canulação do ori-
fício distai do dueto nasolacrimal. Para realiza-
ção do teste, apenas contenção física utilizando-
se equipamentos como cachimbo de contenção 
e cabresto são suficientes. Se houver necessida-
de, o exame pode ser realizado sob contenção far-
macológica. 
A solução fisiológica estéril é utilizada para in-
jeção no dueto nasolacrimal (cerca de l a 2mL). A 
resistência à passagem (ou falha na passagem) da 
solução indica imperfuração dos pontos lacrimais ou 
presença de debris inflamatórios no dueto. Nesse 
caso, eles podem ser coletados e enviados para rea-
lização de exame citológico e de cultura. 
 
o diagnóstico de alterações ou imperfurações dos 
pontos lacrimais (Fig. 14.32). Está indicado em 
casos de epífora ou descarga ocular mucopuru-
lenta crónicas, associadas ao retardo ou ausência 
da passagem da fluoresceína do olho até a aber-
tura do dueto nasolacrimal, nas narinas (teste de 
Jones). Em cães, gatos e bovinos, a injeção do 
fluido é realizada por via normógrada, ou seja, pelos 
pontos lacrimais, dada a dificuldade em se iden-
tificar a abertura distai do dueto nasolacrimal. Os 
pequenos animais são extremamente resistentes 
à realização do exame requerendo, assim, anes-
tesia geral. Em grandes animais, a pigmentação 
da conjuntiva pode dificultar a identificação dos 
pontos lacrimais. Em equinos, o método empre- 
 
Figura 14.32 - Representação esquemática da lavagem do 
dueto nasolacrimal em cão. 
Teste de Rosa Bengala 
O corante vital Rosa Bengala (dicloro-tetra-iodo 
fluoresceína) é utilizado para avaliação e diagnósti-
co de distúrbios da superfície ocular causados prin-
cipalmente por deficiência lacrimal, como é caso 
da ceratoconjuntivite seca. É utilizado, ainda, no 
diagnóstico e no prognóstico de deficiência de mucina 
na lágrima e anormalidades epiteliais corneais su-
perficiais (ceratite punctata em cães e ceratite 
dendrítica causada pelo herpesvírus felino Tipo l 
em gatos). 
Comercialmente, existem duas apresentações: 
sob a forma de colírio (solução a 1%) ou em bastão 
(lmg/bastão). Após instilação no olho, o mesmo deve 
ser examinado de preferência em lâmpada de fen-
da. No entanto, equipamentos de menos resolução 
podem ser empregados no exame. 
Teste da Pluoresceína 
A fluoresceína (fluoresceína sódica) é corante 
tóxico, solúvel em água, utilizado na forma de colírio 
a 2% e em tiras de papel (bastões) impregnadas. 
Ela serve ao diagnóstico das úlceras de córnea, 
avaliando-se a extensão da lesão na córnea e tam-
bém em pequenos defeitos epiteliais que não são 
visíveis ao exame da córnea. Por ser umcorante 
hidrossolúvel, ele se dissolve na porção aquosa da 
lágrima e, havendo quebra das junções intercelula-
res epiteliais (defeitos) com exposição do estroma 
corneal, o mesmo se impregna nessa camada que 
possui afinidade aquosa, pela presença de proteo-
glicanos na sua matriz extracelular. A fluoresceína 
é facilmente detectada, utilizando-sc um filtro azul- 
712 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico 
cobalto presente na haste iluminadora da lâmpada 
de fenda. Em caso de não se ter esse equipamento, 
pode-se utilizar o mesmo filtro presente em alguns 
oftalmoscópios diretos e indiretos. Em úlceras de 
grande extensão e profundas, apenas uma luz arti-
ficial em sala escura permite a observação da úlcera 
de coloração esverdeada. Deve-se dar preferência 
ao uso do corante em bastão ao invés do colírio, pois 
a solução de fluoresceína constitui-se em excelen-
te meio de cultura para bactérias como a Pseudomo-
nas aeruginosa. 
Esse teste permite, ainda, mais três avaliações: 
1. tempo de ruptura ou rompimento do filme la-
crimal; 2. teste de patência do dueto nasolacrimal 
ou teste de Jones e 3. teste de Seidel. 
O teste do tempo de ruptura do filme lacri-
mal (TRFL) é medido após a instilação da fluores-
ceína, impedindo que o paciente feche as pálpe-
bras e, assim, registra-se o tempo, em segundos, 
até que a primeira área seca apareça. O teste deve 
ser realizado utilizando-se o filtro azul-cobalto 
presente na haste iluminadora da lâmpada de 
fenda. O tempo normal de TRFL em cães é de 
20 ± 5 segundos. O movimento ocular pode in-
terferir com esse resultado, sendo indicada a 
anestesia dissociativa com cetamina e xilazina para 
minimizar esses movimentos. Um tempo supe-
rior ao descrito indica deficiência da camada de 
mucina do filme pré-corneal. 
O teste de Jones (TJ) consiste na avaliação 
da integridade do aparelho lacrimal após a instila-
ção da fluoresceína sódica sobre o olho, registran-
do-se o tempo de passagem da mesma pelo apare-
lho lacrimal até seu aparecimento nas narinas. O 
tempo normal para cães, gatos e equinos é de 5 
minutos (Fig. 14.33). A quantidade de fluoresceína, 
o tempo de produção de lágrima e o comprimento 
do dueto nasolacrimal podem influenciar nesse tem- 
po. Sendo assim, tempos acima de 5 minutos po-
dem indicar obstrução parcial ou completa do 
dueto. Resultados falsos-negativos podem ser ob-
servados em cães braquicefálicos, pois nessas ra-
ças o orifício distai do dueto desemboca caudal-
mente dentro da nasofaringe. O exame da porção 
caudal da língua e faringe com a luz azul pode 
confirmar a presença do corante nessa região, in-
dicando patência do dueto. 
E, finalmente, o teste de Seidel (TS) é usado 
para detectar a saída de humor aquoso pela perfu-
ração corneal, úlceras profundas de córnea e lo-
cais de sutura. O examinador aplica a fluoresceína 
utilizando gotas ou tiras de papel impregnadas com 
o corante no local em que se suspeita haver o 
vazamento e procura por um fluido claro que con-
flua em direção ao corante laranja. 
Outros corantes podem ser utilizados para 
investigação de alterações da superfície ocular. A 
Tabela 14.3 mostra alguns outros corantes empre-
gados em oftalmologia veterinária. 
 
Figura 14.33 - Narina de cão impregnada com fluores-
ceína após realização do teste de Jones, indicando patência 
do dueto nasolacrimal. 
Tabela 14.3 - Corantes empregados em Oftalmologia Veterinária, seus efeitos e indicações diagnosticas. 
Indicação diagnostica 
Fluoresceína 
Rosa Bengala 
Azul de Alcian 
Azul de Tripan 
Azul de Metileno 
Cora o estroma corneal indicando Úlcera de córnea, teste de Jones, teste do 
quebra de espaços intercelulares do tempo de ruptura do filme lacrimal e 
epitélio teste de Seidel 
Cora mucina e células em degeneração Conjuntivite e ceratoconjuntivite seca 
Cora muco Conjuntivite e ceratoconjuntivite seca 
Cora muco e células da superfície Conjuntivite e ceratoconjuntivite seca 
mortas e em degeneração 
Cora células da superfície mortas e Conjuntivite e ceratoconjuntivite seca 
degeneradas 
Fonte: GEtATT, K. Veterinary Ophthalmology, 2000. 
Efeito Corante 
Semiologia do Sistema Visual dos Animais Domésticos 713 
Tonometria 
A tonometria é uma estimação da PIO, essen-
cial nos testes diagnósticos para todos os exames 
oftalmológicos. Como descrito anteriormente, a 
córnea deve ser anestesiada com l a 2 gotas de 
colírio anestésico (cloridrato de proximetacaína 
0,5%) e o tonômetro (de indentação ou aplanação) 
é posicionado sobre a região axial (central) da córnea, 
enquanto as pálpebras são contidas pelos dedos 
do examinador. Deve-se estar atento para: 1. res-
tringir movimentos da cabeça; 2. posicionamento 
adequado do tonômetro; 3. anestesia tópica da cór-
nea; e 4. em grandes animais, podem ser necessá-
rios sedação e bloqueio do nervo auriculopalpe-
bral. Deve-se evitar a prévia pressão digital do globo 
por meio das pálpebras, pois isso pode elevar a PIO. 
A tomada de PIO com o Tonômetro de Schiõtz 
deve ser obtida três vezes consecutivas, indican-
do-se, assim, o cálculo da média dos valores obti-
dos. O peso do equipamento que normalmente é 
utilizado é de 5,5 gramas. É importante que, du-
rante esse exame, a córnea do paciente seja manti-
da paralela à mesa de atendimento (em pequenos 
animais) ou ao piso (em grandes animais). O exa-
me é mais difícil em animais menos cooperativos. 
As vantagens do uso do Tono-pen® estão no 
fato de fornecer uma PIO mais precisa, não serem 
necessárias as três mensurações como para o 
tonômetro de Schiõtz e, ainda, não necessitar que 
a cabeça do animal fique na posição vertical. Erros 
induzidos por diferentes tamanhos e curvaturas 
de cófnea são de menor importância; a probe (na 
extremidade do equipamento) é protegida por uma 
capa elástica descartável, o que impede a transfe-
rência de infecção. A desvantagem está no custo 
do equipamento. 
Os valores normais da PIO estão apresenta-
dos na Tabela 14.4. 
Pressões intra-oculares acima de SOmmHg con-
firmam o diagnóstico de glaucoma, assim como PIO 
abaixo de 15mmHg é um dado sugestivo de uveíte. 
ALTERAÇÕES QUE DEVEM SER 
INVESTIGADAS NO EXAME 
OFTÁLMICO 
Pálpebras e Margens Palpebrais 
Com auxílio da lupa com pala e fonte de luz ar-
tificial ou lâmpada de fenda, deve-se investigar se há: 
Tabela 14.4 -Valores normais da PIO nas diferentes 
espécies. 
Valor (mmHg) Referência 
Espécie 
Canina 
Magrane (1971) Severin (1976) 
Startup (1969) Heywood 
(1971) Laus e cols. (1995) 
Severin (1976) Bill (1966) 
Severin (1976) Woelfel (1964) 
Severin (1976) Cohen & Reinke 
(1970) 
McCIure e cols. (1976) 
Fonte: GELATT, K. Fundamentais 
ofVeterinary Ophthalmology, 1990 - 
modificado por ANDRADE, A.L. 
Entrópio: inversão das 
pálpebras (Fig. 14.34) (normalmente 
acompanhado de epífora, secreção ocular, 
blefarospasmo (Fig. 14.35), descoloração da 
pele periocular, dermatite secundária e 
alopecia). 
Ectrópio: eversão das pálpebras (normalmen-
te acompanhado de secreção ocular, erite-
ma conjuntival e malformação da pálpebra 
inferior). 
Epífora: lacrimenjamento decorrente de uma 
drenagem da lágrima deficiente ou por aumento 
da secreção lacrimal. 
Alterações do cílios: distiquíase, triquíase e 
cílio ectópico (acompanhadas de epífora, ble-
farospasmo, dor, úlcera de córnea e eritema 
conjuntival). 
2 0 - 2 5 14 
-28 16 -
30 10-31 
12,2 -24,4 
14 -26 
17.4 - 19,2 
14 -22 
16.4 -5 ,5 
14-22 
16.5 - 32,5 
28.6 - 4 , 8 
Felina 
Bovina 
Equina 
 
Figura 14.34 - Entrópio (inversão da pálpebra) em cão da 
raça Sharpey (foto gentilmente cedida por J. L. Laus). 
714 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico 
 
 
Figura 14.35 - Cão apresentando blefarospasmo. Nota-se 
que as pálpebras estão fechadas. 
Figura 14.36 - Eversão da terceira pálpebra para o exame, 
com auxílio de pinça. 
 
Ptose palpebral: pálpebra caída. Ausência 
de reflexo palpebral. Assimetriaentre as 
fissuras palpebrais. Blefarite: inflamação 
palpebral (acompanhada normalmente por 
secreção ocular, edema de pálpebra, 
alopecia, discromia e eritema). 
Blefarospasmo: contração espasmódica das 
pálpebras decorrente da contração do múscu-
lo orbicular, sendo um importante indicador 
de dor ocular local ou intra-ocular ou por es-
timulação do nervo palpebral. 
Neoformações (benignas ou malignas). 
Terceira Pálpebra 
Para a sua avaliação, a pálpebra deve ser extruída 
por pressão do globo ocular pela pressão da pálpe-
bra inferior. Para o exame da face interna há ne-
cessidade de dessensibilização com instilação de 
colírio anestésico (Fig. 14.36) e auxílio de uma pinça 
delicada com dente ou fixação com um fórceps de 
Graefe. Investigar: 
• Protrusão da terceira pálpebra: pode ocorrer 
por presença de corpos estranhos na superfí 
cie ocular, ulceração corneal, desidratação (por 
enoftalmia decorrente à desidratação da gor 
dura retrobulbar); anoftalmia, microftalmia e 
síndrome de Horner. 
• Inversão ou eversão da cartilagem da terceira 
pálpebra. 
• Hipertrofia ou prolapso da glândula da terceira 
pálpebra (Fig. 14.37). 
 
• Neoformações benignas ou malignas que cur 
sam com epífora, secreção ocular, irregulari 
dade da margem da terceira pálpebra, úlcera 
de córnea, dependendo da localização e le 
sões erosivas. 
• Na face interna: conjuntivite folicular. 
• Corpos estranhos aderidos à terceira pálpebra. 
Conjuntiva 
Investigar: 
• Eritema conjuntiva! (Fig. 14.38): o ingurgita 
mento dos vasos superficiais é comum de ser 
observado em animais agitados. Deve-se, por- 
 
Figura 14.37 - Cão apresentando hipertrofia da glândula 
da terceira pálpebra. 
 
Semiologia do Sistema Visual dos Animais Domésticos 715 
Figura 14.38 - Congestão dos vasos conjuntivais de cão 
observadas nas conjuntivites (foto gentilmente cedida por 
J. L. Laus). 
 
tanto, investigar se o entema é constante ou 
intermitente. 
Quemose: edema conjuntival. Ela é uma mani-
festação comum em doenças infecciosas, infla-
matórias e neoplásicas da conjuntiva e pálpebras. 
Secreção ocular: os tipos de secreção que devem 
ser investigados são mucóide, mucopurulen-
ta, purulenta, serosa, seromucosa e secreções 
desidratadas aderidas às margens das pálpe-
bras. Em algumas raças (setter irlandês, 
pinscher) é normal a observação de secreção 
mucóide com coloração acinzentada uma vez 
que esses animais possuem um fórnice con-
juntival inferior profundo. Espessamento da 
conjuntiva devido a inflamações crónicas. 
Hemorragias subconjuntivais decorrentes de 
traumas ou hipertensão. Neoformações 
benignas ou malignas (Fig. 14.39). Galázio ou 
hordéolo observado na margem da conjuntiva 
palpebral. 
Córnea 
 
A córnea normal é avascular, não pigmentada, 
transparente e brilhante. Três principais alterações 
da córnea podem ocorrer: perda da transparência, 
vascularização corneal e alterações de contorno da 
superfície corneal. 
f^perda da transparência pode ocorrer por: 
 
1. Desorganização das fibras colágenas estromais 
em cicatrizes corneais. Podem ser de três tipos: 
nébula(Fig. 14.40), mácula (Fig. 14.41)eleucoma 
(Fig. 14.42). (Nébula = pequena opacidade 
 
Figura 14.39 - Neoformação conjuntival maligna hemor-
rágica (carcinoma escamocelular) em equino. Observam-
se, ainda, leucoma corneal e vascularização profunda a 
partir do limbo superior. 
 
 
Figura 14.40 - Nébula corneal em cão (foto gentilmente 
cedida por J. L. Laus). 
 
 
Figura 14.41 - Mácula corneal em cão. Observa-se, ain-
da, vascularização superficial corneal (foto gentilmente 
cedida por J. L. Laus). 
 
716 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico 
Ceratoconus, ceratoglobo e córnea plana. 
Aumento do diâmetro da córnea. Depressões 
no estroma da córnea, com aspecto semelhante 
a uma casca de laranja, com teste de 
fluoresceína negativo. Ulcera de córnea 
caracterizada por defeito epitclial e perda 
de porções variáveis do estroma (teste de 
fluoresceína positivo). Dermóide ocular. 
Ceratopatia bolhosa. Pannus oftálmico. 
Figura 14.42 - Leucoma corneal em cão decorrente à úlce-
ra profunda de córnea (foto gentilmente cedida por J. L. Laus). 
corneal; Mácula = moderada opacidade corneal; 
Leucoma = opacidade corneal total). 
2. Edema corneal: ocorre por afluxo de água para 
o estroma corneal e desarranjo das fibras 
colágenas. 
3. Pigmentação. 
4. Infiltrados de cristais de colesterol, lipídico 
e partículas virais no estroma corneal. 
5. Infiltrado celular. 
Vascularização córnea!pode ser de dois tipos: 
superficial e profunda. A superficial possui um padrão 
arborizado, ao passo que a profunda apresenta-se 
mais limitada à periferia da córnea (próxima ao 
limbo), onde os vasos apresentam-se paralelos, se-
melhante a uma escova (vermelho intenso). 
As alterações de contorno que devem ser in-
vestigadas são: 
Esclera 
Alterações que devem ser investigadas: 
Ectasia escleral: adelgaçamento escleral, onde 
se observa o trato uveal pigmentado com 
coloração azulada e resultando em uma assi-
metria escleral. É indicativo de doença escle-
ral primária ou neoformação uveal em cresci-
mento (Fig. 14.44). Ectasia total está frequen-
temente associada à buftalmia ou ao glauco-
ma não controlado. 
Neoformações benignas localizadas na con-
juntiva bulbar. 
Ruptura escleral: normalmente indica trau-
ma recente. Muitas rupturas ocorrem na por-
ção equatorial do bulbo ocular, embora as rup-
turas próximas ao limbo sejam mais frequen-
tes em equinos. Com essa lesão, pode haver 
protrusão da lente, vítreo e, especialmente, 
da íris. Eritema e inflamação. 
 
 
 
Figura 14.43 - Ulcera superficial de córnea corada pela 
fluoresceína. Observa-se, ainda, protrusão da terceira 
pálpebra. 
Figura 14.44 - Ectasia escleral decorrente de melanoma do 
corpo ciliar em cão (foto gentilmente cedida por J. L. Laus). 
 
 
Semiologia do Sistema Visual dos Animais Domésticos 717 
• Pigmentação da esclera: coloração azulada ou 
marrom escuro pode indicar melanose e neo-
plasias; coloração amarelada pode indicar 
reabsorção de hemorragia subconjuntival. 
Sistema Lacrimal 
Deve ser investigado através do teste da lágrima 
de Schirmer, teste de floculação da lágrima, teste 
de canulação e lavagem do ponto lacrimal e teste de 
Jones. Suas indicações foram descritas anteriormente. 
São alterações que podem ser encontradas: 
epífora, ponto lacrimal imperfurado ou agenesia 
do ponto lacrimal, dacriocistite (inflamação do 
dueto nasolacrimal que irá apresentar-se obstruí-
do), abscesso e dermatite purulenta próxima ao 
canto nasal c lagoftalmia (inabilidade de fechar 
as pálpebras, complctamente). Isso pode ser obser-
vado em cães braquicefálicos resultando em per-
da de filme pré-corneal, por evaporação. 
Câmara Anterior 
Podem ser encontradas as seguintes alterações: 
• Alterações na profundidade da câmara anterior 
(profunda = em casos de luxação ou subluxação 
posterior da lente), microfacia (lente pequena), 
glaucoma crónico com atrofia de íris; rasa = lu 
xação anterior da lente, tumores uveais, íris bombé 
e glaucoma de ângulo fechado, uveíte anterior 
crónica, sinéquia anterior (aderência da íris com 
o endotélio da córnea) e corpos estranhos. 
• Hipópio: presença de material purulento, 
normalmente rico em neutrófilos, linfócitos, 
macrófagos e células plasmáticas, na câmara 
anterior que, por gravidade, acumula-se na 
porção ventral da câmara. 
• Hifema: presença de sangue na câmara ante 
rior (Fig. 14.45); pode estar associado à fibrina 
e ao hipópio. 
• Fibrina na câmara anterior. 
• Corpos estranhos, principalmente se houver 
perfuração da córnea ou esclera. 
• Flare que se refere à turbidez do humor aquo 
so causado pela presença de proteína, célu 
las, pigmentos e cristais nos processos infla 
matórios do trato uveal (uveítes). 
• Presença de precipitados ceráticos aderidos ao 
endotélio da córnea observados nas

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